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Paidéia, retbrica e uma nova abordagem sobre Contra Juliano de Gregério Nazianzeno! “Mancaripa Maka DE CARVALHO Gregério Nazianzeno (329-390 d.C) foi um autor cristio do Impétio Romano Oriental do século IV d.C. Dentre virios discursos,excrevew Contra Juliane (364-365 4.C), composto por duas inventivas riqulssimas «em conteddo histSrico-flosofico © um grande exemplo de retérica cist empregada contra um Imperador. Durante muitos anos, este panegtico repulsive a figura do Principe Juliano foi inserido na polémica cristianismo » paganismo. Ampliando essa perspectiva ecriticando tal limite de ida, pretendemos demonstrar que © conflito se insere numa dispata poitco- cultural, Para tanto, temos como objetivor primordiais desconstruir 0 diseurso Contne Juliano, analsando ¢ clucidando seus elementos rerdtices. Acreditamos, dessa forma, que ao desvelarmos sua construgio retrica, «staremos nos aproximando de uma nova ralidade histocica sobre o Baixo I mpésio Romano, pos a prtica linguistica pode set um instrumento tivo dde poder em vez de reflec simplesmente a ralidade sociale politica GregSrio Nazianzeno; Impetador Juliano; Contra Juliano Gregory of Nazianzus (329-390 A.D.) was a Christian author fiom the Eastern Roman Empire during the fourth century A.D. Among many speeches, he wrote Against Julian (364-365 A.D), which is composed of two rich invenctives in historical Philosophical content, and a major ‘xample of Christian rhetoric against an emperor. For many ysats this repulsive panegyric about the figure of the emperor Julian was insert in the Chrstianism versus paganism polemic. Amplifying this perspective and, a the same criticizing the limit of this idea, T intend to expose the fact that the conflict is insert in a political and cultural disputation. In order to reach this aim, I would like to deconstruct the speech Agent 190 LUNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - Departmen de Hie Julian, analyzing ie and llseating its dhecorical elements. I believe chat it ‘would reves is thetoicl construction and uncover anew historical reality about the Late Roman Empire. Once that che linguistic practice can be an active instrament of povter instead of simply reflec the political and socal realy. Gregory of Nasianzus; Emperor Julian; Agains Julian que chegou a se Bispo de Nazianzo (374 d.C) e de Constantinopla 381 d.C). Possuia uma formagio cultura bastante ampla, tendo se ceducado nos padt6es da tradigio cléssicae, também, da crsti. Eo que podemos perceber quando nos deparamos com a leitura eandlise de Conta Julian. 0 Contra Juliano (364-365 d.C) é composto por dois discursosriquissimos «em conteiido histérico-floséfico ¢ configura-se como um grande exemplo de retérica crista empregada em oposigio a um Imperador. A fontecm questio, segundo Jean Bernard, foi vista, durante muito tempo, G 1EGORO NaziAnzeNo (329-390 D.C) foi um fildsofo cristio e monge ‘como uma resposta aos panegiticos laudaticios de Libinio’—sofista neoplatGnico (314-393 d.C) - dedicados & pessoa do Imperador Juliano, Essa posigio foi contestada e, mais tarde, passa-se a considerar que as duas obras desses dois fildsofos estavam inseridas na polémica mais geral entre cristianismo € paganismo, contenda cuja importincia tem sido reforcada por virios autores contemporineos que escreveram sobre o século IV d. C’. Em nossa opinio, cesta interpretagio restringe a agio discursiva do Contra Juliano ao nivel ppuramente religioso. Pelo contrdtio, percebemos que os discursos referentes ao Imperador, conta (repulsivos) ou a favor (laudatérios), mostram-se dotados dde uma base politico-cultural bastante ampla. Sao verdadeitos arrazoados politicos, porque se referem as agées governamentais, as aticudes politicas, filos6ficas e religiosas de um Imperador; sio também culturais, porque centendemos que cultura, no sentido stritu senso do tetmo, significa um sistema de atitudes, modos de pensar e de agir de acordo com costumes instituigdes, valores espitituais e materiais de uma dada sociedade. Portanto, os discursos io s6 desses dois autores, mas de todos os outros, seam cristios ou pagios, tevelam, a0 nosso ver, o ambiente politico-cultural do século IV d. C, no testringindo sua asio & referida polémica cristianismo x paganismo. Podemos explanar algumas posigoes de determinados autores especialistas cm antighidade cardiaque fortalecem nosso argumento. A historiadora Polymnia DIMENSOES +l 16-2004 191 Athanassiadi (1992528) relata que no século TV d.C existia, entre cristianismo 0 paganismo, um extensive no men’ land em que os incelectais poderiam ser egos de surpresa caindo nas armadilhas da indefinigio. Assim, nos reporta a alguns exemplos: Hecébolio, figura contraditéria em sua relagéo com 0 Imperador Juliano; Pegisio que teria sido um bispo cristéo em Ilion sob o governo de Constincio II ¢ depois um participe do cleto pagio do Principe Juliano; Sinésio e sua polémica e tardia conversio ao cristianismo e que, mais tarde, teria sido bispo de Cirene; ¢ o fildsofo Temistio, o mais interessante personagem citado, que foi o panegitista oficial de todos os imperadores compreendidos entre Constincio IIe Teodésio. Afora estes, Polymnia cita a controversa figura de Palladas, otiltimo poeta pagio grego do século LV. Todos ‘esses personagens sio exemplos de figuras complexas e poderosas na méquina governamental do século IV d.C, que se posicionaram entre ocristianismo eo aganismo adotando pensamentos de ambas as filosofias. Freqiientemente, as aliangas entre os intelectuais dessa época eram feitas de acordo com suas conveniéncias politico-sociais. Qualquer personagem hist6rico que nio tivesse senso diplomitico estava fadado ao insucesso. Outro autor que nos temete a tal ponto de vista é Javier Arce (1976). Em. seu artigo, o historiador enumera uma lista de funciondrios que exerceram ‘cargos no governo do Imperador Juliano: sio arrolados funcionirios pagios, funcionérios que abandonaram o cristianismo, tornando-se apéstatas como 0 préprio Imperador e, 0 mais curioso, a permanéncia de funcionarios cristos fem cargos de destaque. Tais exemplos, os citados por Athanassiadi ¢ Arce, levam-nos a questionar o valor ea veracidade da polémica cristianismo x paganismo. Além disso, temos utrasevidéncias que nos remetem a questbes mais amplas do que esse simples jogo binario de oposigao. Trata-se da intima relagio do ambito politico com © ligioso tao bem demonstrada por Gilvan Ventura da Silva (2000) ao se referit A perseguigio do Imperador Constincio, na época de seu governo, aos adivinhos ¢ feiticeiros. Segundo o autor, “2o deflagrar a sua cruzada contra adivinhos ¢ feiticeios, equiparando suas agGes a crimes de lesa-majestade, Constincio IL declarava, sem subterfigios, o vinculo existente, no Baixo Império, entre politica ¢ religiio, Em um mundo que assiste & difusio da idéia de que determinados individuos so intérpretes especiais dos designios sobrenaturais, o exercicio de saberes esotéricos representava um tipo especifco e privilegiado de poder que tio se pode manter exterior a0 controle de um Estado cuja estabilidade Fepousava, acima de tudo, na religiao, justificando-se, assim, a preocupagio 192 UUSIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - Deparment de iden imperial em regular as manifestagSes religiosas que julgava compativeis com a sua concepcio de legitimidade sagrada e extirpar aquelas que consttufssem ‘uma ameaca direta 4 ordem estabelecida’ (SILVA 2000:32-33). Nessa linha de raciocinio, afirmamos que Gregorio de Nazianzo, ao redigir seu Contra Juliano, sabia que estava, sobretudo, fazendo uma acusagio nio s6 religiosa, mas concomitantemente politica. Gregério escreveu seus discursos tendo como regra bésica as dietrizes do manual de retorica de Hermégenes, 0 ‘qual, ja primeira pégina de seu tratado, expe que sua preocupagio principal é tratar da divisio de questées politicas mais conhecidas, em sua concepcio, como ponto: culminantes (HERMOGENES, Sobre os Resultades, 10-15). E ‘uma clara evidéncia de que © homem romano do século IV d.C nao separava a questio politica da religiosa. E, finalmente, em conformidade com autores tardo antiqlstas, como Averl ‘Cameron (1991:19), consideramos que pesquisar temas relacionados i religido € trabalhar com Histéria Cultural e, se 0 aspecto religioso esté associado a0 politico, logoo contexto do século IV d.C deve ser considerado como politico- cultural, no qual houve lugar para uma proliferagao de discursos que denotaram conflitos politico-culeuras. Logo, os discursos de Gregério Nazianzeno revelam © ambiente politco-cultural do século IV, expressando a época de Juliano- ‘César a Juliano-Imperador (355 d.C-363 4.0), A questio anunciada leva-nos a observar que a0 se referir is ages politica, filoséficas ¢ religiosas do remetendo & nogio de Paiddia presente no periodo assinalado. Paidéia significa incipe Juliano, Gregério Nazianzeno estava se 4 educagio obsida por cidadios romanos que seriam preparados para ocupar altos cargos politico-administrativos na esfera governamental do Império Romano. Melhor dizendo, Paidéia € um conjunto de agoes pedags politicas,filosdficas e religiosas (considerado por nés como um conjunto politico-cultural) que aprimora 0 discurso persuasivo (retsrico, ou arte da persuasio) daqueles que necessitam demonstrar impor o seu poder. 'Nosso autor reflete em seus discursos sua prépria concepedo sobre Puidtia (ou sua prdipria educagio) eacirra suas criticas acerca de Paidéia em Juliano (ou sobre educagéo de Juliano). Crticando arduamente Peidéizem Juliano, o autor reverbera a afirmagio do discurso cristio ocorrida no period do século IV d.C. Essa afitmagio esté intimamente associada 4 Retérca utilizada por Gregsrio. ‘Assim, ao tratarmos de retérica, nio resumimos 0 conflito a um simples jogo de oposigées e, sim, vemos que as formas retSricas pagis ou clissicas ¢ criss possuem até virios pontos em comum. A influéncia da formagao retérica DIMENSOES sl 16 2006 193, clissica se faz presente na ctista. E 0 que podemos verificar se tratarmos da cstruttraretérica dos discursos Contra Juliano. A recbrca é a arte da persuasio, «std associada 8 Paidéia e, no caso de Gregorio, & forma como ele, por meio do discurso, construiu a imagem do Imperador Juliano. Essa construsao claborada por Gregério revela nio s6 uma disputa entre intelectuais (Gregorio x Juliano), como também um julgamento severo do autor ctistio sobre o conjunto de atitudes do Imperador. Como j nos referimos, verficamos ser possivel interpretar a ret6rica de Nazianzeno em torno da Paidéiaem/de Juliano utilizando 0 manual de ret6rica de Hermégenes, pois foi se aproveitando da téenica de Hermégenes que Gregério elaborou seus paneg(ricos repulsivos & figura do Imperador. A andlise retorica pode nos levar & conclusio de que a elaborasio de um texto é de suma importincia no conhecimento histérico e na afirmasio do poder politico na sociedade romana do século IV d.C. A elaboragio de Contra Juliano cumpriu um propésito politico que deve ser desvelado pela anslise retérica desses discursos. Verifiquemos como, até agora, a historiografiatratou dos temas Paidéia © Resirica a) A Paideia Deacordo com Glanville Downey (1957:48-50), desde os tempos de Platio, alguns politicos rém estado bastante conscientes do papel da educasio (Paidéia) na preparacio dos homens para com seus deveres com o Estado, assim como para com a vida privada, Era sabido na Antigitidade Greco-Romana que os problemas educacionais poderiam afetar as bases do bom andamento do governo. Algumas obras, hoje consideradas clssicas, foram escritas sobre o tema. O tratamento desse objeto nos tempos gregos foi dissertado por Werner Jaeger ‘em Paidéia’; outro trabalho importante e de necesséia leitura para uma primeira compreensio sobre o tema €0 clissico Histoire de ' Education dans [Antiquité de Henri Marrou, em que o autor se preocupa primordialmente cam os aspectos pedagdgicos da Paidéia. Especialmente para o perfodo com 0 qual estamos lidando (séeulo IV dC), citamos Christianity and Classical Culture de C. N. Cochrane (1944) ¢ o trabalho de Laistner, Christianity and Pagan Culture in the Later Roman Empire (1978). Cochrane se preocupa em levantat quest6es do tipo: como a tradigio da edueagao clissica afetou o crstianismo depois de ter sido emancipado ¢ favorecido pelo Estado ¢ como o desenvolvimento de um Estado cristio pode ter sido influenciado por esses fatores’? Ja Laistner ‘oferece uma perspectiva da teoria e da pritica da educasio pagii ¢ ctista, 194 UUNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO ~ Deparment de Misi principalmente desta tiltima no século IV d.C, em trés capftulos. Akém disso, oferece uma tradugio do tratado de Joao Crisdstomo sobre a educagao de riangas existis (século IV 4.0). Por timo, destacamos uma das mais recentes obras de Peter Brown (1992), em queo pesquisador articulaa Paideia ida de poder e persuasto, concedendo a vitéria aos cristios em relagio aos pagios na elaboragéo de um discurso ppersuasivo de impasicéo do poder” ‘Além destas obras, destacamos a valiosa contribuigéo de Glanville Downey, sobre. tema, em seus artigos Education and Public Problems as en by Themistius (19552), Philanerapia in Religion and Statcerafin the fourth century after Christ (1955b) e Education in the Christian Roman Empire: Christian and Pagan theories under Constantine and his Sucesors (1957). Downey, nos dois primeiros artigos aos quais nos referimos, explicia de maneira clara e objetiva a importincia e influéncia do filésofo pagio Temistio na corte imperial do século IV d.C, fandamentalmente, a partir de Constincio (337-361). Ressalta que Temistio delimica muito bem no século IV d.C, o papel do filésofo na construgio da Paiddia. Temistio teria acesso tanto a imperadores cristdos quanto a pagaos. E 6 tinicofilésofo do século TV que elabora um tratado sobre a Paidéia incluindo a importincia da persuasio neste process. Glanville Downey, 20 contratio dos outros autores citados", constréi sua argumentagio utilizando-se de vitios rechos dos tratadosfilosoficos do proprio “Temistio (ou sea, ele dialoga com as fontes de Temistio). Em seu iltimo artigo, por nés mencionado, Downey tenta analisa a relagio da educacio crista com a pagi na Roma Oriental da primeira metade do século TV d.C. Sua andlise torna-se bastante produtiva pois tenta ver, do ponto de vista da educagao, alguns dos efeitos do triunfo do cristianismo nos estadistas ¢ escudiosos da época, os ‘quais tiveram uma educagio clissica no proprio Estado que foi construido € administrado por homens com esse tipo de instrugio. Assim analisa 0 problema para os cristios Constantino, Lactincio e Euscbio (p. 490) e para o pagio Temistio (p. 55). b) A Retbrica No tocante & Retdrica no século IV d.C, registramos que pouco se tem escrito sobre o assunto, em especial, sobre a retGrica grega tardia (onde tem lugar a retrica crista de Gregério Nazianzeno).. Em geral, o que se percebe é um descaso com o tema na historiografia do Baixo Império. quadro vem se alterando, talvez pelo fato de que o tema da ret6rica ver comando um espago bastante expressivo entre historiadores, DIMENSOES sal 16-2004 195 fildsofos ecrticoslterrios nos dias atuais. A andlise da construgéo do diseutso, © conhecimento sobre a técnica de como € elaborada e a compreensio dos clementos internosao texto que edificam a retrica, ou sea, a arte da persuasio, devem nos levar a uma melhor apreensio dos momentos politicos e culturais de uma dada sociedade. Portanto, ao escolhermos considerar a ret6rica cristi de Gregério Nazianzeno como uma retérica contra um governante, estamos conscientes de estar reagindo de acordo com as preocupagées metodolégicas do final do século XX e do inicio do século XX1 © mundo clissico jé considerava como decisivo 0 discurso ideolégico ¢ clogiiente. As oragdes de Sécrates noticiadas por Platio, os diseursos do prdprio Plato e 0 tratado de Aristoteles denominado Arte Retérica delimitavam de forma relevante a importancia do orador nos discursos politicos inseridos no espaco civico da pols ‘Autores romanos como Cicero ¢ Quintiliano, no perfodo republicano e no inicio da fase imperial, baseavam seus escudos e aprimoravam suas téenicas persuasivas aproveitando 0 material retérivo-filoséfico grego e, assim, a heranga desse discurso fo passada para outras geragies, sendo sempre admirada eadaptada a novos contextos histéricos. Desenvolve-se, também no petiodo imperial de Roma, a retérica ctista. E mister comentarmos que quando nos ditigimos 20 item ditcurso, estamos, é claro, interessados na expressio de idéias eo cristianismo ‘io foi somente um ritual, pois colocava um valor extraordinatio na formulagio verbal. A fala consticuia uma de suas metiforas bisica ese baseava, integralmente, na redagio e desenvolvimento de textos. Tal énfase na formulagio verbal da fé levou a uma tentativa bem sucedida de imposigao da autoridade do discurso. Apés muitas disputas, com diferentes variagdes, este discurso tornou-se 0 ominante no Estado, pois sua tetra, desde o inicio do cristianismo, nao era tuma retérica nica propriamente dita, mas se baseava na palavra, no sentido ‘maisamplo, denotandoa maneira eas circunstincias que promoveram a persuasto, Consegiientemente, sua recepgao foi mais cil e mais abrangente, o que propiciou avalorizagio de um novo tipo de discurso; sua coesio culminaria em uma futura predominancia, Einteressante observar também que, além dessesfatores, muitos

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