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Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, ns (1 a 4), 1993 163 Sistemas Cadticos em Fisica - Uma Introdugao* (Chaotic systems in phy + an introduetion) Ildeu de Castro Moreira Instituto de Fisica - Universidade Federal do Rio de Janeiro Ce, Postal 68: 21945 Rio de Janeiro, RJ, Brasil Recebido para publicagio em 28 de Julho de 1992; Aceito para publicagio em 13 de Novembro de 1992 I. Introdugao Em todos os ramos da ciéncia um dos conceitos centrais no entendimento dos fendmenos naturais ¢ 0 de evolugao no tempo. A descrigio dinamica, na qual © tempo exerce o papel essencial de parimetro de re feréncia, é utilizada nas mais variadas direas da fisica, da astronomia, da matemat ‘a aplicada ¢ da engenha- ria, O tempo é considerado, nessa visio, como um parimetto unidimensional, continuo, representado ma- tematicamente pela reta dos mimeros reais ¢ fluindo independentemente de seu entorno. Essa concepgio do tempo, expressa claramente por Newton nos Principia, tornou-se profundamente entranhada na fisica © em ou: tras dircas da ciéncia, especialmente apés o surgimento da meeanica clissiea, Mesmo com o advento da teoria da relatividade, que quebrou 0 conceito de um tempo absoluto ¢ independente do observador, a continuidade do tempo e seu papel de parametro evolucionirio b permanece. ‘Como sucesso da mecanica newtoniana, nos séculos XVII ¢ XIX, onde a evolugao temporal dos sistemas é represcntada matematicamente pelas chamadas leis de Newton, estabelecet-se um paradigma descritivo para as outras areas do conhecimento, Esse modelo bisico constituiu © ponto de partida para o que se chama hoje de “teoria dos sistemas dinamicos’. Um sistema dinamico é descrito por qualquer conjunto de grande- zas (chamadas variéveis dependentes) que variam no tempo (variivel independente). O estado do sistema Palestras proferidaa ta Eacola de Inverno da Sociedade Bra- sileira de Fisien/RJ, Nova Friburgo, 1991. € representado pelos valores, num dado instante de tempo, do conjunto completo de varidveis dependentes. 0 espago de estados possiveis para o sistema é deno- minado espago de fase. A evolugio de um tal sistema descrita por um conjunto de equagdes discretas ou continuas (diferenciais) que constituem a regra que per- mite prever 0 seu comportamento futuro, global ou par- cialmente, uma vez conhecido 0 seu estado inicial. Se as variveis dependentes ¢ o tempo fore continuos essas regras serdo equagoes diferen tam outras varidveis independentes, também continuas - como as coordenadas espaciais, no caso da fisica dos eios continuos ou nas teorias de campo - teremos as equagies diferenciais parciais. A existéncia de alguma variivel discrota leva a regras com diferengas finitas, gencricamente denominadas de mapeamentos. Note-se que, na fisica, as leis da dinamica (regra) ¢ as condigoes iniciais constituem ingredientes essenciais para a pos sibilidade de previsio no futuro; mas, enquanto as leis dinamicas sio obtidas através da cringao cientifiea ¢ da experimentagio, sobre as condigdes iniciais nio dem regras (com a possivel excecaio do cosmos como um todo) c elas possuem um grau de arbitrariedade restrito apenas pela preparagio do sistema. E verdade que res- trigées importantes foram aqui impostas pela mecanica quantica. A concepgao determinista da mecinica classica, ex- posta claramente por Laplace, em 1814, pretendia a previsibilidade quantitativa absoluta para um sistema cléssico, se 0 seu estado inicial fosse conhecido com exa- tidio, Nada melhor do que repetir o proprio Laplace 164 enunciando a utopia determinista: “Devemos, portanto, considerar o estado presente do universo como o resultado de seus estados anterio- tes e como a causa dos que virao. U a inteligencia su- perior que, em um dado instante, conhecesse todas as forgas pelas quais o mundo natural se move e a posigio de cada uma de suas partes componentes [assim como suas velocidades), © que tivesse também a capacidade de submeter todos esses dados a nntos dos iai- englobaria na mesma férmula os movi ores corpos do universo também aqueles dos menores Atomos; nada seria incerto para ela © 0 futuro, assim como o passado, estarin todo presente ante sous olhos 0 extraordinirio sucesso da mecinica newtoniat na previsio do movimento dos corpos celestes, sun aplicabilidade no estudo dos movi ntos dos corpos sélidos terrestres © o desenvolvimento das niiquinas aparatos construidos para terem win comportatnento estritamente previsivel e periddico, contribuiram para © fortalecimento das con scanicistas. Essa goes visio determinista estrita comesou a ser abalada p tudos: proba- introdugio da mecanica estatistica na fisiea do fi do século XIX, embora a origem dos bilisticos tenha tido i jo ja no século XVI, especial- 1¢ no imbito das aplicagdes matemviticas is eiéneias socinis. A emergéncia da in nica quantica, no pri- meito quartel deste século, atingiu com to maior in- tensidade as concepgies vigentes sobre o determinisino ao atribuir um cariter essencialmente probabil descrigio dos fendmenos microsedpicos. Ex tes o avango das idéias ¢ das técnicas levou a um grande desenvolvimento no estudo de sistemas nio-lineares, 0 que veio também chacoalhar pressupostos determinis- tas longamente acalentados na mecinica chissica © nas ‘ireas da matemtica aplicada baseadas em seu modelo paradigmitico. Na fisica clissica dois grandes paradigmas descri- tivos se afirmaram: a mecinica, baseada nas leis de Newton ¢ impregnada da idéin de uma deserigio ab- solutamente precisa em principio, ¢ a termodinamica = mecinica estatistica, desenvolvida no século XIX © que introduz uma ordem no comportamento dos sis- temas com muitas particulas (0s gases, em especial) Ideu de Castro Moreira através de hipéteses estatisticas e da anilise do com- © conheci portamento médio, No caso da mecani permi jual de cada componente do sis- ria a previsio do mento das condigdes nici comportamento in 1a fisico; ji na desctigao estatistica abandonava-se anilise individual, devido 4 ignorancia das condigdes iniciais e a0 grande ntimero de partes envolvidas, ¢, ica’ ‘a partir da hipétese de uma desordem “democr: (hipétese ergédica), podiam ser feitas previsdes, com boa precisiio, sobre o comportamento médio do sistema. Maxwell, jd em 1873, com aguda sensibilidade e in- Luigio fisicas, alertava para as limitagdes da visio deter- minista laplaciana ¢ mostrava a existéncia de sistemas que, mesino com poucas particulas, exigiam uma des- crigio probabilistica em fungio de apresentarem grande sensibilidade variagio das condicées iniciais. Ou sej ina Variagio extremamente pequena nas condigées in cinis - © incertezas sempre estar presentes em qual- quer medida fisica - induziria variagdes grandes no com- portamento futuro desses sistemas, tornando o determi- no absoluto uma “hipétese metafisica’. Poincaré, cerea de vinte anos depois, estenderia essas idéias ¢, partindo de trabalhos mateméticos importantissimos sobre 0 problema de trés corpos interagindo gravit cionalmente, comegaria a vislumbrar 0s contornos do caos tos sistemas deterministicos. Mas essas idéias nao jolgaram seus contemporineos e 66 com advento dos computadores e com a geragao recente de novos concei- tos, provenientes de diversas dreas do conhecimento, 0 estudo dos sistemas com comportamento caético viria se ampliar enormemente. O leitor interessado em mai- ores detalhes sobre a histéria do aos deterministic podera consultar a referéncia [1]. Mas precisemos um pouco melhor o significado do caos deterministico. Por sistemas cadticos entende- remos sistemas deterministicos - ou seja, possuidores de uma regra univoca que permite determinar 0 valor das varidveis que descrevem o sistema a partir dos va- lores dessas mesmas varidveis em instantes anteriores = que apresentam grande sensibilidade a variagao das condigdes iniciais. Isso significaria que, para grande parte das condigées iniciais no dominio considerado, uma pequena incerteza no estado inicial do sistema po- Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, n°s (I deré conduzit a estados muito diferentes, a partir de certo instante futuro. Se medirmos a incerteza nas condigées iniciais do sistema por ¢o ¢ denominarmos de ¢(t) a incerteza em um tempo ¢ posterior, podere- mos visualizar essa grande sensibilidade & variagio das condigées iniciais pela representacio da figura 1. e(t) Figura 1: Trajetéria instavel. Uma pequena incerteza inicial ccresce exponencialmente no tempo. Podemos resumir as principais caracteristicas dos sistemas cadticos deterministicos: * Sio sistemas dinamicos possuidores de uma regra bem definida para a evolugio, sem a presenea de qual- quer flutuagio ou elemento alcatorio externo; * As regras sio nio-lineares, sejam elas equagdes diferenciais ou equagdes de diferenga finita (discretas); * Grande parte das trajetdrias desses sistemas sio instaveis (na regio analisada), ou seja, uma pequena incerteza nas condigées iniciais cresce exponencialmente com 0 tempo; + Esses sistemas apresentam, em razio disso, difi- culdades para a previsibilidade de seu comportamento 1 longo prazo. Uma descrigio probabilistica seré ne- cessiria, em geral, para que previsoes quantitativas pos- sam ser feitas. Vimos, entio, que 0 quadro descr 0 proveniente da fisica clissica se tornou bem mais complexo. As ), 1993 165 dduas descrigSes paradigmiticas iniciais, a mecinica newtoniana ¢ 0 meeanica estatistica, sio apenas parte de um espectro descritivo possuidor de varios graus de “caoticidade”. Os sistemas integriveis tradicionais da mecanica clissica nfo apresentam comportamento cadtico, enquanto que os sistemas ergédicos podem apresentar um tal grau de “caoticidade” que passam ‘a admitir uma descrigio probabilistica razoavelmente simples. Esses sio dois casos particulares dentre uma gama grande de comportamentos possiveis para os si temas dinamicos ndo-lineares. B importante destacar que o comportamento cadtico, e isto demorou a ser pereebido claramente, pode ocorrer também em siste- mas com poucas particulas. O reconhecimento de que comportaimentos complexos nao requerem modelos ma- temiticos complicados: isto 6, com muitas particulas - uma das contribuigées mais significativas desses estu- dos. Isso sugere, em particular, que fendmenos naturais eriam vir a ser descritos através de mo- delos simples, com poucos graus de liberdade. Algumas questées importantes e de carter geral surgem quando comegamos a estudar os sistemas com ‘comportamento cadtico: * Como medir (quantificar) 0 “eaos” ? * Como prever se 0 sistema tera ow nio comporta- nento eadtico? * Como testar experimentalmente se 08 nossos mo- delos sio adequados para descrever sistemas fisicos re- ais? omo interpretar 0 significado do caos como fazer previsdes para o comportamento futuro desses sis- temas? + Como tirar proveito das caracteristicas dos siste- mas com esse tipo de comportamento? + Sor que estamos diante da emergéncia de um novo paradigma na ciénei Neste texto introdutério apenas tocaremos superfi- cialmente em algumas destas questdes, mesmo porque no existem ainda respostas gerais para muitas delas. Muitas aplicagoes dessas idéias, em fisiea ¢ em ma- temética aplicada, tam sido feitas nas dltimas duas décadas. Citamos algumas: no estudo do movimento de planetas ¢ cometas (meedniea celeste), na anilise 166 de reagées quimicas oscilantes (quimica), nos modelos para o surgimento da turbuléncia (mecanica dos flui- dos), em modelos biolégicos © ecoldgicos para o com- portamento das populacdes, na dtica dos lasers © meios nio-lineares, nto estudo incipiente do “eaos quiantico’ (fisica atomica e nuclear), ete. Nas referéneias, no final deste texto, focé encontrard uma gama grande, embora ainda muito parcial, de artigos cientificos que tratam dessas aplicagdes nas direas mais diversas, IL. Sistemas discretos dos casos mais simples de sist ito evolutivo: os mapeamentos ou aplicages , termo este mais utilizado pelos ma- temiticos. Consistem fundamentalmente em uma re- gra determinista que permite a obtengio direta das variiveis que deserevem 0 si fungio de seus va- lores em instantes fo de evolugio, teriores. O parame ente 0 tempo, ¢ suposto disereto, assumindo va lores inteitos. A forma genériea desse tipo de mapea- 1 = P(X: Xeets onto Om) ) onde 09 ay so parametros do sistema side naioria dos casos considera: Xig1 dependerio apenas dos X,, ou seja, dos valores das variiveis 2 no instante imediatamente anterior. ci Esse tipo de mapeamento surge na discretizagio de equagies difere plo seguinte: dr/dt = f(z) > 244, = + Seat (2) Analisar nos aqui apenas mapeam ais; apesar dessa restrigdo veremos que, mesmo estes ‘mapeamentos simples, podem apresentar um comporta- mento muito rico ¢ vatiado, podendo servir como mode- Jog aproximados para sistemas naturais razoavelmente complexos. Em ecologia matematica, por exemplo, in- teressantes modelos para o crescimento do mimero de individuos de uma espécie, a cada geragio , podem ser os, de inicio, o ctiados com esses mapeamentos. Tom ‘mapeamento mais simples: o linear. Ildeu de Castro Moreira A. Mapeamento linear Nesse caso suporemos que a regra de evolugio do sistema ¢ a seguint x 1= aX, (3) ‘onde a é uma constante positiva que mede a taxa de erescimento da populagio, cujo niimero é medido pela varidvel X. Suporemos que 0 valor inicial Xo seja co- hecido. Poderemos encontrar os valores sucessivos de X se ay \rmos a regra (3) iterativamente: aXo; Xz = aX, = alaXo) = a?Xo; Ny = aXqu =a"Xo. Se examinarmos a evolugio desse sistema vere- 0 longo do tempo, ele pode comportar- maneitas diversas, dependendo do valot do parametro a * Sea <1: 0 valor de X tende a zero. © ponto zero, nesse caso, ¢ um “atrator” dos pontos vizinhos; * Sea =I: 0 valor de X fiea constante e igual a Xv * Se a> 1: 0 valor de X tende para infinito. 8 limitagées da aplicagio dese modelo a ecologia io ficcis de serem percebidas, Para analisar os mapeamentos ¢ essencial que voce Utilize um microcomputador que the permite calcular, de mancita extremamente ripida, milhares de iteragdes; além disso, com o seu uso constante voeé comegara a desenvolver uma “intuigio” sobre o comportamento nio-linear. Tente fazer programas para calcular 0 ma- peamento linear © 0s outros modelos que trataremos a seguir. Se tiver interesse poderd receber uma edpia do programa CAOS que foi feito para acompanhar este texto®. Examinemos agora 0 que ocorre com o mapeamento linear se houver uma incerteza inicial ¢ na deter minagio de Xo : Nita = a(Xo +00) = aXo + ato, atin = a"Xo tao. Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, ns (1 a 4), 1993 167 Portanto, a incerteza inicial ¢y varia no tempo segundo @ regra ¢, = a"€o. Crescerd se a > 1 e diminuira se a 1 ° v2 ! i Estica 1 2 Figuras: 3 @ 4 Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, n®s (1 a 4), a iteragio (4) resume-se em, a cada vez, andar a virgula uma casa para a direita (0 que significa multiplicar por dois, na base bindria, de maneira andlogn & mul- tiplicagio por dez na base decimal) e retirar a parte in- teira a esquerda da virgula (operagio de tomar médulo ». Teremos para esse caso: X; = 0, 1001001101... ; Xz = 0, 001001101... Xy=0,01001101... ; X4=0, 1001101 Vé-se claramente que, s¢ utilizarmos um computa- dor que pode armazenar 50 digitos para cada niimero, apés 50 iteragées obteremos 0 ou I, aleatoriamente, de~ pendendo da configuragio da maquina, Esse mapea- mento pode funcionar, portanto, como um gerador de nimeros aleatérios, com algumas limitagdes que vor’ pode descobrir. A representagio bindria deixa claro que, se o mimero lo por lum niimero que, apés um conjunto inicial de digitos, inicial Xo for racional - e, portanto, represe tem uma estrutura periédica - 0 comportamento futuro do mapeamento fica previsivel, sendo possuidor de de- terminado periodo. No entanto, para um ntimero irra- cional nao existe nenhuma periodicidade © © compor- tamento futuro, ou seja, se surgiré 0 ou 1 na préxima iterag passa a ter caracteristicas aleatérias Resumindo o comportamento dese mapeamento: * E extremamente sensivel variagio das condigies iniciais; A sequéncin de iteragdes tem, em geral, as mesmas propriedades aleatérias do lancamento de uma moeda (0)¢ 1 para cara ¢ coroa): O mecanismo de geragao do caos, que aparecerd em sistemas mais complexos, jé surge aqui clara- mente pelo processo de esticar e superpor o inter- valo unitario. Como um exercicio voeé poder estudar o chamado “mapeamento do toldo”. A expressio mater representa esse mapeamento é: 1993 169 WX, se O< Xi <1/2 2a(1- Xi), se 1/2< Xi <1. O parametro a varia entre 0 ¢ 1 ¢ fornece a altura do “toldo”. Vocd poderd verificar que 0 comportamento esse mapeamento passa de regular a cadtico quando o parimetro a ultrapassa o valor 1/2. A utilizagao de um microcomputador para ajudi-lo na tarefa é essencial. Um exemplo muito mais importante de ma- peamento unidimensional, 0 chamado mapeamento logistico, © que tem a forma Xie = AX (1 Xi)y niio sera analisado neste texto - embora tenha sido nas palestras que Ihe deram origem - por raades de limitagio de espago e por estar extensivamente discutido em mui- tos bons artigos de revisiio, Cito um artigo excelente, de autoria de M. Feigenbaum, um fisico americano que realizou trabalhos importantissimos, na década de 70, sobre este mapeamento. A variagio do parametro A conduz ao surgimento da chamada “rota para 0 caos por dobra de periodo” que apresenta importantes carac- teristicas universais. O leitor interessado é altamente estimulado a ler a referéncia [3] ou algum dos artigos de revisio sobre este tema. IIL. Sistemas continuos Para sistemas mecinicos, descritos pela segunda lei de Newton (equagio diferencial de segunda ordem), 0 espago mais adequado para representar 0 estado do sis- tema é 0 espago de fase, constituido pelas coordenadas de posigioe pelas coordenadas de velocidade correspon- dente - ou, mais precisamente, pelas coordenadas gene- ralizadas © pelos momentos canénicos associados. Um ponto nesse espago caracteriza completamente o estado: do sistema; por ele passa, se satisfeitas as condigdes do teorema de Cauchy-Lipschitz, apenas uma trajetéria, © que garante 0 comportamento deterministico do sis- tema. Para um sistema com N graus de liberdade 0 ‘espaco de fase tera, portanto, 2N dimensdes. Nas figu- ras 5,6 € 7 representamos o espago de fase para um osci- Jador harménico simples, para um oscilador harménico 170 com dissipagio (atrito variando linearmente con Obser locidade) e para um péndulo. que, no caso do péndulo, aparecem trajetérias que correspondem a na dire movimentos de rotagio do péndulo em ou outta ¢, para energias mais baixas, trajetérias corres: pondentes a oscilacées em torno da posigao de equilibrio esta Ny VE Figura: 5 Oscilador harménico simples, Figura 6: Oscilador com atrito linear y— Seporatriz Figura 7: Espago de fase do péndulo. Ildeu de Castro Moreira Uma categoria de sistemas dinamicos particula importante na fisica é constituida pelos siste- ‘mas hamiltonianos. Para esses sistemas as equagdes de evolugio podem ser postas na forma (7), as chamadas ‘equagées de Hamilton: dq/dt = AH/dpy ; dpifdt=-@AH/dq (7) A fungio hamiltoniana H é a energia do sistema ex- pressa em fungio das coordenadas do sistema e de seus momentos associados. O volume no espago de fase é conservado para os sistemas hamiltonianos - este resul- tado, devido a Liouville, pode ser demonstrado, sem maiores dificuldades, a partir das equagées (7). A des- mais simples do que a newto- niana porque, neste caso, a quantidade dinamica es- fungio hamiltoniana ou, simplesmente ha- miltoniano, é ui escalar. Ja na formulagio newtoni- ana a din fema é determinada pelas forgas que agem no sistema e estas sio quantidades vetoriais. Além disso, 0 espago de fase dos sistemas hamiltonia- estrutura geométrica, denominada strut ‘ica, bem mais simples do que a dos outros sistemas dindmicos. O sistema de 2N equages diferencinis de primeira ordem em (7) & equivalent no caso dos sistemas hamniltonianas, as N equagies diferen- ciais, newtonianas, de segunda ordem. Entre os sistemas que néo podem ser colocados na forma hamiltoniana incluem-* © a grande maioria dos sistemas dissipatives, ou seja, aqueles que no conser- vam a energia. Um volume inicial no espago de fase, Para esse tipo de sistema, nao se conserva e sofre uma contragio ao longo do tempo. Devido contragéo do volun urgitio regides no espago de fase para as quais © pontos de determinados dominios tenderio, com 0 correr do tempo. Essas regides, que funcionam como bacias de atragio, sio denominadas de atratores. Os atratores mais simples sio pontos (dimensio zero) ou curvas fechadas, os ciclos-limite, de dimensio um. Da figura 6 v mos que © ponto zero (origem) é um atra- tor para o oscilador com atrito. A figura 8 mostra o ciclo-limite que ocorre para a equagao de van der Pol, introduzida na década de 20 para descrever um circuito Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, ns (1 a 4), 1993 im eletrénico e também como um modelo simples para o funcionamento do coragio: Pr/dt? + M1 — 2)dz/dt + ke = 0. @) x Figura 8: Espaco de fase da equacio de van der Pol. Alguns tipos de atratores sio bem mais complica- dos, podendo apresentar dimensio fracionaria. Abr mos agora um parént para definir a nogio de di- mensio fractal que nos permitira calcular a dimensio desses tipos de figuras geométricas. Na realidade exis- tem varias definigdes, nem sempre equivalentes, de di mensio. A definigio talvez mais simples é a chamada dimensio (ou capacidade) de Hausdorff: d im (In N'(c)/In(1/0)} (9) onde N(c) 6 0 mimero de “hipercubinhos” n- dimensionais necessirios para cobrir 0 objeto conside- rado ¢ ¢ é 0 comprimento de lado do hipercubinho. Um exercicio simples é mostrar que, ¢o ssa definigio de dimensio, a reta tem dimensio um, o plano tem di Nas mensio dois € 0 espago habitual dimensio tr figuras 9 € 10 vocé podera ver como se calcula esta di- mensio para duas figuras fractais muito simples: 0 con- junto de Cantor ¢ 0 conjunto de Koch. Os fractais so objetos geométricos “fraccionados” que apresentam di- mensio fracionaria e que tém, em geral, a propriedade de apresentarem a mesma forma em cada escala em que sio observados. Essa propriedade ¢ denominada de autosimilaridade. Os fractais tém sido usados como modelos aproximados para muitos fendmenos ¢ formas observadas na natureza: linhas costeiras, formagao de nuvens, crescimento de cristais, corrosio, formacoes eoldgicas, ete (4). nto de Cantor, chamado também ‘pocira de Cantor’, construido dividindo-se o intervalo unitirio em trés partes. Removese, em seguida, a parte central € se repete o processo indefinidamente para cada segmento remanescente, Sua dimensio fractal é d= log 2/log 3 = 0,03. NG Figura 10: Primeiros estigios da construcio da curva de Koch (periferia da figura), Sua dimensio fractal é d = log 4/log 3 = 1,26. Jomo vimos, no caso dos mapeamentos, comporta. mentos eadticos surgem quando a divergéncia exponen- cial das trajetérias no espago de fase € acompanhada por um confinamento global. O mesmo poder ocor- rer para sistemas continuos nfo-lineares. A divergéncia das trajetérias acarreta um esticamento local do espago de fase mas, devido & imposigio do confinamento, este esticamento no pode continuar indefinidamente. Isso implica na ocorréncia de “dobras” no espaco de fase. Dobras sucessivas produzem um comportamento muito complicado que caracteriza 0 “caos” do sistema, Para sistemas hamiltonianos, que mantém constant lume no espago de fase, o esticamento em un & compensado por uma contragio em iregiio, de modo que area (ou volume) seja conservado. Nos si temas dissipativos nio existe essa compensagio © nio existira, portanto, conservagio do volume espago de fase. Comportamentos cadticos podem ocorter em au bos os tipos de sistemas, diferindo em detalhes. Para 6 sistemas hatniltonianos existem muito mais resulta- dos analiticos significativos, embo pouito lim tados, como os teoremas de Liouville, de Noe de Kolmogorov-Arold-Moser (Ieorena KAM) Figura 11 Trajetéria com periode 1 Ildeu de Castro Moreira Figura 12: Trajetéria multiperiédieca, A. Sistemas conservativos: 0 modelo de Hénon- Heil Trataremos agora do aparecimento do caos em sis- temas conservativos, analisando um exemplo clissico introduzido, em 1963, por M. Hénon e C. Helles, Em el com énfase para todos os interessados em sistemas ‘um artigo muito interessante e original, recomen cadticos, estudaram jodelo para o movimento de uma estrela no campo gravitacional de uma galaxia com simetria axial (ou seja, uma estrela movendo-se dentro de uma galixia pela agio gravitacional de todas as ou- tras estrelas da mesina galdxia). A energia potencial da estrela, neste campo gravitacional médio, pode ser escrita na seguinte forma: v /24 yP/2+ zy —¥/3, (10) as equagdes de movimento sio Pzfd® = Py/d? = =r ory my- ty ay) O sistema tem, portanto, dois graus de liberdade, = ¢ y, enquanto que o espago de fase do sistema tera qua- tro dimensdes : 2, 2, y, ej. Nao é fécil representar Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, n%s (1 a 4), 1993 173 © movimento dessa estrela em um espaco de fase com quatro dimensdes. Para podermos analisat como esse movimento ocorre usaremos alguns truques que nos per- mitam reduzir a dimensio do espaco analisado, Obser- vemos, primeiramente, que a energia se conserva: Bai" + 9? +V(z,y) =constante. (12) Essa relagao implica que o movimento no espago de fase corre sobre uma “hipersuperficie” de dimensio trés, caracterizada pelo valor constante da energia. A seguir podemos utilizar uma idéia simples ¢ genial de Poin- caré para reduzir nossa andlise a um espaco de duas dimensdes. Poincaré imaginou representar a trajetéria tridimensional pelo efeito que ela produz ao perfurar um plano determinado. As figuras 11 ¢ 12 ilustram. bem essa idéia. Uma trajetéria periédica, de periodo 1, perfurara 0 plano (z,y) apenas em um ponto, Ja uma trajetéria mais complicada, ainda periédica mas com periodos miiltiplos, perfurara o plano em varios pontos, mas estes pontos estario dispostos sobre uma curva fe- chada, As trajetérias “regulares”, portanto, formario curvas fechadas ¢ suaves quando intercepta © plano (chamado de segio de Poincaré). Isso # proveniente do fato de que esto dispostas sobre “toros” no espago de fase. As trajetérins “irregulares” existentes nas regides cadticas, perfurario o plano de forma muito complicada © que nao pode ser disposta sobre uma curva suave fe- chada. 6 claro que, nessa visio “seccionada” intro- duzida por Pe trajetéria global, mas a descrigio fica muito mai aré, perdemos a informagio sobre a sim- ples © adequada para uma representagio geométrica e © elemento esseneial que queremos analisar, 0 compor- tamento qualitativo regular ou cadtico das trajetérias, fica preservado, Quando Hénon ¢ Heiles introduziram o modelo des- ctito pelas equagdes (11) no computador, ¢ esta foi uma das primeiras aplicagées dos computadores para este tipo de problema, obtiveram um resultado extre- mamente significativo, retratado na figura 13. 0 plano (v3) foi 0 escolhido por eles para constituir a seco de Poincaré no espaco de trés dimensdes (2, y,)). Pode- mos perceber, da figura 13a, que, para baixas energias (E = 0,08333), todas as trajetérins tém comportamento regular, estando dispostas sobre toros que perfuram o plano e geram as curvas fechadas, Cada condigéo ini- cial, para esse valor da energia, gera uma curva fechada. Valores iniciais préximos geram curvas fechadas vizi- thas. Observa-se a presenga de uma trajetéria instavel (separatriz) delimitando regides diversas no plano, Na figura 13b, quando a energia ja tem um valor maior, E = 0,12500, vemos que existem regides de compor- tamento regular (“ilhas’ de regularidade) mas que 0 comportamento caético ja comega a surgir em determi- nada regio. A separatriz da figura 13a foi destruida e em seu lugar surgin uma regio onde as trajetérias se comportam de maneira cadtica. Note-se que os pontos espalhados na figura 13b representam uma tinica tra- jetéria, extremamente complicada, tendo sua condigio inicial na regio cadtica. Na tiltima figura, 13c, quando sn energia ja atinge 0,16667, sobrevivem apenas ilhas di- minutas de regularidade , em quase todo o espago de fase, 0 comportamento ¢ caético. A area da segio de Poincaré ocupada pelas trajetérias cadticas cresce de maneira abrupta com a variagio da energia. Esse sistema, aparentemente muito simples, por se tratar do movimento bidimensional, conservativo, de uma particula, mostra jé a complexidade resultante do aparecimento do caos. Mostra também que a separagio entre regularidade e caos nao é, em absolute, bem de- marcada; com a variagio da energia, dominios regulares tornam-se caéticos em um proceso bem complicado. Como um exercicio vocé poderd analisar, usando um microcomputador e as técnicas empregadas por Hénon € Heiles, 0 potencial bidimensional V = zy? modelo de Lorenz B, Sistemas dissipativos Em 1963, 0 meteorologista de formagio matemética, E. N. Lorenz escreveu um artigo memorivell”l, A par- tir de uma anilise simplificadora do problema de um fluido colocado entre duas placas mantidas a tempe- raturas diferentes, desenvolveu um modelo dissipativo muito interessante. A sua idéia motivadora truir um modelo rudimentar para o comportamento da atmosfera. Desde o século passado uma situagao experi- implificada é estudada para se tentar entender cons- mental a esséncia desse tipo de fendmeno natural. No esquema 174 Ildeu de Castro Moreira Figura 13: Secio de Poincar (a) E = 0,08333 ; (b) E = 0,12500 ; (c) E = 0,16667. Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, ns (1 a 4), 1993 175 experimental um fluido colocado entre duas placas, sendo que a placa inferior & progressivamente aquecida enquanto a placa superior é mantida a uma tempera- tura fixa. De inicio a transmissio de calor ocorre ape- nas através da condugio térmica, sem transporte de matéria; A medida que a diferenga de temperatura au- menta comesa a surgir um movimento de convecsio, com 0 fluido ascendendo em certas regides e descendo em outras. Formam-se “células de conveegao” (con- veegio de Rayleigh-Bénard), como ilustrado na figura 14. Aumentando-se ainda mais a diferenga de tempe- ratura entre as placas 0 movimento do fluido torna-se extremamente complicado (turbulento). Uma panela com agua fervendo nos fornece uma imagem da com- plexidade desse tipo de comportamento. E interessante observar que para que as células de convegio fossem formadas ocorreu uma “quebra de simetria”, situagio esta muito importante na fisica, e que aparece em varias outras circunstancias Para modelar matematicamente o problema descrito acima Lorenz partiu das equacdes descritivas gerais para um fluido (equagdes de Navier-Stokes), acrescen- tou a equagio para a condugio térmica e as condigoes de contorno. 0 conjunto formidavel de equagdes niio- lineares obtido desestimulava qualquer tentativa de resolugio exata. Buscando simplificar o sistema ao maximo, mas mantendo ainda algumas das carac- teristicas das equagoes originais, entre as quais a nio- linearidade, Lorenz fez uma expansio em série de Fou- rier e considerou apenas os trés primeiros modos of dos. 0 sistema de equagdes a que chegou era constituido de trés equagbes diferenciais de primeira ordem: dW/dt = -aW+aU dujdt = —-W2+oWw-U dz/dt = -cZ+WU, (13) onde W = amplitude do movimento de convecsio; U = diferenga de temperatura entre as correntes descendentes ¢ ascendent 2 = variagao de temperatura em relagio 4 variagio linear. Os coeficientes a, 6 € ¢ sio constantes sendo que b dependerd da diferenca de temperatura entre as pla- cas, da viscosidade do fluido, do coeficiente de expansio térmica, ete. Lorenz tomou os valores fixos de a = 10 ¢ ¢ = 8/3 variow o parimetro b a partir de zero, Utilizando um computador desenhiou as trajetérias obtidas no espaco de fase (de coordenadas W, Ue Z). As caracteristicas que observou, nam jaem que 6 era variado, foram as seguintes: 0. 24, 7: Os dois pontos tornam-se instaveis e surge um atrator mais complicado (atrator “estranho”). Como ja vimos um atrator é uma regidio do espago virinhas, & medida que 0 tempo passa. O atrator de Lorenz, representado na figura 15, faz exatamente isso, mas possui algumas caracteristicas diferentes dos atratores sobre os quais ja de fase que atrai os pontos de rey falamos (ponto, ciclo-limite): 1, Possui dimensio fraciondria. A figura do atrator nao preenche um volume, mas no pode também ser contida em um plano; sua dimensio é intermedi valendo 2,03 aproximadamente; 2. E um atrator cadtico, ou seja, as trajetérias den- tro do atrator apresentam grande sensibilidade & va- ting&o das condigées iniciais. A origem disso esté no mecanismo, ja comentado, de esticar ¢ dobrar, existente no espago de fase; 3. O movimento dentro do atrator é aperiédico. Frio: Ty 9 O Quente : T, Figura 14: Surgimento das células de conveegio. 176 Figura 15: Atrator de Lorene. Muitos outros exemplos de atratores estranhos, cadticos ou nao, tém sido estudados nos iiltimos anos, Em particular, as equagées de Lorenz aplic se também a alguns modelos de lasers. Um modelo possis 1 para certas reagies quimicas, ¢ que produz jambém uum atrator estranho, & dado pelas equagdes de Rosser: defdt = -y- lyfdt = 240,295 de/dt = 0,2+22-e8 (ay Quando o parametro ¢ é varindo, uma sequéncia de bi furcagdes de ciclos-limite ocorte até que o atrator estra- tho apareca para o valor de ¢ (aproximadamente) Com um microcomputador voc’ poder analisar facil mente este comportamento das equagies (14) ¢ obter 0 atrator de Rossler IV. Algumas questées ¢ problemas importantes Apresento abaixo uma lista de cinco problemas sig- nificativos que tém sido discutidos, nos iiltimos anos, por fisicos © matemiiticos. Na realidade sio mais do que meras quests complexas; constituem verdadeiras linhas de pesquisa com muitos desdobramentos. A idéia de apresenté-los em forma telegriifica, ¢ portanto extre- mamente superficial, é apontar para leitor possibilida- des interessantes de pesquisa decorrentes do estudo dos sistemas nio-lineares. Se 0 resumo abaixo servir para Ideu de Castro Moreira motivi-lo a refletir sobre as novas idéias e a buscar pela bibliografia citada, tera atingido seu objetivo. A, Integrabilidade X nio-integrabilidade Questa: natemitico, e importante do ponto de vista fisico, Uma pergunta significativa do ponto de vista é saber, a priori, se as equagées que modelam o sistema ‘analisado terio comportamento regular ou cadtico. Em. termos mateméticos, um problema particular, derivado dessa questio, se refere ao estabelecimento de eritérios analiticos que permitam determinar se o sistema é ou legrivel Dificuldades: A icos que garantam a integrabilidade (ou a nio- determinagio de _critérios integrabilidade) de sistemas dinamicos padece de mui- tas dificuldades. Existem mesmo razdes fortes, funda- mentadas no teorema de Godel, para suspeitar-se que, tho caso geral, tais critérios globais, baseados em algorit- tnos finitos, no existam@l, Recorre-se frequentemente { anélise computacional para se tentar caracterizar 0 sistema como integrivel ou nao-integrivel. Diversos métodos tém sido propostos para se medir 0 grau de “caoticidade” de um sistema: 0 calculo dos expoen- tes de Lyapounov, a anilise do espectro de poténcia, © cilettlo das correlagies, ete. No entanto, na anilise numérica existe sempre a possibilidade de erros eumu- lativos, ainda mais em se tratando de sistemas com possivel comportamento cadtico, ¢ os resultados devem sempre ser tomados com cuidado. Na discussio sobre critérios analiticos para se estudar a integrabilidade va- ‘mos nis limitar aos sistemas hamiltonianos; sobre eles existe um conhecin Resultado: Ui de liberdade sera completamente integrivel(por qua- ito matemitico mais amplo. sistema hatniltoniano com N graus draturas), se possuir N integrais de movimento (quan- tidades conservadas) analiticas e em involugio. Duas quantidades estio em involugio se seu comutador (parénteses de Poisson) se anula [AG] x DGF/4p.(0G/94i) - (0F/04)(0G/pi)} = 0. Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. Esse resultado, devido a Liouville, nos di uma idéia geométrica acerca dos sistemas integriveis. Se 0 six tema hamiltoniano possuir um mimero suficiente de integrais de movimento a dimensio do espago de fase pode ser reduzida (de duuas dimensdes para cada quanti- dade conservada) até que o sistema possa ser resolvido sistema hamilto- via integragées por quadratura. iano com dois graus de liberdade, por exemplo, sera integravel se existir uma segunda quantidade conser- vada além da energia, Varios processos tem sido ima- ginados para se iden ficar integrais de movimento e, is. Citamos alguns, ‘em consequéncia, sistemas integri remetendo 0 leitor interessado para artigos de revi correspondentes: ol?) * Identificagao direta de integrais de movime * Uso das simetrias das equagdes diferenciais (simne- trias de Lie) ow das simetrias da agio clissica (simetrias de Noether) 0.11; * Aplicagio do teste de Kowalevskaia-Painlevé, que se baseia na anilise das singularidades das equagdes no plano complexol!4); Yoshida que permi- tem o estabelecimento de critérios analiticos para se * Uso dos teoremas de Ziti garantir a ndo-integrabilidade de certas classes de teinas hamiltonianos, a partir da andlise do compor- tamento da solugao vizinha de uma solugao particular conhecidal'® 4 * Método de Nelnikov, que explora 0 comporta- mento das trajetérias préximas das chamadas “tra- Jetérias homoclinicas” 5), B. Controlando caos Fato: muito sensivel & variagio das condicées iniciais. Eles Os sistemas caéticos tem um comportamento possuem uma grande riqueza em trajetérias instaveis no espago de fase. Isso, dependendo do ponto de vista, pode ser uma caracteristica negativa. Por ou- tro lado, essa riqueza de drbitas instaveis permite a les uma grande flexibilidade. Sob condigdes ligeira- mente diferentes o sistema pode ser usado para fina- lidades bastante diversas. A construgio de miquinas “cadticas” inteligentes (adaptativas e dotadas de grande ns (Ia 4), 1993 MT flexibilidade) € uma especulagio interessante que de- corre dessas consideragées. Outra possibilidade sig- nificativa surge quando notamos que uma das carac- Leristicas bisicas dos seres vivos ¢ a capacidade adap- tativa; possivelmente os resultados matemiticos pro- veniontes do estudo dos sistemas eadticos poderio ter importancia para um methor entendimento do compor- tamento dos seres vives. Idéia: Aproveitar a riqueza de trajetérias instaveis dos sistemas caéticos e, através de perturbagdes bem programadas, levar o sistema a se comportar da ma- nieira que se deseja (ou aproximadamente). Estratégia: 1) Escolhe-se una érbita que permita ao sistema reali- zar a performance exigida; 2) Estabiliza-se essa drbita através de uma pequena perturbagéo adequadamente escolhida. Resultados: 1, ‘Tedricos © muméricos: O primeiro igo a discutir recentemente esas idéias foi escrito por Celso Grebogi (cientista brasileiro), James Yorke ¢ Edward Ou, Veja também a referéncia [17]; Experimentais : * lamina magnetoclistical"*l; conveegaol!; * ondas de spin, experimento realizado por Sérgio Rezende © Antonio Azevedo, em Recifel); * circuitos eletrénicos!4), C. Formas na natureza Fato: Os sistemas com comportamento endtico, ‘mesmo com poucos graus de liberdade, podem apresen- tar uma estrutura extremamente complexa e variada, Pergunta: Seri que formas complicadas presentes na natureza poderiam ser descritas adequadamente por ‘equagies nio-lineares relativamente simples, isto é, en- volvendo poucas varidveis? aves! Exemplo 1: Crescimento de cris Facetados Dendriticos Fractais, Hierarquia Modelo discreto: automatos celulares. Os automatos celulares sio mapeamentos n-dimensionais que modelam equagées diferenciais parciais. ‘Tém sido empregados no estudo do crescimento de cristais, 178 na anélise do comportamento de fluidos, em mode- los biolégicos, etc. Do mesmo modo que os mapea- ‘mentos unidimensionais podem apresentar comporta- mento periédico, multiperiédico e castico, e podem le- var também a estruturas ainda mais complicadas. Para uma revisio sobre o tema veja a referencia [22]. Exemplo 2: ‘Turbuléncia nos fluidos (caos espago- temporal) Os fluidos em regime turbulento apresentam um comportamento extremamente complicado que tem de- safiado 08 tesricos e experimentais. Até hoje nenhum modelo tedrico abrangente ¢ satisfatério foi construido para explicar esse tipo de comportamento. Certos ti- pos de estruturas ordenadas sio observadas quando um fluido passa de um comportamento regular (laminar) para o turbulent * células de conveesio * camadas-limite * movimentos tipo “cogumelo” ou palmeira” Modelos: Ao longo deste século varios cenitios (mo- delos simplificados) foram bolados para a passagem do comportamento regular para cadticoe tenta-se aplica- os a nergéncia da turbuléncia nos fluidos. As princi- pais “rotas para o caos” sio. Teoria de Landau-Hopf (década de 40) * Teoria de Ruelle-Takens (~ 1970) * Bifurcacées por dobra de periodo (~ 1977) * Intermiténcia (~ 1979) Veja a referéncia [23] para uma discussio intro- dutéria sobre essas rotas, D. Indecidibilidade © nio-computabilidade Pergunt Quais as possiveis repercussies na anilise matematica, na fisica © na computagio do ‘Teorema de Godel (e de extensdes similares)? A existéncia de siste- mas nio-computiiveis © de questées indecidiveis nesses dominios & certa, Complezidade algorstmice: é um dos conceitos mais interessantes para a anilise da complexidade de uma sequéncia qualquer de niimeros. Pode ser utilizado para se medir o grau de “caoticidade” de uma série tempo- ral. Por definigio a complexidade algoritmica de uma sequincia de N digitos binérios ¢ dada por : Ildeu de Castro Moreira Ky = ntimero de digitos binarios do programa de computador mais curto que permite achar a sequéncia analisada. Ou seja, Ky mede a “compressibilidade da informagio” contida na sequéncia. Esta podera ser aleatéria ou or- denada: Aleatéria: Ky ~N Sequéncia Ordenada: Ky < N Para uma sequéncia infinita a complexidade é defi- la como: K = Jim Ky/N. A sequéncia sera aleatéria se K > 0 ¢ ordenada se K = 0. Para os sistemas algoritmicamente integraveis ‘as trajetérias tem K’ = 0. Na referéncia [24] vocé encon- trari uma discussio muito instigante sobre essas idéias. E. Um caos quantico? Pergunta: O qué ocorre quando quantizamos um. sistema classicamente cadtico? O sistema quantico sera também cadtico ? Quais sio as propriedades especiais de sistemas quinticos quando os sistemas elisicos cor- respondentes exibem comportamento caético? Resultado: Os sistemas quanticos conservatives, fi- nitos ¢ limitados tém complexidade nula. Logo existe uma “supressio qu classicamente cadticos, quando quantizados, levam suas ica do caos” ! Mas os sistemas mareas para a mecit quantica: * A distribuigdo probabilistica é diferente para o espagamento entre os niveis de energia de sistemas i tegriveis © de sistemas eadticos. Veja a figura 16. Existe a hipstese-consulte a referéncia [25] - de que esta diferenca poderia explicar os diferentes modelos usados para deserever © comportamento coletivo dos micleos (modelo da gota liquida, modelo de camadas); * Diferente evolugio ao longo do tempo. Note, no entanto, que as restrigdes quinticas provenientes das desigualdades de Heisenberg (que, de certo modo, dis- cretizam o espago de fase) impedem a separagio expo- nencial dos “trajetos” a longo prazo, Estranhamente (ou nio?) a incerteza quantica intrinseca impede 0 crescimento ilimitado da incerteza proveniente da ca- lade do sistema! Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 15, n°s (1 a 4), 1993 179 Figura 16; Distribuicio estatistica dos niveis de energia (a) Sistema regular (distribuigio de Poisson); (b) Sistema caético (distribuigéo de *matrizes randémicas”). Figura 17: (a) Comportamento das trajetérias clissicas no bilhar regular; (b) Trajetéria cssica no bilhar caético (tipo estédio"); (c) ¢ (A) Autofungies quinticas altamente excitadas para o bilhar tipo estédio. 180 * Comportamento diverso para o espalhamento caético. Bsse problema comeca a ser estudado & pode evar a uma revisao da teoria quantica convencional so- bore processos de colisio, se o espalhamento clissico cor- respondente apresentar acoplamento nao-linear intenso © comportamento eadtico!®*) Um modelo simplificado, mas muito interessante, tem sido usado para se analisar a passagem, no caso clissico © no quantico, do comportamento regular para © cadtico. ‘Trata-se de estudar o movimento de uma particula livre confinada em um “bilhar”, As figuras 17a ¢ 17b ilustram dois exemplos de bilhares clissicos, tum regular e outro cadtico, Na figura 17e esta repre sentada uma fungio de onda quantica, altamente ex- citada, para o bilhar cadtico. As estruturas quanticas com ampli ide grande, que aparecem na figura, sio de- hominadas cicattizes e surgem na regiao de trajetérias clissieas instaveis, porém periédicas. A figura 17 d mos- tra uma dessa cicatrizes © a trajetorin cliissicn, instiivel © periddica, correspondent Tres excelentes artigos de revisio sobre o tema do aos quintico estio relacionados nas referencias [27] [28] © (29) Dificuldades: nao-integriveis a nivel chissico & dificil e, até o mo- A quantizagio de sistemas que sio mento, nio foi entendida satisfatoriamente. O que se faz, em geral retornar aos procedimentos tizagio semi-clissica. Vale notar que Einstein, artigo de 10 J] que permanecen ignorado por 60 anos, apontava ji as dificuldades para se quantizar sis- temas desse tipo. Controvérsia atual: Existe um “eaos quantico” Como caracterizi-lo? B como fien o Principio da Cor- respondénci Experiéncias: Algumas experiéncias interessantes tém sido realizadas nos dltimos anos em sistemas mi- crocépicos que apresentariam comportamento cadtico a nivel clissico: * Ionizagio do atomo de hidrogenio sob tadiagio de microondas™); * Atomo de hidrogénio (ou de Rydberg) submetido a campo magnético intenso!), Especulacées: Desta discussio superficial sobre a Ildeu de Castro Moreira “caologia quantica” , baseada na mecinica quantica or- dindtia, pode-se especular que muitos resultados inte ressantes ¢ originais poderio surgir ao se analisar suas repercussdes sobre a quantizagao de teorias de campo nio-lineares. O estudo das interagdes de muitos eor- Pos, intensas © niio-lineares, entre as particulas elemen- tares (quarks, leptons, etc), sob esse ponto de vista, é ainda terreno inexplorado. ‘Também as implicagées do comportamento cadtico em modelos cosmolégicos mal comegam a ser percebidas. vocé tem interesse em adquirir uma visio mais global sobre 0 comportamento dos sistemas nio- lineares, suas aplicagies em varios dominios do conhe- cimento © possiveis implicagées gerais sobre nossas con- edeterminismoe acaso, nio deixe de consultar (8 mimeros especiais sobre o caos deterministico das re- vistas Ciénein Hoje, marco de 1992, e Recherche, maio de 1991 Por tudo isso termino com uma frase bastante ci- tada de R. May, em um artigo muito bonito e influente, esctito em 1976 [33]: “Nao somente na pesquisa, mas também no mundo coti iano da politica e da econo- mia, estariamos em melhor situacio se mais pessoas se dessem conta que sistemas nao-lineares simples nao Possuem necessariamente propriedades dinamicas sim- ples’ Roferéncias 1. 1. C. Moreira, “A pré-histéria do caos: de New- ton ao teorema KAM", VI Coléquio Nacional de Histéria da Ciencia, Campinas, 1990. Em “Os primérdios do caos de- terministico” , Ciéneia Hoje, margo de 1992. 2, Programa CAOS, desenvolvido por Alexandre So. les Lima e Amauri Moreira, IF/UFRJ, 1992. Os interessados em eépia deste programa poderio en- trar em contato com o autor: Ideu de Castro Moreira, Instituto de Fisica-UPRJ, Caixa Postal 68528, CEP 21945, Rio. Tel: 2701191 R. 217; Fax: (021) 2807693 ; E-mail: 1FT1O01QUFRI 3. M, Feigenbaum, Physica DT, 16 (1983). 4. B. Mandelbrot, The fractal geometry of nature, Freeman, San Francisco, 1983. forma resumi Revista Brasileira de Ensino de Fisi 5. S. V. Arnold, mechanics. Springer, New York, 1978. 6. M. Hénon and C. Heiles, Astron. Journal 69, 73. (1968) . EN. Lorenz, J. Atmos. Sci. 20, 130 (1963). 8. N.C. A. da Costa and F. A. Déria, “Undecida- Mathematical methods in classical bility and incompleteness in classical mechanics” , preprint, 1990. 9. J. Hietarinta, Phys. Rep. 147, 87 (1987) 10. L. P, Bueno, 1. C. Moreira, O. M. Ritter e F.C. Santos, Rev. Bras. Fis. 16, 559 (1986). 11. LC. Moreira, Rev. Bras. Fis, 21, 60 (1991). 127. Phys. Reports 180, 159 (1989). 13, H. Yoshida, Physica D29, 128 (1987). C. Moreira and H. Yoshida, J. Phys. A: Math. Gen. 25, L227 (1992). 15, A. J. Lichtenberg and M. A. Lieberman, Regular and stochastic motion, Springer, New York, 1983. . Yorke and E, Ott, Phys, Rev. Lett G4, 8215 (1990). 17. T. Shinbrot, E. Ott, C. Grebogi and J. A. Yorke, Phys. Rev. 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