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PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA Graduado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relacdes Exteriores (MRE) € em Direito pela Universidade Federal do Cearé (UFC). Mestre em Direito pela Universidade Federal do Cearé (UFC). Diplomata de Carreira (1996-2006). Professor de Direito Internacional Publico e Privado e de Prote¢ao Internacional dos no Centro Universitario Christus (Unichristus), em Fortaleza (Cearé). Professor de pés-graduaco em Direito Internacional Publico, Direito Internacional Privado, Direito Internacional do Trabalho, Direito Penal Internacional e Direitos Humianos em cursos de especializacio e em cursos preparatérios para concursos publicos. E-mail: paulohgportela@gmail.com / paulohgportela@hotm: itos Humanos |.com DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO E PRIVADO Inctumpo Nog6ks De Drrerros Humanos # pe Direrro Comuntrinio 78 edigao Revista, ampliada e atualizada ld EDITORA JusRPODIVM. wavyreditorajuspodivm.com.br Rua Mato Grosso, 175 ~ Pituba, CEP: 41830-151 ~ Salvador ~ Bahia Tol: (71) 3363-8617 / Fax: (71) 3363-5050 « E-mail: fale@editorajuspodivm.com.br Conselho Editorial: Antonio Gidi, Eduardo Viana, Ditley da Cunha Jr, Leonardo de Medeiros Garcia, Fredie Didier Jr, José Henrique Mouta, José Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Jinior, Nestor Tavora, Robério Nunes Filho, Roberval Racha Ferreira Filho, Rodolfo Pamplona Filho, Radrigo Reis Mazzei e Rogério Sanches Cunha, Capa: Rene Bueno e Daniela Jardim (wwwebuenofardim.com.br) Diagramagao: Caeté Coelho (cacie1984egmailcom.br) “Todos 05 direitos desta edicao reservados @ Edicoes JusPODIVI. ‘Copyright: EdlcOes use E terminentemente proibida # seproduco total ou parcial desta obra, por qualquer meio 04 processo, sem a exprossa autorlzacio do autor e da Edigbes JusPODIVM. f,viokagSo dos direitos autores caracterza crime deserto na legislacao em vigor, sem prejulzo das sancdes cis cabinets AGRADECIMENTO A Deus, para Quem nada é impossivel. A minha exposa ¢ a meus filbos. A meus pais, para quem a educagio sempre foi o maior presente. Agradeco a todos agueles que contribuetnam, com elogios ¢ critieas, para que esta obra JHOMENAGEM Em homenagem do Professor Celso de Albuquerque Mello (in memoriam), cnja obra possa existire ser aprimorada. oferece mminhas primeivas ligbes de Direito Internacional. And chen I gor to Memphis. And some began to say the rhreats, or talk about the shreats that were ous. What would happen to me from some of our sick white brothers? Well, T don't know what will happen now. Weve got some difficult days ahead, But it doesn't matter with me now. Because [ve been to the mountaintop. And I don't mind. Like anybody, T would like to live a long life. Longewity has its place. But Tin not concerned about that now. [just want to do Gods will, And Hes allowed me to go up to the mountain. And Toe looked over. And I've seen the promised land. I may not get there with you. But T want you to know tonight, that we, asa people, will get to the promised land. And Iin happy, sonight. Ls not worried about anything. I'm not fearing any ‘man, Mine eyes have seen the glory of che coming of the Lord. (Martin Luther King Jr.) “Que importa que tenhas contra ti 0 mundo inteiro com todos os teus poderes? Tina. para a frentel Repete as palavras do Salmo: “O Senbor & a minha luz ¢ a minha salvagdo, a quem temere??..Si consistant adversum me castra, non timebie cor meum — Ainda que me veja cercado de inimigos, nao fraquejard men coragio” (Sao Josemaria Escrind) ABREVIATURAS. PREFACIO A SETIMA EDICAO. PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO CAPITULO T TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO. i {As relaces internacionais observadas sob o prisma juridico..., 11, Asociedade internacional... 1.2, Caracteristicas da sociedade internacional 1.3. Aglobalizagao e o sistema normativo internacional... Concelto de Direito Internacional Publico. Terminologia Objeto. Fundamento do Dielt Internacional Pablco.. © ordenamento juridico internacional 6:1. _Caractersticas do Direito Internacional Pablic. 6.2, A.cooperacdo internacional entre os Estados, 6.3, A jurisdigio internacional. 6.4. _Asangio no Direito Internacional Publico.....~ Diteto internacional Pblio eDielto Internacional Privado Direito Internacional Publica e Diretto interM0...n 8.1. Dualismo.. 8.2. Monismo 8.3, Outs possbidodes: a pimadia da norma mais favorvel Questies, CAPITULO It FONTES DO DIREITO INTE! L NACIONAL PUBLICO: INTRODUCAO. Conceito... it 1. Fontes materials e fontes formals Fontes formais do Direito Internacional 2.1. Fontes estatutérias do Direito Internacional: o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justica. 2:11. _ 0 problema da hiererquia das fontes do Direto Internacional. 2.2. Fontes extraestatutdrias: as outras fontes do Direito Intemacional 2.3. Classificacdo .. Tratado.. Costume internacional... Decisdes judicidrias: ajurisprudéncia internacional... Doutrina. Principios gerais do Direito.. 29 31 59 59 59 60 61 62 63 63 65 65 67 68 68 PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA 8 Princlpios gerais do Direito Internacional Publico 69 9. Analogia 69 10. Equidade 69 11, Atos unilaterais dos Estados... 70 12, DecisBes de organizagdes internacionais.. nm 13, Normas imperativas: 0 jus cogens. n V4, SOft OW rs 5 15. Quadro sindtico adicional. 7 16. Questées. 79 CAPITULO Hil FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLIC: OS TRATADOS 85 1. Conceito e natureza juridica 85 2. Terminologia: espécies de tratados 87 3. Classificagao.... st 90 3.1. Numero de partes... 90 3.2. Procedimento de conclusio. 90 3.3, Execusio.. 1 1 3.4, Natureza das normas/ponto de vista material aon 92 3.5. Ffeitos ‘ 92 3.6. Possibilidade de adesao .. 92 4, Evolugdo histérica... 93 5, Condig6es de validade 5 94 5.1, Capacidade des partes: entes com capacidade para celebrartratados 94 SAL. EstadO$ nnronn 94 5.1.2. Organizasbesimemacionas, 95 5.13, Santa Sé, beligerantes,insurgentes, blocos regionals e Comité Internacional da Cruz Vermelha sen 96 5.1.4, _ Acordos externos de interesse dos Estados-Membros, do Dist Federal e dos Municipio: 96 5.2. Habilitagdo dos agentes. z 7 5.3. Objeto licito e possivel 99 5.4, Consentimento regular. sos 89 SAL, O problemas raicactestmpar woe 200 Processo de elaborac3o dos tratados ss 101 6.1. Negociacéo. . 102 6.2. Assinatura see 103 6.3. Ratificacao 6.4. Entrada em vigor no &mbito internacional... 106 6.5. Registro e publicidade 108 7. Efeitos dos tratados sobre as partes e sobre terceiros. i : - 108 7.1. Entrada em vigor dos tratados: vigéncia contempordnea ediferda. DuracSo........... 108 7.2. Aregra fundamental pacta sunt servanda e o principio da boa-fé no Direito dos TratadOS oon - 110 7.3. Aplicagio dos tratados no tempo: o principio da irretroatividade. 110 7 Aim. Molincdioutnads HatRGUS ne epace. AS teortas darepercusstio dos tratados sobre Estados ndo-contratantes (reflexos dos tratados sobre terceiros) 110 10 SUIMARIO capituto vit SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: AS ORGANIZAGOES INTERNACIONAIS. A ORGANIZACAQ DAS NAGGES UNIDAS (ONU). OUTRAS ORGANIZACOES (NTERNACIONAIS 251 1. Teoria geral.. 251 1.1. Conceito e natureze juridica.... 252 1.2. Personalidade juridica : 254 1.3, _Eleentos essenciais e caracteristicas.. a 255 14, Espécies, ss 7 257 1.5. _ Informagées adicionais: edmissao e safda de Estados-membros; sede; representagdo internacional; financiamento; recursos humanos 258 2. Organizagao das NacSes Unidas (ONU) 260 2A. Histérico.. 260 2.2. Objetivos e principios. 262 23. Orgdos ve 264 Assembleia Geral... 264 Conselho de Seguranca ... 265 Secretaria-Geral.. 267 Outros, “ 268 2.4. Organismos especializados do Sistema das Nagées Unidas 269 2.5. Funcionamento do mecanismo de seguranga coletiva das Nagdes Unidas... a4 25.1. Alniciativa R2P (Responsibility to Protect — Responsabilidade de Protege)... 273 3. As onganizacdes regionals. a 274 3.1. Organizagao dos Estados Americanos ~ OEA. sos 274 3.14, Carta Democratica Interamericana 276 4. Outras organizagées internacionais.. 278 5. Questde a 278 CAPITULO VIL NACIONALIDAI 1, Nacionalidade. 1A. Conceito. 13, Confitos de naconalidade: polipatida e apatrica. 1.4. Naclonalidade: tipos e critérios de aquisicao . 1.4.1. Nacionalidade priméria ou originéria: jus solis e jus sanguinis 292 1.4.2, Nacionalidade secundaria ou adquirida. Naturalizacdo. Outros critétios ... 292 2. Nacionalidade brasileira originara... 294 2.1. Aquisigso a 294 2.2. Alustiga Federal nas causas referencor’ naciona ad brasil. 295 3. 296 3.1, Aquisigo da racionalidade secundéria brasileira: condiges 296 3.2, AJustiga Federal e o processo de naturalizaclo, 299 3.3. Acondi¢o juridica do naturalizado 300 4. Mudanga, perda e reaquisicdo.. woe 301 5, Nacionalidade de pessoas juridicas 303 6. Questdes.. 304 13 CAPITULO IX CONDICAO JURIDICA DO ESTRANGEIRO 1. Introdugae . tin 2. Entrada permantneia em Estado estrangelro.. 5 2.1, Discricionariedade na admissdo do estrangeir 2.2, Titulos de ingress0..unnsnon 2.2.1. Documentos de viagem 22.2. Vistos.. - mosses 2.2.3. Daentrada e do impedimento 2.2.4. DOPEBIStO nnn 2 23. Gs diflts humaios 8 Gontrole ds trgpacdo. 3. Deportasio... 4. Expulsdo.... : 4.1. Aexpulsio € 0 artigo 75 do Estatuto do Estrangeiro. 5. Extradigao 5.1. Nocées gerais 5.2. Fundamento da extradicao. ses e 5.3. Do exame do pedido de extradicao: principios pertinentes. 5.3.1. Principio da identidad. 5.3.2. Principio da especialidade. 5.4, Extradicao ¢ crimes politicos. Extradicao de nacionais tie cailighas panes defen dt vada no Beal east Da competéncia para a concesstio da extradicSo no Brasil e do proceso pertinente. Da entrega do extraditado... ‘ 6. Entrega (surrender) ao Tribunal Penal Intemacional (TP) 7. Asilo e refigio. 741. Oasilo, TQ, Of O BO aicnnscaissaisnse 8, Direitos e deveres do estrangeiro. 8:1. Condleojuridica do estrangeiro na Consttugdo Federal. 8.2. Direitos e deveres do estrangeiro na Lei 6.815/80. 8.3. Crimes previstos no Estatuto do Estrangeiro 9. O Estatuto da Igualdade Brasil-Portugal. 10. Quadros sinéticos adicionais, 11. Questes. CAPITULO xX RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL... 1 Zi, 3. 14 PAULO HENRIQUE GONGALVES PORTELA Conceito e fundamento..... Caracteristicas # classificagao. Elementos essenciai 3.4. Atoilicito.. 3.2. Imputabilidade... _— 3.3. Dano... Responsabilidade por atos licitos 313 313 313 314 314 315 316 319 320 322 323 325 329 332 332 335 336 337 339 340 3a 342 346 352 353 355 355 357 359 359 362 363 364 366 367 379 379 382 383 383 383 384 SUMARIO 8, Interpretacdo dos tratados.. 9, Adesao : 1 Alea dow rata: ab eiendsk @ TN. 11, Reservas: forma, validade © efeitos JUPIdICOS..nnmnnnnn 12. Extingo e suspensao dos tratados. 2 : 12.1, Extingdo. 12.1.1, Dentincla .. . 124.2 tetas do estado-de gions a daeherapso fundamental das circunstancias sobre a vigéncia dos tratados (teoria da cléusula rebus sic stontibus)... ageates 12.2, Suspensio 12.3 Consequénclas da extingdo e da suspensdo dos tratados.. 13. Incorporagéo ao Direito interno... 13.1. Modelos de internalizacio dos tratados .. 13.2. 0 Poder Executivo eo Poder Legsiatvo na elaboracdo do tratado.. 13.3. Tramitagdo do tratado no Brasil 13.4. A obrigatoriedade dos tratados na ordem Juridica nacional. 14, Conflito entre o Direito Internacional Publico e © Direito interno: a autoridade do tratado em face da lel Interna e a realidade das antinomias... 14.1. Hierarquia dos tratados incorporados ao ordenamento juridico brasileiro . 14.2. Hierarquia dos tratados de direitos humanos no Direito interno brasileiro. 14.3. Hierarquia dos tratados de Direito Tributério ... 15, Quadros sindticos adicionais ..... 16. Questdes.. CAPITULO IV SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLIC 1, Personalidade internacional 2. OEstad 3. Organizagdes internacionais.. 4, Santa Sé e Estado da Cidade do Vaticano. 5. 0 6 7 8 3, iduo ‘As organizagbes ndo governamentais (ONGs) ‘As empresa Beligerantes, Inurgentes e nagBes em luta pela soberania 1. Os blocos regionai 10. Quadros sindticos... 11. Questées.. CAPITULO V SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: O ESTADO. IMUNIDADE DE JURISDICAO. 1. Conceito...... i 2. _Elementos constitutivos: territorio, povo e govern soberaNO 2.1. Breve nota acerca da representacao do Estado brasileiro nas relagdes internacionais 3, Os microestados 4, Surgimento dos Estados .. aa 112 113 114 116 116 118 120 121 122 123 123 124 125 127 128 130 132 135 136 139 155 155 187 157 158 160 160 161 161 162 163 164 167 167 168 170 171 a7 uw PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA Reconhecimento de Estado e de governo .... 173 6. _Direitos.e deveres fundamentais das Estados 176 6.1. Doutrina Drago 179 Extingdo e sucessdo de Estados.. 180 Oterritério. . 182 8.1. Conceito.... 183 8.2. Aquisigio e perda 184, 8.3, Fronteira nnn 185 8.4, Jurisdicdo territorial: direitos territoriais de jurisdigSo. Imperium e dominium . 185 9. Imunidade de jurisdigao. ee 186 9.1. Imunidade do Estado estrangeiro no processo de conhecimento (imunidade jurisdigg0 cognitiva), 187 9.1.1. Viso antiga: par in parem non habet judicium/imperium 188 9.1.2. Visio atual: atos de império e atos de gestao. Teoria da imunidade relativa, limitada ou restrita 189 9.2, |munidade do Estado estrangeiro no processo de execuco {imunidade de execugo}... 193, 9.3. Imunidade das organizagées internacionais.... : 195 9.3.1. Ajurisprudéncia brasileira e 0 tema da imunidade das organizacdes internacionais.. 196 9.4, Estados estrangeiros e organiza¢Ses internacionais como autores no Judici de outro Estado 199 9.5. Competéncia para o exame de litigio envolvendo pessoas juridicas de Direito Puiblico externo no Brasil. 200 10. Questées... 202 capiTULO VI ORGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACION, seit 1. Oreos do Estado nas relagBes intemmacionais.... 213 LA. Noses gerais.. 23 1.2. Os érgéios do Estado nas relacéies internacionals. 2a 1.2.1. Chefe de Estado.. 24 Chefe de Governo. 217 Ministro das Relagdes Exteriores.. 218 12.4. Agentes diplomaticos : 219 1.2.5. Agentes consulates. . — 223 12.6. _Asmisses especiais... 227 2, Privilégios e imunidades.. 228 2.1. Noses gerais.. 228 2.2, Privildgios imunidades diplomaticas 231 2.3, Privilégios e imunidades consulares... 234 3. Prine(pios relativos as relagdes internacionais do Brasil... wae PBI Quadros sindticos adicionais c 237 5. Questdes... 240 12 SUMARIO 5. ADUSO de diPeltO ..nssnennme 6. Responsetiided por tos do Estado, de funciondrios e de revolucionétios.. 7. Atos que excluem ou atenuam a responsabilidade internacional. 7 8 Protecdo diplomdtica.. 9. Dano e sua reparagio. si i‘ 10. Esbogo de Artigos sobre a Responsabilidade de Estados por Atos ilicitos Internacionals 11. Questées... CAPITULO XI DIREITO INTERNACIONAL ECONOMICO 1. Conceito.. 2. Ordem econémica internacional: conceito e caracteristicas.. 3, Aspectos getais do Direito Internacional Econdmico 4. Princlpals organizagBes internacionas de Direlto Internacional Econdmico... - 4.1. Organizac&o para a Cooperaco e Desenvolvimento Econémico (OCDE), 4.2. Fundo Monetério Internacional (FMI)... 4.3. Banco Mundial (BIRD)... 4.4, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 45. ONUe UNCTAD, i . 5. Quadros sinoticos adiionals... 6. Questées, CAPITULO XI DIREITO DO COMERCIO INTERNACIONAL... a. Nogdes gerai O sistema multilateral e comércio: a Organizagdo Mundial do Comércio(OMCI. LL. Histbrico: 0 GATT. 1.2. Fungées 3. Princfpio: 114. _Estrutura institucional e funcionamento 15. Solugio de controvérsias.... Principais acordos comerciais.. 1.1. Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT1998)... 1.2. Acordo Geral sobre 0 Comércio de Servigos (GATS)... 3.3. _Acordo sobre Direitos de Propriedade intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS). 3.4. _Acorde sobre Medidas de Investimento Relacionadas a0 Comércio (TRIMS) 3.5. Acordo sobre Medidas Sanitérias e Fitossanitarias (SPS)... 3.6. _Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TB1) .. 4, Quadros sindticos adicionais 5. Questées, CAPITULO XIII DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE. 1. Noses gerais. se 1.1. Princfpios do Direito Internacional Ambiental 2. Histérico, 385 386 387 389 301 301 395 399 399 400 402 404 405 406 407 408 409 410 aun as as 4s 416 47 418 42. 42a 423 424 425 426 428 430 431 433 437 437 438 439 15 PAULO HENRIQUE GON(ALVES PORTELA 3. Normas gerais do Direito Internacional do Meio Ambiente... 440 3.1. Declaragdo de Estocolmo de 1972 enn nmnnmn a0 3.2, Declaragio do Rio de 1992....s.s sc 441 3.3, Agende 21.. ae . 403 4, Regulaciio de temas especificos no Direito Internacional do Meio Ambiente. aaa 4.1. Protegdo da fauna, da flora e das florestas, aaa 4.2. Protecio do solo e desertificacso. 446 4.3. Antartida.... . 447 4.4. Alimentos transgénicos e organismos geneticamente modificados: o Protocolo de Cartagena... 44g 4.5. Combate 20 aquecimento global Polulgo atmostérca o Protocolo de Quioto. Prote¢do da camada de ozénio .. ag 4.6. Poluigo do mar e pesca.... 450 5. Direitos humanos e o meio ambiente... as2 6. _ Comércio internacional e meio ambiente... 454 7. Aresponsabilidade internacional por danos ao meio ambiente e a reparagéo do dano ecoldgico.. 455 8 Quadros sinéticos adicionais.. 456 9. Questées. 458 CAPITULO XIV DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO 461 1. Nogbes gerais.. 461 ec 462 3. OrganizagdoIntemacional do Trabalho (OM). ve M63 2. Histérico 463 3.2. NogSes gerais wissen sons 464 3.3. Estrutura e camposic¢ao dos drgaos da OIT . 467 3.3.1. _ Conferéncia Internacional do Trabalho e conferéncias regionais 468 3.3.2, Conselho de Administracao.... fi 469 3.3.3, Reparticdo Internacional do Trabalho .. 469 4, AplicagSo das normas de Direlto Internacional do Trabalho ..... 470 4.1. Procedimentos contenciosos: reclamagao e quelxa.. 470 4.2. Comissdo de Peritos am. 43, Comité de Liberdade Sindical. 473 5. Convengdes e recomendagées da OIT e sua aplicaczo no Brasil ama 6. Convengdes internacionais sobre temas de interesse prioritério da OI... an 6.1, Liberdade sindical e negociagdo coletiva, amy 6.2, Trabalhos forcados a 480 6.3. Discriminagio. oo 432 7 Normastntemaciondis de protegto da crieneae do adclescentena trabalho 484 7.1. Aprotegio da crianga e do adalescente no trabalho nos tratados de direitos humanos 484 7.2, Convengo 138 e Recomendac3o 146 sobre a Idade Minima para Admissao no Emprego.. oe 485 7.3. Convengio 182 € Recomendagdo 190 sobre as Piores Formas de Trabalho Infants 488 16 SUMARIO 8. Aplicago da lei trabalhista estrangeira: os principios da lex foci executionis e do locus regit acturm. A Lei 7.064/82. A extingo da Sumula 207.. © principio da norma mais favordvel 20 trabalhador..... ss nn 489 8.1. Regime de trabalho dos brasileiros contratados ou transferidos para prestar servigos no exterior (Lei 7.064/82) iit ssc 491 8.2. Regime de trabalho de estrangeiros contratados no exterior pars prestar servigos no Brasil... esi 493, 9. Competncia da Justiga do Trabalho na drea Internacional 494 10. Organizac3o Mundial do Comércio (OMC) e trabalho... 495 10.1. Padres trabalhistas minimos ... 496 10.2. Dumping social... . 496 10.3, Clausula social 497 10.4. Selo social... at 497 11. Uwe circulago de trabalhadores: Unido Europea, Nafta e MERCOSUL 498 11.1. Unigo Europeia... = sanaee ASB 11.2, NAFTA 499 11.3, MERCOSUL 500 12, Quadros sinéticos adicionais 502 13. Questes. 503 CAPITULO XV DIREITO INTERNACIONAL PENAL E DIREITO PENAL INTERNACIONAL... 525 4. Direito Internacional Penal e Direito Penal Internacional 525 L.A. _Direito Internacional Penal 525 1.1.1. Conceito de crimes internacionais e sua evolucio histérica 525 1.2. Direito Penal Internacional: a cooperacao penal internacional. 526 2. © Tribunal Penal internacional (TP!) . 526 2.1. Nogbes gerais 527 2.2. Estrutura.. 529 2.3. Estatuto de Roma: princpios. 531 28. Competénea rationae materia do iibunal Penal Internacional: crimes da competéncia do TP... so 534 24.1. Crimes de guerra a 584 2.4.2. Crimes contra a humanidade .. 535 24.3, Agresséo. 535 2.4.4. Genocidio .. . 536 2.5. Competéncia rationae loci, rationae personae e rationae temporis do Tribunal Penal Internacional wm i si 536 2.6, Persecucdo dos crimes de guerra: normas processuals, 538 2.7. Decisbes e sua natureza... 28. Penas... 2.9. 0 Tribunal Penal Internacional eo Brasil. 3, _Direito Penal Internacional: a cooperacao internacional em matéria penal... 3.1... Tatados mulilaterais em matéia de cooperaclo penal eprocessual penal 3.1.1. Convengo das Nag®es Unidas contra a Corrupsao (Convencdo de Mérida)... 545 3.1.2, Convengao das Nagdes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convencéo de Palermo)... 17 PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA 3.1.3. _ Convengdo contra 0 Trifico Hlcito de Entorpecentes e Substancias, Psicotrépicas.. os 548 3.1.4. Protocolo contra a Fabricacao e o Trafico llicito de Armas de Fogo, suas Pecas, Componentes e Municées.... 549 3.1.5. Convengao sobre o Combate da Corrupsao de Funcionérios Puiblicos Estrangeiros em TransagBes Comerciais Internacionais. 548 3.1.6. Convengdes e tratados relativos ao processo penal. 550 3.2. Tratados bilaterais em matéria de cooperaco penal e processual penal... ssa 3.3. Lei 12.846/2013. 551 4. Transferéncia de presos . . . 553 5. Cooperacdo internacional no campo penal e arcabougo institucional: autoridades centtais e redes de cooperacdo entre éreos dos Poderes Executivo e Judictério e do Ministério Puiblico. 0 auxilio direto. 3 556 5.1, Autoridades centrais sa 556 5.2. Redes de cooperacdo entre 6raios dos Poderes Executivoe Judiclério edo Ministério Publico. 559 tberRED, 559 Rede de Cooperacdo Juridica ¢JudilriaIntemmacional dos Palses de Lingua Portuguesa (Rede Judicidria da CPLP) : 561 52:3, _ Rede Homlstérea de incercirab de informagBes pare o Aull Juridico Matuo em Matéria Penal e de Extradicao. 561 53. Auxilio direto... 562 6 0 Pacto de 80 José ¢ 0 seu impacto no processo penal brasileiro, 563 7 Quadros adicionais.. : . 565 8. Questées.. 569 CAPITULO XVI DOMINIO PUBLICO INTERNACIONAL E PATRIMONIO COMUM DA HUMANIDADE 579 1. Adisciplina dos espacos internacionai 579 2. Direito do mar, dos rios e das aguas interiores. A navegacao maritima. 580 2.4. Mar territorial... 581 22. Zona contigua.... a 583 2.3, Plataforma continental e fundos marinhos.. 583 24, Zona econémica exclusiva . 58a 25. Alto MAP nnn 585 2.6. Direito Internacional da Navegago Marita, 585 2.7. Rios internacionais mn i 2 . 586 2.8, Aguas interiores... ame 3587 3. Zonas polares : 587 4. Oespaco aéreo: 0 Direito Internacional da Navegacao Aérea 588 4.1. O espago aéreo: principios elementare: 4.2, _Normas convencionais 4.2.1, — Nacionalidade das aeronaves 591 42.2, Trafegoaéreo... 591, 5. 0 espace extra-atmosférico, 8 592 6. ‘Nota soli a csinpetdiicta tas actorldadesjudlcdes brasaias ho todante an dominio publico internacional so 594 18 SUMARIO Patrimonio comum da humanidade. Quadros sindticos SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS 1 Controvérsias internacionais - 1.1, Mecanismos de solucao de controvérsias internacional: caracteristicas. Melos de solucao de controvérsias: 0 artigo 33 da Carta da ONU Meios diplométicos e politicos... 3.1, NegociacSo. 3.2, Inquérito.. 3.3, Consultas PAULO HENRIQUE GONGALVES PORTELA 4.2. Tratados 4.3. _ Notas acerca da Conferéncia da Haia de Direito Internacional Privado 5. _ Diferengas com o Direita Internacional Pablico.. 6 QUestB ES. CAPITULO II APLICACAO DA LEI NO ESPAG! ‘ONFLITOS DE LEIS NO ESPACO E A NORMA DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO = 1. Introdugo: @ problematica dos conflitos de leis no espag 2, Historico. os . 3. Anorma de Direito internacional Privado e sua estrutura.. 4, Objetos de conexao e elementos de conexdo i 4.1, Elementos de conexdo: tipos. 4.1.1. Estatuto pessoal: 0 domicilio (lex domicii.. 4.1.2. Estatuto pessoal: a nacionalidade.. 413. Lex fori 414, Lexreisitoe. 4.1.5. Lex loc? delictt comissi. 4.1.6. Lex loci executionis/tex loci solutionis. 4.41.7, Locus regit actum/lex loci contractus/lugar de constituiggo da obrigacd 4.1.8, Autonomia da vontade.... 41.9, Outros elementOs..nnsr . 4.1.10. Breve nota sabre a constituicko de pessoas juridicas 5. _ Institutos basicos do Direito Internacional Privado 5.1. Qualificagio.. 5.2. Ordem publica 53. Reenvio. 5.4, Direito adquirido .... 6. Quadros sinéticos adicionais 7. Questées... CAPITULO HII APLICAGAO DO DIREITO ESTRANGEIRO E DIREITO PROCESSUAL CIVIL INTERNACIONAL... 1, Nogbes gerais... : 2, AplicagSio do Direito estrangeito vamn. cs 2. Velleato 6 peieide eoitetida da Dtieko extafgato 2.2. _Interpretagéo do Direito estrangeiro e sua incidéncia no caso concreto 2.3, Excegdes a aplicacdo do Direito estrangeiro 3. Competéncia internacional, 3.1, Nogées gerais e principios b451C05 «nn 3.2. Competéncia da autoridade judiciria brasileira no plano internacional. 3.2.1. Competéncia concorrente..... 3.2.2. Competéncia exclusiva 3.2.3. A.competéncia intemacional nos tratados 3.2.4. Acompeténcia internacional no novo CPC. 4, Litispendéncia internacional... 20 646 646 Gar 649 651 ost 652 653 654 655 656 657 657 657 658 658 658 659 660 660 661 661 662 662 663 663 665 673 673 673 674 676 677 678 679 at 682 683 684 685 686 SUMARIO 4.1, Alitispendéncia internacional no novo CPC: 7 oe 687 5. Acldusula de eleicio de foro estrangeiro. 688 6. Aprova de fatos ocorridos no exterior. 689 7. Quadiro sinético adiclonal..n. 680 8. Questdes. 691 capfruto iv COOPERACAO JURIDICA INTERNACIONAL. 695 1. Noodes gerais.... cca 695, 1.1. Acooperagio juridica internacional e o Brasil .. 696 2. Cartas rogatérias.. . en 698 2.4. Cartas rogatérias no Brasil 699 2.1.1. Rogatérias enviadas pelo Brasil ~ rogatértas atlas, 699 2.1.2. Rogatdrias recebidas pelo Brasil - rogatorias passivas.. 701 2.1.3, _ Normas relativas &s rogatdrias nos tratados 708 2.1.4. As rogatérias no novo Cédigo de Processo Civil 709 3. Regime das provas. pi no 4. Cooperago internacional no campo civel e arcabouco institucional atual: autoridades centrais ¢ redes de cooperacdo entre drgfios dos Poderes Executivo e Judiciério edo Ministério Piiblico. 0 auxilio direto. 710 4.1, Autoridades centrais.. . Fz 71 4.2, Redes de cooperagao entre érados dos Poderes Executive e udieiricse de Ministério Publico.. m2 4421, _ IberRED Rede lberoamericana de Coopererlo 1udleria senna TAB 4.2.2, Rede de Cooperagio Juridica e Judiciéria Internacianal dos Paises de Lingua Portuguesa (Rede Judicidria da CPLP) one 71d 5. Auxilio direto .. rte 75 & A@aoperagio Jurdle internacional notwova CPC. 716 6.1. Aunilio direto wun -_ a7 7. Quadro sinético adicional.... 718 8 Questées. ng HOMOLOGACAO DE SENTENGA NGEIR 725 Le Nog6es geraisuonnnnnnne 725 2. Ahomologagio da sentenca estrangeira no Brasil 728 2.1. Competéncia... : " 728 2.2. Condigdes para a homologagio de uma sentenga estrangeira no Brasi 78 2.3. PROCESO sen “ wo TSE 2.4. Ahomologagao de sentencas penals para efeitos civis. 738 2.5. Ahomologac3o nos tratados sn. 2 739 2.6. Ahomologacao no novo Cédigo de Proceso Civil. 740 3, Sentengas proferidas por tribunais internacionais.. 7at 4, Quadros sinéticos adicionais. 743 5. Questée: 745 2 PAULO HENRIQUE GONGALVES PORTELA capiTULO VI A ARBITRAGEM NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO .. 1. Nocdes gerais.. 2. atbitragem ea lei brasileira: a Lei 9 307/96 3. Aarbitragem nos tratados.. oe 3.1. Aarbitragem nos tratados de alcance global 3.1. Protocolo reletivo'a Clausulas de Arltragem (Protacclo de Genebra.. 3.1.2. _ Convencdo sobre o Reconhecimenta e a Execugao de Sentencas Arbitrais Estrangelras (Convengtio de Nova lorque) 3.2. Aarbitragem nas AmérICAS. oun : 3.2.1. _ Convengfo nteramericana sobre Avbitregem Comercial Internacional (Convengao do Panama). 4262. Gonvengio interomer'cana sobre EcdélaExtraterrtorial das Sentengas e Laudos Arbitrais Estrangeiros (Convenco de Montevideu)... 3.3. Aarbitragem no MERCOSUL. 3.3.1, Acordo sobre arbitragem Comercial internacional do MERCOSUL (Acordo de Buenos Aires). - 3.3.2, Protocolo de Cooperacdo e Assisténcia Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa (Protocolo de Las Lefias) 4. Ahomologacao de laudos arbitrais estrangeiros no Direito interno brasil 4.1, Ahomologagio de laudos arbitrais estrangeiros no novo CPC. 5. Quadro sindtico adicional . 6. Questébes.. CAPITULO VII DIREITO DE FAMILIA E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO... 1. Ocasamento no Direito Intemacional Privado.. 1.1. A celebrago do casamento de estrangetros no Brasil e de brasileiros no exterior 1.1.1. Ocasamento consular. O divércio consuler.. 1.1.2. Do registro no Brasil do casamento celebrado no exterior 1.13. — O divércio consular. . 1.2. Aconstancia e 0 fim do casamento no Direito Internacional Privado: normas APHICAVEIS nn - 1.24, Normas apicévels ao dlvérci, A homologacdo de dvérela deeretado no exterior. 4.22. Outros temas rlevantes 2. Aprestacio transnacional de alimentos... — 2.1. Convengdo de Nova lorque sobre Cobranga de Alimentos no Estrangeio 2.2. Convengio nteramericana sobre Obrigagio Alimentar (Convengéo de Montevideu) Adogéo intemacional... : : ‘Sequestro internacional de criangas: a Conveng8o sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Criancas [Convencdo da Hala) 4.1. Nota acerca da competéncia para examinar acto de guarda relativa a crianga levada licitamente para o Brasil por genitor{a) braslleiro(a) usm 5. Quadros sinéticos adicionals.. . 4. Questées. 22 747 747 743 753 753 753 754 755 755 756 756 756 758 758 761 61 762 765 765 765 766 767 769 770 7” 773 774 774 7 778 781 787 738 91 SUMARIO PARTE III - DIREITO HUMANOS. capiTULOT NOGGES GERAIS DE DIREITOS HUMANOS.... 801 1. Conceito e informagées gerai 801 2. Fundamento 801 3. Caracteristicas. 302 3.1. Universalidade... 802 32. Ineréncia. 803 3.3. Transnacionalidade, 903 3A. Historcidade eproibigo do retrocesso 803 25. Indisponiblidade, inslenabilidade a rrenunciaidade siosasiee: (BOB 3.6. Imprescritibilidade _ 803 3.7. _Indivisblldada, inerdependéncla ¢ complementaredade.. 804 3.8, Primazia da norma mais favordvel. s : ee 804 3.9. Cardter ndo-exaustivo das listas de fatores de discriminacéo . 805 4. Fontes... 806 5. Evolucdi histéric 807 6. ClassificagSo dos direitos humanos... . 809 6.1. Classificagao tradicional: as geragdes dos direitos humanos i 809 6.2. _Classificagao conforme o Direito Internacional dos Direitos Humanos: as dimens6es dos direitos humanos. i B12 7. _ Osdireitos humanos como principios gerais de Direito e como norma. Forca 813, & a4 CAPITULO II DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 819 1. Conceitos basicos 819 2, Evolugdo histérica. 7 819 2.1, Antecedentes en 820 2.2. All Guerra Mundial e 0 surgimento da ONU, 21 3. Ainternacionalizaco dos direitos humanos: fundamentos da protecéo Internacional dos direitos humanos 823, 3.1. _Arelatvieagdo do concelto de soberania nacional absoluta 823, 3.2. Mudanga do papel do individuo no cenério internacional. 824 4, Fontes do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Natureza juridica dos tratados de direitos humanos 5. Caracterfsticas do Direto Internacional dos Dirltos Humans. 5.1. Universalidade e transnacionalidade .. 825 5.1.1, _ Breves notas acerca da controvérsia entre o universalismo eo relativismo cultural. 826 5.2. Possibilidade de monitoramento internacional i r ccc HOF 5.3. Possibilidade de responsabilizacao internacional... 827 54. Papel primordil dos Exar ¢ subsiiariedade do sistema de provesdo internacional dos direitos humanos. 0 esgotamento dos recursos internos.... 827 6. Aaplicagio dos tratados de direitos humanos em Estados federais. 829 PAULO HENRIQUE GONGALYES PORTELA 7. As reservas em tratados de direitos humano: me 830 8. _Os.istemas intemacionais de protecdo abs dreltos humans 830 9. Questies. 831 CAPITULO III SISTEMA GLOBAL DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS (ONU).... 835, 1. Sistema global de direitos humanos e seus principais tratado: 835, 1.1. Carta das Nagdes Unidas (Carta da ONL). . 836 1.2. _Declara¢o Universal dos Direitos Humanos. - 836 1.3, _Pacto Internacional sobre Dirzitos Civis e Politicos. Ba 1.2.41, Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Politicos com vista & Abolico da Pena de Morte, 1.4, Pacto Internacional dos Direitos Econdmicos, Sociais e Culturais. 1.5. Convengo para a Prevencao e a Repressio do Crime de Genocidio. 1.6. Convenco Internacional sobre a Eliminacao de todas as formas de Diseriminacdo Racial... ; sin 349 17. Convengéo sobre a Eliminagio de Todas as Formas de Doeteinadta 3 Contra as Mulheres (Convengo CEDAW) 850 1.8, Convenglo conta Tortura e outros Tatamentos ou Penas Cruéts, esumanos ou Degradantes 852 1.9. ConvengSo sobre 0s Direitos da Crianga e Protocolos Facultative: 854 1.9.4. Protocolo Facultative Convengdo sobre os Direitos da Crianga referente 3 Venda de Criangas, & Prostituigao Infantil e @ Pornografia Infantil. 856 1.9.2, Regras Minimas da ONU para Administracdo da Justiga da Infancia e Juventude (Regras de Beijing), Regras Minimas da ONU para a Protec3o dos Jovens Privados de Liberdade (Diretrizes de Riade) © Diretrizes das Nagdes Unidas para a PrevencSo da Delinquéncia Juvenil....... 857 1.10. Declaragdo e Programa de Acdo de Viena (1993)... 358 4.11. Regras Minimas das Nagbes Unidas para 0 Tratamento de Presos .. 860 1.12. Protecalo de Prevencdo, Supresstio e Puni¢do do Tréfico de Pessoas, ‘especialmente Mulheres e Criangas, complementar Convengao das Nacdes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional... ee 862 1:15. Convengié Interndenal sobre 9s Diets dnt Pessoas oom Deficénda eseu Protocolo FacultativO.r.nnn : 863 1.14, Direitos humanos ¢ comunidades tradicionais.. - oe BES 1.14.1. Declaragio das Nacdes Unidas sobre os Direitos das Povos Indigenas.enn 865 1.14.2. Convengdo 169 da Organizagio Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indigenas e Tribais.. . “ 368 1.15. Convengao Internacional para a Protego de Todas as Pessoas contra Desaparecimentos Forcados nee art Mecanismos internacionais de monitoramento e protecSo dos direitos humanos no sistema global: érgios e instruments especificos. 873 21. Alto Comissariado das Nages Unidas para os Direltos Humanos (OCH). 874 2.2. Conselho de Direitos Humanos (UNHRC/CDH). 875 2.3, Orgdos de tratados i 876 2.3.1. Gainité de Direitos Humanes Protocole Facutative'a0 Pacto dos Direitos Civis e Politicos. cme 87 2.3.2. Comité de Direitos Econémicos, Sociais ¢ Culturais 879 24 SUMARID ‘Comité para Eliminago da Discriminagao Racial (CERD/CEDR).. Comité sobre a Eliminacdo da Discriminago contra a Mulher (Comité CEDAW)... 2.3.5. Comité para os Direitos da Crianga (CRC) 2.36, Comité contra a Torture (CAT) e Subcomite de Prevengio da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Crugis, Desumanos ou Degradantes.... 2.3.7. Comité sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia (CRPD) € Protocolo Facultativo a Convencdo Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia... 2.4. Orgdos jurisdicionais ......... 3. Quadros sinéticos 4, Questées... CAPITULO IV SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEGAO DOS DIREITOS HUMANOS .. 1. Os sistemas regionais de protecéo dos direitos humanos. 1.1. Osistema interamericano rn 2. Sistema interamericano de Direitos Humanos e seus principais tratados. 2.1. Carta da OEA e Declaragdo Americana dos Direltos e Deveres do Homem 2.2. Convencdo Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de $30 José)... 2.2.1. Protocolo de So Salvador (Protocolo adicional & Convencdo ‘Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econémicos, Sociais e Culturais). 2.3. Outros tratados do sistema interamericano.. 3. Mecanismos de protec3o do sistema interamericano.. 3.1. Comissao Interamericana de Direitos Humanos 3.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos. ij 3.2. _Principais casos envolvendo o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos.... 4. Quadros sinéticos adicionai 5. Questées. CAPITULO V A PROTEGAO INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA: 1. Direito Internacional Humanitério, fi LL. Historico e principats convengées internacianais na matéria. 1.2. Nogdes gerais.. 1.2.1. _ Principios do Direito Humanitario.. 1.2. Pessoal protegido.. 13, Principais normas...... 7 r 1.4, AaplicagSo do Direito Humanitario. Papel da ONU e da Cruz Vermelha. Outros érgdos. 1.4.1, Movimento da Cruz Vermelha 2. Direito Internacional dos Refugiados. REAS ESPECIFICAS 2.2. Normas internacionais de protecio aos refugiados.O principio do non- refoulement. 2.3. Normas brasileiras de protego aos refugiados: a Lei 9.474/97, 3. Quadros sindticos 4, Questées. 879 381 381 882 883 885 886 390 907 907 907 907 908 908 912 915 917 o18 oat 924 928 930 9a sat gaa 943 943 945 945 947 947 950 950 951 953 956 958 25 PAULO HENRIQUE GONGALVES PORTELA CAPITULO VI (© DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO a 961 1. O princfpio da primazta dos direitos humanos nas relacBes internacionals. 961 2. Incorporacdo dos tratados de direitos humanos ao ordenamento juridico brasileiro: processo legislativo de incorporacéo... 963 3. Aaplicablidade imediata das normas de tratados de direitos humanos. 966 4. Posicao hierérquica dos tratados de direitos humanos ¢ conflito com as normas internas.. 968 4.1. Posigao hierérquica dos tratados de direitos humanos aprovados fora do marco estabelecido pelo pardgrafo 32 do artigo 5® da Constituigao Federal i 969 4.1.1. _Introdugdo: informagées gerais acerca dos tratados internacionais de direitos humanos 10 Brasil wn. 969 4.1.2. Da promulgacdo da Constituicao Federal de 1988 até 2007: ép0ca em que 0s tratados de direitos humanos eram equiparados a lel ordindri gm 4.13. Asupralegalidade: atual entendimento majoritério 972 4.1.4. Outros entencimentos: 0 caréter materiaimente constitucional de todas as normas internacionais de direitos humanos e o principio da primazia da norma mais favorave 974 4.2. Tratados de direitos humanos celebrados nos termos do § 39 do artigo 52 da Constituig&o Federal nnn 3 975 5. Aplicagio do principio da primazia da norma mais favordvel & pessoa humana no Direito brasileiro. a 976 A dentincia detratados de diretos humanos em face do Direito brasil 379 7. Rexecucdo de decisdes de tribunais internacionais de direitos humanos.. 980 8, Asnormas do Estatuto do Tribunal Penal internacional (TP!) em face da Constituicso Federal. O Brasil e a criagdo de um tribunal internacional dos direitos humanes. 982 9. Incidente de Desiocamento de Competéncie (IDC): @intervencdo da Justica Federal nas hipéteses de grave violagio de direitos humans . 984 10. Ill Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3): reflexos no Ambito do Direlto Internacional dos Direitos Humanos son 986 11, O papel da Defensoria Publica em postulacGes de individuos que vivem no Brasil junto aos 6rgtos internacionais de protecéo 20s direltos humanos. - 987 12, Quadros sinéticos adicionais 988 13, Questdes. soe 989 PARTE IV - DIREITO COMUNITARIO capirutot NNOCGES DE DIREITO DA INTEGRAGAO E DE DIREITO COMUNITARIO... 999 1. IMEFOGUCEO ser . - 999 1.1. NogGes geras:integragdo econdmica eformagéo de blocos econémicos 999 1.2. Estagios da integracdo regional... 13. Direito da integragio... 1002 2. Direito Comunitério.. 1002 2.1. Conceito 1003 2.2. Fontes.. 1004 2.3. Principios 1005 233, Principio da intearacao, 1005 26 SUMARIO 23.2. Aplicabilidade direta (imediata) e efeito direto... 2.3.3. Primazia.. 2.34. Aplicagio unforme e harmnonlzaco. : 2.3.5. Subsidiariedade.. “ x 3. Diferencas entre 0 Direito Comunitario eo Direito da IntegracSo 4. Questées.. CAPITULO II PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL. 1. Introducao . 2, MERCOSUL.. se 7 oe 2.1. Histérico: ALALC, ALADI e as negociagées Argentina-Brasil 2.2. Constituicdo e objetivo.. Natureza juridica.... Principios....... 8 : Principais tratados... 2.6. Estrutura e funcionamento, 2.6.1. Conselho do Mercado Comum (CMC) 2.6.2. Grupo Mercado Comum (GMC)... 2.63. Comisso de Comercio do MERCOSUL (CCM)... 2.6.4. Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM) 2.6.5. © Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL) 2.6.6. Foro Consultivo Econémico-Social e outros dreds. 2.7. O.comércio intrabloco: linhas gerais 2.8. As negociagies ¢ os acordos comercialsenvolvendo o MERCOSUL. 2.9. Principais normas em matéria social. A ideia de livre circulago de trabalhadores no MERCOSUL... 2.10. Direitos humanos no MERCOSUL 7 2.11. Solugdo de controvérses. 0 Protocola'de Olivas, O Tribunal Permanente de Revistio do MERCOSUL... 211. Arbitrage no MERCOSUL 3. Unido Europeia.... 3.1, Histérico 3.2. COMPOSIEO..nn 3.3. Estrutura institucional . 3a, Funclonamento: principals poltleas da Uni86 Europe wn 3.5. Principais normas no campo dos direitos humanos e em matéria social 4, Outros mecanismos de integracdo regional 4.1, NAFTA. 4.2. UNASUL ne 4.3. Outros exemplos de mecanismos de integrago regional 5, Quadros sindticos adicionais 6 Questes.. ATUALIZACAO INSTITUCIONAL... 1006 1007 1008 1008 1011 1011 1011 1011 1013 1016 1016 1017 1018 1018 1019 1919 1020 1020 1021 1022 1022 1023 1025 1026 1029 1030 1030 1032 1032 1036 1040 1041 1041 1042 1043 1044 1048 1059 27 ABREVIATURAS A seguir, apresentamos algumas das abre- Viaturas empregadas no livro e outras relevantes no ambito das relagées internacionais © AAA: American Arbitration Association ~ Asso- ciagdo Americana de Arbitragem © ACNUR: Alto Comissariado das Nacdes Unidas para os Refugiados © ADCT: Ato das Disposi¢es Constitucionais Transitorias ¢ AIEA: Agéncia Internacional de Energia Atémi- ca ‘© AELC: Associago Europeia de Livre Comércio © ALADI: Assoclagdo Latino-Americana de Inte- Braco * ALALC: Associacéo Latino-Americana de Livre Comércio © APEC: Foro de Cooperaco Econémica Asia- -Pacifico ‘* BID: Banco interamericano de Desenvolvimen- to * BIRD: Banco Internacional de Reconstruco & Desenvolvimento (Banco Mundial) © CARICOM: Comunidade do Caribe ‘© CAN: Comunidade Andina de Nagdes © CAT: Committee Against Torture ~ Comité con- tra a Tortura © CCM: Comissdo de Comércio do MERCOSUL © CEDH: Corte Europeia de Direitos Humanos © CEPAL: Comisséo Econdmica para a América Latina e 0 Caribe © CF/88 ou CF: Constituicao Federal de 1988 © CIAC: Comissdo Interamericana de Arbitragem Comercial © CICR: Comité International de Ia Croix Rouge ~ Comité internacional da Cruz Vermelha © CDI: Comissdo de Direito Internacional das Na ges Unidas © CEE: Comunidade Econémica Europeia © CEDAW: Committee on the Elimination of Dis- crimination against Women ~ Comité para 2 Eliminagao da Discriminacao contra a Mulher. Empregado também para referir-se a Conven- ‘s80 sobre a Eliminagdo de Todas as Formas de Diseriminagaio Contra as Mulheres CERD/CEDR: Committee on the Elimination of Racial Discrimination ~ Comité para a Elimina- 80 da Discriminagao Racial CIDH: Comissiio Interamericana de Direitos Humanos cu: cm cOsUL COMIIB: Conferéncia de Ministros da Justica dos Paises beroamericanos CN CONARE: Comité Nacional para os Refugiados CPC: Cédigo de Processo Civil PII: Corte Permanente de Justia Internacio- nal corte Internacional de Justiga ‘anselho do Mercado Comum do MER- ‘onselho Nacional de Imigrago PLP: Comunidade dos Pafses de Lingua Portu- guesa CPP: Cédigo de Processo Penal RC: Committee on the Rights of the Child —Co- mité para os Direitos da Crianga EC: Emenda Constitucional ECOSOC: Economic and Social Council~Conse- tho Econémico e Social das NagBes Unidas EUA: Estados Unidos da América FAO: Organizacéo das Nacdes Unidas para a Alimentac3o e a Agricultura FIMI: Fundo Monetario Internacional FOCEM: Fundo para a Convergéncia Estrutur: ¢ Fortalecimento institucional do MERCOSUL GATS: General Agreement on the Trade in Se’ vices — Acordo Geral sobre o Comércio de Ser vigos GATT: General Agreement on Tariffs and Trade = Acordo Geral de Tarifas e Comércio GMC: Grupo Mercado Comum do MERCOSUL ICC: International Chamber of Commerce ~ Ca- mara Internacional de Comércio 29 PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA ICSID: International Centre for Settlement of Investment Disputes ~ Centro Internacional para Solugdo de Controvérsias Relativas a In- vestimentos IDA: International Development Agency ~ Agéncia Internacional de Desenvolvimento do Banco Mundial IFC: International Finance Corporation ~ Cor- porago Financeira internacional LCIA: London Court of international Arbitration ~Corte Internacional Arbitral de Londres LINDB: Lei de Introducdo &s Normas do Direito Brasileiro MERCOSUL: Mercado Comum do Sul MIGA: Multilateral investment Guarantee Agency ~ Agéncia de Garantia do Investimento Multilateral do Banco Mundial Mi: Ministério da Justica MRE: Ministério das Relactes Exteriores da Republica Federativa do Brasil MTE: Ministério do Trabalho e Emprego NAFTA: North American Free Trade Agreement = Acorde de Livre Comércio da América do Norte NOEI: Nova Ordem Econémica Internacional ACI: Organizaggo Internacional da Aviagao civil OCDE: Organizacso para a Cooperacéo e De- senvolvimento Econdmico OEA: Organizagio dos Estados Americanos OMT: Organizacdo Internacional do Trabalho LP: Organiza¢o para a Libertacao da Palesti- na ‘OMC: Organizagdo Mundial do Comércio OMI: Organizac3o Maritima Internacional OMM: Organizacdo Meteorolégica Mun OMPI: Organizago Mundial da Propriedade intelectual OMS: Organizacdo Mundial da Saude: OMT: Organiza¢ao Mundial do Turismo ONU: Organizagao das Nacdes Unidas OPAQ: Organizacao para a Proscricdo das Ar mas Quimicas OPAS: Organizaciio Panamericana de Satide PARLASUL; Parlamento do MERCOSUL PCA: Permanent Court of Arbitration — Corte Permanente de Arbitrage PNUD: Programa das Nagdes Unidas para 0 Desenvolvimento PNUMA: Programa das Nacées Unidas para o Meio Ambiente REMIA; Reunido de Ministros da Justiga das ‘Américas SAM: Secretaria Administrativa do MERCOSUL SEDH/PR: Secretaria de Direitos Hurnanos da Presid@ncia da Republica SEGIB: Secretaria Geral Iberoamericana STF: Supremo Tribunal Federal STJ: Superior Tribunal de Justica TEC: Tarifa Externa Comum ‘PI: Tribunal Penal Internacional ‘TRF: Tribunal Regional Federal TST: Tribunal Superior do Trabalho UE: Unido Europela UNASUL: Unifio das NacSes Sul-Americanas UIT: Unido Internacional de Telecomunicades UNCITRAL: United Nations Commission on In- ternational Trade Law — Comisséo das Nacbes Unidas para o Direito do Comércio Internacio- nal UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development ~ Conferéncia das NacSes Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento UNESCO: United Nations Education, Science and Culture Organization ~ Organizagdo das NagSes Unidas para a Educac3o, Ciéncia e Cul- tura UNHCHR: United Nations High Comission for Human Rights ~ Alto Comissariado das NacBes Unidas para os Direitos Humanos UNHRC/CDH: United Nations Human Rights Council ~ Conselho de Direitos Humanos das Nag6es Unidas UNICEF: United Nations Children’s Fund — Fun- do das Nagées Unidas para a Infancia UNIDO: United Nations industrial Develop- ‘ment Organization — Organizacdo das Naées Unidas para 0 Desenvolvimento Industrial UNIDROIT: Instituto Internacional para a Unifi- cago do Direito Privado LUPU: Unido Postal Universal PREFACIO A SETIMA EDICAO E com renovada alegria que voltamos a apresentar 4 comunidade académica nosso livro “Direito Internacional Piblico e Privado: incluindo nogdes de Direitos Humanos e de Direito Comunitério”, agora em sua sétima edigio. Nosso objetivo com esta obra continua sendo aquele que buscamas aleangar desde o langa- mento de sua primeira edicio, em 2009: contribuir para a difusio do conhecimento em Direito Internacional ¢ para a promogio do debate no tocante a0 Dircito das Gentes, fornecendo algum aporte para a melhor compreensio desse campo de crescente importincia para a vida profissional dos operadores do Direito para o universo jurfdico como um todo. Como em anos anteriores, gostarfamos de agradecer aqueles que confiaram em nosso tra- balho e que contribufram para que a sexta edic&o desta obra também se esgorasse, a exemplo das edicées anteriores. Agradecemos a todos aqueles que entraram em contato para apresentar suas observagées quanto ao livro, as quais foram, na medida do possivel, aproveitadas nesta nova edigio, Agradecemos pela confianca que a Editora Juspodivm vem depositando em nosso trabalho. Agradecemos, em suma, pela boa receptividade que a obra vem tendo, evidenciada tanto pelos elogios ¢ avaliagées positivas que recebemos, que nos estimulam a seguir caminhando, como pelas criticas e observages que muito humildemente ouvimos, as quais contribuem sobremaneira para a melhoria de nosso trabalho. Reitero o que venho afirmando em edig6es anteriores: sinto-me muito honrado pelo interesse que a obra vem despertando, especialmente por ser um autor que teve neste livto sua estreia no universo da literatura juridica, e por ser o Direito Internacional uma matéria cuja relevancia é cada vez mais evidente. A maior importincia do Direito Internacional é refletida pela presenga crescente de questoes na maréria nos concursos piblicos, Entrecanto, essa relevaincia é ainda mais clara quando exami namos 0 rol de assuntos que interessam ao Direito das Gentes, ‘Com efeito, vemos 0 Direito Internacional como referéncia inafastavel em intimeros temas, como, por exemplo: acesso a Justica; adogao internacional; arbitragem; aviacdo ¢ navegacdo aérea; combate aos ilicitos transnacionais; comércio internacional; condicao juridica do estrangeito; conflitos de leis no espaco; cooperagao juridica internacional; crises econdmicas ¢ financeiras internacionais; democracia; desenvolvimento; direitos humanos; entrada e permanéncia do estran- geito em territério de outro pais; exploracao espacial; harmonizacao de ordenamentos internos; integcacdo regional; investimento externo; mecanismos de solug4o de conflitos internacionais; meio ambiente; nacionalidade; navegagao maritima e manejo dos recursos do mar; prestacdo de alimentos no estrangeiro; promogio da paz; propriedade intelectual; proscrigao de armas de destruigdo em massa; trios internacionais; saiide ptiblica; seguridade social; sequescro internacional de criancas; telecomunicag6es; trabalho ¢; turismo internacional. Voltamos a pedir desculpas pelos equivocos cometidos na elaboragao deste livro e continua- mos & disposicéo para receber todo e qualquer comentério relativo ao trabalho que ora novamente submeto 4 apreciacéo da comunidade juridica brasileira 31 PAULO HENRIQUE GONCALVES PORTELA Para a sétima edi¢o, procuramos, inicialmente, revisar texto, com o intuito de eliminar erros ¢ tornar a redacéo mais clara. Tratamos, ainda, de atualizar a obra com novas normas ¢ no- ‘vos entendimentos da jurisprudéncia dos tribunais superiores brasileiros acerca da aplicacao do Diteito das Gentes no Brasil. Trouxemos, por fim, novas questées de concursos piblicos em que € cobrado conhecimento em Direito Internacional. Continuamos a adotar 0 método de incluir questées de concursos recentes, mas sem excluit ‘questées mais antigas, que possam mostrar como determinada matéria é exigida num concurso e que possam, eventualmente, contribuir para que 0 candidato a um concurso piblico revise a materia e responda futuras questées semelhantes. Nao acreditamos, como alguns, que 0 fato de haver questdes de concursos mais antigas desqualifica o livro. Ao contritio, entendemos que a maior variedade de questocs também facilita a melhor fixagao dz matéria estudada. Ainda na parte relativa as quiestées de concursos, preservamos a forma de andlise das assertivas empregada nas edigdes anteriores, procurando mostrar o fundamento da resposta e 0(s) pontols) do livro que se refere(m) 8 questio, apresentando, ademais, informagées adicionais que possam contribuir para o melhor entendimento da matéria examinada ‘Como em anos anteriores mantivemos os quadros sindticos, que trazem pontos relevantes acerca de cada ponto, quadros de “ATENGAO”, que procuram destacar alguns aspectos mais relevantes de cada assunto. Os tratados internacionais vélidos para o Brasil continuam indicados pelos decretos por meio dos quais foram incorporadas ao ordenamento juridico brasileiro. Ao disponibilizar links para acesso a tratados ¢ outros diplomas juridicos, privilegiamos links de Fontes oficiais, como sitios governamentais e de organizag6es intemacionais, pela maior confia~ bilidade das informagées disponibilizadas, Entretanto, como algumas organizagées internacionais no contam com 0 portugués como lingua oficial, nem sempre ¢ possivel oferecer tais documentos em verndculo, embora, sempre que possivel, disponibilizemos documentos em lingua espanhola. Uma observagao necessdria: a materia € muito vasta, ¢ 0 espago com que contamos é na- turalmente reduzido. Nesse sentido, enfatizamos a importaneia de que 0 leitor deste livro leia a obra, mas constantemente procure informagées adicionais ¢ mais detalhadas nos instrumentos juridicos aos quais fazemos referencia, especialmente os tratados ¢ outros documentos relevantes, bem como nas ementas ¢ no inteiro teor dos julgados indicados. Recomendamos, a proposito, a leicura dessas fontes de informagio na integra. Desse modo, o estudo da matéria teré resultados mais satisfatérios, ¢ a formacao do leitor em Direito das Gentes seré mais sélida. Pretendemos atingit, com nossa obra, os alunos de graduagéo e de pas-graduacio lato sensu, profissionais do Direiro aruantes dentro ¢ fora do mundo académico e bacharéis que se preparam. para concursos piiblicos, procurando trazer 0 conteiido mais profundo possivel no menor espago disponivel. Encertamos reafirmando que o desafio de elaborar uma obra de Direito Internacional é muito grande, visto que a matéria € complexa ¢ muito vasta, pelo que dificilmente pode ser analisada com todo o detalhamento necessério no escopo restrito de apenas uma publicagao. Entretanto, a tinica maneira de vencer esse desafio é seguir em frente. Isso 0 que faremos. Continuamos contando com a colaboragao dos leitores, para que possamos aprimorar este trabalho c efetivamente contribuir para o estudo do Dircito Internacional no Brasil. OAUTOR 32 PARTE I - DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO CAPITULO T TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 1. AS RELACOES INTERNACIONAIS OBSERVADAS SOB O PRISMA JURIDICO As relagées internacionais, entendidas como a teia de lagos entre pessoas naturais ¢ juridicas ‘que perpassam as fronteiras nacionais, caracterizam-se pela complexidade. Com efeito, 0 universo do relacionamento internacional, que, na percepgio tradicional da douttina, envolvia apenas os Estados, abrange na atualidade um rol variado de atores, que inclui também as organizacdcs internacionais, as organizacdes néo-governamentais (ONGs), as empre- sas ¢ 05 individuos, dentre outros. ‘Tais atores, ¢ os vinculos que os unem, formam a sociedade internacional, cuja dinamica ¢ pautada por diversos farores, associados, por exemplo, & politica, & economia, & geopolitica, a0 poder militar, & cultura ¢, por fim, aos interesses, necessidades ideais humanos, Um dos elementos que contribui para determinar a evolugdo da vida internacional é 0 Di- reito, especialmente o Direito Internacional Piblico, ramo da Ciencia Juridica que visa a regular as relagées internacionais com vistas a permitir a convivéncia entre os membros da sociedade internacional ¢ a realizar certos interesses ¢ valores aos quais se confere importincia em determi- nado momento histérico. De antemao, cabe afastar percepgies sobre uma suposta capacidade do Direito Internacional Piiblico de resolver todos os problemas encontrados nas relagdes internacionais. E também neces sério refutar conclusées referentes a uma aparente inutilidade do Direito Internacional frente aos problemas mundiais, pelo fato de que algumas das questées que desafiam a humanidade ainda so tratadas de mancira alheia ou contraria aos preceitos juridicos, A complexidade das relagées internacionais indica que o tratamento dos problemas que transcendem as fronteiras de um Estado pode exigir a compreensio de fatores vinculados a outras Areas, como a politica e a economia. Além disso, lembramos que 0 Dircito, enquanto dever-ser, nao deixa de existir em vista do eventual descumprimento de suas normas, fendmeno que ocorre, aliés, em qualquer ramo do universo juridico. Ademais, nenhuma forma de associagto humana, ainda que rudimentar, pode prescindir de um minimo de regras que permitam a coexisténcia centre seus membros. Por fim, ressaltamos que o Direito Internacional Piblico ¢ também influenciado, em sua formacéo e aplicacao, pelos fatores que dao forma & sociedade internacional. Portanto, seu estudo requer um breve exame das caracteristicas da sociedade internacional, para que possa- mos formar um entendimento mais preciso acerca da origem ¢ do funcionamento da ordem juridica internacional. 35 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 1.1 A sociedade internacional FE. comum o emprego indiscriminado dos termos “comunidade internacional” e “socicdade ferengas entre as duas nogbes, as quais exami naremos em cardter meramente preliminar, nao sem antes destacar 0 reduzido impacto pritico do problema na vida internacional. internacional”. Entretanto, a doutrina identifica di ‘A comunidade fundamenta-se em vinculos espontineos ¢ de carter subjetive, envolvendo identidade ¢ lagos culturais, emocionais, histéricos, sociais, religiosos e familiares comuns. Carac- teriza-se pela auséncia de dominagao, pela cumplicidade ¢ pela identificagao entre seus membros, cuja convivéncia é naturalmente harm@nica. A sociedade apoia-se na yontade de seus integrantes, que decidiram se associar para atingir certos objetivos que compartilham. & marcada, portanto, pelo papel decisive da vontade, como elemento que promove a aproximagao entre seus membros, e pela existéncia de fins, que 0 grupo pretende aleangar. ‘A maior parte da doutrina entende que ainda nao ha uma comunidade internacional, visto que o que unira os Estados seriam seus interesses, nao lagos espontineos e subjetivos, ¢ pelo fato de ainda haver muitas diferencas entre os povos, dificultando a maior identificagao entre as pessoas no mundo, Entretanto, ja é possivel defender a existéncia de uma comunidade internacional, & luz de problemas globais que se referem a todos os seres humanos, como a seguranga alimentat, a protecio do meio ambiente, os desastres naturais, os direitos humanos € a paz! Com isso, coneeituamos a sociedade internacional como um conjunto de yinculos entre diversas pessoas ¢ entidades interdependentes entre si, que cocxistem por diversos motivos € que estabelecem relagies que reclamam a devida disciplin ‘A existéncia da sociedade internacional confande-se com a histéria da humanidade. Decerto que nem sempre a sociedade internacional se revestiu de suas caracteristicas atuais, 0 que leva parte da doutrina a defender que seu surgimento € fato mais recente. Em todo caso, a histéria demonstra que, desde tempos remotos, 08 povos vém estabelecendo lacos entre si, com 0 objetivo de concretizar projetos comuns. 1.2 Caracteristicas da sociedade internacional icas da sociedade internacional examinadas pela doutrina de Direito Internacional, sem prejuizo de que a convivéncia internacional, em vista de sua complexidade, se revis Juridica. “Apontacemos a seguir algumas das caracteris a de outros tragos peculiares, cujo estudo, porém, nao cabe a Ciéncia A sociedade internacional é universal. Nesse sentido, abrange 0 mundo inteiro, ainda que nivel de integracao de alguns de scus membros &s suas dinamicas nao seja to profundo. Com, efeito, mesmo um Estado que adote uma politica externa isolacionista deve, no minimo, se rela cionar com 0 Estado com o qual vem fronteira. 1. Arespeita: MAZZUOU, Valétio de Oliveira. Direito internacional pilblic: parte gerel, p. 10-11. DEL'OLMO, Florisbal dde Souza. Curso de alreito Internacional piiblico, p. 2-3 2. Nesse sentido: PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional publica, p. 2 36 TEORIA GERAL 00 DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO ‘A sociedade internacional é heterogenea, Integram-na atores que podem apresentat signifi- cativas diferengas entre si, de cunho econémico, cultural etc. A maior ou menor heterogencidade influenciara decisivamente o proceso de negociagao ¢ de aplicag4o das normas internacionais, que poderd ser mais ou menos complexo. Parte da doutrina defende que a sociedade internacional ¢ interestaral, ou seja, que é composta meramente por Estados,’ Nao abragamos esse entendimento, superado desde que as organizagoes invernacionais se firmaram como sujeitos de Direito Internacional e que nao se sustenta diante da crescente participagao direra de entes como empresas, ONGs ¢ individuos nas relagbes intemnacionais. Em todo caso, partindo da premissa de que seus membros seriam apenas Estados, a sociedade internacional seria paritaria, em vista da igualdade juridica entre seus integrantes. Entretanto, a sociedade internacional ¢ também marcada pela desigualdade de fato, corolirio de sua propria heterogeneidade e do grande diferencial de poder entre os Estados, que ainda influencia os rumos das relagdes internacionais. ‘A sociedade internacional é descentralizada. Nesse sentido, néo ha um poder central inter- nacional ou um governo mundial, mas virios centros de poder, como os préprios Estados e as organizacées internacionais, nao subordinados a qualquer autoridade maior. Com isso, Celso de Albuquerque Mello afirma que a sociedade internacional nao possui uma organizagio insticu- ional.‘ Ainda nesse sentido, podemos afirmar que a sociedade internacional ¢ caracterizada no pela subordinagéo, mas sim pela coordenacio de interesses entre seus membros, que vai permicir, como veremos, a definicéo das regras que regulam o convivio entre seus integrantes, 1.3 A globalizagio e o sistema normativo internacional A melhor compreensio do Direito Internacional requer um breve exame do conceito de “globalizagio”, frequentemente usado para definir 0 atual momento da sociedade internacional. De emprego impreciso ¢ indiscriminado, especialmente no fim do século passado, a nogéo de globalizacao é objeto de ampla polémica em varias éreas do conhecimento, pelo que sua andlise detida foge 20 objeto deste livro. Definimos a globalizagéo como um proceso de progressive aprofundamento da integragao entre as varias partes do mundo, especialmente nos campos politico, econdmico, social e cultural, ‘com vistas a formar um espaco internacional comum, dentro do qual bens, servicos e pessoas cireulem da maneira mais desimpedida possivel. A rigor, a globalizasao € fenémeno recorrente na histéria da humanidade, experimentando momentos de maior intensidade, como as Grandes Navegag6es, a Revolugio Industrial ea década de noventa do final do século passado, apés o fim da Guerra Fria. Na acepgio mais comum na contemporaneidade, refere-se ao forte incremento no ritmo da integracto da economia mundial nos tiltimos anos. A globalizagio na acualidade sustenca-se em fendmenos como o vigoroso desenvolvimento ocorrido no campo da Tecnologia da Informago e Comunicagéo (TIC), que inclui« franca difiaséo 3, DELL'OLMO, Florisbal de Souza, Curso de direito internacional pubblico, p.3. 4, MELLO, Celso 0, de Albuquerque: Curso de direito internacioncl publica, v. 1, p. 56-57. 37 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO de suas ferramentas, disponibilizadas para um niimero cada vez maior de pessoas. Fundamenta-se também na ampla propagagio ¢ adocio de valores comuns nos campos politico ¢ econémico em varios Estados, como 0 Estado Democritico de Dircito e a economia de mercado ‘Algumas das caracteristicas da globalizagéo no presente sio: 0 aumento nos fluxos de comér- cio internacional ¢ de investimento estrangeiro direto (IED); 0 acirramento da concorréncia no mercado internacional; a maior interdependéncia entre os paises; a expansao dos blocos regionais; ea redefinicdo do papel do Estado e de nogées como a de soberania estaral. Entretanto, com a maior énfase da politica internacional em questées de seguranca, apds os atentados de 11 de setembro de 2001, ¢ com a crise econdmica vivida no fim da primeira década do século XXI, observa-se relativo arrefecimento nas ages voltadas a promover a formagéo de um grande mercado mundial, afetando iniciativas ligadas ao livre comércio ¢ & integragio regional, por exemplo. Com isso, percebe-se inclusive uma reducéo do emprego da palavra “globalizacao”. Em todo caso, houve mudangas significativas no mundo nos tiltimos anos, com reflexos no Direito Internacional. De fato, as normas internacionais vém tratando de um rol cada vez mais diverso de matérias, que variam de temas tradicionais, como as relagdes comercials, a questoes as quais se atribui maior relevancia na atualidade, como 0 meio ambiente. As necessidades de regulamentago de uma sociedade internacional mais dinamica vém ensejando 0 aparecimento de novas modalidades normativas mais flexiveis, como o soft law. Por fim, entendemos que os Estados limitam cada vea mais sua soberania, ampliando sua submissdo a um nimero crescente de tratados ¢ de drgiios interacionais encarregados de assegurar a aplicacao das normas internacionais. juadro 1. Diferencas entre as nogées de sociedade internacional ¢ de comunidade as 56 internacional SOCIEDADE INTERNACIONAL COMUNIDADE INTERNACIONAL > Aproximacao e vinculos intencionais > Aproximacao e vinculos espont3neos > Aproximacdo por lagos culturais, religiosos, lin- > Aproximagdo pela vontad r ide nial guisticos etc. > Objetivos comuns > Identidade comum > Possibilidade de dominacao > Auséncia de dominagso > Interesses > Cumplicidade entre os membros Quadro 2. Caracteristicas da sociedade internacional > Universalidade > Heterogeneidade > Carater interestatal (contestado por parte da doutrina) > Descentraliza¢ao: nao possui organizaco institucional superior aos Estados > Coordenacao > Cardter paritério: igualdade juridica entre seus membros > Desigualdade de fato ‘TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO A formulacéo do conceito de Direito Internacional Piiblico normalmente parte da concepio que se adove no tocante & composicio da sociedade internacional. Cabe lembrar que, onde houver sociedade, deveré haver normas voltadas a regular a con- vivéncia entre seus membros, dentro da maxima u6i societas, ibi jus. Nesse sentido, o Direito & fendmeno presente também na sociedade internacional, pautando as relag6es entre seus integrantes e visando, findamentalmente, a permitir sua coexisténcia, no marco de determinados valores que 05 pt6prios atores internacionais decidiram resguardar. O entendimento cldssico é o de que a sociedade internacional é formada apenas por Estados soberanos, nocéo vinculada a Paz de Vestfilia, celebrada no século XVII, quando o ente estatal se estabeleceu como detentor do monopélio da administragéo da dindmica das relacdes intemacio- nais da sociedade que governava. A partir do século XX, as organizagoes internacionais também passaram a ser vistas como parte da ordem internacional. Formou-se, assim, uma visio do Direito Internacional Piiblico como voltado apenas 4 regulamentagio do relacionamento entre os Estados € 08 organismos internacionais, out somente dos entes estatais entre si, visto que, na realidade, as proprias organizagées internacionais sio criadas e compostas por Estados. Entretanto, a atual dinamica das relagdes internacionais vem alterando o entendimento tradi- cional acerca da composigao da sociedade internacional. Com efeito, uma das marcas do mundo de hoje é a participacao direta de sujeitos como as empresas ¢ 0s individuos na seara internacional, muitas vezes agindo independentemente de qualquer envolvimento dos Estados. Ao mesmo tempo, 0 actual contexto internacional veio a tornar evidente a necessidade de que fs entes estatais ¢ os organismos internacionais atuem conjuntamente no tocante a temas que tém impacto direto sobre a vida das pessoas e que, por sua complexidade, magnitude e capacidade de gerar efeitos em mais de uma parte do mundo, exigem a cooperagao internacional, como a ‘manutengio da paz, a promogio dos direitos humanos ¢ a protecéo do meio ambiente. Com isso, o Direito Internacional Publico passa a tutelar nao sé os vinculos estabelecidos entre Estados e organizacées internacionais, como também uma ampla gama de questées de interesse direto de outros atores sociais, como os individuos. No entanto, esse fendmeno ainda é relativamente recente. Com isso, no esforgo de conceituar © Direito Internacional Piiblico, a doutrina oscila entre uma visio tradicional e uma perspectiva que considere o novo quadro das relacées internacionaii Um conceito cléssico do Direito Internacional Piblico é 0 de Alberto do Amaral Jiinior, que © define como o ramo do Direito que “tem sido tradicionalmente entendido como 0 conjunto das regras escritas e nao escritas que regula o comportamento dos Estados”, lembrando que essa concepgao remonta & Paz de Vestfilia, que “consolidou o sistema modero dos Estados”.° Na mesma linha, Francisco Rezek alude a um ‘sistema juridico aurdnomo, onde se ordenam as rela- ‘gées entre os Estados soberanos”.* 5. AMARALIUNIOR, Alberto do. Manual do candidato: diefto internacional, p. 75. 6 REZEK, Francisco. Direito internacional publico, p. 3. 39 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Os contornos da sociedade internacional moderna aparecem no conceito de Celso de Albuquerque Mello, que afirma que © Direito Internacional Piiblico é “o conjunto de normas que regula as relagies externas dos atores que compéem a sociedade internacional. Tais pessoas internacionais so as seguintes: Estados, organizagées internacionais, o homem erc.”.’ No mesmo sentido, Valési ¢ a regulamentar as atividades extcriores da sociedade dos Estados (¢ também, modernamente, Marzuoli o conceitua como um “sistema de normas juridicas que visa a disciplinar das organizacoes internacionais e ainda do préprio individuo)”’. ‘Uma nogao que concilia as perspectivas tradicional e contemporanea é apresentada por Geraldo Eulilio do Nascimento ¢ Silva ¢ Hildebrando Accioly, para os quais 0 Direito Interna- cional Pablico ¢ “o conjunto de normas juridicas que regulam as relagdes miituas dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas internacionais, como determinadas organizacées, ¢ dos individuos”,’ Tal definigio traduz. a percepgao de parte da doutrina de que certas pessoas 56 cém direitos e obrigagGes na ordem internacional porque os Estados o permitiram. Ha conceitos de Direito Internacional Publico que ndo se preocupam com a composicio da sociedade internacional, como aquele formulado por Dinh, Dailler e Pellet, que se referer 20 Direito Internacional como “o direito aplicavel & sociedade internacional”. Philippe Manin, citado por Ricardo Seitenfiss," faz alusio ao “conjunto de regras que se aplicam as relagées inter- nacionais ¢ que nao se fundam no direito de um Estado” Guido Femando Silva Soares apresenta uma nogao que sintetiza os conffitos entre concepgées clissicas e conceitos modernos: “O Direito Internacional Piblico, de uma perspectiva tradicional, poderia ser definido como um sistema de normas e principios juridicos que regula as relagoes entre 0s Estados, Na atualidade, contudo, tal definigéo € por demais estreita, uma vex que nao contempla um dos grandes destinatarios de suas normas, @ pessoa humana, nem situagoes particulares de outros sujeitos de Direito Internacional Publico, que nao s4o Estados", De nossa parte, ¢ em vista de todas as concepg6es apresentadas anteriormente, especial- mente as mais atuais, definimos © Direito Internacional Péblico como o ramo do Direito que visa a regular as relagées incernacionais ¢ a tutelar temas de interesse internacional, norteando a convivéncia entre os membros da sociedade internacional, que incluem nao s6 os Estados e as organizagées internacionais, mas também outras pessoas ¢ entes como os individuos, as empresas © as organizagées nao governamentais (ONG), dentre outros, Quadro 3. Elementos do conccito de Direito Internacional Piiblico MELLO, Celso D. de Albuquerque: Curso de direito internacional publico, p. 77 MAZZUOL, Valério. Direito internacional péblico: parte geral, p. 9. ex 9, SILVA, Geraldo Euldlio do Nascimento e, ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacfonal publico, p. 7. 10. _DINH, Nguyen Quoc; PELLET, Alain; DAILLER, Patrick. Direita internacional publica, p. 23. 11. SEITENFUS, Ricardo. Introdugdo aa direito internacional plblico, p. 27 12. SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional publica, p. 21. 40 TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO + Estados ENTENDIMENTO Organizacdes internacionais CLASSICO. + + Relagées interinstitucionais, envolvendo Estados e organi- regular zages internacionais Estados OrganizacBes internacionais Individuo Empresas, especialmente as transnacionais e aquelas com ENTENDIMENTO negécios internacionais MODERNO Organizagdes nao governamentais Atores tet RelacBes entre Estados e organizagées internacionais Cooperagao internacional Relagdes entre qualquer ator internacional envolvendo te- mas de interesse global Matérias a regular +eele 3. TERMINOLOGIA O termo “Direito Internacional” foi empregado pela primeira vez em 1780, pelo inglés Jeremy Bentham, cm sua obra An Introduction to the Principles of Moral and Legislation, com 0 intuito de diferenciar 0 Direito que cuida das relagées entre os Estados, também designados em inglés como nations, do Dircito nacional (National Law) ¢ do Direito municipal (Municipal Law). Posteriormente, por influéncia francesa, foi incluido o termo “publico”, aludindo ao interesse geral da matéria regulada pelo Direito Internacional, bem como para distingui-lo do Direito Internacional Privado, ramo do Direito cujo objeto principal é definir qual a ordem juridica, na- cional ou estrangeira, aplicével aos confliros de leis no espaco em relagbes privadas com conexio internacional. A exptessio € criticada por parte da doutrina, visto que a palavra nation também significa “nagéo”, nog4o que nao se confunde com a de “Estado”. Encretanto, a denominagao “Direito Internacional” é de uso corrente na atualidade. Em todo caso, ainda ha autores que se referem a0 Direito Internacional como “Direito das Gentes”, tradugio literal do jus gentium do Diteito Romano ¢ que predominava até o século XVIII, ou jus inter gentes, expresso cunhada no século XY por Francisco de Vitéria, que significaria “Direito entre Estados”. E comum a referéncia ao Direito Internacional Publico (e também ao préprio Direito Inter- nacional Privado) simplesmente como “Direito Internacional”, embora haja diferengas importantes no tocante ao objeto das duas disciplinas. Quadro 4. Terminologia > PREDOMINANTE: Direita Internacional Publico | - OUTRAS: Direito das Gentes, Direito Interna- (Bentham ~ 1780) cional e jus inter gentes 13, _DINH, Nguyen Quoc; PELLET, Alain; DAILLER, Patrick. Direito internacional puibico, p. 47. a PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 4, OBJETO Tradicionalmente, 0 objeto do Direito Internacional restringia-se a limitar as competéncias de Estados e de organizacées internacionais, conferindo-lhes dircitos ¢ impondo-lhes obrigacdcs, com vistas a reduzir a anarquia na sociedade internacional, ainda marcada pela inexisténcia de um poder mundial superior a todos os Estados e pelo fendmeno da coordenacéo de interesses, e nao da subordinacio. Na atualidade, 0 objeto do Dircito Internacional vem-se ampliando, passando a incluir também a regulamentagio da cooperagio internacional, pautando o modo pelo qual os Estados, as organizagées internacionais e outros atores deveréo proceder para atingir objetivos comuns, normalmente ligados a problemas globais, como a protecio do meio ambiente, ou a interesses regionais, a exemplo da integracio regional. Como os problemas tratados dentro das iniciativas de cooperagao internacional muitas vezes referem-se a matérias também reguladas pelos ordenamentos internos dos Estados, pode-se afirmar que o Direito Internacional inclui como objeto conferir tutela adicional a questées cuja importancia transcende as fronteiras estatais, como os direitos humanos ¢ 0 meio ambiente, disciplinando a forma pela qual todos os integrantes da sociedade internacional, inclusive os individuos, deverio conduzir seus comporcamentos com vistas a alcangar objetivos de interesse internacional. objeto do Direico Internacional € sintetizado por Amaral Jinior, que afirma que “Desde 3 suas origens, 0 Direito Internacional Piblico cumpre duas fungées bdsicas: reduir a anarquia por meio de normas de conduta que permitam o estabelecimento de relagdes ordenadas entre os Estados soberanos ¢ satisfazer as necessidades e interesses dos membros da comunidade interna- cional”."" Ainda nese sentido, Seitenfus lembra que a Corte Internacional de Justi¢a proclamou que © Direito Internacional Piiblico “constitui fator de organizagio da sociedade que atende a duas miss6es bem mais amplas: a reducao da anarquia nas relagées internacionais ea satisfagio de interesses comuns entre os Estados”. Quadro 5. Objeto do Direito Internacional Pablico Conferir tutela adicional a bens juridicos aos quais a sociedade internacional decidiu atri- buir importancia > Satisfazer interesses comuns dos Estados > Reduzir a anarquia na sociedade internacional ¢ delimitar as competéncias de seus membros > Regular a cooperago internacional 5. FUNDAMENTO DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO, O estudo do fundamento do Direito Internacional Pablico visa a determinar 0 motivo pelo qual as normas internacionais s4o obrigatérias. O fandamento do Direiro Internacional é objeto de debates doutrindrios, que se concentram principalmente ao redor de duas teorias voluntarista ea objetivista. 14, AMARALJONIOR, Alberto do. Manual do candidato: dreito internacional, p. 79. 15. _SEITENFUS, Ricardo. Itroduga0 ae direto internacional publica, p. 23. 42 TEDRIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO © voluntarismo é uma corrente doutrindria de carter subjetivista, cujo elemento central € a vontade dos sujeitos de Dircito Internacional. Para o voluntarismo, os Estados ¢ organizacoes internacionais devemn observar as normas internacionais porque expressaram livremente sua concor- dancia em fazé-lo, de forma expressa (por meio de tratados) ou técita (pela aceitacio generalizada de um costume). O Direito Internacional, portanto, repousa no consentimento dos Estados. E também chamado de “corrente positivista”. A doutrina desenvolveu vérias vertentes do voluntarismo, que sfo as seguintes: + autolimitaggo da vontade (Georg Jellinek): 0 Estado, por sua propria vontade, submete-se as normas internacionais e limita sua soberania; + vontade coletiva (Heinrich Triepel): © Direito Internacional nasce nao da vontade de um cente estatal, mas da conjungio das vontades unanimes de varios Estados, formando uma so vontade coletivas * consentimento das nagées (Hall e Oppenheim): 0 fundamento do Direito das Gentes é a vontade da maioria dos Estados de um grupo, exercida de maneira livre e sem vicios, mas sem a exigéncia de unanimidade; + delegagao do Direito interno (ou do “Direito estatal externo”, de Max Wenzel), para a qual 6 fundamento do Dircito Internacional é encontrado no préprio ordenamento nacional dos entes estatais. © objetivismo sustenta que a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da existéncia de valores, principios ou regras que se revestem de uma importancia tal que delas pode depen- der, objetivamente, 0 bom desenvolvimento ¢ a propria existéncia da sociedade internacional. Nesse sentido, tais normas, que surgem a partir da prépria dinamica da sociedade internacional © que existem independentemente da vontade dos sujeitos de Direito Internacional, colocam-se acima da vontade dos Estados e devem, portanto, pautar as relagoes internacionais, devendo ser respeitadas por todos. O objetivismo também inclui vertentes tedricas, como as seguintes: * — jusnaturalismo (teoria do Direito Natural): as normas internacionais impdem-se naturalmente, por terem fundamento na propria natureza humana, tendo origem divina ou sendo baseadas na radios + teorias sociolégicas do Direito: « norma internacional vem origem em fato social que se impée aos individuos; + teoria da norma-base de Kelsen: 0 fundamento do Direito Internacional &a norma hiporética fundamental, da qual decorrem todas as demais, inclusive as do Direito interno, até porque nao haveria diferenga entre normas internacionais ¢ internas; + direitos fundamentais dos Estados: 0 Direito Internacional fundamenta-se no faro de os Estados possuirem dircitos que lhe séo inerentes ¢ que s4o oponiveis em relagio a terceiros, A doutrina voluntarista é criticada por condicionar toda a regulamentacio internacional, inclusive a concernente a matérias de grande importincia para a humanidade, & mera vontade dos Fstados, normalmente vinculada a intimeros condicionamentos. A doutrina objetivista, por outro lado, a0 minimizar o papel da vontade dos atores internacionais na criagio das normas 43 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO internacionais, coloca também em risco a propria convivéncia internacional, ao facilitar 0 surgi- mento de normas que podem nao corresponder aos anscios legitimos dos povos As criticas a tais correntes levaram & formulagéo de uma teoria, claborada por Dionisio Anzilotti, que fundamenta 0 Direito Internacional na regra pact sunt servanda, Para esse autor, 6 Direito Internacional ¢ obrigatério por conter normas importantes para o desenvolvimento da sociedade internacional, mas que ainda dependem da vontade do Estado para existir. Ademais, a partir do momento em que os Estados expressem seu consentimento em cumprir certas normas internacionais, devem fazé-lo de boa-fé. Entendemos que o fundamento do Direito Internacional efetivamente inclui clementos vo- luntaristas e objetivistas. Nesse sentido, os Estados obrigam-se a cumprir as normas internacionais com as quais consentiram. Enuretanto, o exercicio da vontade estatal néo pode violar o jus cogens, conjunto de preceitos entendidos como imperativos e que, por sua importancia, limitam essa vontade, nos termos da Convengio de Viena sobre 0 Direito dos ‘Tratados, de 1969 (art. 53), que determina que é nulo tum tratado que, no momento de sua concluséo, conflite com uma norma de Direito Internacional aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo como preceito do qual nenhuma derrogacao é permitida. Quadro 6. Fundamento de Direito Internacional: voluntarismo e objetivisme VOLUNTARISMO, OBJETIVISMO, > Carater subjetivo > Carater objetivo > Papel central da vontade + Irrelevancia da vontade > Anorma é obrigatéria pela concordancia livre | -> Anorma é obrigatéria pelo carter de primazia dos Estados que naturalmente assume Quadro 7. Voluntarismo e objetivismo: vertentes VOLUNTARISMO. OBJETIVISMO, > Autolimitacgo da vontade \Jellinek) + Teoria do Direito Natural (jusnaturalismo) > Vontade coletiva (Trienel) > Teorias socioldgicas do Direlto > Consentimento das nacdes (Hall e Oppenheim] | -> Teoria da norma-base (Kelsen) > Delegacao do Direito interno > Direitos fundamentais dos Estados 6. 0 ORDENAMENTO JURIDICO INTERNACIONAL Ha teorias que negam a existéncia de um Direito Internacional Os negadores tedricos alegam que as normas internacionais tém natureza meramente moral ede pura cortesia, e que seria impossivel haver uma ordem juridiea internacional cnquanto nao existir uma sociedade mundial organizada, Os negadores praticos ota afirmam que os Estados atuam unicamente em funcdo de seus interesses, ora que as relagGes internacionais sio baseadas apenas na forga ou, ainda, que a ordem juridica internacional carece de coercitividade, Por fim, ha quem afirme que o Direito das Gentes nao tem relevancia e utilidade, visto que, na convivéncia internacional, acabariam prevalecendo apenas os interesscs dos Estados, que se impdem segundo 4 ‘TEORIA GERAL 00 DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 10s respectivos diferenciais de poder, ficando a eventual aplicasio das normas internacionais vin- culada a consideragées de cardter politico, econdmico, militar etc. Nao avangaremos no exame de tais ideias, porque nfo temos diivida acerca do carster juridico do Direito Internacional. Com efeito, nao € dificil verificar que existe um ordenamento juridico internacional, formado por um conjunto de preceitos voltados a regular as conducas dos membros da sociedade internacional ¢ 0 tratamento de temas de interesse global. Assim como os demais preceitos juridicos, as normas internacionais s4o obrigatérias e, com frequéncia, contemplam expressamente a possibilidade de sangées no caso de scu descumprimento. Entretanto, € certo que o Diteito Internacional apresenta algumas peculiaridades em relagio a0 Direico interno, as quais analisaremos a seguir. 6.1 Caracteristicas do Direito Internacional Publico O Direito Internacional é fortemente marcado pela dicotomia entre a relativizago da sobe- sania nacional ¢ a manutengao de sua importincia. Com eftito, 0 Direito das Gentes efetivamente implica nova concepgio de poder soberano, indo mais entendido como absoluto, mas sim sujeito a limites demarcados juridicamente, ideia, alids, consentanea com o espirito do Estado de Dircito. Desse modo, no momento em que um cnte estatal celebra um tratado ou se submete a competéncia de um tribunal internacional, cfeti- vamente restringe sua capacidade de deliberar sobre todos os assuntos de seu interesse. Por outro lado, a soberania ainda impée limites ao Direito Internacional. De fato, os Estados mantém uma série de competéncias exclusivas no territétio sob sua jurisdigéo. Os entes estatais ainda sto competentes para decidir a respeito da celebrasao de tratados e do modelo de incorpo- ragéo das normas internacionais ao ordenamento interno, bem como de sua submissio a érgios internacionais de solugéo de controvérsias. Por fim, o funcionamento da maioria das organizagbes intemacionais continua a depender das deliberagées ¢ da colaboracto dos Estados. © Direito Internacional é um dircito de “coordenacio”, em oposi¢ao a0 Direito interno, que é de “subordinagdo”, Dentro dos Estados, as normas sao elaboradas por érgaos estatais, represen- tantes de um poder soberano capaz de se fazer impor aos particulares. Na ordem internacional, como nio hé um poder central responsdvel por essa rarefa, a construcéo do ordenamento juridico é fruto de um esforco de articulagao entre Estados ¢ organizagées internacionais, que elaboram as normas internacionais a partir de negociagdes ¢ podem expressar seu consentimento cm observé-las. Nesse sentido, 0 Direito das Gentes, quando entendido como Direito interestatal, caracteriza-se também por suas normas serem criadas por seus préprios destinatérios. Diteito Internacional distingue-se pela ampla descentralizagio da produgio normativa. Com efeito, enquanto o Direito de cada Estado tem o processo legislative centralizado em poucos Srgaos definidos pelo ente estaral, com regras determinadas pelo ordenamento jurfdico nacional, a producio das normas inrernacionais ocorre em varios ambitos, a exemplo das diversas organi- zagbes internacionais ou das articulagées entre dois Estados espectficos, podendo cada negociacéo desenvolver-se conforme regras diferentes umas das outras. © Direito Internacional nao é um mero conjunto de intengdes de carster politico, de regras de cortesia ot de simples acordos de cavaleiros. De fa0, 0 ordenamento intermacional ¢ composto 45 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO por um conjunto de normas juridicas, obrigatSrias para seus destinatdrios, formando aquilo que Bruno Yepes Pereira chama de “ordem normativa’.!° Direito Internacional também inclui a possibilidade de imposigao de sangées, tema que examinaremos no item 6.3 deste capitulo. Parte da doutrina afirma que nfo existe hierarquia entre as normas do Direico Internacional. Por conseguinte, um tratado entre dois entes estatais no necessariamente teria de se conformar as normas de outros tratados firmados entre esses mesmos Estados, ¢ somente o exame de cada caso concreto permitiria identificar um preceito internacional ao qual se deveria atribuir maior importancia.”” No entanto, tal caracteristica nao cobre todas as sicuagSes que ocorram na sociedade inver- nacional, Com efeito, um tratado no pode estar em conflito com as normas do jus cogens. Em regra, acordos firmados entre Estados de uma regio do mundo, como a América do Sul, relativos a determinadas matérias, como comércio, trabalho e direitos humanos, devem respeitar as normas de Direito Internacional global, que podem ter como destinatério qualquer Estado. Por fim, de- ve-se atentar aos principios que orientam o ordenamento juridico internacional, privilegiando-se aquelas normas que concrctizam os principais valores protegidos pela sociedade internacional. Seitenfus inclui a fragmentacao como caracteristica do Direito Intetnacional, referindo-se a heterogencidade de suas normas, cujos tracos expressivos sao a variedade de matérias tratadas e de condigées em que séo elaboradas (Estados e interesses envolvidos, contextos histéricos, di- ferenciais de poder erc.).!" A diversidade dos temas regulados pelo Direito das Gentes é também explicada pelo faco de que os Estados e as organizagées internacionais tém interesse em regular diferentes tipos de quest6es, 0 que rem levado, alids, a0 aparecimento de ramos especificos do Dircito Internacional, voltados a atender as peculiaridades de certos problemas, como o Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Direito Internacional do Trabalho, 0 Dircito Internacional do Meio Ambiente etc. Por fim, 0 Direito Internacional Publico destina-se ndo sé a gerar efeitos no ambito das relagées incernacionais, mas também dentro dos Estados. Com efeito, as normas internacionais prescrevem condutas que deverio ser executadas exatamente pelas autoridades responsiveis pela condugéo das relagées internacionais de um ente estatal. Além disso, os eratados normalmente dererminam agées que 0s Estados deverio efetivar dentro de seus tertitérios, como no caso do do ambiental no mundo e que, Protocolo de Quioto, ato internacional que visa a reduzir a pol para isso, deveré logicamente levar & redugio da emissio de poluentes pelas industrias nacionais, ‘ou dos tratados de direitos humanos, que nao lograrao contribuir para a protegao ¢ a promogao da dignidade humana no mundo se os Estados, sob cuja jurisdicdo se encontram as pessoas naturais, nio garantirem o gozo dos direitos consagrados em seus textos nas respectivas dreas territoriais. 16, PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional piblico, 0.45. 17, _Nesse sentido: REZEK, Francisco. Direito internacional pdblico, p. 2. 18, SEITENFUS, Ricardo. Introducdo ao alreito internacional publico, p. 23. 46 TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 6.2 A cooperagao internacional entre os Estados Uma das mais evidentes vertentes do Direito Internacional na atualidade é a da regulamen- taco da cooperagio internacional. Na concepgio tradicional da doutrina, a sociedade internacional seria composta apenas por Estados soberanos, com poderes para tratar de todos os problemas que ocorram em seu territério de forma totalmente independente de outros entes estatais. Enrretanto, essa nogio néo resiste a um exame superficial da realidade mundial, marcada por intimeros desafios cujo enfrentamento pode exigir esforcos significativos, e cujos desdobramentos podem afetar outras partes do mundo, distantes dos locais onde os problemas foram gerados, provocando instabilidade e pondo em risco valores importantes, como a par, a dignidade humana ea propria vida. A titulo de exemplo, a poluicéo emitida em um pals pode gerar efeitos deletérios em todo ‘© mundo, como prova o atual quadro de aquecimento global. Um terremoto ocorrido na regiéo costeira de um pais pode provocar sswamis em outros continentes. Um conflito armado interno pode gerar fuxos de refugiados, Por fim, a prética de condigées avilrantes de trabalho pode conferir vyantagens comparativas 3s mercadorias produzidas em um pais, causando prejuizos A economia de outros Estados. Por outro lado, a cooperacio internacional néo é meio apenas para combater problemas, mas também constitui instrumento adicional, pelo qual os Estados podem promover seu desenvol- vimento econdmico e social. Como exemplo disso temos os mecanismos de integragao regional. Por fim, a cooperacéo internacional permite regular a administragéo de dreas que néo per- tencem a nenhum Estado e que sao do interesse de toda a humanidade, como o alto mar ¢ 0 espaco extra-atmosférico. Com tudo isso, os Estados articulam acées conjuntas referentes aos temas de interesse in- ternacional, formando esquemas de cooperasio compostos por marcos legais consagrados em tratados e, as vezes, por arcabousos institucionais, conhecidos como “organizagbes internacionais” Exemplo do funcionamento da cooperagio internacional refere-se & energia atomica, cujo uso para fins no pacificos pode provocar problemas em escala global. Para combater esse risco, foi celebrado 0 Tratado de Néio-Proliferagio de Armas Nucleares (INP), regulando a disseminagao € controle da tecnologia nuclear, ¢ foi criada a Agéncia Internacional de Energia Atomica (AIEA), encarregada de assegurar o cumprimento dos objetivos do TNE. Notadamente a partir do século XX, a cooperacio internacional consolidou-se como trago marcante do Direito Internacional, que deixou; portanto, de meramente regular 0 convivio entre os Estados, com vistas a manter o stafus quo internacional, para servir também como meio para que estes alcancassem objetivos comuns. Com a expanséo da vertente cooperativa do Direito In- ternacional, surgiram também as organizacdes internacionais, que se firmaram como novos sujeitos de Direito Internacional, Por fim, permitiu-se a diversificagio das matérias tratadas pelo Direito Internacional, visto que séo varios os assuntos objeto da cooperacio internacional, a exemplo dos direitos humanos, do meio ambiente, do combate ao crime e aos ilicitos transnacionais, da cultura, da ciéncia e tecnologia e do esporte. a7 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 6.3 A jurisdicao internacional O estudo do Direito Internacional deve incluir também os mecanism a aplicagao das normas internacionais. s voltados a assegurar Decerto que a sociedade internacional apresenta certas peculiaridades, como a descentralizagio ¢, por conseguinte, a inexisténcia de um governo mundial. E certo também que os Estados, por serem saberanos, se preocupam em limirara interferéncia externa em assuntos que entendem ser de sua alcada. Entretanto, tais circunstincias néo impedem que existam drgdos encarregados de ditimir controvérsias relativas ao Dircito Internacional ¢ de aplicar suas normas a casos conctetos, ainda que nem sempre tais mecanismos funcionem nos mesmos moldes de seus congéneres estatais. Os entes que exercem a jurisdigéo internacional normalmente so criados por tratados, que definem as respectivas competéncias e modo de funcionamento. Podem ser judiciais (seguindo © modelo das cortes nacionais), arbitrais ou administrativos, como as comissdes encarregadas de monitorar o cumprimento de tratados. Pode haver drgios com amplo escopo de ago, como a Corte Internacional de Justiga (CI), comperente para conhecer de qualquer lide relativa a0 Direito Internacional, ¢ entidades espe- cializadas, como as cortes de direitos humanos. A jurisdic’o de certos érgios pode prerender abranger 0 mundo inteiro, como no caso do Tribunal Penal Internacional (TPI), a0 passo que a comperéncia de ourros entes abrange apenas o ambito regional, como no caso do ‘Tribunal Per- manente de Revisio do MERCOSUL. Por fim, ha mecanismos que podem examinar conflitos relativos.a qualquer tratado, como a ClJ, ou quanto a tratados especificos, como 0 Comiré sobre 2 Eliminagéo da Discriminag3o contra a Mulher (CEDAW), encarregado de acompanhar a execucio da Convengio Internacional contra a Discriminagio contra a Mulher. Em princfpio, 0s mecanismos de jurisdicio internacional vinculam apenas os Estados que celcbraram os tratados que os criaram ou que aceitem se submeter is suas respectivas comperéncias. Em geral, as cortes ¢ tribunais internacionais nao tém o poder de automaticamente examinar casos envolvendo um Estado, ainda que este seja parte do tratado que os ctiou. E 0 caso da Corte Internacional de Justiga (CI)), que s6 pode apreciar um processo envolvendo um ente estatal se este aceitar os poderes dese érgio jurisdicional para julgé-lo em um caso especifico, ou se o Bsta- do tiver emitido, previamente, uma declaracio formal de aceitacao da competéncia contenciosa dessa Corte, que Ihe permita conhecer de litigios relativos a esse ente estatal sem necessidade de qualquer declaragao adicfonal. ATENCAO: em suma, a regra geral 6 a de que os Estados ndo so automaticamente ju vels perante as cortes e tribunai Por fim, a maiotia dos érgios intetnacionais ainda nao permite que sujeitos que nao sejam Estados ou organizagées internacionais participem de seus procedimentos, Entretanto, hé excecGes importantes, como a Corte Europeia de Direitos Humanos, que abre a possibilidade de que um individuo processe um Estado europeu pela violacao de seus direitos fundamentais, ou o’Tribunal Penal Internacional, que julga pessoas naturais acusadas de crimes contra a humanidade. Nas Américas, 2 Comissio Interamericana de Direitos Humanos pode receber reclamagées diretas de individuos (“petigées individuais") contra violagdes de seus direitos. 48 TEORIA GERAL 00 DIREITO INTERNACIONAL POBLICO 6.4 A sangio no Direito Internacional Publico © Direito Internacional também inclui a possibilidade de imposigio de sang6es contra aqueles que violem as normas internacionais, De fato, os tratados podem fixar consequéncias juridicas para os atos ilicitos dos entes obrigados a observar as preceitos de Dircito das Gentes e criar érgios internacionais encarregados de fazer valer as normas acordadas pelos Estados. Parte das criticas a0 Direito Internacional refere-se 2 relativa dificuldade de aplicar sangées aos Estados que descumprem as normas internacionais. Efetivamente, a convivéncia internacional ainda é marcada por conflitos armados ¢ intimeros diferendos, bem como pela aparente prevaléncia do poder ¢ do interesse, em detrimento do Direito. ‘A percepedo de que o Direito Internacional é ineficiente para conter essa dindmica pode aumentar ainda mais no mundo modetno, em que os recursos tecnolégicos permitem uma maior € mais répida difusto das informacées, possibilicando a formagao de uma opiniao piiblica internacional que pode claramente perccber as continuas violag6es das normas de Direito das Gentes. As dificuldades para impor sang6es no Direito Internacional podem estar relacionadas & auséncia de érgios internacionais centrais encarregados da tarefa, assim como ao fato de que a aplicagao dessas sangées normalmente depende da articulagio dos Estados, 0 que pode nio ocorrer dentro de determinado contexto. Exemplo disso seria uma acdo militar fruto de deliberagio do Conselho de Seguranga da ONU, cujas decis6es so comadas pelos entes estatais soberanos que sio seus membros ¢ devem ser exccutadas pelos Estados que integram a ONU, os quais, porém, segundo seus préprios interesses, podem nao concordar com certa medida contra determinado Estado ou nio disponibilizar tropas ¢ equipamentos para formar forgas de paz. Em todo caso, o Direito Internacional disp6e de instrumentos de sangGes. Exemplos disso sao co envio de tropas da ONU para regides em que esteja sendo violada a proibigao do uso da forga armada, a expulsio de diplomatas que abusem de suas imunidades (declaragao de persona non grata), reparagbes financeitas, retaliacdes comerciais etc. Ademais, quando as normas internacionais forem aplicdveis internamente, empregam-se os mecanismos de sangao do ordenamento interno. Por fim, lembramos que tal deficiéncia nao retira 0 caréter juridico do Direito Internacional. Quadro 8. O ordenamento juridico internacional: caracteristicas do Direito Interna- cional Pablico > Dicotomia entre a relativizac3o da soberania nacional ¢ a manutenco de sua importancia_| +> Jurisdi¢ao internacional exercida apenas com o consentimento dos Estados > Possibilidade de sangdes > Nao haveria hierarquia entre as normas (ponto controverso na doutrina) > Fragmentagéo: diversidade de matérias trata- > Direito de coordenagdo > Auséncia de poder central para a produg3o aplicagdo das normas > Descentralizagio da produg3o normativa > Normas criadas pelas préprios destinatarios > Obrigatoriedade > Existéncia de mecanismos de exercicio de ju- risdigdo internacional dase de condigGes de elaboracao das normas > Marcada vertente de cooperagio > Aplicaco no Ambito interno dos Estados. 43 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO 7. DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Ao contratio do que pode parecer, o Direito Internacional Privado nao € ramo do Direito Internacional Pablico, E nesse sentido, ¢ porque ainda ha certa confusio quanto ao objeto das duas matérias, que convém destacar, desde logo, a diferenca entre ambas. O Direito Internacional Piiblico é 0 ramo do Direito que regula as relagées internacionais, a cooperagio relacionamentos que envolvem Estados, organizagées internacionais e outros atores em temas de interesse internacional, bem como conferindo protecao adicional a valores caros 4 humanidade, como a paz. os direitos humanos. ternacional ¢ temas de interesse da sociedade internacional, disciplinando os © Direito Internacional Privado regula os conflitos de leis no espago, cuidando, essencial- mente, de estabelecer cricérios para determinar qual a norma, nacional ow estrangeira, aplicivel a telagbes privadas com conexo internacional, ou seja, que transcendem os limites nacionais € sobre as quais incidiria mais de uma ordem juridica. © Direito Internacional Privado o ramo do Direito que pode apontar a solugio para si- tuagbes como as seguintes: 1) Brasileira casa com portugués nos EUA ¢ estabelece domicilio no Japéo. Qual o foro competente para conhecer de processo referente & eventual separacéo desse casal? 2) Argentino domiciliado no Brasil, onde vive com seus filhos, compra imével em praia brasileira. Ao falecer, deixa iméveis também na Itilia. Qual a lei nacional aplicével para decidir acerca da sucessao desses bens? As regras do Diteito Internacional Paiblico sio estabelecidas pelos Estados ¢ organizagoes internacionais, por meio de negociagées ou de outros processos, descritos no Capitulo II da Parte I (Pontes do Dircito Internacional). As normas de Direito Internacional Privado podem originar-se de fontes de Direito Internacional Piblico, como 0s tratados, mas normalmente sio preceitos de Direito interno, estabelecidos pelos préprios Estados, que assim decidem livremente qual a regra, nacional ou estrangeira, que se aplicard a relagdes juridicas privadas com conexéo internacional. As regras de Direito Internacional Péiblico aplicam-se diretamente as relagées internacionais ¢ incernas cabiveis, vinculando conduras. J4 as regras de Direito Internacional Privado sio mera- mente indicativas, apontando apenas qual a norma, nacional ou estrangeira, que incide em caso de conffito de leis no espago. A titulo de sintese, Amaral Jinior afirma que “o direito internacional ptiblico e o direito in- ternacional privado teriam assim objetos préprios e fontes diversas. © primciro abrange as telagées interestatais ¢ os conflitos entre soberanias, tendo como fonte principal os tratados e as convengoes intetnacionais. O segundo funda-se na legislago interna dos Estados; as marérias que lhe dizem respeito versam sobre as relagdes entre os sujeitos privados, das quais nao participa o Estado na qualidade de ente soberano. No direito internacional piblico, a verificagzo da observancia dos tratados compete aos érgios internacionais que recebem esta fungio, ao passo que o controle de legalidade no diteito internacional privado € atribuido ao Judicistio de cada pais”."” 19. AMARALJUNIOR, Alberto do. Manual do candidato: Direito Internacional, p. 78. TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Em todo caso, exisce certa afinidade entre as duas disciplinas, visto que ambas esto voltadas & regulamentagiio de dimens6es especificas da sociedade internacional. ‘Ademais, dererminadas situagSes podem ser reguladas pelas duas matérias, como operagdes comerciais, as quais podem ser aplicadas tanto normas gerais de Direito Internacional Pablico, estabelecidas pela Organizagio Mundial do Comércio (OMC), como regras de Direito Interna- cional Privado. Exemplo disso seria uma operacio de exportagio, sobre a qual poderiam incidir normas anti-subsfdios previstas nos tratados daquela organizagao € preceitos relatives a qual norma nacional tutelaria eventuais conflitos entre 0 exportador ¢ o importador em caso de nfio-pagamento. Quadro 9. Direito Internacional Pablico e Direito Internacional Privado: quadro comparativo DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO > Regulacao da sociedade internacional > Regulacio dos conflitos de leis no espaco + Disciplina direta das relagées internacionais ou das relagées internas de interesse internacio- ral + Indicagao da norma nacional aplicdvel a um conflito de leis no espaco +> Normas de aplicagio direta > Normas meramente indicativas do Direito apli- cavel + Regras estabelecidas em normas internacio- ais + Regras estabelecidas em normas internacio- ais ou internas > Regras de Direito Internacional Publico “> Regras de Direito internacional Publico ou in- temo 8, DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO E DIREITO INTERNO Como afirmamos anteriormente, 0 Direito Internacional tem impacto direto no ambito interno dos Estados. Com efeito, recordamos que varios atos vinculados ao Direito das Gentes dependem de regras do ordenamento nacional, como a competéncia para a celebracao de tratados. Ao mesmo tempo, a maioria dos compromissos internacionais requer ages das autoridades estatais e a execucio de agdes dentro dos Estados. Com isso, em muitos casos, como no Brasil, as normas internacionais so incorporadas & ordem juridica doméstica, facilitando sua aplicagao nos territérios dos entes estatais, visto que se tornam imediatamente exigiveis pelos érgios competentes do Estado soberano, Entretanto, é possivel que ocorram, em uma situagio concreta, conflitos entre os preccitos de Direito Internacional ¢ de Direito interno, suscitando a necessidade de definir qual norma deveria prevalecer nessa hipétese. A questio cm aprego ¢ polémica, ¢ seu tratamento reveste-se de grande importincia, em fungéo do relevo que o Diteito Internacional vem adquirindo como marco que visa a disciplinar © atual dinamismo das relag6es internacionais, dentro de parimetros que permitam que estas se desenvolvam num quadro de estabilidade e de obediéncia a valores aos quais a sociedade inter- nacional attibui maior destaque. Em geral, a doutrina examina a matéria com base em duas teorias; o dualismo e 0 monismo, No entanto, a emergéncia de certos ramos do Direito das Gentes, dorados de certas particulatidades, 51 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBL|CO vem levando a formulagéo de outras possibilidades de soluséo desses conflitos, como a primazia da norma mais favorével 20 individuo, que prevalece dentro do Direito Internacional dos Direitos Humanos. A definigao acerca da relago entre 0 Direito Internacional e o interno geralmente é feita dentro da Constituigio de cada Estado. Cabe destacar que a pritica internacional demonstra que 08 Estados, ao decidirem a respeito do relacionamento entre o Direico Internacional e 0 interno, optam por uma dessas teorias, escolhem elementos de ambas ou, ainda, afirmam nao se vincular a nenhuma delas.** 8.1. Dualismo dualismo é a teoria cuja principal premissa € a de que © Direito Internacional ¢ 0 Direito interne séo dois ordenamentos juridicos distincos ¢ totalmente independentes entre si, cujas normas nao poderiam entrar em conflito umas com as outras. Para o dualismo, 0 Dircito Internacional dirige a convivéncia entre os Estados, ao passo que © Dircito interno disciplina as relagées entre os individuos e entre estes ¢ 0 ente estatal. Com isso, 5 tratados seriam apenas compromissos assumidos na esfera externa, scm capacidade de gerar efeitos no interior dos Estados. Ademais, a eficacia das normas internacionais nao dependeria de sua compatibilidade com a norma interna, e o Direito nacional nfo precisaria se conformar com 0s preceitos de Direito das Gentes. O dualismo teve como principais expoentes Heinrich ‘Itieppel e Dionisio Anzilocti. O dualismo vincula-se também & “teoria da incorporagéo”, ou da “transformagao de me- diatizagéo”, formulada por Paul Laband, pela qual um tratado poderd regular relagées dentro do tertitério de um Estado somente se for incorporado ao ordenamento interno, por meio de um procedimento que 0 transforme em norma nacional. O ence estacal nega, portanto, aplicagao imediata ao Direito Internacional, mas permite que suas normas se tornem vincu- lantes internamente a partir do momento em que se integrem ao Dircito nacional por meio de diploma legal distinto, que adote o mesmo contetido do tratado, apreciado por meio do proceso legislativo esiatal cabivel. Cabe destacar que, com esse processo de incorporacao, os conflitos que porventura ocorram envolverao nao o Direito Internacional ¢ o Direito interno, ‘mas apenas normas nacionais. Autores como Yepes Pereira," Nascimento e Silva ¢ Hildebrando Accioly"defendem ainda aexisténcia do dualismo moderado, pelo qual nao é necessério que 0 contetido das normas inter- nacionais seja inserido em um projeto de lei interna, bastando apenas a incorporagio dos tratados a0 ordenamento interno por meio de procedimento especifico, distinto do processo legislative comum, que notmalmente inclui apenas a aprovacéo do parlamento e, posteriormente, a ratificagao 20. Arespeito, 0 Ministro Celso de Mello, do STE, afirmou que “Ena Constituicie da Reptiblice -e no na controvérsia outrinaria que antagoniza monistas e dualistas - que se deve buscar a solugo normativa pare a questo da incor- poragao dos atos internacionais ao sistema de direito pesitivo interno brasileiro’. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Tribunal Pleno, ADI-MC 1480/DF. Relator: Min. Celso de Mello. Brasilia, DF, 04.set.97, DI de 18.05.2003, p. 429, 21. PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional pablico, p. 48. 22. _ SILVA, Geraldo Eulalio do Nascimento e, ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional plbico, p. 66 52 TEQRIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO do Chefe de Estado, bem como, no caso do Brasil, um decreto de promulgacéo do Presidente da Republica, que inchui o ata internacional na ordem juridica nacional. Aparentemente, 0 modelo de celebragio de tratados adotado pelo Brasil herdou uma carac- terfstica do dualismo moderado, visto que o Estado brasileiro efetivamente incorpora ao ordena- mento interno, por meio de decreto presidencial, o tratado jd em vigor na ordem internacional que foi ratificado pelo Brasil. | ATENCAO: o aparente fato de o Brasil ter herdado caracteristica dualista no implica que defen- | 1 damos que o Brasil adote o dualismo. No caso, nos filiamas integralmente ao entendimento do 1 | Pretério Excelso, expresso pelo Ministro Celso de Mello na ementa da ADI 1480/97, mencionada ! 1 na pdgina anterior. 8.2. Monismo © monismo fundamenta-se na premissa de que existe apenas uma ordem juridica, com normas internacionais e internas, interdependentes entre si. Pelo monismo, as normas internacionais podem ter eficécia condicionada & harmonia de seu teor com 0 Direito interno, ea aplicagéo das normas nacionais pode exigir que estas nfo contrariem, 0s preceitos de Direito das Gentes aos quais © Estado se encontra vinculado. Além disso, nao 6 necessiria a feitura de novo diploma legal que transforme o Direito Internacional em interno. Para definir qual norma deverd prevalecer em caso de conflito, foram desenvolvidas duas vertentes tedricas dentro do monismo: o monismo intemacionalisca (ou “monismo com primazia do Direito Internacional”) ¢ © monismo nacionalista (ou “monismo com primazia do Dieite interno”). © monismo internacionalista foi formulado principalmente pela Escola de Viena, cuja figura mais representativa é Hans Kelsen, que entendia que o ordenamento juridico é uno, e que © Di- reito das Gentes é a ordem hierarquicamente superior, da qual derivaria o Direito interno ea qual este estaria subordinado. Nesse sentido, o tratado teria total supremacia sobre o Direito nacional, ¢ uma norma interna que contrariasse uma norma internacional deveria ser declarada invalida. Esta modalidade do monismo internacionalista ¢ também conhecida como “monismo radical”. Dentro do monismo internacionalista foi também elaborada a teoria do monismo modera~ do, de Alfred von Verdross, que nega a niio-validade da norma interna cujo teor contrarie norma internacional. Nesse sentido, canto o Direito Internacional como o nacional poderiam ser aplica- dos pelas autoridades do Estado, dentro do que determina 0 ordenamento estatal, Entretanto, 0 eventual descumprimento da norma internacional poderia ensejar a responsabilidade internacional do Estado que 2 viokisse. monismo nacionalisea prega a primazia do Direito interno de cada Estado, Fundamenta-se no valor superior da soberania estatal absoluta, objeto de teorias desenvolvidas por aucores como Hegel e ideia predominante na pritica da convivéncia internacional a partir da Paz de Vestfilia. Como desdobramento do monismo nacionalista, os Estados sé se vinculariam 3s normas com as quais consentissem € nos termos estabelecidos pelas respectivas ordens juridicas nacionais, Em consequéncia, 6 ordenamento interno é hicrarquicamente superior ao internacional e, com isso, as normas internas deveriam prevalecem frente as internacionais. 53 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO O monismo internacionalista é teoria adotada pelo Direito Internacional, como determina o artigo 27 da Convencao de Viena sobre 0 Direito dos Tratados de 1969, que dispde que “Uma parte néo pode invocar as disposigées de seu Direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado”. Com isso, as normas internacionais deveriam prevalecer sobre a propria Consti- tuicéo do Estado, Alids, a supremacia do Direito Internacional foi praclamada pelo menos desde 1930, a partir do entendimento da antccessora da Corte Internacional de Justica (CI)), a Corte Permanente de Justiga Incernacional (CPJ1), que declarou que “E princ{pio geral reconhecido, do direito internacional, que, nas relagoes entre poténcias contratantes de um tratado, as disposig6es de uma lei nao podem prevalecer sobre as do tratada”.® Entretanto, ¢ com a manutencio da soberania como um dos fatores determinantes das relagGes incernacionais, muitos Estados acabam adotando entendimentos préprios sobre o tema dos conflitos entre o Direiro Internacional ¢ 0 interno, que se distanciam da concepcéo que 0 Direito das Gentes consagrou. Com isso, a pritica revela que as diferentes teorias continuam influenciando o modo como os Estados tratardo os conflitos entre as normas internacionais e as internas, qual vem sendo definide dentro do préprio ordenamento jurfdico estatal, normalmente no bojo da ordem consticucional ou da jurisprudéncia, Salientamos também que cabe a cada Estado definir seu proprio regramento a respeito da macéria, pelo que as diversas ordens estatais poderio disciplinar o assunto de maneira distinta umas das outras, adotando uma teoria ou mesclando elementos de mais de uma delas ou, ainda, concebendo diretrizes novas ¢ originais a respeito da matéria Aparentemente, 0 modelo de celebracao de tratados adotado pelo Brasil também herdou uma caracteristica do monismo nacionalista, visto que 0 ordenamento juridico brasileiro, mormente a Constituicéo da Repiiblica, comanda a celebracio de tratados pelo Brasil ¢ define a norma que deve prevalecer em caso de conflito, Entretanto, nesse ponto, a ordem juridica patria vem atribuindo crescente importincia & norma internacional, que em diversas hipéteses prevalecerd frente a lei ordinéria brasileira e, em um caso bem particular, se equiparard & prdpria norma constitucional. ATENCAO: fica evidente, portanto, que a pratica brasileira em rela¢Zo aos conflitos entre as normas internacionais e internas herdaré aspectos do dualismo e do monismo e, como veremos posteriormente, incorporara solugées préprias, que no permitiro, em nosso ponto de vista, definir qual a teoria que o Brasil adota, sendo mais pertinente afirmar que o Estado brasileiro recorre a elementos de ambas as teorias*. Nesse sentido, voltamos a citar o Ministro Celso de Mello, que afirmou expressamente que “E na Constitui¢30 da Republica - e no na controvérsia doutrindria que antagonize monistas e dualistas = que se deve buscar a solucao narmativa para a questao da incorparacao dos atos internacionais ao sistema de direito positivo interno brasileiro”. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Tribunal Pleno, ADI-MC 1480/DF. Relator: Celso de Mello, Brasilia, DF, 04. set.97, DJ de 18.05.2001, p. 429. 8.3 Outras possibilidades: a primazia da norma mais favordvel A clissica divisdo entre dualismo e monismo ¢ objeto de critica na doutrina, 23, Trata-se de texto extraido de parecer da CPll, de 1930, consultado na seguinte obra: SILVA, Geraldo Eulélio do "Nascimento, ACCIOLY, Hildebrando, CASELLA, Paulo Borba. Manual de direita internacional publico, p. 211. 54 TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Com efeito, entendemos que ambas as teorias e ensejam controvérsias de pouco ou nenhum im- pacto pritico, como no Brasil, em que a doutrina se divide entre aqueles que defendem que adoamos 0 dualismo, o monismo intemacionalista moderado ou o monismo com primazia do Direito interno. Entendemos também que tais doutrinas enfatizam quest6es formais ¢, nesse sentido, podem desconsiderar a relevancia do valor que a norma pretende proteger. Nessa hipétese, o preceito legal pode deixar de ser aplicado simplesmente por pertencer a um ordenamente que, de acordo com as concepgées tedricas que aqui examinamos, no deve prevalecer. E nesse sentido que, em vista do valor incorporado pela norma, o Direito Internacional dos Direitos Humanos vai conceber o principio da ptimazia da norma mais favorével & vitima! 20 individuo, pelo qual, em conflito entre normas internacionais ¢ internas, deve prevalecer aquela que melhor promova a dignidade humana. Esse principio fundamenta-se nao no suposto primado da ordem internacional ou nacional, mas sim na prevalencia do imperative da protecao da pessoa humana, valor atualmente percebido por parte importante da sociedade internacional como superior a qualquer outro no universo juridico. Quadro 10. Dualismo ¢ monismo DUALISMO MoNIsmO. > Duas ordens juridicas, distintas e independen- > Uma sé ordem juridica tes entre si > Uma ordem juridica internacional e uma or | - Uma ordem juridica apenas, com normas in- dem juridica interna ternacionais e internas > Conflito entre Direito Internacional ¢ 0 inter- | -> Conflito entre Direito Internacional ¢ o inter- no: impossibilidade no: possibilidade > Necessério diploma legal interno que incorpo- reo conteido da norma internacional: teoria | -> Nao hd necessidade de diploma legal interno da incorporacéo Quadro 11. Dualismo radical e dualismo moderado DUALISMO RADICAL DUALISMO MODERADO > Necessidade de que o contetido dos tratados | -> Necessidade apenas de ratificacdo do Chefe seja incorporado ao ordenamento interno por | de Estado, com aprovacio prévia do Parla- lel interna mento Quadro 12. Monismo internacionalista e monismo nacionalista MONISMO INTERNACIONALISTA MONISMO NACIONALISTA + Primazia do Direito Internacional > Primazia do Direito interno + Primado hierdrquico das normas internas, com derrogago das normas internacionais contrérias. + Primado hierarquico das normas internacio- ais > Teoria adotada pelo proprio Dir + Teoria ainda praticada por varios Estados clonal PARTE | ~DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Quadro 13. Monismo internacionalista radical e monismo internacionalista moderado MONISMO INTERNACIONALISTA RADICAL MONISMO INTERNACIONALISTA MODERADO > Tratado prevalece sobre todo 0 Direito inter- 1, inclusive o Constitucional + Tratado prevalece, com mitigacées: 0 Direito interno pode eventualmente ser aplicado > Norma interna em oposico a internacional pode ser declarada invélida > Norma interna pode nao ser declarada invali- dae ser aplicada, sendo o Estado responsabili zado internacionalmente em caso de violaco de tratado QUESTOES 1. (AB DF 2006. 2) Sobre o fundamento do Direito internacional Pablico e as relacdes entre o Direito Internacional e o Direito interno, assinale a alternativa CORRETA: a] pela teoria da autolimitacéio, de Georg Jellinek, o fundamento do Direito Internacional seria a vonta- de internacional, adotada pelo Estado, por decisdo prépria, no exercicio de sua soberania; b)_pelateoria da vontade coletiva, de Heinrich Triepel, 0 Direito Internacional se fundamentaria na von- tade coletiva dos Estados, que se manifestaria expressamente no tratado-lei e, tacitamente, no cos- ‘tume, fazendo surgit uma vontade majoritéria dependente das vontades individuais; ¢)_ para a teoria monista com primazia do direito interno, o Estado por ter soberania absoluta, no est sujeito a nenhum sistema juridico que ndo tenha emanado de sua prépria vontade; nesse caso, 0 Direito Internacional seria umn direito interno que os Estados aplicam na sua vida internacional; d) para a teoria dualista, no entendimento de Triepel, o tratado seria um meio em si criagdo de direito interno, sendo sua incorporagio ao direito interno mera formalidade para dar-lhe natureza juridica de norma nacional. ito internacional concebeu duas teorias com referéncia & mo, Para 2. (PGFN — 2004) Tradicionaimente o di relacdo entre os ordenamentos juridicos nacionais e internacionais: © dualismo e o mor esta tiltima: a) no se aceita a existéncia de duas ordens juridicas auténomas, independentes e nao derivadas, de- fendendo-se por vezes a primazia do direito interno e por vezes a primazia do direito internacional; b)_ aceitam-se varias ordens juridicas, com aplicabilidade simultanea, configurando-se um pluralismo de fontes, porém aplicadas por um Unico ordenament c)_ aceita-se a existéncia de duas ordens juridicas, independentes e derivadas, uma nacional e outra internacional, sendo que esta ultima é que confere validade & primeira; d) no se aceita a validade de uma ordem juridica internacional, dado que desprovida de sangdo © de contetidas morais, fundamentada meramente em principios de cortesia internacional; e) aceita-se 2 validade de uma ordem juridica internacional, conquanto que nao conflitante com a or- dem interna, e cujos critérios de validade sejam expressamente definidos pela ordem juridica nacio- ral (Advogado da Unio - 2006). 0 conflito que até agora pesou sobre a cultura juridica internaciona- lista entre 0 “dever ser” e 0 “ser” do direito transferiu-se, por meio das cartas internacionais de ireitos, para o préprio corpo de direito internacional positivo. Transformau-se em uma antinomia juridica entre normas positivas, refazendo 0 mesmo processo formativo do qual se originaram, com a constitucionalizaco dos direitos naturals, o estado constitucional de direito e nossas demo- 56 TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO cracias. (Luigi Ferrajoli. A soberania no mundo moderno, Sao Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 53-60, com adaptages). A partir do tema do texto acima, julgue os itens subseqiientes, relativos ao ordenamento juridico internacional e & jurisdigao internacional: 3. Sdo caracteristicas do monismo o culto & constituicéo e a crenca de que em seu texto encontra-se a diversidade das fontes de producao das normas juridicas internacionais condicionadas pelos limites de validade imposto pelo direito das gentes. 4. O principio pacta sunt servanda, segundo o qual 0 que foi pactuado deve ser cumprido, externaliza um modelo de norma fundada no consentimento criativo, ou seja, um conjunto de regras das quais a comunidade internacional no pode prescindir. 5. Somente a aguiescéncia de um Estado soberano convalida a autoridade de um foro judiciério ou arbi tral, j8 que o mesmo nao é originalmente jurisdicionével perante nenhuma corte 6. No que tange as relagdes entre 0 direito internacional ¢ o direito interno, percebem-se duas orienta- ses divergentes quanto aos doutrinadores que defendem o dualismo: uma que sustenta a unicidade da ordem juridica sob 0 primado do direito internacional e outra que prega o primade do direito na- clonal de cada Estado soberano que detém a faculdade discricionaria de adotar ou nao os preceitos do direito internacional. 7. (BDMG — Advogado/2011) Leia as assertivas abaixo e coloque 3 frente de cada um dos parénteses (F) se FALSA e (V) se for VERDADEIRA: (). Dois ordenamentos juridicos distintos e totalmente independentes entre si—Dualismo. (). Uma ordem juridica internacional e uma ordem jurfdica interna ~ Monismo. (). Impossibilidade de conflito entre Direito Internacional e o interno ~ Monismo. (). 0 Direito internacional é que dirige a convivéncia entre os Estados, a0 passo que o Direito interno disciplina as relacbes entre os individuos e entre estes e 0 ente estatal ~ Dualismo, Marque a alternativa CORRETA, na ordem de cima para baixo a) V-F-V-V. b) V-F-F-V. c) FAV-F-F d) F-V-V-F GABARITO Gabarito Tépicos do 3 rvach faiak | Fundamentacdo | ee eo Eventual observacio elucidativa oat | Ofundamento é a vontade do Estado, rio uma suposta alban “yontade internacional’. ; ‘A vontade majoritéria relaciona-se com a teoria da de- x |g | Bee 5 _| tegaco do Direito interno. ¢) Boutrina a2 [- ‘A incorporago do Direito interno no dualismo nfo é a ) Doutrina 81 | regrae, nesse sentido, nao é mera formalidade. 57 Gabarito oficial Fundamentacéo Tépicos do capitulo Eventual observacao elucidativa a) Doutrina 82 b) Doutrina 82 No monismo, ha uma sé ordem juridica. ©) Doutrina 82 56 no monismo internacionalista a norma internacional confere validade a interna, mas n3o ha dois ordena- mentos: ha um s6, com normas internacionais e inter- nas. d) Doutrina 61 As normas internacionais so juridicas e, portanto, obrigatérias. e) Doutrina 8.2 A validade concomitante das normas internacionais € internas € caracteristica do monismo internacionalista moderado. Doutrina 82 No monismo nacionalista, por exemplo, os limites de validade séo impostos pelo préprio Direito interno, e nao pelo Direito das Gentes. Doutrina ‘A norma pacta sunt servanda é principio que se imp6s cobjetivamente como fundamental para a convivéncia humana. Doutrina 63 Doutrina 8, 81e8.2 0 dualismo pressupde duas ordens juridicas distintas, no havendo debates acerca do primado de uma so- bre a outra. A unicidade de ordenamentos é tipica do monismo a) Doutrina 881682 Primeiro item: a teoria dualista efetivamente entende que hd dois ordenamentos juridicos distintos e total- mente independentes entre si: 0 internacional e o in- temo b) Doutrina 8818.2 ‘Segundo item: 0 monismo defende que existe apenas uma ordem juridica, com normas intemnacionais e in- ternas 6) Doutrina 81e8.2 Terceiro item: o monismo comporta a possibilidade de conflito entre normas internacianais e internas 4) Doutrina 8, 81e8.2 Quarto item: o dualismo realmente concebe o Direito das Gentes como algo que dirige apenas a convivéncia entre os Estados eo Direito interno como pauta juridica das relagdes entre os individuos e entre estes eo ente estatal FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO INTRODUGAO 1. CONCEITO O conceito de fonte do Direito é objeto de controvéisia no ambito da Ciéncia Juridica em geral. Entrecanto, parte dessa discussao refere-se apenas & distingfo entre fontes materiais ¢ fontes formais, que examinaremos neste capitulo. ‘A doutrina intemnacionalista também procura definir as fontes do Direito, que sfo, para Salem Hikmat Nasser, 0s “instrumentos ou processos pelos quais suzgem ou se permitem identificar as normas juridicas”.' Soares afirma que as fontes sfo “as raz6es que determinam a produgio das normas juridicas, bem como a mancira como elas sao reveladas”.* De nossa parte, conceicuamos as fontes do Direito como os motivos que levam ao aparecimento da norma juridica e os modos pelos quais ela se manifesta.? 1.1 Fontes materiais ¢ fontes formais As fontes matetiais sio os clementos que provocam o aparccimento das normas juridicas, influenciando sua criagéo e contetido, Nas palavras de Mazzuoli, “sio matetiais as fontes que determinam a elaboragio de certa norma jurfdica”, [As fontes materiais s4o os fatos que demonstram a necessidade ¢ a importincia da formu- lagéo de preceitos juridicos, que regulem certas situagées. Exemplo de fonte material foi a I] Guerra Mundial, cujas atrocidades evidenciaram a relevancia de proteger a dignidade humana, impulsionando a negociagéo e a consagragao de algumas das principais normas internacionais de direitos humans. As fontes materiais sao também “os fundamentos socioldgicos das normas internacionais, a sua base politica, moral ou econdmica” * Sao, portanto, as bases tedricas que influenciam a construgio das normas, de cunho filoséfico, sociolégico, politico, econémico etc., ou os valores, aspiragbes & ideais que inspiram a concepcao dos preceitos juridicos, como o desejo de manutengao da paz ¢ de realizacao da justica, a protecio da dignidade humana e a mera necessidade de sobrevivencia. |. NASSER, Salem Hikmat, Fontes e normas de direlto internacional, p. 59. SOARES, Guido Fernando Siva. Curso de direito internacional pdblice, p.53. Nesse mesmo sentido: MELLO, Celso D. de Albuquerque: Curso de direitointemacional puiblico,v. 1, p. 203. REZEK, Francisco. Direito internacional public, p. 8. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito internacional pubico: parte geral, p. 26. DINH, Nguyen Quoc; PELLET, Alain; DAILLER, Patrick, Direito internacional publica, p. 101. 59 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO As fontes formais sao 0 modo de revelagao exteriorizagéo da norma juridica e dos valores que esta pretende cutelar, representadas pelas normas de Direito positivo. ‘Ao conceituar as fontes formais, Soares enfatiza 0 elemento axiolégico de que estas dever se revestir, aseverando que as fontes formais constituem “expressio clara dos valores juridicos” € que a “fonte formal informa-nos sobre as formas externas ¢ claras com que um valor deverd revestir-se”.° Dinh, Dailler ¢ Pellet enfatizam seu modo de preparagio, ao defini-las como “os processos de claboragao do direito, as diversas técnicas que autorizam a considerar que uma tegra pettence ao dircito positivo"”. O aparecimento das fontes formais é normalmente relacionado as fontes materiais, as quais, ‘como afirmamos, inspiram a criagdo de novas normas e orientam a sua elaboracéo, levando a que 08 preceitos de Direito positivo consagrem determinados valores, voltados a atender as demandas da sociedade. Dentro desta obra, analisaremos apenas as fontes formais, porque 0 exame detido das fontes materiais requer 0 estudo de um vasto rol de elementos, muitos dos quais pertencem a outros campos do conhecimento, cujo estudo nao cabe no escopo deste livro. Doravante, portanto, a palavra “fontes” aludiré apenas ds fontes formais do Direito das Gentes, exceto quando indiquemos expressamente 0 contrétio. Neste capitulo, examinaremos aquelas fontes formais listadas no Estaruro da Corte Inter- nacional de Justiga (CIJ), que se encontram consolidadas como fontes do Direito das Gentes no centendimento convencional e da doutrina h4 muito tempo. Enuetanto, inclusive em vista do cariter nao exaustivo do rol de fontes constantes do Estaruto da CJ, estudaremos também novas formas de manifestagio da norma de Direita Internacional, bem como institutos cujo earater de fontes da disciplina ainda é objeto de polémica na douttina. Quadro 1, Fontes materiais ¢ fontes formais FONTES FONTES MATERIAIS FORMAIS L + Elementos ou motivos que levam ao apareci- | - Formas de expresso dos valores resguardos mento das normas juridicas pelo Direito ‘> Fundamentos das normas, de cunho filosdfico, a i > Processos de elaboragao das normas sociolégico, politico etc. 2. FONTES FORMAIS DO DIREITO INTERNACIONAL As fontes formais do Direito Internacional Piblico surgiram a0 longo da histéria ¢ foram inicialmente consolidadas no artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justica (CU)).* Entretanto, 0 Estacuco da ClJ apresenra uma lista que abrange apenas algumas das fontes do Direito Internacional ¢, nesse sentido, néo configura um rol exaustivo, que esgota o conjunto 6, SOARES, Guido Fernando Silva, Curso de direlto internacional publico, p. 54. 7. DINK, Nguyen Quoc; PELLET, Alain; DAILLER, Patrick. Direfto internacional puibico, p. 101. 8. Cabe destacar que o Estatuto da CU fol antecedido pelo Estatuto da Corte Permanente de Justiga internacional (CPA!) tribunal internacional que antecedeu a Cl ¢ cujo Estatuto jé incluia esse rol de fontes. 60 FONTES 00 DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUGAO de fontes formais do Dircito das Gentes e que impede que a dinamica da sociedade internacional revele a existéncia de outras fontes. Desse modo, dividimos as fonces formais do Direito Internacional em fontes estatuvirias (aquelas que constam do artigo 38 do Estaruto da ClJ) e extraestarutérias (as que nfo aparecem centre as Fontes indicadas no Estacuto da CI). 2.1 Fontes estatutarias do Direito Internacional: 0 artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiga. O artigo 38 do Estaruto da Corte Internacional de Justia (Cl)) indica a existéncia das se- guintes fontes de Direito Internacional: Antigo 38. 1.4 Corte, ena fungio & decidir de acordo com o direito internacional acs controvérsias que lhe forem submetidas, aplicand: 4) as convenes internacionais, quer genais, quer especiats, que extabelepam regnss, expresamente reconbecidas pelos Estados lirgantes: 1) 0 costume internacional, coma prova de uma préica geral aceita como sendo o direitos 4) 0% prinoipios gers de direito, rconbecides pela nacées civilicadas 4) sob ressalva da disposigio do Artigo 59, as decisiesjudicidvias e a doutrina dos jurictas mais qualificados das diferentes nagées, coma meta duiliar part & determinagdo das regras de dreit?. 2.A presente disposigdo ndo prejudicard a faculdade da Corte de decidir uma questéo ex aeguo et bono, se as parte com isto concordarem. ATENCAO: o Estatuto da Corte Internacional de Justica emprega o termo “convencao” para refe- rir-se a0 tratado, Como verificaremos posteriormente, a convencao é apenas um tipo de trata- do. Em todo caso, na pratica internacional, o termo “convencao” é frequentemente empregado 1 como sindnimo de tratado. © Estatuto da Corte elenca como fontes do Direito Internacional os tratados, 0 costume, 05 principios gerais do Direito, a jutisprudéncia e a doutrina. Por meio da expressto ex aequo et bono, o Estacuto da Cl) refere-se também a equidade come meio que pode determinar juridicamente a solucéo de conflitos envolvendo a interpretagdo € « aplicagio do Direito Internacional." ‘A importancia do Estaruro para a definigio das fontes de Direito das Gentes fundamenta-se no fato de que quasc todos os Estados se compromezeram em observar as suas disposigdes, pelo 9, Dartigo 59 do Estatuto da Cl reza que “A decisdo da Corte s6 seré obrigatéria para as partes ltigantes e ¢ respeito do caso em questio”. 10. _Deixamos de incluira equidade como fonte estatutéria do Direito Intemacional, por conta da controvérsie que hé quanto a seu cardter de forte. A respelta, ver o item 10 deste capitulo. 61 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO que, com isso, acabam reconhecendo a relevancia dos elementos indicados em scu artigo 38 para a disciplina das relagde iternacionais. 2.1.1. O problema da hierarquia das fontes do Direito Internacional © Bstatuto da Core Internacional de Justiga nao determina a hierarquia das fontes de Direito Internacional, e a mera ordem em que essas fontes aparecem no texto do artigo 38 nao define a primazia entre clas. Com isso, a definigao da hierarquia das fontes de Direico das Gentes € tarefa a qual a doutrina vem se dedicando, em debates marcados pela falta de consenso. Parte da doutrina confere preferéncia aos tratados, por ser uma fonte escrita, cujas notmas podem, por isso, se revestir de maior clareza ¢ precisio." Entretanto, esse entendimento nao é undnime, como revela Guido Soares, que defende que nao pode haver hierarquia entre as fontes de Direito Internacional, por conta da estrcita relacéo que estas mantém entre si, mormente no momento da aplicacao de uma norma, quando a regra de um tratado pode ser incerpretada & luz do costume ¢ da doutrina, por exemplo."? E nesse sentido que Celso de Albuquerque Mello, em entendimento muito difundido, afirma que nao hd hierarquia entre tratado ¢ costume, nao prevalecendo nenhum deles sobre o outro. Com isso, um tratado mais recente pode derrogar ou modificar um costume, e vice-versa.!* O entendimento de que nao hi hierarquia de fontes ¢ majoritatio na doutrina. De nossa parte, porém, entendemos que, no atual estégio da Ciéncia Juridica, as normas s6 podem ser aplicadas & luz dos principios que norteiam o ordenamento a que pertencem. Por isso, defendemos que os princfpios gerais do Direito e os principios gerais do Direito Internacional deveriam ter precedéncia sobre as demais fontes do Dircito das Gentes, por conterem os preceitos que consagram os principais valores que a ordem juridica internacional pretende resguardar e que, destarte, orientam a construgao, interpretagao e aplicacéo de todo o arcabougo normativo do Direito das Gentes. Em todo caso, é inegivel 2 importincia prética dos tratados dentro do rol das fontes de Direito Internacional, evidenciada pela grande quantidade de instrumentos do tipo nas relagoes internacionais, por sua maior notoriedade e por seu papel na regulamentagdo da maior parte das matérias mais importantes do Direito das Gentes. Dentre os facores que levam a que os tratados sefam a fonte mais empregada no Direito In- ternacional na atualidade indicamos: seu caréter mais democratico, decorrente do fato de que os Estados participam diretamente em sua elaboracao, por meio de um proceso de elaboragio que conta, em muitos casos, com o envolvimento dos parlamentos nacionais, ¢: a forma escrita, que confere maior preciso aos compromissos assumidos, credenciando os tratados como uma fonte 11. _Nesse sentido: MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Dreito internacional piiblico: parte geral, p.28, DELL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional pablico, p. 38 12, SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direite internacional publica, p. 57-58, 13. MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional publica, v1, p. 258. 62 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO: INTRODUGAO que pode melhor contribuir para a regulamentagdo do complexo ¢ sensivel Ambito das relagées internacionais!*, ATENCAO: em todo caso, enfatizamos que a importancia dos tratados é prética e nao necessaria- mente confere a estes o cardter de fonte de hierarquia superior no Direito das Gentes. 1 Por fim, advertimos que nao se deve confundir “hierarquia de fontes” com “hierarquia de normas”. Com efeito, as fontes referem-se as formas de manifestagao das disposiges do Direito, ao paso que as normas consagram os préprios modelos de conduta esperados dentro de uma sociedade. 2.2 Fontes extraestatutérias: as outras fontes do Direito Internacional © Estatuto da ClJ nao exclui a existéncia de outras Fontes, algumas das quais comuns a0 Direito interno ¢ outras decorrentes unicamente da dindmica das relag6es internacionais. Essas fontes adicionais so os principios getais do Dircito Internacional, os atos unilaterais dos Estados, as decisdes das organizagées inrernacionais e o soft law, fendmeno relativamente recente, mas que também jd comega a exercer influéncia sobre o desenvolvimento da vida da sociedade internacional. Também néo fica exclufda a importincia da analogia, da equidade e do jus cogens para a regulagéo da vida na sociedade internacional. Como afirmamos anteriormente, 0 cariter de fonte de algumas das fontes extraestatuté- rias, da analogia, da equidade ¢ do jus cogens nao € undnime na douttina, o que indicaremos a seguir. Internacional Privado, mas no de Direito Internacional Piblico. | ATENCAO: o contrato internacional e a /ex mercatoria podem ser consideradas fontes de Direito 1 t { 2.3 Classificagio ‘A doutrina também classifica as fontes em principais e acessGrias, ou auxiliares. As fontes principais sio aquelas que efesivamente revelam qual o Direito aplicavel a uma relacio juridica. Hi as fontes acessorias ou auxiliares so as que apenas contribuem para elucidar 0 contetido de uma norma, O artigo 38 do Estatuto da CI determina que a jurisprudéncia ¢ a doutrina sio “fontes auxiliares", qualificando-as expressamente “como meio auxiliar para a determinagao das regras de direito”. As demais fontes sio principais. As fontes também distinguem-se em convencionais e néo-convencionais.”® 14, MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional puiblico, v. 1, p. 330-331, 415. _ Nesse sentido: SEITENFUS, Ricardo. Introdugdo ao direito internacional puibico, p. 38. PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO As fontes convencionais resultam do acordo de vontades dos sujeitos de Direito das Gentes pertinentes e abrangem especialmente os tratados, As nfo-convencionais compreendem todas as demais e originam-se da cvolucao da realidade internacional, como o jus cogens, ou da acho unilateral de sujeitos de Direito Internacional, como a jurisprudéncia, os atos dos Estados e as decisoes das organizacées internacionais. ATENCAO: a doutrina divide-se quanto a classificaae do costume, havendo quem entenda que a norma costumeira é convencional, por ser fruto do consentimento tacito dos sujeitos de Direito Internacional, e quem defenda que o costume nasce da evoluco da sociedade internacional e 6, portanto, fonte ndo-convencional.. Por fim, como afirmamos anteriormente, dividimos as fontes em fontes estacurarias (cons- tantes do artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiga) ¢ fontes extraestatutirias (nio inclufdas no rol do artigo 38 do Estaruto da Corte Internacional de Justica).. Quadro 2: fontes formais do Direito Internacional FONTES DO ARTIGO 38 DO ESTATUTO DAC | OUTRAS FONTES (FONTES EXTRAESTATUTA- (FONTES ESTATUTARIAS) RIAS) + Tratados + costume > Atos unilaterais de Estados + Principios gerais do Direito e prineipios gerais do Direito internacional Publico > Jurisprudéncia + Doutrina + Atos unilaterais de organizagbes internacio- nais/decisOes de organizagdes internacionais > Soft iaw Quadro 3. Fontes principais ¢ fontes acessérias FONTES PRINCIPAIS FONTES ACESSORIAS OU AUXILIARES > Revelam 0 Direito aplicavel diretamente a uma relagao juridica +> Contribuem para elucidar 0 contetido de uma norma e aplicé-la > Todas as fontes formais, exceto a jurisprudén- clae a doutrina + Jurisprudéncia e doutrina Quadro 4, Fontes convencionais ¢ fontes nao-convencionais FONTES CONVENCIONAIS FONTES NAO CONVENCIONAIS + Fruto de acordo de vontades > Fruto da evolugdo da realidade internacional + Tratados e, para parte da doutrina, o costume > Todas.as demais, inclusive, para outra parte da doutrina, o costume 64 FONTES 00 D/REITD INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUCAO, 3. TRATADO Os tratados sto acordos escritos, concluidos por Estados ¢ organizagées internacionais com vistas a regular o tratamento de temas de interesse comum. Apesar de existirem desde a Antiguida- de, comecaram a firmar-se como fonte por exceléncia do Direito Internacional apenas a partir da Paz de Vesifilia, substituindo paulatinamente o costume como fonte mais empregada no Direito das Gentes. Dada, portanto, a importancia dos tratados, examinaremos seus diversos aspectos relevantes em capitulo especifico deste livro (Parte I - Capitulo II). 4, COSTUME INTERNACIONAL O artigo 38, par. 1, “b”, do Estatuto da CI] define o costume internacional como “uma pritica geral aceita como sendo o direito”, Poderiamos conceituar com maior precisio o costume internacional como a pritica geral, uniforme e reiterada dos sujeitos de Direito Internacional, reconhecida como juridicamente exigivel. A formagio de uma norma costumeira internacional requer dois elementos essenciais: um, de cardter material e objetivo; o outro, psicoldgico e subjetivo. O primeiro é a pritica ge- neralizada, reiterada, uniforme ¢ constante de um ato na esfera das relagées internacionais ou no Ambivo interno, com reflexos externos. [a inverterata consuetudo, que constitui o contetido da norma costumeira. O segundo elemento a convicgdo de que essa pritica ¢ juridicamence obrigatéria (opinio juris)."6 Em regra, 0 processo de consolidacéo de uma pratica costumeira antecede & apinio juris. Por outro lado, a mera reiterasao de atos configura apenas uso, visto que o elemento subjetivo é também necessdrio para dar forma ao costume, A generalizagio ndo se confunde com a unanimidade, De fato, 0 costume nao precisa ser objeto da accitagéo unanime de um grupo de Estados, bastando que, no espago em que a regra ¢ entendida como costumeira, um grupo amplo ¢ representativo reconheca sua obrigatoriedade'”. | ATENCAO: recordamos também que a generalizacdo ndo significa que o costume deva ser global ‘ou universal, podendo se tratar de um costume regional ou empregado apenas nas relacdes laterais. Entrctanto, 0 tema é polémico na doutrina, que discute também a possibilidade de que 2 norma costumeira vincule entes que nao concordam com sua juridicidade. Partindo da premissa volumarista de que o fundamento do Direito Internacional repousa apenas na vontade dos atores internacionais, 0 costume seria fruto de um acordo cicico entre su- jeitos de Direito Internacional, diferenciando-se do tratado no sentido de que este existe a partir 16. Também descrita pela doutrina como opinio juris sive necessitatis, que significa “a conviceio do direito ou da necessidade” 17, Nese sentido: MATTOS, Adherbal Meira. Direito internacional publico, p. 27. SEITENFUS, Ricardo. Introducéo ao direlto internacional publica, p. 56. 65 PARTE | ~DIREITO INTERNACIONAL POBLICO de uma manifestacéo expressa de acordo entre certas partes." Nesse sentido, 0 costume valeria apenas entre aqueles entes que implicicamente concordassem com certa pritica e aceitassem seu carter juridico, Caso partamos da premissa de que o costume requer aceitacio, a norma costumeira pode set accita de mancita expressa ou ticita”. Por outro lado, o entendimento objerivista vé o costume como uma manifestagao sociolégica, que obrigaria erga omnes quanto mais difundido fosse, vinculando inclusive os Estados que com ele nao concordaram. Em todo caso, existe a possibilidade de que um sujeito de Direito Internacional no reconhega expressamente um costume existente ou em gestagio, traduzida na figura do persistent objector,” expresso cuja melhor tradugao até agora encontrada na doutrina brasileira é “objetor persisten- te”, embora acteditemos que a versio mais aproximada da expressio em lingua portuguesa seria “opositor continuo”. A parte que invoca norma costumeira deve também provar sua existéncia, Durante muitos séculos, 0 costume foi a principal fonte de Direito Internacional. Entretanto, as normas costumeiras perderam parte da importincia de que antes se revestiam em beneficio do tratado, que oferece maior estabilidade as relagdes internacionais por varios motivos. Com feito, 0 tratado adota a forma escrita, o que confere mais preciséo ao conteiido normarivo. Em segundo lugar, nao é possivel que o Estado ou organismo internacional denegue haver celebrado tum tratado do qual é parte, ao passo que, em tese, um desses entes pode alegar no reconhecer determinado costume. Por fim, a tarefa de provar a existéncia do costume pode ser complexa. Com isso, o costume vem-se integrand ao processo de codificacéo do Direito Internacional, por meio da incorporasao de preceitos costumeiros a tratados. Exemplo disso é a Convencao de Viena sobre Relagies Diploméricas, de 1961, que reuniu regras relativas & atividade diplomética que cram objeto, hé séculos, do costume internacional. Em todo caso, 0 costume continua cumprindo papel relevante no Dircito Internacional, regulando temas como a imunidade de jurisdi¢ao dos Estados e a reciprocidade. Além disso, 0 costume contribui pata a elucidacio e aplicagéo do contetido de tratados. Por fim, o costume & iais sensivel ¢ lexivel & evolucéo das relagées internacionais, a0 contrério dos tratados, que, por requerem um processo de elaboragaio que pode ser longo, dificil e complexo, podem impedir que o universo juridico possa atender mais rapidamente as demandas da sociedade internacional. © costume extingue-se: a) pelo desuso, quando dererminada prética deixa de ser reiterada, generalizada ¢ uniforme dentro de um determinado grupo social apés certo lapso temporal, ou quando se perde a conviegao acerca de sua obrigatoriedade; b) pelo aparecimento e afirmagao de tum novo costume que substitua costume anterior, 0 que ocorre quando a dindmica internacional impée novas praticas mais consentineas com a realidade e; c) pela substituigio do costume por 418, _Nesse sentido: DELL’OLMO, Florsbal de Souza, Curso de direitointernacionol pablico,p. 44; AMARAL JUNIOR, Albero do. Monual do condldoto:Dveto Internacional, . 288-180, 19, MAZZUOU, Valérlo de Oliveira. Direito internacional pdblico: parte geral, p. 29. 20. Arespelto: NASSER, Salem Kikmat. Fontes e normas do dlrelto internacional, p. 74-75. FONTES 00 OIREITO INTERNACIONAL PUBLICO:INTRODUGKO tratado intemacional que incorpore as normas costumeiras, dentro de um processo conhecido como “codificagao do Direito Internacional”, 5. DECISOES JUDICIARIAS: A JURISPRUDENCIA INTERNACIONAL ‘A jurisprudéncia internacional é 0 conjunto de decisées judiciais reiteradas no mesmo sen tido, em questoes semelhantes, proferidas por érgios internacionais jurisdicionais de solugio de concrovérsias relativas a matéria de Direito Internacional. A jurisprudéncia internacional otigina-se especialmente de cortes internacionais, que comecam ase difundir no cendrio internacional, como a Corte Internacional de Justiga (CI), o Tribunal Penal Internacional (TPI) ¢ a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Entetanto, um entendimento que efetivamente considere o papel exercido pelos mecanismos de aplicagéo do Direito das Gentes na elucidagao do teor das normas internacionais deveria incluir também, como capazes de criar jurisprudéncia internacional, entidades que nao sejam cortes ou tribunais, como os foros arbitrais ¢ as comiss6es ¢ comités encarregados de monitorar a execugio de determinados tratados. E o caso, por exemplo, da Comissdo Interamericana de Direitos Hu- manos, érgio nfo jurisdicional vinculado 4 Organiza¢4o dos Estados Americanos (OBA), cujas decisées sio, porém, fundamentadas em norma juridica ¢ que acabam orientando outras decisées. Hé polémica no rocante ao papel das decis6es judiciais dentro do Direito Internacional. Com efeito, a teor do artigo 38 do Estatuto da Clj, as decisées judiciais so consideradas apenas como fontes auxiliares do Direito das Gentes, meramente contribuindo para a aplicagio das normas juridicas ou, nos termos precisos do Estatuto da ClJ, como “meio auxiliar para a determinagio das regras de direito”, Na doutrina, Mazzuoli afirma que a jurisprudéncia nao é fonte do Direito porque “nao cria © direito, mas sim o interpreta mediante a reiteracao de decisées no mesmo sentido. Sendo ela uma sequéncia de julgamentos no mesmo sentido, nada mais é do que a afirmagio de um direito preexistente, ou seja, sua expresso. Além do mais, as decisées de tribunais no criam normas propriamente juridicas, 0 que demanda abstragéo e generalidade, requisitos sem os quais no se pode falar na existéncia de uma regra de dircito stricto sensu”?! Em qualquer caso, as decisécs judiciais também criam direito, ainda que apenas entre as partes em litigio. Nesse sentido, enfatizamos que o artigo 59 do Estatuto da Cl] determina que “A decisio da Corte s6 sera obrigat6ria para as partes litigantes ¢ a respeito do caso em questo”. Outrossim, com 0 aumento das atividades das cortes e tribunais intetnacionais, vem ficando cada vez mais claro que os julgados anteriores servem como referéncia para julgamentos posteriores. Em todo caso, entendemos que no mundo atual, com toda a complexidade evidente das relagdes sociais e com a dificuldade dos elaboradores das normas em acompanhar a evolugéo das sociedades, nao possivel olvidar o papel das decisées judiciais como parametro para efetivamente orientar a vida dos poves. Por fim, é importante recordar que o Direito Internacional também prescteve condutas a serem observadas no ambito interno dos Estados. Com isso, as normas internacionais podem 21. MAZZUGL, Valério de Oliveira. Direito internacional publica: parte geral, p. 34. 67 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PLBLICO fundamentar pretensées examinadas pelos Judicidtios nacionais, que criarao jurisprudéncia interna sobre preceitos do Direito das Gentes. No Brasil, por exemplo, € comum encontrar pronuncia- mentos dos tribunais superiores fundamentados em normas de tratados, 6. DOUTRINA O artigo 38 do Estacuto da CI) inclui a “doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nacées” como fonte, ainda que auxiliar, do Direito Internacional. Acdoutrina é 0 conjunto dos estudos, ensinamentos, entendimentes, teses e pareceres dos estudiosos do Diteito Internacional, normalmente constantes de obras académicas ¢ de trabalhos de instituigées especializadas, como a Comissio de Direito Internacional das Nagées Unidas. No passado, a doutrina exerceu papel relevante para a propria criagao do Direito Inter- nacional, como demonstram os trabalhos de especialistas como Francisco de Vitéria ¢ Hugo Grécio. Atualmente, a principal fungao da doutrina é contribuir para a interpretagio e aplicagio da norma internacional, bem como para a formulagio de novos principios e regras juridicas, indicando as demandas da sociedade internacional, os valores que esta pretende ver resguar- dados, a opinio juris dos sujeitos de Direito Internacional etc. Enfatizamos, porém, que nao cabe 4 doutrina regular diretamente condutas, visto que os enunciados doutrindrios nao sio vinculantes por si sds. Em sintese, 0 objeto da doutrina, segundo Yepes Pereira, é: “esmiucar a matéria em seus mai profundos e reservados reconditos, a fim de delinear seus insticutos e conceitos, fixando os limites de sua aplicagao e a maneira mais eficaz de fazé-lo"™. Como 0 Direito Internacional interage com o Direito interno, incluimos também, na dou- trina intemnacionalista, os estudos dos juristas de outras éreas que tenham relacéo com o Direito das Gentes. 7. PRINCIPIOS GERAIS DO DIREITO Os prineipios gerais do Direito sto as normas de carter mais genérico e abstrato que in- corporam os valores que fundamentam a maioria dos sistemas juridicos mundiais, orientando a elaboracao, interpretagao ¢ aplicagio de seus preceitos e podendo ser aplicadas diretamente &s relagées sociai: Sio exemplos de prine{pios gerais do Direito pertinentes ao Direito Internacional: 0 primado da protecio da dignidade da pessoa humana; o pacta sunt servanda; a boa-Fé; 0 devido processo legal; a res judicata ¢ a obrigacdo de reparacao por parte de quem cause um dano. ‘Accxpressio “nagdes civilizadas” foi objeto de critica por seu “carter etnocéntrico”, ou seja, pela referéncia a preceitos formulados no mundo ocidental. Hoje, os principios gerais do Dizeito abrangem aquelas normas estveis que incorporam valores reconhecidos na maior parte das ordens juridicas existences no mundo. 22, PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional paiblico, p. 42. 23. AMARALJUNIOR, Alberta do, Manual do candidato: Direito internacional, p. 196, 68 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO:INTRODUCRO 8. PRINCIPIOS GERAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO. Os prinefpios gerais do Direito Internacional Pablico so as normas de caréver mais genérico e abstrato que alicercam ¢ conferem coeréncia a0 ordenamento juridico internacional, orientando a elaboragio e a aplicagio das normas internacionais ¢ a ago de todos os sujeitos de Direito das Gentes. Dentre os principios gerais do Direito Internacional indicamos: a soberania nacional; a nao-intervengao; a igualdade juridica entre os Estados; a autodeterminacao dos povos; a cooperagéo internacional; a solugdo pacifica das controvérsias internacionais; a proibicéo da ameaga ou do uso da forca; € © esgotamento dos recursos internos anves do recurso a tribunais internacionais. Outro principio, que adquire relevo cada vez maior, a ponto de ser visto por parte da doutrina como © mais importante dentre todos, é 0 da prevaléncia dos direitos huma- nos nas relacées internacionais. Um rol importante de principios gerais do Direito das Gentes é encontrado nos artigos L ¢ 2 da Carta das Nagdes Unidas (Carta da ONU), que incluem valores 20s quais praticamente toda a humanidade atribui importancia maior, visto que as NagGes Unidas retinem quase todos 0s paises do mundo na atualidade. 9. ANALOGIA Mazzuoli definiu a analogia como “a aplicagio a determinada situacao de fato de uma norma juurfdica feita pata set aplicada a caso parecido ou semelhante”, apontando-a como resposta a falta ou inutilidade de preceito existente para regular caso concreto."* A analogia refere-se, portanto, a forma de regular relacdes sociais que nao sejam objeto de norma juridica expressa por meio do emprego de regras aplicaveis a casos semelhantes. Parte da doutrina entende que a analogia ¢ fonte de Direito Internacional. Entretanto, para parte da dourrina de Direito em geral, a analogia é apenas meio de integragéo do ordenamento juridico. 10. EQUIDADE Accquidade é 2 aplicagao de consideragoes de justiga 2 uma relagio juridica, quando nfo exisra norma que a regule ou quando o preceito cabivel nao ¢ eficaz para solucionar, coerentemente ¢ de maneira equinime, um conflito. E, como afirma Mazzuoli, “a aplicacao dos principios de justica a.um caso concreto sub judice”.? O artigo 38. par. 2°, do Estatuto da CI] consagra a equidade como ferramenta que pode levar 2 solugao de conflitos intemnacionais, ao determinar que 0 rol de fontes de Direito Internacional cexistentes “nao prejudicard a faculdade da Corte de decidir uma questi ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem” 24, MAZZUOL, Valério de Oliveira. Direito internacional pdblico: parte geral,p. 37 25, Nese sentide: MAZZUOLI, Valério de Oliveira, Direito internacional piblico: parte geral, p.37-38, 69 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Portanto, 0 Estatuta da Cl] autoriza a Corte, ao examinar um litigio, a afastar a aplicacio de uma norma que incida sobre um caso conereto, decidindo 0 conflito com base apenas em consideracées de justiga. 1 ATENCAO: enfatizamos, em todo caso, que a equidade so podera ser empregada a partir da anu- ' éncia expressa das partes envolvidas em um litigio. Parte da doutrina nao recanhece a equidade como fonte formal de Dircito Internacional, a exemplo de Celso de Albuquerque Mello, que a qualifica como “fonte material do Direito Internacional”.” Parte importante da doutrina juridica em geral percebe a equidade como mero elemento de integracéo.#¥ Em todo caso, a equidade é também principio geral do Direito, visto que as normas juridicas devem ser sempre aplicadas & luz da necessidade de se fazer justica. 11. ATOS UNILATERAIS DOS ESTADOS Partindo-se da premissa voluntarista de que as normas de Dircito Internacional se funda- mentam no consentimento dos Estados e das organizagées internacionais, os aos unilarerais de centcs estatais nao poderiam ser fontes de Direito das Gentes. intretanto, a dindmica das rclag6es internacionais revela que atos cuja existéncia tenha dependido exclusivamente da manifestagdo de um Estado tetminam por influenciar as relagées is, gerando consequéncias juridicas independentemente da aceitacio ou envolvimento de ousros entes estatais. incernaciona Os atos unilaterais classificam-se em expressos ¢ técitos. Os atos expressos aperfeigoam-se por meio de declaragio que adote a forma escrita ou a oral. Os ticitos eonfiguram-se quando os Estados implicitamente aceitam determinada situa¢ao, normalmente pelo siléncio ou pela pritica de acées compativeis com seu objeto. Apresentamos a seguir alguns exemplos de atos unilaterais dos Estados, em lis exclui outras possibilidades que possam ocorrer nas relacdes intemacionais, a que no + protesto: manifestacfo expressa de discordancia quanto a uma dererminada situacio, destinada ao transgressor de norma internacional e voltada a evitar que a conduta objeto do provesto se uansforme em norma. Visa a resguardar os direitos do Estado em face de pretensoes de outro Estado. Exemplo: protestos por ocasiio de golpes de Estado, que violam normas in ternacionais que decerminam © respeito 4 democracia; + notificacdo: ato pelo qual um Estado leva oficialmente ao conhecimento de outro ente esta ral fato ou situacéo que pode produzir efeitos juridicos, dando-the “a necesséria certeza da 26, Também nesse sentido: NASSER, Salem Hikmat. Fontes e normas do direito intereacional, 9. 62 27. Vee: NASSER, Salem Hikmat. Fontes & normas do direito internacional, p. 62. MELLO, Celso de Albquerque. Curso de diveito internacional piblico, v. 4, p. 330-331, 28, Nese sentido: REALE, Miguel. Lites preliminares de direito, p, 294-295, 70 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO: INTRODUGAO informagio”. £. entendido como “ato condicéo”,” ao qual a validade de agbes posteriores esté vinculada, Exemplos sio as notificagées de estado de guerra; © rentincia: a desisténcia de um diteito, que é extinto. A bem da seguranga juridica e da estabilidade das relagdes internacionais, a rentincia deve ser scmpre expressa, nunca tacita ot presumida a partir do mero nfio-exercicio de um direitos * — demtincia; ato pelo qual o Estado se desvincula de um tratado; * — reconhet situac governo; ento: ato expresso ou ticito de constatagio € admissio da existéncia de certa 0 que acartete consequéncias juridicas, Exemplo: reconhecimento de Estado ¢ de + promessa: compromisso juridico de adogio de certa condutas + ruptura das relacdes diplomiticas: ato que suspende o dilogo oficial com um Estado nas relagées internacionais. ATENCAO: no confundir a dendncia com a rentincia. A primeira refere-se ao desligamento de um tratado. A segunda, a desisténcia de um direlto. Entendemos que nao ha nenhuma diivida de que os avos unilaterais dos Estados séo fontes de Diteito Internacional, desde que nao configurem violacéo do principio da nfo-intervengéo em assuntos internos de outro Estado, caso em que estario maculando principio basico do Direito das Gentes e da convivéncia internacional como um todo. 12. DECISOES DE ORGANIZACOES INTERNACIONAIS [As decisoes de organizacées internacionais so os resultados das atividades de entidades como a Organizagio das Nagées Unidas (ONU), que se materializam em atos que podem gerar cfeitos juridicos para o organismo que o praticou e para outros sujeitos de Direito Internacional, Sio também denominadas de “atos unilaterais de organizagées internacionais” ou de “atos das organizagées internacionais”. ‘As decisées das organizacées internacionais s4o reguladas pelas normas que regulam o fun- cionamento dessas entidades, constantes de tratados que permitem que o organismo pratique seus préprios atos e que estabelecem a denominagéo destes, as condigées para scu aperfeicoamento & suas possiveis consequéncias juridicas Os atos das organizag6cs internacionais podem ser internos, aplicando-se apenas ao funcio- namento da entidade, ou externos, voltados a tutelar os direitos ¢ obrigagbes de outros sujeitos de Direito Internacional. Podem resultar das deliberagSes dos Estados-membros da entidade ou dos érgios do organismo, desde que sejam competentes para tal. Por fim, podem ou no obrigar seus destinatirios, podendo, portanto, nio se revestir de carter vinculante. 23, DELU'OLMO, Florisbal de Souza, Curso de direito internacional puiblico, p. 48 30. _SEITENFUS, Ricardo: Introdugdo ao direito internacional pubblico, p. 58. mn PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLIC Os organismos internacionais podem praticar os mesmos atos unilarerais que os Estados. Entretanto, hd decisées tipicas das organizagocs internacionais, como os atos prepatatérios da negociagao de tratados, a convocacio de reunides internacionais, e, especialmente, as recomen- dagées € resolugoes. Ha dois tipos de resolucoes: as obrigatérias (ou impositivas) ¢ as facultativas. As obrigatérias vinculam os sujeitos de Direito Internacional, a exemplo das recomendagées da Organizagio Internacional do Trabalho (OIT), que criam para os Estados a obrigacéo de legislar a respeito da matéria de que tratam no prazo de um ano, e das decisées do Consclho de Seguranca da ONU, executiveis pelos Estados nos termos do artigo 25 da Carta das Nacées Unidas. As facultativas tém carter de recomendagio, consistindo apenas em propostas de ago, possuindo forsa moral ¢ politica, mas nao jurfdica, a exemplo das resolugées da Assembleia Geral da ONU. Em alguns casos, 0 carter vinculante ou nao do ato estard previamente determinado em noxma internacional. Entretanto, ha hipéteses em que somente o exame do caso concreto permitir4 apurar se a decis4o do organismo é ou nao obrigatéria. Exemplo de resolugio vinculante ¢ a Resolugo n° 1.874, de 12 de junho de 2009, que determina medidas voltadas a impedir a proliferacéo de armas nucleares, biolégicas ¢ quimicas na Repiiblica Popular Democratica da Coreia (Coreia do Norte). A propésito, tal Resolucio foi objeto, no Brasil, do Decreto n° 6.935, de 12/08/2009, voltado a conferir-lhe a devida execugio em territério nacional, proibindo 0 comércio de armas ¢ materiais relacionados entre o Brasil a Coreia do Norte, autorizando a realizacéo de inspegées em embarcacées destinadas aquele pais oti dele provenientes ¢ restringindo as atividades financeiras da Reptiblica Popular Demoeritica da Coreia e exigindo a cessacio de todas as atividades nucleares e balisticas daquele pafs.* Allis, as resolugdes deverio ser executadas no Brasil por meio de Decteto presidencial, do que é exemplo também a Resolugao 1373/2001, do Conselho de Seguranga das Nag6es Unidas, que visa a escabelecer medidas para 0 combate ao tertorismo e que foi objeto do Decreto 3.976, de 18/10/2001, o qual determinava texcualmente, em seu artigo 1°, que “Ficam as autoridades brasileiras obrigadas, no ambito de suas respectivas atribuigées, ao cumprimento do disposto na Resolugdo 1373 (2001), adotada pelo Conselho de Seguranca das Nagées Unidas em 28 de serembro de 2001, anexa ao presente Decteto”.? De nossa parte, defendemos que os atos das organizagées internacionais, quando vinculantes, sao fontes de Dircito Internacional, o que nio exclui, em todo caso, a importancia de resolugées nao vinculances como parimetros interpretativos, como elementos de relevancia politica e moral e como orientagées para a futura elaboracio de normas juridicas. 13. NORMAS IMPERATIVAS: O JUS COGENS. A nogio de jus cogens € definida pelo artigo 53 da Convengio de Viena sobre o Direito dos ‘Tratados, que estabelece que “E nulo um tratado que, no momento de sua concluséo, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convencio, 31, A respeito: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Informative S55, Brasilia, DF, 10 a 14 de agosto de 2009. Acerca das resolucées, ver também o Capitulo Vil da Parte | (OrganizagSes Internacionai 32. Arespeito: BRASIL. Paldcio do Planalto. Legislacdo. Decreto 3.976, de 18.10.2001, Disponivel em . Acesso em 31/01/20145 FONTES 00 IRETTO INTERNACIONAL PUBLICO:INTRODUGKO uma norma imperativa de Dircito Internacional geral é uma norma aceita ¢ reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo como norma da qual nenhuma derrogagao 6 permitida e que sé pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza”. A norma de jus cogens € um preceito ao qual a sociedade internacional atribui importinca maior e que, por isso, adquire primazia dentro da ordem juridica internacional, conferindo maior protecio a certos valores entendidos como essenciais para a convivéncia coletiva. ‘As normas de jus cogens séo também conhecidas como “normas imperativas de Direito In- ternacional” ou “normas peremprérias de Direito Internacional”. ‘A principal caracteristica do jus cogens é a imperatividade de seus preceitos, ou seja, a im- possibilidade de que suas normas sejam confrontadas ou derrogadas por qualquer outra norma internacional, inclusive aquelas que tenham emerpido de acordos de vontades entre sujeitos de Direito das Gentes, O jus cogens configura, portanto, restricao direta da soberania em nome da defesa de certos valores vitais. Ourra caracteristica imporcante do jus cogens €a aplicabilidade de suas normas para todos os Estados, o que se deve a sua imporcancia maior para 0 desenvolvimento da vida da comunidade internacional. O artigo 53 da Convencéo de Viena sobre 0 Direito dos Tratados de 1969 reza que € nulo 6 tratado que, no momento de sua concluséo, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. De nossa parte, entendemos que essa determinacéo da Convengio de Viena € despropor- cional ¢ desprovida de razoabilidade, por abrir a possibilidade de que um rratado inteiro perca a validade quando apenas um de seus preceitos estd em confrento com normas de jus cogens. Dessa forma, entendemos que seria mais razodvel que apenas a norma que violasse o jus cagens tivesse sua aplicagio afastada, evitando a extingao de todo 0 tratado."® O rol das normas de jus cogens néo é expressamente definido por nenhum watado. Aliés, nem mesmo a Convengao de Viena de 1969 fixa essas normas, limitando-se a proclamar a sua existéncia e seu carter de principios e regras que restringem a capacidade de celebrar tratados dos Estados ¢ das organizacées internacionais. Com isso, a definigao do contetido do jus cogens ¢ fruto de um processo histético, politico € social, dentro do qual a sociedade internacional reconhece em certos valores maior imporcincia para a coexisténcia entre seus membros. Dentre as normas de jus cogent encontram-se aquelas voltadas a tratar de temas como diteitas humanos, protecio do meio ambiente e promogio do desenvolvimento sustentével, paz e seguranca internacionais, Direito de Guerra e Direito Humanitirio, proscrigao de armas de destruigéo em massa e direitos ¢ deveres fundamentais dos Estados. 33, _Enfatizamos, porém, que esse é um entencimento nosso, que ainda no encontra respaldo ern norms internacional diversa nem, pelo que sabemos, na jurisprudéncia dos tribunals inteacionais. Trata-se, portanto, apenas de visdo doutrindria e critica do Direito Internacional positive. 73 PARTE | ~DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO As normas de jus cogens, como afirma Amaral Jiinior>* nao se confundem com 0 Direito Natural, embora tenham clara inspiracio jusnaturalista, Nao se tratam, pois, de preceitos imuté- veis, mas sim de prinefpios e regras que podem mudar no tempo € no espago, de acordo com as transformagSes politicas, econémicas, sociais e culturais, bem como em vista das demandas mais legitimas da sociedade internacional. Nesse sentido, as normas de jus cogens podem ser modificadas, mas apenas por outras nor- mas da mesma natureza, conferindo certa estabilidade & ordem internacional 20 redor de certos valores, mas impedindo 0 “engessamento” do desenvolvimento do Diteito Internacional, dando a este condigées de responder & dinamica da sociedade internacional. Com isso, pode-se afirmar que 0 jus cogens possui duas outras caracteristieas: a rigidez, evidenciada na maior dificuldade de alteracéo de seus preceitos, e o contetido variivel. Caso ocorra conflito entre norma de tratado ¢ preceito de jus cogens superveniente, 0 dis- positivo convencional mais antigo é nulo a partic do aparecimento da norma cogente, a teor do artigo 64 da Convencio de Viena de 1969, que determina que “Se sobrevier uma nova norma imperativa de Diteito Internacional geral, qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa norma torna-se nulo e extingue-se”. ATENGAO: a norma de jus cogens superveniente leva a nulidade de precelto anterior apenas a partir de seu aparecimento, no gerando efeitos retroativos nem afetando a validade do acordo quando a norma cogente ainda nao existia. E polémica a necessidade de consentimento dos Estados frente ao jos cogens. Seivenfus, por exemplo, afirma que a norma cogente “prescinde do consentimento dos Estados”, 0 que lhe confere forca erga omnes. De nossa parte, entendemos que condicionar a existéncia das normas de jus cagens & anuiéncia de entes estatais com interesses tao dispares é pér em risco valores essenciais para a convivéncia humana, Entretanto, tal circunstincia deve ser ponderada, no caso concreto, & luz das legitimas demandas dos Estados, que podem ir de encontro a valores que, embora difundidos como es- senciais em determinado contexto histérico, podem, na realidade, apenas servir para esconder determinados interesses. Por fim, é importante ressaltar que as normas de jus cogens nao configuram, pelo menos na atual quadra histérica, uma verdadeira “consticuigao internacional” Entendemos que ainda nao se pode atestar a existéncia de uma “ordem constitucional in- cetnacional” pelo fato de que o fendmeno consticucional é por enquanto, vinculado apenas 20 Esado, comportando 0 eonjunto de normas consideradas fiundamentais para o funcionamento do ente estatal. Cabe, alids, ressalrar que ainda nao existe a figura do “Estado mundial”, Ourrossim, 34, AMARALJUNIOR, Alberto do. Manual do candidato: Direlto Internacional, p.82. 35, _ Nesse sentido: SEITENFUS, Ricardo, Introducdo ao direita internacional publica, p. 24 74 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUGAO entendemos que a ideia de uma ordem constitucional internacional deveria comportar a existéncia de um “poder constituinte internacional”, que ainda no existe. Em qualquer caso, a circunstincia de as normas de jus cogens nao conformarem uma “cons- tituiggo internacional” nao as desqualifica enquanto normas de maior importincia, inclusive & luz da l6gica elementar de que nem tudo o que é mais relevante é constitucional De nossa parte, defendemos que o jus cagens nao é fonte de Direito Internacional. Com efeito, as normas de ju cogens so as normas mais importantes de Dircito Internacional, nao formas de expresso da norma, ¢ aparecem nas fontes de Direito das Gentes, como os tratados, os principios getais do Dircito ¢ os principios gerais do Direito Internacional 14, SOFT LAW O desenvolvimento das relagées internacionais vem levando ao aparecimento de uma nova modalidade normativa, de cardter mais flexivel, chamada soft aw, expressio em lingua inglesa, cuja tradugao aproximada seria “direito mole, maledvel”. O exame do soft law requer a prudéncia necesséria 4 andlise de um insticuto novo e de con- tornos ainda imprecisos. Entretanto, nao podemos nos furtar 20 estudo dessa forma alternativa de orientar a conduta dos membros da sociedade internacional." que emerge dentro de um contexto em que o dinamismo dos fluxos de bens, de servicos, de informagées e de pessoas no mundo ¢ o aumento da interdependéncia entre os Estados exigem modos mais égcis ¢ maledveis de estabelecer regras de convivencia. O soft law & uma das atuais modalidades de manifestagio do fendmeno juridico que io necessariamente incorporam as caracter(sticas classicas do Direito. f, portanto, parte de um quadro em que se fortalecem nogées como autonomia da vontade arbitragem, todas tendo em comum maior flexibilidade e capacidade de oferecer solugGes mais répidas para os problemas das relagdes sociais. O conccito foi desenvolvido pela doutrina norte-americana, em oposicéo & nocéo de hard Jaw, que se refere ao Direico tradicional. No Brasil, Nasser define sof? law como um conjunto de “regras cujo valor notmativo seria limitado, seja porque os instrumentos que as contém no seriam jutidicamente obrigatérios, seja porque as disposicdes em causa, ainda que figurando em um instrumento constringente, nao criariam obrigagées de direito positive ou nao criariam senao obrigacdes pouco constringentes”.*” © autor aponta ainda as seguintes modalidades de soft aw:** * norms, juridicas ou nao, de linguagem vaga ou de conteiido varidvel ou aberto ou, ainda, que tenham carter ptincipiolégico ou genérico, impossibilitando a identificagao de regras claras e especificas; 36. _ Nesse sentida: SOARES, Guido Femando Silva, Curso de direito internacional piiblico, p. 136-140. Ver também 2 seguinte obra, especifica acerca da assunto: NASER, Salem Hikmat. Fontes e normas do alreite Internacional: um estudo sobre a soft aw. 37, NASSER, Salem Hikmat. Fontes ¢ normas do direito internacional, p. 25. 38, Id, p.26. B PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO + normas que prevejam mecanismos de solugao de controvérsias, como a conciliagao e a me- diagao; + atos concertados entre os Bstados que nfo adquiram « forma de tratados e que no sejam obrigatdrios; + atos das organizacdes internacionais que nao sejam obrigatérios; * insctrumentos produzidos por entes néo-estatais que consagrem principios orientadores do comportamento dos sujeitas de Direito Internacional ¢ que tendam a estabelecer novas normas juridicas. A formacio do soft law ocorte por meio de negociagoes entre os sujeitos de Direito Interna cional ou dentro de érgios técnicos das organizagées internacionais. A elaboracio de suas regras caracteriza-se por set mais répida, sem as dificuldades inerentes a esforgos de articulagao prolonga- dos e perpassados por intimeras questées politicas. Além disso, os preceitos de soft Jaw, em regra, incorporam melhor as peculiaridades técnicas referentes as questées reguladas, o que nem sempre € possivel nos tratados, pelas dificuldades normais encontradas nas negociacées internacionais. Em suma, o soft lat inclui preceitos que ainda nao se transformaram em normas juridicas ou cujo cariter vinculante ¢ muito débil, ou seja, “com graus de normatividade menores que os tradicionais” 2? como afirma Soares. Com isso, é comum que as regras de soft law tenham carder de meras recomendacées ‘Na pnitica, o sofi Jaw normalmente nao se reveste das formas classicas adotadas pelas normas internacionais, como os tratados, embora possa identificar-se com as resolugdes ou recomendagies ndo-vinculantes de organizag6es internacionais, Dentre outras modalidades de diplomas norma- tivos que podem ser considerados soft law se encontram os acordos de cavalheiros (gentlemen agreements), os acordos nao vinculantes (non-binding agreements), 0s comunicados e declaragées conjuntos, as atas de reunides internacionais, os cédigos de conduta, as declaragées ¢ resoluces ngo-vinculantes de organismos internacionais ¢ as leis- modelo. Exemplos relevantes de documentos internacionais que podem ser considerados como de soft Jaw sio a Declaragio Universal dos Direitos Humanos, as declaragbes de organismos internacio- nais referentes & satide publica (como a Declaragio de Alma-Ara e a Declaracio de Cartagena), as recomendagées da Organizacéo Internacional do Trabalho (OIT), a Lei Modelo sobre Arbitragem Internacional, a Carta Democtatica Interamericana, as Regras de Brasilia sobre Acesso a Justiga das Pessoas em condigao de Vulnerabilidade ¢ a Declaragio Sociolaboral do Mercosul. 0 soft law pode posteriormente ser incorporado a fontes tradicionais do Direito Internacional, como 05 tratados, ou gerar leis internas, como as recomendacées da Organizacio Internacional do Trabalho (OIT), que incluem propostas de normas referentes a temas de Direito do Trabalho © que devem ser obrigatoriamente submetidas aos parlamentos nacionais no prazo de até um ano apés terem sido proferidas. Independentemente do carter de fonte do Direito Internacional de que se revista ou nao 0 soft law, & inegavel a influéncia dos diplomas que tém esse formato no atual quadro do Direito das Gentes e da Ciencia Juridica como um todo. 39, SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional piiblico, p. 136. 76 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUCAO (0 soft law vem secvindo, por exemplo, como modelo para a elaboragio de tratados e de leis intemnas, como parimetro interpretativo, como pauita de politicas piiblicas e de agao da sociedade civil e como reforco da argumentagéo para operadores do direito. Diplomas de soft Jaw sto verda- deiras referéncias em determinadas matérias, como a Declaragao Universal dos Direitos Humanos, a Declaracéo de Viena, a Declaracéo das Nacées Unidas para os Direitos dos Povos Indigenas, a Agenda 21 ¢ a Dedlaragéo de Alma-Ata, e contam com inegivel relevincia politica. Por fim, a propria jurisprudéncia dos tribunais brasileiros yem mencionando alguns desses documentos, como a Declaragéo Universal dos Direitos Humanos*e os Princ{pios de Vogyakarra!! Por fim, o soft law & também conhecido como sof? norms, que em tradugio livre significa “normas suaves, leves”. 15. QUADRO SINOTICO ADICIONAL Quadro 5, Fontes e outros institutos correlatos relevantes para o Direito Internacional: tipos e caracteristicas FONTE CARACTERISTICAS OBSERVACOES ADICIONAIS + Fruto de acordo > Forma eserita Tratado | : + Celebrado por Estados e organiza- Bes internacionais > Prética reiterada + Elementos do costume: > Generalidade da prética + Elemento objetivo ¢ material: in- Costume > Uniformidade da pratica verterata consuetudo > Consciéncia da juridicidade da pra- | ‘> Elemento subjetive € psicoldgico: po opinio juris + Decisdes reiteradas + Pronunciamentos proferidos por érgdos internacionais de solucio inter | de controvérsias > Fonte auxiliar + Deliberagdes no mesmo sentido + Casos semelhantes + Matéria de Direito Intemacional Jurisprudénci nacional > Estudos dos especialistas em Dir to Internacional Doutrina + Inclui doutrina de ramos do Direito | “> Fonte auxiliar interno, no que se relacionem com 0 Direito internacional 40, A espeita do emprego da Declaraco Universal dos Direitos Humanos nos julgamentos do Pretério Excelso, ver (8 seguintes julgados do STF: ARE 639337 AgR/SP e ADC 25 / DF. Hé, ainda, outros vinte e trés julgados em que & Daclarago Universal dos Direitos Humanos é mencionada na suprema corte brasilelra AL, Arespelto do emprego dos principios de Yogyakarta nos julgamentos do Pretorio Excelso, ver os seguintes julgados do STF: RE 477554 AgR/MG, ADPF 132/RI e ADI 4277/DF. 17 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO FONTE CARACTERISTICAS OBSERVACOES ADICIONAIS Principios gerais do Direito e princi gerais do Direito Internacional > Normatividade > Maior grau de abstracdo e de gene- ralidade > Teor axiolégico: incorporam os principais valores tutelados pelo Direito > Carater fundante da ordem juridica > Estabilidade Presenca generslizada nos princi- pais sistemas juridicos do mundo (apenas principios gerais do Direito) Analogia + Aplicavel na falta de norma para 0 caso concreto + Incidéncia de norma que regule si- tuago semelhante Parte da doutrina entende que a analogia é apenas elemento de in- tegragao do ordenamento. Equidede > Emprego de consideracdes de justi- sa um.caso concreto + Aplicdvel na caréncia de norma re- gulamentadora ou diante de norma inadequada Pode ser empregada apenas com a anuéncia das partes Seu carater de fonte nao é unanime na doutrin Atos unilaterais de Estados + Formulados unilateralmente, sem consulta a outros Estados + Afetam juridicamente a esfera de Interesses de outros sujeitos de Di- reito Internacional Podem ser expressos ou tacitos Decisdes de organizacdes internacionais > Atos orlundas de arganismos inter nacionais > Podem ser impositivas ou faculta~ tivas Também conhecidas como atos (unilaterais) de organizagdes inter- nacionais > Imperatividade + Normas inderrogavels por precel- tos particulares de Direito Interna- cional > Derrogam normas contrérias dos Ha controvérsia quanto @ necessi- seja sancBes > Eventual transformagiio em norma tradicional Jus cogens dade ou nao do consentimento dos tratados Estados aos quais se aplica > Modificdvel apenas por norma da mesma natureza > Valor primordial para a convivéncia humana > Obrigetoriedade limitada ou inexis- tente > Elaboragao répida ¢ flexivel Soft law > Descumprimento nem sempre en- = 78 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO: INTRODUGAO 16. QUESTOES 1. (828 Exame de Ordem/OAB-RJ) De acordo com o art. 38 do Estatuto da Corte internacional de Jus- tiga, so fontes do direito internacional as convengées internacionais, a) o costume, os atos unilaterais e a doutrina e a jurisprudéncia, de forma auxiliar. b)_ 0 costume internacional, os principios gerais de direito, 05 atos unilaterals as resolucbes das orga- nizagdes internacionais. €) ocostume, principios gerais de direito, atos unilaterais, resolucées das organizacées internacionais, decisdes judicidrias e a doutrina, d) 0 costume internacional, os principios gerais de direito, as decisdes judiciérias e a doutrina, de forma auxiliar, admitindo, ainda a possibilidade de a Corte decidir ex aequo et bono, se as partes concordarem. (Advogado da Unido — 2006) 0 Direito Internacional Publico, até pouco mais de cem anos atrés, fol essenclalmente um direito costumelro, Regras de alcance geral norteando a ent3o restrita comuni- dade das nagées, havie-as, e supostamente numerosas, mas quase nunca expressas em textos con- vencionais. Na doutrina, e nas manifestagSes intermitentes do direito arbitral, essas regras se viam reconhecer com maior explicitude. Eram elas apantadas como obrigatérias, jd que resultantes de uma praticaa que os Estados se entregavam no por acaso, mas porque convencidos de sua justica ¢ necessidade (José Francisco Rezek. Manual de direito internacional publico. S80 Paulo: Saraiva, 2000, p. 120 ~com adaptacies). A partir do tema do texto acima, julgue os seguintes itens, relativos ao costume internacional: 2. Embora possua relevantes qualidades de flexibilidade e uma grande proximidade com os fendmenos e fatos que regula, o costume internacional apresenta grandes dificuldades quanto 4 sua prova, o que Ihe diminui o valor na hierarquia das fontes do direito internacional, mantendo, com isso, a suprema- cla dos tratados e convengBes. 3. Para que um comportamenta comissivo ou omissivo seja considerade como um costume internacio- nal, é necesséria a presenca de um elemento material, qual seja: uma pratica reiterada de comporta- mentos que, de inicio, pode ser um simples uso. 4. Para se constatar a existéncia de um costume, é necessério verificar a presenga de um elemento subjetivo, qual seja: a certeza de que tais comportamentos séo obrigatérios por expressarem valores exigiveis e essenciais. (Advogado da Unido — 2002) Acerca das fontes do direita internacional publico (DIP), julgue os se- guintes itens: 5, Aparte que invoca um costume tem de demonstrar que ele est4 de acordo com a pratica constante e uniforme seguida pelos Estados em questo. 6. 05 precedentes judiciais so vinculativos tZo-somente para as partes em um litigio e em relacéo 20, caso concreto, nao tendo, assim, obrigatoriedade em DIP. 7. Constituem fungées da doutrina o fornecimento da prava do cantetido do direito e a influ€ncia no seu desenvolvimento. 8. 0 Estatuto da Corte Internacional de Justi¢a, ao indicar as fontes do DIP que um tribunal ira aplicar para resolver um caso concreto, concede posi¢ao mais elevada para as normas convencionals, que devem prevalecer sempre sobre todas as outras. 8. Ainda hoje, 0 rol das fontes indicado no Estatuto da Corte Internacional de Justica é taxativo. ‘Acerca das fontes do direito internacional publico (DIP), julgue os seguintes itens. PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLIC 10. (Defensor Publica da Unio ~ 2007 ~ ADAPTADA) Os costumes internacionais ¢ 05 principios gerais do direito reconhecides pelas nagies civilizadas n3o sdo considerados como fontes extraconvencio- nais de expressdo do Direito Internacional, 11. (Procurador Federal/2010) O principio do objetor persistente refere-se a no vinculaggo de um Esta- do para com determinado costume internacional. 12. (IRBr — Caderno B ~ 2010 ~ ADAPTADA) A Convencdo de Viena sobre o Direito dos Tratados (969) enumera as normas imperativas de direito internacional (Jus cogens|, entre as quais, a proibic&o da escravidac 13, (TRF ~ 28 Regio — Julz— 2011) Assinale a opcao correta, com relacao as fontes do direito internacio- nal nos termes previstos no Estatuto da Corte da Hala: a) O costume de determinada nacdo pode ser usado na resolucao de conflitos internacionais. b) Os tratados internacionais podem ser aplicados por essa Corte na resolusio de conflitos, indepen- dentemente de serem reconhecidos pelas nacBes em litigio. ‘Adoutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nagSes ¢ meio principal de resolucdo de con- flitos entre paises. d) ACorte da Haia pode decidir um litigio ex aequo et bono. 2) As convencées intemacionais esneciais nao podem ser usadas para decidir conflitos internacionais. 14, (IRBr ~ 2012) Considerando as fontes de direito Internacional publico previstas no Estatuto ds Corte Internacional de Justica (Cl) ¢ as que se revelaram a posteriori, bem como a doutrina acerca das for- mas de expresso da disciplina juridica, assinale a op¢So correta: a) De acordo com o Estatuto da Corte da Hala, a equidade constitul, apesar de seu caréter Impreciso, fonte recorrente e prevista como obrigatéria na resoiuicao judicial de contenciosos internacionais 5) Aexpressao nao escrite do direito das gentes conforma o costume internacional como pratica reite- rada e uniforme de conduta, que, incorporada com conviceao Juridica, distingue-se de meros usos ou mesmo de praticas de cortesia internacional. ¢)__ As convengées internacionais, que podem ser registradas ou nao pela escrita, sdo consideradas, in- dependentemente de sua denominagao, fontes por exceléncia, previstas originariamente no Estatuto da CU d) Em face do cardter difuso da sociedade internacional, bem como da proliferaco de tribunals interna- cionais, verifica-se no direito internacional crescente invocacdo de decisdes judicials antecedentes, artoladas como opinio juris, ainda que néo previstas no Estatuto da CU. e) Ainda que néo prevista em tratado ou no Estatuto da Cll, a invocaco crescente de normas impera- tivas confere ao jus cogens manifesta qualidade de fonte da disciplina, par de atos de organizacSes internacionais, como resolugdes da ONU. 15, (MPF -272 Concurso ~ 2013) As normas de Direito Internacional peremptério (jus cogens}: a) podem ser derrogadas por tratado. b) 56 podem ser derrogadas por costume internacional. ©) _pressupdem uma ordem ptiblica internacional nao disponivel para os Estados individualmente. d) no guardam qualquer relacso com o conceito de obrigagées erga omnes. 16. (IRBr ~ 2013 ~ ADAPTADA) Julgue o seguinte item, marcando “certo” ou “errado”: A Corte Interna- ional de Justica faculta-se julgar casos que the sejam submetidos também por equidade, se as partes com isto concordarem, 80 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUCKO 17. (Procurador do BACEN ~ 2013) Essas normas ngo tem o mesmo grau de atribuigao de capacidades nem so tao importantes quanto as normas restritivas, mas os Estados comprometem-se a cooperar € 2 respeitar os acordos realizados, sen submeter-se, no entanto, a obrigacdes juridicas (Marcelo Varela. Direito internacional piblico. Sao Paulo: Saraiva, 2009, p. 62). O fragmento de texto citado acima refere-se a: a) costumes. b) soft norms. ©) _principios gerais de diretto. )_ umbrella conventions. ®) tratados GABARITO j = spac Fundamentago Topicos do | eventual observasio elucidative | _ oficial capitulo a} Artigo 38 do Estatuto da Corte In-| 5 ternacional de Justiga (CU) Os atos unilaterais e as decisdes de organizacées internacionals nao constam do rol de fontes do Estatu- toda cll 1 | p [b)Arigo38do Estatutodac ¢) Artigo 38 do Estatuto da CU | d) Artigo 38 do Estatuto da Cll O entendimento majoritario é 0 de 4 | 2 |e [pases que nfo ha hierarquia de fontes | ‘a formacao do costume requer gin- | 2 | © | bauer 4 | daum elemento adicional, de car: ter subjetivo, a opinia juris, Uae ourins a 3 | Boutrina Lo4 : | A jurisprudéncia regula apenas o | caso conereto que foi objeto do | 6 | | Artigo 59 do Estatuto de cu pronunciamento judicial, mas pode | orientar a aplicacao da norma em geral. Fonte auxiliar. 7 | ¢ | Dostinw ert 38 do ato] 55 | rome avatar Aordem em que as fontes sdo apre- | 8 E | Doutrina 24 sentadas no artigo 38 da Cl) nao de- | termina sua hierarquia © rol das fontes do Estatuto da CU) 9 | E | Poutrina 2,2.1€2.2.| nao exclui outras fontes Apesar da polémica relative ao cos- tume, é cedigo que os princfpios ge- 10 | E | Poutring 23 | rais do Direito séo fontes nio-con- vencionais Pee g_ | Trate-se da nosdo de persistent ob- jector 81 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Gabarito Topicos do a! F a | observacio elucidati aaeal undamentagéo conitalo, | Eventual observasso elucidativa ae [agmecmmaeamme| yy [Semmens seme 1969, arts. 53 ¢ 64 gens © Estatuto da Ci} prevé o emprego a Estatuto da CU, art. 38 21€4 | do costume internacional, néo 0 do costume interno do Estado Segundo 0 Estatuto da Cll, podem ser empregados os tratados “que astabelecam regras expressamente b)Estatutoda CU art. 38, edoutrina | 2.1€3 | reconhecidas pelos Estados litigan- tes", 0 que corresponde, ademais, as |e 8 nstureza fortemente voluntarista do Direito internacional ) Estatuto da Cli, art. 38 2.1€6 | Adoutrina é meio auniliar Z pneshel.que's Cl: detkta umn fate d) Estatuto da CU, art. 38 2.1€10 | compasena equidade, desde que com a concordéncia das partes envolvides Tanto convensdes gerais como es- @) Estatuto da Cis, art. 38 22€3 | peciais podem ser utiizadas para dirimir canflits internacionais A equidade ndo é de emprego obri- a) Estatuto da CU, art. 38, par. 2 aaeg | eatéroc s6 serd utilzada se as par- tes no conflto com isso concorda- tem b) Doutrina 4 2 «) Doutrina e ConvengSo de Viena so- ; sa |p [teoDtete os Tatton de T569 3 | Os tratados adotam a forma escrita ‘AS decisbes judiciérias encontram- ) Estatuto da Cis, art.38 21,4e5. | -se listadas entre as fontes do artigo 38 do Estatuto da CU 0 jus cogens nao é fonte, e nem todas as resolugBes t&m tampou- i €) Doutrina 2013 | co carater de fonte do Direito das Gentes | [a Boutrina e convencéo de Viena] 4, | Nao & permitida nenhuma derroga- de 1969, art. 53 0 das normas de us cogens 3) Doutrina © Convengao de Viena], | Nao & permitida nenhuma derroga- de 1968, art. 53 fo das normas de jus cogens 4s | c | Doutrina © Convensio de viena| 4, | A aplicagao das normas de jus co- de 1968, art. $3 gens é inatastivel Se a aplicagaa das normas de jus co- 4) Doutrina € Convensio de Viena| 4, __| gens abrange todos 0s Estados, logo de 1969, art. 53 elas tém relacao com o conceito de obrigagdes erga omnes 82 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: INTRODUCKO Gabarito Tépicos do a sift Fundamenta capitulo, | Eventual observacio elucidativa A presente disposicgo (art. 38 do Estatuto da Cll) nao prejudicaré a Estatuto da Corte Inte I di “i as | oc | Foretuto Ga Torte imernacional 2 10 _| faculdade da Corte de decidir uma Justiga, art. 38, par. 2 questo ex aequo et bono, se as par- tes com isto concordarem sy Dsus te 1g | 08 costumes séo obrigacées juridi- cas classicas ) Doutrina 14 | Também conhecidas como soft law ‘ Os principios gerais do direito sao 4 ‘4 6) Douitrina vee normas juridicas tipicas 7 B E possivel que a CU decida um feito com base na equidade, desde que S)Routeina 14 | com a concordancia das partes en- volvidas Tanto conven¢g6es gerais como es- e) Doutrina 14 peciais podem ser utilizadas para dirimir conflitos internacionais CAP{TULO IIL FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: OS TRATADOS 1, CONCEITO E NATUREZA JURIDICA Os tratados sto acordos escritos, firmados por Estados ¢ organizagées internacionais dentro dos parimetros estabelecidos pelo Direito Internacional Pablico, com o objetivo de produzir efeitos juridicos no tocante a temas de interesse comum. © nosso conceito parte da nogéo fixada pelo artigo 2, par. 1, “a”, da Convencéo de Viena sobre 0 Direito dos Tratados, de 1969, que estabelece que tratado “significa um acordo inter nacional concluido por escrito entre Estados ¢ regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento tinico, quer de dois ou mais instrumencos conexos, qualquer que seja sua denominagio especifica”. A Convengao de Viena de 1969 nao considerou expressamente a possibilidade de as orga- nizagGes incernacionais celebrarem tratados. Por isso, a definigio de tratado deve levar em conta a Convencéo de Viena sobre 0 Direito dos Tratados entre Estados e Organizagées Internacionais ou entre Organizacées Internacionais, de 1986, que incorporou explicitamente & ordem juridica internacional a capacidade dos organistnos internacionais de concluir tratados, que jé era evidente nna prética internacional. ‘A Convengio de Viena sobre 0 Direito dos Tratados de 1969, em vigor desde 27/01/1980, finalmente foi ratificada pelo Brasil, tendo sido aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo 496, de 17/07/2009, e promulgada pelo Decreto 7.030, de 14/12/2009, com reservas 20s artigos 25 e 66, cujos efeitos, portanto, nao se aplicam ao Estado brasileiro'. | ATENCAO: a Convencio de Viena sobre 0 Direlto dos Tratados entre Estados e Organizagdes 1 Internacionais ou entre Organizacdes Internacionais, de 1986, ainda no entrou em vigor e con- | tinua pendente de ratificacao pelo Brasil. Em todo caso, as normas da Convenedo de Viena de 1 1986 aplicam-se para o Estado brasileiro, visto que também constituem normas costumeiras, 1 cuja aplicacao pelas autoridades. n&o tem, de resto, sido problematica. “Afirmar que 0s tratados so acordos implica reconhecer seu caréter de instrumentos criados pela convergéncia de vontades dos atores competentes. Nesse sentido, o contetido dos tratados & estabelecido pelos préprios Estados ou organizagbes incernacionais, que devem consentir com seu teor, ¢ s6 seré juridicamente vinculante, pelo menos em principio, com a anuéncia desses sujeitos. 2. @.artigo 25 da Convencio de Viena de 1969 trate da possibilidade de aplicacdo proviséria ce um tratado, 18 0 artigo 66 refere-se ao procesco de solucio judicial, de arbitragem e de conciliacdo, quando haja controvérsias relativas & nulidade, extincdo, retirada ou suspensio da execugdo de um tratado. 85 PARTE |—DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Os tratados adotam a forma escrita é, por isso, so considerados acordos formais.* Albuquer- que Mello lembra, porém, que a Comisséo de Direito Internacional da ONU admire o acordo oral,’ o qual, de fato, é previsto na prépria Convengao de Viena de 1969 (art. 3), embora esta sb se aplique a acordos escritos. Ainda que se accite a personalidade internacional de entes como o individuo, os tratados s6 podem ser celebrados por Estados e organizagées internacionais, bem como por outros entes de dircito piiblico externo, como a Santa Sé ¢ os blocos regionais e, quando autorizados a tal, os beligerantes ¢ os insurgentes. Os tratados sio regidos pelo Dircito Internacional Piblico. Por um lado, isso implica que os tratados, quando de sua elaboragio, devem obedecer aos procedimentos ¢ exigencias formais estabelecidos na prética internacional relativos a pontos como forma de celebracio e vigencia. Por outro, os tratados nao podem violar as normas de jus cogens, 3s quais a sociedade internacional atribuiu importincia superior, nem os principios gerais do Direito ¢ do Direico Internacional. © tratado pode constar de um ou mais instrumentos, 0 que significa que, além de seu texto principal, pode haver outros documentos associados ao acordo, a exemplo de anexos e de prococolos adicionais, tireis para regular ou esclarecer situagées mais espectficas ou de maior complexidade técnica. Qs tratados podem adotar virias denominacées, sem que isso afete sua qualidade de fontes do Direito das Gentes, bastando que retinam os elementos necessiirios para configurar sua existéncia, indicados na Convengio de Viena de 1969 (art. 2°, par. 19, “a’ ATENCAO: o tratado é um género que incorpora virias espécies, como convenséo, acordo, pacto, protocolo etc., que serdo objeto de estudo posterior. Entretanto, o emprego dos termos que indicam os tipos de tratados é indiscriminado na pratica internacional, o que nao retira o cardter Juridico de um instrumento internacional celebrado com o uso de terminologia inadequada. Por fim, os tratados nao sao meras declaracées de carater politico e nao vinculante. Como fontes de Direito que sao, visam a gerar efeitos jurfdicos, ctiando, modificando ou extinguindo direitos e obtigagées ¢ ensejando a possibilidade de sangées por seu descumprimento, revestindo-se portanto de carater obrigatério para as partes que entraram em consenso acerca de seu contetido e pata os destinatarios de suas normas, Cabe ressaltar que, uma ver em vigor, 0 tratado vinculara as partes no sé no aimbito internacional, mas também no doméstica, jd que ou serao incorporados a0 ordenamento jurfdico interno dos Estados que o celebram ou, no minimo, gerario obrigagées a serem executadas dentro dos territérios dos entes estarais. Na atualidade, a maior parte das normas de Direito Internacional encontra-se consagrada nos tratados, diplomas legais que, por inclufrem normas escritas, mais precisas ¢ facilmente invo- civeis, oferecem maior clareza ¢ grau de certeza e, por conseguince, mais seguranga e estabilidade as relagdes internacionais, Os tratados resultam também de um esforgo que envolve diretamente 2. Nesse sentido: MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Delta internacional pablico: perte geral, p. 53, 3. MELLO, Celso D. de Albuquerque: Curso de direito internacional publica, v. 1. p. 212, De nossa parte, entendemos que 2 existncia de acordos orais & deletéria para a sociedade internacional, especialmente por afastar @ maior seguranca conferida pelas normas escrites dos tratados tradicionals FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL POBLICO: 05 TRATADOS a vontade dos atores internacionais, auferindo, assim, maior legitimidade ¢ tornando o Direito das Gentes mais democritico e representative dos anscios da sociedad internacional, Quadro 1. Elementos dos tratados > Acordo de vontades > Regulamentaco pelo Direito internacional Pt- > Forma escrita blico + Elaboragio por Estados e organizacées inter- | * Resulacdo de temas de interesse comum nacionais > Obrigatoriedade 2. TERMINOLOGIA: ESPECIES DE TRATADOS A doutrina clenca uma série de espécies de tratados, cada uma com denominacao propria e adequada a uma situagio diferente nas relagées internacionais, segundo 0 contetido do acordo ow o interesse que este pretenda atender. Entretanto, como afirmamos anteriormente, 0 emprego das denominagSes dos tratados na pritica internacional ¢ indiscriminado ¢ nio influencia o caréter juridico do instrumento, nos termos da propria Conyengio de 1969, que determina que estes sao vinculantes “qualquer que seja sua denominacio especifica’. Além disso, nenhuma delas exclui a necessidade de que o tratado seja escrito, conclufdo por Estados ¢ organizagbes internacionais e regido pelo Direito Internacional. Apresentamos a seguir, em lista nao exaustiva, alguns dos tipos de tratados, com as respectivas P 8 8 ip P designagdes, mais usuais na pritica das relacoes internacionais. A denominagio “ato internacional” ¢ sinénima de tratado. E adotada pelo Ministério das Relagées Exteriores, que estabeleceu a Divisio de Atos Internacionais (DAI), competente para a coordenacao das providéncias relativas & prepara¢io dos tratados no Brasil ¢ para a guarda dos acordos celebrados pelo Estado brasileiro. ‘Apontamos, a seguit, as modalidades de atos internacionais em ordem alfabética Parte da doutrina aponta o “tratado” nao s6 como género, mas também como espécie de ato internacional, aplicével a compromissos de carter mais solene ¢ de maior importincia politica A denominagéo “acordo” foi concebida para atos internacionais com reduzido mimero de participantes e menor importincia politica. Por outro lado, expresso de amplo uso na pritica internacional € também muito empregada como sinénimo de trarado. Celso de Albuquerque Mello afitma que o termo “acordo” ¢ geralmente utilizado para tratados “de cunho econdmico, financeiro, comercial e cultural”>. 0 “acordo por troca de noras? é em regra empregado para assuntos de natureza administrativa para alterar ou interpretar clausulas de tratados ja conclufdos, embora seu escopo vena sendo ampliado. f formado por uma nota diplomdtica do proponente ¢ por uma nota de resposta, tendo, 4, O sitio na Internet da Divisao de Atos internacionals - Dal (htte://dal-mre.serpro.gov.br/) disponibiliza os atos internacionais em vigor no dresil, bem como os textos de alguns desses instrumentos, Acossado pela titima vez antes do fechamento desta edi¢So em 17/01/2015. 5. MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de aireito internacional putiico, v1. p. 243. 87

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