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A escolha de Natal como uma das cidades a sediar a Copa do Mundo em 2014 clama
por uma discussão pública, democrática, acerca das oportunidades que investimentos
dessa monta podem representar para a melhoria da qualidade do espaço urbano,
requerendo, ao mesmo tempo, uma reflexão técnica e crítica sobre os perigos e
conflitos que podem advir da construção de estruturas permanentes e impactantes em
sítios de grande fragilidade ambiental com processos naturais tão expressivos e
dinâmicos em uma cidade que carece na atualidade, de infra-estrutura urbana
compatível à realização de evento desse porte.
O projeto tomado com referência para este trabalho foi o apresentado pela Prefeitura
Municipal de Natal e Governo do Estado do Rio Grande do Norte à Confederação
Brasileira de Futebol (CBF). Deve-se ressaltar, entretanto, que na vistoria efetuada por
membros do workshop no começo do corrente ano, como também nas entrevistas
efetuadas a gestores públicos e à população em geral, pôde-se perceber o grau de
inquietação, por parte da sociedade, com relação aos destinos da área e o desejo de
maior transparência do processo e participação popular; por outro lado, os próprios
gestores públicos consultados, também manifestaram opiniões divergentes com
relação aos edifícios a serem construídos, sobretudo no que diz respeito à
implantação de prédios privados em área pública, o que de fato clama por um debate
mais amplo, aberto, transparente capaz de envolver vários atores sociais – entidades
de categoria, gestores públicos, Universidade, técnicos de diferentes disciplinas e
população em geral, a fim de que a sociedade como um todo possa, de fato, ter
ingerência sobre intervenções urbanas que afetarão seu cotidiano.
A Proposta apresentada
- A construção de novos estádio (intitulado Arena das Dunas) e ginásio, com projeto
executivo desenvolvido pela empresa inglesa POPULOUS (HOK SVE) em parceria
com os escritórios brasileiros Coutinho Diegues Cordeiro (RJ) e Felipe Bezerra
Arquitetos (RN), o que implicaria na demolição dos atuais Estádio de futebol, o
“Machadão” e Ginásio de Esportes Huberto Nesi, o “Machadinho”.
e/ou no parque.
A cidade de Natal se acomoda entre dunas, rios e mar, estende-se por uma área de
170, 298 km² e conta com uma população de 801.752 habitantes (dado de 2007). Sua
paisagem natural é deslumbrante e fonte de geração de divisas da atividade turística:
céu claro, quase todo o ano (o que lhe rendeu o apelido de Cidade do Sol); ventos
alísios providenciais e generosos, que sopram do quadrante sudeste,
predominantemente, configurando um micro clima prazeroso para quem estiver na orla
e sob as árvores no ambiente mais urbanizado; dunas alvíssimas e de granulometria
tão fina que permite um re-desenho cotidiano de sua topografia pelo vento se
espraiam pelo litoral, demandando um cuidado todo especial na consolidação de
estruturas permanentes em ecossistemas tão dinâmicos, uma arquitetura própria,
capaz de entender características geomorfológicas, hidrológicas e climáticas tão
singulares sem comprometer funcional ou esteticamente um sítio natural de tão rara
beleza. As dunas, por outro lado, abrigam um aqüífero subterrâneo que, há algumas
décadas atrás, podia ser considerado de qualidade ímpar para o consumo, devido ao
filtro que as areias representam. Sobre as dunas, uma vegetação típica de tabuleiros
também se deita ao sabor dos ventos, e é responsável pela integridade do
ecossistema, impedindo ainda que a areia migre para o espaço urbano consolidado.
Essa ocupação desenfreada, com muitos conflitos e apesar das instâncias normativas,
defensoria pública e esforços de técnicos e população em geral, consolidou uma
cidade que, a despeito dos seus atributos naturais possui muitos problemas sócio-
ambientais, por vezes invisíveis aos olhos dos visitantes e até mesmo pela população;
citaremos aqui apenas alguns, que fundamentarão a nossa argumentação posterior,
nesse trabalho.
Fazem parte dos aspectos infra-estruturais outros itens relevantes como, por exemplo,
a ampliação da rede hoteleira e a elaboração de um plano de mobilidade urbana,
capaz de aperfeiçoar e incrementar o sistema viário, adotando ainda outros meios de
transporte de baixo impacto, nunca testados na cidade. O atual sistema de transportes
circunscreve-se aos automóveis e uma frota precária de ônibus. Congestionamentos já
fazem parte dos horários de pico de tráfego; uma densidade funcional (como a
prevista na idéia original do mercado imobiliário) atrairia, para o local, um fluxo de
veículos além da capacidade de acomodação da infra-estrutura atual.
O Legado local
- Não se pode, nem se deve abrir mão do sentido público do local; por ser um
próprio público de grande centralidade, deve abrigar funções e acesso públicos. A
construção de edifícios pertencentes ao setor imobiliário, da forma como ensejada no
projeto, é inadequada à capacidade de suporte do ecossistema local; do ponto de vista
da paisagem urbana é altamente impactante, desfigurando a identidade do lugar com
edificações verticalizadas que privatizam por sua vez o espaço público. Um projeto
que se diz sustentável, por outro lado, não se constrói apenas com edifícios verdes,
eficientes em sua otimização energética.
1) Mais “conservador”
2) Mais “conciliador”
3) Mais “transformador”
A cidade de Natal possui, como já foi dito, uma série de atributos biofísicos os quais,
na interação com a ocupação humana, dão, para o bem ou para o mal, a identidade do
lugar. Possui algumas áreas de sensibilidade ambiental protegidas nos termos da lei,
pouquíssimas áreas de recreação e lazer a céu aberto (talvez somente o Bosque dos
Namorados faça juz ao título de parque urbano), lagoas naturais cujo tratamento
tornou-as lugares perigosos e insalubres e, como já foi dito, um aqüífero subterrâneo
comprometido pela contaminação de resíduos sólidos e líquidos. Além disso, a
sensação térmica na cidade, na percepção da população, é a de que o ambiente
urbano tem gradativamente ficado mais quente, o que evidentemente demanda
trabalhos científicos para a sua comprovação, sendo, porém voz corrente.
(á guisa de Conclusão)
Os dois maiores clubes de Natal, o América Futebol Clube e o ABC Futebol Clube,
encontram-se, hoje, na segunda divisão. Suas torcidas, segundo o instituto Datafolha,
não figuram entre as 20 maiores do Brasil. Outros clubes do estado (RN) vivem em
situação de penúria financeira, como o Alecrim Futebol Clube, de passado
relativamente expressivo no cenário local e que, só em 2009 conquistou seu acesso à
série C do Brasileirão.
Além disso, a Copa pode e deve trazer à cidade uma discussão acerca de seus
campeonatos. É necessário que os clubes de menor expressão do estado não passem
por longos períodos de inatividade, deixando diversos jogadores e empregados, sem
trabalho, como ocorre hoje. Tal discussão tem, inclusive, trazido à tona uma possível
retomada da antiga Copa Nordeste, que reunia clubes de toda a região.