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Os europeus justificavam o comércio de escravos com base na religião cristã, visando a conversão dos "infiéis", mas os interesses econômicos, como o fornecimento de mão de obra para as lavouras coloniais, eram a principal motivação. Os indígenas foram inicialmente utilizados como escravos, mas foram substituídos pelos africanos devido à sua maior resistência às doenças e habilidades para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar.
Os europeus justificavam o comércio de escravos com base na religião cristã, visando a conversão dos "infiéis", mas os interesses econômicos, como o fornecimento de mão de obra para as lavouras coloniais, eram a principal motivação. Os indígenas foram inicialmente utilizados como escravos, mas foram substituídos pelos africanos devido à sua maior resistência às doenças e habilidades para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar.
Os europeus justificavam o comércio de escravos com base na religião cristã, visando a conversão dos "infiéis", mas os interesses econômicos, como o fornecimento de mão de obra para as lavouras coloniais, eram a principal motivação. Os indígenas foram inicialmente utilizados como escravos, mas foram substituídos pelos africanos devido à sua maior resistência às doenças e habilidades para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar.
Europeus buscavam na religio as justificativas para o comrcio de escravos, mas a grande preocupao dos colonizadores era com o fluxo de trabalhadores Joice Santos 1/9/2014
Em 21 de outubro de 1795, D. Fernando Jos de
Portugal e Castro, governador da Bahia, dava o seu parecer sobre a chegada de uma embaixada daomeana e, mesmo com as consideraes negativas sobre daquele potentado africano, destacava a sua importncia em termos econmicos: vista da carta que me apresentaram do rei Dagom [...] e da considerao de que convm a boa harmonia com este potentado sumamente ambicioso e soberbo, em razo do comrcio de resgate dos escravos to interessante Real Fazenda e to necessrio para a subsistncia da lavoura destas colnias. Os interesses da Real Fazenda e a subsistncia da Misso capuchinha no reino do Congo, em gravura lavoura foram justificativas formadas ao longo do do sculo XVII. O cristianismo foi usado como perodo em que o reino portugus estabeleceu sua instrumento para salvar os povos da barbrie. administrao no almmar. Os primeiros (Imagem: Fundao Biblioteca Nacional) argumentos para a submisso de outros povos, entretanto, no tinham relao direta com economia eles vieram sob a forma de aprovao da Igreja Catlica. Atravs das bulas Dum Diversas (1452), Romanus Pontifex (1455) e Inter Coetera (1456), Roma legitimava a escravizao dos infiis e a conquista e a vassalagem de todas as populaes ao sul do Cabo Bojador, no Marrocos, com o objetivo de converso ao cristianismo. Em um plano mais geral, justificava a expanso martima portuguesa. A expulso dos muulmanos e judeus de Portugal em 1496 estimulou o resgate dos povos no cristos. O prprio termo dava conta da tentativa de trazer luz divina aqueles que estavam na completa ignorncia, no os muulmanos, j que estes j rejeitavam o cristianismo, mas aqueles que desconheciam a palavra divina. Os que seriam resgatados, segundo a lgica do cristianismo europeu, teriam a possibilidade de viver em melhores condies do que na frica, em meio barbrie. Em relato de meados do XV, o cronista portugus Gomes Eanes de Zurara (14101474), ao narrar as aventuras do Infante D. Henrique, afirmava que os negros africanos tinham sinais de bestialidade pela forma como se alimentavam, se vestiam e se relacionavam com os seus semelhantes. Para defender a legitimidade do resgate, Zurara indicava que os africanos que haviam migrado para Portugal aprenderam o portugus, alm de terem adquirido novos hbitos em decorrncia do seu contato com os europeus. Os cristos, naturalmente, faziam esta justificativa remontar ao texto bblico. A maldio lanada por No ao seu filho Cam havia recado sobre os negros, que seriam seus descendentes, destinandoos servido. O cristianismo, portanto, teria um papel civilizador ao resgatlos da barbrie. Esse mesmo princpio de civilidade dada pela religio justificou a escravido indgena na Amrica espanhola, atravs de bula promulgada pelo papa Alexandre VI ainda no incio do sculo XVI. A populao indgena foi forada a trabalhar em um sistema chamado de encomienda, no qual o rei concedia benesses aos primeiros colonizadores, incluindo a fora de trabalho dos ndios. No entanto, o ritmo de trabalho adotado, aliado s doenas trazidas pelos europeus, fez com que esta populao entrasse em declnio. Em funo dos maustratos e das denncias da prpria Igreja, a Coroa espanhola acabou por interferir na relao entre os colonizadores e os indgenas, em 1542, proibindo a escravido indgena, http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/oinjustificavel
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13/12/2016
EmnomedoPai,dofilhoedaRealFazendaRevistadeHistria
determinando o fim da encomienda e estabelecendo o repartimiento na prtica, mantendo o trabalho
forado dos indgenas, agora de forma sazonal. O fim da explorao indgena na Amrica espanhola foi defendido pelo frade dominicano Bartolomeu de Las Casas (14841566), que no reconhecia, em oposio posio defendida por Juan Gins de Seplveda (14891573), a barbrie dos indgenas: eles no so ignorantes, desumanos ou bestiais. Ao contrrio, muito antes de ouvirem a palavra espanhol tinham Estados adequadamente organizados, sabiamente governados por excelentes leis, religio e costumes. A defesa e o fim da escravido indgena j nos primeiros decnios da colonizao espanhola no foram seguidos no caso lusitano. Os chamados negros da terra, termo adotado por jesutas e colonos portugueses para designar os ndios, foram utilizados em larga escala no incio da colonizao. Segundo o historiador norteamericano Stuart Schwartz, a palavra negro em Portugal estava diretamente relacionada a uma posio servil e deixou de designar os indgenas apenas na medida em que aumentou o nmero de escravos africanos na Amrica portuguesa. Essa transio entre a mo de obra escrava indgena e a africana no se deu por conta da proibio de aprisionamento dos primeiros, o que de fato ocorreu em meados do XVIII. Tambm no se deu por conta de alguma presso ideolgica contra o cativeiro dos nativos a exemplo de religiosos como o padre Antnio Vieira (16081697). Em terras portuguesas, ao longo de todo o sculo XVII, ainda era vlida a prtica das guerras justas com o objetivo de salvao crist com a consequente escravizao dos derrotados. Tambm valia a mxima cunhada por Pero de Magalhes de Gndavo, autor de Histria da Provncia de Santa Cruz (1576): tratavase, para os portugueses, de povos sem f, nem lei, nem rei. A substituio da origem dos braos escravizados se deu, em parte, pelo reconhecimento das habilidades dos africanos na iniciante indstria aucareira, alm da maior suscetibilidade dos ndios s doenas europeias. A presena africana na Amrica portuguesa, entretanto, se estabeleceu de forma macia na medida em que esta se tornou imprescindvel para a administrao colonial e por conta das atividades que geravam lucro para a Real Fazenda escravos africanos eram mercadorias tributadas nas alfndegas de Sua Majestade. O resgate justificado pela cristianizao e pela expanso da civilizao continuou ocorrendo ao longo dos sculos, menos como uma crena e mais como um recurso para estabelecimento da colonizao e da permanncia das lavouras. Ao menos o que indica a preocupao do governador da Bahia no final do XVIII. Joice Santos pesquisadora da RHBN e autora da dissertao As embaixadas dos reinos da costa africana como mediadores culturais: misses diplomticas em Salvador, Rio de Janeiro e Lisboa (1750 1823), (PucRio, 2012). Saiba mais ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. Formao do Brasil no Atlntico Sul. So Paulo: Companhia das Letras, 2000. CANDIDO, Mariana. O limite tnue entre a liberdade e escravido em Benguela durante a era do comrcio transatlntico. AfroAsia, Salvador, n 47, 2013. SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial. So Paulo: Companhia das Letras, 1995. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do trfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos sculos XVII a XIX. Salvador: Corrupio, 2002.