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Vocação e missão no cinema contemporâneo

Três filmes contemporâneos me impressionaram fortemente pelo modo


como a vocação e a missão foram trabalhadas. Os filmes são
Amateur(1994) de Hal Hartley, Anjos Rebeldes(1996) de Gregory Widen
e Um Drink no Inferno(1996) de Roberto Rodriguez.

Os personagens dos dois primeiros filmes eram noviços – uma


freira e um padre. No Drink, o personagem é um pastor. Todos desistem
da vida religiosa, porque o sagrado se revela a eles de maneira
inesperada e estranha.

Em Amateur, a freira ouve uma voz que lhe diz que precisaria
sair do convento para salvar a vida de uma pessoa no mundo. Ela sai, e
para sobreviver começa a escrever contos eróticos. Ela descobre, no
decorrer do filme, que precisa salvar da morte a mais famosa atriz de
filmes pornô do mundo, perseguida pela Máfia. Numa entrevista sobre o
filme a atriz Isabelle Huppert que faz o papel da freira diz o seguinte:

“Muitas coisas aconteceram neste filme. Eu o chamo de thriller


metafísico.(…) Pensando em meu personagem, Isabelle, ela é uma
personagem muito idealista. Ela pensa ter uma missão e ela espera
muito das pessoas. É como se ela estivesse sendo acordada para a vida,
sabe, como se ele estivesse descobrindo a vida. Quando descobre o
amor e os homens, e as pessoas. É como se ela tivesse que se
comprometer. Então, ela começa dos grandes ideais, porque ela pensa
que foi chamada(…)Mas, claro, o ponto central é que ela precisa
aprender a como se comprometer e como, em certo sentido, ela vai
precisar se tornar um ser humano.”

http://www.possiblefilms.com/projects/amateur/index.html

Com o ex-noviço de Anjos Rebeldes é diferente. No momento em que


ele está sendo ordenado padre tem uma visão de uma guerra entre
anjos e demônios no céu. É tudo tão real e assustador que ele sai
gritando da cerimônia e desiste do ministério, se tornando investigador
de polícia. Mas seu conhecimento teológico e sua fé são requeridos para
resolver crimes estranhos e horríveis que acontecem na cidade, e ele se
envolve numa guerra entre as forças espirituais do bem e do mal.

O pastor de Um Drink no Inferno crê ter perdido a fé depois que sua


mulher morre num estúpido acidente de carro, onde fica presa nas
ferragens. Ele não entende nem aceita isso como ‘a vontade de Deus’.
Mas quando é confrontado com um pedaço do inferno na terra – um bar
onde as pessoas se transformam em demônios-vampiros – a única
salvação para ele e seus filhos é ele, como um ato de fé, abençoar a
água para torná-la benta e com ela matar os demônios.

Nos três casos, a vocação e a missão são operacionalizadas, se tornam


efetivas em contextos bizarros, exatamente onde não esperaríamos
encontrar Deus: o mundo da pornografia, da perversão, da violência e
do crime.

Talvez o que estes filmes estejam querendo expressar é o desejo por


um outro cristianismo, por uma nova figura de vocação cristã. E
também o desejo de um Deus que seja, como a ortodoxia afirma,
onipresente: Deus que está em todos os lugares – mesmo os menos
recomendáveis; um Deus que todos possam encontrar onde quer que se
achem.

Parêntese

Num outro filme, Pulp Fiction (1994), ocorre um interessante encontro


com Deus, também num ambiente absolutamente improvável.
Dois matadores de aluguel, Vincent Vega e Jules Winnfield estão
interrogando três suspeitos de terem roubado droga do traficante para
quem eles trabalham. De repente, um quarto suspeito sai de dentro do
banheiro, sem que eles esperem, e descarrega uma arma a dois metros
deles. Seria impossível errar daquela distância e a queima roupa. Só
que as balas passam através dos matadores sem machucá-los e vão se
alojar na parede.
Jules interpreta o que aconteceu como intervenção divina e um aviso de
Deus e, por isso, abandona a vida de assassino decidindo viver como
uma pessoa normal. Vincent, que acha que aquilo não passou de sorte e
coincidência, morre assassinado.

JULES
Isso foi intervenção divina.
Você sabe o que é intervenção divina?

VINCENT
Acho que sim. É Deus descendo do céu e fazendo as balas pararem.

JULES
É isso aí mano. É exatamente o que significa!
Deus desceu do céu e parou as balas.

VINCENT
Bom, então vamos cair fora, tá certo?

JULES
Não faz isso! Não fala nesse tom, filho da mãe!
O que aconteceu foi um p* de um milagre!
VINCENT
Se acalma aí,mané. Isso foi uma coisa que aconteceu…

JULES
Tá errado, nada disso, isso não foi apenas uma coisa que aconteceu!

VINCENT
Voce quer continuar essa discussão teológica
no carro, ou prefere terminar na delegacia com os guardas?

JULES
Nós podíamos estar mortos agora mesmo, babaca!
Nós testemunhamos um milagre e eu queria que você admitisse isso!

JULES

“Tem uma passagem que eu memorizei. Ezequiel 25:17:

‘O caminho do homem de bem é cercado por todos os lados pelas


iniqüidades dos egoístas e a tirania dos maus. Abençoado aquele que,
em nome da caridade e boa-vontade, pastoreia os fracos pelo vale das
trevas. Pois é verdadeiramente o guardião de seus irmãos e salvador
dos filhos perdidos. E irei cair com grande vingança e ira sobre todos os
que tentarem envenenar e destruir meus irmãos. E você saberá que eu
sou o Senhor quando minha vingança o abater’.

Venho dizendo essa merda por anos. E se você chegou a ouvir, significa
que vai morrer. Nunca parei pra pensar no significado. Achava que fosse
uma daquelas coisas que mostram sangue-frio, pra se dizer a um
babaca antes de encher o rabo dele de balas. Mas eu vi uma m* hoje de
manhã que me fez pensar duas vezes. Agora eu estou pensando: isso
poderia significar que você é o mau. E eu sou o justo. E o senhor
calibre45 aqui é o pastor me protegendo pelo vale das trevas. Ou
poderia significar que você é o justo e eu sou o pastor. E é o mundo que
é mau e egoísta. Eu gosto dessa versão. Mas não é verdade. A verdade
é: você é o fraco. E eu sou a tirania dos maus. Mas estou tentando, cara.
Estou tentando DE VERDADE ser um pastor.”

Contextualização

A missão do cristianismo no mundo hoje é imiscuir-se. Se o Cristo


dissesse aquela frase hoje, talvez a modificasse para: “Sejam astutos
como um vírus”.
Sabe-se que um vírus tem um potencial quase ilimitado de variações e
parece enganar sempre aqueles que podem derrotá-lo porque conhecem
sua estrutura. Um vírus não tem medo de mudar. Ele sabe que esta é a
lei secreta de Deus: a única constante é a mudança.
O vírus utiliza informação genética do organismo que está em contato
para suas mutações.
Assim é que o cristianismo contemporâneo precisa se tornar um
mutante no encontro com cada cultura, se tornar diferente e outro em
cada comunidade e só assim continuar sendo cristianismo.
O cristianismo contemporâneo precisa inventar seu próprio processo de
singularização, sua multiplicidade: potencializar seus modos de
existência e de expressão para aproveitar toda a riqueza das culturas
humanas. Uma espécie de antropofagia oswaldiana: engolir tudo e
devolver transubstanciado. Imagine o número enorme de vocações que
isto pode disparar, já que não é apenas como sacerdote na instituição –
pastor, missionário, padre, freira – que se pode servir. A vida cristã e a
ética do sermão da montanha funcionam lá fora, no mundo. Como
Lutero afirmava, é o sacerdócio de cada crente que interessa.

Esse é um desafio e tanto que mexe com três medos: o primeiro medo
é o de que no meio desse processo o cristianismo perca seus
referenciais-base e não se reconheça mais (a heresia, o sincretismo); o
segundo medo é de que no meio do processo o cristianismo morra e
uma religião substitutiva surja de suas cinzas e destroços; e o terceiro é
o medo de fracassar no meio do processo e perder tudo que existiu em
2000 anos junto com o que não se conseguiu fazer.

Mas, afinal, estes não são os medos que nos acompanham todo o
tempo? O medo psicológico de enlouquecer, o medo ontológico de
morrer, o medo existencial de fracassar. Mas se eles nos imobilizassem
não seríamos mais do que mortos-vivos fingindo agir e pensar.

Como a vida e Deus valem a pena, é precisa aceitar o desafio e


enfrentar o medo. Porque podemos ser exercitados no amor e o perfeito
amor lança fora o medo.

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