Exemplo de Renovação Consciencial (texto de Hidemberg Alves da Frota) – resenha da obra espírita Voltei 1
Exemplo de Renovação Consciencial1
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(Resenha de “Voltei”, ditado por Irmão Jacob a Chico Xavier)
Hidemberg Alves da Frota
Em regra, quando se faz alusão a relatos sobre a vida além-túmulo veiculados no
âmbito da literatura espírita do século XX, citam-se os clássicos Memórias de um Suicida (ditado pelo espírito Camilo Castelo Branco a Yvonne do Amaral Pereira, com a supervisão do espírito de Léon Denis) e a Nosso Lar (ditado pelo espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier), que têm sido há várias décadas publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB). Todavia, ainda não foi dada a devida atenção à obra igualmente relevante: Voltei, narrativa ditada a Chico Xavier em 1948 pelo espírito Irmão Jacob, também editada pela FEB. Por razões didáticas, Voltei merece ser lido antes de Memórias de um Suicida e de Nosso Lar, em função de possuir o estilo mais sucinto dos três livros, o que facilita o leitor neófito a se familiarizar com o padrão linguístico próprio do Brasil da primeira metade do século passado. Voltei é, sobretudo, uma leitura saborosa, texto esmerado, de alguém que, após desencarnar, utilizou sua anterior vivência de militante do movimento espírita brasileiro como ensejo para exercitar a humildade e a reciclagem consciencial. Em vez do narrador se valer da condição de estudioso da doutrina espírita e de pesquisador de temáticas espirituais para se considerar expert em assuntos post-mortem, Irmão Jacob teve a sabedoria encarar o retorno à pátria espiritual como um verdadeiro recomeço. Não se apegou às noções do plano extrafísico concebidas durante a última reencarnação. Depois de uma certa dificuldade inicial para se reajustar, soube rejuvenescer a alma para essa nova etapa da jornada evolutiva, em que o indivíduo se reencontra com amigos (do passado terreno e espiritual) e têm a preciosa oportunidade de renovar seus conhecimentos e oxigenar valores éticos, já se preparando para os desafios da reencarnação vindoura. O romance Voltei suscita saudade desse período no qual, já desencarnados, somos incentivados a redescobrir dentro de nós a capacidade de se descondicionar da antiga rotina terrena, a fim de saborearmos o ambiente de fraternidade, serenidade e aperfeiçoamento coletivo típico das colônicas extrafísicas saudáveis. Uma obra que nos serve de ânimo para perseverarmos na luta cotidiana pelo autoconhecimento, reforma moral íntima e execução do projeto reencarnatório, de modo que possamos construir os alicerces da paz interior que nos possibilitem, na futura volta à pátria espiritual, renascer para novos horizontes conscienciais.
1 Versão primitiva do artigo publicada na revista Espiritismo & Ciência, São Paulo, v. 5, n.º 54, p. 36. Revisão em 25 de junho de 2010.