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Aula 01

Conforme Novo CPC p/ TRTs


Professores: Equipe Gabriel Borges, Gabriel Borges
Direito Processual Civil
Teoria e Exercícios comentados
Prof. Gabriel Borges Aula 01

DIREITO PROCESSUAL CIVIL P/ TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO

DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. JURISDIÇÃO.

SUMÁRIO PÁGINA
1. Capítulo II: Continuação da aula 00: Normas fundamentais do 02
processo civil. Jurisdição.
2. Resumo 79
3. Questões comentadas 88
4. Lista das questões apresentadas 101
5. Gabarito 106

CAPÍTULO II: DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. JURISDIÇÃO.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DO


CONTRADITÓRIO

1. CONTRADITÓRIO CONCEITO TRADICIONAL: INFORMAÇÃO E


POSSIBILIDADE DE REAÇÃO

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

(...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.

O contraditório é formado por dois elementos: informação e possibilidade de


reação. Tão relevante é esse princípio que a doutrina moderna o trata como
elemento do próprio conceito de processo.

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Para esses doutrinadores, a relação jurídica processual representa a projeção


e a concretização da exigência constitucional do contraditório. “As faculdades,
poderes, deveres, ônus e estado de sujeição das partes no processo significam que
esses sujeitos estão envolvidos numa relação jurídica, que se desenvolverá em
contraditório. São suas as facetas de uma mesma realidade, não havendo razão
para descartar a relação jurídica ou o contraditório na conceituação de processo.”
(Neves, 2011, pág. 50).

Para efetivar esse direito, por óbvio, os sujeitos do processo devem ter
ciência de todos os atos processuais, tendo eles o direito de reação como garantia
de participação na defesa de seus interesses em juízo. O princípio do contraditório,
sendo aplicável a ambas as partes, é também comumente chamado de
“bilateralidade da audiência”, representativa de paridade de armas entres os sujeitos
que a contrapõem em juízo.

(TCDF 2012-Cespe) O princípio do contraditório consiste em um verdadeiro


diálogo entre as partes do processo, ou seja, deve se conceder a oportunidade
de participar do procedimento a todo aquele cuja esfera jurídica possa ser
atingida pelo resultado do processo.

a) Certo
b) Errado

COMENTÁRIOS:

É isso mesmo. Questão correta!

A informação exigida pelo princípio [do contraditório] associa-se, portanto, à


necessidade de a parte ter conhecimento do que está ocorrendo no processo para
que se posicione de maneira positiva ou não sobre os fatos. Fere o contraditório a
regra que exige comportamento do sujeito processual, sem que se tenha
instrumentalizado [viabilizado] formas para que ele tenha conhecimento da
situação.

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Há duas formas de comunicação dos atos processuais: a citação e a


intimação e, extensivamente, a notificação. A citação tem o objetivo de informar o
demandado [contra quem se pede] da existência de demanda judicial contra ele e o
integrar à relação processual. A intimação, por sua vez, busca dar ciência a alguém
dos atos e termos do processo, para que este faça ou não alguma coisa.

Citação Intimação Notificação

Art. 238. Citação é o ato Na definição do código: é o ato Objetiva prevenir


pelo qual são convocados pelo qual se dá ciência a alguém responsabilidades e eliminar
o réu, o executado ou o dos atos e dos termos do a possibilidade de
interessado para integrar a processo. (art. 269). alegações futuras de
relação processual. O juiz determinará de ofício as desconhecimento. É uma
Sem a citação a relação intimações em processos medida preventiva.
processual não se pendentes, salvo disposição em - Art. 726. Quem tiver
completará e a sentença contrário. (art. 271). interesse em manifestar
será inútil. formalmente sua vontade a
outrem sobre assunto
Em qualquer momento, o
juridicamente relevante
réu poderá alegar
poderá notificar pessoas
independentemente de
ação rescisória, nulidade participantes da mesma
relação jurídica para dar-
da decisão do juiz pela
lhes ciência de seu
falta de citação.
propósito.
Art. 239. Para a validade
do processo é
indispensável a citação do
réu ou do executado,
ressalvadas as hipóteses
de indeferimento da
petição inicial ou de
improcedência liminar do
pedido.

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§1º O comparecimento
espontâneo do réu ou do
executado supre a falta ou
a nulidade da citação,
fluindo a partir desta data
o prazo para apresentação
de contestação ou de
embargos à execução.

§ 2º Rejeitada a alegação
de nulidade, tratando-se
de processo de:

I - conhecimento, o réu
será considerado revel;

II - execução, o feito terá


seguimento.

Mas, atenção! Não misturem as coisas...

O princípio do contraditório oportuniza que a parte de fato exteriorize suas


posições, que ela dialogue, mas não impõe que as partes se manifestem de maneira
efetiva em relação aos atos do processo.

(TCDF 2012-Cespe) O princípio do contraditório é uma garantia constitucional


ligada ao processo, mas não impõe que as partes se manifestem de maneira
efetiva em relação aos atos do processo, bastando que a elas seja concedida
essa oportunidade.

Gabarito: Certo

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No tocante à reação, ela depende da vontade da parte, que pode optar por
reagir ou se omitir em relação à demanda, lembrando que a regra processual, nesse
caso, limita-se aos direitos disponíveis, que são aqueles que a parte pode abrir mão
de exercê-los. Portanto, nos casos de direito disponíveis, está garantido o
contraditório, mesmo não se verificando concretamente a reação, pois basta que a
parte tenha tido a oportunidade de reagir.

Nas demandas em que o objeto são direitos indisponíveis, o princípio do


contraditório exige a efetiva reação, criando-se mecanismos processuais, para que
mesmo diante da inércia da parte, crie-se uma ficção jurídica de que houve reação.
Dessa forma, os fatos apresentados pelo demandante perante a revelia (ausência)
do demandado, quando a demanda versar sobre direitos indisponíveis, não se
presumem verdadeiros.

Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considere indispensável à prova do ato;
IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou
estiverem em contradição com prova constante dos autos.

Então, temos que nos casos de direitos disponíveis a reação só ocorre


quando faticamente a parte reagir; sendo que nos direitos indisponíveis a reação é
jurídica, de maneira que mesmo a parte não reagindo faticamente, há normas que
preveem os efeitos jurídicos da reação.

Vamos repetir para deixar mais claro: O contraditório terá efeitos distintos
quando o litígio versar sobre direitos disponíveis ou indisponíveis. Ora, isso é de fácil
presunção, porque se há a figura dos direitos indisponíveis no Direito brasileiro, é
presumível que não se permitirá que a parte deixe de ter a titularidade desses
direitos porque não compareceu em juízo.

Pergunta: Mas professor, por que há esta extrema proteção aos direitos
indisponíveis ao ponto de impedir-se os efeitos da revelia?

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Ótima pergunta. Importante dizer, em primeiro lugar que, em linhas gerais, a


revelia ocorre quando a parte não contesta em juízo as alegações que foram
realizadas contra si. Os direitos indisponíveis formam um grupo de relevância tão
grande para a pessoa que dele ela não pode abrir mão. São os direitos relativos à
vida, a liberdade, a saúde, a dignidade. Um exemplo: uma pessoa não pode vender
um órgão do seu corpo, ainda que, obviamente, lhe seja seu.

Os direitos disponíveis que, em regra, são os demais, podem ser dispostos


pela parte, ou seja, a parte pode deles abrir mão.

A figura dos direitos indisponíveis é tão forte que o Direito brasileiro impediu
que o contraditório fosse formado pela simples e efetiva possibilidade de que seu
titular se defendesse em juízo. Quando se tratar desses direitos, o juiz deverá
estender as regras de participação da parte, de maneira que haja uma reação
jurídica, conforme previsão legal para cada caso.

De todo o exposto até agora, podemos extrair um ensinamento para o


contraditório em sua acepção formal:

A plena realização do princípio do contraditório requer uma igualdade entre as partes


processuais para que as reações possam igualar suas situações no processo.

Todas as decisões somente serão proferidas depois de ouvidos os sujeitos


envolvidos, em contraditório que lhe seja franqueado. O NCPC assim dispõe
expressamente:

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III - à decisão prevista no art. 701.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

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2. PODER DE INFLUÊNCIA DAS PARTES NA FORMAÇÃO DO


CONVENCIMENTO DO JUIZ

Observem que o conceito de contraditório, fundado no binômio informação e


possibilidade de reação, garante tão somente o aspecto formal desse princípio.
Para garantia do aspecto substancial, não é suficiente informar e permitir a reação,
é necessário que a reação no caso concreto haja real poder de influenciar o
magistrado na construção do seu convencimento.

A reação deve efetivamente conseguir influenciar o magistrado na formação


da decisão, caso contrário, o princípio do contraditório não teria grande significação
prática. Dessa forma, o poder de influência se junta aos elementos informação e
reação, tornando-se o terceiro elemento do contraditório. Essa nova visão passa a
reconhecer a participação dos sujeitos na formação do convencimento do juiz.

Desse modo, contraditório = (informação + reação) + poder de influência

Acepção Formal Material (Substancial)

Para que o contraditório alcance seu aspecto material, há a necessidade de a


reação ter efetividade na formação do convencimento do juiz. A participação das partes
no convencimento do juiz é uma nova acepção do contraditório.

3. CONTRADITÓRIO: FORMA DE EVITAR SURPRESA ÀS PARTES

Durante o desenrolar procedimental todos os atos processuais serão


informados aos sujeitos do processo, dando a eles o direito de defesa. A conclusão
lógica é a de que a observância do contraditório seja capaz de evitar a prolação da
decisão que possa surpreender as partes.

A dificuldade em aplicar essa regra ocorre, por exemplo, quando se trata de


matéria de ordem pública, ao admitir fundamentação jurídica – estranha ao processo
– até o momento da prolação da decisão, e situações em que são levados fatos
secundários ao processo pelo próprio juiz – matérias e temas que o juiz pode
conhecer de ofício. Ainda assim, essas situações serão consideradas ofensivas ao

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princípio do contraditório toda vez que o tratamento de tais matérias surpreender as


partes do processo.

Pelo princípio do contraditório, o juiz não pode basear-se em fundamentos não


debatidos nem que não tenham sido previamente conhecidos das partes. É providência
possível ao magistrado, de ofício, levar matéria ao processo, devendo em casos em que
julgar ser possível surpreender as partes, ouvi-las antes de sentenciar. Conduta essa
consagrada, por exemplo, na legislação francesa e portuguesa.

4. CONTRADITÓRIO INÚTIL

O princípio do contraditório é considerado absoluto, sendo proibido seu


afastamento no caso concreto tanto pelo legislador como pelo operador de direito.
De fato, não se pode olvidar que o contraditório foi formatado para a proteção das
partes no desenrolar do processo, mas não causa nulidade dos atos e do processo,
se o seu desrespeito não gerar prejuízo à parte em relação ao direito que seria
protegido pela sua observação.

Exemplo: O autor não foi intimado da juntada pelo réu de um documento e a


seu respeito não se manifestou. Nesse caso houve violação ao princípio do
contraditório, mas seria relevável se o autor saísse vitorioso da demanda.

Percebam que, no caso concreto, a virtual ofensa ao contraditório não gera


nulidade em todas as situações. Em alguns casos pontuais, o afastamento do
contraditório não é só admitido, como também recomendável.

Permite-se, em determinados casos, que o contraditório seja afastado pelo


próprio procedimento, evitando o chamado “contraditório inútil”. Exemplo: Uma
sentença proferida inaudita altera parte – isto é, a sentença proferida sem a
participação da outra parte – julga o mérito em favor do réu que não foi citado.
Nesse caso, é evidente o desrespeito ao contraditório formal, já que o réu não é
informado da existência da demanda; contudo, percebam que materialmente o
contraditório esteve presente, pois o juiz decidiu a favor do réu – sinal de que havia
elementos que contribuíram para o convencimento a favor do réu.

Vejam a previsão do NCPC para situações do gênero:

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Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente
da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de


Justiça;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de


Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou


de assunção de competência;

IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,


desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.

§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da


sentença, nos termos do art. 241.

§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.

§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com


a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

Em lugar da classificação doutrinária: contraditório inútil, entendemos que


melhor seria nomear contraditório exclusivamente material.

5. CONTRADITÓRIO ANTECIPADO

O contraditório antecipado é a regra no Processo Civil. Os sujeitos participam


de todo o desenrolar do processo. O juiz não decide a causa sem antes ocorrer
ampla participação dos sujeitos processuais. O convencimento do juiz surge depois
da oitiva das partes, ou seja, todas as decisões são tomadas depois da efetiva
manifestação das partes. Exemplo é o do desenrolar do processo de conhecimento.

6. CONTRADITÓRIO DIFERIDO OU POSTECIPADO (OU POSTERGADO)

A estrutura básica do princípio do contraditório:

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Esses elementos podem ser percebidos na estrutura do processo de


conhecimento:

Essa estrutura do contraditório parece ser a mais adequada ao


desenvolvimento do processo, uma vez que a decisão ocorre somente após a
oportunidade de as partes se manifestarem a respeito da matéria. Apesar de
preferível, essa ordem pode ser afastada pelo legislador em casos excepcionais.
Exemplo é o que ocorre na concessão de tutela de urgência inaudita altera partes
(sem oportunidade da parte manifestar-se), situação na qual a decisão do juiz deve
anteceder a informação e a reação, portanto, só poderá ocorrer após a prolação da
decisão.

Nesse caso, ocorre o “contraditório diferido”. Apesar de os essenciais


elementos do princípio continuarem a existir, há antecipação da decisão para o
momento imediatamente posterior ao pedido da parte.

A finalidade da antecipação da decisão e da postergação da defesa se deve


ao risco de ineficácia a que algumas decisões podem estar subordinadas. Ex:
Imaginem que uma construção venha a prejudicar o escoamento de água da chuva
numa região. Suponham que contra essa construção insurjam os moradores
vizinhos a ela, que solicitam imediata manifestação do juiz, já que o período de
chuvas está próximo. O juiz pode, verificando a plausibilidade do pedido e a
necessidade de interrupção imediata da obra, conceder a tutela pleiteada sem ouvir
o réu, sob o risco de que a demora em proferir uma decisão possa causar prejuízos
– o alagamento das casas vizinhas à obra – de difícil reparação.

Vejamos como é a estrutura do contraditório diferido:

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Percebam que a decisão no contraditório diferido pode ser alterada depois de


ouvida a outra parte, de maneira que ela tem em seu primeiro momento um caráter
precário.

Ordinariamente associado às tutelas de urgência inaudita altera partes, o


contraditório diferido não se esgota nessas situações. Exemplo disso é o
procedimento monitório (vide quadro abaixo), pelo qual o magistrado, perante as
alegações na petição inicial e convencido, por meio de cognição sumária, da
existência do direito alegado pelo demandante, expede o mandado monitório (vide
quadro abaixo), determinando, que no prazo de 15 dias, o demandado entregue o
bem ou realize o pagamento. Já citado, o demandado poderá ingressar com
embargos, no prazo de 15 dias. No mandado monitório antes de citar o réu, já há
uma decisão proferida, em clara aplicação do “contraditório diferido”.

Conceito: ação monitória é um procedimento de cognição sumária de rito


especial tendo como objetivo central o alcance do título executivo, de maneira
antecipada e sem as delongas naturais do processo de conhecimento.

“É uma espécie de tutela diferenciada, que por meio da adoção de técnica de


cognição sumária (para a concessão do mandado monitório) e do contraditório diferido
(permitindo a prolação de decisão antes da oitiva do réu), busca facilitar em termos
procedimentais a obtenção de um título executivo quando o credor tiver prova suficiente
para convencer o juiz, em cognição não exauriente, da provável existência de um
direito.” (Montenegro Filho, Misael)

Também é cabível na tutela de evidência a técnica do “contraditório diferido”,


sendo ou não tutela de urgência. Mas o que vem a ser tutela de evidência? Tutela
de evidência é aquela baseada na probabilidade (verossimilhança) de a parte ter o
direito que alega. Não seria plausível, de acordo com o princípio do acesso à ordem

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jurídica justa, a parte ter que esperar findar o processo para ter a tutela concedida. O
que ocorre nesses casos é a concessão da tutela primeiramente para então informar
o réu, tendo este a possibilidade de reagir.

O contraditório diferido é excepcional, pois a prolação da decisão sem a oitiva


do réu seria uma violência. No entanto, seja por causa do perigo de ineficácia da
decisão tardia ou pela probabilidade de haver o direito, o contraditório diferido
atende sim o art. 5º, LV, CF.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.

Vamos entender mais sobre o princípio do contraditório...

A doutrina moderna afirma que sem o princípio do contraditório não é possível


a existência do processo, pois não haveria um julgamento justo. Derivado do devido
processo legal, o contraditório é aplicável tanto no âmbito jurisdicional como nos
âmbitos administrativo e negocial (contratual).

Este princípio está consagrado no art. 5°, LV, da CF, caracteriza-se por
possuir um aspecto jurídico e outro político.

Pelo aspecto jurídico, ele permite que as partes do processo tenham, ao


longo do seu curso, conhecimento de todos os fatos e atos que venham a ocorrer,
para que possam se manifestar sobre os acontecimentos, em obediência ao devido
processo legal.

O aspecto político consiste na participação de todos os interessados no


processo, surge da possibilidade de que todos os sujeitos do processo possam
manifestar-se na medida de seu interesse jurídico. A garantia política conferida às
partes legitima o poder jurisdicional exercido pelo Estado.

O contraditório é reflexo do princípio democrático na estruturação processual,


uma vez que a democracia significa participação, e a participação no processo
ocorre pela efetivação do princípio da garantia do contraditório.

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Assim, como se divide em aspecto jurídico e político, o contraditório pode ser


analisado sob a ótica de duas garantias: participação e possibilidade de influenciar
na decisão. Aquela [garantia de participação] caracteriza a dimensão formal do
princípio, já analisamos, e conceitua-se como a garantia de “ser ouvido”, de ser
comunicado e de participar do processo. Seguindo-se essa linha, o órgão
jurisdicional garante a aplicação do princípio do contraditório ao ouvir a parte. Já
pela dimensão substancial, sobre a qual também falamos em linhas anteriores,
deve-se dar ao contraditório o “poder de influenciar”, ou seja, a parte deve ser
ouvida em condições de ter a possibilidade de influenciar no conteúdo decisório.

Exemplificando:

Como poderia o Estado-juiz impor multa a alguém sem que este sujeito tenha
tido a chance de manifestar-se acerca dos fundamentos da imposição? A ele tem que
ser dado o direito de comprovar que os fatos em que o juiz se funda não permitem a
aplicação de multa.

Se isso não ocorresse, teríamos restrição de direito sem o contraditório. Em


regra, qualquer restrição de direito sem que o demandado e o demandante manifestem-
se, previamente, com a possibilidade de influenciar o resultado do processo é ilícita.

Outro exemplo de aplicação do princípio está no inciso II do art. 772, CPC: o


juiz pode, em qualquer momento do processo:

(...) II - advertir o executado de que seu procedimento constitui ato atentatório


à dignidade da justiça;

Podemos observar que antes de punir a parte, o magistrado a adverte sobre o


comportamento temerário para que esta possa se explicar.

No mesmo sentido o art. 77 do NCPC:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do
processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;

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II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que


são destituídas de fundamento;

III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à


declaração ou à defesa do direito;

IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou


final, e não criar embaraços à sua efetivação;

V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o


endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa
informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;

VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.

§ 1° Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas
mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à
dignidade da justiça.

§ 2° A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à


dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e
processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da
causa, de acordo com a gravidade da conduta.

§ 3° Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no §
2° será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado
da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução
fiscal, revertendo-se aos fundos previstos no art. 97.

§ 4° A multa estabelecida no § 2° poderá ser fixada independentemente da


incidência das previstas nos arts. 523, § 1°, e 536, § 1°.

§ 5° Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no §


2° poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.

§ 6° Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria


Pública e do Ministério Público não se aplica o disposto nos §§ 2o a 5o, devendo
eventual responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou
corregedoria, ao qual o juiz oficiará.

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§ 7° Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o


restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos
autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2o.

§ 8° O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir


decisão em seu lugar.

Esse artigo demonstra que o juiz deverá, ao expedir a ordem para o


cumprimento da diligência, avisar ao responsável (partes, terceiros) que a violação a
determinada norma gerará multa. Caso não ocorra essa advertência prévia do
magistrado, a multa, se aplicada, será considerada inválida, por desrespeito ao
princípio do contraditório. Ou seja, é necessário avisar ao responsável sobre as
possíveis consequências de sua conduta, para que possa manifestar-se sobre a
razão de não ter cumprido a ordem.

“O contraditório se perfaz com a informação e o oferecimento


de oportunidade para influenciar no conteúdo da decisão;
participação e poder de influência são as palavras-chave para
a compreensão desse princípio constitucional.” (Didier Jr.,
2011, pág. 52)

Vejamos um julgado do STJ que faz um paralelo dos pronunciamentos


judiciais e o princípio do contraditório:

“Ementa: PROCESSUAL CIVIL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. REQUISITOS


PARA SUA CONFIGURAÇÃO: 1. Para a condenação em litigância de má-fé, faz-se
necessário o preenchimento de três requisitos, quais sejam: que a conduta da parte
se subsuma a uma das hipóteses taxativamente elencadas no art. 17 do CPC; que à
parte tenha sido oferecida oportunidade de defesa (CF, art. 5º, LV); e que da sua
conduta resulte prejuízo processual à parte adversa.” (STJ - RECURSO ESPECIAL
REsp 250781 SP).

Sabemos que as questões de fato e de direito pautam os pronunciamentos


judiciais – o magistrado, para formar sua decisão, examina, em primeiro lugar, as
questões de fato e em seguida as questões de direito.

Há questões fáticas que o magistrado poderá, ex officio, apreciar. O juiz


poderá apontar, trazer ou conhecer fatos que não tenham sido alegados no

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processo, mas não poderá decidir sobre um fato trazido ao processo de ofício, sem
que as partes manifestem-se acerca dele.

Exemplificando:

No litígio o juiz decide, após ouvir A e B, basear-se em um fato não alegado


nem discutido pelos sujeitos do processo, mas que veio aos autos. Esse fato, trazido
pelo juiz, auxilia na fundamentação da decisão com base no art. 171 c/c com o art.
493 do NCPC.

Art. 171. No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o


conciliador ou mediador informará o fato ao centro, preferencialmente por meio
eletrônico, para que, durante o período em que perdurar a impossibilidade, não haja
novas distribuições.

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,


modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz
tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de
proferir a decisão.

Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes


sobre ele antes de decidir.

Ora, se a decisão do magistrado é tomada com base em fato desconhecido


das partes, fere-se o princípio do contraditório – o fato não foi submetido ao prévio
debate entre os sujeitos. Nesse caso, as partes não exerceram o “poder de
influência”. Há, em regra, a necessidade de ouvir quem será prejudicado pelos
novos fatos trazidos ao processo, se deles não tinha conhecimento.

Vimos análise sobre a questão de fato, partimos agora para a questão de


direto. Sabemos que o órgão jurisdicional não pode tomar uma decisão tendo como
base um argumento não exposto pelos sujeitos do processo.

Exemplificando:

O órgão jurisdicional toma conhecimento de que a lei em que o autor baseou


a demanda é inconstitucional. O réu, no entanto, alega que esta norma não se aplica
ao caso concreto e não que a lei seja inconstitucional. O juiz decide com base na
inconstitucionalidade da norma – diz que o fundamento do pedido do autor é

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inconstitucional e julga improcedente a demanda. O órgão jurisdicional pode fazer


isso, mas deve, antes, submeter essa abordagem às partes, ou seja, intimá-las para
manifestar-se a respeito, evitando a prolação de uma decisão-surpresa.

Outro exemplo, mais grave, seria um Tribunal de Justiça sentenciar com base
em fato não apresentado pelas partes e sem prévia manifestação delas, restando,
nesse caso, somente os recursos extraordinários. Esse exemplo é frequente nos
Tribunais devido à “entrega de memoriais”. Muitas vezes os advogados das partes
acrescentam um argumento novo no processo que não constará nos autos, uma vez
que os memoriais são entregues nos gabinetes dos juízes.

“Essa nova dimensão do princípio do contraditório redefine o modelo do


processo civil brasileiro. O processo há de ser cooperativo.” (Didier Jr., 2011, pág.
55) É o exercício democrático e cooperativo do poder jurisdicional.

Nesse momento, paramos para realizar uma observação importante acerca


do princípio da cooperação. Estudamos o devido processo legal e vimos que ele é a
base para os diversos modelos de direito processual. A maioria da doutrina aponta
dois modelos de processo na civilização ocidental influenciados pelo iluminismo: o
inquisitivo e o dispositivo. Há, contudo, parte da doutrina que identifica um terceiro
modelo, o cooperativo, que, de maneira breve, iremos comentá-lo.

O princípio do cooperativo baseia-se nos princípios do devido processo legal, da


boa-fé processual e do contraditório. Com a função de definir o modo como o processo
civil estrutura-se no direito brasileiro, o princípio da cooperação caracteriza-se pelo
redimensionamento do princípio do contraditório – inclui o Estado-juiz como sujeito do
dialogo processual e não como um espectador do duelo entre as partes.

Dessa forma, o princípio do contraditório volta a ter sua valoração como meio
indispensável ao aprimoramento da decisão judicial, e não apenas como um
normativo de observação obrigatória para a validade da decisão processual.

Observem que a condução do processo passa a ser cooperativa, já que não é


determinada somente pelas partes nem pela formação assimétrica da relação entre
o órgão jurisdicional e as partes. Não ocorre destaque de nenhuma das partes no
processo. O que ocorre é o surgimento de deveres de conduta tanto das partes

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como do órgão jurisdicional, que passa a exercer uma dupla posição: torna-se
paritário no diálogo processual e assimétrico na decisão processual. O Estado-juiz
conduz o processo levando em consideração as partes, por meio de uma visão
partidária, com diálogo e equilíbrio.

Vejam que essa paridade não ocorre no momento do resultado – os sujeitos


não têm a prerrogativa de decidir juntamente com o magistrado, isso é função
exclusiva dele. A decisão judicial é fruto da atividade cooperativa exercida durante
todo o arco procedimental; a decisão é a manifestação do poder do órgão
jurisdicional – a sentença é um ato, essencialmente, de poder do judiciário.

Lembrem-se: assimetria não quer dizer que o órgão jurisdicional encontra-se


em uma posição fundada somente em poderes processuais. O princípio do devido
processo legal determina ao magistrado uma série de deveres-poderes que o torna
sujeito do contraditório.

O exercício jurisdicional deve obedecer ao devido processo legal, significando


a assimetria, nesse caso, que este possui uma função originária e que é conteúdo
de um poder que lhe é exclusivo.

A eficácia normativa do princípio da cooperação independe de normas


expressas, por exemplo, se há ausência de normas que determinam a coerência do
órgão jurisdicional no processo, garantindo às partes segurança processual, o
princípio da cooperação imputará ao magistrado essa prerrogativa. Assim, o
princípio da cooperação torna devidos os comportamentos destinados à ocorrência
de um processo que seja leal e cooperativo.

Há vários deveres processuais que decorrem desse princípio, entre eles estão
os deveres de esclarecimento, lealdade e proteção. Vejamos duas manifestações
desses deveres em relação às partes.

a) Dever de esclarecimento das partes:


Parágrafo único, art. 330 §1º, NCPC: Considera-se inepta a petição inicial
quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se
permite o pedido genérico;

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III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;


IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
- os sujeitos devem redigir a PI de modo coerente e com clareza, sob pena
de inépcia.
b) Dever de lealdade das partes:
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Os sujeitos do processo não podem litigar de má-fé; mediante observância


dos deveres processuais, que engloba o princípio da boa-fé.

Além desse, fala-se no dever de consulta e no dever de prevenção, uma


variante do dever de proteção. O dever de consulta seria o dever de o juiz
consultar as partes sobre determinada questão não debatida no processo antes de
tomar uma decisão. Já o dever de prevenção consiste na obrigação de o
magistrado avisar sobre as deficiências das postulações das partes, para que essas
possam ser supridas.

O dever de prevenção tem um escopo bem amplo e vale para situações em


que o êxito da demanda possa ser frustrado pelo inadequado uso do processo.
Existem quatro áreas de aplicação desse dever: 1) explicação de pedidos pouco
claros, 2) o caráter lacunar da exposição dos fatos relevantes, 3) a necessidade de
adequar o pedido formulado à situação concreta e 4) a sugestão de uma
determinada atuação pela parte.

Pois bem, acabamos de entender a relação entre o princípio do contraditório e


o da cooperação. Vamos agora, comentar a integração entre o contraditório e outro
princípio muito próximo a ele: o da ampla defesa. Os dois princípios estão dispostos
em um único dispositivo da Constituição Federal de 1988 – art. 5°, LV.

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Entre as diversas características do princípio do contraditório, encontramos a


de indicar uma garantia fundamental da justiça, inseparável a uma justiça
organizada, o princípio da audiência bilateral, que encontra expressão no brocardo
romano audiatur et altera pars. Este está tão ligado ao exercício do poder, que a
doutrina moderna o considera inerente até mesmo à própria noção de processo.

“A bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo. Em


todo processo contencioso há pelo menos duas partes: autor e
réu. O autor (demandante) instaura a relação processual,
invocando a tutela jurisdicional, mas a relação processual só se
completa e põe-se em condições de preparar o provimento
judicial com o chamamento do réu a juízo.” (Cintra, 2011, pág.
61)

O magistrado, como vimos, coloca-se entre as partes invocando o seu dever


de imparcialidade – ouvindo uma, não pode deixar de ouvir a outra, de maneira a
permitir a ambas a oportunidade de expor suas razões e apresentar suas provas
para influir na decisão do juiz. É por meio da parcialidade das partes (uma
representando a tese e a outra a antítese) que o juiz poderá chegar à síntese de um
processo dialético.

Dessa forma, as partes não têm papel antagônico em relação ao magistrado,


mas sim de “colaboradores necessários” – cada sujeito do processo age em função
do seu próprio interesse, mas a combinação da ação dos dois permite à justiça
eliminar o litígio que os envolve.

No Brasil, o princípio do contraditório estava sendo construído, na instrução


criminal, em expressa garantia constitucional, a partir da própria Constituição e,
indiretamente, para o Processo Civil. Igual postura adotava-se em relação à ampla
defesa, que o princípio do contraditório possibilita e mantém uma relação direta,
traduzindo-se na expressão inauditus damnari potest (segundo o qual “ninguém
pode ser condenado sem ser ouvido”)

Decorre dos princípios do contraditório e da ampla defesa a necessidade de


que se dê ciência dos atos praticados pelo magistrado aos litigantes. No Processo
Civil a ciência dos atos processuais ocorre por meio da citação, intimação e

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notificação. No entanto, esses três instrumentos não constituem os únicos meios


para o funcionamento do contraditório.

O contraditório constitui-se, como detalhamos, de dois elementos: informação


e reação (plenamente possibilitada nos casos de direitos indisponíveis). Ele não
admite exceções – até nos casos de urgência, em que o magistrado, no intuito de
evitar o periculum in mora, provê inaudita altera parte, caberá ao demandado, de
modo sucessivo, desenvolver a atividade processual plena e sempre antes que o
provimento se torne definitivo.

O contraditório, em virtude da sua natureza constitucional, não deve ser


observado apenas pelo aspecto formal, mas, sobretudo pelo aspecto substancial,
sendo de se considerar inconstitucionais as normas que o desrespeitem.

Vejamos mais um exemplo da atuação do princípio do contraditório:


Sabemos que o inquérito policial é um procedimento administrativo que tem como
objetivo a colheita de provas para informações sobre o fato infringente da norma e
sua autoria. Nessa etapa não há de se falar em acusado, mas após o indiciamento,
surge o conflito de interesses, havendo, assim, litigantes. Por isso, se não houver o
contraditório, os elementos probatórios do inquérito não serão aproveitados
no processo, salvo provas antecipadas de natureza cautelar, em que o contraditório
é diferido. Somado a isso, os direitos fundamentais do indiciado devem ser tutelados
no inquérito.

Como vimos, portanto, no exemplo anterior, no inquérito policial não se pode


assegurar o princípio do contraditório e da ampla defesa, somente após o
indiciamento é que estes incidirão sobre o processo.

“Ocorre, todavia, que muito embora não se fale na incidência


do princípio durante o inquérito policial, é possível visualizar
alguns atos típicos de contraditório, os quais não afetam a
natureza inquisitiva do procedimento. Por exemplo, o
interrogatório policial e a nota de culpa durante a lavratura do
auto de prisão em flagrante.” (Lenza, 2010, pág. 713).

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Obs.: A redação constitucional viabiliza a interpretação de que o contraditório e a


ampla defesa são garantidos no processo administrativo não punitivo, em que não
há acusados, mas litigantes (titulares de conflitos de interesses), de modo que
mesmo no inquérito policial o debate tem influenciado a favor da atenção aos
princípios mencionados, aplicando-se a essa situação o contraditório diferido.

Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo


legal. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
asseguram-se o contraditório e a ampla defesa, corolário do devido processo legal,
com os meios e recursos a ela inerentes.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA AMPLA


DEFESA

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

(...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes.

Esse princípio corresponde à dimensão substancial do contraditório, ou


seja, o direito de participação efetiva na construção do convencimento do julgador
por meio do acesso aos elementos de alegações e de provas disponibilizados pela
Lei.

A ampla defesa é uma garantia que se estende tanto ao réu quanto ao autor,
dela decorrendo, assim, a característica de amplitude do direito de ação e o
tratamento isonômico – princípio da isonomia.

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(TCU 2011) O princípio da ampla defesa pressupõe que as partes devem litigar
em pé de igualdade. O juiz, por seu lado, deve colocar-se de forma
equidistante em relação às partes, garantindo-lhes a produção de prova dos
fatos alegados.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Boa questão. É isso mesmo, a ampla defesa impõe o tratamento processual


isonômico, de maneira que as partes possam litigar em condições de igualdade e de
fato apresentar os argumentos que entendam necessários para formação da
convicção do julgador.

Gabarito: Certo

Faz-se oportuno discorrer acerca do princípio da isonomia. Princípio este de


suma importância no Direito Processual Civil.

Também chamado de princípio da igualdade, o princípio da isonomia,


consagrado no caput do art. 5° da CF – “todos são iguais perante a lei” –, relaciona-
se com a ideia de um processo justo, em que os sujeitos processuais recebam um
tratamento isonômico.

Essa igualdade não deve ser interpretada de modo absoluto. As diversidades


existem, por isso, obedecem à regra: “tratar os iguais na medida de suas igualdades
e os desiguais na medida das suas desigualdades”. É somente assim que se
garante a correta aplicação do princípio da isonomia.

O Novo Código de Processo Civil tem vários dispositivos que versam sobre a
aplicação desse princípio. O art. 139, I, aduz que “o juiz dirigirá o processo conforme
as disposições deste Código, competindo-lhe assegurar às partes igualdade de
tratamento”.

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O art. 178, II, do CPC é um dispositivo que claramente assegura a igualdade


substancial, dizendo que “compete ao Ministério Público intervir nas causas em que
há interesses de incapazes”.

O princípio da isonomia respeita as desigualdades, no intuito de superá-las e


igualar os homens perante o ordenamento jurídico.

Agora que entendemos um pouco mais do princípio da isonomia, vamos


voltar ao princípio da ampla defesa...

Não podemos deixar de mencionar a relação da ampla defesa e do disposto


no art. 332:

Ao ver de muitos doutrinadores e do Conselho Federal da OAB esse


dispositivo é inconstitucional. Vejam sua redação:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,


independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido
que contrariar:

I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal


de Justiça;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal


de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas


ou de assunção de competência;

IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se


verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.

§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da


sentença, nos termos do art. 241.

§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.

§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo,


com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

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Por meio do art. 332 criou-se a possibilidade de resolução liminar do mérito,


ou seja, fica a citação dispensada, podendo a sentença ser proferida imediatamente.
O legislador quis, com isso, garantir o que aduz o inciso LXXVIII, do art. 5° da CF: “a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Vejam que a intenção é preservar a efetividade dos princípios da


razoabilidade e da celeridade processual. No entanto, há questionamentos sobre a
violação por esse procedimento dos princípios da ampla defesa e do dispositivo.

Ao julgar liminarmente improcedente o pedido do autor, retira-se do réu a


possibilidade de expressar-se sobre os fatos, o que leva à veracidade dos fatos
exteriorizados na inicial. Além disso, subtrai-se do réu a faculdade de confessar os
fatos ou reconhecer a procedência do pedido.

Se a causa versa sobre direito disponível, o art. 332 violaria o princípio do


dispositivo em nome da celeridade processual – o Estado-juiz coloca-se entre os
sujeitos processuais obstruindo o exercício do direito do autor e as prerrogativas do
réu. Igualmente estaria violando o princípio da amplitude do direito de ação, pois ao
trancar liminarmente ação, retira-se do autor a prerrogativa de influir o
convencimento do juiz por meio da prática de atos posteriores à petição inicial.

Essa é uma discussão sobre a qual falamos anteriormente, e ela tem outro
lado. Recordam-se de quando falamos de situações em que o juiz pode deixar de
atender ao contraditório formal porque entende presentes condições que levam à
formação de convicção favorável ao réu? Esta é uma dessas situações. Percebam
que se estão presentes elementos que favorecem o demandado, que na hipótese
em tela ainda não é réu, entende-se que o contraditório substancial, material,
ocorreu, no momento em que o juiz indeferiu o pedido do autor.

“Celeridade não é sinônimo de efetividade. Dessa forma, sob a pretensa


materialização do princípio da celeridade, não se podem aniquilar garantias outras das
partes, sob pena de não representar efetividade, ou, no mínimo, efetividade malsã,
voltada apenas ao resultado.” (Donizetti, 2011, pág. 92)

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STF: Súmula Vinculante nº 3 (Que utiliza o antigo CPC em suas explicações)

Processos Perante o Tribunal de Contas da União - Contraditório e Ampla


Defesa - Anulação ou Revogação de Ato Administrativo - Apreciação da
Legalidade do Ato de Concessão Inicial de Aposentadoria, Reforma e Pensão

Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

Comentários

Está pacificado, como vimos exaustivamente, o entendimento de que são


observados o contraditório e a ampla defesa nos processos administrativos.

Vamos ver como essa regra se aplica a uma das competências do Tribunal
de Contas da União: a apreciação da legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, conforme inciso III, art. 71 da
CF/88:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

(...)

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de


pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de
provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal

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do ato concessório.

No texto do enunciado nº 3 da Súmula Vinculante do STF, vê-se que o


contraditório e a ampla defesa devem ser observados no processo de anulação ou
revogação de ato administrativo, não sendo, contudo considerados quando da
concessão inicial da aposentadoria, reforma ou pensão. Isso significa que quando se
vier a questionar a concessão da aposentadoria, que estiver em seu início, não serão
observados os mencionados princípios.

Destacamos que o mérito para concessão de aposentadoria e de pensão é


analisado por ato de autoridades administrativas, não pelo TCU, que tem o dever
unicamente de verificar a legalidade do ato.

Se, ao fazer a verificação que lhe é cabida, o Tribunal de Contas conclui pela
existência de vício que afete o ato, determinará prazo para que o órgão responsável
adote as providências ao necessário cumprimento da lei.

O ato que concede aposentadoria e pensão é, portanto, complexo, sendo


que o TCU fica responsável unicamente por sua análise de adequação legal.

Em suma, aos atos praticados pelo TCU serão aplicados os princípios


constitucionais do contraditório e ampla defesa, não sendo observados, contudo, na
concessão de aposentadoria e pensão. Por que não? Porque são atos complexos,
em que o TCU verificará a legalidade do ato. Assim, a autoridade administrativa
concede a pensão, como concede a aposentadoria, mas sempre seu ato será
condicionado ao julgamento de legalidade pelo Tribunal de Contas. Sem o parecer
favorável do TCU, o ato não produzirá seus efeitos e não gerará mais do que
expectativa de direito.

Atenção! Gravem essa exceção: nos processos perante o Tribunal de


Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão

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STF: Súmula Vinculante nº 5

Falta de Defesa Técnica por Advogado no Processo Administrativo Disciplinar -


Ofensa à Constituição

A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar


não ofende a constituição.

 Comentários

Muito se questiona sobre a constitucionalidade desse enunciado. O


Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tem questionado junto
ao STF seu cancelamento, sob o argumento de que a falta de defesa técnica no
processo administrativo disciplinar, em razão da possibilidade de implicar aplicação
de pena ao servidor, devem ser observados os princípios constitucionais do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Segundo a Ordem, somente
aquele que efetivamente conhece o processo em sua complexidade poderia
desempenhar um trabalho em respeito pleno aos direitos fundamentais.

Coloquem um asterisco em mais um aspecto desses princípios: Importantíssimo


mencionar que:

* Há igualmente previsão legal para os princípios do contraditório, ampla


defesa, entre outros, na Administração Pública. Lei do Processo Administrativo, nº
9.784/99, caput do art. 2º:

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Também se aplica no Processo Administrativo, inclusive nos


PAD e Sindicâncias (com resultados punitivos) o princípio do
contraditório e da ampla defesa.

Vejamos o que aduz o art. 2° da Lei 9784/ 99 e os art. 153 e


156 da Lei 8112/90.

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Lei 9784/ 99

A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos


princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência (art. 2°).

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão


observados, entre outros, os critérios de:

(...)

VIII – observância das formalidades essenciais à garantia


dos direitos dos administrados;

- direito de manifestar-se acerca de todos os fatos do


processo, respeitando assim o contraditório e a ampla defesa.

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação


de alegações finais, à produção de provas e à interposição de
recursos, nos processos de que possam resultar sanções e
nas situações de litígio;

Lei 8112/90

O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do


contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a
utilização dos meios e recursos admitidos em direito (art. 153).

É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo


pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e
reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e
formular quesitos, quando se tratar de prova pericial (art. 156).

Dessa forma, como mesmo aduz o art. 5°, LV, CF, o princípio
do contraditório deve ser garantido tanto no processo
judicial como no administrativo.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DO JUIZ NATURAL

O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao


órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do
magistrado.

O primeiro aspecto do princípio quer assegurar que os processos sejam


julgados pelo juízo competente, ou seja, que a competência constitucional
preestabelecida seja cumprida. Já o segundo aspecto surge para garantir que o juiz
responsável pelo julgamento da demanda seja imparcial. Trata-se da essencial
exigência de imparcialidade que permite que o julgamento do processo seja justo.
Em razão dessa segunda faceta, as leis processuais estabelecem as causas de
impedimento e suspeição do magistrado.

Não cabe aqui nos alongarmos sobre a questão, mas em linhas gerais, nos
dois casos, o juiz deve declarar parcialidade no julgamento, quando ele deveria ser
imparcial. Costumamos dizer que o impedimento tem caráter objetivo e absoluto,
enquanto a suspeição é subjetiva e relativa. Isso quer dizer que no caso do
impedimento, por ser absoluto, pode ser questionado, pela parte, a qualquer tempo,
enquanto a suspeição pode ser sanada.

O impedimento é ocorrência mais grave, é uma situação em que a relação


do juiz com o caso é mais perceptível, de maneira que o motivo para que ele se
afaste do julgamento é indiscutível e inafastável – tanto que o juiz sendo tido como
impedido, estará proibido de julgar. Em casos de suspeição, o juiz deve declarar-se
subjetivamente ligado ao caso, mas é uma presunção relativa, que não
necessariamente irá interferir no julgamento.

 Hipóteses de Impedimento do Juiz

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no


processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;

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III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou


membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das
partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de
emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge,
companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor
público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes
do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento
do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato
conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado
que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha
diretamente no processo.

 Hipóteses de Suspeição do Juiz

Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou
depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da
causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou
companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:

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I - houver sido provocada por quem a alega;


II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação
do arguido.

Não nos prendamos a esses institutos, apenas gravem que eles existem e
que há um grau de presunção de envolvimento do magistrado diferente entre eles.

Voltando a falar do juiz natural em seus aspectos gerais, ele se constitui


numa cláusula do devido processo legal. É uma garantia fundamental implícita que
se origina da conjugação dos seguintes dispositivos constitucionais: o dispositivo
que proíbe o tribunal ou juízo de exceção (art. 5°, XXXVII) e o que determina que
ninguém poderá ser processado senão pela autoridade competente (art. 5°, LIII). Ele
se caracteriza pelo aspecto formal, objetivo, substantivo e material.

(TCU – Cespe 2011) O princípio processual do juiz natural, segundo a CF,


consiste na garantia de julgamento por juiz competente.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Exatamente o juiz natural, conforme previsão constitucional, como vimos, é o


princípio que impede o tribunal de exceção e determina que o julgamento se dê por
órgão judicial competente.

Os critérios para determinação de um juízo não podem ser definidos após a


ocorrência do fato que será julgado nem definidos segundo as características
pessoais de alguma das partes. Assim, os critérios para a determinação do juízo
devem ser impessoais, objetivos e pré-estabelecidos.

Gabarito: Certo

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A garantia do juiz natural advém dos princípios da imparcialidade e da


independência atribuída aos magistrados – daí a importância de estabelecer-se os
institutos da suspeição ou impedimento, quando houver dúvida sobre a
imparcialidade do julgador. As garantias do juiz natural são respeitadas por meio das
regras de distribuição – critérios prévios, objetivos, gerais e aleatórios para a
identificação do juízo responsável pela causa. O desrespeito ao princípio da
distribuição implicará incompetência absoluta do juízo.

Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, as


regras por prerrogativa de função, a instituição de Câmaras de Férias em tribunais.

Dúvida: Por que não há violação ao princípio do juiz natural nos casos
citados? Porque os três casos (varas especializadas, as regras por prerrogativa de
função, a instituição de Câmaras de Férias em tribunais) acima referem-se a
situações em que as regras são gerais, abstratas e impessoais.

- Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

[...] XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.

Comentários:

Aos Tribunais de exceção (juízo extraordinário) contrapõe-se


o juiz natural, pré-constituído pela Constituição Federal e por
Lei.

Em uma primeira acepção, o princípio do juiz natural


apresenta duplo significado:

1) Somente o juiz é o órgão investido de jurisdição;

2) Impede a criação de Tribunais de Exceção e ad hoc,


para o julgamento de causas penais e civis.

Indo um pouco além, pode-se afirmar que modernamente

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este princípio passa a englobar a proibição de subtrair o juiz


competente. Assim, a garantia desdobra-se em três
conceitos:

1) Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela CF;

2) Ninguém pode ser julgado por tribunal constituído


após a ocorrência do fato;

3) Entre os juízes pré-constituídos vigora a ordem


taxativa de competências que exclui qualquer
alternativa deferida à discricionariedade de quem
quer que seja.

Vejamos:

O tribunal (ou juízo) de exceção é aquele formado


temporariamente para julgar:

a) Um caso específico – Tribunal ad hoc;

b) Após o delito ter sido cometido designa o juízo – ex


post facto;

c) Para um indivíduo específico – ad personam.

Exemplo de Tribunal de exceção: Tribunal de Nuremberg


criado pelos aliados para julgar os nazistas pelos crimes
cometidos na 2° Guerra Mundial.

É constituído ao oposto dos princípios constitucionais do


Direito Processual Civil – do contraditório e da ampla defesa,
do juiz natural.

E qual o problema dos tribunais de exceção? O primeiro é


que eles invariavelmente não são imparciais. O segundo é
que a pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção,
perde algumas das garantias do processo, como a do duplo
grau de jurisdição e do juiz natural.

Terceiro, o Tribunal de exceção não necessariamente é

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formado por juristas, podendo ser composto por qualquer


pessoa, ferindo, dessa forma a garantia constitucional do
juiz competente:

[...] LIII - ninguém será processado nem sentenciado


senão pela autoridade competente (art. 5°).

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA ISONOMIA

Também chamado de princípio da igualdade, o princípio da isonomia,


consagrado no caput do art. 5o da CF – “todos são iguais perante a lei” –, relaciona-
se com a ideia de um processo justo, em que os sujeitos processuais recebem um
tratamento isonômico.

Essa igualdade não deve ser interpretada de modo absoluto. As


diversidades existem e, por isso, obedecem a regra: “tratar os iguais na medida de
suas igualdades e os desiguais na medida da suas desigualdades”. É somente
assim que se garante a correta aplicação do princípio da isonomia.

No Código de Processo Civil dispõe de vários artigos que versam sobre a


aplicação desse princípio. O art. 139, I, aduz que “o juiz dirigirá o processo conforme
as disposições deste Código, competindo-lhe assegurar às partes igualdade de
tratamento”.

O art. 178, II do CPC é um dispositivo que claramente assegura a igualdade


substancial, dizendo que “compete ao Ministério Público intervir nas causas em que
há interesses de incapazes”. Esse artigo visa garantir a igualdade substancial entre
os capazes e os incapazes, uma vez que não há como assegurar, nessa relação, a
igualdade material entre as partes do processo.

O princípio da isonomia respeita as desigualdades, no intuito de superá-las e


igualar os homens perante o ordenamento jurídico.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA


INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL

O art. 5°, XXXV da CF estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do


Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Dessa forma, o princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional surge para assegurar que todos que se
sentirem lesados ou tenham o seu direito ameaçado tenham acesso ao poder
judiciário. A tutela prestada pelo Estado, por meio dos órgãos jurisdicionais, deve ser
capaz de garantir, efetivamente, o direito material lesado ou ameaçado para o qual
se pede proteção.

O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional tem como


consequência preservar o direito e prestar a tutela jurídica adequada, sendo
inconstitucional qualquer dispositivo normativo que impeça os órgãos do poder
judiciário de proteger os direitos lesados ou ameaçados que são levados até ele.

O novo CPC dispõe em seu artigo 3º sobre o acesso à


justiça/inafastabilidade da jurisdição. Cita a arbitragem e os meios alternativos de
resolução de conflito como exceções à jurisdição, em seu aspecto tradicional.

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos


conflitos.

§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de


conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e
membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA MOTIVAÇÃO


DAS DECISÕES JUDICIAIS

Consagrado no art. 93, IX, da CF, determina que toda decisão judicial deve
ser motivada sob pena de nulidade. Essa exigência de fundamentação precisa ser
analisada tanto sob os aspectos da razão dessa exigência como em relação ao
sentido da motivação das decisões, consequência de sua ausência ou insuficiência.

O ordenamento busca, com a exigência de fundamentação, proteger tanto


os interesses das partes como o interesse público. As partes necessitam ser
informadas do motivo que levou o juiz a tomar tal decisão e, sabendo os motivos,
elaborar sua defesa – o recurso.

A razão de ordem pública, por sua vez, busca, por meio da motivação,
verificar se a decisão do magistrado foi ou não imparcial. A fundamentação é o meio
essencial para a realização do controle difuso da atuação dos juízes.

O princípio da motivação assegura a participação da sociedade no controle


da atividade jurisdicional, conferindo-lhe legitimidade. Esse instrumento busca
garantir uma justificativa política para as decisões.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA


TEMPESTIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL

A EC no 45/2004 – Emenda da Reforma do Poder Judiciário – inseriu o


inciso LXXVIII no art. 5o, assegurando “a todos, no âmbito judiciário e administrativo,
a razoável duração do processo e meios que garantam a celeridade de sua
tramitação”. Ficou, dessa forma, instituído o princípio da tempestividade da tutela
jurisdicional.

Ressalte-se a existência desse princípio no art. 8º, I, da Convenção


Americana de Direitos Humanos, ratificado em 1992. Com a EC no 45/2004, tal
princípio passou a ser garantia constitucional no ordenamento jurídico brasileiro.

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O princípio da tempestividade da tutela jurisdicional surge para dar ao


processo maior celeridade. Para não permitir que haja dilatações patológicas na
prestação da tutela jurisdicional, legitimando a punição às condutas protelatórias,
sejam omissas ou comissivas.

Os artigos 4° e 6º do NCPC reproduzem-se, na esfera infraconstitucional, os


princípios da economia e da eficiência processuais, no contexto de uma razoável
duração do processo.

Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do


mérito, incluída a atividade satisfativa.

Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL: DA BOA-FÉ

Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se


de acordo com a boa-fé.

O artigo citado acima impõe aos sujeitos do processo o dever de agir com
boa-fé. Trata-se de boa-fé objetiva, portanto, indo além dos deveres de probidade do
artigo 77 do NCPC.

Enunciado nº 6 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: o negócio


jurídico processual não pode afastar os deveres inerentes à boa-fé e à cooperação,
(Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio)

 Fontes formais do Direito Processual Civil

São fontes formais do Direito Processual Civil: a Constituição Federal; as leis


federais (natureza, por exemplo, do Código de Processo Civil – Lei ordinária nº
5.869/73); constituição e leis estaduais (competência supletiva); súmulas vinculantes
emitidas pelo Supremo Tribunal Federal.

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Os costumes, a analogia e os princípios gerais de direito são considerados


fontes acessórias.

A jurisprudência, por seu turno, é fonte não formal. Ainda que seja constituída
por tribunais e tenha indiscutível repercussão sobre os juízes singulares, não terá o
poder de vinculação, salvo como se mencionou, a súmula vinculante.

Hodiernamente, a jurisprudência tem recebido valor cada vez maior de


nossos legisladores, visando a uma maior coerência dos julgamentos e maior
integração dos órgãos judiciários. Vigora no Código de Processo Civil, no art. 476, o
incidente de uniformização, segundo o qual a prestação judicial deve guardar certo
grau de convergência entre os órgãos judiciais, sob risco de instabilidade jurídica,
em que as partes poderiam ser entregues à própria sorte.

DAS NORMAS PROCESSUAIS E DA SUA APLICAÇÃO

Legenda:

Texto em preto: redação do CPC/73 que foi mantida.


Texto em azul: redação do CPC/73 que foi modificada.
Texto em vermelho: alterações do projeto original em comparação com CPC/73.
Texto em verde: alterações do relatório geral em comparação com o projeto original.

Redação do Código de Redação original do projeto de Lei do Alterações apresentadas no


Processo Civil em vigor Senado n.º 166, de 2010 relatório-geral do Senador
(CPC/1973) Valter Pereira

Art. 12. A jurisdição civil será regida


13
unicamente pelas normas processuais
brasileiras, ressalvadas as
disposições específicas previstas em
tratados ou convenções internacionais
de que o Brasil seja signatário.
Art. 1.211. Este Código Art. 13. A norma processual não
14
regerá o processo civil em retroagirá e será aplicável
todo o território brasileiro. imediatamente aos processos em
Ao entrar em vigor, suas curso, respeitados os atos
disposições aplicar-se-ão processuais praticados e as situações
desde logo aos processos jurídicas consolidadas sob a vigência
pendentes. da lei revogada.
Art. 14. Na ausência de normas que Art. 15. Na ausência de normas
regulem processos penais, eleitorais, que regulem processos penais,
administrativos ou trabalhistas, as eleitorais ou administrativos ou

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disposições deste Código lhes serão trabalhistas, as disposições


aplicadas supletivamente. deste Código lhes serão
aplicadas supletivamente.

Lei nº 13.105/2015 - PARTE GERAL


LIVRO I
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS
TÍTULO ÚNICO
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
CAPÍTULO I
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
o
Art. 1 O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e
as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil,
observando-se as disposições deste Código.
Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial,
salvo as exceções previstas em lei.
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos
deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério
Público, inclusive no curso do processo judicial.
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa.
Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo
com a boa-fé.
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em
tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos
e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de
sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências
do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;

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II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;


III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate
de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença
somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão
para proferir sentença ou acórdão.
§ 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição
para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.
§ 2o Estão excluídos da regra do caput:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência
liminar do pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em
julgamento de casos repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas
repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;
V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal;
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada.
§ 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões
entre as preferências legais.
§ 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1o, o requerimento formulado
pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura
da instrução ou a conversão do julgamento em diligência.
§ 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em
que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1o ou, conforme o caso, no § 3o, o
processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de
realização de diligência ou de complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.

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CAPÍTULO II
DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as
disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o
Brasil seja parte.
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos
em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob
a vigência da norma revogada.
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

DA JURISDIÇÂO

Como já vimos logo no artigo 1º, o Novo CPC deve ser interpretado, ordenado
e pensado de maneira integrada à Constituição. Evidentemente, este tipo de
previsão não seria sequer necessária em razão da supremacia das normas
constitucionais, mas não deixa de simbolizar uma nova e importante didática e,
acima disso, a tendência contemporânea de atribuir aos princípios o valor diretivo
que lhes é inerente aos operadores do Direito, inclusive àqueles que se equivocam
ao restringir sua leitura aos dispositivos do Código, como se não houvesse outra
fonte de Direito Processual Civil.

Há, nesse contexto, uma nova hermenêutica, consubstanciada no § 1º do


artigo 5º da Constituição da República, a saber:

Art. 5º [...] § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais


têm aplicação imediata.

Cumpre-se interpretar a Constituição como um todo normativo, no qual o


Novo CPC é recepcionado e, com base nos preceitos fundamentais, deve-se evitar
qualquer tipo de antinomia entre as normas.

A partir dessas linhas introdutórias, passemos ao estudo do instituto da


Jurisdição.

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LIVRO I
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS
TÍTULO ÚNICO
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
CAPÍTULO II
DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS

Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas
as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos
internacionais de que o Brasil seja parte.
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos
processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações
jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

INTRODUÇÃO
O conflito é uma característica inerente do ser humano. Quando não havia
um Estado organizado, a solução dos conflitos dava-se pela atuação dos próprios
interessados - aquele que dispusesse de maior força ou sagacidade vencia a
disputa. A solução dos conflitos consolidava-se, desse modo, por instrumentos
parciais.

A partir da consolidação do Estado, passou a existir um poder central para a


solução dos conflitos, o poder estatal. Ao poder judiciário, não participante do litígio,
portanto imparcial, atribuiu-se a função de aplicar a lei, em regra abstrata, em busca
da pacificação social. Atribuiu-se a ele o chamado poder jurisdicional.

Percebam, então, que a consolidação de um poder central veio


acompanhada de um sistema que desse segurança jurídica à sua população, sob
risco de o poder central ser mera peça de manobra de forças preponderantes.

São duas figuras indissociáveis: 1) O Poder Central (Estatal) e 2) a


instituição de um controle imparcial da conduta dos jurisdicionados. Imaginem a
existência de uma sociedade onde não há segurança jurídica, onde não se sabe ao

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certo como garantir a propriedade sobre seus bens e a justeza no conflito com seus
pares... Esse cenário impediria os indivíduos de buscarem prosperidade porque
estariam voltados, a todo momento, para questões de segurança. A jurisdição veio
dar ao Estado a legitimidade para agir em nome do interesse público e ao
jurisdicionado a segurança jurídica para prosperar.

Em seu conceito tradicional, jurisdição é o poder de resolver um conflito


entre as partes, substituindo a vontade delas pela da lei. Ela tem como característica
a substitutividade, que consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao
solucionar a lide, estaria substituindo a vontade das partes, proibindo a elas de
estarem, em regra, fazendo valer a justiça do mais forte. No entanto, não é somente
quando há conflito entre as partes que o poder estatal atua, nem é sempre que há
substituição da vontade das partes.

Na concepção moderna, jurisdição é a atuação estatal ao caso concreto;


uma atuação com caráter de definitividade – diz respeito à imutabilidade da
sentença, que faz coisa julgada material –, objetivando a pacificação social.

Assim, a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por meio dos


seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que não pôde
ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da intervenção do
estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

De modo sucinto, Marcus Vinícius R. Gonçalves define Jurisdição como a:


“Função do Estado, pela qual ele, no intuito de solucionar os conflitos de interesse
em caráter coativo, aplica a lei geral e abstrata aos casos concretos que lhe são
submetidos”. (Direito Processual Civil Esquematizado).

Há entendimento da doutrina de que o poder jurisdicional não se restringe a


dizer o direito (juris-dicção), alcança também a imposição do direito (juris-
satisfação). Obviamente, não é suficiente esperar que o Estado apenas diga o
caminho a ser trilhado, espera-se que o poder estatal faça o direito ser efetivamente
aplicado. Por isso, o Estado-juiz, por meio do seu poder jurisdicional, tem a
capacidade de impor suas decisões. É um poder coativo.

Dúvida: Qual dos três poderes, da clássica divisão montesquiana, é


responsável pela jurisdição? Ela é atribuída ao poder judiciário como função típica,

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mas também a outros poderes, como função atípica. Exemplo: processo de


impeachment, que pode ser conduzido pelo legislativo, ou das sindicâncias, pelo
poder executivo.

Fredie Didier Jr. mantém o conceito abrangente e inovador à Jurisdição em


seu novo Curso de Direito Processual Civil, a saber:

“A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial (a) de


realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo
(reconstrutivo) (c), reconhecendo/efetivando/protegendo
situações jurídicas (concretamente) deduzidas (e), em decisão
insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar-
se indiscutível (g). (Curso de Direito Processual Civil” (vol. I,
17ª ed. p. 153))

Esse conceito moderno apresentado por Didier deve ser analisado, pois está
de acordo com a realidade das transformações por que passou o Estado.

A inovação mais relevante neste conceito é apontar o exercício da jurisdição a


terceiro imparcial, não considerando o Estado detentor exclusivo desse poder/dever.
Importante salientar que a imparcialidade não se confunde com a neutralidade. Não
existe juiz neutro, pois todo ser humano tem vontade inconsciente, formada por suas
experiências ao longo da vida, por sua vivência, traumas, medos, preferências.

Sobre a questão, importante registrar que gerou polêmica no Fórum


Permanente de Processualistas Civis (FPPC), sendo que dois enunciados (4 e 5)
que tratavam da questão foram posteriormente revisados e cancelados porque
consideravam que árbitro também poderia ser detentor de jurisdição:

Os enunciados sobre arbitragem foram aprovados por aclamação no FPPC


de Salvador; por isso, no FPPC-Rio, tiveram de passar por uma reavaliação
criteriosa da assembleia. Disso resultou que alguns foram cancelados. 4 Redação
original: “O árbitro é dotado de jurisdição para processar e julgar a controvérsia a ele
apresentada, na forma da lei”. (Grupo: Arbitragem). 5 Redação original: “O árbitro é

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juiz de fato e de direito e como tal exerce jurisdição sempre que investido nessa
condição, nos termos da lei”. (Grupo: Arbitragem)

Ainda mais convincente a parte do conceito que considera o aspecto de


criação e reconstrução do exercício de se dizer o direito, já que o sistema normativo
tende, como temos visto, a uma dimensão mais aberta, transferindo ao órgão
jurisdicional a tarefa de completar o sentido da norma, a criação do direito.

Feitas essas considerações, vejamos cada elemento elencado no conceito.

a) Terceiro imparcial: na solução da lide utiliza-se a técnica de


heterocomposição – o conflito é solucionado por um agente exterior à
relação conflituosa original. Os sujeitos do processo submetem a terceiro
seu conflito, em busca de solução. Chiovenda chama essa
heterocomposição de substutividade, sendo esta a característica que
diferencia jurisdição das outras funções estatais.

Ok! E o que é substutividade? Bem pessoal, como falamos há pouco a


substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a
lide, está substituindo a vontade das partes, já que elas estariam proibidas de, em
regra, fazer valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição
tradicional).

(TJ ES 2011) Acerca da função jurisdicional, da ação e suas características,


julgue o item seguinte.
A função jurisdicional é, em regra, de índole substitutiva, ou seja, substitui-se
a vontade privada por uma atividade pública.
a) Certo
b) Errado
Gabarito: Certo

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Destaque-se, uma vez mais, que é importante não se confundir neutralidade


com imparcialidade. Neutralidade é o mito que se sustenta na possibilidade de o juiz
não ter vontade inconsciente; segundo a qual predominaria a vontade dos sujeitos
processuais e não o interesse geral da justiça.

A imparcialidade, por seu turno, determina que o magistrado não pode ter
interesse na lide, bem como possui o dever de tratar as partes com igualdade,
garantindo o contraditório em paridade de armas.

b) Manifestação de Poder: a jurisdição coloca-se de modo imperativo,


aplicando o direito a situações que são levadas ao Estado, ao órgão
jurisdicional.

c) Atividade criativa: “cria-se a norma jurídica do caso concreto, bem


como se cria, muitas vezes, a própria regra abstrata que deve regular o
caso concreto.” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr.,
Fredie). As normas não são capazes de determinar todas as decisões
dos Tribunais. Há necessidade de interpretação ou confirmação da
consistência dos textos normativos quando aplicados ao caso concreto.
Dessa forma, cabe aos Tribunais interpretar, construir e distinguir os
casos para formulação da decisão. Eles exercem um papel singular na
produção normativa.

d) Técnica de tutela: a jurisdição é considerada uma importante técnica de


tutela de direitos. A proteção jurídica deve contemplar todas as situações
jurídicas.

e) Situação jurídica concreta: a jurisdição atua em situações concretas.


Exemplo: ameaça de lesão a direitos (em que se requer uma tutela
inibitória).

f) Impossibilidade de controle externo da função jurisdicional: uma das


características da função jurisdicional é a capacidade de produzir a última
decisão sobre o caso concreto deduzido em juízo: ao caso aplica-se o
Direito sem que aja possibilidade de apreciação, controle de outro poder.
A jurisdição é controlada, somente, pela própria jurisdição.

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g) Aptidão para tornar-se indiscutível: sabemos que a coisa julgada é uma


situação jurídica referente às decisões jurisdicionais, exclusivamente. Só
uma decisão judicial pode vir a ser indiscutível e imutável pela coisa
julgada material. No entanto, não podemos deduzir que somente haverá
jurisdição se houver coisa julgada, pois esta é uma opção política do
Estado. Há casos em que o legislador não retira das decisões a aptidão
de submeter-se à coisa julgada, mas isso não aniquila a
jurisdicionalidade das decisões. Ora, a coisa julgada é um elemento a
posteriori da decisão e, portanto, não pode ser elemento ou característica
de existir da decisão. É fato que somente a jurisdição possui a
característica da definitividade – diz respeito ao caráter de imutabilidade
da sentença, que faz coisa julgada material (característica do conceito
moderno de jurisdição).

No intuito de preencher todas as possíveis formas de ser cobrado o conceito


de jurisdição, vamos compreendê-lo de uma outra perspectiva. A doutrina diz que a
jurisdição é o poder que o estado avocou para si de dizer o direito, de fazer justiça,
em substituição aos particulares. Podemos, na realidade, dizer que a jurisdição é
poder, função e atividade. É poder devido à capacidade de imposição das
decisões às partes pelo Estado – o poder decorre da potestade (força para impor
sua decisão) do Estado exercida de maneira definitiva sobre as partes litigantes.
Função por cumprir a finalidade de fazer valer a ordem jurídica em face de um
conflito. Por último, é atividade por consistir em uma série de manifestações (atos)
externas e ordenadas que resultam na declaração do direito e na concretização do
que foi pleiteado.

Atente-se para o fato de que o poder da jurisdição se subdivide em três


espécies: o poder de decisão, o de coerção e o de documentação. No poder de
decisão, o Estado-juiz deve conhecer a pendenga judicial, colher provas e decidi-la.
É o poder do Estado- juiz de analisar, verificar e decidir o litígio – poder de decisão.
O segundo [de coerção], diz respeito ao poder do Estado-juiz em impor à parte
vencida o cumprimento da decisão por ele proferida. O poder de documentação, por
sua vez, ocorre quando o Estado-juiz documenta os atos processuais.

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(DPE BA) No Direito Processual Civil Brasileiro, a jurisdição compreende três


poderes, que são o de
a) decisão, o de coerção e o de documentação.
b) coerção, o de documentação e o de exposição.
c) documentação, o de exposição e o de disposição.
d) exposição, o de disposição e o de decisão.
e) disposição, o de decisão e o de coerção.
Gabarito: A

Novo CPC
LIVRO II
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
TÍTULO I
DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o
território nacional, conforme as disposições deste Código.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando
autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir
como assistente litisconsorcial.
Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:
I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica;
II - da autenticidade ou da falsidade de documento.
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a
violação do direito.

1. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS

O Estado não detém exclusividade na solução de conflitos. Existem formas


alternativas: autotutela, autocomposição, arbitragem.

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A autotutela (autodefesa) é a forma mais antiga de se resolver conflitos.


Ocorre o sacrifício integral do interesse de uma das partes, pelo uso da força da
outra parte. Assim, a autotutela ocorre quando a própria parte busca afirmar seu
interesse impondo-o à parte contrária. Podemos considerar que a autotutela, de
certo modo, permite o exercício de coerção por um particular em defesa de seus
interesses. Modernamente, tem-se buscado restringir as formas de exercício da
autotutela, transferindo para o Estado as diversas formas de coerção. O Direito
prevê casos excepcionais em que pode ser empregada: legítima defesa (art. 188, I,
do CC), desforço imediato no esbulho (art. 1.210, parágrafo 1 o do CC). A autotutela
pode ser totalmente revista pelo poder judiciário.

A autocomposição consiste no acordo entre as partes envolvidas no


conflito para chegar a uma solução, ou seja, o conflito é solucionado pelas partes
sem a intervenção de agentes externos no processo de pacificação da lide. A
autocomposição ocorre quando há o despojamento unilateral em favor de outrem
(da vontade por este almejada); quando há aceitação ou resignação de um dos
sujeitos aos interesses do outro ou quando há concessão recíproca efetuada pelas
partes. Em tese, não há de se falar em coerção dos indivíduos.

As modalidades de autocomposição são três: renúncia, aceitação


(resignação/submissão) e a transação. A renúncia ocorre quando o titular do direito,
unilateralmente, dele de despoja em favor de outrem. A aceitação, por sua vez,
ocorre quando um dos sujeitos reconhece o direito do outro, passando a guiar-se
pela plena consonância com este reconhecimento. Já a transação ocorre quando os
sujeitos que se consideram titulares do direito pleiteado solucionam a lide por meio
de concessões recíprocas.

A arbitragem é uma técnica de solução de conflitos em que as partes


buscam em uma terceira pessoa a solução do litígio. Dessa forma, a arbitragem
ocorre quando a fixação da solução da lide entre as partes é entregue a um terceiro,
denominado árbitro, em geral escolhido pelas partes.

No direito brasileiro, a arbitragem somente pode se dirigir a acertamento de


direitos patrimoniais disponíveis. É o que aduz o art. 1º da Lei 9.307/96 que regula a

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arbitragem: “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para


dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.”

A arbitragem possui caráter voluntário podendo ser de direito ou de


equidade, a critério das partes, que poderão escolher, livremente, as regras de
direito que serão aplicadas, desde que não haja violação aos bons costumes e à
ordem pública. Igualmente, poderão as partes convencionar que a arbitragem se
realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.

As partes interessadas podem, por exemplo, submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a
cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

A cláusula compromissória (prévia e abstrata) é a convenção por meio da


qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios
que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Deve ser estipulada por escrito,
podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se
refira.

Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o


aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente,
com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito,
com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver


inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade
da cláusula compromissória. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação
das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de
arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Já o compromisso arbitral (posterior e concreta) é o estabelecimento


posterior ao conflito que esse será solucionado por meio da arbitragem.

Art. 6º da Lei 9.307/96: Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir
a arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar
início à arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação,

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mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local


certos, firmar o compromisso arbitral.

O compromisso arbitral pode ser judicial ou extrajudicial. O compromisso


arbitral judicial celebra-se por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem
curso a demanda. O compromisso arbitral extrajudicial é celebrado por escrito
particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

A mediação é uma conduta pela qual um terceiro coloca-se entre as partes e


tenta conduzi-los à solução autocomposta. Didier aduz “tratar-se de uma técnica
para catalisar a autocomposição” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr.,
Fredie). Na mediação, diferentemente do que ocorre na conciliação, o foco não recai
no conflito propriamente, mas se desloca para as causas desse conflito.

A mediação surge como um instrumento de pacificação social, uma vez que há


a perspectiva de solução da lide sem qualquer decisão impositiva e busca-se a
preservação do interesse das partes litigantes.

O mediador tem a função de conduzir, e não propor soluções ao conflito das


partes como o conciliador faz. Os litigantes devem discutir as causas do conflito e
chegar a uma solução. Assim, a função do mediador é de induzir as partes a chegar,
por elas mesmas, à solução da lide. “O sentimento de capacidade que certamente
será sentido pelas partes também é aspecto que torna a mediação uma forma
alternativa de solução de conflitos bastante atraente.” (Neves, Daniel Amorim
Assumpção, pg. 7, Manual de Direito Processual Civil)

CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO (Tabela com artigos do novo CPC)

AUTOCOMPOSIÇÃO

A solução negocial, além de ser um meio efetivo de resolução de conflitos, é


um elemento de desenvolvimento da cidadania. As partes passam a ser
protagonistas na solução do litígio. A autocomposição, assim, pode ser
compreendida como um reforço do poder das partes em regular suas relações
conflitantes. Vê-se, nestes meios de solução alternativos de conflito, um forte caráter
democrático.

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A Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça normatizou a


mediação e a conciliação até a edição do Novo CPC, que dedica um capítulo inteiro
a estes meios de solução de controvérsias.

Dessa forma, pode-se dizer que o sistema brasileiro vem se estruturando no


sentido de estimular a autocomposição. Vejamos o que diz o artigo 3º do Novo CPC.

NCPC:
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos
deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

Mediação e conciliação são, igualmente, formas de solução de conflitos em que


um terceiro intervém no processo conflituoso com o intuito de auxiliar as partes
envolvidas a chegar à autocomposição. Aqui não cabe ao terceiro resolver a
pendenga, como ocorre na arbitragem. Cabe a ele exercer um papel estimulante na
solução negocial do litígio. Por isso, não estamos diante de uma espécie de
heterocomposição, mas, sim, diante de exemplos de autocomposição, com a
integração de um terceiro.

As duas formas são os principais exemplos de resolução alternativa de


controvérsias. A diferença entre elas é sutil, mas a doutrina as considera técnicas
distintas de autocomposição.

O conciliador participa da negociação de modo mais ativo. Pode ele, inclusive,


sugerir às partes soluções para a pendenga. É indicada, com mais frequência, na
solução de conflitos em que as partes não tenham tido vínculo anterior.

O mediador, por seu turno, já possui um papel mais amplo. Exerce um papel de
comunicador das partes, um facilitador do diálogo. Auxilia os envolvidos a
compreender as questões do conflito, para que possam chegar a soluções
consensuais. É mais indicada quando já existe uma relação anterior entre as partes,

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como nas relações familiares e societárias. A mediação atinge êxito quando as


partes atingem um resultando que gerem benefícios mútuos.

NCPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e
mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a Neste sentido é importante ler o artigo 165 do Novo CPC.

autocomposição.
§ 1o A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo
tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça.
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a
utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes
conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios
mútuos.

As duas modalidades podem ocorrer judicial ou extrajudicialmente.

Judicialmente, o mediador e o conciliador serão auxiliares da justiça, o que


implica dizer que a eles serão aplicadas as regras relativas a este tipo de sujeito
processual, inclusive no que tange às questões de impedimento e suspeição.

A mediação e a conciliação podem ocorre em câmaras públicas, em câmaras


privadas ou em ambientes mais informais, como nos escritórios de advocacia.

NCPC:
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e
mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou
de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com
indicação de sua área profissional.

Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras


de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de

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conflitos no âmbito administrativo, tais como:


I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de
conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
Art. 175. As disposições desta Seção não excluem outras formas de conciliação e
mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por intermédio
de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica.
Parágrafo único. Os dispositivos desta Seção aplicam-se, no que couber, às
câmaras privadas de conciliação e mediação.

Vejamos agora quem pode exercer o papel de mediador ou conciliador. Podem


exercer essa função tanto funcionários públicos como profissionais liberais.

NCPC:
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação
e mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça
ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com
indicação de sua área profissional.
§ 1o Preenchendo o requisito da capacitação mínima, por meio de curso realizado
por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho
Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça, o conciliador ou o
mediador, com o respectivo certificado, poderá requerer sua inscrição no cadastro
nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal.
§ 2o Efetivado o registro, que poderá ser precedido de concurso público, o tribunal
remeterá ao diretor do foro da comarca, seção ou subseção judiciária onde atuará o
conciliador ou o mediador os dados necessários para que seu nome passe a constar
da respectiva lista, a ser observada na distribuição alternada e aleatória, respeitado o
princípio da igualdade dentro da mesma área de atuação profissional.
§ 3o Do credenciamento das câmaras e do cadastro de conciliadores e
mediadores constarão todos os dados relevantes para a sua atuação, tais como o
número de processos de que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a
matéria sobre a qual versou a controvérsia, bem como outros dados que o tribunal
julgar relevantes.
§ 4o Os dados colhidos na forma do § 3o serão classificados sistematicamente
pelo tribunal, que os publicará, ao menos anualmente, para conhecimento da
população e para fins estatísticos e de avaliação da conciliação, da mediação, das
câmaras privadas de conciliação e de mediação, dos conciliadores e dos mediadores.
§ 5o Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se
advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que
desempenhem suas funções.

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§ 6o O tribunal poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e


mediadores, a ser preenchido por concurso público de provas e títulos, observadas as
disposições deste Capítulo.

Quanto à remuneração ou não dessas atividades, o NCPC prevê tanto a


remuneração como atuação voluntária. É importante destacar que a remuneração
dessas atividades ajuda no aprimoramento e capacitação destes auxiliares de
justiça.

NCPC:
Art. 169. Ressalvada a hipótese do art. 167, § 6º, o conciliador e o mediador
receberão pelo seu trabalho remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal,
conforme parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.
§ 1º A mediação e a conciliação podem ser realizadas como trabalho voluntário,
observada a legislação pertinente e a regulamentação do tribunal.
§ 2º Os tribunais determinarão o percentual de audiências não remuneradas que
deverão ser suportadas pelas câmaras privadas de conciliação e mediação, com o fim de
atender aos processos em que deferida gratuidade da justiça, como contrapartida de seu
credenciamento.

Dúvida: Quem escolhe estes auxiliares? Consensualmente, as partes podem


escolher o mediador e o conciliador e a câmara privada para a realização da
autocomposição. Se a escolha recair sobre um profissional não cadastrado no
tribunal, deverá ser realizado o devido cadastro deste para que ele se habilite a
participar.

NCPC:
Art. 168 do NCPC. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o
mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação.
§ 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar
cadastrado no tribunal.
§ 2º Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador, haverá
distribuição entre aqueles cadastrados no registro do tribunal, observada a respectiva
formação.
§ 3° Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador ou
conciliador.

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1.1. CLASSIFICAÇÃO

A jurisdição é una e indivisível, mas é comum dividi-la para efeitos didáticos,


quanto ao objeto, à hierarquia, ao órgão. Também é dividida em contenciosa e
voluntária.

Quanto ao objeto, a jurisdição pode ser civil ou penal. São de natureza civil
todas as que não tenham caráter penal. Há doutrinadores que discordam da
limitação a essas duas espécies e incluem as outras esferas jurisdicionais na
classificação: trabalhista, penal militar, eleitoral.

Quanto à hierarquia, classifica-se em inferior ou superior. Inferior é a que


tem a chamada competência originária, ou seja, que recebe o processo primeiro; a
superior tem atuação recursal.

Relativamente ao órgão que a exerce, poderá ser especial e comum.


Especial é definida pela Constituição Federal com base na matéria a ser tratada:
Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militar; sendo a comum todo o
restante (daí, falar-se em competência residual). A Justiça Comum é composta pela
Justiça Federal e pela Justiça Estadual.

 JURISDIÇÃO: pode ser nacional ou internacional. Vejamos:


Jurisdição Comum

Jurisdição Federal e Estadual. Dividem-se em


Jurisdição Nacional: UNA jurisdição civil e penal.

Jurisdição Especial

Jurisdição Internacional Jurisdição trabalhista, eleitoral e militar.

 Jurisdição UNA: Adotada no Brasil: Poder Judiciário exerce a jurisdição com


exclusividade (causas comuns e administrativas). As causas que envolvem o Estado
são julgadas pelo Poder Judiciário.

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 Jurisdição DUAL: Adotada, por exemplo, na França. Tribunais Judiciários (causas


comuns) e Tribunais Administrativos (causas administrativas). As causas que
envolvem o Estado são julgadas pelo Poder Administrativo.

LIVRO II
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
TÍTULO II
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL
CAPÍTULO I
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL
Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em
que:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no
Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as
ações:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens,
recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou
residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição
nacional.
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento
particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da
herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à
partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade

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estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.


Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não
obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe
são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e
acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a
homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos
no Brasil.
Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o
julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro
em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação.
§ 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional
exclusiva previstas neste Capítulo.
§ 2o Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4o.

A jurisdição também poderá ter natureza contenciosa ou voluntária.


Contenciosa é a rotineira; enquanto na voluntária não há, em tese, conflito de
interesses (exemplo: homologação de acordo previamente firmado entre as partes).
Nessa espécie, o interessado ou interessados buscam a prestação jurisdicional do
Estado quando não podem alcançar seus objetivos sozinhos.

(TJ – CE 2011/ Adaptada) Sobre jurisdição e ação é correto dizer que:

a) Pelo princípio da aderência os juízes e tribunais exercem a atividade


jurisdicional apenas no território nacional. Essa atividade é repartida de
acordo com as regras de competência.

COMENTÁRIOS:

A questão está correta. Percebam que o princípio da aderência ligado ao


princípio internacional da não ingerência em assuntos de outros povos impõe os
limites territoriais do País para exercício da jurisdição pelo Estado-juiz nacional.

Gabarito: A

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(TST 2008) A jurisdição é a atividade desenvolvida pelo Estado por meio da


qual são resolvidos conflitos de interesses visando-se à pacificação social.
Acerca desse tema, é correto dizer que a jurisdição pode ser classificada em
comum ou especial.
a) Certo
b) Errado
Gabarito: A

(TST 2008) Por seu inegável alcance social, a justiça trabalhista é exemplo
claro de jurisdição comum.
a) Certo
b) Errado
Gabarito: B

(TST 2008) Considerando-se a sistemática federativa vigente no Brasil, a


justiça comum é dividida em federal e estadual.
a) Certo
b) Errado
Gabarito: A

1.1.1. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA VERSUS JURISDIÇÃO CONTENCIOSA

Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o
território nacional, conforme as disposições deste Código. (Novo CPC)

A jurisdição pode ser: contenciosa ou voluntária. Vejamos cada uma delas.

Em regra, a jurisdição contenciosa decorre de processo judicial. Ela é


marcada pelo litígio entre as partes, que, por sua vez, termina com a sentença de
mérito. Sua decisão pode ser, e comumente o é, traumática porque beneficia uma
das partes somente, causando prejuízo à outra.

A jurisdição voluntária, também conhecida como administrativa ou


integrativa, é uma atividade estatal de integração e fiscalização. Em verdade, não é
voluntária: há obrigatoriedade, em regra, de participação do Poder Judiciário para
integrar as vontades e, dessa maneira, tornar apta a produção de seus efeitos.

As garantias fundamentais do processo são aplicadas à jurisdição voluntária

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e também aos magistrados, que estão atrelados a dois elementos:

a) Inquisitoriedade: o magistrado poderá decidir de modo contrário à


vontade das partes.
b) Possibilidade de decisão fundada em equidade (art. 723 do CPC):
não se observa na decisão a legalidade estrita. A sentença é baseada nos critérios
de conveniência e oportunidade. O órgão jurisdicional tem ampla discricionariedade
na condução e na decisão do processo em jurisdição voluntária.

1.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

1 – Receptícios: a atividade judicial limita-se a registrar, documentar ou


comunicar manifestações de vontade. Exemplo: notificações, protestos.

2 – Probatórios: a atividade jurisdicional limita-se à produção da prova.


Exemplo: justificação.

3 – Declaratórios: o magistrado limita-se a declarar a existência ou


inexistência de uma situação jurídica. Exemplo: da posse em nome do nascituro.

4 – Constitutivos: a criação, modificação ou extinção de uma situação


jurídica dependem da concorrência da vontade do magistrado, por meio de
autorizações, homologações, aprovações. Exemplo: interdição.

5 – Executórios: o magistrado deve exercer uma atividade prática que


modifica o mundo exterior. Exemplo: alienações de coisas.

6 – Tutelares: a proteção de interesses de determinadas pessoas que se


encontram em situação de desamparo é confiada ao Poder Judiciário – poderá
instaurar os procedimentos ex officio. Exemplo: Nomeação de curadores.

Quanto à natureza da jurisdição voluntária, há divergência


se ela é de administração pública de interesses privados ou se de
atividade jurisdicional.

a) Como administração pública – linha que tem crescido


na doutrina brasileira – parte-se do pressuposto de que a

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jurisdição voluntária não é jurisdição, mas sim administração


pública de interesse privado.

Isso porque não existe lide a ser resolvida nem a


possibilidade de substitutividade – o magistrado insere-se entre as
partes do negócio jurídico e não as substitui. Além disso, por não
ocorrer a jurisdição, não se falaria em coisa julgada, mas em
preclusão.

b) Como atividade jurisdicional: a jurisdição voluntária


tem natureza de atividade jurisdicional. Pode ocorrer relação
conflituosa nessa modalidade de jurisdição.

Os casos de jurisdição voluntária são conflituosos em


potencial e, por isso, submetem-se ao poder judiciário.

Vamos, logo abaixo, analisar um pouco mais sobre esse


assunto: jurisdição voluntária como administração pública de
interesses privados e jurisdição voluntária como atividade
jurisdicional.

 Jurisdição voluntária como administração pública de interesses


privados

Na doutrina brasileira, discute-se se a questão de que a jurisdição voluntária


não seria jurisdição, mas administração pública de interesses privados realizada
pelo Poder Judiciário. Essa construção doutrinaria parte da premissa, como exposto
no quadro acima, de que a jurisdição voluntária, por não possuir lide a ser
solucionada, não pode ser considerada jurisdição.

Também não poderíamos falar em substitutividade uma das características


da jurisdição, porque o juiz não substitui os sujeitos processuais, e, sim, insere-se
entre os participantes do negócio jurídico. Desse modo, porque não há conflito, não
existem sujeitos processuais, só meros interessados.

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Não havendo jurisdição, não haveria que se falar em ação nem em


processo, mas em requerimento e procedimento. Igualmente, não existindo
jurisdição, não há coisa julgada, mas preclusão.

Diferenças doutrinárias acerca da jurisdição voluntária

Doutrina majoritária (clássica) Doutrina minoritária (moderna)

Não há jurisdição Há jurisdição

Não existem partes no processo, Há partes


Jurisdição voluntária

meros interessados

Não há ação nem processo, mas Há processo


requerimento e procedimento

Não faz coisa julgada, mas preclusão Há coisa julgada

É uma atividade administrativa É uma atividade jurisdicional

Não há substutividade; juiz é Há substutividade: juiz é juiz


administrador

(TJ - ES 2011) A jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária, esta


também denominada graciosa ou administrativa. Ambas as jurisdições são
exercidas por juízes, cuja atividade é regulada pelo Código de Processo Civil,
muito embora a jurisdição voluntária se caracterize pela administração de
interesses privados pelos órgãos jurisdicionais, ou seja, não existe lide ou
litígio a ser dirimido judicialmente.
a) Certo
b) Errado
COMENTÁRIOS:

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Correto. Percebam que a banca considerou correta a questão da ausência


de litígio na jurisdição, um elemento que destacamos em nossa aula, mas que tem
sido combatido pela doutrina moderna. No enunciado da questão, a jurisdição
voluntária é também nomeada de administrativa, mais uma característica da doutrina
clássica.

(TRT 11ª Região 2012/ Adaptada) Sobre jurisdição, é correto afirmar:


c) Nos procedimentos não contenciosos, há função jurisdicional apenas sob
um ponto de vista estritamente formal.
COMENTÁRIOS:

Correto. Entre as opções oferecidas pela banca (“a” a “e”), considerou-se


correta a letra “c”, que citamos. Desse modo, o entendimento da banca, clássico e
majoritário, é de que a jurisdição voluntária é jurisdição apenas em seu aspecto
formal, já que relativamente ao conteúdo pode ser entendida como administração de
interesses particulares pelo Poder Judiciário.

A Teoria Revisionista, por seu turno, considera a Jurisdição Voluntária uma


jurisdição propriamente dita, já que é possível a ocorrência da lide.

Relativamente à existência da lide, o STJ já se pronunciou de acordo com


esta teoria, afirmando que o litígio pode ou não estar presente na
jurisdição administrativa, mas não é essencial para a propositura da ação. Sentido
em que se manifestaram consagrados autores como Alexandre de Freitas Câmara e
Fredie Didier.

É exemplo de jurisdição voluntária a separação consensual, já que o ato


judicial irá conferir validade ao negócio jurídico que se realizar. Mas acidentalmente
pode haver conflito na separação consensual; diz-se acidentalmente porque não é
parte essencial do negócio jurídico. Percebam a diferença, na qualidade de
voluntária, a jurisdição não tem como aspecto essencial a lide, mas é um possível
elemento acidental, ou seja, que pode vir a ocorrer num dado momento; enquanto
na qualidade de contenciosa, a lide está virtual/real e essencialmente ligada à
jurisdição.

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Didier cita os casos de interdição e de retificação de registro como


procedimentos de jurisdição voluntária que normalmente dão ensejo a controvérsias.
De fato não são raros os casos em que surgem questões que devem ser
solucionadas pelo magistrado, por exemplo, as divergências entre o pai e o menor
que queira se emancipar (jurisdição voluntária com lide acidental).

“É por isso que se impõe a citação dos possíveis interessados, que


podem, de fato, não opor qualquer resistência, mas não estão impedidos de fazê-lo.
São frequentes os casos em que, em pleno domínio da jurisdição voluntária,
surgem verdadeiras questões a demandar juízo do magistrado.” (Didier)

Outra distinção que pode ser considerada entre Jurisdição Voluntária e


Contenciosa refere-se, ainda, à pretensão. Nesse aspecto, vale destacar: pode
haver processo sem lide, mas não há processo sem pretensão. O Juiz exerce a
função jurisdicional quando provocado – esta provocação é que chamamos de
pretensão e, por meio dela, dá-se a integração da jurisdição voluntária ou da
jurisdição contenciosa.

Não se debrucem em demasia sobre estas contradições, pelo menos,


não para o concurso. Como bem disse Leonardo Greco, “todos esses critérios são
imperfeitos, porque a jurisdição voluntária abrange uma variedade tão heterogênea
de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o desmentido de um ou de
outro desses critérios”.

Leiam este elucidativo acórdão do STJ, em que grifamos os trechos


mais importantes sobre a matéria:

[...] não parece adequado afirmar categoricamente que na jurisdição


voluntária não há bem litigioso e tampouco lide.
A mais recente doutrina processualista tem ressaltado o equívoco em
se qualificar a chamada jurisdição administrativa de atividade não jurisdicional em razão da
suposta ausência de lide.
Afirma-se, modernamente, que a jurisdição voluntária não equivale
a demanda sem lide. O litígio pode ou não verificar-se no seio da jurisdição administrativa:
ele apenas não é essencial para a propositura da ação.
[...]
Para ilustrar a atenuação que se verifica na diferenciação entre a jurisdição voluntária e a

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jurisdição contenciosa, transcrevo trecho da obra de Leonardo Greco (GRECO,


Leonardo. Jurisdição Voluntária Moderna. São Paulo: Editora Dialética, 2003, p. 23):
Apesar das divergências de opinião, há algumas características que geralmente são
apontadas pela doutrina para diferenciar a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária.
Na primeira haveria lide, na segunda não; na primeira haveria partes em posições
subjetivas antagônicas, na segunda apenas um ou mais interessados concordantes em
suas postulações; a primeira incidiria sobre situações fáticas preexistentes, enquanto a
segunda teria caráter constitutivo; a primeira seria repressiva e a segunda preventiva; na
primeira, a atividade judicial seria substitutiva da vontade das partes, na segunda os
interessados dependeriam da concorrência da vontade estatal manifestada pelo juiz, sem a
qual não poderiam isoladamente alcançar o efeito jurídico almejado; na primeira o juiz
tutelaria direitos subjetivos, enquanto na segunda, meros interesses; na primeira, os
procedimentos previstos em lei não seriam exaustivos, na segunda o juiz somente poderia
atuar com expressa previsão legal; na primeira haveria formação da coisa julgada, na
segunda não; na primeira o juiz estaria adstrito ao pedido do autor, enquanto na segunda o
juiz poderia agir de ofício ou adotar providência diversa da que lhe fosse requerida.
Todos esses critérios são imperfeitos, porque a jurisdição voluntária abrange uma
variedade tão heterogênea de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o
desmentido de um ou de outro desses critérios.

REsp 942.658-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2.6.2011.

1.2. ESCOPOS DA JURISDIÇÃO

O estudo da jurisdição pode ter em consideração os objetivos que persegue.


Distinguindo-se em: escopo jurídico, social, educacional e político.

O escopo jurídico decorre da efetiva aplicação da vontade da lei, dando fim à


lide. Já está vencido o entendimento de que esse seria o único objetivo da jurisdição
(aplicação da lei; fim do conflito).

No escopo social, pretende-se a pacificação social, de modo que se resolva


a lide de caráter social. Nesse escopo, a jurisdição não tem como intenção
fundamental a solução do conflito jurídico, mas a solução no plano fático, que traga
a maior satisfação possível às partes.

A transação consiste, assim, em excelente modo de alcançar esses


objetivos, porque ocorre a partir da cessão mútua de interesses e tende a extinguir o
conflito sem imposição severa a alguma das partes (solução do conflito (fático);
satisfação das partes).

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O escopo educacional deriva da função de divulgar (ensinar) a todos os


jurisdicionados, incluindo-se – obviamente – as partes envolvidas no processo, quais
os seus direitos e deveres. É escopo bem amplo, que ganhou importância nos
julgados contemporâneos, que se revestem de verdadeiro caráter didático. Os mais
importantes julgamentos são acompanhados por meios de comunicação, que os
tornam acessíveis a grande número de indivíduos (divulgação dos direitos e deveres
de todos os jurisdicionados).

O escopo político, por sua vez, prisma pelo bom funcionamento jurisdicional
que eleva a credibilidade do Estado perante os indivíduos e, desse modo, estimula a
participação democrática por meio do processo (estimula a participação
democrática).

1.3. PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO

1.3.1. INVESTIDURA

O Poder Judiciário possui um caráter inanimado e, por isso, necessita


escolher pessoas para representar o Estado no exercício concreto da atividade
jurisdicional. Investido do poder jurisdicional, o juiz (sujeito escolhido para ser o
agente público representante do Estado), também chamado de Estado-Juiz, é o
responsável pela solução da lide.

No Brasil, existem duas maneiras de obter a investidura: o concurso público


(art. 93, I, CF) e indicação do Poder Executivo (quinto constitucional – art. 94 da CF).

 Somente a autoridade investida de poder jurisdicional pode exercer a


jurisdição.
 Tanto a jurisdição civil, voluntária como a contenciosa é exercida pelos
Juízes, em todo o território nacional – a jurisdição é UNA.

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(Furnas) Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o


interessado a requerer, nos casos e forma legais. Assim sobre jurisdição é
correto afirmar que a jurisdição
a) civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território
nacional.
b) civil é contenciosa e involuntária e é exercida pelos juízes, em todo o
território nacional.
c) civil é voluntária, exercida pelos juízes de paz, em todo o território nacional
e internacional.
d) militar, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes estaduais, em todo
o território nacional.
e) civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território
nacional e internacional.
COMENTÁRIOS:
Letra a é a correta. A jurisdição, seja contenciosa ou voluntária, é exercida
pelos juízes. Os juízes são investidos de jurisdição para atuar em todo o território
nacional conforme sua competência.

O erro da letra B está em mencionar jurisdição involuntária, modalidade que


não existe.

Na letra C, o erro está em mencionar os juízes de paz como aqueles


investidos de jurisdição.

Erro da letra D: A jurisdição militar é da competência dos Juízes-Auditores,


integrante da Justiça Militar da União (vide Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992),
não pelos juízes estaduais.

Erro da letra E: Os juízes nacionais não têm jurisdição internacional.

Gabarito: A

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(Procurador Maricá-RJ) A jurisdição é entendida como o:


a) poder do juiz em prolatar sentenças
b) poder do juiz em efetivar pretensões
c) poder do juiz em possibilitar a todos uma prestação jurisdicional
d) poder-dever-atribuição do Estado em possibilitar a todos uma prestação
jurisdicional
e) poder do STF, na solução superior das demandas.
COMENTÁRIOS:
Único item com resposta adequada é a letra “D”. Já que a jurisdição confere
ao Estado-juiz mais do que um poder, mas um dever, uma atribuição de prestar a
tutela jurisdicional pleiteada.

Gabarito: D

1.3.2. TERRITORIALIDADE
A autoridade dos juízes será exercida nos limites territoriais do seu Estado.
Assim, a jurisdição é exercida em um dado território (art. 60 e 255).

Existem, no entanto, exceções ao princípio da territorialidade. Situações em


que o juízo poderá praticar atos fora de sua comarca ou seção judiciária. Um
exemplo é a citação pelo correio (art. 247, caput, NCPC).

 Esse princípio é uma forma de limitação do exercício da jurisdição.

1.3.3. INDELEGABILIDADE

Deve ser analisado por meio de dois prismas, o externo, tendo a


Constituição Federal atribuído a função jurisdicional ao Poder Judiciário, não pode
delegar tal função a outros poderes ou órgãos. Exceção: “função estatal atípica”; e o
interno, em que a competência atribuída a um órgão jurisdicional para analisar uma
demanda não poderá ser delegada a outro.

 O exercício da função jurisdicional não pode ser delegado. Não é


possível delegar o poder decisório a outro órgão, pois violaria a regra da

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competência e o princípio do juiz natural. No entanto, existem hipóteses de


delegação a outros poderes judiciais, como o poder de execução das decisões.

1.3.4. INEVITABILIDADE

O princípio da inevitabilidade ocorre em dois momentos distintos. Primeiro,


quando os sujeitos do processo sofrem a vinculação obrigatória ao processo judicial,
ou seja, uma vez integrantes da relação jurídica processual, os sujeitos não podem,
independendo de concordância ou vontade, deixar de cumprir o chamado
jurisdicional.

Segundo, em consequência da integração obrigatória, os sujeitos ficam em


um estado de sujeição – suportam todos os efeitos da decisão judicial, mais uma
vez, independentemente de gostar ou concordar com ela.

 Devem as partes submeter-se à decisão do órgão jurisdicional.

1.3.5. INAFASTABILIDADE

De acordo com o inciso XXXV do art. 5o da CF, a lei não pode excluir da
apreciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça de direito. O acesso à
ordem jurídica adequada não pode ser negado a quem tem justo direito ameaçado
ou prejudicado.

Esse princípio também pode ser analisado sob o aspecto da relação entre a
jurisdição e a solução administrativa de conflitos. Nessa visão, o sujeito não é
obrigado a utilizar os mecanismos administrativos antes de provocar o poder
judiciário em razão de ameaça de lesão ou lesão ao direito. No entanto, há
exceções, como:

 Nas questões desportivas: art. 217, § 1° da CF: O Poder Judiciário só


admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-
se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
 O juiz não pode invocar a lacuna da lei e deixar de julgar o processo.

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 Não é necessário esgotar as vias administrativas para provocar o


Poder Judiciário. O interessado pode procurar tanto a via administrativa como a
judiciária.

1.3.6. JUIZ NATURAL

O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao


órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do
magistrado.

O primeiro aspecto do princípio quer assegurar que os processos sejam


julgados pelo juízo competente, ou seja, que a competência constitucional
preestabelecida seja cumprida. Já o segundo aspecto surge para garantir que o juiz
responsável pelo julgamento da demanda seja imparcial. Trata-se da essencial
exigência de imparcialidade que permite que o julgamento do processo seja justo.
Em razão dessa segunda faceta, as leis processuais estabelecem as causas de
impedimento e suspeição do magistrado.

 Hipóteses de Impedimento do Juiz

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no


processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das
partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de
emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;

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VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge,
companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor
público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes
do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento
do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato
conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado
que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha
diretamente no processo.

 Hipóteses de Suspeição do Juiz

Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou
depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da
causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou
companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação
do arguido.

É uma cláusula do devido processo legal. Uma garantia fundamental


implícita que se origina da conjugação dos seguintes dispositivos constitucionais: o
dispositivo que proíbe o tribunal ou juízo de exceção é o que determina que ninguém
poderá ser processado senão pela autoridade competente. Ele se caracteriza pelo
aspecto formal, objetivo, substantivo e material.

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A determinação de um juízo não pode ocorrer post facto ou ad personam.


Assim, os critérios para a sua determinação devem ser impessoais, objetivos e pré-
estabelecidos.

A garantia do juiz natural advém dos princípios da imparcialidade e da


independência atribuída aos magistrados. As garantias do juiz natural são
respeitadas por meio das regras de distribuição – critérios prévios, objetivos, gerais
e aleatórios para a identificação do juízo responsável pela causa. O desrespeito ao
princípio da distribuição implicará incompetência absoluta do juízo.

Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, as


regras por prerrogativa de função, a instituição de Câmaras de Férias em tribunais.

Dúvida: Por que não há violação ao princípio do juiz natural nos casos
citados? Porque nos três casos acima são situações em que as regras são gerais,
abstratas e impessoais.

- Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

(...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.

 Comentários:

Aos Tribunais de exceção (juízo extraordinário) contrapõe-se o


juiz natural, pré-constituído pela Constituição Federal e por Lei.

Em uma primeira acepção, o princípio do juiz natural apresenta


duplo significado:

3) Somente o juiz é o órgão investido de jurisdição;

4) Impede a criação de Tribunais de Exceção e ad hoc, para


o julgamento de causas penais e civis.

Modernamente, porém, este princípio passa a englobar a


proibição de subtrair o juiz competente. Assim, a garantia

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desdobra-se em três conceitos:

4) Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela CF;

5) Ninguém pode ser julgado por tribunal constituído após a


ocorrência do fato;

6) Entre os juízes pré-constituídos vigora a ordem taxativa


de competências que exclui qualquer alternativa deferida
à discricionariedade de quem quer que seja.

Vejamos:

O tribunal (ou juízo) de exceção é aquele formado


temporariamente para julgar:

d) Um caso específico – Tribunal ad hoc;

e) Após o delito ter sido cometido designa o juízo – ex post


facto;

f) Para um indivíduo específico – ad personam.

Exemplo de Tribunal de exceção: Tribunal de Nuremberg criado


pelos aliados para julgar os nazistas pelos crimes cometidos na
2° Guerra Mundial.

É constituído ao oposto dos princípios constitucionais do direito


processual civil – do contraditório e da ampla defesa, do juiz
natural.

E qual o problema dos tribunais de exceção? O primeiro é que


eles invariavelmente não são imparciais. O segundo é que a
pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção, perde
algumas das garantias do processo, como a do duplo grau de
jurisdição e do juiz natural.

Terceiro, o Tribunal de exceção não necessariamente é


formado por juristas, podendo ser composto por qualquer
pessoa, ferindo, dessa forma a garantia constitucional do juiz

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competente:

(...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão


pela autoridade competente (art. 5°).

(Procurador Itaboraí-RJ) A jurisdição, em todos os países, é informada por


alguns princípios fundamentais universalmente reconhecidos, como:
a) aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural
b) investidura, indelegabilidade, juiz natural
c) competência, investidura, aderência ao território, indelegabilidade,
inafastabilidade, juiz natural, inércia
d) aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz natural,
inércia
e) investidura, aderência ao território, indelegabilidade, inafastabilidade, juiz
natural, inércia.
COMENTÁRIOS:
Percebam que a banca considerou correto o item que expôs os princípios
corretamente e de modo mais completo: letra E. O erro da letra “c” está em
considerar a competência um princípio, quando na verdade é um limite à jurisdição.

Gabarito: E

1.4. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO

1.4.1. UNIDADE

Para a consagrada doutrina clássica, a jurisdição é uma função exclusiva do


Poder Judiciário, exercida pelo magistrado, que decide monocraticamente ou por
órgãos colegiados. A jurisdição é o poder-dever de o Estado dizer e realizar o direito,
consistente num poder uno. Há uma jurisdição por Estado.

Só há uma função jurisdicional, de outro modo, se houvesse várias


jurisdições, estaríamos diante de várias soberanias, portanto, de vários Estados.

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Contudo, nada impede que esse poder, que é uno, seja exercido por diversos
órgãos, que recebem cada qual suas competências. O poder é uno, mas pode ser
limitado pelas competências.

Assim, a jurisdição, como já foi dito, é UNA. É importante ressaltar que a


distribuição funcional da jurisdição em órgão não faz com que ela perca sua
característica de unidade. Essa distribuição tem efeito organizacional.

1.4.2. SECUNDARIEDADE

A Jurisdição tem a característica da secundariedade por ser acionada


quando surge um litígio. Num primeiro momento, espera-se que o Direito seja
realizado independente do poder judiciário.

Exemplo: regra geral, o locatário paga o aluguel sem que o locador recorra à
justiça, assim como o pai paga a prestação alimentícia ao seu filho. Percebam que
nesses dois casos, o direito é realizado sem a atuação do judiciário. Contudo, se o
pai ou o locatário deixam de cumprir com os seus deveres, a outra parte poderá
provocar o judiciário para ter o seu direito garantido. E é nesse contexto que se diz
ter a jurisdição a característica de secundariedade.

Uma observação a ser considerada é o fato de que, atualmente, se observa


no judiciário a perda dessa característica, já que há um aumento considerado de
demandas judiciais sem que nenhuma medida extrajudicial tenha sido tomada
anteriormente. Esse fenômeno ocorre com frequência, por exemplo, no INSS, em
que a parte busca o benefício previdenciário direto no judiciário sem que qualquer
pedido administrativo tenha sido feito anteriormente.

1.4.3. SUBSTITUTIVIDADE

Trabalhamos a substituvidade no início da aula. No entanto, vamos falar


mais sobre essa característica. Regra geral, as relações jurídicas se formam,
desenvolvem e extinguem sem dar origem a litígios. É o que acontece, por exemplo,
nos instrumentos extrajudiciais da transação (concessões mútuas) e da conciliação
(transação obtida em audiência).

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O Estado é chamado a atuar somente quando frustradas as tentativas de


conciliação extrajudiciais. Assim, quando o Estado participa do litígio, ele é um
terceiro que substitui a vontade daqueles diretamente interessados na relação de
direito material, teremos, assim, a característica da substitutividade.

1.4.4. IMPARCIALIDADE

Aqueles que integram a jurisdição e o próprio Estado-Juiz devem ser


imparciais para que o exercício da jurisdição seja legítimo. Deve predominar, no
exercício da jurisdição, o interesse geral, a igualdade entre as partes tanto de
tratamento como de oportunidade em participar no convencimento do juiz. Por isso
se diz que a jurisdição é uma atividade imparcial do Estado.

Atente-se para o fato de que ao advogado, ainda que indispensável, não se


exige imparcialidade, como também não é exigida dos demais agentes. Eles, por
atuarem no interesse da parte, devem ser parciais.

1.4.5. CRIATIVIDADE

O Estado-Juiz, ao final do julgamento de uma lide, inova a ordem jurídica ao


criar uma norma individual que passará a atuar no caso concreto. Essa norma será
uma sentença ou um acórdão. Regra geral, nela o juiz declara o direito, que aplica a
norma aos fatos. No entanto, a prestação jurisdicional vai além, e inova o mundo
jurídico.

O Estado-Juiz não somente aplica a lei ao caso concreto, há um processo


de criação, pelo qual se exige do juiz uma postura ativa, fazendo com que ele
analise cada caso e suas especificidades de modo a encontrar uma solução
consensual com os preceitos constitucionais e legais. Por isso que a jurisdição tem
um caráter criativo.

1.4.6. INÉRCIA

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O Estado só pronunciará o direito se provocado, pois a jurisdição tem como


uma de suas características a inércia – daí vem o ditado “a justiça não socorre aos
que dormem”. No entanto, uma vez que o Estado-juiz seja provocado, ele agirá por
impulso oficial, de ofício.

Existem exceções à inércia – exemplo: o juiz pode determinar que se inicie o


inventário, se nenhum dos legitimados o requerer no prazo legal.

Art. 625. O inventariante removido entregará imediatamente ao substituto os


bens do espólio e, caso deixe de fazê-lo, será compelido mediante mandado de
busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de bem móvel ou
imóvel, sem prejuízo da multa a ser fixada pelo juiz em montante não superior a três
por cento do valor dos bens inventariados.

1.4.7. DEFINITIVIDADE

Essa característica permite a jurisdição ser tornar imutável. A essa


característica dá-se o nome de coisa julgada. A estabilidade concedida à jurisdição
varia de acordo com sua natureza. As decisões de mérito são as que gozam do
maior grau de estabilidade: a coisa julgada material – garantia fundamental do
cidadão. Apesar de elevado grau de estabilidade, o próprio ordenamento jurídico
prevê exceções. Exemplo disso, temos nos casos em que a ação rescisória é
cabível.

Já as decisões que não analisam o mérito (coisa julgada formal) têm um


grau de estabilidade reduzido, pois nas decisões em que não se decide o mérito,
não há o impedimento de que haja nova propositura da demanda, podendo o juiz
decidir de modo contrário ao proferido na primeira sentença.

1.4.8. LIDE

Na concepção clássica de Carnelutti, a lide é o conflito de interesses


qualificado por uma pretensão resistida. Assim, a jurisdição tem a função de
compor, de maneira justa, a lide – a provocação do judiciário está condicionada à
necessidade da parte em obter o bem da vida. O bem da vida, por sua vez, consiste

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em afastar a resistência criada pela outra parte, trata-se de fenômeno de caráter


fático-jurídico (ou ainda sociológico) anterior ao processo.

Atenção!

Devido à extensão da nossa aula de hoje, trabalharemos o tema “Ação.


Conceito, natureza, elementos e características. Condições da ação.
Classificação.”

Bons estudos!

RESUMO DA AULA

(...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes.
Princípio do contraditório e da ampla defesa

 Contraditório: O contraditório é formado por dois elementos:


informação e possibilidade de reação (sentido formal) e poder de
influenciar a decisão (sentido material ou substantivo).

a) Informação: necessidade de a parte ter conhecimento do que está


ocorrendo no processo para que posicione de maneira positiva ou não
sobre os fatos – direito de participação no processo.
Reação: elemento dependente da vontade da parte, que pode optar
por reagir ou se omitir em relação à demanda.

b) Poder de influenciar a decisão: é necessário que a reação no caso


concreto haja real poder de influenciar o magistrado na construção do
seu convencimento.

- O contraditório é reflexo do princípio democrático na estruturação


processual, uma vez que democracia significa participação e a participação
no processo ocorre pela efetivação do princípio da garantia do contraditório.

- Contraditório: forma de evitar surpresa às partes: durante o desenrolar


procedimental todos os atos processuais serão informados aos sujeitos do
processo, dando a estes o direito de defesa.
- Contraditório inútil: em alguns casos permite-se que o contraditório seja

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afastado pelo próprio procedimento, evitando o chamado “contraditório


inútil”. Exemplo: Sentença proferida inaudita altera parte que julgue o mérito
em favor do réu que não foi citado (art. 285-A, CPC).
- O contraditório poderá ocorre em dois momentos: o contraditório
antecipado e o diferido.

Contraditório antecipado Contraditório diferido

É a regra no Processo Civil. Os É o que ocorre na concessão de tutela


sujeitos participam de todo o de urgência inaudita altera partes,
desenrolar do processo. O juiz não situação na qual a decisão do juiz deve
decide a causa sem antes ocorrer anteceder a informação e a reação
ampla participação dos sujeitos
após a prolação da decisão. Nesse
processuais. caso ocorrerá o “contraditório diferido”,
pois apesar dos essenciais elementos
do princípio continuarem a existir, a
antecipação da decisão para o
momento imediatamente posterior ao
pedido da parte. Vejamos como é a
estrutura do contraditório diferido:
a) Pedido
b) Decisão
c) Informação da parte contrária
d) Decisão
O contraditório diferido é
excepcional, pois a prolação da decisão
sem a oitiva do réu seria uma violência,
no entanto, seja por causa do perigo de
ineficácia ou pela probabilidade de
haver o direito, o contraditório diferido
segue o art.5, LV, CF.

Ampla defesa
Esse princípio corresponde à dimensão substancial do contraditório, ou seja, o direito
de participação efetiva na construção do convencimento do julgador por meio do
acesso aos elementos de alegações e de provas disponibilizados pela Lei.
A ampla defesa é uma garantia que se estende tanto ao réu quando ao autor,
decorrendo assim, a característica de amplitude do direito de ação e o tratamento
isonômico – princípio da isonomia.
STF: Súmula Vinculante nº 3

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Processos Perante o Tribunal de Contas da União - Contraditório e Ampla


Defesa - Anulação ou Revogação de Ato Administrativo - Apreciação da
Legalidade do Ato de Concessão Inicial de Aposentadoria, Reforma e Pensão
Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

- Art. 71 da CF: O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...) III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de
pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de
provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
e pensões.

STF: Súmula Vinculante nº 5


Falta de Defesa Técnica por Advogado no Processo Administrativo Disciplinar -
Ofensa à Constituição
A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a constituição.

- O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada


ao órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade
do magistrado.
- Juiz Natural possui competência constitucional e foi investido de maneira
regular na jurisdição.
Princípio do Juiz Natural

Juiz Natural em sentido Formal Juiz Natural em sentido Material

1) Garantia da proibição da 1) Imparcialidade do juiz – ver


existência de Tribunais de comentários da pág. 18 dessa
exceção. aula.
2) Respeito às regras de
competência: (...) LIII -
ninguém será processado
nem sentenciado senão
pela autoridade
competente (art. 5°, CF).

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PARTE GERAL
TÍTULO I
PRINCÍPIOS E GARANTIAS, NORMAS
PROCESSUAIS, JURISDIÇÃO E AÇÃO
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DAS GARANTIAS
FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

Legenda:

Texto em preto: redação do CPC/73 que foi mantida.


Texto em azul: redação do CPC/73 que foi modificada.
Texto em vermelho: alterações do projeto original em comparação com CPC/73.
Texto em verde: alterações do relatório geral em comparação com o projeto original.

Redação do Código de Redação original do projeto de Alterações apresentadas no


Processo Civil em vigor Lei do Senado n.º 166, de 2010 relatório-geral do Senador Valter
(CPC/1973) Pereira

Art. 1º O processo civil será


1
ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores
e os princípios fundamentais
estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil,
observando-se as disposições
deste Código.
Art. 262. O processo civil Art. 2º O processo começa por
2
começa por iniciativa da parte, iniciativa da parte, nos casos e
mas se desenvolve por nas formas legais, salvo
impulso oficial. exceções previstas em lei, e se
Art. 2º. Nenhum juiz prestará desenvolve por impulso oficial.
a tutela jurisdicional senão
quando a parte ou o
interessado a requerer, nos
casos e forma legais.
Art. 3º Não se excluirá da 3
apreciação jurisdicional ameaça
ou lesão a direito, ressalvados
os litígios voluntariamente
submetidos à solução arbitral, na
forma da lei.
Art. 4º As partes têm direito de 4
obter em prazo razoável a
solução integral da lide, incluída
a atividade satisfativa.

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Art. 5º As partes têm direito de Art. 5º As partes têm direito de


participar ativamente do participar ativamente do
processo, cooperando entre si e processo, cooperando entre si e
com o juiz e fornecendo-lhe com o juiz e fornecendo-lhe
subsídios para que profira subsídios para que profira
decisões, realize atos executivos decisões, realize atos executivos
ou determine a prática de ou determine a prática de
medidas de urgência. medidas de urgência.
Art. 6º Ao aplicar a lei, o juiz 6
atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do
bem comum, observando
sempre os princípios da
dignidade da pessoa humana,
da razoabilidade, da legalidade,
da impessoalidade, da
moralidade, da publicidade e da
eficiência.
Art. 125. O juiz dirigirá o Art. 7º É assegurada às partes Art. 7º É assegurada às partes
processo conforme as paridade de tratamento em paridade de tratamento em
disposições deste Código, relação ao exercício de direitos erelação ao exercício de direitos e
competindo-lhe: faculdades processuais, aos faculdades processuais, aos
I - assegurar às partes meios de defesa, aos ônus, aos meios de defesa, aos ônus, aos
igualdade de tratamento; deveres e à aplicação de deveres e à aplicação de
... sanções processuais,
sanções processuais,
competindo ao juiz velar pelo competindo ao juiz velar pelo
efetivo contraditório em casos de efetivo contraditório. Em casos
hipossuficiência técnica. de hipossuficiência técnica.
Art. 8º As partes têm o dever de Art. 8º. As partes e seus
contribuir para a rápida solução procuradores têm o dever de
da lide, colaborando com o juiz contribuir para a rápida solução
para a identificação das
da lide, colaborando com o juiz
questões de fato e de direito e para a identificação das
abstendo-se de provocar
questões de fato e de direito e
incidentes desnecessários e abstendo-se de provocar
procrastinatórios. incidentes desnecessários e
procrastinatórios.
Art. 9º. Não se proferirá 9
sentença ou decisão contra uma
das partes sem que esta seja
previamente ouvida, salvo se se
tratar de medida de urgência ou
concedida a fim de evitar o
perecimento de direito.
Art. 10. O juiz não pode decidir, Art. 10. O juiz não pode decidir,
em grau algum de jurisdição, em grau algum de jurisdição,
com base em fundamento a com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha respeito do qual não se tenha

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dado às partes oportunidade de dado às partes oportunidade de


se manifestar, ainda que se trate se manifestar, ainda que se trate
de matéria sobre a qual tenha de matéria sobre a qual tenha
que decidir de ofício. que decidir de ofício.
Parágrafo único. O disposto no
caput não se aplica aos casos
de tutela de urgência e nas
hipóteses do art. 307.
Art. 131. O juiz apreciará Art. 11. Todos os julgamentos Art. 11. Todos os julgamentos
livremente a prova, atendendo dos órgãos do Poder Judiciário dos órgãos do Poder Judiciário
aos fatos e circunstâncias serão públicos, e fundamentadas serão públicos, e fundamentadas
constantes dos autos, ainda todas as decisões, sob pena de todas as decisões, sob pena de
que não alegados pelas nulidade. nulidade.
partes; mas deverá indicar, na Parágrafo único. Nas hipóteses Parágrafo único. Nos casos de
sentença, os motivos que lhe previstas neste Código e nas segredo de justiça, pode ser
formaram o convencimento. demais leis, pode ser autorizada autorizada somente a presença
Art. 165. As sentenças e somente a presença das partes das partes, de seus advogados
acórdãos serão proferidos ou de seus advogados. ou defensores públicos, ou
com observância do disposto ainda, quando for o caso, do
no art. 458; as demais Ministério Público.
decisões serão
fundamentadas, ainda que de
modo conciso.
Art. 155. Os atos processuais
são públicos. Correm, todavia,
em segredo de justiça os
processos:
I - em que o exigir o interesse
público;
II- que dizem respeito a
casamento, filiação,
separação dos cônjuges,
conversão desta em divórcio,
alimentos e guarda de
menores.
Parágrafo único. O direito de
consultar os autos e de pedir
certidões de seus atos é
restrito às partes e a seus
procuradores. O terceiro, que
demonstrar interesse jurídico,
pode requerer ao juiz certidão
do dispositivo da sentença,
bem como de inventário e
partilha resultante do
desquite.
Art. 12. Os juízes deverão
proferir sentença e os tribunais

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deverão decidir os recursos


obedecendo à ordem
cronológica de conclusão.
§1º A lista de processos aptos a
julgamento deverá ser
permanentemente
disponibilizada em cartório, para
consulta pública.
§2º Estão excluídos da regra do
caput:
I – as sentenças proferidas em
audiência, homologatórias de
acordo ou de improcedência
liminar do pedido;
II – o julgamento de processos
em bloco para aplicação da tese
jurídica firmada em incidente de
resolução de demandas
repetitivas ou em recurso
repetitivo;
III – a apreciação de pedido de
efeito suspensivo ou de
antecipação da tutela recursal;
IV – o julgamento de recursos
repetitivos ou de incidente de
resolução de demandas
repetitivas;
V – as preferências legais.

- Conceito de jurisdição: a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por


meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que
não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da
intervenção do estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

Conceitos clássicos
A substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a lide,
estaria substituindo a vontade das partes, proibidas que elas estariam de, em regra, fazer
valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição tradicional).
A definitividade diz respeito ao caráter de imutabilidade da sentença, que faz coisa
julgada material (característica do conceito moderno de jurisdição).

- Equivalentes jurisdicionais: o Estado não detém exclusividade na solução de


conflitos. Existem as conhecidas formas alternativas: autotutela, autocomposição e
arbitragem.

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Forma mais antiga de resolver conflitos. Ocorre o sacrifício integral do


interesse de uma das partes, pelo uso da força da outra parte. O
Autotutela
(Autodefesa) Código Civil prevê casos excepcionais em que pode ser empregada.
Exemplos: legítima defesa (art. 188, I, do CC) e desforço imediato no
esbulho (art. 1.210, parágrafo 1º do CC).
Essa forma de solução de controvérsia pode ser totalmente revista
pelo poder judiciário. Essa característica é um elemento marcante da
autotutela.

Consiste no comum acordo entre as partes envolvidas no conflito


para chegar a uma solução. Classifica-se em unilateral, quando há
renúncia ou submissão de uma das partes.
Autocomposição
E bilateral, o que é mais comum, ambas as partes abrem mão de
uma parcela de sua pretensão em favor da outra – é a transação.

Viabiliza-se quando há concordância entre as partes de submeter o


conflito, ou a questão, ao árbitro (terceiro imparcial, que, por acordo
das partes litigantes, resolve uma questão). Os motivos que levam os
Arbitragem contratantes a optarem pela arbitragem em detrimento da jurisdição
são, principalmente, rapidez e economia.
Os árbitros não são condicionados a muitos formalismos, podem ser
autorizados pelas partes a, até mesmo, decidirem por equidade ou
utilizarem leis específicas.

- Classificação da jurisdição: civil ou penal; inferior ou superior; especial ou


comum; contenciosa ou voluntária.
- Contenciosa é a rotineira, a tradicional; enquanto na voluntária não há conflito de
interesses.
- Princípios inerentes à jurisdição: investidura, territorialidade, indelegabilidade,
inevitabilidade e do juiz natural.

JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA RESUMIDAMENTE


De acordo com o art. 16 do NCPC: A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos
tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

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Jurisdição Contenciosa: Pressupõe conflito Jurisdição Voluntária: Não existe


entre as partes a ser solucionado pelo litígio entre as partes. Nesse caso, há
magistrado. É por meio da jurisdição homologação de pedidos que não
contenciosa que se alcança uma solução para a impliquem litígio, ou seja, não se
lide. resolve conflitos, mas apenas tutela
interesses.
 Formação de litígio, sujeitos com interesses
 Participação do Estado, requerentes
opostos e jurisdição compondo e solucionando
o conflito. com interesses comuns e jurisdição
integrando e validando o negócio

jurídico.
 - Características:
 Unidade, imparcialidade, secundariedade,
substitutividade, instrumentalidade.
 - Princípios:
 Improrrogabilidade, indeclinabilidade, juiz
natural.

Relação Processual Triangular da Jurisdição Relação Processual Não-Triangular


Contenciosa: da Jurisdição Voluntária:
JUIZ

INTERESSADOS
JUIZ

AUTOR RÉU
Princípio do Juiz

- O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada


ao órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a
Natural

imparcialidade do magistrado.
- Juiz Natural possui competência constitucional e foi investido de maneira
regular na jurisdição.

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Juiz Natural em sentido Formal Juiz Natural em sentido Material

3) Garantia da proibição da 2) Imparcialidade do juiz – ver


existência de Tribunais de comentários nos itens 1.3.6 e
exceção. 1.4.4 dessa aula.
4) Respeito às regras de
competência: (...) LIII -
ninguém será processado
nem sentenciado senão
pela autoridade
competente (art. 5°, CF).

Legenda:
Texto em preto: redação do CPC/73 que foi mantida.
Texto em azul: redação do CPC/73 que foi modificada.
Texto em vermelho: alterações do projeto original em comparação com CPC/73.
Art. 1º A jurisdição civil, Art. 15. A jurisdição
Art. 16 da Lei nº 13.105/2015:
contenciosa e civil é exercida pelos
voluntária, é exercida juízes em todo o A jurisdição civil é exercida pelos
pelos juízes, em todo o território nacional,
território nacional, conforme as juízes e pelos tribunais em todo o
conforme as disposições deste território nacional, conforme as
disposições que este Código.
Código estabelece. disposições deste Código.

QUESTÔES COMENTADAS

01. (TCU – CESPE 2008) Tendo por base os princípios constitucionais que
informam o direito processual civil, julgue o seguinte item.

Ao longo de toda a fase instrutória de uma complexa ação envolvendo


apropriação indevida de direitos autorais, o juiz deferiu todos os
requerimentos que lhe foram dirigidos para juntada de documentos e outros
elementos probantes aos autos, sempre concedendo vista às partes para sua
manifestação nos termos da lei processual vigente. Nessa situação, ao
oportunizar aos litigantes o pleno exercício do contraditório, o magistrado,
simultaneamente, também deu efetividade concreta ao princípio constitucional
da ampla defesa.

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a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Audiatur altera et pars, termo latino que significa: ouça-se também a outra
parte, resume bem a ideia de que para satisfazer o princípio do contraditório e da
ampla defesa não é suficiente comunicar a cada uma das partes sobre a
participação da outra, é preciso que se oportunize a cada uma a condição de
manifestar-se nos autos. Não podemos confundir a expressão citada com o
brocardo: inaudita altera parte, que diz respeito ao oposto, situações excepcionais
em que o juiz toma decisões sem ouvir a outra parte.

Gabarito: Certo

02. (TJ CE – IESES 2011) Aponte, dentre os princípios processuais abaixo,


aquele que não tem previsão explícita na Constituição Federal:

a) Juiz natural.

b) Duplo grau de jurisdição.

c) Devido processo legal.

d) Acesso à justiça.

COMENTÁRIOS:

No art. 5° da CF/88 encontramos a resposta a essa questão:

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção – princípio do juiz


natural. Também relaciona-se a esse princípio o inciso LIII do mesmo artigo:
ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo legal.

Quanto ao acesso à justiça:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou


ameaça a direito.

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LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos

Entre os princípios elencados na questão, só não há expressa menção ao


princípio do duplo grau de jurisdição na CF/88.

Gabarito: B

03. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) Julgue o item abaixo:

O princípio do Juiz Natural pode ser encontrado na Constituição federal no


artigo onde expressa que ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente ou por juízo ou tribunal de exceção.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

O problema da afirmativa está na parte final, porque contradiz o inciso


XXXVII (art. 5° da Carta Magna), que dispõe: não haverá juízo ou tribunal de
exceção. O tribunal de exceção está em posição antagônica ao juiz natural. A
afirmação de um é a negação dou outro.

Gabarito: Errado

04. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) A concessão de providência jurisdicional


cautelar sem a ouvida prévia da parte contrária implica violação ao
contraditório.

COMENTÁRIOS:

Essa situação configura o contraditório diferido, plenamente possível, sem


que se fira qualquer garantia constitucional, visto que concedida a providência em
situação emergencial e mediante preenchimento de requisitos de concessão.

Gabarito: Errado

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05. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) O devido processo legal, como princípio


constitucional, significa o conjunto de garantias de ordem constitucional, que
de um lado asseguram às partes o exercício de suas faculdades e poderes de
natureza processual e, de outro, legitimam a própria função jurisdicional.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Conceito que diz bem, sem ser exaustivo, o que é o devido processo legal.

Gabarito: Certo

06. (TRT 2ª Região JUIZ - 2010/Adaptada) O princípio do contraditório garante


às partes a ciência dos atos e termos do processo, com a consequente
obrigação de impugná-los.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

As partes ao terem ciência dos atos podem impugná-los. A impugnação não


se constitui em dever.

Gabarito: Errado

07. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) São manifestações do princípio processual


do devido processo legal as seguintes garantias: acesso à justiça, igualdade
de tratamento, publicidade dos atos processuais, contraditório, ampla defesa,
julgamento por juiz natural e competente, de acordo com provas obtidas
licitamente por decisão fundamentada.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

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Todas essas garantias visam a assegurar o devido processo legal, que é um


supraprincípio, tendo como corolários vários outros previstos constitucionalmente. A
lista da questão é exemplificativa, de modo que, se houvesse termos como
“somente” ou “exclusivamente” tornariam a questão errada.

Gabarito: Certo

08. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) Relativamente aos princípios


constitucionais do processo civil, é correto afirmar-se que: O princípio do juiz
natural consiste exclusivamente na proibição de tribunais de exceção.

- O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao órgão


jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do magistrado. O juiz
natural possui competência constitucional e foi investido de maneira regular na
jurisdição.

Vejamos:

Juiz Natural em sentido Formal:

1) Garantia da proibição da existência de Tribunais de exceção.

2) Respeito às regras de competência: (...) LIII - ninguém será processado nem


sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5°, CF).

Juiz Natural em sentido Material

Imparcialidade do juiz – ver comentários da pág. 18 dessa aula.

Pois bem, como exposto o princípio do juiz natural não consiste exclusivamente na
proibição de tribunais de exceção. Engloba nesse princípio a imparcialidade, o respeito
às regras de competência e a garantia da proibição de Tribunais de exceção.

Gabarito: Errado

09. (MP-SP Promotor de Justiça 2006) O Estado democrático de direito e o juiz


natural:

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Direito Processual Civil
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a) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões


nos procedimentos de jurisdição voluntária.

b) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões


nos processos contenciosos.

c) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões somente nos


processos contenciosos (objetivos e subjetivos).

d) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões tanto nos processos


contenciosos como nos procedimentos de jurisdição voluntária.

e) Permitem a parcialidade do juiz destinada a realizar os objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil.

COMENTÁRIOS:

O princípio do juiz natural apresenta duplo significado: 1) consagra regra de


que só é juiz quem investido de jurisdição; 2) impede criação de tribunais de
exceção. Modernamente, tem-se admitido terceiro conceito, referente à competência
constitucional do juiz, a qual não pode ser subtraída.

O domínio do conceito de juiz natural já seria suficiente para resolver a


questão, mas vejamos, de modo breve, distinção entre a jurisdição contenciosa e a
voluntária.

A contenciosa é a comum, em que as partes de uma lide buscam tutela


judicial para resolver a pendenga. A jurisdição voluntária é mera administração
pública de interesses privados, não há, em regra, conflito (ex: alienação judicial de
bens de incapazes).

Gabarito: D

10. (STJ Cespe 2008) Quanto aos princípios constitucionais e gerais do direito
processual civil, julgue o item abaixo.

O ato do presidente de um tribunal que designa um juiz substituto para atuar


em determinado feito, após o juiz titular e seu substituto legal terem afirmado
sua suspeição para atuar na ação, não viola o princípio do juiz natural, já que o

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afastamento daqueles originalmente competentes para o julgamento se deu


com base em motivo legal, e não, por ato de exceção.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

O que se visa, nesses casos, é manter a imparcialidade do juiz, de modo


que não se pode considerar que viola o princípio do juiz natural uma medida que se
coaduna com ele e que tenha sido tomada consoante critérios objetivos e definidos
previamente em instrumento legal.

A suspeição e o impedimento são situações em que o juiz pode ter sua


imparcialidade prejudicada.

Nos dois casos, o juiz deverá declarar parcialidade. O impedimento tem


caráter objetivo e absoluto, enquanto a suspeição é subjetiva e relativa. Isso quer
dizer que no caso do impedimento, por ser absoluto, não há preclusão (pode ser
questionado, pela parte, a qualquer tempo).

- Hipóteses de impedimento do Juiz: de que for parte; em que interveio


como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério
Público, ou prestou depoimento como testemunha; que conheceu em primeiro grau
de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; quando nele estiver
postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu,
consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;
quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em linha
reta ou, na colateral, até o terceiro grau; quando for órgão de direção ou de
administração de pessoa jurídica, parte na causa.

- Hipóteses de suspeição do Juiz: amigo íntimo ou inimigo capital de


qualquer das partes; alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu
cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes; receber
dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes

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acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do


litígio; interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Gabarito: Certo

11. (PGE PB – Cespe 2008/Adaptada) Pelo princípio do contraditório, o autor


pode deduzir a ação em juízo, alegar e provar os fatos constitutivos de seu
direito, e ao réu é assegurado o direito de contestar todos os fatos alegados
pelo autor, como também o de fazer a prova contrária, salvo em caso de
revelia.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

A revelia não afasta posterior atuação do réu no processo. O STF já se


posicionou no sentido de que o revel poderá produzir provas e atuar no processo,
mas no estágio em que ele se encontra (nesse sentido: enunciado n° 231 da Súmula
STF e precedentes).

Súmula 231

O revel, em processo cível, pode produzir provas, desde que compareça em tempo
oportuno.

Gabarito: Errado

12. (CGU - ESAF 2006/Adaptada) O princípio da proporcionalidade é corolário


do princípio do devido processo legal em sentido substancial (substantive due
process clause).

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

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Lembrem-se que o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade são


levados em conta no processo legislativo e na interpretação das leis, de modo que
são elementos centrais do devido processo legal em sentido substancial.

Gabarito: Certo

13. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) O devido processo legal, no sentido


unicamente processual, assegura o direito ao procedimento contraditório.

COMENTÁRIOS:

No sentido processual, o devido processo legal visa ao atendimento de


garantias constitucionais, entre elas a do contraditório – conforme inciso LV (art. 5°
da CF/88): aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes. O contraditório é corolário do devido processo legal.

Gabarito: Certo

14. (TCE RO - FCC 2010/Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-


constituição, por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

A legislação processual dispõe sobre a competência de juízos, seja em


razão da matéria, do valor da causa, do território. A previsão em lei de critérios de
definição de competência, por ser anterior à formação e distribuição do processo e
respeitar critérios objetivos, não fere o princípio do juiz natural.

Gabarito: Certo

15. (TRT 9ª Região JUIZ - FAE 2006/Adaptada) O Direito Processual Civil


brasileiro não admite procedimentos ou provimentos específicos fundados em
técnicas de contraditório diferido, de reação aos atos processuais já
praticados, pois o contraditório é elemento inerente ao devido processo legal,

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alçado a nível constitucional.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

O contraditório diferido (postecipado ou postergado) é concedido inaudita


altera parte (sem ser ouvida a outra parte), de modo que se reveste de caráter
excepcional, sendo cabível nas tutelas de evidência, que são aquelas com forte
indício de que a parte tem o direito que alega ter. Nesses casos, concede-se a tutela
com posterior comunicação ao réu para que possa reagir, se for o caso. Contrapõe-
se ao contraditório antecipado, que é o mais comum, a regra.

Gabarito: Errado

16. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) O princípio do contraditório tem o seu


conteúdo limitado à ciência bilateral dos atos contrariáveis.

COMENTÁRIOS:

Não se garante o contraditório com a simples ciência dos atos.

Contraditório: O contraditório é formado por dois elementos: informação e


possibilidade de ração (sentido formal) e poder de influenciar a decisão (sentido
material ou substantivo).

c) Informação: necessidade de a parte ter conhecimento do que está ocorrendo


no processo para que posicione de maneira positiva ou não sobre os fatos –
direito de participação no processo.

Reação: elemento dependente da vontade da parte, que pode optar por reagir
ou se omitir em relação à demanda.

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d) Poder de influenciar a decisão: é necessário que a reação no caso concreto


haja real poder de influenciar o magistrado na construção do seu
convencimento.

Gabarito: Errado

17. (DPF – Cespe 2004) Considere que A proponha contra B ação para
reparação de dano causado em acidente de veículo ocorrido na cidade do Rio
de Janeiro. Em face dessa consideração, julgue o item a seguir, relativo à
competência.

As partes podem, desde que estejam de comum acordo, estabelecer o foro


competente para a causa, elegendo, por exemplo, o juízo da 1.ª Vara Cível para
processar o feito, sendo previsto no Código de Processo Civil o foro de eleição
quando se tratar de competência territorial.

COMENTÁRIOS:

Essa questão é excelente para entender o princípio do Juiz Natural,


que é um dos princípios garantidores da imparcialidade judiciária, por meio dele se
invoca o total respeito às regras de competência.

Está previsto no inciso LIII do art. 5º da CF:

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente

Pelas regras gerais de competência, a escolha do juiz deve ser


aleatória. A proibição de escolha do juízo refere-se a todos, incluindo partes e juízes.
Portanto, não seria possível eleger, como menciona a questão, a 1ª Vara Cível, mas
somente eleger o local, a comarca.

Gabarito: Errado

18. (TRT 22ª Região) A indeclinabilidade é uma característica

a) da ação.

b) da jurisdição.

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c) do processo.

d) da lide.

e) do procedimento.

COMENTÁRIOS:

A banca cobrou os princípios da jurisdição. Sabemos que a indeclinabilidade


é um dos princípios que norteia a jurisdição e aduz que o juiz não poderá “abrir mão”
do poder jurisdicional. Podemos ainda resguardar esse princípio invocando outro: à
inafastabilidade da apreciação pelo poder judiciário: art. 5º, XXXV, da CF: "a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito."

Gabarito: B

19. (TRT 19ª Região) A respeito da jurisdição e da ação, considere:


I. Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional, senão quando a parte ou o
interessado a requerer, nos casos e formas legais.

II. O direito de ação é objetivo, decorre de uma pretensão e depende da


existência do direito que se pretende fazer reconhecido e executado.

III. Na jurisdição voluntária, não há lide, tratando-se de forma de administração


pública de interesses privados.

É correto o que se afirma APENAS em

a) II.

b) II e III.

c) I.

d) I e II.

e) I e III.

COMENTÁRIOS:

I: Está correto, pois o juiz deverá ser provocado para que possa prestar a
tutela jurisdicional. Podemos concluir que o magistrado não pode prestar a tutela de
ofício.

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II: Item errado, uma vez que o direito de ação é SUBJETIVO e não objetivo.
O direito de ação também é abstrato - tem existência independente da existência do
direito material, objeto da controvérsia – e autônomo - tem natureza diferente do
direito material afirmado pela parte.

III: Correto. A jurisdição voluntária refere-se à homologação de pedidos que


não impliquem litígio, ou seja, não se resolve conflitos, mas apenas tutela interesses.
São sinônimos de jurisdição voluntária: jurisdição graciosa ou inter-volentes.

Gabarito: E

20. (TJ PA) Jurisdição é

a) a faculdade atribuída ao Poder Executivo de propor e sancionar leis que


regulamentem situações jurídicas ocorridas na vida em sociedade.

b) a faculdade outorgada ao Poder Legislativo de regulamentar a vida social,


estabelecendo, através das leis, as regras jurídicas de observância obrigatória.

c) o poder das autoridades judiciárias regularmente investidas no cargo de


dizer o direito no caso concreto.

d) o direito individual público, subjetivo e autônomo, de pleitear, perante o


Estado a solução de um conflito de interesses.

e) o instrumento pelo qual o Estado procede à composição da lide, aplicando


o Direito ao caso concreto, dirimindo os conflitos de interesses.

COMENTÁRIOS:

Conceito de jurisdição: A jurisdição consiste no poder conferido ao Estado,


por meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação
que não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da
intervenção do Estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

Lembrem-se: Há entendimento da doutrina de que o poder jurisdicional não


se restringe a dizer o direito (juris-dicção), alcança também a imposição do direito
(júris-satisfação).

Gabarito: C

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21. (TCE RO – Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-constituição,


por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

A legislação processual dispõe sobre a competência de juízos, seja em


razão da matéria, do valor da causa, do território. A previsão em lei de critérios de
definição de competência, por ser anterior à formação e distribuição do processo e
respeitar critérios objetivos, não fere o princípio do juiz natural.

Gabarito: Certo

QUESTÔES DA AULA

01. (TCU – CESPE 2008) Tendo por base os princípios constitucionais que
informam o direito processual civil, julgue o seguinte item.
Ao longo de toda a fase instrutória de uma complexa ação envolvendo
apropriação indevida de direitos autorais, o juiz deferiu todos os
requerimentos que lhe foram dirigidos para juntada de documentos e outros
elementos probantes aos autos, sempre concedendo vista às partes para sua
manifestação nos termos da lei processual vigente. Nessa situação, ao
oportunizar aos litigantes o pleno exercício do contraditório, o magistrado,
simultaneamente, também deu efetividade concreta ao princípio constitucional
da ampla defesa.
a) Certo
b) Errado

02. (TJ CE – IESES 2011) Aponte, dentre os princípios processuais abaixo,


aquele que não tem previsão explícita na Constituição Federal:
a) Juiz natural.
b) Duplo grau de jurisdição.
c) Devido processo legal.
d) Acesso à justiça.

03. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) Julgue o item abaixo:

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O princípio do Juiz Natural pode ser encontrado na Constituição federal no


artigo onde expressa que ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente ou por juízo ou tribunal de exceção.
a) Certo
b) Errado

04. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) A concessão de providência jurisdicional


cautelar sem a ouvida prévia da parte contrária implica violação ao
contraditório.

05. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) O devido processo legal, como princípio


constitucional, significa o conjunto de garantias de ordem constitucional, que
de um lado asseguram às partes o exercício de suas faculdades e poderes de
natureza processual e, de outro, legitimam a própria função jurisdicional.
a) Certo
b) Errado

06. (TRT 2ª Região JUIZ - 2010/Adaptada) O princípio do contraditório garante


às partes a ciência dos atos e termos do processo, com a consequente
obrigação de impugná-los.
a) Certo
b) Errado

07. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) São manifestações do princípio processual


do devido processo legal as seguintes garantias: acesso à justiça, igualdade
de tratamento, publicidade dos atos processuais, contraditório, ampla defesa,
julgamento por juiz natural e competente, de acordo com provas obtidas
licitamente por decisão fundamentada.
a) Certo
b) Errado

08. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) Relativamente aos princípios


constitucionais do processo civil, é correto afirmar-se que: O princípio do juiz
natural consiste exclusivamente na proibição de tribunais de exceção.

09. (MP-SP Promotor de Justiça 2006) O Estado democrático de direito e o juiz


natural:
a) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões
nos procedimentos de jurisdição voluntária.

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b) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões


nos processos contenciosos.
c) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões somente nos
processos contenciosos (objetivos e subjetivos).
d) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões tanto nos processos
contenciosos como nos procedimentos de jurisdição voluntária.
e) Permitem a parcialidade do juiz destinada a realizar os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil.

10. (STJ Cespe 2008) Quanto aos princípios constitucionais e gerais do direito
processual civil, julgue o item abaixo.
O ato do presidente de um tribunal que designa um juiz substituto para atuar
em determinado feito, após o juiz titular e seu substituto legal terem afirmado
sua suspeição para atuar na ação, não viola o princípio do juiz natural, já que o
afastamento daqueles originalmente competentes para o julgamento se deu
com base em motivo legal, e não, por ato de exceção.
a) Certo
b) Errado

11. (PGE PB – Cespe 2008/Adaptada) Pelo princípio do contraditório, o autor


pode deduzir a ação em juízo, alegar e provar os fatos constitutivos de seu
direito, e ao réu é assegurado o direito de contestar todos os fatos alegados
pelo autor, como também o de fazer a prova contrária, salvo em caso de
revelia.
a) Certo
b) Errado

12. (CGU - ESAF 2006/Adaptada) O princípio da proporcionalidade é corolário


do princípio do devido processo legal em sentido substancial (substantive due
process clause).
a) Certo
b) Errado

13. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) O devido processo legal, no sentido


unicamente processual, assegura o direito ao procedimento contraditório.

14. (TCE RO - FCC 2010/Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-


constituição, por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.
a) Certo

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b) Errado

15. (TRT 9ª Região JUIZ - FAE 2006/Adaptada) O Direito Processual Civil


brasileiro não admite procedimentos ou provimentos específicos fundados em
técnicas de contraditório diferido, de reação aos atos processuais já
praticados, pois o contraditório é elemento inerente ao devido processo legal,
alçado a nível constitucional.
a) Certo
b) Errado

16. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) O princípio do contraditório tem o seu


conteúdo limitado à ciência bilateral dos atos contrariáveis.

17. (DPF – Cespe 2004) Considere que A proponha contra B ação para
reparação de dano causado em acidente de veículo ocorrido na cidade do Rio
de Janeiro. Em face dessa consideração, julgue o item a seguir, relativo à
competência.
As partes podem, desde que estejam de comum acordo, estabelecer o foro
competente para a causa, elegendo, por exemplo, o juízo da 1.ª Vara Cível para
processar o feito, sendo previsto no Código de Processo Civil o foro de eleição
quando se tratar de competência territorial.

18. (TRT 22ª Região) A indeclinabilidade é uma característica


a) da ação.
b) da jurisdição.
c) do processo.
d) da lide.
e) do procedimento.

19. (TRT 19ª Região) A respeito da jurisdição e da ação, considere:


I. Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional, senão quando a parte ou o
interessado a requerer, nos casos e formas legais.
II. O direito de ação é objetivo, decorre de uma pretensão e depende da
existência do direito que se pretende fazer reconhecido e executado.
III. Na jurisdição voluntária, não há lide, tratando-se de forma de administração
pública de interesses privados.
É correto o que se afirma APENAS em
a) II.
b) II e III.

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c) I.
d) I e II.
e) I e III.

20. (TJ PA) Jurisdição é


a) a faculdade atribuída ao Poder Executivo de propor e sancionar leis que
regulamentem situações jurídicas ocorridas na vida em sociedade.
b) a faculdade outorgada ao Poder Legislativo de regulamentar a vida social,
estabelecendo, através das leis, as regras jurídicas de observância obrigatória.
c) o poder das autoridades judiciárias regularmente investidas no cargo de
dizer o direito no caso concreto.
d) o direito individual público, subjetivo e autônomo, de pleitear, perante o
Estado a solução de um conflito de interesses.
e) o instrumento pelo qual o Estado procede à composição da lide, aplicando
o Direito ao caso concreto, dirimindo os conflitos de interesses.

21. (TCE RO – Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-constituição,


por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.
a) Certo
b) Errado

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GABARITO

01 Certo 11 Errado 21 Certo


02 B 12 Certo

03 Errado 13 Certo

04 Errado 14 Certo

05 Certo 15 Errado

06 Errado 16 Errado

07 Certo 17 Errado

08 Errado 18 B

09 D 19 E

10 Certo 20 C

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