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SOLOMON, Robert C., Espiritualidade para céticos, paixão, verdade cósmica e
racionalidade no século XXI, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, capítulo
primeiro
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insistiriam que sua perspectiva do mundo é a perspectiva correta. Isso inclui tanto a
visão cientifica quanto qualquer visão religiosa do mundo.
Como a compreensão cientifica, a iluminação espiritual não surge de uma
vez. Requer atenção, trabalho, desenvolvimento e tempo. É muito menos uma
transformação instantânea que o inicio de um longo e complexo processo. Nesse
sentido ela é ritual e prática. Ritual não é meramente algo que se faz mas antes
algo que se vive, e envolve ações cotidianas e não só serviços e sacramentos
especiais. Pelo fato de requerer ação como parte de sua própria essência, a
espiritualidade é uma estranheza filosófica. É tanto um modo de fazer quanto um
modo de ser, pensar e sentir. Nesse sentido, a espiritualidade não é algo limitado ou
especial para alguns privilegiados: é nada menos do que a compreensão do que é
melhor em todos nós. É ela que nos convida a abraçar os outros e amar nosso
próximo como a nós mesmos, isto é, como espírito.
De todos os rituais que definiram a busca da espiritualidade, aquele que
parece mais central e mais diretamente instrumental é a própria filosofia. A filosofia é
uma prática social. Sócrates, mais do que qualquer outro filósofo, demonstrou a
natureza social da filosofia e daqueles rituais de conversa chamados dialética.
Identificar filosofia com espiritualidade é uma reação não contra a verdade ou a
ciência, mas contra a diluição da filosofia, que chegou a tal ponto que ela se tornou
quase irrelevante para o resto do mundo acadêmico, cultural e intelectual, para não
mencionar a comunidade mais ampla das humanidades. Trata-se de um retorno a
todas aquelas concepções anteriores de filosofia orientada para a sabedoria que
dominou a disciplina desde os antigos Vedas indianos até as filosofias religiosas da
Idade Média e também grande parte da filosofia moderna. Mas desde o Iluminismo
ocidental (um movimento que estranhamente buscou a “iluminação” intelectual,
homônima da iluminação religiosa celebrada no Oriente), tanto a religião quanto a
espiritualidade estiveram na defensiva. Desde então, espiritualidade e filosofia foram
pensadas como antagonistas, pelo menos no Ocidente: a espiritualidade, como o
sentimentalismo e a superstição, é com demasiada freqüência algo falso, algo
barato, algo com enormes pretensões desprovidas de conteúdo. Enquanto isso, a
filosofia tornou-se intraduzivelmente técnica e “cientifica”.
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NATURALIZAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE
Significa rejeitar qualquer concepção que minimize o valor da vida em
favor de outro tipo de existência ou valor. Isto não significa que nada é mais
importante que a vida de uma pessoa (amor e honra, por exemplo, podem valer
mais). Significa insistir que esta vida, com todas as suas alegrias e atribulações, é a
única em que vale a pena pensar.
Naturalismo não é o mesmo que materialismo, tanto no sentido usual de
uma ênfase nos bens materiais da vida quanto no sentido filosófico de que só existe
matéria (e energia).
ESPIRITUALIDADE AUTO-REALIZADORA
A espiritualidade á auto-realizadora, isto é, passa a existir quando se
acredita nela. A adoção de uma atitude que evita as dúvidas e o desânimo mais
debilitantes torna o sucesso pelo menos mais provável. A espiritualidade pode não
ser uma façanha ou um sucesso no mesmo sentido que vencer uma corrida ou sair-
se bem, mas é a adoção de uma postura ou de uma atitude positiva em que se
abrem possibilidades de toda sorte, que talvez não estivessem evidentes antes.