Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
‘Situação TV’
Suely Fragoso
Uma quantidade razoável de trabalhos tem sido dedicada ao estudo dos efeitos
da televisão sobre o pensamento e comportamento de sua audiência, muitas vezes
atribuindo ao meio um desproporcional poder manipulatório sobre espectadores
supostamente ingênuos e criticamente despreparados. Discutindo a questão
particularmente polêmica da influência da televisão sobre o público infantil, Aimèe
Dorr cita por exemplo a comparação do político norte-americano S. I. Hayakawa:
Suponha . . . que suas crianças . . . sejam roubadas de você por três a quatro
horas por dia por um poderoso feiticeiro. Este feiticeiro é um contador de histórias
e um fabricante de sonhos. Ele toca músicas encantadoras, ele é uma fonte infalível
de entretenimento. Ele faz as crianças rirem, ele ensina músicas para cantar, ele
sugere boas coisas para comer e brinquedos maravilhosos para seus pais
comprarem. . . . O feiticeiro é sempre fascinante, tanto que [as crianças] sentam à
sua frente como se estivessem drogadas, absorvendo mensagens que seus pais não
formularam e freqüentemente desconhecem (Dorr, 1986, pp. 64-65)
1
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
2
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
Ubiqüidade e realismo
3
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
4
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
5
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
Situação TV
O envolvimento com a ficção televisiva que se apresenta como tal, por exemplo
telenovelas e seriados, envolve um processo de ‘suspensão de descrença’ bastante
semelhante ao descrito por Metz. O público da televisão reconhece o caráter ficcional
dos eventos apresentados na tela, mas se dispõe a deixar de lado esse conhecimento para
melhor se envolver com a narrativa. Ao fazer isso, os telespectadores produziriam a si
mesmos como 'espectadores crédulos', não em um descolamento necessariamente
psicótico da realidade mas num processo controlado em que recusa e aceitação da
representação ficcional coexistem, subordinadas ao consentimento do espectador. Metz
denomina esse regime psicológico singular ‘capacidade ficcional’ , e o reconhece como
uma precondição da qual depende a possibilidade da própria existência da ficção
cinematográfica.
6
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
7
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
8
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
9
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
10
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
intercâmbio unificador entre os diferentes níveis de ficção e realismo que emergem das
seqüências aparentemente acidentais de eventos que compõem o fluxo televisivo
interage com a difusão da informação diegética através da experiência cotidiana típica
da recepção televisiva doméstica. O resultado é uma convergência de ficção e vida real,
uma 'situação televisão' que acaba por permitir concessões de outro modo
inconcebíveis, nas quais os personagens da TV compartilham a realidade do
telespectador e os eventos ficcionais influenciam o comportamento cotidiano. É
importante lembrar ainda que, assim como "através do realismo representacional . . . o
mundo real é assumido como pano de fundo nas representações ficcionais da TV"
(Mattuck, 2000, p. 62), também a programação televisiva é parte integrante da vida
cotidiana.
Operando de forma correlata àquela com que a situação fílmica facilita a
suspensão de descrença e amplia a capacidade ficcional do público do cinema, a
situação televisão intensifica para a diluição dos contornos entre o real e o ficcional
característica da forma predominante de utilização do meio inclusive devido à suposta
objetividade das representações mediadas por câmeras. Do intercâmbio incessante entre
os diferentes níveis de representação que compõem o fluxo televisivo e as informações
efetivamente oriundas do entorno imediato do espectador emergem algumas
peculiaridades do processo de suspensão de descrença diante da representação televisiva
diretamente relacionadas às circunstâncias domésticas de recepção.
Referências Bibliográficas
Comstock, G. and H. Paik, Television and the American Child. Londres: Academic Press, 1991.
Condry, J, The Psychology of Television. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1989.
Dorr, A, Television and children: a special medium for a special audience. California: Sage,
1986.
Ellis, J., “Broadcast television as sound and image” in G. Mast, M Cohen and L. Braudy (orgs.),
Film Theory and Criticism. New York: Oxford University Press, 1992, pp. 341–350.
Feuer J., “The Concept of Live Television: ontology as ideology”, in Kaplan, E. A (org.),
Regarding Television: critical approaches– an anthology. Los Angeles: American Film
Institute), 1983, pp. 12–22.
11
FRAGOSO, S. Situação TV. In MALDONADO, Alberto Efendy et al. (Org.). Mídias e
Processos Socioculturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000, v. , p. 101-114.
Lamb, C., “Brazil tunes in to a killing scripted by a soap opera”, The Sunday Times, 25 August
1996, p. 1.18.
Liebert, R. M. e J. Sprafkin, The Early Window: effects of television on children and youth.
Terceira Edição. Oxford: Pergamon, 1988.
Perkins, V. F, “Form as Discipline” in G. Mast, M Cohen and L. Braudy (orgs.), Film Theory
and Criticism. New York: Oxford University Press,1992, pp. 52–58.
Stam, R, “Television News and Its Spectator” in Kaplan, E. A (org.), Regarding Television:
critical approaches– an anthology (Los Angeles, American Film Institute), 1983, pp.
23–43.
van Evra, J., Television and Child Development. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates,
1990.
Williams, R, Television: technology and cultural forms. Londres: Fontana/Collins, 1974.
12