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Poemas
Do
Século
Passado.
(1982-2000)
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 3
By Edson Bueno de Camargo
1ª Edição.
Tiragem: 1.000
“Das Utopias”
Mário Quintana
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 4
By Edson Bueno de Camargo
Aristides Theodoro(*).
Dedico...
é tarde
e a noite afaga meus sonhos
e o medo
desprezo de quem vive
já não me toma conta
retorno
das eras profundas
de pensamento
e giro
às bordas de minha decadência
perpetuo o momento
desfaço o meio
e flutuo no plasma líquido
mas
eu não sou
temos um corpo
para prestar contas
numa dívida
trágica e sem solução.
18/08/1982
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 8
By Edson Bueno de Camargo
tocar
violas de vento e flautas mágicas
em clima amigo
e de pés descalços
dar luz
aos olhos dos cegos da verdade
pintar
de verde estes prédios
e um sorriso
nestes rostos enrugados, suados e queimados
20/08/1982
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 10
By Edson Bueno de Camargo
Naturais.
o vento
envolve as telhas e os telhados
assalta de súbito
os guarda-chuvas
nos molhando no dia frio
passos largos
dados ao léu
nas poças d’água e de lama
descortina
o céu
numa luz visível
limpando o tempo e secando as roupas
22/06/1983
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 11
By Edson Bueno de Camargo
A Lua Escondida.
na noite
sim, nas trevas
a falta do luminar
no entanto
e portanto
aprendemos a enxergar no escuro
do negro horizonte
e com isto,
não mais,
podemos finalmente descobrir a paz
mimetizada
com a paisagem
que nós não vemos.
20/09/1983
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 12
By Edson Bueno de Camargo
Paraédsons.
que em parte
soa e ressoa
nos meus tímpanos
o mesmo acorde
o resto musical
da sinfonia
deixada no ar pelos rastros das palavras
prova da desunião
de dois seres conjugados
ainda respiro
resistindo a negação
mas me sinto alienígena
a esta lógica
restrito ao endeusamento
do mítico, me completo e me leio
do passado corrente que ainda me aturde
de segundos atrás
e te miro
orquídeas nos cabelos
e os pés como raízes
de uma milenar oliveira
30/01/84
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 14
By Edson Bueno de Camargo
Retrato Rasgado.
diante da porta
não havia nada
por detrás da mesma
já se via tudo
não tinham mais segredos
os instantes de revelação
passaram-se tempestuosos
e se foram
como os passos
inclinados em meus anos
o tempo se encarregou
de levar
os pedaços do retrato
picados e
jogados ao chão
descoloriu a pintura
como os cabelos
dos que ganham muitos anos,
tingidos de branco
sentei-me a beira
da calçada
vendo a procissão que passava
as velas acessas
os ramos
o frio frio e fina garoa
tudo se foi
como um raio
no meio da tempestade
mas você
já não mais me esperava
02/02/84
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 16
By Edson Bueno de Camargo
Lirismo.
o roer da rima
inconstante trama
melódico acalanto
para o fim do pranto
na gaveta empoeirada
esquecida a um canto
do lirismo sofrido
inconstante rima
no decorrer da trama
do amor incontido
na mente introspecto.
14/03/1984
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 17
By Edson Bueno de Camargo
Incógnita Comum.
parece ainda
que sinto o cheiro das rosas
entrando pelas janelas da casa
e me entristeço
por que se não fosse sua mudez
provocada pela doença
e o esvaziamento de sua razão
devido a senilidade precoce
podíamos partilhar
deste nosso lugar comum
mas não,
permanecemos assim
um olhando para o outro
tentando adivinhar
o que pensa
um e outro
nesta solidão
de um homem
prestes a chegar ao fim
e o de um jovem
com medo do futuro desconhecido.
28/03/1984
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 19
By Edson Bueno de Camargo
Tarde Em Devaneios.
morre o tempo
na tarde vazia de idéias e ideais
e a via sacra
desponta no raiar de outro dia
o deus ignóbil
espera o sinal
vibra a tarde
vazia de idéias e ideais
da longa dívida de corpos
das moças novas e fogosas que passam de frente a
janela
porém
a prisão de vidro impede o tato
05/03/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 21
By Edson Bueno de Camargo
O Som da Rua.
abra a janela
para a luz do sol entrar
que só vê televisão
e espera o chá
águas passadas
ventos ligeiros
sussurros de amor
lágrimas secas
palavras ditas e esquecidas
o som da rua
as crianças brincando no corredor
no vento frio
mas,
não tem ninguém lá fora
é apenas uma alucinação
25/06/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 23
By Edson Bueno de Camargo
Hídrico Anúncio.
corpos de vidro
fibras rompidas por inteiro
a fonte devassa
do dom desejo
deságua no tempo
estanca o fluxo
quebra o silêncio
derrama seus egos na aurora
onde e quando
o tenro vapor da manhã
te molhou os cabelos
e umedeceu a pele
o som distante
das locomotivas eletro-diesel
puxando pesadas cargas rangentes
recortou-te o velho e sombrio passado
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 24
By Edson Bueno de Camargo
rudes e sinceras
únicas
em espontaneidade!
29/08/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 25
By Edson Bueno de Camargo
Roseira Desnuda.
quero
levar-te a ver
meu rosto limpo de máculas
como uma roseira desnuda de espinhos
e crer
que o passado já é morto
enterraram-se as misérias da vida
e crer
que ainda é o presente
que o futuro é distante
neste momento terno
18/09/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 26
By Edson Bueno de Camargo
Rancores.
há um horror vivo
brotando das entranhas das gentes
há um rancor ardente
latente nos homens
há um sol causticante
crucificando os viajantes das estradas
e estes misteriosamente felizes
20/09/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 27
By Edson Bueno de Camargo
Paz Repentina.
comprimidos
pílulas
extratos
elixires
odores repelentes
inerentes
de coisas prestes a morrer
na semi - escuridão
de um quarto
que recende a velho e a mofo
enfim, o fim,
a noite corre tranqüila
para que todos durmam em paz.
28/10/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 28
By Edson Bueno de Camargo
metódico homem
em sua maneira de se morrer em vida
se curva o signo
o homem se perde em si
perdendo o respeito, a responsabilidade e a liberdade
os sinos dobram
dobram a esquina
a última esperança
o derradeiro bonde (que já partiu)
se perdeu no ermo
os ladrilhos do labirinto
descolam com a umidade e caem
se espatifando no solo duro
o cimento envelhece
assim como as instituições
ambos mostrando a vista aberta
os fortes sinais da deterioração
04/12/1985
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 29
By Edson Bueno de Camargo
Cavalgada Noturna.
adeus!
um viajante se despede
e segue para a sua longa jornada
22/01/1986
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 30
By Edson Bueno de Camargo
Dor.
aplaca-me a dor
da inconsciência perdida
a dor da carne
que não termina
que não tem fim
interrompe-me a dor
com um breve milagre
e me faz
arquitetar sonhos medonhos
para por fim terminá-la
finda-me o sofrimento
que vai muito além do entendimento
19/12/87
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 31
By Edson Bueno de Camargo
Visões.
a cidade
não tem horizontes
se dissolve o contexto
a cidade
se fecha sobre nós
e a qualquer instante
não sei?
algo me diz
quando andejo as ruas
um bar
um hotel barato
uma igreja no meio da noite
não te vejo
se existes
onde estás
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 32
By Edson Bueno de Camargo
05/11/88
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 33
By Edson Bueno de Camargo
Ferro Frio.
frio ferro
ferrugem
pedras, águas que rolam sobre
mato, medo
segredo
fonte viva cristal
bate o martelo
sem dó
prego
prega a madeira
tábua, forro, vidro,
caixão
bate o martelo
sem dó, nem dor
cobra de fogo
serpente de pena
cabelo de gente
Satanás
26/03/1991
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 34
By Edson Bueno de Camargo
É Noite.
é noite
e respiro o brilho
cruzam a cidade
em raios velozes
encontram as cruzes
no alto das torres
procuram as luzes
no meio das trevas
é então
que quando uma lágrima
brilha em teu olho
destilo a dor
deste mar salgado
desvisto as nuvens
e clamo a atenção dos homens
como um pregador desvairado
retiro a venda
para abrir os olhos no meio do escuro
estou perdido
e creio que é tarde demais....
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 35
By Edson Bueno de Camargo
Bendita seja
amiga morta
dorme
no seu sono de máquinas
dorme a salvo
deste mundo atroz
Bendita seja
amiga quase viva
Graças dou a sua morte - vida
Bendita seja
amiga morta
que a noite chega
sobre nós
??/02/1992
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 36
By Edson Bueno de Camargo
Reprodução.
o serpentear acrobático
das águas em louca corrida
dançando a beira de abismos
para se transbordar em cascatas
15/07/1994
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 37
By Edson Bueno de Camargo
não saberá
pronunciar o nome da dor
porque a corrente do vento impera
e carrega os nomes para longe
uma dor
a dor
sem nome e sem tempo
15/09/94
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 38
By Edson Bueno de Camargo
É Preciso.
por a mesa
servir os pratos vazios
na mesa sem convivas
chorar a noite
perdido no frio
06/07/1998
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 39
By Edson Bueno de Camargo
Contrato.
06/08/1998
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 40
By Edson Bueno de Camargo
Aqui Estou.
aqui estou
exilado de outras eras
como um sonâmbulo andando no mundo dos vivos
aqui estou
andando por ruas que não conheço
procurando um lugar que não vi
com um endereço que não tenho
como um pesadelo recorrente,
como se pudesse ver com os olhos dos mortos.
??/11/1998
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 41
By Edson Bueno de Camargo
FATEA.
arcos romanos
sobre colunas jônicas
telhas vermelhas
descanso do sol
12/06/1999
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 42
By Edson Bueno de Camargo
Porta Azul.
parado
esperando alguma coisa acontecer
a porta azul entreaberta
os carros aguardando lá fora
o silêncio tomando conta de tudo
parado
como se não esperassem mais nada
e nada mais fosse acontecer
nem a porta azul se fechar
12/06/1999
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 43
By Edson Bueno de Camargo
Esquife.
29/10/1999
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 44
By Edson Bueno de Camargo
Sinceridade Do Vento.
23/03/1999
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 45
By Edson Bueno de Camargo
Me Vejo Fechado.
me vejo fechado
entre quatro paredes escuras
feitas de pedras lisas e duras
meus olhos cegos tateando no escuro
em uma busca vã
a procura de luz
me vejo calado
no meio exato do breu
nem um passo e nem um dedo
nem a menos nem a mais
19/03/1999
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 46
By Edson Bueno de Camargo
Novotempo.
há um medo escondido
atrás de cada poste sem luz
há um gato assustado
arranhando dentro da caixa,
fora o espera o punhal do sacrifício
27/01/2000
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 47
By Edson Bueno de Camargo
Eu Morri.
eu morri,
e você nem sabe
eu morri
e você nem sabe
das horas sem respirar
nem nunca saberá
pois eu morri
e você nem sabe
07/11/2000
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 48
By Edson Bueno de Camargo
Contra Mão.
31/08/2000
Poemas Do Século Passado – 1982 -2000 49
By Edson Bueno de Camargo
O Autor.