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© UNIVERSO VISUAL DOS XAMAS WAUJA (ALTO XINGU) Aristételes BARCELOS NETO Este rtgo aborda a questio das experiéncias visu thos e transes dos xamas com clementos de uma conccitualizacao das quatro prineipaisalteridades extra-humanas (« geate- animal »,« roups », « monstro » e « animal ») e das suas relagBes com os Watija. As in inseridas no texto derivam da rolex Sgica © artista de um grupo privilegiad: individuos, aos quais io atribuidos rl 3 fatose de express sual e verbal das idéias cosmoldgicas Xingu, indios Wauja, xamanismo, fetigaria, imagem, ‘et article aborde a question des expériences visuelles des réve chamane considérées comme éléments de conceptualisation des quatre pales altérités extra mumaines (« homme-animal », « vétement », « monsire mal») et de leurs rapports avec les Wutuja. Les images insdrées dans le texte résutent de la réflexion ontologique et artist «fun groupe prvilégi d'individus auxquels sont ateibués des pouvoirs concernant linterprét ion des faits et Vexpression visuelle et verbale des idée ques Mors cis Haut-Xingu, indiens Wauja, chamanisme, soreellere, im This paper analyses the shaman’s elements in the conceptualisation of the four main in ,»« clothing monster, » and « animal ») and of their relationships pictures inchided in the article derive from the ontological and estheti a privileged group of indi duals. These individuals are eecognized as possess for interpreting facts a ual or verbal expressions of Wauja cosmological Key worps: Upper Xingu, Wauja Indians, shamanism, witeheraft, imagery, cos * Proprama de Pés-Graduagao em Antropologia Sosa, Faculdade de Filosofia, Let Humanas da Universidade de Sto Paulo, Ax Prof. Luciano Gualbera 315, Sto Paulo-SPO canail: bareelosnetof@bol.com.br 138 JOURNAL DE LA SOCIETE DES AMERICANISTES (87,2001 Beyond the Milky Way : Hallucinatory Imagery of the Tukano Indians (Reichel- Dolmatoff 1978) é talvez o primeiro livro a revelar de modo amplo o universo visual dos xamis, nas terras baixas da América do Sul, ea apontar um promissor caminho de investigagdo etnol6gica na regio ao integrar analiticamente expressdes visuais € cosmologia. Este caminho, embora pouco trilhado, tem trazido contribuigdes interes- santes '. O presente artigo, inspirado por essa tradigao de pesquisas na Amazénia, desereve alguns aspectos da experiéncia visual entre os xamis wauja e seus desdobra- mentos sobre as nogdes de imagem, alteridades extrachumanas, fetigaria e doenca, como nogdes-chave para uma aproximagio preliminar dos pensamentos estético © cosmoldgico desse grupo xinguano. Os Wauja ? habitam as proximidades da lagoa Piyulaga, @ qual se liga por um ‘canal margem direita do baixo curso do rio Batovi, um dos formadores do rio Xingu, ‘no estado do Mato Grosso, Brasil. Aproximadamente 263 pessoas *residem em uma {inica aldeia circular com o sistema de praya central ecasa das lautas. Falantes de uma lingua maipure do tronco arawak, os Wauja constituem, juntamente com os Meh nako, os Yawalapiti, os Pareci ¢ 03 Enawene Nawe, 0 grupo dos Arawak centrais (Franchetto 2001), Segundo hipétese de Urban (1992), os Arawak teriam como centro de sua disper- sio original a regido das cabeceiras dos rios da bacia amaz6nica que nascem nos piemontes andinos da Bolivia € do Peru, conforme uma profundidade cronologica de 30000 anos ou mais antes do presente. Urban supe que os Arawak-Maipure tiveram duas diregdes migratérias basicas : uma em diregio ao sul e outra, ao norte amazi nico, conservando-se sobretudo na periferia da grande bacia (Urban 1992, p. 95). As investigagdes arqueol6gicas recentes (Heckenberger 1996 ¢ 2001) sobre a formagio da cultura xinguana apontam que os grupos arawak teriam sido os primeiros se estabelecerem na regiio do Alto Xingu por volta de 800.900 A.D. Os Wauja contemporaneos so deseendentes desses Arawak antigos, responsiveis pela forma- lo da civilizardo das imensas aldeias circulates e fortficadas que surgiu na periferia ‘meridional da Amazénia entre os anos 1000 ¢ 1450. ‘Os Wauja integram, juntamente com outros nove grupos de diferentes fii lingisticas, um sistema social multigtnico existente na regido do Alto Xingu desde pelo menos os meados do século xvm, Embora partilhem de um mesmo sistema sociocultural, os xinguanos distinguem-se etnicamente uns dos outros, seja pela lingua (no Alto Xingu sio faladas duas linguas do tronco tupi, duas do tronco arawak dusts do familia carib, além do trumai, que é uma lingua isolada), pela especializagio tecnoldgica (Conhhecimento eefetiva ulilizagio das téenicas de fabricagio da ceramica, dos instrumeentos musicais, dos trangados, dos arcos e dos adornos corporais), ou por pratieas especificas no &mbito dos rituais e da chefia. Tal profunda e variada difere iagdo lingiiistica entre os povos xinguanos, todavia, niio impede que haja entre cles eficientes mecanismos de comunicagao ; os quais ocorrem, acima de tudo, em niveis supra-lingisticos, notadamente nos planos do ritual, dos intereasamentos, das trocas de artefatos, da pintura e oramentagio corporais, da feitiyaria € do Xamanismo Este artigo tem seu foco especialmente voltado para os xamis conliecidos como Jukapé, lteralmente « aquele que corre semiconsciente » para resgatar as almas dos doentes. A habilidade de resgatar almas esti indissociavelmente ligada & visio (adi- vinhagio) das doencas e dos seus agentes humanos ¢/ou extra-humanos, estes Barcslos Neto.) UNIVERSO VISUAL DOS XAMAS WAUIA 139 Jiltimos denominados yerupoho * e apapaatai (vide a segio 3 para uma explicacao sobre estas nogées). Os yakapd constituem grupos muito pequenos em cada aldeia, Entre os Wauja, por exemplo, so quatro, um niimero elevado se compararmos com as domais aldeias xinguanas, nas quais geralmente apenas um ou dois individuos pos- stem iniciagao no xamanismo visionatio-divinatério °. Tornar-se yakapd é uma tarefa airdua e de longuissimo aprendizado, 0 que por vezes resulta em uma aldeia ficar alguns periodos sem seu « xami de ver e ouvir » (Menezes Bastos 1984-1985), levando seus habitantes a solicitar os servigos de um yakapé de outra aldeia. Uma sesso xamanica de wkapd na aldeia wauja é um evento para o qual converge a atengao nilo apenas dos familiares do doente, mas também de criangas e adultos curiosos de outras unidades residenciais. Ao assistir & performance divinatoria e & extragio dos feitigos e ouvir do yakapé as respostas sobre as causas ¢ os agentes de uma doenga, os individuos comuns (ndo-yakapd) aprendem e tém confirmados 03 fundamentos bisicos da cosmologia do grupo. Esta é uma das principais posigdes que ‘© xamanismo ocupa na sociabilidade xinguana, assim efetivada por ser ele um vigoroso sistema nativo de interpretagio cosmoldgica. Vejamos a seguit como as experiéncias visuais contribuem para essa dimensdo interpretativa do xamanismo wauja 1 A VIsKo PRIVILEGIADA : FUMAR, SONHAR, CURAR A discussio sobre os significados das relagdes entre 0 corpo ¢ os modelos de percepeio e de expresso é um assunto ainda pouco explorado pela etnologia indigena da Amazénia e do Brasil central. Num famoso livro de Seeger (1981) sobre a ‘cosmologia suyd — o primeiro a abordar 0 assunto de mode sistemiatica na regio — ‘trés capitulos sio dedicados ao entendimento das énfases simbdlicas que essa socie- dade j& confere avs drgios de sentidos e as experiéncias sensoriais e expressivas a eles relacionadas, Tais énfases, seguado Seeget, podem definir importantes prineipios das noges sécio-cosmolégicas da sociedade em foco. O campo da visio, por exemplo, permite explorar as redes sociais, os processos de elaboragiio das identidades pessoas, © étnicas e as percepgdes dos amerindios sobre os seus contatos com as alteridades cextra-humanas, muitas delas, segundo os nativos, de existéncia « invisivel ». Entre os Wauja essa premissa nao seria diferente. Um contraste etnogrifico Suya-Wauja possibilita uma interessante abertura sobre a questo. Para os Suya, a visio & 0 sentido que est no mais alto nivel da anti-sociabilidade, sendo também associada a uma moral poder repugnantes. Uma visio extraor- diniria, como a dos feiticeiros (wayanga), € algo absolutamente nefasto, Tal vis pode ser adquirida quando um individuo age de modo « imoral », ou seja, quando ele, ao longo de sua vida, passa por sucessivos fracassos no processo de aquisigaio da perfeita audi¢io, que, no sentido suya, compreende ao mesmo tempo « ouvir~ entender-conhecer » — uma equago que aponta para 0 compartilhamento das nor- mas sociais hegemdnicas do grupo. Assim, para os Suyé, uma extraordindria visio jamais poderia conviver com a audigao perfeita, pois, d medida que primeira adquire {tagos vigorosos, a segunda se enfraquece ¢ dé lugar a um individuo proximo ao ‘mundo natural, ao mundo dos seres de visio agueada, das coisas ameagadoras e @Ssociais (Seeger 1981, p. 80-91). 140 JOURNAL DE LA SOCIETE DES AMERICANISTES (89,2001 Diferentemente dos Suyé, a visio entre os Wauja estrutura-se simbolicamente através de uma eseala hierarquica e de um padrio relacional do tipo interior-exterior que se manifesta, sem ser rigidamente dicotémica, na produglo simbélica de um mundo « invisivel » (0 dos agentes patogénicos, ou seja, o das alteridades extra- hhumanas) € na produglo da sua visualidade conereta, constitulda por desenhos, artefatos, pinturas ¢ adornos corporais, mascaras ¢ flautas. A fim de melhor definir esse padriio, separo dois aspectos sociais da visio, um ligado as atividades da vida cotidiana e 0 outro aos estados especiais do sonho, do transe, da doenga ¢ dos rituals. Limito-me aqui a explorar 0 segundo aspecto, que, a rigor, relaciona-se (1) &s possibilidades de ver 0 que possui alto valor estético € por isso exibido / exeeutado com pouca freqiiéncia, 2) aos que esto livres das proibigdes visuais que marcam as diferengas de género, (3) & capacidade de ver 0 que ¢ raramente visivel ou num certo sentido « invisivel » e (4) ao que s6 pode ser visto por quem adquiriu habilidades especiais ou por quem se encontra num estado de liminaridade ‘As quatro situagSes apontadas acima sio apenas uma esquematizagdo para que o leitor nfo confunda as esferas privadas e publicas da experiéncia visual, as quais, entre cos Wauja, slo rigorosamente separadas e hierarquizadas : quanto maior & o oculta- mento visual, maiores slo o poder, © perigo e a importancia da coisa ocultad, 0 campo do adoecimento é um excelente exemplo disso. Na privacidade de sua doenca, co doente tem a oportunidade de ver, através de seus sonhos, o que est Ihe causando 0 ‘mal, mas o doente s6 vé imperfeitamente o(s) agente(s) de sua doenga. A identi correta cabe apenas aos xamis, os ocupantes privilegiados do topo da hierarqui visio. Em razdo, dentre outras coisas, do seu papel fundamental na cura ¢ na identifica~ (fo de feiticeiros a visto € 0 sentido do poder acusatério, ds vezes manifestando-se de forma « nefasta » ; € a categoria social que melhor representa este poder, nos mais amplos dominios, &0 yakapa. Essa visio perfeita e acurada a servigo do bem-estar do doente e do faccionalismo politico ’¢ adquirida gracas as relagdes amistosas que os amis desenvolveram com os seus « apapaatai auxiliares » (iyakandu, em wallja) € a0 prolongado ¢ intenso uso do tabaco (hokd), a substincia maxima da atividade xaménica ; 0 yakapd fuma « para entrar luz nos olhos e para ele ver». ‘Ao tabaco esto associados os poderes terapéuticos restauradores ¢ de comunica- ‘gio com 0 « sobrenatural » : « ocheiro de hokd agrada aos apapaatal, faz eles ficarem alegres ». Parte do poder de curar do yakapd advém da possibilidade de « ver 0 feitico », ou seja, no diagndstico os sintomas da doenga nio sio de todo significativos para determinar a(s) causa(s) da mesma, © que importa de fato & descobrir qual 0 ‘apapaatai ou, n0 caso de feitigo humano, qual o feiticeiro que esti causando o maleficio ao doente, para entao se prosseguir com a cura, © tabaco usado pelos Wauja ¢ plantado nas imediagdes das rogas de mandioca. Cada xami tem sua pequena plantacao particular de onde colhe as folhas que si0 colocadas para secar no interior da sua casa, préximas ao seu local de dormir. Depois de-secas, as follias so guardadas em uma bolsa (tuapi) especialmente confeccionada pelas mulheres para o uso dos xamas. A bolsa ¢feita a partir do encordoamento de fios de algodiio nativo, tingidos de vermelho, com finas lascas de buriti. Esta matéria- prima freqitentemente é mencionada nas passagens dos mitos que relatam a fabrica- FO Tis ccherealh ciate cir Aa AS Kinance Asean parcelos Neto, AJ. © UNIVERSO VISUAL DOS. XAMAS WAUIA 141 ainda o objetivo de guardar os cigarros, o chocalho e pequenos objetos que o xamii usa {quando vai casa de alguém ministrar seus servigos de adivinha Por vezes, quando alguém acumula grandes quantidades de tuba, este pode ser trocado por outros produtos de valor ritual, como urucum e sementes especiais de uso dos xamis, Os cigarros, que variam de 30 a 50 em de comprimento, sio enrotados exclusivamente com as folhas (hoké opana) de uma drvore (espécie nfo identificada) encontrada nas imediagdes da aldeia. ‘Na sociedade wauja, espera-se que todo homem em idade madura tenha apren- ido a fumar,essa é uma pratica socialmente valorizada que inspira o respeito dos mais jjovens pelos mais vethos, e destes pelos seres extra-humanos (yerupoho e apapaatai), ‘osdonos do tabaco e das folhas que enrolam os cigarros. Fumar é uma atividade tipica de quem aprendeu as tradigées c obteve um razodvel conhecimento do mundo ‘sobrenatural ». Cotidianamente, fuma-se com parciménia e apenas em grupo na reuniio didria que os homens fazem no patio em frente i casa das flautas (kunwakuho ‘O uso freqtiente e moderado do tabaco estimula os sonhos — questio, do ponto de vista wauja, informagSes visuais © sonoras —sobre as alteridades extra-humanas, Ele é ainda a substncia que possibilita aos yakapé terem a sua visio « duplicada », ou seja, permite que eles vejam simultaneamente 0 que esta oculto no interior do corpo do doente (0 fetigo) e o que é « invisivel » no exterior, isto é, os movimentos e as intengdes dos apapaatai¢ yerupoho. "Nos sonhos, os xamas ouvem miisicas e, se sio bons miisicos, conseguem lembrar as melodias depois que acordam, procurando executi-las o mais répido possivel para no esquecé-las. Assim como o transe, 0 sonho também é uma experiéncia de comunicagio com os apapaatai, a diferenga € que o primeito é intencionalmente provocado pela ingestao de tabaco e pela necessidade do diagnéstico. Mas no caso do sonho, o contato é espontineo, o xami nao escolhe quando ou com o que vai sont. Ele pode sonhar varias vezes com o mesmo apapaatai, que pode se apresentar com caracteristicas diferentes em cada sonho. Para um yakapd, sonhar com 0s apapaatat permite aumentar seu conhecimento do « sobrenatural » sem que para iso ele precise Softer o impacto fisico ¢ emocional do transe. Nem tudo 0 que surge nos sonhos & perfcitamente reconhecido, Nas ocasides apropriadas, os yakapé procuram eselarecer ‘0s questionamentos provocades por um sonho com um amigo mais experiente ou com fo seu professor. O sonho édeserito como uma experiéncia, em gera, indcua. Mas nem sempre, no sonho, alguém esti live de um confronto direto ou de uma agressio de um apapaatat. Um episodio ocorrido durante meu trabalho de campo em 1998 ilustra bem como podem ocorrer tais eonfrontos. "No inicio da primeira etapa do trabalho de campo, pedi a um dos meus informan- tes, Aruta — um eminente xami-cantor e contador de mitos —, que desenhasse para mim o Pulu Pulu ', Aruta nao poupou detalhes ¢ com muito didatismo, fez o Pu Puluc® com seus « donos » eas masearas de Yakvd, que acompanbama festa. Dois dias depois, voltei& sua casa para mais uma sesso de desenho. Aruta contou-me, ento, 0 ferrivel sonho que tivera naquela noite : 0 Ulako apapaatai (peixe-elétrico monstro) & 8 Jyapu apapaatat(arraia-monstro)ficaram itritadissimos com ele, © Ulako tinha um edaco de pau para bater cm Aruta, que corria com medo da surra. O motivo da Tentativa de agressio, segundo ele, era muito simples : 0 Ulako e demais moradores do Pulu Pulu nao gostaram de tet suas imagens reveladas, tha JOURNAL DE LA $0 ' \ Baquanto instncias de percepgao de i proforcionam a amplitude de dados etnografivos necessdrios para 0 entendimento do status conceitual da imagem entre os Wauja. Como demonstra o exemplo acima, & sobretudo através da circulaglo das imagens (re)criadas ou reproduzidas sobre os ‘mais variados suportes— descnhos em papel, fotografias, méscaras, cerdmica, bancos de madeira, etc. — que o arcabougo conceitual da imagem toma contornos mais sélidos e definidos. Ver por intermédio do uso do tabaco é uma questio de coragem e de resisténcia fisica e mental, O trecho a seguir, narrado por um jovem mehinako, proporciona outros dados sensiveis sobre o tabaco ¢ as gnosiologias arawak-xinguanas do feitigo. iT DRS AMERICANISTES (87,2001 © Fumo « solta » (amolece, permitindo que saiam) os « bichos » que os Papaié colocaram dentro do doente ; Kaiti (outro pajé) joga fumaga do fume nas mos reunidas, e depois aesfrega entre elas, vai diminuindo (0 « bicho » [fetigo)) de tamanho, vai desmanchando, depois, ele limpa a palma das mls no pau da casa. Tira-se mais do que um « bichinho », sio varios Quando Papaié fapapaaiai] ota « bicho » para vitar pajé (tornar o doente um pa), cle oda «bicho » (em eirculos conforme mostrou), « mexe muito», na palma da mio do pajé que 0 retirou do doente ;ndo deve tira, porque se tirarnio fiea pajé; mas di muito, esse « bicho » & dificil de agiientur. Se a pessoa agiienta, demora bastante tempo doente, fea pajé, acaba ‘melhorando com o tempo (Fénelon Costa 1988, p, 148), Pereebe-se claramente na narrativa acima que os xamfs possuem, dentro de si, feitigos « sobrenaturais » que slo os prOpries apapaarai em miniatura. Obtive vitios desenhos explicativos nos quais os feitigos de apapaatai ni tém mais do que dois ou trés centimetros de comprimento. Os desenhos, referidos coma imagens dos feitigos em si, eram todos mindsculas naT (« roupas », um tipo particular de agéncia e de manifestagio ontoligica dos seres extra-humanos, conforme deserigio na soso 3 deste artigo) introduzidas no corpo do doente através de projéteis langados pelos . Dois tipos de transformagio abateram-se sobre os yerupolo, que correspondem precisamente as duas categorias de apapaatai. Aqucles que conseguiram fazer evestir 4 sua indumentéria @ tempo tornaram-se « roupas », que correspondem aos seres extra-humanos invisives e visiveis, Estes ttimos sto os animais propriamente ditos (mamiferos, peixes, aves, anfibios, insetos, etc.) os primeiros so as suas « duplica~ ¢8es sobrenaturais » que, no entanto, possuem uma natureza monstruosa ausente nos aesicel hihle:iiéomca leant iiicamett dernier plasticas arcelos Neto, A] UNIVERSO VISUAL DOS XAMAS WAUIA 149 Fic, 1. — Nakat kuna, yerupoo (casa de panelas monstro) Aor tstak Wage “Teena: crayon sf eatson, Dimensdes: 30 50cm Colegio Arstteles Barcelo Neto (1998) Fic, 2. — Uy wnt, yerupoho (monstco anteopomerte) ‘Autor: Ajoukuma Wauja ‘Teenia : crayon sf carson, Dimensies: 30> Sem Colegio Arattales Barcalos Net (1998) 150 JOURNAL DE TA SOCIETE DES. AMERICANISTES. pawciosNeta,A] © UNIVERSO VISUAL DOS KAMAS. WAUIA 131 atingidos de maneira definitiva e drastica com o aparecimento do sol : tornaram-se apapaatai Ivo (apapaatai de yerdade, ou seja, que nio usam « roupas »), seres extremamente perigosos que devoram ou simplesmente matam seres mais fraeos, dentre estes, 0s humanos, ‘Os apapaatai iyajo possuem uma identidade permanente fixada sobre o seu corpo através da ago transformadora do sol. Nukai kumd (panela-monstro antropomorta Figura 1), Eyusi kuna (ri-monstro, Figura 5), Meyejo kuma (gambé-monstro, Figura 6), Mepefesi (sanguessuga-monstro, Figura 7) Kakaya kumd (gaivota mons- ‘ro, Figura 8) sdo alguns dos imimeros apapaaaiiyajo existentes no cosmo waulja ‘Quando 08 yerupoko, jé vestidos com suas « roupas» viram que o dia estava clareando, @ maioria langou-se as aguas, tendo como lider um trio de flautas- apapaatai denominadas Kawoké, Eyusi («roupa» ri, Figura 9), Talapi kuma («croupa » peixe-clarinete, Figura 10) so exemplos dos milhares de « roupas » em permanente criagZo e movimento desde o surgimento do sol. © modelo classificatério que comegamos a esbogar aqui niio € exclusive aos ‘Wauia, o5 Mehinako (Fénelon Costa 1988 e Gregor 1982) os Yawalapiti (Viveiros de Castro 1977, 1978) também o seguem, Os Mehinako, em particular, so mais do que lum grupo cognato aos Wauja : os lingiistas chegam a considerii-los como falantes de uma s6 lingua (Franchetto 2001, pp. 115-117). As percepgBes desses trés grupos arawak sobre os seres « sobrenaturais » apresentam correspondéncias bastante simé- tricas, conforme se pode notar nas descrigdes de Gregor 0s apapaivei{apapaatai, em wauja] podem aparecer sob forma amedrontadora e monstruosa, tal como ado gpapaiye’aintyd, masesta & uma aparéncia externa, Suas peles sho revestimentos (ni) que podem abrir, como explicou umn informante « como mala provida de ziper ». Atras das aras amedrontadoras e abaixo das horriveis vestimentas, esto os espititos reais, de aparéncia muito semelhante aos Mchinako, mas sem idade e fisicamente perftitos. Estes ‘piritos sio, apesar disso, perigosos, pois eles podem « levar » (etuka) a alma de uma pessoa (Gregor 1982, p 312). E nmuito sugestiva a imagem de uma « mala provida de ziper » para explicar a natureza transformacional dos seres exira-humanos, no entanto, esta ndo é simples- Iente uma imagem metaforica, mas a imagem conereta de como sio as « roupas » desses seres. Antes de prosseguirmos com a definigio da nogio de « roupa», & nscesirio eslareer duascategoras bisieas que fundamentam « entologia wav, A ontologia wauja abrange trés macrocategorias : os humanos ou de aparéncia hhumana (seres fydu), os animais, as plantas e os artelatos (seres mona) ¢ 0s monstros (eres kumd, divididosem yerupoho, apapaatat ajo e apapaatai onal, ou simplestmente papaatal). Os ermos mona e kuna atuam como modificadores lingtisticos da atureza cas coisas. seres do mundo, ordenando-os em uma escala continua e flexivel das subcoisas as supercoisas (cf: também Viveiros de Castro 1977 ¢ 1978). A categoria uma (humaly, feminino), que signifiea arquetipico, extraordinério, monstruoso, Bigantesco, perigoso, poderoso e ou invisivel, aplica-se aos apapaatai c aos yerupoho, tas em determinados eontextos grandes animais predadores também podem ser Perecbidos como tendo uma natureza Kuma. A maioria dos setes verdadciramente umd possui, além de sua dimenso monstro, uma dimensio visivel e enfraquecida, Te ceccetadin EI cee, decals tase cones cans comacificc, clanifion, Fig. 3, — Eps, perapoho (gente) ‘Autor: Kamo Wat “Técnica: eryon sf eanson. Dimensdes 25 x 30cm Cole Arstteles Rarcelon Neto (1998) Fro. 4. Eyusi(e8) Autor: Kamo Wau Técnica: crayons eanson, Dimensbes : 30% 50 em Cole Arstteles Barcelos Neto (1898) JOURNAL DE LA société DBS AMERICANISTES 17,2001 Bareor Neto, A © UNIVERSO VISUAL Dos xAMKAS WaUJA 153 Fao, 5.— By kum, epapaataiyajo(A-monstro) “Autor Kamo Wauja “Teenia crayon sf cansoa, Dimensbes : 25 x 30em ‘Colegio Arsttales Barcelo Neto (1998) Fro. 6, — Meyejo kama, apapaata jo (gambs-monsto) ‘Autor : Kamo Wanja on eanson. Dimenses 30 50cm Fic. 8. — Kakaya kumd,apapacta yo (pissro-monsteo) Avior Kamo Wana “Técnica crayon x canson, Dimensdes:25 x 30cm Fro. 7. — Mepelesi kuma,apapaatat yao (sanguessugs-monstzo) hice a roa eas cae Autor : Kano Waa “Teena: erayon sf canson, Dimensies 30 x SDem (Cok Arstteles Barcelos Net (1998) Tenia ery ‘Colegio Atistteles Barcelos Neto (998) Fro. 9, — Ey Aunt, apapaata onat (x roupa »-monstro) ‘Autor: Kamo Wavja “Teeaiea crayons canson, Dimenstics 30% 50 cm (Colepdo Avattales Barco Neto (1998) Fic. 10. Talat kx, apapaatd ona roups » pine sarincte monstic) ‘Autor: Kamo Wasa ‘Tenica : ersyon sf canson. Dimens6is 25 x 30em TSE lapnetaltna: arson comeiintpeaat 154 JOURNAL DE LA SOCIETE DES AMERICANISTES [89,2001 visivel, ordindrio € comum, correspondendo aos artefatos, plantas ¢ animais pal- piveis, aos quais os Wauja identificam de acordo com seus hibitats fixos ¢ compor- tamentos alimentares previsiveis. Em linhas geras, trata-se de um sistema em que} coisa ou ser possui um « duplo » co-extensivo de natureza monstruosa. Tais monstros siio dotados de extrema inteligéncia, de pontos de vista préprios e de uma sensibili- dade artistica especial, revelando-se perigosos, maliciosos e crativos, sendo a maioria feiticeitos e, alguns, antropofasos. Sdo estes os seres que deflagram a vinganga pela predagio humana de um ser mona, langando feitos ou roubando e devorando as almas humanas Os yerupoho, em fungio de sua impressionante ambigiidade « gente-animal » ou « gente-artefato » e das suas possibilidades transformativas, constituem a mats complexa dessas categorias de seres, Como os yerupolo apresentam as duas naturezas, {yeu ¢ kuma (ha inclusive varios deles conhecidos como fyau kumd e Iyau kumalu, ow seja, homem-monstro ¢ mulher-monstro respectivamente), os Wauja os pereebem simultaneamente como « gente » ¢ monstro, O casal de panelas-monstro da Figura | silo yerupoho canibais, suas relagdes de identidade corporal voltam-se tanto para o corpo humano quanto para as enormes panelas de ceramica produzidas pelos Wauja observe os seus t6rax arredondados € as suas peles escuras como a fuligem, caracteristicas corporais préprias das panelas. Ja o homem-ri da Figura 3 mantém relagies de identidade com us ris (Figura 4) que nadam nas lagoas onde os Wauja pescam, A natureza transformacional dos seres extra-humanos baseia-se na nogao de « roupa » (nai) que pressupde que seres « sobrenaturais antropomorfos » (0s yer ;poho) podem se « vestir» com formas de animais, plantas, artelatos domésticos, instrumentos musicais ¢ fendmenos naturais. Ou seja, a « roupa » & uma exterio ridade animal ou monstro que recobre uma interioridade antropomoria ou zo0an- tropomorfa, conhecida como yerupoho. A « roupa » & a obra de arte da transfor mago, uma forma exterior singular e eriativamente elaborada pelas alteridades extra-humanas para estabelecerem diferentes identidades. Ressulto que as « roupas » nio sto corpos (omonapitsi). Apenas 0s yerupoho, 0s humanos e 0s apapaatat iyajo sio eorpos, todos os outros Sere, inclusive os mais pequeninos insetos, sio « rou pas» A versatilidade na fabricagio destes seres & imensa: eles podem ser eriados aos milhares, ¢ cada um deles pode apresentar diferentes motivos grificos e formas Dentre as matérias-primas mais importantes de uma « roupa » esto os motivos grificos « geométricos » eas cores que.a singularizam, tal qual numa estampa de tevido desenhada por encomenda a um estlista. Para os Wauja, muitas « roupas » tm requintes de perfeigdo formal que se tornam objetos de especial interesseestético e ritual. As aves e depois as cobras sio tidas como as mais belas criagdes nesse sen= tido. través das « roupas >, alguns yerupoho podem mudar, dependendo de suas intengGes, de peixe para ave, de inseto para réptil, de mamifero para anfibio, de raposa para cobra, ete, apontando para um fluxo aparentemente infindével de transforma {ges no cosmo wauja (conforme quadro abaixo). da Barclos Neto, A] UNIVERSO VISUAL DOS XAMAS WAUJA 155 Transformagées gerais dos sere extra-humanos yerupoho « s ‘apapaatal Kuma <> <> «49 & objetoseseres mona rosie abe ounce ‘elas de sca vi e« dono» dese cpr abla casi Na ontologia wauja, as relagées entre os seres extra-humanos apresentam-se como uma triade, que liga 0 yerupoho (0 ser antropomorfo que se transforma em apapaatai), © proprio apapaaiai(a « roupa » vestida pelo yerupoho na transformagao) o animal, planta, fendmeno natural ou artefato (que confere ou inspira a forma corpérea do apapaatai). Esta, porém, ¢ uma relagao existente aper seus « donos (0 indistinta, que envolva toda © qualquer « espécie ». Existe uma triade, por exemplo, entre a ri (ser mona, Figura 4) as ris-monstro apapaatai ivajo e onar (seres kumd, Figuras 5 ¢ 9 respectivamente) ¢ Hi-gente (yerupoho, ser antropomorfo, também kumd, Figura 3); as trés dltimas sendo as « donas » da ra. E importante esclarecer que os trés tipos de seres mencio: nados so percebidos como co-extensivos porque compartilharam uma mesma alma ‘paapitsi) as entre uma dada « espécie » ¢ Relagao tribdica entre os sresextra-humanos baseada no prinicio deco-extensdo ontolgica 156 JOURNAL DE LA SociéTi DES AMERICANISTES (87,2001 © principio de intersogio da substincia vital implica que a periculosidade dos «sobrenaturais » também esti implicita e potencialmente presente na dimensio ‘ordindria e visivel (mona) dos seres. Tal prinpio complementa a idéia das transfor- ‘mages, a qual esta diretamente associada a fronteira virtual entre 05 seres mona ¢ uma ¢ sua ambigiidade continuidade. As diferengas entre animais ¢ monstros seriam, portanto, muito mais de grau do que de natureza Conctusio Procurei ao longo do artigo mostrar que a experiéneia visual, ao produzir dese- thos ou niio, tem um valor reflexivo sobre alteridade. Muito do que se pode aprender sobre a cosmologia wauja reside no proprio prazer e interesse wauja em organizar visualmente o seu mundo numa série de informagdes que s6 podem ser claramente acessados através das imagens. Nao digo isso apenas em relagao aos desenos figura tivos (potalapitsi) que coletei, mas a todo 0 conjunto da cultura material e dos motivos graficos « geométricos ». ‘As imagens indieam como os humanos pensam o seu lugar no mundo € como devem ser as suas relagdes com as alteridades extra-humanas, Pura estes seres, cheios de desejo por carnc e almas humanas, os Wauja nao passam, do ponto de vista dessas ‘mesmas alteridades, de uma expresstio ontoldgica frigil, embora interessante ¢ atruente, Na vastidio dos espagos do cosmo wauja, tudo 0 que nao é moral ¢ fisicamente proximo da nogao wauja de humanidade ideal constitui um inimigo potencial, podendo vira conspirar contra os préprios Wauja. Do nascimento.a morte, estes indios concebem suas vidas estreitamente ligadas aquilo que os afrontam e [hes causim medo : 0s apapaatai e yerupoho. Em torno das relages com as alteridades extra-humanas, surgem estruturas politicas ¢rituais que amalgamam as relagdes de reciprocidade entre os Wauja através da redistribuigdo de comida e de servigos rituais (construgao de casas, plantio de rogas € produgio de artefatos de uso doméstico). Ao que tudo indica, 0 circuito simbolico dssas estruturas parece emergir do complexo da doenca, ‘A pertinéneia politica do xamanismo nio se revela apenas no tio referido jogo faccional e no fiuxo de reciprocidade negativa que se objetivam na adivinhagao das ccausas das doengas, em acusagdes de « feitigaria », no medo a estas € em atos defensivos de carter magico-simbélico, que configuram uma permanente guerra simbélica interna fis aldeias e entre as aldeias, Pois 0 xamanismo xinguano, além de poderoso « oriculo policial » (Menezes Bastos 1995), que funciona no ambito das acusagies de « feitigaria », & um instrumento de negociacao das almas e de mediag do confiito com as alteridades «sobrenaturais ». A doenga cm estado grave manifesta-se sempre através do roubo da alma do doente por um apapaatai. © papel do xama wauja 6 resgati-la e reintroduzi-la no corpo do doente, evitando assim sua morte em conseqineia da perda definitiva da alma. O resgate da alma do doente & negociado féted féte com o apapaatai que a roubou, nese momento o xara assume o papel de um diplomata que promete, em nome do doente, festa ecomida ao apapaata. ‘Seguindo essas observagdes, sugiro, como hipétese, que os xamas so os renova- dores, em primeira instancia, do contrato césmico, 0 qual pressupde, entre outras colons. estabelecknentiite ina relaiiileneanenlilnsitiva ontrene diferentes Baroelos Nevo, A] © UNIVERSO VISUAL. DOS XAMAS WAUJA 157 realidades ontolégicas (homens ¢ monstros). Ainda no ambito do contrato césmico, arrisco a hipétese de que um dos seus aspectos fundamentais € evitar que seres humanos sejam metafisicamente transformados em apapaatai. Estaria entio sob 0 poder do xama manter cada realidade ontol6gica em seu lugar. Ao negociar o retorno das almas humanas roubadas, o xama evitaria a permanéncia definitiva das almas nos mundos dos monstros e sua « ressocializago » entre estes tltimos. ‘Tomando a evidéncia das relagdes de reciprocidade forgada entre os Wauja e as alteridades monstruosas, sugiro ainda a hipdtese de que a politica césmica (of. Viveiros de Castro 1996) wauja estaria todo o tempo operando no sentido da conversio dos dominios associais, utilizando-se de dispositivos como a arte a oferta de comida, objetivadas nas festas de apapaatai. Por outro lado, a propria festa se converteria em acumulacao de « prestigio ritual » para o doente e para o xamé que respectivamente a patrocinou ¢ organizou. O referido « prestigio » parece advir da disposigdo do doente (sempre auxiliado por sua parentela consangiiinea e/ ou co-residentes) e do xama (sempre auxiliado pelo apapaatai que originalmente o adocceu) em controlar o associal (caracterizado pelas manifestages do poder malé- fico das alteridades « sobrenaturais »), evitando o desequilibrio entre as duas realida des ontolgicas. Seguindo esse raciocinio, as festas de apapaaiai seriam © momento final e supremo da superagio de uma situagdo liminar (a doenga) em que um ente wauja (humano) esteve prestes a se transformar metafisicamente num outro (mons- tro). Nesse sentido, as festas de apapaatai apontam para um jogo simbélico de reelaboragiio / reprodugao da identidade ¢ da alteridade entre 0s Wauja, jogo este caracterizado como uma experiéncia eminentemente artistic, * Manusert regu en javier 200, asepté pour publication en mats 201, NOTAS Asradecimentos Agradeco & FAPESP, i CAPES, ao FUNPESQUISA / UFSC, ao CADCT/ Governo do Estado da Bahiae-ao Museu Nacional de Finologi os apoos inaneveos concedes pars eliza dos trabaloe de campo ¢ das anilises dos dados. Sou tami grata aos Watja, especialmente aoe meus informantes- desenhistas Kamo, Tsautaku, Aulaho, Ajoukumi e Arua, Pedro Agostinho dh Silva, Maria Rosi Carvalho, Ana Matia Gantois Vora Penteado Coelho, Rafaci de Menezes Bastos, Lux Vidal, Bruna Francheto, Carlos Fausto, Michael Heckenberger © Joaguim Pais de Brito contriulram com valiosos ‘comentarios © incetivos minha pesquisa entre ox Wana 1. Felon Conta (1988), Gbhar-Sayer (1985 ¢ 1986), Gow (1988 1999, Guss (1989), Lagiou (1999), ‘Langdon & Bact, orgs. (1992), Luna & Amaringo (1991), Ribeiro (1986), Veihem (1995), Vidal, og (1992), dodger sacontrar na itratura gunna o emo «Ward», que tno didi dead von on Stcinen (1885 1894). Opte por grfar« Wasa» por este sr exatamente oetnGnimia autoetibuid, 3. Dados cnstirios de ootubro de 2000. 4. Oleitor encontrar nas monogra(as de Manz (1971), Viveiros de Castro (1977), Gregor (1982) 205, artgosde Dok (1968), Comeiro (197), Menezes Bastos (1984-1985) e Coelho (1988) descrgheseaniises de ‘ierentes expects 40 amano xiasuano, SDRC cee eae Ree ta 158 JOURNAL DE LA SOcrETE DES AMRICANISTES [87,2001 6, Osyakapé ormam uma comnidae«panvinguan », endo spaentemente sa capital» alia tamayurdepaace qual refer ples Watjucome um ar de aprendizadoe de xamisde ants poder fue Ger eure fain «interes para alem das rontras do mundo inguan (Mens Boston Toes © 199, 7, Sobre a questo das rela entra tain ofasionsim polio wai vide Irlnd (1986, 1988 £1983) 3. Pu Pate n irore wade parse fever umnsrumentomascl de perce honimo(«rca0 » em ports), Oinsttumentoem si considrado um apt eresnca de alguns outros Assimcom Stiuas wot Put Puen caval de prot ial or parte ds mulheres Aime feta de Pu Prana lca waa fo rezada em 1987. A nica deseo trae de« um grande encode ore completamente oon aberionaretreniade etn pouco mais den metro de me xendendoae Site o compimento da cs (ds omen), Este tonsa apesntan ands Sxenhox virion Ma Mars omar por tian parte extern (Lima 190, 9.7) 30s nome ds srs ctthumanosreconecon por appt € yer apatesm em milo nquant © dor anima ¢ rifaton rn minal, or eremplo' Kula referee 20 papal (0 Spinto» cla av pinged po aime Kewolde Kove, epectvaments 0 apa ofan Th Spo ase argo no prin deserts pnt ds erplotna doen, De tm mid ger a doe ow i 0 stag dem appa) € degrade pela gc Se fbn Eimear ste lors © quando a pon lem whut noo que pode fr aprninedamet tredurs pls nde atforo do'un dco tlimester ¢ plo cxonsmano ou rcun de slmenarae regulate Efi, o qu dag a docs so a negigincs sce propa ou sobre okey Ii Ente o Sanumi,espito«sobrenatuis» apc o coro do xan pra ver seu pie conser uma oeudocorpoaliddsCeyor 19pm tS) A es de qe eres ext humanor eae Genin do corpo do samt ¢ um aseto fundamental nos samanimos sna (Taylor 196) « wal, Spontando yar as sos naturrs tanya ea mesmo tengo suis (Veer de Casto 97 2326 196, pp. 17-120), 2 cma pelos Wa 7 poral (alii de get oi i ta por humane o aa se ifr de appar maa (Beha de egos «sbnenstr ). Ta, A fumanaade fi eats» pat de ptags dep, ese oraram vinx apn pnt, x deturagio « a mss executes plo dering Ax verti sompetar Jo mio. ocgem wae tncontimseem Sct (1985¢ Mello (1999) verses kamayurcn Vil Bow & Vill Bows (7D) ‘owt 979). a ‘As consideragies Mehinako (Gregor 1982, pp. 316-320) ¢ Yawalapiti (Viveiros de Castro 1977, 1m 22529) resp dese gusto sponta sata correspondena com oq pd obser ce eins REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Acosriso, Pedro, 1974. — Kwarip. Mito e ritual no Alto Xingu, EPU EDUSP, Sao Paulo Bancetos Nero, Aristteles, 1999. — Arte, estética e cosmologia entre as indios Weurd: da Amazénia Meridional, Dissertagio de Mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianépolis ‘Cannio, Robert, 1977. — « Recent Observations on Shamanism and Witcheraft among the Kuikuro Indians of Central Brazil » Annals of the New York Academy of Sciences, 293, Nova York, pp. 215-228. 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