São os homens realmente de Marte e as mulheres de Vênus, tão
diferentes como se fossem de planetas distintos? Em testes de personalidade, alguns estereótipos de homens de Marte e mulheres de Vênus sempre aparecem. Em média, a mulher é mais cooperativa, cautelosa e receptiva às emoções. Já os homens são mais competitivos, assertivos, descuidados e emocionalmente mais frios.
A questão é saber por que existem diferenças entre os gêneros, isto é,
qual a sua origem. Alguns psicólogos, da escola evolucionista, vêem os traços de gênero como produto da nossa seleção natural, ligados à nossa evolução como seres humanos. Neste sentido, os traços que definem o gênero masculino e feminino seriam universais.
Outras escolas da psicologia acreditam que as diferenças de gênero são
socialmente construídas, isto é, são moldadas pelos papéis sociais que a sociedade tradicionalmente incumbe ao homem e a mulher. Dentro dessa visão, as diferenças de personalidade entre os dois gêneros podem diminuir ou até mesmo desaparecer dependendo da sociedade em que homens e mulheres estiverem inseridos.
Para saber qual hipótese estaria correta, Dr. David P. Schmitt, um
professor da Universidade de Bradley, no estado americano de Illinois, preparou uma pesquisa gigantesca. Ele fundou uma associação internacional cujo objetivo é estudar a relação entre gêneros e personalidades em diferentes sociedades do mundo. Mais de 100 psicólogos trabalham simultaneamente em mais de 60 países. Os resultados são, no mínimo, interessantes. Uma das conclusões é que a diferença de gênero em termos de personalidade varia entre culturas diferentes. Uma má notícia para os psicólogos evolucionistas, já que a universalidade é então questionada.
Os psicólogos que enfatizam a força dos papéis sociais na formação da
personalidade feminina e masculina não devem comemorar vitória ainda. É que as pesquisas coordenadas por Dr. Schmitt também revelam que em culturas mais tradicionais, como na Índia e em Zimbabwe, as diferenças de personalidade entre os dois gêneros são menores. Esta descoberta parece indicar que quanto mais direitos iguais e trabalhos semelhantes as mulheres e homens têm, mais divergentes suas personalidades parecem ser.
Nesta pesquisa foram coletados dados de 40.000 homens e mulheres em
diferentes partes do mundo. Dr. Schmitt e sua equipe concluíram que esta tendência é real.
Sua pesquisa revelou que as mudanças de personalidade entre diferentes
sociedades ocorrem mais nos homens do que nas mulheres. Os homens, por exemplo, são mais cautelosos, menos autoritários e competitivos em sociedades mais tradicionais de base agricultural e em países pobres. Em sociedades modernas, como a americana, os homens são muito mais autoritários e competitivos.
A pesquisa de Dr. Schmitt parece sugerir que a medida que a sociedade
elimina a barreira entre os sexos, tornando homens e mulheres iguais, a distância entre as personalidades masculina e feminina se ampliam. Neste sentido, nenhuma das hipóteses mencionadas no começo deste artigo resolvem o dilema da diferença de personalidade em termos de gênero. E se esta for realmente uma tendência universal, no futuro, o entendimento entre os dois sexos pode ainda ficar mais complicado. Talvez como se fôssemos de planetas diferentes? Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers College Columbia University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2009, October 23). Diferenças de Gênero. Clarim, Ano 14, n. 691, p. A2.