Embora as pessoas celebrem as festas de fim de ano cada um a sua
maneira, existe uma coisa em comum que todos fazem: a troca de presentes! Nesta época de festas, a cultura de dar e receber presentes é sempre cercada de certa controvérsia pois alguns vêem apenas um ato puramente comercial e nada mais. Se o natal em nosso mundo moderno têm tido uma característica materialista, por que insistimos todos os anos em fazer uma lista de pessoas que queremos presentear?
Para alguns, comprar presentes de natal é um ato consumista. Distante
do verdadeiro espírito natalino, somos conduzidos pela mídia, e não pelo espírito genuíno do natal. Embora tenham certa razão, a troca de presentes não é um ato exclusivo do mundo moderno consumista. Na verdade, faz parte da evolução humana. Do sacríficio humano como presente para os deuses ao bônus de fim de ano para funcionários de empresas, dar e receber presentes sempre fez parte das diferentes culturas. É até mesmo provável que tenha ajudado na evolução humana. A troca de comida e a prática de compartilhar a caça, por exemplo, podem ser vistos como um ato para reduzir as possibilidades de falta de alimento mantendo as comunidades mais unidas e mais fortes.
Ao darmos presentes, fazemos um ato de comunicação. É uma
expressão de interação humano e uma maneira de atar os laços entre familiares e amigos. Ao fazermos a lista das pessoas que vamos presentear, fazemos uma lista das pessoas que mais apreciamos. Aqueles que deixamos de fora, são de alguma forma menos importantes. Dar presentes demonstra que nos importamos com a pessoa e que queremos preservar a sua amizade.
O gesto de dar presentes tem um efeito para aquele que dá o presente:
reenforça os sentimentos em relação a outra pessoa e traz uma sensação de prazer ao ver a outra pessoa feliz. Enviamos uma mensagem clara: ‘Ei, eu me importo com você!’. Para aqueles que preferem nao trocar presentes no natal, eles podem estar perdendo uma oportunidade de receber e demonstrar afeição.
O ato de dar e receber presentes tem gerado pesquisas acadêmicas.
Algumas destas pesquisas demonstram que é possível existir um fator de gênero envolvido: os homens em geral são mais práticos na hora de escolher o presente e mais conscientes do preço, enquanto as mulheres se precocupam mais com o significado emocional (University of California Davis). Soa familiar?
Pesquisadores da Loyola University Chicago fizeram uma pesquisa
interessante com crianças de 3 e 4 anos. Elas tinham que ir a uma festa de aniversário. As meninas ajudaram as mães a escolher e a embrulhar os presentes, enquanto que os meninos pareciam nem se importar, e alguns até dormiram. Esta pesquisa demonstra que, pelo menos para esse grupo de crianças, meninas e meninos reagem de forma diferente em relação a idéia de presentes.
Embora as pesquisas sobre a cultura de dar presentes enfoquem áreas
diferentes (a antropologia, a psicologia, o campo do gênero, por exemplo), dar presentes é sempre percebido como uma forma de mensagem, tanto para quem dá, quanto para aquele que recebe. Quando reunimos a família para o natal e trocamos presentes, alguma coisa mais acontece do que um simples ato materialista consumista. Nós comunicamos nosso afeto e realizamos um ato de aproximação. E não é isso o espírito natalino?
Denise Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers College
Columbia University (Nova York) e professora de português como língua
estrangeira. Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2009, December 18). Para mim? Não precisava. Clarim, Ano 14, n. 699, p. A2.