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g. Es O ineio terrestre 91 Introducéio O solo pode ser estudado por suas caracteristicas fisicas, quimicas e biolégicas, com o objetivo de conhecermos suas propriedades e utilizé-lo no atendimento das necessidades humanas sem degradar 0 ambiente, Inicialmente, os homens némades percebiam o solo apenas como um suporte para si, para seus deslocamentos ¢ para a flora e a fauna de que eles desfrutavam. Com 0 passar do tempo, o solo passou a ser essencial para semear e obter a germinacao e 0 desenvolvimento de alimento, surgindo, assim, a agri- cultura primitivae itinerante, A melhoria advinda da capacidade de extrair seu sustento da terra cultivada somaram-se outras vantagens para a fixacdo do homem em um local, (© us0 do solo cultivado pelo homem sedentério foi se expandindo como crescimento populacional © 0 progressivo dominio da energia (fogo, queimada, utenstlios para manejo do solo pelo homem e por animais domesticados), criando condic6es para romper equilfbrios ecolégicos mais que milenares. Em conseqiéncia, a fertilidade e a produtividade naturais dos solos foram reduzindo-se. Enquanto a alterna- tiva do deslocamento para outras terras foi possivel, a sobrevivéncia foi assegurada. Entretanto, no caso de grandes civilizagdes que dependiam das facilidades e caracteristicas locais (abrigo, edificagoes, vias, equipamentos pablicos etc.) para viver e que eram de reproducdo mais dificil ou impossivel, essa perda de fertlidade e produtividade foi fatal. Em sua esteira, muitos povos e culturas sumiram sem deixar vestigios. Outros tantos deixaram apenas a meméria de suas culturas e a certeza, cada vez mais evidente, de que seu desaparecimento retardou 0 progresso social, tecnolégico e econémico da humanidade. \ Desde entZo, a humanidade vem se preocupando em conhecer novas maneiras de preservar o sold, como fonte de seu sustento, formando tanto a cultura oral e familiar como a que vem sendo consolidada’ € sistematizada de maneira cientifica por toda a sociedade. Mais recentemente, a explosio demogrética @ produtiva que a Revolucdo Industrial deflagrou mudou a escala do problema. De um problema local, limitado aquelas dreas de solo em répido processo de degradacdo, perda de fertiidade e subseqiiente desertificagao, transformou-se em problema de interesse de toda a humanidade, 4 medida que a inter dependéncia econémica e social dos povos tomnou a fome uma calamidade que afeta a todos, deixando claro que o bem-estar e a qualidade de vida da humanidade dependem da preservacao do equilfbrio dos ecossistemas na Terra. ‘Arica Mesopotamia de 6 mil anos atras se transformou, em boa parte, em areas desérticas em razio da exploragio imprépria de seus solos e da irigagdo tecnicamente deficiente, que levou a sua salinizagao. Estimativas das NagGes Unidas indicam uma perda anual de 26 bilhdes de délares norte-americanos em decorréncia da diminui¢ao da produtividade agricola por desertficacaio em nosso planeta. E sob a perspectiva de componente de um ecossistema e de um problema de amplo interesse que devem ser entendidos os conceitos e as propriedades do solo aqui apresentados, muitos dos quais rela- tados em outras disciplinas de cursos técicos e superiores, em atendimento a objetivos mais especificos e imediatos. € ainda sob esse enfoque ecolégico que o meio terrestre deve ser compreendido em face do desafio ambiental. 9.2 Conceito, composicéo e formacéo dos solos Conceito de solo © conceito de solo pode ser diferente de acordo com o objetivo mais imediato de sua utlizacao. Para o agricultor e o agrénomo, esse conceito destacara suas caractersticas de suporte da producao agri- cola Para engenheir civil o solo € importante por sua capacidade de suportarcargas ou dese trans- formar em material de construsao. Para o engenheiro de minas, solo & importante come jords vive Cu como 0 material soto que cobree dficulta a exploracao dessa jazida, Para o economists, sola any {ator de produgio.J8 0 ecologista v8 o solo como 0 componente da biosfera no qual se dao os processos de producao e decomposi¢ao que reciclam a matéria, mantendo o ecossisteme em equilibrio. De um modo geral, 0 solo pode ser conceituado como um manto superficial formado por rocha dlesagregada e, eventualmente,cinzas vulcanicas, em mistura com matéria organica erm decomposicio, Contendo, ainda, 4gua e ar em proporgdes varidveis e organismos vivos Composigio do solo A proporsio de cada um dos componentes pode variar de um solo Para outro. Mesmo em um solo. de determinado local, as proporgées de agua e ar variam sazonalmente, com os perfodos de maior ou ‘menor precipitago. Em termos médios de ordem de grandeza, os ‘componentes podem ser encontrados 1a seguinte proporcao: + 45% de elementos minerais * 25% de ar + 25% de dgua 5% de matéria organica A matéria s6lida mineral €, preponderantemente, proveniente de rochas desagregades no proprio local ou em locais dstantes, razidas pela agua e pelo ar. A desagregacdo das rochas we da or aces fisi- 2s, quimicas e, em menor propor¢ao, biol6gicas, as quais constituem o que se denomina de intemperis- ‘mo. Em proporgées relativamente pequenas na escala de tempo geologica, essa parte solida pode provir de cinzas vulcanicas. As principals ages fsicas que provocam a desagregacSo do solo sio a erosdo pela égua e pelo ven- ip tatiagées bruscas de temperatura, com formagao de tensdes esiduais nas rochas, eo congelamento de gua em fissuras, com ago de cunha decortente da sua dilatagdo entre 4°C O°C ete, Ae ages quimicas mals comuns ocorrem sobre as rochas calcérias atacadas pelas 4guas que contenham gas carbonico die, solvido e, em sitvages especificas de poluigdo atmosférica, que contenham também outros fone acidos (chuvas écidas). A parte liquida 6 fundamentalmente consttuida por gua proveniente de precipitagbes, tis como: chuvas,sereno, neblina, orvalho e degelo de neve e geleras, que contenham em solucdo (destacandorce pela importancia a coloidal) substincias originalmente presentes nas fases sida e 8808a. A parte gasosa € Proveniente do ar existente na superficie e, em proporcdes varidvels, dos gases da biodegradacio de ‘matéria organica nos quais predomina o dibxido de carbono (biodegradaco aer6bia) © outtos eamna o metano (biodegradago anaerdbia). A parte organica & proveniente da queda de folhas, rutos, galhos e ramos, além de restos de animais, exctementos e outros residuos, em diferentes estégios de decomposicao, em fase sélida ou liquida. € da biodegradacao dessa matéria organica que resulta o hiimus do solo, respon- savel, em boa parte, pelas suas caracteristicas agricolas (produgao priméria) e varias de suas, ropriedades fisicas. fm termos de produco priméra, porém, mais importante do que a proporgio dos componentes & a maneira pela qual os elementos minerais e organicos apresentamse diluidos na 4gua, Por exemplo, a parcela que constitui as solugées coloidas tem, como destacaremos adiante, papel fundamental, tants ara a coesio e resisténcia a erosdo quanto para a frtlidade do solo (retengo de nutrients) e para outras Propriedades relativas produtividade dos solos. A formagéo do solo — Horizontes de um solo Como parte integrante de um ecossisterna, € possivel, em uma escala de tempo geolégico, identifi. car em um solo o que se denomina de ‘sucesso’, ou seja, 0 conjunto de estagios de equilforio pelos quais passa esse ecossistema até atingir o ‘climax’. a res ygenfariecmmbienna rr A formacao dos solos € resultante da a¢ao combinada de cinco fatores: clima (pluviosidade, umi- dade, temperatura etc.), natureza dos organismos (vegetagao, microorganismos decompositores, animais), material de origem, relevo e idade. Na sua atuacao, os quatro primeiros fatores imprimem, ao longo do tempo (idade), caracteristicas que definem os estigios de sucessdo por meio de sua profundidade, composico e propriedades e do que se denomina ‘horizontes do solo’. A Figura 9.1 esquematiza a forma pela qual ocorre esse processo. Para determinadas condigées de relevo, organismos presentes e material de origem, o intemperismo aumenta continuamente a profundidade do solo a velocidades crescentes com a pluviosidade, a umidade e a tem- peratura. No solo formado a superiicie, comecam a se estabelecer os vegetais e os microorganismos. A lixiviacao (transporte por meio da 4gua que infiltra e percola no solo) faz a translocacao das fracoes mais finas do solo (argilas, especialmente) e a remogao de sais minerais. As fragdes mais grossas (arenosas) per- manecem na parte superior. Em consequéncia, formam-se estratos com aparéncia diferente, constituindo 0s horizontes. Formagéo de um solo |e diferenciagdo de horizontes. Taree ’ f Rocha ‘Solo joven ] ‘Solo raso ‘Solo maduro_ | reehmexposta titossol) lcambiseolo (bodes) Esses horizontes podem ser identificados por letras, de acordo com suas caracterfsticas. Em um perfil hipotético, eles podem se apresentar como os da Figura 9.2. Na realidade, nem sempre todos estéo presentes e sdo facilmente identificiveis. Quando 0 solo atinge seu climax, é que esses horizontes se apre- sentam de forma mais evidente e sao identificéveis em maior niimero. O estigio de formacao do solo tem implicacdes bastante diversas e marcantes, por exemplo, sobre a ciclo hidrolégico e sobre o regime dos cursos de égua em uma regido. Nas regies dridas, em que o intemperismo & menos intenso, os solos tendem a ser menos profun- dos. Quando ocorre uma precipitacao sobre um desses solos, os poros so rapidamente preenchidos por Agua (ele ‘tem seus poros saturados de agua’) e o escoamento na superficie passa a ser o tinico caminho das Sguas precipitadas. Como 0 escoamento € rapido, as aguas logo se acumulam em grandes volumes 1nos fundos dos vales, provocando as grandes enchentes (e/ou inundag6es). Cessada a chuva, 0 curso de ‘gua passa a ser alimentado apenas pela 4gua acumulada nos poros do solo. Como 0 volume de poros pequeno (solo pouco profundol, apés algum tempo de estiagem, essa agua se esgota € 0 rio deixa de correr, tornando-se intermizente. pinks — Omen ‘127 “| FIGURA 9.2 | Hovizontes de um perf portico de solo 01- Restos vegetas identificéveis 02: Restos vegetais néo identificbveis ‘At: Mistura de material orgénico @ mineral ‘A2- Horizonte de mxima perda por eluviagéo de argilas, ferro ou aluminio ‘AS: Transigéo mais parecide com ‘A’ que com “B* B1- Transigéo mais parecida com “B" que com "A" 82. Méxima concentragéo de argilatranslocada do “A” 183. Transigdo mais parecida com “B" que com "A" C- Material inconsolidedo, pouco afetado pelos orger mas que pode estar bem intemperizado 01- Rocha consolidada ‘Amesma precipitacio, caindo sobre um solo profundo, podera nao causar a enchente (e/ou inunda- es) ser suficiente para manter a alimentacao do curso de Sgua durante todo o periodo de estiagem em razio do maior volume de égua acumulado nos poros desse solo. Nesse caso, o curso de agua é perene. ‘Observamos que 0s poros do solo so um grande reservatério de gua doce, capazes de assegurar rmuitas vezes sua disponibifidade, mesmo durante longos periodos de estiagem. Por outro lado, a auséncia desse reservatério nas regides dridas de solos rasos agrava a escassez de Agua nas estiagens, sendo, ainda, tuma das causas das grandes amplitudes do regime hidrico: grandes secas podem ser sucedidas por grandes enchentes e inundagoes. Outra implicago importante das caracteristicas dos horizontes do solo é de natureza agricola. O manejo dos solos e, em particular, a aracdo devem levar os horizontes em conta sob pena de reduzir ou eliminar 0 potencial de producao priméria. Na literatura técnica e de fico so conhecidos e registrados muitos exemplos de solos que se tommaram estéreis por uma pritica de manejo imprépria. Em as Vinhas a Ira, por exemplo, John Steinbeck relata o progressivo empobrecimento das populagées de emigrantes da Europa Setentrional quando assentados no Meio-Oeste norte-americano. De suas regides de origem, essas populagbes trouxeram a pratica da aragao profunda em solos de horizontes espessos. Trazida para 0s Estados Unidos, essa pritica passou a acelerar a desertificacao em virtude do revolvimento e do aflora- mento de horizontes de solo sem fertilidade e sem capacidade de resistir 4 erosdo. O resultado foi o em- pobrecimento progressivo e o surgimento das cidades abandonadas, acoitadas pelas tempestades de areia provocadas pela erosdo eélica atuante sobre um novo horizonte de solo sem coesio e sem fertlidade. Outro exemplo € relatado por Monteiro Lobato em Cidades Mortas, em que a agricultura cafeeira em um solo frégil como 0 do Vale do Parafba, desnudado de sua mata primitiva, permitiu a remo¢o, por ‘erosio hidrica, dos horizontes superficiais que Ihe asseguravam fentlidade e coesio equilibradas. ‘Mais recentemente, na exploracdo do territério amaz6nico, foram os engenheiros civis rodovidrios que tiveram de aprender com os insucessos. A terraplenagem profunda removia a Unica camada protetora do solo —a laterita —, abrindo caminho para uma erosdo incontrolavel das vias implantadas. Essa cama- da, criada pela natureza ao longo de milénios, obrigou os profissionais a repensar e a reformular métodos construtivos trazidos de regides com solos de formacao diferente do amaz6nico. Por fim, é importante destacar alguns aspectos que diferenciam os solos de regides climaticas distin- tas. Os climas equatoriais e tropicais, por causa da temperatura, umidade e pluviosidade que os caracteri- zam, favorecem nao s6 0 intemperismo acelerado (e os solos mais profundos e mais ‘velhos’), mas também intensificam a fotossintese. Em comparacao com as reas de maior latitude e clima temperado, as regides equatoriais tém uma densidade total de matéria organica similar. A diferenga reside na sua distribuicao, pois, enquanto nas regides equatoriais a vegetacao luxuriante contém boa parte da matéria orginica, nas temperadas, grande parte da matéria organica esta no solo. Consequentemente, é mais provvel que os horizontes organicos (horizonte A) sejam mais espessos em climas temperados. €, portanto, diverso 0 impacto ecol6gico da remogo da cobertura vegetal nativa lem uma regido tropical e em uma regio temperada. No caso da primeira, o empobrecimento decorrente da exportago da matéria organica na forma de vegetacao € bem maior. Essa dltima concluséo obriga a repensar e a aculturar procedimentos agricolas e extrativos vegetais de outras procedéncias para serem aplicados, por exemplo, nas novas fronteiras agricolas equatoriais e tropicais Gmidas que vém se abrindo ‘em nosso pats. 93 Caracteristicas ecologicamente importantes dos solos Ha certas caracteristicas do solo que podem ser vistas a olho nu ou facilmente percebidas pelo tato que sio freqientemente utilizadas para a descricdo de sua aparéncia no ambiente natural. Dentre as prin- cipais dessas caracteristicas, estao cor, textura (ou granulometria), estrutura, consisténcia e espessura dos horizontes (essa tltima ja referida anteriormente). Além delas séo também importantes, do ponto de vista ecol6gico, o grau de acidez, a composicao e a capacidade de troca de fons. ‘A cor, como caracteristica mais prontamente perceptivel, é, em muitos casos, utilizada popularmen- te-e mesmo em classificagées cientificas, como veremos adiante, para denominar e identificar os solos, sendo a ‘terra roxa’e a ‘terra preta’ os dois exemplos mais conhecidos. Em termos técnicos, a cor é descrita por comparacao com escalas padronizadas. Porém, mesmo sem recorter a procedimentos padronizados, por simples inspecdo é possivel as- sociar algumas propriedades do solo & sua coloraco. Os solos escuros, tendendo para 0 marrom, por exemplo, quase sempre podem ser associados & presenca de matéria organi¢a em decomposicio em teor elevado; a cor vermelha é indicativa da presenca de Oxidos de ferro e de solos bem drenados; as tonali dades acinzentadas, mais comumente encontradas junto as baixadas, s20 indicio de solos frequentemente encharcados. A textura ou granulometria descreve a proporcao de particulas de dimensdes distintas componentes do solo. Um exame mais lento de um solo mostra que ele é constituido de particulas de tamanhos diver. 05, freqiientemente agrupadas na forma de torrdes ou grumos. Tecnicamente, podemos quantificar a granulometria, passando 0 solo por um conjunto padronizado de peneiras com malhas de diferentes dimensOes e determinando o peso das parcelas retidas em cada uma delas. Esses pesos parciais, acumulados em porcentagens do total, séo apresentados na forma de curvas granulométricas, como mostra a Figura 9.3. A textura ou granulometria é a base de classificagao mais conhecida dos solos (areia, argila etc, como veremos mais adiante, e explica, também, algumas das prin- cipais propriedades fisicas e quimicas dos solos. Assim, por exemplo, a drenabilidade, a permeabilidade e a aeraco de um solo serdo mais acentuadas se as dimensdes das particulas que 0 formam forem maiores, J4 08 solos com particulas menores favorecem a resisténcia a erosdo, a retengdo de agua e de nutrientes, pelas propriedades coloidais que Ihes estdo associadas. ‘A estrutura 6 0 modo pelo qual as particulas do solo se arranjam em agregados ou torrdes. Produtos, da decomposi¢3o de matéria organica, juntamente com alguns componentes minerais, como 0 éxido de ferro e fracbes argilosas, promovem a agregacao das particulas. A presenga de umidade e ressecamento, com conseqiiente inchamento e encolhimento, acaba por dar origem aos torrées do solo, com tamanho e forma variados e caracteristicos, os quais podem ser granular (esféricos ou arredondados), angular (com fa- ces planas e dimensdes aproximadamente iguais), laminar (faces planas e dimenso horizontal bem maior) € prismatico (faces planas e dimensio vertical bem maior). A estrutura de um solo explica, em boa parte, seu comportamento mecanico (capacidade de suporte de cargas, resisténcia ao cisalhamento ou escorre- ‘gamento}, conferindo-Ihe 0 que se denomina consisténcia, ou seja, a capacidade de resist a um esforco destinado a rompé-lo e que podemos avaliar a consisténcia pressionando 0s torres entre os dedos. Caine? = Oavironne : 129 | FIGURA 9.3, Curvas granulométricas. 109 = > 3 +] 5 80] é a ge [AREA 42 fs 23 2 pe a a ° 0.002 0.005 0.02 005 02 05. 2 Ditmetro da Pantcula [05 macroporos presents em um solo determinam se ele seré mais ou menos permedvel, drendvel e aerado, ‘A composi¢ao do solo, referda anteriormente em termos médios de ordem de grandeza das por. Gentagens, sendo bastante variavel na sua composi¢2o mineral e extremamente varidvel na proporcao gua—ar, pode apresentar também teores variveis de matéria organica, ‘A argla & considerada a parcela ‘atva’ da facto mineral porsediar os fendmenos de troca de fons determinants dafetilidade do Soo (existéncia de nutrentes em quantidade adequada) eda bos nutrigao vegetal (capacidade de ceder os nutrentes & planta). Por sua vez, as fades minerais mais ‘gr0ssas presen- {es no solo slo também essenciais para assegurar a drenabilidade, a permeabilidade ¢ « aeragdo indispen- sévels para 0 equilbrio égua—arexigido para arealizagdo da ftossntese (captagdo dos natrnnee em solugdo por meio de pressdo osmética nas ratzes) eda respiragdo dos organismos evistentes no cole A porcio organica —e partcularmente sua parcela em decomposigo — ¢ importante por der ork gem 20 htimus. Ao hGmus cabe a fungao de agente granulador (formaco de torts) dos solos produtivos. ‘Armatéria organica tem a elevadssima capacidade de rete nutrientese gua, muito superior por exemplo, 3 existente na caulinita, a argila predominante em nossos solos. Pesquisas (Coelho € Verlengia, 1976) es- imam que mais de 70% da capacidade de retengao de nutrientes dos solos do Estado de Sao Paulo seja Gevida & matéria organic. Além disso, a matéria organica pode ter um efeito atenuador da nochidade ie alguns elementos minerais sobre as plantas, como o aluminio eo manganés, por vezespresentes em tees indesejaveis nos solos tropicais, As partculas de menores dimensoes presentes na fracdo argilosa dos solos, bem como a matéria brBénicae alguns Gxidos, podem apresentar cargaseldricas.Essas cargaselétricas desempenham impor- {ante papel nas trocas qulmicas entre as paticulas s6lidas e a solucdo aquosa que as envole,repelindo pu absorvendo fons e radicals, configurando o que se denomina capacidade de trocaiénica do solo. Se houver excesso de cargas negativas, 0 solo € rocador de ctions, propriedade essa que pode ser medide {capacidade de toca catiénica (CTC). Se o excesso for de cargas postvas, mede-se a sua capactdade de troca ani@nica (CTA). Os solos com CTC mais elevada retém nutrientes essenciais as plantas, tis como cal. aa Doldssio, magnésio et; ndo retém, entretanto, ions como os nitratose cloretos, que podem passer liviemente para as éguas do lencol subterrineo, contaminando-as(éguas com mais de 10 mg/l de Mtrato Podem provocar a metemoglobinemia ou doenca azul), Solos de zonas de alta pluviosidade tendem a apresentar valores mais baixos do pH em conse- qHencia do processo de Iixiviagdo das bases dos horizontes superiors, pela inftracdo e percolacao das 8u2s. As condigies climsticas predominantes em nosso pats fazem com que quase a totaldade dex solos 130 inna hovta ambiental apresente Ph inferior a sete, como é 0 caso do Estado de Sao Paulo. Ha, ainda, outras causas de acidez progressiva, como o cultivo intensivo com retirada, sem reposicao de nutrientes essenciais, a erosio que remove as camadas superticiais que contém maiores teores de bases e a adubagao com compostos de aménio (sulfato e nitrato). ‘Aacidez do solo atua sobre a producio priméria de varias formas. Sobre os solos com pH inferior 5,5, ela favorece a sotubilizagao do aluminio, do manganés e do ferro, em detrimento do fésforo, que precipita, ficando reduzida a disponibilidade desse nutriente essencial para as plantas. Além disso, a acidez reduz a atividade de bactérias decompositoras da matéria organica, diminuindo a quantidade do nitrogénio, {6sforo e enxofre contidos no solo. A deficiéncia desses nutrientes essenciais prejudica 0 de- senvolvimento das plantas e pode aumentar sua sensibilidade a toxidez do aluminio e do manganés. Por fim, o pH baixo pode afetar a atividade microbiana de decomposi¢ao e produgao de hiimus ao reduzir a ado desse iltimo na estruturacio dos solos. Os valores de pH mais elevados (acima de 6,5) reduzem a disponibilidade de varios nutrientes (Zn, Cu, Fe, Mn, 8), podendo provocar sua deficiéncia nas plantas ‘De um modo geral, a faixa de pH em que ocorre maior disponibilidade de nutrientes situa-se entre 6,0 € 6,5. A titulo de ilustragio, levantamento feito no Estado de Séo Paulo indica a seguinte distribuigao de pH em areas cultivadas: 4,8% com pH menor do que 5; 42,5% entre 5,0 e 5,5; 40% entre 5,5 € 6,0; € 0s restantes, cerca de 13%, com pH acima de 6,0. Esses nlimeros mastram por que é comum, entre nés, a pritica da calagem (adigao de calcério para elevar 0 pH a um valor adequado). 94 Classificagio dos solos Dentre as muitas classficagbes existentes para os solos, destacam-se aqui duas com base, respecti- vamente, na granulometria e na pedologia (origem e evolu). Classificagiio granulométrica ou textural ‘A classificagao granulométrica mais conhecida e internacionalmente aceita estabelece as fragoes para 0s componentes minerais dos solos, conforme mostra a Tabela 9.1. 7 Classificagdo granulométrica. Wpiametto | Weed Pedra Maior que 20 Cascalho “Enite 202 Areia | Entre 2 € 0,02 Silte ou timo) Entre 0,02 € 0,002 Raramente um solo ou um horizonte & constituido de uma s6 das fragbes anteriormente definidas, mas sim de uma combinac3o com diferentes proporcdes. Para faclitar a identificagao de solos com pro- priedades préximas, € possivel utilizar diagramas triangulares, como mostramos na Figura 9.4. Definida a granulometria de um solo, ele pode ser classificado com base na Figura 9.4 em argiloso, quando possui mais do que 35% de argila; arenoso, quando possui mais do que 65% de arela e menos cdo que 15% de argila siltoso (ou limoso), quando possui mais do que 60% de silte (limo) e menos do que 20% de argila; e barrento, quando nao estiver enquadrado em nenhum dos anteriores, tendo, portanto, uma composi¢ao mais equilibrada, Capi [FIGURAS4 — Diagrama triangular simplificado para determinagao da classe granulométrica do solo (Lepsch, 1977) SW ARGILA, fa 6 SITE ‘SOLO’ 80 BARRENTO. $010) SILTOSO '30L0 ‘ARENOSO 100 100 20 60 0 20 —___ 6 AREA Na linguagem técnica corrente, é comum encontratmos as referencias ‘solos finos ou pesados’ para indicar solos argilosos; ‘solos grosseiros’ para solos arenosos; e ‘solos médios’ para os solos barrentos. Nas Praticas de campo, esses solos, quando timidos, podem ser reconhecidos pelo tato: sd0 arenosos, quando speros e pouco pegajosos; sao argilosos, quando a impressio é de suavidade e pegajosidade; sio siltosos, quando se apresentam sedosos. Classificagdo pedolégica Pedologia é a ciéncia que estuda 0s solos. O fato de ela ser uma ciéncia relativamente nova tem provocado a descoberta e a sistematizacao de um grande niimero de informacdes que se refletem, em ni- vel mundial, em uma constante evolucao das classificagées do solo. Além disso, em contradicao a outros ramos da ciéncia, ainda nao ha uma classificacdo universalmente aceita para o solo, apesar de existirem algumas, como a da Organizacao das Nagées Unidas, para a Agricultura e a Alimentacao (FAO), a qual, declaradamente, pretende ser internacional. Outra peculiaridade faz com que, no caso brasileiro, sejam esperadas alteragGes da sistematica ainda por algum tempo até que se chegue & consolidagao de uma classificagao mais permanente. Essa peculiaridade diz respeito & localizacao dos paises que vém estudando a pedologia, jé que seu desen- volvimento se deu, principalmente, em zonas de climas temperados, em que os solos estudados so pre- ponderantemente tipicos desse clima, Como a esmagadora maioria do territério nacional esta em zonas equatoriais e tropicais e grande parte delas, como a Amaz6nia, s6 recentemente vem sendo colonizada, conhecida e pesquisada quanto aos solos, o potencial de contribuigo do nosso pals para a sistematiza¢ao da pedologia é grande. Nao obstante as consideracdes anteriores, é possivel, a partir de uma das classificagdes existentes, apresentar um panorama dos principais solos existentes e de sua distribui¢0 geogréfica no mundo, no Brasil e no Estado de Sao Paulo, como se verd adiante. Qualquer uma das classificagdes disponiveis descreve conjuntos de solos com caract propriedades pedologicamente homogéneas, consttuidos, por sua vez, por subconjuntos de peculiaridade crescente, definidos & medida que se detalham essas caracteristcas e propriedades para éreas geograficas de extens30 mais reduzida. Assim, quando se passa da escala mundial para a nacional ou para a estadual cu local, o mapeamento permite a representacao de subclasses cada vez mais especificas. Nesse detalha- mento progressivo, a exemplo do que acontece nas Ciencias Biolégicas, em que podem ser distinguidos varios einos, classes, subclasses, orcens, familias, géneros e espécies, também na pedologia sao definidos conjuntos de abrangéncia decrescente e especificidade crescente como ordem, subordem, grandes grupos, familia e série, para classificar um determinado solo. Porém, para atender aos objetivos dessa apresentagao genérica do tema, no sera necessério descrever mais detalhes do que os existentes nos grandes grupos. Tomando como referéncia a classificacao norte-americana, os solos, segundo a ordem, podem ser ‘zonais, intrazonais e azonais — cada um deles comportando subordens ou grandes grupos, como os in- dicados na Tabela 9.2. case [TABELA 9.2 _ Classificacdo pedolégica dos solos. aes: | « Latossolo (inclusive terra roxa legitima) | « Terra rqxa estruturada +* Solos podzélicos Zonal + Podzol «* Brunizem ou solo de pradaria e rubrozem * Bruno nao-calcico '* Solo desértico Solo tundra ‘Solo salino ou halomérfico Intrazonal + Solo hidromarfico + Grumossolo *# Litossolo * Regossolo Azonal * Solo aluvial * Cambissolo Os solos zonais tém caracteristicas bem desenvolvidas e, dos varios fatores intervenientes (ver item 9.3),0 clima e a vegetagao foram os mais determinantes em suas formacGes. Esses solos de um modo geral sao madiuros, relativamente profundos e com horizontes A, B eC identificaveis. Ocorrem em terrenos onde 0 declives (suaves) e a drenagem (boa) tém pouca influéncia no processo de formagao. (Os solos intrazonais tém caractersticas que refletem a influéncia predominante do relevo ou do material de origem. Alguns desses solos costumam estar presentes em reas de solos zonais, como & 0 caso de solos salinos em reas de bruno ndo-célcico do semi-drido brasileiro, Cains ~ Onmeoereue | 433 Os solos azonais ndo tém caractersticas bem desenvolvidas, quer por serem recentes ou porque o lima e a vegetacao das zonas em que ocorrem nao chegaram a imprimir-lhes caracte cas tipicas. O sistema brasileiro mais recente de classificagao dos solos destacou, por suas peculiaridades larga ocorréncia entre nés, dois tipos de solos zonais importantes, acrescentando a classificacao norte- americana, respectivamente, a Terra Roxa Estruturada e a Terra Bruna Estruturada. Utilizando essas classificagdes, € possivel representar a ocorréncia de solos em mapas, como os mostrados nas figuras 9.5, 9.6 ¢ 9.7. | FiGuI eee Ocorréncia provavel de solos zonais | no mundo (Lepsch, 1977). Latsela esate 4 ‘vermetho-amarelo Podedli Sruno-Acinzentado MI cos de praaria Brninéns) HIT b1un0 Nao-caccosesimitaes Inertia dengentaria ambiental (solos desricos SS roa HE indo ‘Aresa muito montanhosas com ‘poucas éreas de solo desenvolvido SURA9.6 los zonais predominantes | no Brasil (Lepsch, 1977). [7 Ares muito montannosas com poveas freas de solo desenvolvido {__] Latossolo e Podzélicos vermelho-amarelo_ BB solo de Pradaria HBB 2runo Néo-Célcico e similares (TLD Terra roxa estrutureds ‘© mapeamento dos principais solos predominantes no Estado de Sao Paulo é mostrado de forma esquematica na Figura 9.7. EE[FIGURA 9.7_ ——— Principais solos predominantes no Estado de Sao Paulo (Lepsch, 1977). Latossolo vermelho-escure [ unossoo roxo [=] Pocticos vermetho-emeralo CHEE Tora roxa estruturads HE Ltossolo vermatho TID cambistoto EE solos itaticos Capttaioy = One As caracteristicas principais dos solos zonais mais extensamente presentes no territrio brasileiro (Figura 9.6), de acordo com Lepsch (1976), s80 as seguintes: oe ‘+ Terra roxa e Terra roxa estruturada — solos profundos com excelentes caracteristicasfisicas para a agricultura, fertlidade moderada a alta no primeiro e alta no segundo; potencial agricola muito bom (zonal. * Latossolos — coloragio vermelha, amarela ou alaranjada, muito profundos, bastante poro- 05, elevados teores de éxido de ferro e aluminio, pequenas diferencas entre os horizontes que apresentam transicéo gradual ou difusa, & excecao do superficial, organico, tipicos de clima tropical Gmido, bastante envelhecidos e intemperizados; a fertilidade natural 6 baixa; podem suportar vegetacao de floresta em razao de uma quantidade minima de nu- trientes periodicamente reciclada, ou vegetagao de cerrado, nos quimicamente mais po- bres; 0 cultivo extensivo é perfeitamente vidvel, pois possuem propriedades fisicas boas e, ‘na maior parte, estdo situados em éreas de relevo suave, aptas & mecanizagao; dependem de cortecao da acidez e de adicio de fertilizante; séo étima fonte de matéria-prima para aterros, estradas e barragens, além de facilitarem os trabalhos de engenharia que envolvem escavagdes (zonal) * Podzélicos vermelho-amarelo — caracteristicos de regides florestais dmidas, tém perfil bem desenvolvido com horizonte B vermelho ou vermelho amarelado em que se acumu- la argila; moderadamente ou bem intemperizados, tém profundidade mediana (1,5 m); ‘ocorrem em situagées de relevo mais acidentado; a fertilidade natural € maior que a dos latossolos, sendo mais comumente moderada, mas podendo apresentar, também, fertilida- de elevada (podzélicos eutréficos); prestam-se bem a agricultura, desde que praticada em reas de pouco declive, pois sdo susceptiveis a erosdo. * Bruno ndo-célcico — moderadamente rasos (0,5 m a 1 m), com horizonte superficial de coloragao marrom (bruna) e horizonte B avermelhado; so tipicos de area com chuvas escassas e mal distribuidas, caracteristicos do semi-Arido brasileiro onde so cobertos pela vegetagao de caatinga; a pequena espessura do perfil e 0 excesso de pedras na super sio limitantes & agricultura; a escassez de Agua pode ser contornada com a irrigacao; si0 naaturalmente ricos em nutrientes (zonal). * Cambissolos e Litossolos — ambos sao solos pouco desenvolvidos; os litossolos sio del- gados, assentes sobre rocha consolidada, em rampas bastante inclinadas, ao lado de aflo- Famentos rochosos; 0s cambissolos com caracteristicas semelhantes aos litossolos podem também ser considerados intérmediarios entre os pouco desenvolvidos e os bem desenvol- vidos (azonal). * Brunizem (ou solos de pradaria) — sao relativamente rasos (aproximadamente 1 mi, tém ‘como caracteristica marcante o horizonte AJ escuro e espesso (aproximadamente 0,30 m), rico em matéria organica e célcio; s3o tipicos de regides subtimidas cobertas por vegetacio de gramineas (pradarias, campinas e estepes so denominagdes dadas em varios locais onde ocorrem); apresentam-se em areas de colinas baixas a planicies extensas; sd consi- derados como os melhores do mundo para agricultura, por causa da sua elevada fertilidade natural e da facilidade de cultivo que apresentam (zonal). * Hidromérficos — desenvolvem-se sob a influéncia do lencol freético elevado em reas de lima Gmido e relevo plano, sao adjacentes a rios, lagos e depress6es fechadas; sao acin- zentados e tm fertilidade natural muito variada; em geral, prestam-se bem & agricultura, desde que drenados adequadamente; alguns, com grande quantidade de matéria organica € hiimus, sao escuros, quase negros, dando origem as turfas, e podem ser cortados e uti- lizados como combustiveis (ou podem alimentar incéndios no subsolo que a superficie estariam aparentemente debelados); outros, mais minerais, formam depésitos argilosos ccinzentos denominados ‘tabatinga’e s3o utilizados na industria ceramica (intrazonal). * Aluvionais — provém de sedimentos e s0 pouco desenvolvidos; geralmente propicios & agricultura de alimentos, 0 que explica o florescimento de civilizagGes antigas ao longo do Indo, do Eufrates, do Tigre, do Nilo etc. «+ Salinos — ocortem nos locais de relevo mais baixo, em regides aridas e semi-aridas e nas préximas a0 mar, apresentando elevadas concentragdes de sais soldveis; pode haver salini- zacdo também em 4reas irrigadas sem tecnologia apropriada; seu aproveitamento agricola depende de grandes investimentos para reduzir 0 teor de sais (intrazonal). « Grumossolos — de coloracio cinza-escuro, com elevado teor de argila que se expande com 0 umedecimento e se contrai e endurece com o ressecamento; celebrado na cangdo Paraiba, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: *... quando a lama virou pedra”; conheci- do também como vertissolo e, no Nordeste do Brasil, como massapé; seu aproveitamento agricola 56 & vidvel se mantido 0 teor adequado de umidade; 0 fendithamento dificulta a implantagao de fundacdes de edificacdes, rodovias e estruturas em geral (intrazonal). Solos pouco desenvolvidos de éreas muito montanhosas apresentam caracteristicas de litossolos (azonal). 95 Erosio Ocorréncia ‘Sao vérias as maneiras pelas quais pode ser classificada a erosdo. Além da erosio urbana e rural, que se diferenciam tanto pelas causas como pelos efeitos, € comum distinguir-se a erosdo geoldgica ou lenta da acelerada, A primeira processa-se de modo inexordvel sob a aco dos agentes naturais; a segunda ocorre como uma conseqtiéncia da aco do homem sobre o solo. As particulas do solo sao carreadas pela gua & proporcdo da pluviosidade e da declividade do terreno e & proporcao do tempo de replantio ou rebrota, assim como a rarefa¢io do cultivo de substitui¢ao implantado. ‘Além dessa perda de matéria organic e nutrientes, que dariam origem a substancias coloidais ca- pazes de garantir uma certa coesdo do solo, as proprias substancias coloidais ja existentes também podem ser destruidas pelo fogo. ‘A monocultura sem a repasico de nutrientes esgota o solo, reduzindo sua produtividade priméria e, conseqiientemente, a cobertura vegetal protetora, e modifica suas propriedades fisicas de resisténcia & erosdo (reducao de hiimus e demais fragdes com atividades coloidais e coesivas). Em todos os casos, a conseqiiéncia é a perda progressiva da fertilidade e da produtividade primaria do solo, podendo-se chegar & sua total e répida esterlizagao e eventual desertificacao, caso nao sejam tomadas precaucées adequadas em tempo oportuno. Ahistoria registra muitos episédios em que a erosdo tem causado verdadeiras catastrofes, destruindo povos, civilizacdes e impérios, de modo a alterarsituagdes de dominio e gerar desequilfbrios socioecon6- micos que perduraram por séculos ou milénios. O fato novo, decorrente do conhecimento da inter-relagao, mundial dos mecanismos ecossistémicos e da progressiva integracao socioecondmica do planeta, ja refe- ‘ido na introdugao deste capitulo, mostra a dimenséo internacional do interesse que o problema da erosao hoje desperta, mesmo quando os epis6dios agudos nao estao perto de nés. Por outro lado, a expansdo das fronteiras agricolas veio ocorrendo a velocidades crescentes, ocu- pando novos solos, quase sempre a partir dos mais aptos e menos frageis até alcancar as areas hoje cultiva- das, perfazendo uma extensio total mais préxima da que é admitida como ideal para a produgdo priméria intensiva, Dados do Instituto Internacional para o Ambiente e 0 Desenvolvimento, 6rgao da ONU, mos- tram que a area cultivada praticamente triplicou em pouco mais de um século, com a agravante de esse ctescimento, entre 1950 e 1980, ter se dado, principalmente, em pafses em desenvolvimento, @ custa do desmatamento de florestas tropicais, como mostra a Tabela 9.3. - ene ae na), Evolugdo da érea cultivada da populagao mundial Levantamentos feitos em varios pafses e regides dio uma idéia do que essa expansio acompanhada de erosao tem custado em termos de solos produtivos. Nos Estados Unidos, até 1956, por efeito da erosio, uma extensdo pouco menor do que o territ6rio do Estado de Sa0 Paulo havia se tornado estéril e outra, de porte idéntico, ja se encontrava totalmente degradada, alcancando 0 total de 120 milhdes de hectares as terras atingidas pela erosio com graus mais ‘ou menos sérios de comprometimento, Estima-se, em termos mundiais, uma perda de cerca de 28% das terras cultivaveis por efeitos da erosio. Embora no existam estatisticas globais dispontveis para todo o terrt6rio brasileiro, sf0 conhecidos varios episédios de perdas progressivas e graves do potencial produtivo, inclusive com desertficacdo j Visivel em varios estados. Como exemplo, podemos citar o sul do Maranhdo e do Para e o norte do Estado de Tocantins, em reas da Amazénia recentemente abertas & colonizacao com a Belém—Brasilia (inicio da década de 1960) e com a Transamazénica e outras vias amaz6nicas (década de 1970); as éreas a oeste e sudoeste do Estado de Sao Paulo e a norte e nordeste do Estado do Parané, formadas por solos podz6licos naturalmente férteis e bastante erodiveis, extensivamente utilizados para muitas monoculturas de algodao, soja, amendoim etc.; e parte dos pampas gatichos outrora empregados na produco intensiva de grami- reas alimenticias e forrageiras. Pesquisas efetuadas no Estado de So Paulo pelo Instituto Agronémico de Campinas dao uma medi- da das repercussdes erosivas dos ciclos sucessivos de cultivo iniciado pelo café, com a derrubada da mata (que originalmente cobria mais de 80% do territ6rio paulista), seguida pela pastagem e diferentes cultivos {Tabela 9.4). [Tal Perdas de solo por erosio decorrente de diferentes coberturas vegetais (Bertoni, 1985). Mata 0,004 Cal fs ih OM MAES se Pastagem 04207 © Mamona ALS Feija0 38,1 Mandioca 339 ‘Amendoim 26,7 ‘Arroz 5A (eontnua) (cominusg30} Algodao 245.2330 Soja 20,1 Batata 184 Cana 124 Milho 12,0 Milho + Feijgo 1 Coroando as tentativas de reunit em uma {6rmula todos 05 fatores causadores da erosao hidrica, Wischmeyer e Smith, em 1960, criaram a Equagao Universal de Perdas de Solos, util para avaliacbes pre- timinares e para planejamento, mas que € aqui apresentada principalmente com o intuito de evidenciar 0s principais fatores intervenientes e sua importancia relativa em diferentes situacdes. Como veremos fem seguida, sua aplicacao efetiva trabalhosa e dependente de informagdes preexistentes, além de ela ter a pretensio de ser universal. A perda de solo anual, por unidade de area e tempo, é calculada pela expressdo: 9A A=RiK-LS+CoP onde: ‘A — perda anual de solo por unidade de rea e tempo (t/ha ano) R — fator de erosividade da chuva ou Indice de erosdo pela chuva K — fator de erodibilidade ou capacidade de o solo erodir-se em face de uma determinada chuva_ L — fator de comprimento do declive ou rampa $ — fator do grau do declive CC — fator de uso e manejo do solo \ P — fator de pratica conservacionista A bibliogratia especitica apresenta a maneira de se estimar os valores de cada um dos fatores por meio de expressbes empiricas, nomogramas, quadros e mapas (Salvador, 1989; Bertoni etal, 1985). Des- Ses, apresentamos a seguir a Tabela 9.5 com o fator de erodibilidade K para o Estado de Sao Paulo, que permite comparar 0 comportamento de dois solos comuns no estado para condigdes semelhantes quanto 20s demais fatores. | TABELA 9.5, Fator de erodibilidade K para diferentes solos do Estado de Sao Paulo (Bertoni et al., 1985). Latossolo vermelho-amarelo 0,1 0,04 ‘O empobrecimento do solo ea perda de seu potencial produtivo traduzem o prego que a sociedace paga pela ocorréncia da erosdo na érea rural, Nas reas urbanas, o custo social da erosto pode ser medido pelos gastos privados e pablicos para a restauracdo de cursos de gua que recebem o material erodido e para calcar e refazer edificacoes e vias destruidas ou ameacadas de desabamento, No Brasil e em outros solos tropicais, hé um outro problema que, algumas vezes, assume maior importancia que a erosio, mas que, no entanto, é menos considerado a lixiviagdo, Por esse processo, a5 Copii ~ O mio tervesve 139 fe pporgdes de solo mais finas, onde estdo 0s componentes que Ihe dio fertilidade, s8o removidas e carregadas pela égua em seu movimento descendente de infiltracdo. Em terrenos planos de solos muito profundos « permeaveis, como os sedimentos arenosos da Amaz6nia, o material fértil da superficie é solubilizado pelas chuvas e arrastado para regides inacessiveis as raizes. A esteilizago ocorre nao por um transporte horizontal, mas sim vertical, dos nutrientes. Prevengao, controle e correcéo ‘Aaplicacao de medidas corretivas visando & recuperacdo de solos degradados pela eroséo continua sendo de viabilidade restrita a situagdes muito peculiares e localizadas. Quando a erosio restringe-se a la- ‘minar ou a pequenos sulcos, de tal modo que a camada de solo removido ainda é delgada, permanecendo 8 superficie os horizontes superiores, pode-se recorrer ao plantio de vegetacao e a correcao da drenagem que dev inicio a formacao de sulcos para que o ecossistema alcance um novo equillbrio, repondo a fert dade e a produtividade primaria do solo. Nos demais casos, principalmente quando se manifesta a erosio regressiva (bogorocas’ ou ‘vogorocas’), os investimentos corretivos necessérios s6 sio financeiramente possiveis e economicamente justificaveis quando se destinam a recuperar terras produtivas altamente va- lorizadas e de pequena extensdo ou a proteger &reas ameacadas de ser destruidas pela erosio. Os episédios mais graves registrados no pais tém sido objeto de programas federais, estaduais e municipais visando & corregio de bogorocas. Na regido de solos podzélicos localizada entre os estados de Sao Paulo e do Parana, por exemplo, o Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DOS) vem aplicando, ha quase duas décadas, vultosos investimentos para implantar obras de recuperacio de solos atacados por vogorocas. O Departamento Estadual de Aguas e Energia Elétrica do Estado de Sao Paulo vem desenvolvendo trabalhos similares no estado, seja na periferia ou nas préprias areas centrais de nticleos urbanos ameacados de destruicdo pela erosio regressiva. De um modo geral, as intervengées sao obras de engenharia hidréulica, de engenharia de solos e de engenharia agronémica, constituindo-se fundamentalmente de obras de interceptagao e desvio das Sguas Pluviais da vogoroca por meio de tubulacdes que as devolvem a rede de drenagem natural apés prévia dissipagdo de sua energia erosiva em estruturas especiais; pequenos barramentos ‘em escada’, formando equenas bacias de retencao e decantacdo de sedimentos, destinadas a transformar-se em terracos depois de ser assoreadas ou preenchidas com solo ou plantio de vegetacio, visando fixar 0 solo e reduzit a velo. cidade das aguas ndo interceptadas. ‘As medidas preventivas, muito mais eficazes e de custo social bem mais reduzido, existem em maior ntimero. As limitagdes & sua aplicagao decorrem nao de restrigdes financeiras ou de complexidade técnica, mas das dificuldades proprias de as sociedades menos desenvolvidas politica e socialmente man- terem mecanismos legais, institucionais e administrativos capazes de ordenar a ocupago e 0 uso do solo, estimular a aplicagao de técnicas ambientalmente adequadas e impedir aquelas que ponham em risco os recursos do patriménio privado e pablico. Nas areas rurais, as medidas preventivas resumiem-se a utilizagao de ‘praticas conservacionistas’, Essas praticas, consolidadas a partir da experiéncia agricola mundial e da experimentago na forma de procedimentos de manejo e plantio, permitem a exploragio agricola do solo sem depauperd-lo significa- tivamente. As mais utilizadas so 0 preparo do solo para plantio em curvas de nivel; terraceamento; estru- turas para desvio que terminem em pocos para infltracao das 4guas; controle das vogorocas; preservacdo dda vegetacdo nativa nas areas de grande declive e nas margens de cursos de agua etc. Essas praticas podem ser ainda de cardter edéfico (que dizem respeito ao solo como meio de cultivo) € ‘mecanico e vegetativo’ e destinam-se essencialmente a evitar a concentracao da energia erosiva-hidrica e eélica sobre o solo, Por meio da reducdo das declividades e da criagao dos obstdculos aos escoamentos sobre as linhas de maior declive, a agua tem sua velocidade reduzida, o que facilita sua infiltagdo, com consequlente enriquecimento do lencol frestico e diminuigao de sua concentracao em correntes mais erosivas. Da mesma forma, 05 obstéculos ao curso livre do vento formam zonas de calmaria (esteiras do escoamento) onde a energia e6lica é menos intensa. AAs praticas vegetativas ocortem com o aumento da cobertura vegetal do solo, tais como o refloresta- mento, 0 cultivo em faixas e vegetacao em ntvel, o plantio de gramas em taludes, o controle da capinagem (cortar sem arrancan), 0 acolchoamento ou cobertura do solo com palha e folhagem etc. As priticas de caréter edéfico buscam preservar ou melhorar a fertlidade do solo e compreendem, basicamente, o cultivo ajustado & sua capacidade de uso tecnicamente avaliada; adigo de ferilizantes e corrego do pH; rotacao de culturas ¢ eliminagao ou controle de queimadas. 9.6 Poluigio do solo rural — Ocorréncia e controle (O emprego de fertilizantes sintéticos e defensivos é um fato relativamente novo, cujo uso cresceu rapidamente e que se estende, hoje, por praticamente todas as teras cultivaveis, com alguns impactos ambientais imediatos e bem conhecidos e outros, especialmente os relacionados aos defensivos, que de- ppendem de anos e décadas para se manifestare ser avaliados em suas consequencias totais. Nos dois casos, a producao e 0 consumo vém crescendo geometricamente a taxas que giram em torno de uma sextuplicagdo a aproximadamente cada duas décadas e que tendem a manterse ou a crescer fem curto prazo. Entretanto, a despeito dos riscos envolvidos, € forgoso reconhecer que o uso de fertlizan- tes sintéticos e defensivos é essencial para assegurar os niveis de produco primaria, particularmente de alimentos, para o atendimento de uma populagao que continua a crescer em taxas elevadas, da qual cerca de dois tercos tém graves problemas de desnutricao. Se nao & possivel abolir o uso desses fertilizantes em curto prazo, é urgente limitar seu uso ao estritamente indispensavel, cortando os desperdicios geradores de residuos poluidores, restringindo o emprego dos defensivos aos ambientalmente mais seguros ¢ em- pregando técnicas de aplicacdo que reduzam os custos derivados de sua acumulagao e propagacao pela cadeia alimentar. Fertlicantes sintéticos ‘Até o advento de sua industrializacao, os fertlizantes disponiveis eram quase sempre provenientes da produgao propria e local, obtida dos restos de vegetais decompostos ¢ dos excrementos de animais {estrume). Em maior escala, eram adquiridos de produtores, na forma do conhecido Salitre do Chile, ou obtidos pelo beneficiamento, por exemplo, de imensos depésitos de “guano (excrementos depositados na costa do Chile e do Peru por aves aquaticas cuja alimentago provém das ricas aguas da corrente de Humboldt e das varias ressurgéncias que af ocorrem). Sendo todos produtos naturais, sua biodegradacao € incorporagdo as cadeias alimentares dos ecossistemas associados ao solo eram imediatas € nao havia criagao de desequilibrios ou danos maiores. ‘A partir da producao do adubo anificial, caiu a barreira fisica e econémica que limitava sua dis- ponibilidade, fazendo crescer os riscos de sua acumulag3o ambiental até concentracdes téxicas, tanto de nutrientes essenciais quanto de outros elementos tidos como impurezas do processo de fabricagio. A bibliografia cita casos de pesquisas efetuadas em varios pa'ses onde foram constatadas varias impurezas constituldas por substancias altamente t6xicas. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos desde 1970 indi- cam a presenca de varias impurezas, algumas delas na forma de metais pesados, de reconhecida toxidez, mesmo em teores bastante reduzidos. A adicao de fertilizantes ao solo visa atender & demanda de nutrientes das culturas. Em ordem decrescente das quantidades exigidas pela planta, so cerca de dezesseis 0s elementos necessérios assi- mmilados pelo vegetal, principalmente a partir de suas formas minerais ou mineralizadas encontradas em solugio nos solos. Os macronutrientes principais s80 0 nitrogénio, 0 fésforo e o potassio. Em seguida, es- t8o os macronutrientes secundérios: cAlcio, magnésio, enxolre. Por fim, os micronutrientes como 0 ferro, manganés, cobre, zinco, boro, molibdénio e cloro, ‘Como em qualquer processo fisico, quimico e biolégico, mesmo quando o fertilizante € aplicado coma melhor técnica e de modo que seja mais facilmente assimilével pelo vegetal, a eficiéncia nunca éde 100%, provocando, em conseqiéncia, um excedente que passa a incorporarse ao solo, fixando-se & sua por¢o sélida ou solubilizando-se e movimentando-se em conjunto com sua fracao Iiquida, ‘Aeficiéncia dessa aplicacao, além de depender da técnica utilizada (modo ¢ local da aplicagao, momento da aplicago e ocorréncia ou no de agentes que o carregam e lixiviam etc.), depende também das quantidades adotadas. Essa dependéncia 6 expressa pela conhecida lei econémica ‘dos rendimentos : Gaps Octo teres 4 decrescentes’. Por essa lei, & medida que as aplicagoes de fertilizante se intensificam a cada novo acrésci- mo de quantidade de fertlizante empregado, o acréscimo de producao primaria é crescentemente menor. Em outras palavras, a eficiéncia cai e quantidades crescentes incorporam-se ao ambiente, e nao a planta. Mesmo sem entrar em detalhes sobre o que acontece com os varios elementos no incorporados a planta, mas relembrando os ciclos biogeoquimicos vistos nos capitulos precedentes,é fécilintuir que alguns deles Podergo vir a integrar-se a corpos de gua e outros ficardo no solo, préximos a superficie em que ocor- rem os cultivos. Os primeiros poderdo elevar os teores com que naturalmente se apresentam nas Aguas, cocasionando diferentes formas de poluigo. Uma delas, denominada contaminacao, ocorre quando esses teores atingem niveis t6xicos a flora, & fauna e ao homem em particular, A outra, denominada eutrofizacao, corresponde a superfertiizacao das aguas, que passam a produzir enormes quantidades de algas que, por competicao, eliminam muitas espécies aquaticas e restringem severamente os beneficios que podem ser extraidos da agua. A parcela que se fixou ao solo tende a acumular-se em concentragdes crescentes que poderdo torné-lo impréprio a agricultura Mesmo a parcela solubilizada assimilada pelas plantas, se o for em teores crescentes, poderé alterar 2 composicao do tecido celular. Essas plantas, a0 serem utilizadas como alimento pelo homem ou pelo gado, incorporam-se & cadeia alimentar que passa pelo homem, introduzindo um fato novo, cujas conse- qiiéncias s6 serdo conhecidas, talvez, ap6s um prazo de algumas geracées. Dados de origem norte-americana mostram que, nas praticas agricolas normais, no mais do que 50% € 30%, respectivamente, do nitrogénio e do fésforo aplicados por meio de fertilizantes so incorpo- rados as plantas (Spyridakis, 1976). Os 50% e 70% complementares que, por causa das praticas agricolas menos desenvolvidas entre nés devem ser maiores, vo se transformar na fonte potencial dos problemas anteriormente referidos. Estudos sobre a incorporagio de nutrientes no tecido vegetal evidenciaram um grande aumento de cconcentracdo de nitratos em vegetais plantados em solos com adico de fertilizantes. No caso da alface, © teor de nitrogénio, medido em percentual de massa seca, foi de 0,6 em terreno adubado com 600 kg de nitrogénio por hectare, enquanto, na cultivada em terreno normal, esse teor é de 0,1 (Commoner, 1970) Podemos inferir que 0 comportamento qualitativo relativo aos demais nutrientes seja similar. Em termos ecol6gicos globais e em longo prazo, a fertilizagao e especialmente a superfertilizagao com efici- éncia decrescente tendem a modificar a distribuico da ocorréncia dos nutrientes na biosfera, provocando sua concentracao em alguns dos seus segmentos (solos agricolas e corpos de agua) e na-cadeia alimentar em que esté o homem. Defensivos agricolas Os defensivos agricolas sdo classificados em grupos, de acordo com o tipo de praga que combatem: inseticidas, fungicidas, herbicidas, rodenticidas (contra roedores) etc. 5 defensivos que inauguraram o ciclo que ainda hoje caracteriza a tecnologia predominante de combate as pragas agricolas tém cerca de 50 anos. Eles foram sintetizados na busca de um efeito mais duradouro de sua aplicacao. Surgiu, entao, 0 DDT, em 1939, como o primeiro inseticida organoclorado de elevada resisténcia & decomposicao no ambiente (meia vida da ordem de decénios). Desde entao, um grande némero deles vem sendo sintetizado, partindo-se do mesmo objetivo inicial, mas com a preocupa- 40 crescente de torna-los mais especificos quanto aos organismos afetados e menos duradouros. € forcoso reconhecer que esses dois tiltimos objetivos ou nao tém sido alcangados ou o sucesso da sua concretiza- ‘G20 tem esbarrado em uma conseqiente perda de eficiéncia. CO atributo que foi o grande motor da expansio dos defensivos — seu efeito residual — transforma- se cada vez mais na pior de suas caracteristicas. A resistencia em decompor-se no ambiente, de modo a impedir 0 desenvolvimento de organismos indesejados, justificou o sucesso do DDT em programas de satide péblica (pelo combate a malaria, tfo exantemitico e varias outras doencas transmitidas por insetos) € na contribuiggo para 0 aumento da produtividade agricola. Entretanto, essa permanéncia no ambiente ampliava a oportunidade de sua disseminaco pela biosfera, seja por meio de fendmenos fisicos (como a movimentacao das 4guas e a circulacao atmosférica), seja pelas cadeias alimentares dos ecossistemas presentes no local de sua aplicagao original. euabienal De repente, os resultados de pesquisas e expedicdes cientificas comecaram a registrar a presenga de defensivos como 0 DDT nas calotas polares e em tecido celular de animais e aves com hdbitat bastante afastado dos locais de sua aplicacao costumeira, e, 0 que é pior, em teores elevadissimos. Enquanto a cit- culacdo das Sguas e da atmosfera juntamente com os deslocamentos dos organismos integrados as cadeias alimentares explicavam a disseminacio dos defensivos em escala mundial, as concentragées elevadas so conseqtiéncia do que se denomina biomagnificagao ou amplificacao bioldgica. ‘A biomagnificagao ocorre quando substancias persistentes ou cumulativas, como os compostos or ganoclorados, migram do mecanismo da nutricao de um organismo para os seguintes da cadeia alimentar. ssa migracdo pode ser iniciada pela concentragao da substincia no organismo fotossintetizante e chegar até 05 tltimos elos da cadeia alimentar. Um exemplo bastante estudado, o do bacalhau das aguas do Mar do Norte, ajuda a ilustrar o que vem a ser biomagnificagao. Sabemos que a produgao de um quilograma de tecido celular no bacalhau corresponde a cerca de 100 mil quilogramas de vegetais aquaticos consumidos pelo primeiro consumidor da cadeia alimentar do bacalhau. Se, em uma hipdtese simplificadora, existisse uma substincia conserva- tiva nao biodegradavel e ndo elimindvel que fosse se transmitindo ao longo de toda a cadeia alimentar, sua concentracao no bacalhau estaria aumentada 100 mil vezes em relacdo & do vegetal fotossintetizado, ‘Outros estudos mostram que os defensivos presentes no solo transferem-se, parcialmente, para 0 tecido celular da planta, com relagdes de concentracées que dependem, entre outros fatores, da concen- tracdo existente no solo e do tipo de planta. Ramade (1974) apresenta os efeitos da contaminagao do solo por heptacloro em varios cultivos, transcritos parcialmente na Tabela 9.6. Os efeitos ambientais ou indiretos podem ser resumidos em: ‘+ mortandade inespecifica: mesmo quando sintetizada na tentativa de se combater especifi- camente uma certa praga por meio da propagacao pela cadeia alimentar, essa mortandade pode tornar-se inespecifica; + redugio da natalidade e da fecundidade de espécies: mesmo naquelas espécies que 6 lon- ginquamente e apenas por meio da cadeia alimentar ligam-se & praga combatida, Esses efeitos, vilidos para os defensivos sintéticos em geral, tém incidéncia diferente, dependendo do agente ativo do qual derivem, como pode ser observado na lista de defensivos apresentada a seguir, que sumariza as caracteristicas dos principais grupos de defensivos existentes atualmente. A severidade dos efeitos indiretos depende também da quantidade aplicada e do modo pelo qual essa aplicacéo é feita [TABELA 9.6 Concentragdes de heptacloro em vegetais cultivados em solo contaminado (Ramade, 1974). Cenoura | 019 0,140 Batata | 019 | 0,050 Milho 1,00 0,005 Soja 1,00 ono Muitas pragas, hoje em dia, podem ser controladas por meios biolégicos no lugar de pesticidas. Nesse caso, as espécies nocivas so mantidas em niveis aceitaveis pela introdugao de um predador natural ‘ou microorganismo que Ihe cause doenga. Por exemplo, os insetos que infestam a cana-de-agticar podem ser controlados por uma espécie de joaninha. (© manejo integrado de pragas visa controlar as pragas de modo a minimizar as perdas econdmicas por meio de sua reducio populacional sem que seja preciso eliming-las por completo. : Capinio 9 ~ O meio terrestre | 43 Dificilmente a adogo de um Gnico método soluciona os diversos problemas envolvidos na redu- ‘¢40 populacional da praga. Sao utilizados 0 controle biol6gico, as mudancas no padrao de plantio, as plantas geneticamente modificadas para que se tomem mais resistentes e 0 uso cuidadoso e seletivo de agrotéxicos para manter o nivel de produgao agricola e a satide humana (The Global Tomorrow Coali- tion, 1990). E importante frisar que o manejo integrado de pragas exige um planejamento anterior ao plantio das safras agricolas, principalmente se forem utilizados métodos como rotacao de culturas, plantio em faixas, variedades resistentes e outros. Tais métodos deve envolver também os grupos de agricultores de uma regido, visto que as pragas nao respeitam divisas entre propriedades. Por todos esses motivos, podemos pensar em um manejo integrado da agricultura que harmonize todas as técnicas de produgao agricola dentro do contexto de um nico ecossistema ou agroecossistema, As razdes apresentadas anteriormente justificam as duas grandes linhas em que se apdiam os es- forcos de controle dos efeitos dos inseticidas. A primeira delas, de mais longo prazo, mais radical e de jabilidade que depende de verificacao, propde a busca de solugdes alternativas de combate as pragas agricolas como, por exemplo, as de base biolégica ou fisica, que se baseiam na criagio e disseminacao de obsticulos e restricdes & sobrevivéncia do organismo por meio de predadores, armadilhas etc. A segunda apéia-se no estabelecimento de uma estrutura legal e institucional que impeca a produgdo e a comerciali- zacao dos defensivos de efeitos negativos maiores e 0 controle da intensidade e do modo de sua aplicacao, pelo agricultor. ‘A abrangéncia e a complexidade elevadas dos efeitos dos defensivos na biosfera no permitiram que, até agora, pudessem ser vislumbradas medidas corretivas. Por outro lado, persistem varias incognitas sobre a natureza e a extensio de algumas das conseqiiéncias em longo prazo. Considerando-se, ainda, @ atual inexisténcia de solugdes alternativas em escala compativel com a necesséria, conclui-se ser esse um dos maiores desafios ambientais desse inicio do século. AA seguir, relacionamos os principais grupos de defensivos agricolas sintéticos. Inseticidas: i * Organoclorados: DDT, Aldrin, Dieldrin, Heptacloro etc. De um modo geral, eles sao ex- tremamente persistentes. Alguns deles, como o DDT, permanecem em percentuais de mais de 40% decorridos cerca de 15 anos apés sua aplicagao. O heptacloro, um dos menos persistentes, apés 0s mesmos 15 anos apresenta percentual em torno de 15%. Sua produ- ‘G40 e consumo vém sendo proibidos progressivamente em um ntimero cada vez maior de paises. + Organofosforados: Parathion, Malathion, Phosdrin etc. Apresentam uma certa seletividade em sua toxidez para os insetos. Em sua maioria, degradam-se bem mais rapidamente que os organoclorados. + Carbamatos: Sao especificos em sua toxidez para os insetos e de baixa toxidez para os ver tebrados de sangue quente. Fungicidas «Sais de cobre: os de uso mais antigo. * Organomercuriais: de uso restrito as sementes.. Herbicidas: * Derivados do arsénico: de uso decrescente e limitado. © Derivados do 4cido fenoxiacetico: 2,4D; 2,4,5T; Pichloram. Os dois primeiros foram ut zados no Vietna em dosagens dezenas de vezes superiores as maximas recomendadas na agricultura e provocaram efeitos catastréficos sobre a fauna, a flora e as populagdes (‘agente laranja’) De modo alternativo, iniciou-se recentemente a utilizagao de manipulagao genética para conseguir plantas mais resistentes. A técnica normalmente utilizada para melhorar as caracteristicas das culturas agtfcolas e aumentar a produtividade tornou-se conhecida como ‘melhoramento tradicional’. Essa técnica consiste em cruzar uma planta com outra qualquer para obter caracteristicas desejaveis & nova variedade. 144 engenhario ambient Nesse processo natural, transferem-se, além do gene desejado, centenas de outros néo necessariamente benéficos, ou seja, o DNA da planta doadora mistura-se ao DNA da planta receptora, e varios genes 380 combinados de uma s6 vez, sem que haja controle total sobre essa combinagio. Abiotecnologia, ou engenharia genética, aplica uma técnica modificada do melhoramento tradicio- nal com uma diferenga significativa: permite a insergao de um ou alguns genes especificos, cujas caracte- risticas s40 conhecidas com antecedéncia, sem que o restante da cadeia de DNA seja alterado. Ha, portan- to, maior seguranga sobre o produto resultante do que quando se utiliza o melhoramento tradicional. Um produto transgénico, portanto, pode ser definido como o que recebeu, por meio da engenharia genética, um ou mais genes de outro organismo com objetivos especificos, como, por exemplo, o de tornar a planta resistente a um determinado inseto ou a um determinado herbicida. Genes do Bacillus Thuringiensis (Bt), uma bactéria do solo que € aplicada tradicionalmente como pesticida, inclusive nas culturas organicas, foram transferidos para sementes de algodao, milho e soja para repelir a broca do milho, diversos tipos de lagartas e outras pragas. A soja transgénica, denominada Roundup Ready, desenvolvida pela empresa Monsanto, ¢ 0 primeiro produto geneticamente modificado a solicitar pedido de registro no Brasil e possui genes de Bt em sua cadela de DNA. No Brasil, 0 plantio e a comercializagao de soja transgénica tém sido autorizados por meio de medidas provis6rias editadas pela Unido. Por exemplo, para a safra de 2004/2005 foi aprovada a Medida Proviséria n® 223/204, que foi convertida na Lei n® 11.092, de 12/01/2005. Cabe ressaltar que a questo sobre os produtos transgénicos ndo esté completamente definida e continua sendo avaliada pela Comissio Técnica Nacional de Biosseguranca (CNTBIO). Os defensores dos produtos transgénicos argumentam que eles proporcionam um aumento real de produtividade e de redugao de custos operacionais, fator bésico para equilibrar a crescente demanda de alimentos dos pafses do Terceiro Mundo. ‘As desvantagens associam-se aos seguintes tipos de problemas: 1) grandes mercados, como, por exemplo, o europeu e o japonés, resistem ao consumo de produtos transgénicos, 0 que pode ser um fator negativo para a exportagto de produtos geneticamente modificados; 2) a Lei de Patentes impede o uso das sementes transgenicas, fazendo com que o agricultor per- manega na dependéncia das empresas produtoras de plantas geneticamente modificadas; 3) nao ha pesquisas de efeitos cronicos (ou seja, de longo prazo) sobre o meio ambiente e sobre a satide publica dos consumidores que permitam estabelecer 0s riscos associados aos produtos geneticamente modificados. Salinizactio — Ocorréncia ¢ prevengio A salinizagao é uma forma particular de poluicao do solo. Como mencionamos anteriormente, ela cocorre com mais freqiiéncia em solos naturalmente susceptiveis, seja pela natureza do material de origem, seja pela maior aridez do clima ou pelas condigées do relevo local. H, porém, uma salinizagao que pode cocorrer pela agdo do homem quando a exploragao agricola ¢ feita com o auxilio de irrigacao. A Figura 9.8 esquematiza 0 que ocorre quando a franja capilar formada pela aco da tensdo superficial, atuando em um lencol freético, eleva a agua com sais em solucao até o nivel do terreno. A evaporacao que se sucede deixa ai os residuos sélidos salinos. Em zonas de maior pluviosidade, além de a solucdo aquosa do solo apresentar menor teor de sais, as precipitagdes freqiientes lixiviam esse sal, devolvendo-o, por infiltragao, para o lencol freatico. Em zo- nas ridas, 0 teor de sais na solu¢3o aquosa é mais elevado, e a freqléncia das lixiviagées pelas chuvas € bem menor. Além disso, a exploragao agricola, muitas vezes, s6 € possivel mediante irrigacao. A consegiléncia imediata da irrigacdo € uma elevacdo do lencol fredtico. Quando ele é, natural- ‘mente, pouco profundo, a franja capilar imposta pelo novo nivel pode atingir a superficie do terreno, acu- mulando sais. A prevencdo desse problema deve ser feita jé na fase do projeto de engenharia, mediante a previsdo de um sistema de drenos que rebaixe a superficie do lengol fredtico. Uma outra medida, que pode ser utilizada em paralelo, consiste em sobreirrigar, aplicando quantidades de agua superiores as re- queridas pela planta, para obter o efeito de lixiviagdo normalmente resultante das chuvas. As duas medidas Cie) — Omen teren 145 i encarecem os custos de investimento e de operacdo. Oulras vezes nem sequer é detectada previamente sua necessidade. O resultado que tem sido frequente em grandes programas de irigacBo € a salinizacdo ¢ a perda de enormes extensbes de solos agricultéveis, a exemplo do que ocorreu muitas vezes na Antigt dade, contemporaneamente na California e, mais recentemente, no semi-arido brasileiro, Inigagéo | inrigagdo e formas de controle. Superficie do terreno ‘Sol acumulado como residuo Franje capitar ‘Superficie do lengol elevada pela irigagéo ‘Superfcie do lengot peace ie antes da irrigagéo POR CAPILARIDADE fee + Sobre irrigagio “Inigagso -Superfcle do terreno Lixiviagdo pela irigagso Franja capilar Lengol apés irigagéo e dranagem Superticie do lengol Drenos antes da itrigagéo 97 Poluigio do solo urbano — Ocorréncia e controle A poluisio do solo urbano é proveniente dos residuos gerados pelas atividades econémicas que so tipicas das cidades, como a indstia, o comércio e os servigos, além dos residuos provenientes do prande ndmero de residéncias presentes em areas relativamente restitas. Difere da poluicdo rural por um outro aspecto importante do ponto de vista ecol6gico e de equilbrio dos ecossistemnas. A maior parte dos resi- duos urbanos proveniente de areas externas a0 seu terit6ri. Ao serem langados ou dispostos adequa- damente nos limites do terrtério urbano, eles nao s6 acentuam os problemas de poluicao (especialmente quando ela € entendida pelo seu conceito de ‘indigestdo’ em um segmento da biosferal, como causam o empobrecimento nas éreas de onde provém a matéria e a energia que, apés a utilizacao no meio urbano, transformam-se em residuos. Embora a poluigo do solo possa ser provocada por residuos nas fases solida, Ifquida e gasosa, é, sem dvida, sob a primeira forma que ela se manifesta mais intensamente por duas raz6es principais: as quantidades geradas so grandes e as caracteristicas de imobilidade — ou pelo menos de muito menor ‘mobilidade dos s6lidos — impoem grandes dificuldades ao seu transporte no meio ambiente. Eexatamente a grande mobilidade dos gases propiciada pela circulagao atmosférica com freqiientes trocas de massa e a reducao das concentragdes de poluentes relativamente répida (em relacdo aos liquidos € em especial aos sélidos) que tornam de menor significado o efeito poluidor direto dos residuos gasosos sobre o solo. Indiretamente, porém, a parte que precipita nas areas urbanas pode chegar ao solo na forma de poluentes em solucdo, trazidos pelas chuvas conhecidas como ‘chuvas dcidas’, por exemplo. ‘Além desses, ha os residuos liquidos que atingem o solo urbano e que so provenientes dos efluen- tes liquidos de processos industriais e, principalmente, dos esgotos sanitérios que nao sao lancados nas redes piblicas de esgotos. Tanto uns como outros podem chegar ao solo como parte de um procedimento 146 téenico de tratamento de residuos liquidos por aplicago 20 solo ou, como conseqiéncia de descuido e descaso, serem ai simplesmente langados. Alguns efluentes industriais e os esgotos sanitarios (oriundos do afastamento por via liquida dos dejetos humanos e dos residuos provenientes do preparo de alimentos, higiene pessoal, da residéncia do local de trabalho) podem, em pequenas comunidades ou em sistemas isolados, ser adequadamente tratados por meio de técnicas que prevéem sua aplicacao aos solos sem criar problemas de polui¢do. Essas técnicas podem resumirse & simples infiltragao dos efluentes de uma fossa séptica no solo ou constituirem- se de processos mais elaborados € mais modemos. Os esgotos sanitérios e eventualmente os de processos industrials sio, 4s vezes, lastimavelmente lan- «ads sobre o terreno superricial, vias piblicas, sarjetas etc., gerando problemas graves nao s6 provenientes da poluigao que agride o olfato e a visdo, mas, também, podendo gerar episédios de satide publica endémi- cos epidémicos quando esses langamentos estéo contaminados por substancias patogénicas e toxicas. Dentre todos, porém, a polui¢ao do solo urbano por residuos sélidos é o problema maior e mais comum para o qual convém dar atencdo especial Residuos sdlidos urbanos Os residuos s6lidos de uma rea urbana so constituidos por desde aquilo que vulgarmente se deno- mina ‘ixo' (mistura de residuos produzidos nas residéncias, comércio e servicos e nas atividades publicas, na preparacdo de alimentos, no desempenho de fungdes profissionais e na vartig&io de logradouros) até residuos especiais, e quase sempre mais problematicos e perigosos, provenientes de processos industriais idades médico-hospitalares. De maneira mais espectfica e prética, a norma brasileira NBR 10.004 caracteriza como residuos s6- lidos todos os “.. residuos, nos estados sélido e semi-sélido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agricola, de servicos e de varrigao. Ficam incluidos, nessa definig3o, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de 4gua, aqueles gerados em equipamen- tos e instalacdes de controle de poluigao, bem como determinados liquidos cujas particularidades tornem inviavel o seu lancamento na rede publica de esgotos ou corpos de gua ou exijam, para isso, solucées técnica e economicamente invidveis, em face da melhor tecnologia disponivel”, (0 denominado ‘tixo’, em fungao de sua proveniéncia variada, apresenta também constituintes bas- tante diversos, e 0 volume de sua produgao varia de acordo com sua procedéncia, com o nivel econdmico da populacao e com a prépria natureza das atividades econdmicas na rea onde é gerado. Nao é por aca- So que os estudos arqueol6gicos valorizam tanto os residuos como fonte de conhecimento dos costumes € da civilizagdo de povos mais antigos. Por exemplo, as proporgdes de papel, de substincias inertes, de matéria organica mais prontamente biodegradavel, como restos de alimentos, variam bastante conforme a predominancia da ocupagio urbana mais tipica da area da qual eles provém. Entretanto, no conjunto dos residuos coletados nos aglomerados urbanos maiores, com atividades diversificadas, h& um certo grau de similaridade em sua composicéo. Considerando aspectos praticos e de natureza técnica ligados principalmente as possibilidades de tratamento e disposigio dos residuos em condigées satisfat6rias dos pontos de vista ecoldgico, sanitério e econémico, a norma brasileira anteriormente referida (NBR 10.004) distingue-os em trés classes: ede ati + Residuos Classe | ou Perigosos: constituidos por aqueles que, isoladamente ou por mistura, fem fungo de suas caracteristicas de toxicidade, inflamabilidade, corrosividade, reativi- dade, radioatividade e patogenicidade em geral, podem apresentar riscos & satide piblica (com aumento de mortalidade ou de morbidade) ou efeitos adversos a0 meio ambiente, se manuseados ou dispostos sem os devidos cuidados. * Residuos Classe Ill ou Inertes: s2o aqueles que nao se solubilizam ou que nao tém nenhum de seus componentes solubilizados em concentracdes superiores aos padrdes de potabili- dade de Sgua, quando submetidos a um teste-padrao de solubiliza¢ao (conforme NBR 10.006 — Solubilizagao de Residuos) + Residuos Classe I! ou Nao Inertes: so aqueles que no se enquadram em nenhuma das classes anteriores. Carin ~ Omiownesm | [47 ‘As mesmas raz6es que levaram a definir essas classes tém aconselhado a organizar os servicos pblicos e a orientar e educar a populac3o para manusear, acondicionar, coletar, transportar e dispor, de ‘maneira diferenciada, os res(duos sélidos conforme a classe em que se enquadram. AAs dificuldades dessa implantagao diferenciada provém do tempo, recursos financeiros, admi- nistrativos e educacionais necessérios para viabilizar esse novo sistema, superando habitos e costumes tradicionais. ‘A Tabela 9.7 a seguir apresenta a composico do lixo no municipio de So Paulo. Observa-se como essa composico se altera no tempo em razdo de uma série de fatores, como crise econdmica, avancos tecnolégicos e reciclagem de materiais, entre outros. TABELA 9. Ce (%) do lixo no municipio de Sao Paulo ‘ompo: (LIMPURB, 2003) Material [1927 Sa SS is eae ome a Ha Matéria organica | 225 | 760] 52,2] 62,7/ 60,6) 48,2| 13,1 167) 292| 214) 139] 166) 18.8] aed Papel, papeléo e jomal Embalagem longa-vida | = shed ee aoa Plasticos: } iat 5,0) 115] 143/ a2al 16,8). 16,8 Metais ferrosos ic 17) 22 78) 39, 28/ 21) 20, 26| 1,5 Metais ndo-ferrosos (aluminio} | Hf ce] 01f 07) 07|.-07 Trapos, panos, couro e borracha 15} 27) 38] 29) 44 oa) Pilhas ¢ baterias Ste Se apess aa| on Vidros | 09) 14 P| u7| 17 13) 18 Tetra'e pedra | 4 SI 2 07) 08) 16} 0,7 Madeira | | eee 16) 07 2,0) 1,6 Diversos be ot ap oir) 26 “| 934-40 * Incluidos em materiais diversas. ~ Indica que 0 material ainda ndo era utilizado ou ndo foi feita andlise Da composicao e, principalmente, do maior ou menor teor de matéria organica biodegradavel de- pende a maior ou menor eficiéncia na utilizagdo de processos biolégicos naturais ou intensificados para 0 tratamento do lixo— os mais empregados habitualmente, por serem os mais simples e viaveis, ‘Aqquantidade de lixo gerada decorre da populacao servida. Em termos médios, cada pessoa produz diariamente cerca de 0,4 kg a 0,7 kg, valor que pode ultrapassar 1 kg em paises desenvolvidos. Langado em qualquer lugar ou inadequadamente tratado € disposto, 0 lixo é uma font dificilmente igualvel de proliferagao de insetos e roedores, com os conseqiientes riscos para a satide pblica que dat derivam, além de ser causa também de incémodos estéticos e de mau cheiro. {As solugbes individuais de disposicao e tratamento do lixo mais empregadas nas areas rurais até por sva utilidade (adubago do solo ou alimentacao de animais) sao dificilmente vidveis em 4reas urbanas, em decorréncia da escassez de drea e pela proximidade de pessoas. Nas cidades é indispensével um sistema ppdblico ou comunitério que se incumba da limpeza de logradouros, da coleta, disposicao e tratamento do lixo que extinga os riscos de satide piblica e elimine ou reduza a niveis aceitaveis os demais impactos sobre o ambiente associados a0 lio. Normalmente, um sistema desses compreende as seguintes atividades principais: + varrigio de vias, pracas e demas logradouros piiblicos; * coleta domiciliar e nas demais edificagées destinadas ao comércio e & industria — sempre que possivel, essa coleta deve ser seletiva, exigindo-se, para tanto, que 0s ususrios acon- dicionem previamente seus residuos de acordo, no minimo, com as classes jéreferidas da NBR 10.004 ou como é comum quando se deseja facilitar a reciclagem, separando dos inertes vidros,latas, papéis etc * transporte até centros de transbordo ou de triagem ou diretamente até 0s locais de disposi- 0 e tratamento; € * disposigao e/ou tratamento do lixo, com eventual aproveitamento do produto desse trata- mento. A frequencia e 0 modo pelo qual cada uma das duas primeiras atividades é exercida devem ser definidos por critérios técnicos (de satide publica) e balizados por parametros de otimizacgo dos custos envolvidos (mao-de-obra, transporte etc. Transporte e triagem O transporte s6 é direto até os locais de disposigdo e/ou tratamento quando as distancias percorridas 0 pequenas € 0 lixo é mais homogéneo e predominantemente biodegradavel. Nesses casos, 0s veiculos devem ser especiais, Ageis e de um tamanho que possibilite acesso a tado o sistema viario, devendo ser, ainda, dotados de algum mecanismo que compacte o lixo, otimizando o uso da capacidade volumétrica do transporte, e vedados de modo a reduzir os riscos de perda de materiais, vazamentos de liquidos e maus odores, O transbordo e a triagem, quando necessérios, sao feitos em estagdes o mais isoladas possivel de reas urbanizadas e habitadas e dotadas de equipamentos que reduzam o risco de proliferacao de insetos, roedores e mau cheiro. No ponto de transbordo, lixo ¢ removido para veiculos de maior porte, visando reduzir 0 custo do metro ctibico a ser transportado a maiores distncias, até sua disposi¢o e/ou tratamen- to. As estagdes de triagem, comumente situadas no prdprio transbordo ou junto a area de disposicao e tra- tamento, so necessérias para tomar o lixo mais homogeneamente biodegradavel, além de possibilitarem alguma recuperacao e reciclagem de materiais aproveitaveis coletados junto com 0 lixo. Disposigdo e tratamento A disposicao e 0 tratamento do lixo podem ser feitos de varias maneiras. Uma delas, lamentavelmente ainda comum em muitas cidades, consiste em simplesmente lancar e amon- toar o lixo em algum terreno baldio, dando origem aos ‘lixdes’ ou ‘monturos’. Além dos ja referidos proble- mas estéticos e de saide publica, essa pratica estimula a catagao, com todos os enormes problemas sociais correlatos, e propicia epis6dios de poluigdo hidrica e atmosférica (a matéria organica em biodegradacao atinge temperaturas de combusto espontanea, liberando grossos rolos de furnaga que chegam a som- brear e fustigar enormes Areas). Outras vezes, essa pratica atinge 0 paroxismo, quando, apesar de todos 0s inconvenientes anteriores, é utilizada para recompor encostas e aterrar areas ingremes, com riscos de provocar futuros deslizamentos de taludes, que destroem edificacdes e vidas. As alternativas tecnicamente adequadas mais comuns para a disposi¢o e 0 tratamento do lixo séo 0 aterro sanitario ou energético, a ‘compostagem e a incineracao. No aterro sanitdrio (Figura 9.9), o lixo € langado sobre o terreno e recoberto com solo do local, de forma a isolé-lo do ambiente, formando ‘cmaras’. Pela propria movimentagao das maquinas de terra- plenagem na execucao dessas ‘cimaras', 0 lixo € compactado e seu volume, substancialmente reduzido. Nessas ‘cdmaras’, cessada a biodegradacdo aerdbia com o esgotamento do pouco oxigénio existente, pro- cessa-se a biodegradagao anaerdbia, com liberacdo de gas e de uma substncia liquida escura, constituida pelos resfduos organicos apenas parcialmente biodegradados, denominada chorume. ‘A fracao gasosa é predominantemente formada por gés metano e tende a se acumuular nas por¢des superiores das cmaras, devendo ser drenada para queima ou beneficiamento e utilizagao. O chorume acumula-se no fundo e tende a infiltrar-se no solo, podendo alcangar 0 lencol freatico, contaminando- no caso de ele nao estar separado por uma camada de solo ou de um revestimento suficientemente espesso ou de baixa permeabilidade, de modo a garantir a preserva¢ao do solo. Copied ~ Ome terete 149 ‘As normas de aterro sanitrio requerem captacio e tratamento dos gases e do chorume. O projeto do aterro deve seguir as normas ABNT (NBR 8.419). Aterros controlados podem, em certos casos, ser cons. trufdos sem o tratamento do chorume, seguindo normas especificas (NBR 8.849) O aterro sanitério-energético & uma evolucao do aterro sanitério, reaplicado (por meio de bombeamento) nas camaras do aterto, dagdo da matéria organica e de produgdo de gas. O gas drenad diretamente ou apés prévia ‘lavagem’ das impurezas (o poder cal 5.800 Keal/kg m'), Os aterros, uma vez esgotados em sua capacidade de receberlixo, podem ser tteis como elemen- tos de recuperacdo de dreas de baixos degradados, incorporando-as ao tecido urbano, na forma de drees verdes e parques. Além das vantagens do aterro sanitéio, de baixo custo de manutencao e de execugao, 6 aterro energético-sanitério ainda pode reduzir os riscos de contaminacio do lencol e promover a rach clagem do gas de lixo. [FicuRAs9 - Representagdo de wm aterro sanitario ‘em varias fases (IPT, 1995), no qual o chorume drenado é visando aumentar 0 grau de biodegra- lo pode ser utilizado como combustivel lorifico do ‘gis de lixo’ alcanca cerca de Solo de cobertura Lengo! freatico Camada impermeabilcante Dreno de chorume (sald para estagéo de tratamento) fnire as desvantagens do atero esté a exigéncia de extensbes de terreno relativamente amplas. Além disso, exige-se que ele seja instalado em locais em que o entomo néo seja prejudicado por incon. venientes ambientas e paisagfsticos que sua operagao pode trazer (mau cheiro,tréfego de caminhoes de lixo e mau aspecto etc). © processo de compostagem de lixo € uma adaptagio do processo que o agricultor utiliza, desde a remota Antigdidade, para produzir composto de restos agricolas e utilizé-to no campo como condicio. nador de solo. Dii-se 0 nome de composto ao produto de decomposicgo de matéria orginica, em condigBes ae- robias e de maneira controlada, de modo a obter-se um material estabilizado, ndo mais sujeito as reagoes de putrefagao que ocorrem com restos orgénicos deixados no ambiente. O processo consiste basicamente fem duas fases: no inicio, ha uma fase terméfila, que dura de duas a quatro semanas, em que a tempera- tura sobe, podendo chegar até 70°C. Em seguida, a temperatura cai para cerca de 30°C, tendo inicio uma fase mes6fila, que dura de dois @ quatro meses, até que haja a estabilizago e a temperatura caia até a ambiente, Como dissemos, a compostagem de lixo é um aperfeicoamento das técnicas utilizadas pelos agri- cultores, desde a Antiglidade, para a producao de composto. Geralmente, ela é processada em instalagbes denominadas Usinas de Triagem e Compostagem de Lixo, onde, inicialmente, ha a separagao de materiais que podem prejudicar 0 processo, como trapos, madeiras e pneus, e de reciclaveis, como latas, vidros e plisticos, que tem valor comercial. © grau de sofisticagao da tecnologia empregada depende, principal- mente, da quantidade de lixo processada, que é func3o da populaco atendida, podendo-se dividir em dois tipos de processo: a compostagem natural, ou acelerada, sendo que, na primeira, 0 proceso todo se da em pilhas aeradas reviradas periodicamente, e a fase terméfila, que € acelerada por dispositivos de insuflag3o de ar e de revolvimento mecanizado. Segundo o IPT (1985), cidades com até 60 mil habitantes fazem a descarga dos caminhdes de lixo diretamente em uma moega de alimentacdo de uma esteira de cata¢do, de onde se separam os materiais reciclaveis, A seguir, @ fracdo orgénica remanescente sofre compostagem natural em um patio. Ao final, ‘o material é peneirado, separando-se rejeitos e 0 composto, Para populacdes entre 50 mil e 100 mil ha- bitantes, a principal modificagao dé-se na recepgao do lixo, que fica mais mecanizado. Nas cidades com mais de 300 mil habitantes, recomenda-se 0 processo de compostagem acelerada, em que a fase termé- fila é realizada em tambores rotativos ou por meio da aeragdo das leiras com ar insuflado. Naquelas que possuem entre 100 mil e 300 mil habitantes, deve-se realizar um estudo de viabilidade tecno-econdmica para determinar 0 processo mais adequado. Ainda segundo o IPT, a fraco organica deve ter as seguintes caracterfsticas para uma boa compostagem: pH préximo da neutralidade; relacao carbono/nitrogénio da cordem de 30/1; granulometria — evitar excesso de finos; umidade — entre 40% © 60%, Na Figura 9.10, apresentamos um esquema de usinas para compostagem para regides com até 60 mil habitantes onde se utiliza a compostagem normal, somente com reviramento de leiras. Qualquer que seja 0 processo, devemos ressaltar as vantagens da compostagem em relacao ao aterro, que séo: diminui- ‘Gao da area de aterros, disposicdo em aterros de materiais nao agressivos ao meio ambiente, reciclagem de materiais e gerago de empregos formais, substituindo os catadores, que se sujeitam a condicdes de trabalho insalubres, por empregos formais com condigdes e regime de trabalho adequados | FIGURA 9.10 Usina de compostagem de lixo para cidades | de até 60 mil habitantes (IPT, 1995). a Polo Batanga rodoviéria Peneiramento Esteira de Bioestabilizador do composto curado carregemento ee vig Chorume Comerciazagao a a Sg = <4 Lago de tratamento ot de chorume A de rejeitos ‘A vantagem da compostagem € a menor exigéncia de rea necesséria para sua instalagdo ¢ a re- ciclagem que propicia, Entretanto, essas vantagens $6 se efetivam quando ha demanda continuada para 0 composto. Quando a demanda € intermitente, seré necesséria a previsdo de areas para sua estocagem enquanto os interessados em utilizar o composto nao o retiram da usina, A incineracdo do lixo (Figura 9.11) € feita em usinas de incineracao, nas quais o lixo € reduzido a cinzas e gases decorrentes de sua combustdo. Por meio de instrumentacao e controle, a combustio pode ser otimizada, de modo a diminuir a quantidade de matéria apenas parcialmente oxidada, reduzindo os inconvenientes da disposi¢ao dos residuos sélidos restantes (cinzas) e das emiss6es gasosas e de fuligem, As cinzas assim obtidas, em volume bastante reduzido e mineralizadas, podem ser dispostas, sem incon- venientes, em dreas de dimensées reduzidas. [FIGURAS.1Y Incinerador de tixo (Cetesb, 1990). Vapor pare Turbina alee a gerador "Tremenhe de Disposttivo de alimentagao Recepgto Seida pare 8 chaminé Descarga de escéria Ventiador ‘As emissbes gasosas podem, também, ser langadas & atmosfera sern maiores inconvenientes arn- bientais (de contamina¢ao, poluigo por particulas ou poluicao visval), desde que se utilizem equipamen- tos de combate & poluicao. £ importante saber a composi¢ao da carga alimentada ao incinerador, pois suas caracteristicas podem determinar as condicdes de operagio ou mesmo inviabilizé-la. Assim, materiais ‘excessivamente timidos acarretardo um gasto excessivo de energia em razao da necessidade de secagem da carga. Por outro lado, a presenca de materiais que contém cloro, como plasticos do tipo PVC, pode, dependendo das condigdes de queima, provocar a formacao de furanos e dioxinas, compostos altamente toxicos e cancerigenos. Para evitar esse problema, deve-se, entre outros cuidados, processar a queima em temperaturas acima de 900 °C. {As principais vantagens da incineragio so a minimizagao de reas para aterro e para as instalagdes €.a possibilidade de sua utilizaco para alguns tipos de residuos perigosos, como os hospitalares, As des- vantagens sao, principalmente, 0s altos custos de investimento, operago € manutencao e a exigencia de pessoal qualificado para a operacio. ~ 152 a Escolha da alternativa ‘A determinacao da altemnativa mais viavel para cada local deve ser feita levando-se em conta nao s6 05 custos envolvides, mas também as caracteristicas socioeconémicas da regio, além de, principalmente, o custo ambiental. Para grandes comunidades, dificilmente uma solucao Gnica serd suficiente, devendo-se realizar um estudo para otimizar a localizaco das varias unidades, de modo a minimizar 0s custos e 0s impactos envolvidos. 9.8 Osresiduos perigosos Residuos perigosos so aqueles que podem ser nocivos, no presente e no futuro, a saiide dos seres humanos, de outros organismos e 2 meio ambiente. A definigao de residuo perigoso utilizada pela Agén- cia de Protegao Ambiental norte-americana é: “O termo residuo perigoso caracteriza um residuo s6lido ou uma combinagao de residuos s6lidos os quais — em decorréncia da quantidade, concentrago ou caracteristicas fisicas, quimicas ou infecciosas — podem: ‘© causar ou contribuir significativamente para o aumento da mortalidade ou para 0 aumento de doencas sérias ireversiveis ou reversivels incapacitantes; e ‘= significar um perigo presente ou potencial para a satide humana ou meio ambiente quando tratado, armazenado, transportado, disposto ou usado de maneira imprépria.” Diferentes pafses adotam praticas distintas para a identificacao de residuos perigosos, dependendo do residuo em si, do modo pelo qual € utilizado e de como foi e é disposto no ambiente. Geralmente, tais, residuos perigosos so apresentados na forma de listas de substancias ou de processos de inddstrias que ‘05 geram. AAlguns paises dispéem de normas ou regulamentagdes que estabelecem as concentragdes mé- ximas admissiveis para resfduos espectficos. Devemos, entretanto, observar que tais valores podem variar 120 longo do tempo, & medida que as formas de ocorréncia de determinadas substincias e seus efeitos nos seres humanos e no meio ambiente séo avaliadas de modo mais abrangente e preciso No Brasil, a preocupacao com o tema fica evidenciada nao s6 pela NBR 10004, como também pela atuacdo de érgaos de controle ambiental desde hé aproximadamente dez anos. Em varios estados —e particularmente no Estado de Sao Paulo —, essa preocupacao concretizou-se por meio da atuacéo da Cetesb em Cubatio (desde 1983), na Regido Metropolitana de Sdo Paulo (desde 1989) e em outras éreas industrializadas do estado. ‘A quantidade de residuos perigosos presentes no meio ambiente atualmente é bastante grande, 0 que torna complexa a apresentacio de uma classificagao universalmente aceita. Além disso, novas subs- {ancias tém sido dispostas no meio ambiente pelo homem a uma taxa elevada, o que torna tal classificagao mais dificil. Os problemas quanto a classificago e quanto ao estabelecimento de valores de concentra- des admissiveis prejudicam o estabelecimento de mecanismos legais sobre o assunto, ‘A Tabela 9.8 apresenta alguns exemplos da ocorréncia e geragao de residues perigosos, [ TABELA 9.8 | Exemplos ilustrativos de geragéo de residuos perigosos Setor | Fonte | Residuos perigosos | Servicos, Comércio * Veiculos | = Res{duos oleosos e Agricultura | © Aeroportos | © Oleos, fluidos hidréulicos etc, * Lavagem a seco | + Solventes halogenados Teoria) cepinind - omeiowmesm — | 453 ' (contin) Setor Indiistrias de pequeno € médio porte Indstrias de grande porte Fonte * Transformadores + Hospitais | Fazendas, parques municipais etc. * Tratamento de Metais (galvanizacao, eletrodeposicao etc.) « Fabricacao de tintas. | * Curtumes | + Proceso de extracao de bauxita: fabricagao de aluminio + Refinaria de petréleo * Producao de cloro Residuos perigosos Bifenilas policloradas (PBS) Res{duos patogénicos Residuos de pesticidas, ‘embalagens contaminadas | * Lodos contendo metais pesados * Solventes, borras, tintas * Lodos contendo cromo * Residuos de desmonte de cubas de redugo coleosos | * Catalisadores, residuos * Lodos contendo merciirio + Residuos de fundo de coluna de destilagao * Quimica Um levantamento efetuado pela Cetesb sobre a geracao e destinagao de residuos no Estado de S80 Paulo, cujos resultados foram apresentados em 1997 (Cetesb, 1997), revelou que a quantidade anual de residuos gerados nas principais areas industriais do estado era de, aproximadamente, 27 milhées de toneladas, das quais 540 mil toneladas eram de residuos perigosos. Na Tabela 9.9, so apresentados os dados relacionados & geragao de residuos, de acordo com a classifica¢ao da ABNT, enquanto a Figura 9.12 mostra a distribuigdo da destinagao final desses residuos. | TABELA 9.9 esiduos industriais gerados nas principais éreas industriais | do Estado de Sao Paulo (toneladas/ano) — (Cetesb, 1997). 47.420,2 | 4.205.907,5 | 991063,7 | 358°537,7 50.948,0 | 9.731.748,7 Bacia do Alto Paranapanema - Litoral Sul ‘Bacia do Parafba do Sul ~ Litoral Norte Bacia da Baixada Santista 419.840,6 | 10.202.537,3 18.731,3-| 1.863.999,4. Bacia do'Alto Tet (Reyido Metropolitana) | 176.670,7 |" T.668)507.4 | Bacia do Baixo Tieté 25.401,8 536.148,4 | 20,0 | 561.570,2 Bacia do Rio Grande 46.189,3 | 6.690.417,7 | 38.565,4'|""6.775.172,4 Bacia do Rio Parana 33.9314 | 134.744,2 | 513,0 | 169.188,6 55.9900 | 171510661] 7.406,0,|" 1.778.462, 535.615,1 | 25.038.167,7 | 1.045.895,7 | 26.619.678,5 Bacia do Rio Piracicaba Total Geral Nota: Os dados apresentados no consideram os residuos de rocha fosfética, bagago de cana e restilo. Inorg a engenharia ambiental “4 — cet [FIGURA 9.12 Destinacdo final dos residuos industriais no Estado de Sto Paulo (Cetesb, 1997). Infitrago no solo (058%) ‘Aero Municipal (1 39%) ‘Aterro Indusval (17,79) Disposigao ; (61,32 %) Lido (22,624) Alimentagio de animals (1,999) Langamento nos esgoros (0,679) Estocagem 6,15 %) Outros (16.38%) Pelos dados apresentados, verifica-se que a maior parte dos resfduos industriais gerados é disposta no meio ambiente, 0 que gera grande preocupacio, em raz3o da interacdo que existe entre 0 solo e os demais sistemas ambientais. Classificagdo dos residuos perigasos © Residuos biomédicos Residuos de hospitais, clinicas, laboratérios de pesquisa e companhias farmacéuticas apresentam ‘comumente caracteristicas patolégicas e infecciosas, Como exemplos, podemos citar: + residuos cindrgicos e patol6gicos; ‘+ animais usados para experiéncias e cadaveres; + embalagens e residuos quimicos e de drogas; + bandagens, panos e tecidos empregados em praticas médicas; * utenstlios usados tais como agulhas, seringas etc.; € * equipamentos, alimentos e outros residuos contaminados. Residuos quimicos e quimioterapicos, residuas organicos (solventes) e residuos radioativos nao s4o, normalmente, considerados como residuos biomédicos, embora possam ter sido gerados em atividades relacionadas. Isso decorre da especificidade desses residuos com telagao a0 manuseio e de normas ¢ le- gislacio pertinentes. Resfduos hospitalares s40, ou devem ser, incinerados no préprio local. As cinzas resultantes desse processo so dispostas em aterro sanitério. Caso essa incineragao nao seja efetuada, a disposicao de tais residuos 6 efetuada em aterros, sofrendo um processo de tratamento anterior & disposicio final. Deve-se cuidar para evitar a disposicao desses resicuos de forma inadequada na rede publica de esgotos sanitarios, evitando, assim, que possam atingir os corpos de 4gua utilizados, de alguma maneira, pela populagio. @ Residuos quimicos Situa-se nessa categoria uma grande quantidade de substdncias produzidas pela atividade indus- tial e utilizadas, de modo direto ou indireto, por grande parcela da sociedade atual. A preocupacdo com relagio a esses residuos ¢ relativamente recente, de maneira que a diminuigo dos impactos resultantes cdo emprego dessas substancias ainda nao € feita, em geral, de modo satisfatério. Teme-se que muitos dos problemas que tém sido detectados com relacao a esse tipo de polui¢ao representem apenas uma pequena parte de todos os problemas gerados no passado pelo mau uso e disposigto de residuos quimicos téxicos ‘no meio ambiente. Do ponto de vista tecnolégico, o tratamento necessério para diminuir o impacto do Uso dessas substancias varia de caso para caso, de acordo com sua natureza. Existe, aparentemente, uma tendéncia de se tentar amenizar o problema, mas os custos envolvidos nesses tratamentos podem ser ex- ccessivos para alguns agentes poluidores. Nao existe, presentemente, um modo seguro de avaliar 0 impacto produzido por muitas dessas substincias na satide das pessoas e no meio ambiente. Em primeiro lugar, tais substancias podem penetrar no ambiente de varias maneiras e propagar-se em uma velocidade que é fungo das caracteristicas pro- prias e do meio, Posteriormente, podem sofrer transformacdes que as tomem mais ou menos perigosas. ‘Além disso, em muitos casos, ainda no se conhece uma relacZo quantitativa entre sua presenca e os efei- tos por elas produzidos. Segundo Paracelsus (fisico e alquimista, 1490-1541), qualquer substancia pode set alimento ou veneno, s6 depende da dose. 3 residuos quimicos perigosos podem ser organicos ou inorganicos. Os residuos organicos per- sistentes (ou de lenta degradacao) so uma fonte de grande preocupagio e objeto de estudos, principal- ‘mente aqueles que podem sofrer bioacumuulagéo. Bifenilas policloradas e alguns pesticidas so exemplos tipicos, cuja presenca pode causar efeitos t6xicos agudos ou de longo prazo por serem carcinogénicos € mutagénicos. Muitos poluentes persistentes so formados pela queima de compostos clorados ou como subprodutos de fabricacao ou degradacao de determinadas substancias. Por exemplo, as dioxinas so um ‘grupo de substancias que resultam como subprodutos da fabricagao ou queima de clorofendis. Uma forma especifica de dioxina, 0 TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina), é considerada como sendo prova- velmente 0 composto quimico mais téxico existente (Davis e Cornwell, 1991). Muitos residuos quimicos inorgdnicos — como alguns compostos de mercirio, chumbo, cédmio e arsénio — s2o téxicos, mesmo em baixas concentrages. Tais compostos também podem ser bioacumula- dos nas cadeias alimentares e atingir concentragdes nocivas para os seres humanos e outros organismos. Esses metais téxicos so langados na atmosfera pela queima de determinadas substancias e também po- dem ser langados no meio aquatico, direta ou indiretamente, ou no solo. A existéncia de chuva dcida e 0 aumento da concentrago de gés carbnico na atmosfera diminuem o pH do meio aquatico. Assim, tais Ccompostos tornam-se mais solveis e, portanto, sao transportados mais facilmente no meio ambiente. E evidente que tais fatos acabam por enfatizar a existéncia de rotas poluentes que passam pelos meios atmosférico, aquatico e terrestre. € bastante comum, por exemplo, que tais residuos sejam dispostos 1no solo, mas, também, que uma disposicao inadequada acabe poluindo o meio aquatico subterréneo superficial. Conseqiientemente, a disposig3o de residuos perigosos no solo por periodos relativamente longos tem produzido efeitos deletérios nos aqitferos. Muitos aquiferos, necessérios para o abastecimento de populagdes ao redor do mundo, tém sido inutilizados dessa maneira Gestiio de residuos perigosos Como medida ideal, deve-se procurar efetuar a reutilizaco e/ou a reciclagem de residuos perigo- sos. Certos residuos, criados como subprodutos em determinados processos industriais, podem ser usados ‘como matéria-prima em outros processos industriais. Quando nao for possivel implantar alguma das alter- nativas anteriores, seja por raz6es tecnolégicas ou econémicas, esses residuos devem ser dispostos de ma- neira adequada, de modo a nao causarem danos ao meio ambiente e aos organismos que dele dependem. A disposigo a ser escolhida depende, entre outros fatores, da natureza do res{duo, das caracteristicas do meio receptor, das leis vigentes e da aceitagao da sociedade. E essencial que sejam conhecidas as quantidades de resfduos produzidas em determinados locais, bem como suas disposigdes espaciais e temporais, para que possam ser tomadas medidas adequadas para a minimizaco de seus efeitos. Assim, 0 monitoramento das quantidades e caracteristicas dos residuos manuseados é fundamental para avaliar os riscos envolvidos em seu uso, transporte, armazenamento € disposigio, além de, também, a eficiéncia esperada de atitudes a serem tomadas para minimizar os danos que os residuos possam causar. A questdo dos residuos perigosos e dos danos que podem causar em qualquer uma das fases de sua existéncia tem causado grande discussao intemacionalmente. Da mesma maneira que os residuos perigo- sos, substancias geradas pela tecnologia e que nao sio classificadas como residuos podem, por si s6, gerar srandes danos ambientals e & satide dos seres humanos. Vérios acidentes industriais, como os ocorridos ‘em Seveso (Ita) e Cubatdo, tém mostrado a gravidade desse problema ao longo do tempo. Acidentes com tais resfduos podem envolver mais de um pais como recepior, constituindo uma forma da chamada ‘poluicdo transfonteirica’. O transporte, por qualquer via, de substancias perigosas, pode originar acidentes de grandes proporcdes e, muitas vezes, em locais distantes dos centros produtores e consumidores das substancias transportadas. Em outros casos, a disposicao desses residuos é tio mal aceita pelos habitantes de certos pafses que se institu a prética de exportartais residuos para outros paises que os aceitam em troca de alguma forma de pagamento. Aparentemente, embora todas as comunidades do queiram sofrer os danos causados pelo uso dessas substincias, nem sempre as pessoas se mostram ispostas a deixar de consumir bens que utilizam esses compostos. Iso ocorre, frequentemente, por falta de conscientizagao adequada de produtores e usuarios. Algumas medidas sobre a gestdo dos residuos perigosos propostas pelo Comité Preparatério da Conferéncia das aces Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocortida no Rio de Janeiro ern 1992, sao: ‘+ promover a prevenc3o ou a minimizagao da producao de residuos por meio de métodos de produgo mais ‘limpos’, evitando o emprego de substincias perigosas; sempre que for possivel substitut-las por outras ou pela reciclagem, reutilizago, recuperaco ou usos alter- nativos dessas substancias; * aprimorar 0 conhecimento e a informacao sobre os aspectos econdmicos envolvidos na gestdo desses residuos e sobre os efeitos produzidos por essas substancias sobre a satide dos Corganismos e sobre o meio ambiente; ‘+ promover e fortalecer a capacitacao institucional para prevenir e/ou minimizar danos para geriro problema; e ‘+ promover e fortalecer a cooperacao internacional relativa a gestdo de deslocamentos trans- fronteiricos de residuos perigosos, incluindo monitoramento e controle, de modo consisten- te com os instrumentos legais fegionais e internacionais. Tratamento ¢ disposigdo de residuos quimicos perigosos Uma das maneiras mais comuns de abordar a questo dos residuos perigosos € pelo tratamento e/ ou disposigéo adequada. Todavia, a experiéncia tem demonstrado que nem sempre tal abordagem é satis- fat6ria, ocorrendo 0 retorno dessas substancias de modo indesejado e nao controlado ao meio ambiente por causa da ineficiéncia das medidas tomadas para evitar esse retorno. (Os métados mais comumente empregados para a disposigao de residuos perigosos esto apresenta- dos de forma resumida a seguir (Miller, 1985): © Disposigiio de residuas perigosos no solo Entre as formas mais comuns de disposicao no solo, encontram-se os aterros de armazenamento, as. lagoas superficiais, 0 armazenamento em formagbes geologicas subterraneas e as injegBes em pogos. O objetivo basico dessas alternativas ¢ evitar a circulacao dos residuos perigosos no meio ambiente, embora nem sempre isso seja conseguido com sucesso. Para todas as altemativas anteriormente citadas € evidente a possibilidade de poluigao de aqui- feros e de corpos de gua superticiais em fungao de falhas nos sistemas de armazenamento. Assim, um dos requisitos fundamentais a ser observado no projeto, construgao e manutengdo de tais instalagdes € a impermeabilizagao adequada do meio. Obviamente, tal observacao nao é valida para o caso de injego de pocos, que polui os aqiifferos diretamente. Tal pratica, usada extensivamente no passado, resultou em grandes danos aos usuarios dos recursos hidricos subterraneos, pois como a égua subterranea, entre outros aspectos, move-se de modo bastante lento, esses mananciais podem permanecer poluidos por varios anos ‘ou décadas depois de ser interrompido 0 despejo de poluentes em seu interior. ‘Algumas substancias so dispostas em tambores, os quais sao posteriormente aterrados como alter- nativa de disposi¢do. infelizmente, a experiéncia tem mostrado que esses tambores sofrem comumente um processo de deterioracio, permitindo a liberacao de residuos perigosos no meio ambiente. Tais aterros de- vem ser considerados obras de engenharia, pois devem apresentar projeto, construcao e acompanhamento posterior adequados para se minimizar possiveis danos decorrentes de seu mau funcionamento. Essas formas de disposigao nem sempre diminuem a periculosidade das substancias envolvidas, por is30 elas ndo so normalmente recomendadas, a ndo ser como tiltimo recurso se outras formas de disposi- 40 descritas adiante nao forem adotadas. © Tratamento dos residuos Tal tratamento consiste em transformar, de algum modo, esses residuos em materiais menos peri 050s. De acordo com a transformacio empregada, os tratamentos podem ser classificados como fisicos, uimicos ou biolégicos. Evidentemente, podem existir processos de tratamento que utilizam mais de uma forma de transformacio, assim como alguns processos de tratamento de esgotos domésticos. Tratamento biol6gico: Os compostos quimicos gerados pela tecnologia sio relativamente persis- tentes no meio ambiente. Aparentemente, isso pode ocorrer porque os organismos existentes nem sempre roduzem as enzimas necessarias para processar es3as substancias. Tadavia, um grande ndmero dessas substancias pode ser degradado por microorganismos (Davis e Cornwell, 1991). Além disso, novos mi- ‘croorganismos gerados pela Engenharia Genética parecem constituir uma alternativa promissora para esse fim, Metodologias comumente empregadas para o tratamento biolégico de esgotos domésticos, como lodos ativados e filtros biol6gicos, tam sido utilizadas, com sucesso, para o tratamento de certos residuos pperigosos. Tais metodologias tém sido estudadas e adaptadas para cada situacao em particular. De acordo com Henry e Heinke (1989), alguns materiais toxicos como fenbis, éleos e residuos de refino de petréleo tém sido tratados biologicamente com sucesso. Por outro lado, 0 sucesso relativo do tratamento biolégico de residuos que contém metais pesados parece ser mais modesto, embora seja posstvel, em alguns casos, alcangar taxas de remogo acima de 60%. > Tratamento fisico-quimico: O tratamento fisico-quimico de residuos perigosos consiste, basicamen- te, em separd-los da soluco aquosa que os contém. Os residuos continuam téxicos apés a separacdo, mas esse tratamento permite que eles sejam recuperados ou concentrados para tratamento posterior. Entre os processos de tratamento fisico-qufmico podem ser citados: a adsorcao por carvao ativado, a destilagao, a troca iénica, a eletrodilise, a osmose reversa e a recuperacdo de solventes. Cada um desses processos € mais adequado para um determinado residuo perigoso, devendo-se realizar, para cada caso, tum estudo especifico que determine a melhor alternativa Tratamento quimico: © tratamento quimico tem como base as reagdes quimicas como, por exem- plo, a neutralizagao de écidos e bases, a oxidacao e reducio dos compostos, a remocao de metais pesados por meio de precipitagao ete. Em alguns casos, a incineragao desses resfduos pode ser uma alternativa viavel, desde que as cinzas da combustdo sejam dispostas de maneira adequada. A incineraczo nem sempre é bem aceita pela popu- lacdo, por isso, em alguns paises, foi implantada a alternativa de efetué-la em embarcagées ocednicas em pontos distantes da costa (Miller, 1985). Todavia, existe oposicao contra essa medida, principalmente em fungdo da possivel ocorréncia de acidentes envolvendo tais embarcacées. Na Regido Metropolitana de Sao Paulo, conforme estudos da Cetesb apresentados em um Encontro Técnico realizado em julho de 1990, os residuos perigosos industrials tem a seguinte destinacao: pouco menos de 10% so estocados, aproximadamente 45% sio tratados e os cerca de 45% restantes sio dis- postos no solo. Esse estudo nao informa sobre a adequacdo dos tratamentos, mas afirma que a totalidade dos residuos dispostos no solo ocorre de modo impréprio (por simples descarga em lixdes ou em aterros sanitarios municipais nao preparados para esses tipos de residuos) e que, na grande maioria dos casos de estocagem, hé contaminagao do solo e das aguas subterraneas nas reas do entorno. ‘razao principal apontada como causa dessa situagao é que os sistemas de fiscalizacdo e controle so relativamente novos € nao tém ainda a extensdo e a eficiéncia de atuagao suficientes para intimidar € punir os poluidores infratores e para sensibilizar e formar, na sociedade e na opiniao publica, os grupos de pressio necessdrios. Para o poluidor industrial, os custos derivados de degradacao da imagem da em- havi cunbiental pee y y en) y presa que se refletem nos resultados financeiros da producdo sdo menores, em muitos casos, do que os custos alternativos nos quais ele teria de incorrer caso implantasse tratamento, disposi¢ao ou estocagem adequados. © Remediagtio de agiferos Embora a disposi¢ao inadequada de residuos perigosos possa afetar qualquer corpo de égua, grande énfase tem sido dada a questio da agua subterranea. Conforme dito anteriormente, 0 tempo de transito caracteristico de poluentes em aqilferos é, em geral, bastante lento quando comparado com os tempos de transito caracteristicos observados em corpos de agua superfciais. Conseqtientemente, cada vez mais nos deparamos com danos iniciados em passado relativamente distante que provocaram a inutilizacao de certos agiiferos para uso presente e futuro. Infelizmente, tas préticas de despejo continuam acontecendo hoje em dia, em escala alarmante, em muitas regides do mundo. ‘A remediacao de aqiferos visa & melhoria da qualidade daqueles que estio contaminados e con- siste de dois aspectos principais (Fetter, 1993). Em primeiro lugar, busca o controle da fonte poluidora, a qual, inimeras vezes, é formada por residuos perigosos. A segunda parte da remediacao € 0 tratamento da {gua polutda e/ou do solo adjacente, de modo a retirar os poluentes ou, entdo, diminuir significativamente suas concentracbes. Normalmente, quando um aqiiffero foi poluido hé bastante tempo, uma grande regio foi afetada pela presenca de residuos. Portanto, a remediacao costuma ser uma abordagem bastante cara e demora- da, sendo adotada quando nao existe no local um manancial alternativo de recursos hidricos, ou, entdo, quando os danos ambientais causados por esses residuos s30 considerados inadmissiveis. 99 Residuos radioativos Radiagées Aluz solar que recebemos é energia radiante, resultado de reagdes nucleares no interior do Sol. Ela chega até a Terra por meio de varias espécies de radiagdes: na forma de luz, ladeada pelos raios infraver- melho e ultravioleta e na forma de ondas eletromagnéticas, como ondas de radio e raios, como 0 raio X, 05 raios g, 0s raios cosmicos etc. Foi essa energia, a0 proporcionar reagdes como a fotossintese @ outras, que provavelmente originou a vida na Terra e permitiu todo seu desenvolvimento. £ claro que, paralelamente ‘205 seus efeitos benéficos, existem também os efeitos indesejaveis, resultantes das exposigdes descontro- ladas a essas radiacdes. A propria natureza vai procurando se defender desses efeitos nocivos, criando condiges de defesa como, por exemplo, a camada de oz6nio. ‘Os minerais radioativos emitem essas radiagdes em quantidades variaveis, que podem ser ativadas a partir de processos antficiais de excitacao. O niicleo do stomo é formado de um conjunto de protons (car {ga positiva) mais néutrons (sem carga), os quais Ihe dao o ‘ndmero de massa’ e tem em Orbita, & sua volta, uma série de elétrons (carga negativa), Uma pergunta que normalmente um leigo faz & “Como é possivel que esse niicleo nao se desintegre em razdo das cargas elétricas que 0 compdem, uma vez que a forga nuclear entre dois protons continuos cerca de um milh3o de vezes maior que a repulsdo elétrica? *. ‘A resposta consiste na admissdo de forgas nucleares, sempre atrativas, que mantém os protons uni- dos e que devem ser muito grandes. Verificou-se, ao longo do tempo, que existe no atomo uma série de particulas diferentes que paricipam do processo de equilibrio energético e que explicam a agéo dessas forcas nucleares. Quando a relacdo de energia entre prétons e elétrons nao é estavel, aparecem fendmenos rnucleares que tendem a promover a estabilizaco. Daf resultarem as radiagées, que podem ser detectadas seja por chapas fotogréficas, seja por equipamentos especiais: cAmaras de ionizacao, contadores Geiger, contadores de cintilagao ou cintiladores etc. ‘As radiaces funcionam como uma espécie de valvula de escape do ndcleo e apresentam-se prin- cipalmente na forma de: 7 Coinind ~ omeonereene — | 159 | Radiagoes alfa (x): particulas emitidas geralmente por nticleos mais pesados, compostas por dois protons e dois néutrons. Tém carga positiva (+2) e massa (4) semelhante ao néicleo do hélio; possuem alto poder de irradiacao, mas pequeno poder de penetracao. Podem ser bloqueadas pela pele ou por uma folha de papel. Possuem um alcance da ordem de um centimetro no ar. Quando um 4tomo emite uma particula a, ele tem seu nimero atdmico reduzido de duas unidades e seu ntimero de massa diminutdo de quatro unidades, passando a ser outro elemento quimico. Radiagdes beta ®): sao particulas emitidas pelo niicleo, dotadas de carga negativa unitaria e identificadas como elétrons. Tém baixo poder de ionizagao e um bom poder de penetracao; podem atravessar a pele, mas so bloqueadas por uma chapa de metal. Quando um atomo ‘mite uma particula B, seu nmero atémico aumenta de uma unidade e mantém 0 nmero de massa. * Radiacdes gama (): s40 ondas de origem eletromagnética, semelhantes ao raio X, que se movem a velocidade da luz. Com grande poder de penetrac3o, tém, porém, baixo poder de ionizago. Na emissdo de radiagdes'y ndo ha variagbes dos ndmeros atomicos ou de massa. Seu alto poder de penetrago possibilita sua utilizag3o em varios campos das necessidades humanas, mas é preciso que elas sejam muito bem controladas por causa do perigo que representam, dependendo do grau de exposigo. Podem ser bloqueadas por chumbo, con- creto e, em casos especiais, por grandes massas de agua. * Raios césmicos: fixes de protons de alta energia; sAo a maior fonte de energia do Universo, ‘mas representam um enorme perigo para as viagens do homem no espaco interplanetirio. Sua existéncia foi descoberta por V. Hess, em 1911. O Sol 6 0 maior emissor desses raios e existe, circundando a Terra, um cinturdo de raios césmicos — Cinturdo de Van Allen —, cuja altitude varia com a longitude, podendo ir de 400 km a 1.300 km. Esses raios césmicos so 0s responsdveis pela formacdo de carbono 14 (C 14). © Desintegragio Estudando as radiagées, verificamos que, com a perda dessas particulas e energias, 0s Stomos vo se desintegrando paulatinamente. A probabilidade de ocorréncia de uma desintegragao, a cada segundo, de um tomo radioativo é dada por uma constante (p). Embora essa desintegracdo possa ser postergada por longos perfodos de tempo, o valor de p mantém-se constante. Quando se estuda um Gnico étomo radicativo, é muito dificil avaliar essa constante de desintegragao, mas, quando se tem uma quantidade muito grande de dtomos, essa probabilidade pode ser avaliada medindo-se a quantidade de atomos que se desintegram com relagdo ao ntimero inicial. © Meia-vida A probabilidade p de desintegracao de cada atomo ndo muda e, com o tempo, existitio menos sto- mos radioativos e, portanto, menos desintegracdes por segundo. Convencionou-se considerar, para efeito de controle e planejamento de aco, o tempo no qual a amostra tem a metade dos seus étomos desintegra- dos como uma variével, dando-lhe o nome de ‘meia-vida’. Logicamente, como a probabilidade p no muda e apenas o némero N de atomos € diferente, a desintegracdio da nova metade dessa amostra deve levar o mesmo intervalo de tempo. O modelo aqui utilizado é 0 da reacao de primeira ordem, 8 semethanca do que se utilizou no caso do estudo da variacao da DBO em um curso de Agua (Capitulo 8). Nene Not eh a t 32693 ee *Unidade de carga é a carga de um elétron, onde N,,€ 0 ntimero de stomos no instante zero; N, é 0 ntimero de Atomos no instante f; k 6a constante de desintegracdo e £€ 0 tempo. No calculo da ‘meia-vida’ de uma amostra ¢ feita a contagem de atomos radioativos ao longo de varios intervalos de tempo, e esses resultados sao apresentados em um gréfico monologaritmico, que deve- 1 representar 0 decaimento da amostra como uma reta, da qual se deduz sua ‘meia-vida'’. Na ‘meia-vida', © nimero de tomos passa de N para N/2 Exemplo: em uma amostra de U 238 (uranio 238) com mil atmos, apés 4.51 x 10? anos, 500 dto- imos se transformardo em t6rio 234, Os 500 étomos restantes passarao a atuar como um todo e, apds 4.53 x 10? anos, 250 atomos desse novo conjunto de uranio 238 serdo transformados em tério 234. Medida das radiagdes ionizantes Aunidade de medida de radiagao é 0 Curie. Uma quantidade de material radioativo, na qual ocor- ram 3,7 x 10"°desintegracdes por segundo, é igual a 1 Curie (Ci). A quantidade real de material que produz 1 Cié varidvel em fungao do tipo de material. Um grama de radio é igual a 1 Ci, enquanto somente 107g de um recém-formado isétopo radioativo de s6dio produzem o mesmo ndmero de desintegra¢des por se- gundo. Em geral, 1 Ci é uma quantidade muito grande de radiaco e seus submiiltiplos sao freqilentemente utilizados: mCi (milicurie), wCi (microcurie), nCi (nanocurie) e o pCi (picocurie}. ‘A dose de radiacao recebida por um individuo pode ser avaliada por meio das seguintes grandezas: * exposi¢do 6 a medida da capacidade dos raios y ou x de produzir a ionizago do ar. Um Roentgen (R) é a quantidade capaz de produzir 2,58 x 10“ Coulombs de carga elétrica em um quilograma de ar seco & temperatura e pressdo normais; + dose absorvida é a quantidade de energia depositada pela radiagao ionizante em um deter minado volume conhecido. € mais abrangente que a 'exposigao’, pois é valida para todas as radiacées (x, 0, B € 7) e para qualquer material absorvente. A unidade antiga é 0 rade a nova, 0 Gray (Gye \ © dose equivalente completa a definicio da quantidade de energia absorvida e considera fatores como 0 tipo de radiag3o ionizante, a energia recebida e a distribuicao da radiagao no tecido para que se possa avaliar os possiveis danos biolégicos. Praticamente é a ‘dose absorvida’ multiplicada pelo fator de qualidade Qe o fator N, O fator de qualidade Q (Ta- bela 9.10) relaciona o efeito dos diferentes tipos de radiacao em termos de dano. O fator N permite avaliar a influéncia do radionuclideo depositado internamente. A unidade antiga € © Roetgen Equivalent Man (REM) e a unidade nova é o Sievert (Sv). As diferentes unidades de medida relacionadas com a radioatividade esto resumidas na Ta- bela 9.10 [ TABELA 9.10 Valores de Q para diferentes tipos de radiagbes ionizantes (CNEN, 1988}. Raios X, gama e elétrons 1 Protons € particulas com uma (1) unidade de carga” com massa de repouso miaior que a unidade de massa atémica € de energia desconhecida 10 Néutrons com energia desconhecida 20 Particulas alfa e demais particulas com carga superior a uma (1) unidade-de carga" 20 Cited - Omioemsin | 16] TABELA 9.11 a ‘Medidas de radiagdes ionizantes. SGrandeza Blinbole Eanes Se Exposig¢ao. R 2,58 x 10+ C/kg Qiks 3,88 x 10°R Dose absorvida antiga: rad rad 10° kg, nova: gray Gy 100 rad Dose equivalente antiga: REM REM 107 Wkg.Q.N nova: Sievert Sv 100 REM Geragio de residuos radioativos 'A partir do instante que o ser humano aprendeu a dominar 0 dtomo, © que ocorreu no inicio da década de 1940", a nossa sociedade tem se confrontado com 0s residuos, ou rejeitos, radioativos. Amaior parte dos rejeitos radioativos 6 proveniente da produc3o de armas nucleares, produgao de combustiveis para usinas nécleo-elétricase sistemas de propulsao, operacao das usinas nécleo-elétricas,atividades de pesquisa e aplicagées médicas, entre outras. (0s rejeitos radioativos podem se apresentar nas formas s6lida,liquida ou gasosa. E, como nao & possivel destruir a radioatividade, a esratégia utilizada para o gerenciamento dos rejeitos é 0 seu confi rnamento em local seguro. Para 05 rejeits radioativos Iiquidos e gasosos, € possivel adotar dois procedi- mentos:retenco para reducSo do nivel de atividade, com posterior lancamento para o meio ambiente, cu separacdo dos contaminantes radioativos por métodos adequados, de maneira que eles possam ser gerenciados como rejeitos sélidos. No intuito de preservar a satide e gatantir a seguranca contra os efeitos da radiagdo, foi desenvolvida uma regulamentacdo especifica para o gerenciamento dos rejeitos radioativos. A classificagao brasileira ba- seia-se nas normas da Agéncia Internacional de Energia Atomica (AIEA). De acordo com a norma CNEN-NE- 6.05, que trata da Geréncia de Rejeitos Radioativos em instalag6es Radioativas, (CNEN, 1985), os rejeitos so classificados com base no seu estado fisico, natureza da radiagao, concentragao e taxa de exposicao. Existem basicamente tr classificagdes para 0s rejitos radioativos, que é fungao de atividade espe- cifica ou da taxa de exposigzo, conforme apresentado na Tabela 9.12. TABELA 9.12 Classificagéo dos rejeitos radioativos (CNEN, 1985) 3,7x10%« C Cs 3,7x10" Baixo nivel | | $3,7x10% | <3,7x10" Médio nivel 3,7x10%3zei0% | C>3,7x108! —X>500 | C>3,7x10% | C>3,7x10" T A primeira reapao em cadela auio-sustentdvel ocorreu em 2 de dezembro de 1942 (CNEN, 2004a). = = af s 2 £ 3 4 4 4 a 4 4 q A 4 Para um melhor gerenciamento, os rejeitos radioativos devem ser segregados, separados, no ponto de geracao, de acordo com as seguintes caracteristicas: 1) sélido, Iiquido e gasoso; 12} meia-vida (curta ou longa); 3) compactaveis ou ndo compactaveis; 4) orginicos ou inorgénicos; 5) putresciveis ou patogénicos, se for 0 caso; 6) combustiveis ou nao combustiveis; e 7) outras caracteristicas. ‘Ap6s a segregacio e o acondicionamento adequado, os reeitos so identificados e encaminhados para tratamento ou disposigao final. 5 rejeitos radioativos podem ser constitufdos de diversos materiais, como lamas, borras,liqu rmetais, madeiras, tecidos, papel, plistico e vidro, entre outros. Um exemplo da composicéo de rejeitos radioativos sdlidos gerados em reatores nucleares a agua pressurizada é apresentado na Tabela 9.13. | TABELA 9.13 Composigio dos rejeitos radioativos solidos gerados em reatores nucleares (EPRI, 1991). Plisticos Madeira Papel Eletrodutos. Roupas | Tubos e valvulas \ | 34 Material absorvente™ ee eee ee i Borracha 6 Madeira 3 Material nfo compactavel | 1 Metal 3 Filtros 2 Detritos 1 Video <1 | Vidro 4 | Outros 19 © que distingue os rejeitos radioativos apresentados na Tabela 9.13 dos residuos gerados nas demais atividades humanas é que os mesmos se apresentam contarinados por elementos radioativos, resultantes da fiss2o do urdinio e da ativagao de elementos naturais, que foram irradiados nas proximidades do néicleo do reator, A Figura 9.13 mostra a distribuigdo isotépica nos rejeitos compactaveis. FIGURA 9.13 oe Composigo isordpica dos rejeitos radioativos | slides, compactéveis (EPRI, 1991) Fess 16% Neos Em uma usina nuclear também so gerados outros tipos de rejeitos, como gases de exaustdo da contencao do reator e demais edificagées onde ha manipulagao de materiais radioativos, 4gua radioativa do circuito de resfriamento do reator e do circuito de geracao de vapor, rejeitos liquidos resultantes dos processos de decontamina¢ao, os quais s0 coletados e encaminhados para tratamento. Para o tratamento e gerenciamento dos rejeitos gerados em reatores nucleares, pode-se lancar mo dos seguintes procedimentos: ‘+ armazenagem para decaimento radioativo e lancamento para o meio ambiente (geralmente utilizado para gases, mas também pode ser utilizado para sélidos e Iiquidos com baixo nivel de atividade, contendo radionuclideos de meia-vida curta); + adsorgo em carvao ativado (gases); + adsorgao em material absorvente (Ifquidos orgénicos); « tratamento por troca idnica (rejeitos liquidos com baixo nivel de atividade); * tratamento por evaporagaio (rejetos Itquidos de média atividade); + imobilizago em matriz de cimento, polimérica ou betume (concentrados, resinas de troca ionica e rejeitos nao compactivels, entre outros); + compactacao (rejeitos sélidos compactiveis); * incineragio (rejeitos solidos e fquidos, combustiveis); © * vitrficagao (concentrados, lamas e cinzas com médio e alto niveis de atividade). ‘Ap6s 0 seu processamento, 0s rejeitos remanescentes, geralmente na forma s6lida, sao acondicio- rnados em embalagens adequadas e encaminhados para um local de armazenagem, cujo projeto é desen- volvido visando a0 confinamento seguro dos mesmos em seu interior. ‘Ainda com relac3o aos rejeitos gerados em usinas nucleares, deve-se dar atencdo especial aos combustiveis nucleares irradiados. Esse tipo de material, em decorréncia do alto nivel de atividade, deve ter um programa de gerenciamento especifico, sendo que, apés a sua remogao do niicleo do reator, ele permanece em uma piscina de estocagem, por pelo menos cinco anos antes de poder ser transferido para outro local. A razio para isso é que a agua fornece uma efetiva barreira contra a radiacao, além de promover a remogao do calor residual gerado no processo de decaimento radioativo. Decorrido 0 perfo- do necessério para 0 decaimento, os elementos combustiveis podem ser acondicionados em recipientes, adequados para posterior disposicao em um repositério ou podem ser processados para recuperagao de elementos de interesse. Os rejeitos resultantes das demais atividades humanas também séo clasificados e gerenciados uti- lizando-se os mesmos procedimentos que aqueles utilizados em instalagdes nucleares — resguardadas as peculiaridades encontradas em cada situagao. Ffeito bioldgico das radiagées O omganismo € uma estrutura cuja menor unidade é a célula, a qual é formada por moléculas € ‘tomos. Os principais efeitos biolégicos produzidos pela interacdo das radiacées ionizantes com esses tomos e moléculas sao: * o primeiro fendmeno & fisico, com a ionizagao e a excitacao dos stomos; + 0 seguinte é quimico, no qual ocorrem rupturas de ligagdes quimicas; * por fim, aparecem os fendmenos bioquimicos ¢ fisiol6gicos, cujos mecanismos s80 ainda desconhecidos; e ‘+ aps um certo intervalo de tempo, aparecem lesbes. Os efeitos causados pelas radiagdes podem ser reversiveis, se houver a possibilidade de restaurago da célula, parcialmente reversiveis ou mesmos irreversivels, no caso do cancer e da necrose. © tempo que decorre entre a contaminacZo e o aparecimento do dano € importante para que se ppossa tomar providéncias de seguranca. No caso de doses elevadas de radiaco, esse tempo é mais curto, @, no caso de exposigdes cronicas, esse perlodo pode ser muito longo. Para que 0s efeitos biolégicos se manifestem, a radiag3o deve ser superior a um certo valor minimo, chamado ‘Limiar’, mas isso no significa que, para doses menores, ndo ocorram contaminacées. Efeitos biolégicos ndo aparecem por restaura¢3o da célula ou por sua substituicao por célules jovens. Nem todas as células responder igualmente & mesma dose de radiacao; elas tém diferentes sensibilidades, que sao diretamente proporcionais a sua capacidade de reproducao. Na Tabela 9.14 s80 apresentados os efeitos, em um adulto, da exposicao aguda 2 radiacao. TABELA 9.14 = Efeitos da exposigéo aguda a radiagao em um adulto (CNEN, 2004 b). Infractinica <1Gy ‘Auséncia de sintomas. Reacoes gerais leves /taZy, Astenia, néuseas e vomitos (3h a 6h 5 ‘ap6s a exposicdo © sedacdo apés 24h). Hematopoiética leve 2a4acy Funcao medular atingida (linfopenia; leucopenia; trombopenia; anemia). Recuperagao em 6 meses. 4a6Gy Fungdo iedular gravemente atingida. 4245 Morte de 50% dos individuos expostos. Gastrintestinal 6a7Gy Diarréia, vomitos e hemorragias. Morte em 5 ou 6 dias. Insufciéncia resprat6ria aguda, Pulmonar Ba9Gy coma e morte entre 14h e 36h. Cerebral >10Gy ‘Morte em poucas horas por colapso. a wed A dose absorvida para esterilizacao temporéria do homem e da mulher equivale a 0,3 Gy e 3 Gy respectivamente, enquanto a esterilizacao definitiva ocorre com doses absorvidas de 5 Gy para homens e 6 Gy a8 Gy para mulheres. Para 0 caso de mulheres em fase fértil, a dose maxima admissivel no abdomen é de 10 mSv em qualquer trimestre consecutivo; e a dose acumulada no feto, durante 0 periodo de gestacao, nao deve ultrapassar 1 mSv (CNEN, 1988) Normalmente, as alteragdes causadas nas células ndo sao transmitidas para outras células, a menos que sejam atingidos os érgos que provoquem efeitos hereditarios (6vulo ou espermatoz6ide). Os efeitos das radiages dependerao dota): 1) tipo de radiagao ionizante; 2) profundidade de penetracao, que é fungao da energia de radiacao; 3) meia-vida biol6gica (se ingerido); 4) 4rea ou volume do corpo exposto & radiacao; 5) dose absorvida; 6) atividade da fonte de radiagac 7) meia-vida do elemento. Com vistas & protegao do ser humano contra os efeitos da radiacdo so estabelecidos, na norma. a de Diretrizes Bésicas de Radioprotecdo, os limites primérios anuals de dose equivalente (Tabela 9.15), 3s, quais se pode ficar exposto sem softer dano a satide. [ TABELA 9.15 5 | Limites primrios anuais de dose equivalente (CNEN, 1988). = Dose equivalenté para érgao ou tecido 500 msv Timsviiv, > Dose equivalente para a pele 500 mSv 50 mSv a Dose equivalente para o cristalino 150 mSv 50 mSv A Dose equivalente para extremidades a (maos, antebracos, pés e tornozelos) 500 mSv _ ww, ~ fator de ponderagao para érgio ou tecido. ~ Exposigdo as radiag6es ionizantes 7 Mesmo que ndo ocorra o desenvolvimento de atividades relacionadas ao uso da energia nuclear, an ‘0 ser humano esta exposto as fontes naturais de radiacao, como raios césmicos e ondas eletromagnéticas. - provenientes do espaco e decaimento de isétopos radioativos naturais, entre outras fontes. Além das fontes es naturais, atualmente o ser humano est exposto a novas fontes de radiagao, muitas das quais foram de- . senvolvidas para propiciar a melhoria da nossa qualidade de vida, enquanto outras foram desenvolvidas para a destruigao da vida humana. A Figura 9.14 mostra as principais fontes de radiagao as quais estamos a expostos, ~ 166 mane | FIGURA 9.14 Fontes de radiagao as quais 0 homem estdexposto (média mundial) Alimentos Agua 8% Exposiga0 medica Radénio 20% (exposicio Interna} 43% Raios ésmicos a Radiagdo gama da Tera 15% Nas nossas atividades dias, 0 risco de exposigao a niveis elevados de radiagao é muito pequeno, a menos para aquelas pessoas cuja atividade esti diretamente relacionada com o uso ou manipulacao de tmateriais radioativos ou fontes de radiaco, ou, entdo, quando da realizagao de exames laboratoriais com tragadores radicativos ou exames radiol6gicos. Outra condigdo que pode resultar na exposicdo a niveis, elevados de radiacdo sao 0s acidentes em instalacdes nucleares ou radioativas ou, ainda, com fontes de radiacao. Nos casos em que a exposi¢io a radiagio € feita de maneira controlada, 0s riscos so mfnimos — uma vez que todos os procedimentos utilizados so desenvolvidos por meio de procedimentos devi- cdamente planejados e controlados. Nessas condices, os beneficios resultantes do uso da radioatividade superam 0s riscos que poderao resultar dessa exposi¢do. Jé em condigées de acidente, os niveis de radiac3o podem ser muito superiores 20s limites conside- rados seguros, tendo como agravante que, além da exposicao extema, pode ocorrer a exposicdo interna, quando ha ingestdo, inalagéo ou absorcao de materiais radioativos. ‘Aseveridade do dano causado pela exposigio & radiacao depende da fonte de radiagao, do tempo de exposigao e da distancia entre a fonte de radiagao e 0 receptor. ‘Com relagio & exposigio externa, a severidade do dano dependerd do poder de penetracao da radiacdo e da atividade da fonte, além da distancia entre a fonte e o receptor. Para a exposicéo interna, 0 fator mais importante é a energia associada a radiacao. ‘O controle da exposicio 2s fontes de radiagio deve ser feito por meio de medidas administrativas e estruturais. As medidas administrativas consistem em limitar 0 acesso a fonte de radiago, por meio de classificacao de 4rea, restricdo de acesso e outras medidas que impegam ou limitem o acesso das pessoas as fontes de radiacao; j4 as medidas estruturais consistem na utilizacdo de barreiras fisicas para confinar a fonte de radiagio e reduzir a niveis aceitaveis a taxa de dose nas reas em que ha circulag80 de pessoas ou ocupacio. Sa Ip f O meio atmosférico 10.1 Atmosfera, caracteristicas e composigiio A atmosfera da Terra, na sua composigao atual, € fruto de processos fisico-quimicos e biol6gicos iniciados ha milhdes de anos. Varias so as teorias que procuram explicar sua origem e evolugao. Uma das hipéteses aceita hoje é de que a Terra, ainda sem atmosfera, formou-se a partir da acumulacdo de particu- las s6lidas e relativamente frias dos mais diversos tamanhos, procedentes da nuvern de gas e poeira que originou o Sistema Solar. As reagGes térmicas que se seguiram, tanto por processos radioativos quanto pela sedimentacao de elementos mais densos (por efeito gravitacional) em direcdo ao centro da Terra, provoca- am 0 aumento da temperatura terrestre. Essas mudancas desencadearam reagdes nas camadas superticiais da Terra, dando origem a atmosfera. Em uma primeira fase, a atmosfera era formada basicamente por gas carbonico (CO,) e vapor de agua, com auséncia de oxigénio live. Com o surgimento dos oceanos, em virtude do resfriamento da Terra, a partir de um processo evolu- tivo, foi originada a primeira planta capaz de realizar fotossintese, responsével pela formacao do oxigénio livre. Apés um longo perfodo de evolugao, a concentragao do oxigénio na atmosfera foi aumentando, até atingir os niveis atuais. Além do oxigénio, a atmosfera terrestre contém outros gases, sendo os principais apresentados na Tabela 10.1 | TABELA 10.1 \ peat TABELA(10- eee | Distribuigdo percentual média de | gases da atmosfera terrestre. Nitrogenio(N,) 78,11 “Oxigénio (0° oe O95 Argénio (Ar) 0,934 Gas Carbénico (CO,) 0,033 Em porcentagens menores, também estdo presentes na atmosfera: nednio, hélio, criptonio, xendnio, hidrogénio, metano, oz6nio e diéxido de nitrogenio (NO,), entre outros. Além desses gases, a atmosfera também apresenta 0s seguintes constituintes: vapor de 4gua e material particulado organico (pélens mi- croorganismos) e inorganico (particulas de areia e fuligem). A porcentagem de vapor de 4gua na atmosfera pode variar de 1% a 4% em volume da mistura total, o que depende da temperatura e da pressio atmos- féricas, além de outros fatores (Botkin; Keler, 2000). A presenca das particulas s6lidas em suspensio no ar tem fundamental importancia no ciclo hidrol6gico, uma vez que elas produzem ndicleos de condensacao, acelerando © processo de formagio de nuvens e, conseqilentemente, a ocorréncia da precipitagao. € 0 chamado fenémeno da coalescéncia. Existem diversas formas de descrever a estrutura da atmosfera. A classificagdo feita de acordo com © perfil de variago de temperatura com a altitude é a mais adequada do ponto de vista ambiental. A Fi- gura 10.1 apresenta a estrutura da atmosfera tendo por base o gradiente térmico em fungao da altitude. Oar atmosférico, na composi¢ao apresentada na Tabela 10.1, encontra-se na sua maioria (90%) em uma camada relativamente fina. ssa camada, chamada de troposfera, estende-se até uma altitude variando nbiental nadernet d i entre 10 km e 12 km. A troposfera varia em espessura conforme a latitude e 0 tempo. No Equador, sua altitude alcanga algo em torno de 16,5 km; nos pdlos, ela possui 8,5 km; e, em latitudes de 45°C, alcanca aproximadamente 10,5 km. ‘Do ponto de vista climatico, a troposfera possui importancia fundamental, pois essa camada é a res- ponsével pela ocorréncia das condigdes climaticas da Tetra. O decréscimo da temperatura na troposfera, com a altitude, é de aproximadamente 6,5°C por quil6metro, sendo esse conhecido por gradiente vertical normal ou padrao. ‘Acima da troposfera encontra-se a estratosfera, cuja linha de transi¢&o € a tropopausa, que é carac- terizada pela mudanga na tendéncia de variacdo da temperatura com a altitude. A estratosfera é uma camada muito importante do ponto de vista ambiental, pois é nela que se en- contra a camada mais espessa de oz6nio, com uma concentrag3o da ordem de 200 mg/l. (Botkin; Keler, 2000). Essa camada, rica em oz6nio (O,), protege a Terra das radiagdes ultravioleta provenientes do Sol. Os fenémenos que atualmente ocorrem nessa camada e que estdo provocando sua destruigao serdo discu- tidos em item especifico. Acima da estratosfera encontra-se a mesosfera, tendo como ponto de transicg0 a estratopausa. A mesosfera possui um forte decréscimo de temperatura, registrando-se nela a temperatura mais baixa da atmosfera. A.camada acima da mesosfera 6 chamada de termosfera,e entre a termosfera ea mesosfera situa-se a mesopausa. A termosfera é muito importante para as telecomunicagées, ¢ ela também €conhecida por ionosfera, alcangando uma altitude préxima de 190 km. Na atmosfera, do ponto de vista ambiental, destacam-se duas camadas: a troposfera e a estratosfe- ra, Na troposfera, desenvolvem-se todos os processos climsticos que regem a vida na Terra. Além disso, & nessa regido que ocorre a maioria dos fendmenos relacionados com a poluicao do ar. Na estratosfera, ocorrem as reages importantes para o desenvolvimento das espécies vivas em nosso planeta, em raza da presenca do ozénio. Esse assunto serd discutido posteriormente, perfil de temperatura que caracteriza a atmosfera 6 resultado da estratficagao dos gases que se ‘encontram presentes em cada camada, da incidéncia de radiagao solar no nosso planeta e da dispersio dessa radiacao de volta para 0 espago. 12 Hiren da poi da Os problemas de poluigio do ar nao sao recentes. A histéria antiga registra que, em Roma, hé 2 mil anos, surgiram as primeiras reclamaces a respeito do assunto. No século Xill (1273), 0 Rei Eduardo da Inglaterra assinou as primeiras leis de qualidade do ar, proibindo o uso de carvao com alto teor de enxofre. Além disso, ele proibiu a queima de carvao em Londres durante as sess6es do Parlamento, por causa da fumaca e do odor produzidos. Em 1300, o Rei Ricardo Ill fixou taxas para permitir 0 uso do carvao. Em ra- Zio da intensa queima de madeira, as florestas inglesas reduziram-se rapidamente. A despeito dos esforgos do reinado, 0 consumo de carvéo aumentou. Nos séculos XVII e XVIIl, surgiram os primieiros planos para transferir as indstrias de Londres. Os problemas continuaram crescendo até que, em 1911, ocorreu o primeiro grande desastre decorrente de poluigio atmosférica em Londres: 1.150 mortes em decorréncia da fumaga produzida pelo carvao. Nesse ano, 0 Dr. Harold Des Voeux propds 0 uso da palavra ‘smog’ para designar a composicao de ‘moke’e ‘fog’ (fumaga e neblina). Smog é hoje uma palavra que designa episédios criticos de poluigao do ar. Em 1952, ocorreu o evento mais critico de que se tem noticia: cerca de 4 mil pessoas morreram em Londres por causa da poluicdo do ar. Merecem ainda destaque outros eventos. Em 1956, 1957 e 1962, morreram aproximadamente 2.500 pessoas, em Londres. Nos Estados Unidos, um dos eventos mais cr ticos ocorreu em 1948, na cidade de Donora, Pensilvania, matando 30 pessoas e deixando cerca de 6 mil internadas com problemas respiratérios. Em 1963, na cidade de Nova York, 300 pessoas morreram & mmiihares tiveram problemas diversos causados pela poluicao do ar. Em certas cidades, como Los Angeles, Sio Paulo e Cidade do México, sio conhecidos os eventos criticos de poluicdo do ar provocados pelos gases emitidos por veiculos. — ; Capitulo Je O meio atmasferiew | 169 [FIGURA 10.1 Perfil de temperatura da atmosfera. ESTRATIFICACAO TERMICA DA ATMOSFERA ‘Attura (Kin) Maxima : tee ae I Ty concentvegdo Pr 20% do ar _] [Ozondsfera 40.0, —> 30 cole os uF Regio | [ Absorgao 87 cumotutinbus responsével | | do raios pelas mudangas| | ultravicleta no tempo tes ‘Tropopausa 100 -80 -80 -70 -60 -60 40 30-20-10 0 10 20 30 103 Principais poluentes atmosféricos Podemos dizer que existe poluigao do ar quando ele contém uma ou mais substincias quimicas em concentragdes suficientes para causar danos em seres humanos, em animais, em vegetais ou em materiais. Esses danos podem advir também de parametros fisicos, como, por exemplo, o calor e 0 som, Essas concentracdes dependem do clima, da topografia, da densidade populacional, do nivel e do tipo das atividades industrais locais. Neste capitulo, serao esclarecidas as relacdes entre esses parmetros © 2 poluigao do ar. 5 poluentes sao clasificados em primérios e secundérios. Os primérios sao aqueles lancados di- retamente no ar. $20 exemplos desse tipo de poluente 0 didxido de enxofre (SO,), os Gxidos de nitrogénio (NO,), 0 monéxido de carbono (CO) e alguns particulados, como a poeira. Os secundérios formam-se na atmosfera por meio de reagdes que ocorrem em razdo da presenca de certas substancias quimicas e de determinadas condigdes fiscas. Por exemplo, 0 SO, (formado pelo SO, € O, no at) reage com o vapor de ‘gua para produzir o écido sulfdrico (H,S04), que precipita originando a chamada ‘chuva Scida’. ‘A seguir, apresentamos os principais poluentes do ar e as suas fontes, devendo-se observar que a maioria dos poluentes tem origem nos processos de combustio. ‘+ Mon6xido de Carbono (CO) Composto gerado nos processos de combustéo incompleta de combustiveis féseis e outros ‘materiais que contenham carbono em sua composi¢ao. duce engenuacia sanbiceted OCOCCUGOLE « « Didxido de Carbono (CO.) O di6xido de carbono € 6 principal composto resultante da combustéo completa de com- bustiveis f6sseis e de outros materials combustiveis que contenham carbono, além de ser gerado no processo de respirago aerdbia dos seres vivos, que utilizam 0 oxigenio para poder liberar a energia presente nos alimentos que s80 ingeridos. Oxides de Enxofre (50, e SO,) (Os éxidos de enxofre sao produzidos pela queima de combustiveis que contenham enxofre em sua composico, além de serem gerados em processos biogénicos naturais, tanto no solo quanto na gua, Oxidos de Nitrogénio (NO) Considerando-se que a maior parte dos processos de combustio ocorre na presenga de oxigénio, o mais comum é utilizar 0 oxigénio presente no ar para realizar esses processos e, j8 que no ar 0 composto mais abundante é o nitrogénio, entéo, verifica-se que a principal fonte dos dxidos de nitrogénio sao os processos de combustio, além de ele poder ser gerado por processos de descargas elétricas na atmosfera Hidrocarbonetos (Os hidrocarbonetos sio resultantes da queima incompleta dos combustiveis, bem como da evaporacao desses combustiveis e de outros materiais como, por exemplo, os solventes organicos. Oxidantes fotoquimicos Os oxidantes fotoquimicos so compostos gerados a partir de outros poluentes (hidrocarbo- netos e éxidos de nitrogénio), que foram lancados & atmosfera por meio da reacdo quimica entre esses compostos, catalisada pela radiacao solar. Dentre os principais oxidantes foto- quimicos destacam-se 0 oz6nio e 0 peréxi-acetil nitrato (PAN). ‘Material Particulado (MP) No caso de poluicao atmosférica, entende-se por material particulado as particulas de ma- terial s6lid e liquido capazes de permanecer em suspensio, como € 0 caso da poeira, da fuligem e das particulas de 6leo, além do pélen. Esses contaminantes podem ter origem nos processos de combustdo (fuligem e particulas de 6leo) ou, entao, ocortem em consequéncia dos fenémenos naturais, como € 0 caso da dispetsio do pélen ou da suspehisio de material particulado em razio da aco do vento. Asbestos (amianto) £ um tipo de material particulado, que discutiremos em item especifico, que produz graves problemas de satide associados a sua presenca na atmosfera, sendo principalmente gerado durante a etapa de mineragio do amianto ou, ent&o, nos processos de beneficiamento desse material. Metais (Os metais também sio um tipo de material particulado, associados aos processos de mine- ago, combustdo de carvao e processos siderirgicos. Gas fluoridrico (HF) Composto gerado nos processos de produgo de aluminio e fertlizantes, bem como em refinarias de petréleo. Normalmente sao gerados em processos que operam a altas tempera- turas e nos quais so utilizadas matérias-primas que contenham fldor na sua composi¢a0. ‘Aménia (NHs) As principais fontes de geracdo de amOnia so as inddstrias quimicas e de fentlizantes, principalmente aquelas & base de nitrogénio, além dos processos biogénicos naturais que ocorrem na gua ou no solo. Gas sulfidrico (H,5) O gas sulfidrico é um subproduto gerado nos processos desenvolvidos em refinarias de pe- tréleo, industria quimica e industria de celulose e papel, em virtude da presenca de enxofre nna matéria-prima processada ou, entdo, nos compostos utilizados durante esse processa- mento. O gis sulfidrico também é produzido por processos biogénicos naturais. + Pesticidas e herbicidas S80 compostos quimicos (organoclorados, organofosforados e carbamatos) utilizados prin- cipalmente na agricultura para o controle de plantas daninhas e de pragas. As principais fontes desses tipos de contaminantes atmosféricos so as indistrias que os produzem, bem como os agricultores que fazem uso deles, pelos processos de pulverizacao nas plantacdes, eno solo. * Substancias radioativas As substancias radioativas so materiais que possuem alguns elementos capazes de emitir radiagio, ou seja, eles emitem energia na forma de particulas alfa, particulas beta e radiago gama. Em muitos casos, a energia emitida por essas substancias 6 suficiente para causar da- Tos aos seres vivos e aos materiais, em razao, principalmente, do rompimento de ligagoes ‘quimicas das moléculas que constituem o tecido vivo e a estrutura dos materiais. As princi- pais fontes de substancias radioativas para a atmosfera so os depésitos naturais, as usinas niucleares, os testes de armamento nuclear e a queima de carvao. * Calor O calor é uma forma de poluigao atmosférica por energia que ocorre principalmente por causa da emissdo de gases a alta temperatura para o meio ambiente, gases esses que sio liberados, em sua maioria, nos processos de combustdo. * Som A poluicgo sonora também se caracteriza pela emissao de’energia para o meio ambiente, 6 que na forma de ondas de som, com intensidade capaz de prejudicar os seres humanos € outros seres vivos. O problema de poluigao sonora esté diretamente associado a0 nosso estilo de vida industrial. 104. Poluigéio do ar em difere fe escalas espaciais Do ponto de vista espacial as fontes de poluicao podem ser classificadas em méveise estacionérias. Exemplo de fonte estaciondria é a chaminé de industria que emite poluentes. Veiculos sdo fontes méveis, pois emitem os poluentes de modo disperso. As fontes estacionérias produzem cargas pontuas de poluen- tes; as fontes méveis, por outro lado, produzem as cargas difusas. Com relacdo ao controle da poluiczo, ssa distin¢ao é fundamental, uma vez que o enfoque de tratamento do problema é diferente em cada caso. Quanto & dimensio da drea atingida pelos problemas de poluigdo do ar, podernos classificd-los em problemas globais e em problemas locais. Os locais dizem respeito a problemas de poluicao em uma re- ido relativamente pequena, como uma cidade. Os globais envolver toda a ecosfera, exigindo, portanto, © esforco mundial para enfrenté-los e controlé-los. A seguir, discutimos alguns dos problemas globais e, ‘em seguida, os problemas locais. Poluigéo global Discutiremos aqui alguns dos principais problemas globais de poluigo do ar, que so: o efeito es- tufa, a destruiggo da camada de ozénio na estratosfera e a chuva dcida. CO efeito estufa e a destruic3o da camada de ozénio sio dois problemas ambientais que esto corre- lacionados com a distribuicdo da energia solar na ecosfera. O efeito estufa esta relacionado com a energia degradada, calor, que resulta das transformagdes de energia que ocorrem na ecosfera. Ja a destruicao da camada de ozénio esta ligada ao aumento na incidéncia de radiagao ultravioleta que atinge a superficie terest. 2.0 gfeito estufa © chamado efeito estufa, que também é responsdvel por manter a temperatura média do planeta préximo dos 15°C, recentemente se tornou um dos assuntos preferidos da comunidade técnica internacio- 172 a DDR BR a a a a a a iS DC ral, principalmente pelos efeitos catastroficos previstos para a ecosfera — caso nao sejam tomadas medi- das urgentes para evitar sua intensificacao. As previsdes s2o as mais variadas, e muitas delas séo bastante questionaveis, pois persistem muitas polemicas cientificas; além disso, muitos fendmenos nao foram ainda totalmente compreendidos. ‘Acemissio dos chamados gases estufa (CO,, metano, 6xido nitroso e clorofiuorcarbono CFCs) au- menta a quantidade de energia que é mantida na atmosfera em decorréncia da absorgo do calor refletido ‘au emitido pela superficie do planeta, 0 que provoca a elevacao da temperatura da atmosfera. Admite-se que, além de provocar modificagées climaticas, o aquecimento da Terra possa causar a elevacio do nivel dos oceanos, ter impactos na agricultura e na silvicultura, afetando todas as formas de vida do planeta. ‘A Figura 10.2 apresenta o aumento observado na concentracao de CO, na atmosfera nos dltimos anos e a variaco na temperatura da atmosfera, ou anomalia, em rela¢do & média do periodo entre 1951 © 1980. De 1959 a 2003, a concentracao de CO, aumentou de 316 ppmv (partes por milhzo em volume) para 376 ppmv. Estima-se que o aumento absoluto de CO, desde a Revolucao Industrial até o presente ‘momento, seja de aproximadamente 25%. Foi constatado que esse acréscimo de CO, € superior no hemis- fério norte, por causa da maior queima de combustiveis fosseis nessa regido. FIGURA 10.2 Curva obtida em Mauna Loa (Havai), que mostra 0 crescimento da concentragao CO, na atmosfera (htip:/{cdiac.esd.orn|.gov/iptrends/co2/maunaloa.co2 e © hupy/wurw.giss.nasa.govidata/update/gistemp/graphs/Fig.A.tet z 3 360. : bso a g 5 7 i 00 300 HE OO 1959° 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 [CO ipprn a Anamala CO Esses resultados sdo ainda bastante duvidosos e geram algumas questdes interessantes. Por exemplo, como explicar a diminuigao da temperatura média global ocorrida entre 1940 e 1965? Muitos pesqui- sadores acreditam que esses fendmenos esto associados a processos oscilatérios de grande periodo, que significa que os periodos de observacio slo extremamente curtos para conclusbes definitivas. Esses problemas poderio ser esclarecidos a partir das pesquisas que estdo sendo realizadas na Antartica, na estago Vostok. Nesse local estao sendo feitas periuracdes no gelo para coletas de amostras a 2 mil metros de profundidade. Essas amostras armazenam informacoes da composigio da atmosfera ha milénios. Dados j analisados indicam flutuagdes na composigo dos gases na atmosfera nos Ultimos 160 mil anos. Outra Corinto ~ Oucumesens | 473 conclusio significativa desses dados é que, quanto maior a temperatura da Terra, maior é a concentragdo de CO, fodavia, as mudancas de temperatura sio de cinco a quatorze vezes maiores do que seria esperado ‘com base no teor de diéxido de carbono. Esse resultado faz supor que 0 efeito de aquecimento pode estar associado a outros fatores, como a presenga do gas metano, as nuvens e o vapor de agua na atmosfera, entre outros compostos. Outro dado interessante & que o metano mantém a mesma relagao de aumento da concentracéo com a temperatura; ele é vinte vezes mais efetivo que 0 CO, na absorgio de calor. Segundo ‘o modelo de Hansen (1987) para andlise de mudangas climaticas, a concentragao de metano na atmosfera contribuiu 25% a mais do que a concentragio de gés carbonico para as alteracdes de temperatura na Terra entre os anos 8.000 a.C. € 10.000 a.C. ‘A queima de combustiveis fosseis é responsével pela maior parcela do diéxido de carbono emitido para a atmosfera. Na Tabela 10.2, do apresentadas as quantidades anuais de CO, emitidas pelos continen- tes do planeta e pelo Brasil TABELA (Quantidade de CO, emitida para a atmosfera no ano de 1999 (WRI, 2003). SRS : Norte da Africae | Oriente Medio | *1.339.200 | 58 395,5 Africa (exceto Note | | © Oriente Médio) e | 1.755.800 76 1893) 268 | 1664.) 275 Oceania | | | | Europa 5.892.300 254 | 1.0100 | 7149 | 9888 | 1.8164 Aniércato None | m.07e000-| 962% "ef Bajo} 3922. |-1830,2°| 21982 ‘América Central 464,300 20 | 90,6 | 265 1228 | 127.7 Amética do Sul 7agsoo | 3.20} 1a3.2) saz) 235.8.) 86,2 Asia 6901700 | 298 | 1.9154 | 47,0 | 7990 | 2.4469 Mundo 33.7220. 100 4.3336 | 1.8021 | 4.064,7 | 7.424,4 Brasil [308.600 | 13 | 2] 170 | 1099 | 175 De acordo com a World Meteorological Organization (WMO), temperaturas de inverno, em altas, ce médias latitudes, poderdo crescer mais que duas vezes a média mundial, enquanto as temperaturas de ‘verdo nao irdo se alterar muito. Esse aumento de temperatura pode, segundo alguns especialistas, induzir ‘a uma elevagio dos niveis dos mares em uma faixa que varia de 20 cm a 165 cm, trazendo problemas de erosao litordnea, inundacio, danificacdo de portos e estruturas costeiras, enchentes, destruigo de charcos, elevagao de lencois de gua e intrusdo salina em aqiiferos de abastecimento. Locais como as Ilhas Maldivas poderdo desaparecer, Além disso, 70% das costas maritimas do mundo estario sofrendo processos de erosio. Em contraste com esses desastres, o aumento do teor de CO, poderé aumentar 0 rendimento de determinadas culturas, como 0 milho, 0 sorgo e a cana-de-acticar (10%), arroz, trig, soja batata (da ordem de 50%). Por outro lado, as mudangas climéticas sero intensas, alterando regimes de chuvas e secas; essas mudancas poderdo influenciar muitos processos biol6gicos, como pragas de insetos, multiplicacao de organismos patogenicos etc. sii engetborin mnbiena 2 d Dea Ese y + ’ nee ¥ A Tabela 10.3 mostra a relagao entre a concentragao de CO, e a temperatura da Terra para diferentes modelos matemiticos. [TABELA 10.3 ‘Alteragao da temperatura média da Terra supondo concentragdo de CO, | ieua ao dobro da arual— resultados de diferentes modelos (UNEP, 1988) Alteragao dé te consumo, Alterac de de combustivel °° temperatura £ carbono/ano ~~ prevista (ppmv) =) 5 (C) WCP (1981) | 13,6 em 2025 450 em 2025 1,5-3,50 CDAC (1983) | 10,0 em 2025 428 em 2025 1,5-4,50, EPA (1983) | 10,0 em 2025 440 em 2025 1,5-4,50 Clark (1982), | 2% até 2030 | 371-657 em 2030 | 2,0-3,00, Julich (1983) | 1-16 em 2030 | 400 em 2030 1,0-3,00 UNEP (1985) | 2-20 ein 2050 | 380-470em 2025 | 15-350 WCP— World Climate Programme CDAC — Carbon Dioxide Assessment Committee EPA — US Environmental Protection Agency UNEP — United Nations Environmental Program O controle do efeito estufa passa, necessariamente, pelo controle da emisso de CO, Portanto, a solugdo é diminuir a emissdo resultante da queima de combustivel, por exemplo, utilizando-se fontes al- ternativas de energia e melhorando o sistema de transporte coletivo e as medidas em menor escala, como o-controle do desmatamento mundial. Durante a terceira conieréncia dos pafses signatérios da Convengao Internacional sobre Melhoria Climatica (elaborada durante a ECO-92, Rio de Janeiro, junho de 1992), que teve lugar em Quioto, em 1997, foi desenvolvido o chamado Clean Development Mechanism (CDM), ou Mecanismo de Desenvol- vimento Limpo (MDL), visando a uma nova abordagem para reduzir a concentragio de gases causadores, do efeito estufa, principalmente o CO,. Essa nova proposta leva em conta o elevado nivel de emissio de gases dos paises industrializados e a capacidade dos paises em desenvolvimento de absorvé-los por meio de processos naturais. Por outro lado, foram estabelecidos novos prazos, especificando que os pafses industrializados devem estabilizar suas emissdes em niveis correspondentes aos de 1990 somente entre 2008 e 2012. O MDL consiste basicamente no seguinte: 1) 05 paises industralizados, por meio de compensagao financeira a pases espectficos em vias de desenvolvimento, ganham créditos para ultrapassar suas cotas de emisso previamente estabelecidas; 2) 0s recursos recebidos pelos pafses em desenvolvimento devem ser, obrigatoriamente, apli- cados em projetos que promovam o 'sequiestro’ de carbono da atmosfera com a promogao de reflorestamentos e de plantio em areas degradadas. A madeira produzida nao poderé set utiizada como lenha nem em qualquer outra forma de combustéo, para, assim, evitar 0 retorno do carbono sequestrado a atmosfera Os pafses em desenvolvimento participantes (tais como o Brasil e a India, por possuirem grandes 4reas que podem ser florestadas} deverdo emitir os ‘Certificados de Reduco de Emissao de Carbono’ para serem negociados com os paises industrializados. O preco de cada tonelada de carbono seqiestrado varia, de acordo com as projecdes que estdo sendo efetuadas, entre US$ 10 a USS 100. Capiule 10 ~ O.mcio aamostivicw in 0 projeto nao inclui as florestas primérias existentes, Entretanto, pode-se avaliar qual é a quantidade de carbono que elas poderiam seqiiestrar. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estima que a Floresta Amaz6nica remove da atmosfera aproximadamente 36 kg de carbono por hectare por dia, ou seja, um total de 850 milhdes de toneladas de carbono por ano. © mecanismo poder apresentar resultados efetivos na redugdo do aquecimento global, mas evi- dencia caracteristicas éticas e morais bastante criticas, pois, além de propor solugdes principalmente eco- némicas para um problema que ¢ ambiental, estimula os grandes poluidores a pagar em vez de reduzir as suas emissbes. © Destruigtio da camada de ozénio Outro problema ambiental extremamente sério e bastante discutido na comunidade cientifica é a destruigao da camada de ozénio. Situada na estratosfera, entre 15 km e 50 km de altitude, essa camada tem a capacidade de bloquear as radiacGes solares, principalmente a radiacao ultravioleta, impedindo que niveis excessivos atinjam a superficie. A radiagao ultravioleta pode ser dividida em trés grupos em fungao do seu comprimento de onda, {que esté associado a intensidade de energia da radiacao, conforme apresentado na Tabela 10.4. Os efeitos adversos causados pela radiacao ultravioleta podem aumentar a incidéncia de cancer de pele, reduzir as safras agricolas, destruir e inibir o crescimento de espécies vegetais, afetando todo o ecossistema terrestre, além de causar danos aos materiais plésticos, [ TABELA 10.4 Tipos de radiagéo ultravioleta em fungdo do comprimento de onda (I). Radiagao com comprimento de onda muito préximo da luz visivel (violeta), ndo € absorvida pela camada de oz6nio. eile prejudicias‘panticularhiente.- - r causat darios ao DNA, sei oa de outros tipos de cancer de pele zaléin de ser apantada como eee ei ete E extremamente prejudicial, mas é completamente - absorvida pela camada de oz6nio e pelo oxigénio - presente na atmosfera. O oz6nio presente na estratosfera funciona como um atenuador da radiacéo ultravioleta, utiizando a energia desse tipo de radiag3o nas reacdes quimicas associadas aos processos de formacao e destruiggo dele mesmo. A seguir, de forma simplificada, descrevemos as reacdes quimicas que ocorrem na estratos-. > fera, mostrando como se da a atenuago dos niveis de radiagao ultravioleta. ~ Processo de formagéo do oz6nio a Os raios ultravioleta provocam a separacio de dois Stomos de oxigénio, produzindo o oxigénio atémico (O): - 10.1 0, +#he 20 a 176 nn engebera mbit ig onde h é a energia correspondente a radiago ultravioleta que esta associada 8s ondas eletromagnéticas com comprinento de onda menor que 200 nm. Esse onigénio atémico reage com o O,, sempre com a presenca de um parceiro, geralmente 0 ritrogénio. Tal reacdo € necesséria para manter 0 balanco energetico. © resultado € a producdo de O, (oz6nio): 10.2 0+0,+MeO,4M onde M é a molécula de um gés associado ao oz6nio (geralmente gases nitrogenados). Processo de destruigdo do ozénio Dependendo da intensidade de energia associada a radiacdo ultravioleta, as moléculas de ozénio formadas podem ser decompostas de acordo com as seguintes equacdes: 10.3, O0,+he0,+0 10.4 0,+0 20, onde h & a energia correspondente & radia¢ao ultravioleta que esté associada as ondas eletromagnéticas com comprimento de onda compreendido entre 200 nm a 300 nm, Essas reagdes estdo em equilibrio na estratosfera, mantendo, teoricamente estavel, a camada de O,, Molina e Sherwood Rowland (1974) verificaram que uma familia de gases muito utilizados nas indistrias de aparelhos de ar-condicionado e de refrigeragao, de propelentes (aeross6is), de equipamentos eletrénicos e de plisticos, chamados clorofluorcarbonos (CFCS), extremamente estavel na atmosfera, ou seja, uma vez langados, as propriedades desses gases permanecem no ar por perfodos da ordem de 100 anos, Na atmgsfera, os CFCs reagem com 0 O,, destruindo-o. Uma molécula de cloro pode destruir até 10 mil moléculas de ozénio. Em termos simplificados, ocorrem na estratosfera as seguintes reacdes: cd +0, d0+0, + 10.5, clo+ O # C+ 0, 0 +0, 2, Estudos posteriores estimaram que a camada de O, poderé perder entre 7% e 13% de sua massa to- tal nos préximos 100 anos. As preocupagdes cresceram quando, em 1977, verificou-se 0 aparecimento de buracos na camada de O, sobre a Antartica; em 1983, essas pesquisas registraram uma reduco da ordem 50% do O,. Tal fato repetiu-se em 1985. Nao se sabe ao certo 0 porqué desses ‘buracos’. Alguns cientistas acreditam que tal fendmeno & ciclico e deve-se & circulacdo do ar na regido. A massa de ar estacionéria no inverno (julhd) acumula poluentes nitrogenados e clorados. Durante o inicio da primavera, eles reagem com 0 O, produzindo os ‘buracos’. Com a mudanga de estagio (novembro) e com a entrada de ar renovado, a camada recompde-se. €, portanto, um problema que exige muita pesquisa e amplo monitoramento para levantamento de dados. A posigo dos cientistas € de muita cautela, recomendando o fim das emissGes de gases CFCs. + Os paises desenvolvidos ja estio se mobilizando no sentido de diminuir 0 uso de CFCs. O principal evento foi ‘Montreal Protocol on Substances that Deplete the Ozone Layer’ (UNEP, 1987). Esse documento foi assinado por varios paises e estabeleceu um cronograma para diminuir 0 uso de CFC no mundo. 0 Protocolo de Montreal foi ratificado por 188 paises e sofreu cinco emendas: Londres (1990), Co- penhague (1992), Viena (1995), Montreal (1997) e Beijing (1999). Assim, foi estabelecido 0 cronograma para 0 congelamento do consumo e banimento definitivo das substancias responsaveis pela deplecao da camada de oz6nio, como mostra a Tabela 10.:

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