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LIA SEIXAS
Universidade Federal da Bahia, Brasil
Resumo: Atualmente, os estudos sobre cibergêneros seguem duas grandes linhas de fundamentação
teórica: 1) os principais critérios de definição dos gêneros da web são as propriedades das mídias
digitais; e 2) o cibergênero, assim como qualquer gênero, estabiliza práticas sociais-linguísticas. No
Brasil, predomina a primeira, embora a segunda venha ganhando força. Ainda bastante incipiente, a
pesquisa sobre cibergênero no Brasil tem como principal trabalho o livro organizado pelos linguistas
Luiz Marcuschi e Antônio Carlos Xavier (UFPE, 2004). Embora com diferentes objetivos, os
parâmetros de análise dos linguistas são muito similares àqueles do jornalismo: propriedades das
novas mídias. No jornalismo, a pesquisa sobre gêneros se desenvolveu separadamente por mídia
(digital) ou por domínio (jornalismo). Essa separação gerou uma ausência de diálogo entre os
pesquisadores. Hoje, a tendência, entretanto, é o crescimento da segunda linha, com a qual dialogamos
em nossa proposta de tese: investigar quais são e como se comportam os elementos que formam os
conjuntos de atos comunicativos.
Introdução
1
Na linguística, destaca-se a Genre Theory, com Carolyn Miller, Charles Bazerman, Carol Berkenkotter,
Devitt, Huckin, Freedman e Medway - da The
orth American Genre School (NAGS) -, John Swales (EUA)
e Vijay Bhatia (Hong Kong). Nas ciências da computação, os autores que trabalham cibergêneros são
Thomas Erickson (designer de interação e pesquisador do Social Computing Group na IBM's Watson Lab),
Shepherd & Watters , Ryan et al, Crowston & Kwasnik,Tom & Campbell (Canadá), Carina Ihlstrom
(Suécia), Yates, & Sumner e Santini, Power & Evans (UK). Em comunicação, as pesquisas que mais se
desenvolveram sobre cibergêneros são dos professores Javier Díaz Noci e Ramon Salaverría. Na França, o
grupo que tem se destacado na pesquisa de gêneros jornalísticos, incluindo o cibergênero, faz parte da Rede
de Estudos sobre Jornalismo (Réseau d’études sur le journalisme – REJ - http://www.surlejournalisme.com).
Ver Imagem 1, em Anexos.
o caráter de fixação e estabilidade que o gênero impõe aos tipos discursivos. Os primeiros a estudarem
os gêneros digitais, em 1997, foram Michael Shepherd (Dalhousie University, Canadá) e Carolyn
Watters (Acadia University, Canadá) das ciências da computação.
2
Machado, Elias, Borges, Clarissa, Miranda, Milena, “Os gêneros narrativos no jornalismo digital baiano”, in:
Pauta Geral, Salvador, v. Vol 5, p. 105-117, 2003. Seixas, Lia “Gêneros Jornalísticos Digitais. Um estudo
das práticas discursivas no ambiente digital”, artigo apresentado na Compós, Rio Grande do Sul, 2004,
disponível em http://www.facom.ufba.br/Pos/gtjornalismo/home_2004.htm. Em sua tese de doutorado, Thaís
de Mendonça define “hipernotícia” como um subgênero do gênero informativo. Jorge, Thaís de Mendonça.
“A notícia em mutação. Estudo sobre o relato noticioso no jornalismo digital”, Universidade Federal de
Brasília, 2007. Nossa tese de doutorado deve ser a primeira pesquisa sistemática que contempla os
cibergêneros no jornalismo, já que compara a mídia impressa e a digital. A tese “A rosa dos gêneros. Uma
proposição de análise dos elementos cardeais dos gêneros jornalísticos” está sendo desenvolvida no
Programa de Pós-Graduação Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da
UFBa. Ver Imagem 2, em Anexo.
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O paradigma da objetividade é realmente um 'falso paradigma' (Chaparro) se consideramos a interpretação,
sempre existente no discurso jornalístico, mas se constituiu em regras, valores, normas da atividade,
influenciando descisivamente nos contornos dos gêneros discursivos jornalísticos. “Assim, o paradigma
Opinião x Informação tem condicionado e balizado, há décadas, a discussão sobre gêneros jornalísticos,
impondo-se como critério classificatório e modelo de análise para a maioria dos autores que tratam do
assunto. (...)
Trata-se de um falso paradigma, uma fraude teórica, porque o jornalismo não se divide, mas se constrói com
informações e opiniões. Além de falso, o paradigma está enrugado pela velhice de três séculos.” Chaparro,
Manuel. “Uma nova proposta para a questão dos gêneros”, in: CHAPARRO, Manuel Carlos (1998), Sotaques
d'Aquém e d'Além Mar - Percursos e Gêneros do Jornalismo Português e Brasileiro, Jortejo Edições,
atividade jornalística brasileira: o limite entre informação e opinião. O gênero deveria ser responsável
por este limite, já que um de seus elementos mais importantes seria o propósito ou finalidade. Pode-se
dizer que “A Opinião no Jornalismo Brasileiro” de José Marques de Melo (1985), a obra mais
utilizada quando se trata de ensinar os gêneros do discurso jornalístico e a mais citada em teses e
artigos sobre o tema, está inserida neste paradigma. Embora o livro siga dois critérios com base no
propósito e se preocupe com a dimensão da produção e das especificidades da prática jornalística,
mantém a divisão entre informativos e opinativos, pois mantém a dicotomia “reprodução do real”
(informar) e “leitura do real” (opinar).
De 1995 para cá, a área de linguística tem dedicado grande atenção às teorias de gênero. Isso
se deve, em parte, como explica Roxane Rojo4, ao referenciais de ensino de línguas (chamados PCNs),
que indicam os gêneros como objeto de ensino na leitura e na produção de textos. Esse movimento
tem influenciado também os estudos de gêneros das mídias digitais. Assim, a Linguística Aplicada
(LA), com o objetivo de classificar novos gêneros digitais e compreender esses gêneros para o
ensino, tem trazido para a discussão de cibergêneros sua tradição de referenciais teóricos.
A semiótica, por sua vez, instigada pela multimidialidade dessas novas mídias, ou melhor,
pelo hibridismo dos sistemas comunicacionais, passou a defender e investigar a noção de gênero num
ambiente que parecia anacrônico a tal noção. De 2001 a 2006, Irene Machado publicou artigos e
produziu simpósios sobre o tema5. A investigação não se desenvolveu tanto quanto a defesa da noção
ganhou força. Um de seus artigos tinha como título “Por que se ocupar dos gêneros?”6. A semioticista
chamou a atenção para pesquisadores norte-americanos das Ciência da Computação e da Informação,
como Thomas Erickson (também citado pela linguística), entretanto sua principal referência para
estudar a noção é o autor mais importante para os estudos de gênero em todas as áreas de pesquisa do
país: Mikail Bakhtin.
Mikhail Bakhtin é sem dúvida, o autor mais citado pelos pesquisadores brasileiros que
estudam gêneros, sejam estes de comunicação, linguística7 ou semiótica. Responsável por introduzir a
prosa nos estudos de gêneros literários, Bakhtin trouxe a discussão de gêneros, restrita à literatura,
[...]
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BAKHTIN, M./VOLOCHINOV, V. N. (1929) Marxismo e filosofia da linguagem. SP: Hucitec, 1981.