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ogla [ot= |e) a g0 | Boe consciéncia tem algo de engracado. Fla nos oferece experiéncias estranhas, ‘como quando adormecemos ou des pertamos de um somho, ¢ &s vezes nos [deixa a indagar quem de fato esta no le. Depois de me pér sob influéncia do fo nitroso, meu dentista me manda virer cabeca para a esquerda. Minha mente cons- te resiste: “De jeito nenhum”, digo em iléncio, “Vocé néo pode ficar me dando cdens!” Em seguida minha cabeca robética, wrando minha consciéncia, se debra docil- mnte ao controle do dentista, ‘Durante meus jogos de basquete vesperti- com os amigos, as vezes sinto uma ligeira ‘tagao quando meu corpo passa a bola 20 esto tempo em que mina consciéncia diz: "Nao, pare, seu burro! Peter vai interceptar!” mfelizmente, o corpo completa o passe sozi- 10. Em outras ocasides, observa o psicdlogo mniel Wegner (2002) em Illusion of Cons- ious Will (A Tlusdo da Vontade Consciente), redita-se que a consciéncia esta contro- indo as agdes, quando nao esté. Em um srimento, pessoas controlavam um mouse de computador junto com um companheiro (que era na verdade 0 ctimplice do experi- wentador). Mesmo quando este fazia o mouse rar em um local predeterminado, os parti- Spantes tinham a percepco de que eles € que haviam feito parar ali. Ha também aquelas vezesem queaconscién- ia parece se dividir. Ao ler Green Eges and Ham (Ovos Verdes ¢ Presunto), do escrtor infantil norte-americano Dr. Seuss, para um de meus alunos da pré-escola pela enésima vez, minha boca, condescendente, podia pronunciar as palavras enquanto minha mente vagava por algum outro lugar. Ese alguém entrarem meu escritério enquanto estou digitando esta frase, no haverd problema. Meus dedos podem com- pleté-la enquanto inicio uma conversa. A Consciéncia e a Mente de Duas Vias (Two-Track Mind) Seria minha experiéncia dental induzida pela droga andloga & que as pessoas tém com outras drogas psicoativas (substéncias que alteram o humor e a percepci0)? E minha obediéncia automatica ao dentista como as respostas de pacientes & hipnose? Ou uma ciséo na conscitncia, como as gue acontecem quando nossa mente se desvia enquanto Jemos ou digitamos, explica o comporta- mento de um individuo sob hipnose? E durante 0 sono, quando e por que ocorrem aquelas estranhas experiéncias oniricas? Mas comecemos pelo comeco: 0 que ¢ consciéncia? Toda ciéncia tem conceitos tio fundamentais que é quase impossivel defini los. Bidlogos concordam quanto ao que€ vivo, ‘mas nifo precisamente quanto ao que éa vida. Na fisica, matéria c energia fogem a uma defi- nigdo simples, Para os psicélogos, a conscién- cia é, da mesma forma, um conceito funda- mental, ainda que escorregadio. Em seu principio, a psicologia era “2 des- ctigio ea explicacéo dos estados de conscign- cia* (Ladd, 1887). No entanto, durante a pri- meira metade do século XX, a dificuldade de estudar cientificamente a consciéncia levou ‘muitos psicélogos - incluindo os da emer- gente escola do behaviorismo (Capitulo 7) - a se voltar para as observacdes diretas do com- portamento, Ja na década de 1960, a psico- logia havia praticamente perdido a conscién- cia e se autodefinia como “a ciéncia do com- portamento”. A consciéncia foi comparada ao velocimetro de um carro: “Nio faz 0 carro andar, apenas refleteo que esta acontecendo” (Seligman, 1991, p. 24). ‘Ap6s 1960, os conceitos mentais comeca~ ram a reaparecer, Avangos na neurociéncia tornaram possivel relacionar a atividade cere- bral ao sono, aos sonhos € a outros estados mentais. Pesquisadores passaram a estudar as alteracdes da consciéncia pela hipnose ¢ OCEREBROEA CONSCIENCIA Neurocigncia Cognitive Processamento Dual (Dual Processing) SONO ESONHOS Ritmos Bioldgicos e Sono Por que Dormimos? Distirbios do Sono Sonhos HIPNOSE Fatos e Mitos Explicando o Estado Hipnético DROGAS E CONSCIENCIA Dependéncia e Adieso Droges Picoativas Yoftubneias sobre 0 Uso de Drogas EXPERIENCIAS DE. (QUASE MORTE “Nem [0 psicélogo] Steve Pinker nem eu podemes explicara conseiéneia subjetiva humana...N6s no a compreendemo Richard Dawkins, bidlago ‘evolusionista (1985) “Apsicolagia deve aescartar toda referencia A consciéncia” ‘John B. Watson, Dehaviorista (1813), 66 CAPITULO 3 Alguns estados ‘correm espontanezmente Devanelos Agussio ume provocados fisiologicamente Alucinacées Alguns si0 provocados psicologicamente Privaggo sensorial > FIGURA 31 Estados de conscincia Além da percepcao normal, desperta, a consciéneia chega até nds em estados alterados, inluinda devaneios, sono, meditacdo € alucinacdo provocade por droges. pelas drogas. Psicélogos de todas as vertentes afirmavam a importincia da cogni¢do, ou processos mentais. A psicologia estava tecuperando a consciéncia. Para a maioria dos psicdlogos atuais, consciéncia ¢ nossa ppercepcao de nés mesmos ¢ do ambiente & nossa volta. Nosso foco de percep¢ao nos permite reunir informagées de varia- das fontes ao refletirmos sobre o pasado ¢ planejarmos 0 futuro. E mantém nossa atencio concentrada quando apren- ‘demos um conccito ou comportamento complexo - digamos, dirigir um carro -, tormando-nos cientes do veiculo e do tré” fego. Com a pratica, dirigir deixa de exigir atencao exclusiva, liberando-nos para direcioné-la a outros pontos. Ao longo de um dia, uma semana, um més, transitamos entre varios «estados de consciéncia, incluindo o sono, a vigilia varios esta- dos alterados (FIGURA 3.1), O Cérebro e a Consciéncia 1:0 que é 0 “processamento dual” (ual processing) que esta sendo revelado pela neurociéncia cognitiva atual? NA CIENCIA ATUAL, UMA DAS METAS perseguidas com ‘mais afinco pelos pesquisadores 6a compreensio da biologia da consciéncia. Psicdlogos evolucionistas especulam que a consciéneia deve oferecer uma vantagem reprodutiva (Batash, 2006). Talvez ela nos auxilie a agir em favor de nossos inte- resses de longo prazo (ponderando sobre as consequéncias) em ver de buscar meros prazeres imediatos e evitar a dor. Ou ‘quem sabe promova nossa sobrevivéncia antevendo a impres- $20 que 05 outros tém de nés ¢ ajudando-nos a ler suas men- “Ele parece muito irvitado! £ melhor eu correr!") Mesmo assim, 10 nos traz 0 chamado “problema dificil” (“hard pro- blem”): como as células cerebrais tagarelando umas com as outras criam nossa percepcio do sabor de um taco, de uma dor de dente, do sentimento de pavor? consciéneia nosso dar-se conta de nés mesmos e do ambiente & nossa volta, Neurociéncia Cognitiva A ciéncia supe, nas palavras do neurocientista Marvin ‘Minsky (1986, p. 287), que "a mente € 0 que 0 cerebro f 6 néo sabemos como ele o faz. Mesmo com todas as subs- tancias quimicas, os chips de computador e a energia do mundo, ainda nio fazemos ideia de como fabricar um rob} Sonoléncia| Sonitos Carénda de alimento Srey ‘ou de oxigénio Hipnose Mecitesa0 consciente, No entanto, 2 atual neurociéncia cognitiva ~ estudo interdisciplinar da atividade cerebral ligada a nos: pocessos mentais ~ esté dando o primeiro peqiteno passo relacionar estados cerebrais especificos a experiéncias co: Gentes, Sabemos, por exemplo, que. parte superior do tron encefilico contribut para a consciéncia porque algumas cria ‘as nascidas sem cortex cerebral exibem sinais de consciénci (Merker, 2007). Outra espantosa demonstracdo da presenga de algum ni de consciéncia apareceu em imagens do cérebro de w paciente incomunicével - uma mulher de 23 anos que sofre lum acidente automobilistico e no demonstrava sinais ap: rentes de consciéncia (Owen ct al., 2006). Quando os médi os pediram-Ihe que imaginasse jogar tenis ou andar por st casa, imagens de RMf revelaram atividade cerebral como, de voluntirios saudéveis. Enquanto cla imaginava jogar téni por exemplo, uma area responsivel pelo controle dos movi mentos dos bragos e das pernas tornou-se ativa (FIGU 3.2). Mesmo em umn corpo sem movimento, concluiram os) aE ‘> > FIGURA 3.2 Prova de conscléneia? Solictada a seimaginar jogando tenis ou ciculando po sus casa, uma paciete com o cerebro em estado vegeiatvo (no alts) ex atiidade cerebral semelhente & de uma pessoe saudivel (ebsino) Emiporao caso posse ser uma excece0, Pesquisedares questionam set's imagens de RM poss tame “conversa” com pacientes incomunici exempl, a responder sin a ura pergunta ima ‘nao imaginando andar pate cas. ACONSCIENCIA EA MENTE DE DUAS VIAS (TWO-TRACK MIND) 67 pesquisadores, 0 cérebto - ¢ a mente - pode ainda estar ativo. No entanto, a maioria dos neurocientistas cognitivos est cxplorando e mapeando as fungSes conscientes do cortex. Com base em seus padres de ativagao cortical, eles podem agora, com certas limitacées, ler sua mente. Sao capazes, por exem- plo, de dizer qual de 10 objetos semelhantes (martelo, fura- deira e assim por diante) voce esté visualizando (Shinkareva et al, 2008). Apesar desses avancos, ainda ha grande disc dancia. Um grupo de pesauisa teoriza que experiéncias cons- lentes surgem de circuitos neuronats especificos que dispa~ ram de maneira especifica, Outro cré que elas sao produzidas pela atividade sincronizada de todo o cérebro (Koch e Gre- enfield, 2007). Como o cétebro produz a mente permanece ‘um mistério. Processamento Dual (Dual Processing) ‘Muitas descobertas da neurociéncia cognitiva nos falam de ‘uma determinada regido do cérebro que se torna ativa com ‘uma experiéncia consciente particular. Muitas pessoas con- sideram tais achados interessantes, mas nio tio impressio- rnantes, (Se tudo o que € psicoldgico ¢ simultaneamente bio- Idgico, entao nossas ideias, emogoes e espiritualidade devem todas, de algum modo, ter uma forma concreta.) O que é Impressionante para muitos de nés & a crescente evidéncia de que temos, por assim dizer, duas mentes, cada uma apoiada por seu proprio equipamento neural. Em qualquer momento, vocé eeu estamos clentes de pouco ‘mais do que é exibido na tela de nossa consciéncia. No entanto, uma das maiores ideias da neurociéncia cognitiva ecente é2 de que grande parte do trabalho do nosso eérebro ‘ocorre nos bastidores, fora do alcance de nossa visdo. Vimos iss0 no Capitulo 2, quando discutimos o “cérebro esquerdo”, consciente, e o “cérebro direito”, mais intuitivo, revelados ppelos estudos de pacientes com cérebro dividido, Capitulos Dposteriores explorardo o funcionamento da nossa mente ‘culta em pesquisas sobre a pré-ativacio (0 priming) incons- ciente, as memérias consciente (explicita) ¢ inconsciente {implicita) 0 preconceito consciente versus 0 automatico €o pprocessamento oculto que possibilita reflexses repentinas e ‘momentos criativos, A percepgao, amemsria, o pensamento, 2 linguagem e as atitudes, todos operam em dois niveis - uma “estrada principal” consciente, deliberada, ¢ uma “via sub- terrinea” inconsciente, automitica, Os pesquisadores atuais io a isso o nome processamento dual. Sabemos mais do aque imaginamos saber. urociéncia cognitiva o estudo interdisciplinar da atividade cerebral igada & cogni¢go Cincluindo & ercepsic, © pensamento, a meméria ea linguagem). processamento dual (dual processing) o principio de ‘ue a informacgo é frequentemente processada de ‘maneira simultanea em vias separadas, consciente e inconsciente. ‘A Mente de Duas Vias (The Two-Track Mind) ‘Um caso cientifico ilustra os dois niveis da mente. As vezes "© pensamento critico apoiado pela ciéncia confirma crencas ‘emplamente aceitas. Em outras, porém, como demonstra esta, Thistoria, a ciéncia é mais estranha que a ficcao cientifica, ‘Durante minhas passagens pela University of St. Andrews, sna Escécla, conheci os neurocientistas cognitivos Melvyn ‘Goodale ¢ David Milner (2004, 2006). Uma mulher da regio, 2.quem chamam D. F, foi asfixiada por monéxido de carbono certo dia enquanto tomava banho. O dano cerebral resultante delxou-a incapaz de reconhecer e discriminar objetos visual- mente, Ainda assim, a cegueira foi apenas parcial, pois ela agia como se pudesse ver. Solicitada a introduzir umn cartéo- postal em uma calxa de correo vertical ou horizontal, podia fazé-lo sem errar. Embora incapaz de dizer a largura de um bloco a sua frente, podia seguré-lo a apenas um polegar de distancia Como isso era possivel? Nao temos um tinico sistema visual? Goodale e Milner sabiam, com base em suas pesqui- sas com animais, que o olho envia informacoes simultaneas a diferentes areas do cérebro, gue tém tarefas diferentes. Como esperado, 0 mapeamento da atividade cerebral de D. F.revelou atividade normal na area relacionada a estender 0 braco ¢ segurar objetos, mas danos na rea relacionada 2 reconhecé-los conscientemente. essa forma, 0 dano inverso levaria aos sintomas opos- tos? De fato, existem alguns pacientes assim - capazes de ver ede reconhecer objetos, mas com dificuldade de apontar para eles ou seguri-los, Como € estranhamente complexo isso a que chamamos visio, concluem Goodale e Milner em seu livro apropriada- mente intitulado Sight Unseen (Visio Despercebida). Pode- ‘mos pensar em nossa visdo como um sistema que controla nossas aces guiadas visualmente, mas ela é na verdade um sistema de processamento dual. Uma via de percepgio visual habilita-nos a “criar um mobiliério mental que nos permite pensar sobte o mundo” - reconhecer elementos e planejar ages futuras. Uma via de aco visual guia nossas acbes suces- sivas Em raras ocasiGes, ambas entram em conflito, Apresen- tada & ilusdo da face céncava, uma pessoa equivocadamente perceberd o interior da mascara como uma face protuberante (FIGURA 3.3), Ainda assim, ird, sem hesitacio e com exa~ tidéo, tocar o interior da mascara invertida para remover um ‘Ponto semelhante a tm inseto grudado nela. O que sua mente consciente ngo sabe a mio sabe. Essa grande idcia - a de que boa parte de nossos pensa- ‘mentos, sentimentos e ages cotidianos opera fora de nossa percepcio consciente - “é de dificil aceitacao para o pllblico”, afirmam os psicdlogos da New York University John Bargh > FIGURA 3.3 ‘Ailusio da face céncava 0 que voc! v8 (um face salient luséia em ume méscareinvertide, como no quadro da deta) pode difecr do que voc fax (tocar um ponto na face dento da méscra). 68 CAPITULO 3 ‘Tanya Chartrand (1999). Estamos compreensivelmente incli- nados a acreditar que nossas proprias intencdes e escolhas ropositais regem nossas vidas. Porém, nos subterrineos da mente, o ser humano é muito, muito mais. Assim, a consciéncia, embora nos possibilite exercer con- trole voluntério ¢ comunicar nossos estados mentais 20s ‘outros, é tio somente a ponta do iceberg do processamento de {informagoes. Abaixo da superficie informacées inconscientes sdo processadas de forma simultinea em diversas vias parale- las, Quando olhamos um péssaro voando, temos consciéncia do resultado de nosso processamento cognitivo (“E um beija- flor!”), mas nao de nosso subprocessamento da cor, da forma, do movimento, da distancia e da identidade da ave. Os neurocientistas de hoje estao identificando a atividade neural que precede a consciéncia, Em alguns experimentos Provocativos, Benjamin Libet (1985, 2004) observou que quando vocé move o punho conforme sua vontade, a decisdo de mové-lo ¢ experimentada de forma consciente cerca de 0,2 segundo antes de realmente fazé-lo. Atéai, nenhuma sur- presa, Suas ondas cerebrais, porém, adiantam-se cerca de 0,35 segundo & percepcio consciente da deciséo (FIGURA 3.4)! Desse modo, antes que voce saiba, seu cérebro parece se diti- sir para a decisao de mover o punho, Da mesma maneira, se solicitado a pressionar um botio ao sentir um toque, vocé pode responder em um décimo de segundo ~ menos tempo do que leva para ter consciéncia de que respondeu (Wegner, 2002). Em um experimento de acompanhamento, imagens de RMF do cérebro permitiram aos pesquisadores predizer ~ com 60% de precisio e até 7 segundos de antecedéncia - a decisao dos participantes de pressionar o botio com 0 dedo esquerdo ou o direito (Soon et al., 2008). A surpreendente conclusio: a consciéncia as vezes chega atrasada para a pes- soa que toma a decisio, Todo esse processamento de informagées inconscientes corre simultaneamente em miitipas vias paralelas. Viajendo de carro por uma rota familiar, suas mos ¢ seus pés asst- ‘mem diregio enquanto stua mente ensaia o dia que est por vir. Funcionar no piloto automatico permite & consciéncia > FIGURA 3.4 0 cérebro esta a frente da mente? Neste estudo, veluntéios, ‘bsenvaram um reldgio completar uma volta 2 cada 2.56 segundos. les registraram o momento em que decidizam mover o purho, Cerca cde um tergo de segunda antes dessa dacisao, 2 athidade de sues ‘ondas cerebraisdisparava, indicando um potencial de prontidao pare ‘© movimento, Ao obsematem uma repaticao em cdmerslanta, ex ppesquisadotes puderam predizer quando a pessoa extava prestes 8 ‘decidir se mover (depois do que o punho de fato se mova) (ibet, 1985, 2008). ~ a autoridade maxima de sua mente ~ monitorar todo 0 s tema ¢ lidar com novos desafios, enquanto varios assisten! cuidam automaticamente das questdes rotineiras, processamento consciente serial, embora mais len! gue o processamento paralelo, é hail em solucionar nove problemas, que requerem atencao focada, Tente Isto: se destro, vocé pode mover o pé direito em um circulo perfeit no sentido anti-hordrio e escrever o mtimero 3 repetidas vez coma mao direita - mas provavelmente nio ao mesmo tem (Setiver inclinacao musical, tente algo igualmente dificil: trés batidas regulares com a mo esquerda enquanto dé qu tro batidas com a direita.) Ambas as tarefas requerem at do consciente, que s6 pode estar em um lugar a cada vez. © tempo é a forma que a natureza tem de impedir que tu aconteca de uma vez s6, entao a consciéncia é a maneira de nos impedir de pensar ¢ fazer tuclo ao mesmo ternpo. Atencao Seletiva 2: Para quantas informacées atentamos conscientemente ao mesmo tempo? Por meio da atengao seletiva, sua atencio consciente foca- liza, como um feixe de luz, apenas um aspecto muito limitado de tudo aquilo que vocé vivencia, Estima-se que os cinco sen ‘tidos assimilem 11 milhoes de bits de informacao por segundo, dios quais vocé processa conscientemente cerca de 40 (Wilsom, 2002). Ainda assim, a via inconsciente da mente faz por intui~ 0 grande uso dos outros 10.999.960 bits. Até ler esta frase, por exemplo, vocé nao havia percebido que seus sapatos estao fazendo pressio sobre seus pés ou que seu nariz est em sua linha de visdo. Agora, de stibito, 0 foco de sua atencao muda de direcio. Voce sente os pés apertados, o nariz insiste em invadir a pagina a sua frente. Ao prestar atencio a essas pala- ‘ras, vocé também bloqueou da consciéncia informagdes vin- das de sua visio petiférica. Porém, vocé pode muda isso. Enquanto olha para 0 X abaixo, repare no que rodcia o livro (as bordas da pagina, a superficie da mesa e daf por diante). x Outro exemplo de atencdo seletiva, o feito coquetel (cocktail party effect), € a habilidade de prestar atengdo a apenas uma oz em meio a varias, (Deixe uma dessas vozes dizer seu nome, seu radar cognitivo, operando na outa via de sua mente, trard instantaneamente essa voz & sua consciéncia,) Essa audicao focada tem um prego. Imagine ouvir duas conversas por umn par de foncs de ouvido, um em cada orelha, e ser solicitado 2 repetir a mensagem da esquerda enquanto dla é pronunciada. Ao prestar atencio a0 que ¢ dito ao ouvido esquerdo, vocé nic perceberd o que € dito a0 direito. Ao ser perguntado depois que lingua 0 ouvido direito escutou, vocé pode ter um branco (embora possa informar o sexo da pessoa ¢ 0 volume da voz). tengo selotiva a focalizacao da percepeso consciente em um estimulo particular. Atencio Seletiva e Acicientes Fale ao telefone enquanto estiver dirigindo e sua atencdo seletiva mudara para li e para cé, da estrada para o telefone, Porém, quando uma situacdo demandar ¢ requerer sua atencao plena, vocé provavelmente arard de falar. Esse processo de alteracao de engrenagens atentivas, especialmente quando elas se voltam para tarcfas complexas, pode propiciar um ligeiro e as vezes fatal atraso na aso (Rubenstein etal., 001). © National Highway Traffic Safety Board, Srgio responsdvel pela seguranca do tréfego nas estradas americanas, estima (2006) que quase 80% das bati- das de veiculos envolvem distragio do motorista, Em experi- mentos de simulaggo de direcio da University of Utah, estu- dantes conversando em telefones celulares foram mais lentos fem detectar sinais de transito, outdoors ¢ outros carros € rea~ gira eles (Strayer & Johnston, 2001; Strayer et al., 2003). ‘Como a atencao é seletiva, atentar para um telefonema (ou um sistema de navegacao por GPS, ou um DVD player) >provoca desatencio a outros eventos. Assim, quando Suaanne McEvoy e seus colegas da University of Sydney (2005, 2007) analisaram gravacGes telefénicas dos momentos anteriores 2 cama batida de carro, descobriram que usuarios de celulares (mesmo com equipamento para deixar as mios livres) cor- iam quatro vezes mais risco. A presenca de um passageiro Zumentava o risco em apenas 1,6 vez. Essa diferenca de risco também apareceu em um experimento que pedia 20s moto- ristas que estacionassem em um posto de parada na estrada Cerca de 13 km adiante. Dos que vinham conversando com fim passageiro, 88% estacionaram. Ja entre os que vinham falando 20 celular, 50% passaram direto (Strayer & Drews, 2007). Mesmo com as mios livres, falar 20 celular distral ais que conversar com passageiros, que podem ver as ex- séncias do trafego e interromper 2 conversa ‘Caminhar enquanto se conversa também pode ser perigoso, como descobriu uma observacao naturalistica de pedestres feita pela Ohio State University (Nasar et al., 2008). Metade das pessoas que falavam ao celular ¢ apenas um quarto das que ‘pio tinham essa distragdo exibiram imprudéncia ao atravessar ‘2 Tua, como fazé-lo quando um carro se aproximava. Desatencao Seletiva No nivel da percepcio consciente, Somos “cegos" 2 tudo exceto um mintisculo fragmento da Emenso gama de estimulos visuais constantemente 3 nossa Srente, Ulric Neisser (1979) e Robert Becklen ¢ Daniel Cer- “gone (1983) realizaram uma dristica demonstracéo disso a0 exibirem para seus voluntérios um video de um minuto em {que imagens de trés homens de camisa preta trocando passes, om uma bola de basquete eram sobrepostas & de trés joga- ores de camisa branca. A tarefa proposta aos espectadores ‘era pressionar uma tecla a cada vez que um jogador de preto jpassasse a bola, A maioria concentrou a atencao to comple- -Eamente no jogo que nem notou uma moca com uma som- rinha passear pela tela no meio do video. Quando os pes- guisadores repetiram as imagens, os espectadores ficaram at6- ‘nitos 20 ver a moga. Com a atencao direcionada para outro gat, eles exibicam cegueira de desatengao (inattentional blindness) (Mack € Rock, 2000). Em uma recente reedi¢ao FIGURA 3.6 Fassam rudemente entre eles cat ACOUSCIENCIA EA MENTE DE DUAS VIAS (TWO-TRACK MIMD) 68 > FIGURA3.5 Gorilas entra nds Ao prestar atengdo a uma tarefa (contar passes de basquete de um dos times de tres pessoas), cerca de metade dos tespectatores exibiu cegueira de desatencdo 20 nao notar um gorila Claramente visivel passando no meio. do experimento, os astutos pesquisadores Daniel Simons ¢ Christopher Chabris (1999) puseram um assistente vestido de gorila no turbilhao de jogadores (FIGURA 3.5). Durante sua aparicao, que durou de 5 a 9 segundos, o gorila parou. para bater no peito. Ainda assim, metade dos conscienciosos participantes nao o viu. (Os magicos exploraram nossa ceguelra para mudanga por meio da fixacdo de nossa atencao na movimentagSe drastica de uma de suas maos aliada & desatengo para mudanca reelizada pele outra mao. Eim outros experimentos, participantes também demons- traram uma cogueira a mudanca. Apds uma breve interrupszo visual, uma grande garrafa de Coca-Cola pode desaparecer, uma grade pode subir, roupas podem mudar de cor, mas, via de regra, os espectadores nao perceberzo (Resnick etal, 1997; Simons, 1996; Simons e Ambinder, 2005). Essa forma de ‘cegueira de desatencio é chamada de cegueira para mudanga (change blindness). Aconteceu entre pessoas que davam ins- trucdes a um operitio, o qual, sem que elas percebessem, era sbstituido por outro (FIGURA 3.6). Longe da vista, longe da mente, Também pode ocorrer a surdez para mudariga, Em tum experimento, 40% das pessoas concentradas em repetir ira para mudanca Enqunto um orem le cablos bans) igs ‘operario de construcio, dois experimentadores, Jando uma ports. Durante essa intertupCao, o eperétio orignal troca de lugar com outro homem vestindo apes de cofes diferentes. A maioria das pessoas, concenivadas nas instrugbes que estavam sendo dadas, ndo percebe @ toca. 70 CAPITULO 3 »: i : 4 | > FIGURA 3.7 0 fendmeno pop-out (que se destaca) ‘uma lista de palavras &s vezes desafiadoras nao pecceberam a mudanca da pessoa que falava (Vitevitch, 2003). ‘Uma forma de desatencio igualmente espantosa é cegueira de escolha, descoberta por uma equipe de pesquisa sueca, Pet- ter Johansson c seus colegas (2005) mostraram a 120 volun- tarlos dois rostos femininos durante 2 a 5 segundos ou mais ¢ perguntaram a eles qual achavam mais atraente, Depois viraram as fotos para trds e entregaram aos participantes a que haviam escolhido, convidando-os a explicar a opcao. Porém, em 3 de 15 ocasides, os espertos pesquisadores utili- zaram-se de prestidigitaco para trocar as fotos - mostrando ‘205 voluntarios o rosto que rido haviam escolhido. Nao ape- ‘nas as pessoas raramente notavam o truque (em apenas 13% das trocas), como logo explicavam por que preferiam 0 rosto que na verdade rejeitaram. “Escolhi essa porque esté sor- Tindo”, disse um (apés selecionar a de fisionomia solene). Perguntados depois se perceberiam tal troca em um “experi- mento hipotético”, 84% insistiram que sim. Eles exibiram uma cegueira que 0s pesquisadores chamam (esta vendo 0 britho em seus olhos?) de ceguetra de cegueira de escolha. Certos estimulos, no entanto, sao tio poderosos, tio mar- cantemente distintos, que experimentamos o pop-out (0 que se destaca), como ocotre com 0 tinico rosto sorridente na FIGURA 3.7. Nio escolhemos atentar para esses estimulos; eles atracm nosso olho ¢ exigem nossa aten¢ao. Nossa atenco seletiva estende-se mesmo em nosso sono, quando ficamos alheios & maior parte mas no a tudo que se passa ao redor. Podemos nos sentir “mortos para o mundo”, mas no estamos. « cegueira do dosatonco no perceber objetos visiveis ‘quando nossa atensao esta diracionada pare outro lugar. ‘cogueira para mucanca nao percaber mudangas no ambiente. ESTED east ise > Percunte a Si Mesmo ‘Vocé se lembra de uma ocasizo recente em que, com a atencZo voltada para alguma coisa, vocé deixou de perceber outra (talvez uma dor, 2 aproximacao de alguém ou a miisica a0 fundo)? > Teste a Si Meswo 1 Quais sio as duas vies da mente, como revelaram os estudos do “processamento dual”? ‘As respostas is Quests “Teste a Si Mesmo" podem ser enconzadas no Apéndice Bn na do vo Sono e Sonhos sucumbimos. Sono - 0 igualador de presidentes e campo: ses, Sono ~ doce, renovador, misterioso sono. ‘Mesmo quando vocé est em um sono profimndo, sua j perceptiva na verdade nao est completamente fechada. Vc se mexe na cama, mas consegue nao cair. O ronco ocasio dos veiculos que passam pode no perturbar seu sono fundo, mas o choo vindo do berco de um bebé logo o in rompe. O mesmo vale para o som de seu nome. Registros, EEG confirmam que 0 c6rtex auditivo do cérebro responce: estimulos sonoros mesmo durante o sono (Kutas, 1990). quando estamos dormindo, assim como quando estat acordados, processamos a maior parte das informacées fo de nossa percepcéo consciente. “Adoro dormir. Vac® também? Nao é timo? E mesmo duplamente vantajoso. Vacé esta viva e inconscient Rita Radner, comediante, 1983 © Golfinhos, botos ¢ baleias dormem com um lado do cérebro de cada vez (Miller et al,, 2008). = ‘Muitos mistérios do sono estdo agora sendo solucionados, em expcrimentos em que pessoas dormem, conectadas a apa~ relhos de gravacio, enquanto outras observam. Registrando ondas cerebrais e movimentos musculares, ¢ observando € eventualmente despertando as pessoas adormecidas, pesqui= sadores esto vislumbrando fatos que mil anos de senso comum nunca nos indicaram. Talvez vocé possa prever algu- mas de suas descobertas. As afirmacées a seguir sio verda- deiras ou falsas? 1. Quando a pessoa sonha que esté realizando uma ativi- dade, scus membros frequentemente se movem conforme o sonho. 2. Adultos de idade avangada dormem mais que adultos jovens. 3. Sonambulos esto representando seus sonhos. 4, Especialistas em sono recomendam tratar a insénia com ‘um eventual comprimido para dormir. 5. Algumas pessoas sonham todas as noites; outras rara- mente o fazem. ‘Todas essas afirmagées (adaptadas de Palladino ¢ Carducci, 1983) sio falsas. Para ver 0 porqué, continue lendo, Ritmos Biolégicos e Sono !omo nossos ritmos biolégicos influenciam nosso funcionamento ditio, nosso sono € nnossos sonhos? Como 0 oceano, a vida tem suas marés ritmicas. Ao longo de vatiaveis periodos de tempo, nossos corpos oscilam, e, com eles, nossas mentes. Vamos olhar mais de perto dois desses ritmos nosso reldgio biol6gico de 24 horas e nosso ciclo de sono de 90 minutos, ACONSCIENCIA E A MENTE DE DUAS VIAS (TWO-TRACK MIND) 71 Ritmo Circadiano (Q ritmo do dia é paralelo ao ritmo da vida - desde que des- pertamos 20 nascer de um novo dia até o regresso noturno a0 que Shakespeare chamou de “simulacro da morte”. O corpo tem uma sincronia rudimentar com o ciclo de 24 horas do dia ¢ da noite por meio de um rel6gio bioldgico chamado ritmo circadiano (do latim circa, “cerca de”, ¢ diem, “dia"), A temperatura corporal aumenta & medida que a mana se aproxima, atinge o pico durante o dia, decresce momentanea~ mente no inicio da tarde (quando muitas pessoas dormem a sesta) e comeca a cair de novo antes de irmos dormir. O pen- samento fica mais afiado a memérla mais precisa quando estamos no pico diario da atividade circadiana. Se virarmes a noite trabalhando, podemos nos sentir mais exatstos por volta das 4 horas, ganhando um novo gis apés o horério em. que normalmente acordamos. luz da manba ajusta 0 relégio circadiano ao ativar pro- te{nas retinianas sensivels & luz, Essas proteinas controlam o rel6gio citcadiano desencadeando sinais para omtileo supra- quiasmético (NSQ) do cérebro ~ um par de aglomerados do tamanho de um grao de arroz contendo 20 mil células, loca~ lizado no hipotdlamo (Foster, 2004). O NSQ realiza seu tra~ balho em parte fazendo a glandula pineal do cerebro dimi- nuira producdo de melatonina, o horménio indutor do sono, pela manha ou aumenté-la ac anoitecer (FIGURA 3.8). » Por volta dos 20 anos de idade (um pouco mais .do para as mulheres), comecamos a mudar de orujas” energizadas pela noite para “cotovias” amantes da mann Roenneberg et al., 2004). A. ‘maioria das pessoas na faixa dos 20 anos 6 corula, methorando © desempenho ao longo do dia (May & Hashor, 1998). J a maioria dos adultos mais velhos & cotovia, com 0 desempenho declinando & medida que o dia avanea. Ao final da tarde, asilos de idosos 0 tipicamente silenciosos; ja em dormitérios universitarios, o dia esté longe determiner. Luzes fortes durante a noite ajudam a retardaro sono, res- tabelecendo assim nosso relégio biolégico quando ficamos acordados até tarde e dormimos toda a manhi nos fins de semana (Oren ¢ Terman, 1998). O sono frequentemente escapa aqueles que dormem até o meio-dia nos domingos ¢ ‘yao para a cama 11 horas depois em preparaco para a nova semana de trabalho. So como nova-iorquinos cuja biologia esté no horério da Califémnia, Mas ¢ quanto aos norte-ame- ricanos que viajam para a Europa e precisam se levantar quando seu ritmo circadiano suplica: “Durma!”? Estudos realizados em laboratério e com pessoas que trabalham em regime de turno revelam quea luz forte - passaro dia seguinte Nicleo _supragulasmatico tanta pineal Producto de > FIGURA 3.8 2 céu aberto - ajuda a restabelecer o relégio biol6gico (C2eis- leret al, 1986, 1989; Eastman et al., 1995). Curiosamente - dado que os reldgios corporais de nossos ancestrais estavam sintonizados com o nascer ¢ 0 pér do sol das 24 horas do dia ~ muitos jovens adultos de hoje adotam algo préximo a um dia de 25 horas, ficando acordados até muito tarde para ter 8 horas de sono. Por isso, podemos agra- decer a (ou culpar) Thomas Edison, inventor da lampada elétrica. Ser banhado em Iuz distorce nosso relégio biol6gico de 24 horas (Czeisler et al, 1999; Dement, 1999). Isso ajuda a explicar por que, até a idade avangada, devemos nos disci- plinar para irmos'para a cama e nos forgamos a levantar. A maioria dos animais, quando colocada sob iluminacdo art. ficial constante, também excederd as 24 horas do dia. A luz artificial retarda o sono, © Se nosso ritmo circadiano natural fosse sintonizado com um ciclo de 23 horas, precisariamos, Inversamente, nos disciplinar para ficar acordados ate mais tarde & noite e dormir mais durante a manha? » Estagios do Sono 4: Qual € 0 ritmo biolégico do nosso sono? ‘A medida que o sono nos domina e diferentes partes do c6r- tex cerebral param de se comunicar, a consciéncia se esvai (Massimini et al., 2005). Mas nosso cérebro adormecido, ainda ativo, nao emite um sinal de linha constante, visto que © sono tem seu proprio ritmo biol6gico. Aproximadamente a cada 90 minutos, passamos por um ciclo de cinco estagios do sono distintos. Esse fato clementar aparentemente era desconhecido até Armond Aserinsky, de 8 anos de idade, ir para a cama certa noite cm 1952. Seu pai, Eugene, um aluno a pos-graduacao da University of Chicago, precisava testar um eletroencefalégrafo que havia consertado naquele dia (Aserinsky, 1988; Seligman ¢ Yellen, 1987). Ao colocar ele- trodos préximos aos olhtos de Armond para registrar 0s movi- mentos oculares giratdrios que entio se acreditava ocorrerem durante o sono, Aserinsky viu a maquina enlouguecer, tra- gando intensos zigue-zagues no papel milimetrado. Sera que © aparelho ainda estava quebrado? Com o decorrer da noite © a repeticio periddica da atividade, Aserinsky finalmente percebeui que 0s répidos e espasmédicos movimentos ocula- res eram acompanhados por uma enérgica atividade cerebral Despertado durante um episddio desses, Armond relatou ter tido um sonho. Aserinsky havia descoberto aquilo que hoje on Pry O relagio bioldgico A luz que atnge a retnesinaliza 20 nicleo supraquiasmstco (NSQ) que impeca a gléndula pineal de produairo horménio do sono melatonin. A note, o NSQ se cala, permitindo que a pines libere melatonina na corrente sanguinea, T2_capituto 3 > FIGURA 3.9 ‘Medindo a atividade do ‘sono Pesquisadores do sono meder @ _tividade das ondas cerebrais, os movimentos ‘dos olhas e a tensa0 muscular por eletrodos gg capa fracas sia ees do cérebo, foolho e dos misculas facials. (Gonte: Dement, 1978.) conhecemos como sono REM (movimento répido dos colhos*). ritmo circadiane o relégio biolégico;ritmos corporas| regulares (por exemplo, de temperatura e de vigilia) que ‘ocorrem em um ciclo de 24 horas. sono REM sono de movimento rapido dos olhos, um ‘estagio do sono recorrente durante 0 qual comumente ‘ecortem sonhos vividos. Também conhecide como sono ‘paradoxal, porque os musculos relaxam (exceto por equenas contracées), mas outros sistemas corporais pormanecem ativos. Para descobrir se ciclos semelhantes ocorrem durante 0 sono de adultos, Nathaniel Kleitman (1960) e Aserinsky cria- ram procedimentos pioneiros que depois seriam usados com milhares de voluntarios. Para compreender esses métodos ¢ achados, imagine-se no laboratério da dupla. Com o avangat da hora, vocé comeca a sentir sono e boceja em resposta 3 reducdo do metabolismo cerebral. ( bocejo, que pode ser socialmente contagioso, alonga os miisculos do pescoco € ‘leva a frequéncia cardiaca, que por sua vez aumenta a vigi- Iancia (Moorcroft, 2003].)' Quando vocé esté pronto para it para a cama, o pesquisador prende eletrodos a seu couro cabe- ludo (para detectar as ondas cerebrais), bem atras dos cantos dos olhos (para detectar movimentos oculares), € a0 qucixo (para detectar tensio muscular) (FIGURA 3.9). Outros equi- pamentos permitem que o pesquisador registre suas frequén- Cias cardiaca e respiratdria e sua excitacdo genital. ‘Quando vocé esta na cama de olhos fechados, o pesqul- sador na sala ao lado vé no EEG as relativamente lentas ondas alfa de seu estado desperto, mas relaxado (FIGURA 3.10). ‘Ao se adaptar a todo esse equipamento, vocé fica cansado e, em um momento nao lembrado, cai no some. A transicao € marcada pela lentidao da respiracao e pela irregularidade das ondas cerebrais do Estégio 1 (FIGURA 3.11) ondas alfa as ondas cerebrais relativamente lentas de ‘um estado relaxado e desperto. sono perda periddica, natural e reversivel de consciencia - distinta da inconsciéncia resultante do coma, da anestesia geral ou da hibernacdo. (Adaptado de Dement, 1989.) ‘Rapid pe movement, na siga em inglés. (NL) Movimentos do oho esquerdo ane Movimentos do oto deta EMG (tensdo muscula) 7 EEG (ondas cerebro) Despertaerelaxado < ondasaita > Estgio 1 do sono Abner preWod Weeden HP t Iseraatrrvl al Estigio 2 do sono Fuso (surto de atividade) Fim ibd Asc pe Estigio 4 do sono < ondas deta > Sono REM. fee Fase dos movimentos dos ohos > FIGURA 3:10 Ondas cerebrais ¢ estégios do sono As ondas alfaregulares de tum estado despertae relaxado sao bastante diferentes das ondas ddalta mais lentas e amples do profundo Estagio 4 do sono. Embora as ‘épidas ondes do sono REM lembrem as do quase desperto Estagio 1, (0 corpo fica mais aitado durante o sono REM que durante o Estogio, 4. Gonte: Dement, 1978) alucinages expariéncias sensorials falsas, como ver algo na auséncia de um estimulo visual externo. congas delta as ondas corobrals amplas ¢ lentas _associadas ao sono protundo. Em um dos 15 mil participantes de stas pesquisas, William Dement (1999) observou o momento em que a janela per- ceptiva do cérebro para o mundo externo se trancou, Dement pediu ao rapaz privado de sono, deitado de barriga para cima ACONSCIENCIA £ A MENTE DE DUAS VIAS (7WO-TRACK MIMD) 73 ; rT emirate fev Sono Ani comas pélpebras mantidas abertas por meto de fitas, que aper- tasse um Dotio toda vez que uma luz estroboscdpica piscasse sobre seus olhos (aproximadamente a cada 6 segundos). Apés alguns minutos 0 rapaz debxou passar uma, Perguntado sobre a razio, ele respondeu: “Porque a luz nao piscou.” Mas havia Piscado, Ele nao a notou porque (como revelado por sua ati- vidade cerebral) havia adormecido por 2 segundos. Sem per- ceber isso, ele perdeu nao apenas a luz a 15 cm de seu nariz, ‘mas também 0 abrupto momento em que adormeceu. Durante esse breve sono do Estagio 1 podem ser experi- mentadas imagens fantésticas, que lembram alucinagoes - experiéncias sensoriais que ocorrem sem estimulo sensorial A pessoa pode ter uma sensacdo de queda (durante a qual 6 corpo pode subitamente se contrair) ou de leve flutuaczo, Tais sensacdes hipnagégicas podem mais tarde ser incorpor2~ das as memsrias. Pessoas que alegam haver sido abduzidas por alienigenas ~ muitas vezes pouco depois de terem ido dormir ~ comumente recotdam ter futuado ou ficado presas 3 cama (Clancy, 2005), Em seguida hé um relaxamento mals profundo ¢ se ini- ciam cerca de 20 minutos de sono de Estdgio 2, caracterizado pelo aparecimento periédico de fusos do sono - eclosées de uma rapida e ritmica atividade de ondas cerebrais (veja a FIGURA 3.10). Embora a pessoa ainda possa ser despertada sem muita dfculdade, cla esta agora claramente adormecida. A fala durante o sono - em geral distorcida ou sem sentido = pode ocorrer durante o Estdgio 2 ou em qualquer outro estigio do sono (Mahowald e Fitinger, 1990). Entio, nos poucos minutos seguintes a pessoa passa pelo ‘transit6rio Estigio 3 rumo ao sono profundo do Estagio 4. Primeito no Estégio 3, e de forma crescente no seguinte, 0 cérebro emite amplas ¢ lentas ondas delta. Esses dois esté- © Os poriodos de REM ‘mentor came javancar dart Score ta note, Horas dormidas > FIGURA 3:12 Teegune ee > FIGURA 311 (© momento do sono Parecemos néo estar cientes do. ‘momento em que edormecemos, mas alguém que bisbilhotou 10 nosso cérebro foi cepaz de dizé-o. (Fonte: Dement, 1999.) gios de ondas lentas duram cerca de 30 minutos, durante os guais € dificil acordar. Curiosamente, é no final do sono pro- fundo do Estégio 4 que as criancas podem molhar a cama ou apresentar sonambulismo. Cerca de 20% das criancas de 3a 12 anos tém pelo menos um episédio de sonambulismo, que geralmente dura de 2.a 10 minutos; por volta de 5% tém epl- sédios repetidos (Giles et al., 1994). Para flagrar suas préprias experiéncias hipnagégicas, vocé pode usar a funcdo “Soneca” encontrada em alguns despertadores. « Sono REM Cerca de uma hora apés vocé adormecer, algo estranho lhe acontece. Em vez de permanecer em dorméncia profunda, voeé ascende do mergulho inicial do sono, Retomando atra- vés dos Estigios 3 e 2 (em que se passa aproximadamente ‘metade da noite), vocé entra na mais intrigante fase do sono = OREM (FIGURA 3.12). Durante cerca de 10 minutos, suas condas cerebrais tornam-se velozes ¢ em dente de serra, mais parecidas com aquclas do quase desperto Estégio 1. Porém, 20 contririo deste, durante o REM sua frequéncia cardiaca se cleva, a respiracdo torna-se répida c irregular, e mais ou menos a cada meio minuto seus olhos disparam em uma momenti- nea eclosio de atividade por trés das palpebras fechadas. Como qualquer um que observe os olhos de uma pessoa adormecida pode perceber essas eclosées do REM, é de impressionar que a ciéncia ignorasse sua existencia até 1952. Exceto durante sonhos muito assustadores, seus genitais ficam excitados durante o REM, ¢ vocé tem uma erecdo ou um aumento da lubrificacdo vaginal e do inchaco clitoridiano, Minutos do 25 Estagio ge ddo-sono REM 20 a 2" Setar ere Horas dormidas a Os estigios em uma tipica noite de sono A maioria das pessoas passa pelos cinco estagios do ciclo do sono (gréfico a) diversas veres, com 05 periodos do Estégio 4 © depois do Estggio 3 diminuindo e os do sono REM aumentando em durac2o. O grafico b assinala o crescent sono EM e o decrescente sono profundo cam base em dados de 30 jovens adultos. (Fr arttight, 1978; Webb, 1992.) 74_capituto 3 independentemente de o sonho ter contetido sexual (Karacan tal, 1966). A comum “erecio matinal” dos homens provém do iiltimo perfodo de REM da noite, muitas vezes logo antes de acordar. Em jovens, erecdes relacionadas ao sono ultrapas- ‘sam os periodos de REM, durando em média de 30a 45 minu- tos (Karacan et al., 1983; Schiavi e Schreiner-Engel, 1988), Um tipico homem de 25 anos, portanto, tem eresao durante quase metade de sua noite de sono; jé um de 65, durante um quarto. Multos homens atingidos pela disfuneao erétil (impo tencia) tém erecGes relacionadas a0 sono, o que sugere que o problema nao sté entre as pernas. avalos, que passam 92% do dia de pé e podem dormir assim, devem se deitar para o sono REM (Morrison, 2008). Embora o cértex cerebral motor estejaativo durante o sono REM, 0 tronco encefilico bloqueia suas mensagens, deixando os miisculos relaxados - tao relaxados que, exceto por um eventual espasmo digital ou facial, voc? fica basicamente para- lisado. Alm disso, nao pode ser acordado com facilidade. ‘Assim, 0 REM é as vezes chamado de sono paradoxal, com © ‘corpo internamente agitado ¢ externamente calmo. ‘Mais intrigante que a natureza paradoxal do sono REM é 6 que os movimentos répldos dos olhos anunciam: o inicio de-um sonho, Mesmo aqueles gue alegam nunca ter sonhos jrdo, em mais de 80% das vezes, recordar um apés serem des- pertados durante esse estdglo. Ao contratio das imagens fuga- zes do Estagio 1 ("Estava pensando na minha prova de hoje”, ou “Estava tentando pegar algo emprestado de alguém”), 05 sonhos do REM com frequéncia sio emocionais, geralmente narratives e apresentam maior riqueza alucinatéria: ‘Meu marido e eu estévamos na casa de uns amigos, mas eles n30 estavam i, Haviam deixado a TV ligada, mas afora isso estava ‘tudo muito slencioso. Depots de andarmos um pouco pela cas8, fs cacliortos finalmente notaram nosra presenca e comecaram @ Tatire a rosnar at, com os dentes 8 mostra. O ciclo do sono repete-se aproximadamente a cada 90 minutos. A medida que a noite passa, o profundo sono do Estigio 4 torna-se progressivamente mais breve e desaparece. Os periodes do REM e do Estdgio 2 alongam-se (ver FIGURA 3.128). Ao chegara manhd, 20a 25% de nosso sono moturno ‘médio - por volta de 100 minutos ~ foi de REM. Trinta e sete por cento das pessoas relatam raramente ou nunca ter sonlos dos quais podem se lembrar na manha seguinte” (Moore, 2004), Sem saber, essas pessoas passam cerca de 600 horas por ano experimentando cerca de 1.500 sonhos, ou mais de 1100 mil ao Jongo de uma vida normal - sonhos engolidos pela noite, porém jamais praticados, gragas 2 paralisia pro- tetora do REM. « Raramente roncamos durante os sonhos. Quando © REM comera, o ronco para. jue Dormimos? A ldeia de que “todos precisam de 8 horas de sono” no é verdadeira. Recém-nascidos passam quase dois tercos do dia dormindo; jd a maioria dos adultos, nao mais de um tergo. ‘As diferencas relacionadas a idade no tempo médio de sono rivalizam com as diferencas entre individuos em qualquer dade. Alguns se satisfazem com 6 horas por noite; outros regularmente extrapolam as 9 horas. Tais padres de sono podem ter influéncia genética, Quando Wilse Webb e Scott ‘Campbell (1983) verificaram padrao ¢ a duracio do sono Por entre gémeos fraternos ¢ inticos, apenas os idénticos eram marcadamente semelhantes. ‘Os padrdes de sono também so inffuenciados pela cul- tra, Nos Estados Unidos e no Canadé, por exemaplo, adultos dorinem em média pouco mais de 8 horas por noite (Hurst, 2008; Robinson ¢ Martin, 2007). (O sono notumo semanal de muitos estudantes ctrabalhadores fica aquém dessa média INSE, 2008].) Entretanto, os norte-americanos estéo dor indo menos que seus pares de um século atris. Gracas 3s Timpadas elétricas modemas, ao trabalho em regime de turno ¢ As distracdes sociais, aqueles que antes iam pata a cama 2, 2h agora ficarn acordados até as 23h ou mais tarde. Thomas, Faison (1948, pp. 52, 178) accitava de muito bom grado crédito por isso, erendo que menos sono significava mais tempo produtivo € maiores oportunidades: {Quando fui & Sua de automével, para visitar pequenas cidades ccuilas, note oefeito da luz artificial nos habitantes. Onde a ener- fia hidedulica e a luz elétrica haviam sido desenvolvidas, todos ppareciam ter inteligéncia normal. Quando esses mecanismos nao fxistiam eof nativos iam dormir com as galinhas, assim ficando até o dia nascer, eles eram muito menos inteligentes ‘Autorizada a dormir sem interferéncias, a maioria dos adultos 0 fard durante pelo menos 9 horas por noite, afirma Stanley Coren (1996). Com essa quantidade de sono, des- pertamos renovados, nosso humor melhora e trabalhamos ‘com mais eficiéncia ¢ preciso, Compare isso com uma suces- sao de noites de 5 horas, quando acumulamos um débito que no pode ser saldado com uma longa maratona de sono. “O cézebro mantém uma conta precisa do débito de sono por pelo menos duas semanas’, diz William Dement (1999, p. 64). Com o corpo ansiando por sono, comegamos a sentir tum extremo mal-estar. Se tentarmos permanecer acordados, inevitavelmente seremos derrotados. Na batalha do cansaco, © sono sempre vence. ‘Obviamente, entzo, precisamos dormir. O sono comanda cerca de um terco de nossas vidas ~ por volta de 25 anos, em média, Mas por qué? Parece uma questio facil de responder: mantenha uma pessoa acordada por varios dias e note como ela se deteriora Se vocé fosse voluntério em um experimento esse tipo, como acha que ele afetaria seu corpo e sua mente? Vocé fcaria, é claro, em um terrivel estado de letargta - espe- cialmente durante as horas em que seu reldgio biolégico 0 programa para dormir. Mas poderia a falta de sono preju- Gicd-lo fisicamente? Sera que ela alteraria de forma percep- tivel sua bioquimica ou seus Srgaos corporals? Vocé ficaria emocionalmente perturbado? Mentalmente desorientado? + Em 1989, Michaal Doucette fol eleito 0 Motorista ‘Adolescente Mais Seguro dos EUA. Em 1980, ‘nquanto dirigia de casa para a faculdade, Adormeceu sobre © volante @ colidiu cam um carro que vinha na dirago contréria, matandio asi eo Sutro motorista, © instrutor de Michael reconheceu Gepois que nunca falara sobre privacao de sono e 0 Girigir sonolento (Dement, 1999), Os Efeitos da Perda de Sono 5: Como a falta de sono nos afeta? Boa noticia! Psicélogos descobriram um tratamento que for- talece a meméria, aumenta a concentracao, estimula o humor, ‘modera a fome e a obesidade, reforca o sistema imunol6gico, que combate as doencas, e diminui o risco de acidentes fatals. Noticia ainda melhor: o tratamento é prazeroso, pode ser autoadministrado, o estoque é ilimitado e esta disponivel ACONSCIENCIA E A MENTE DE DUAS VIAS (TWO-TRACK MIND) 75 gratuitamente! Se voce ¢ um tipico estudante em idade uni- versitétia, que com frequéncia vai para a cama perto das 2h fc é arrastado para fora dela seis horas depois pelo temido espertador, o tratamento € simples: a cada noite, apenas adicione uma hora a seu sono. ‘A Marinha americana ¢ os National Institutes of Health ‘demonstraram 0s beneficios de um sono sem restrigBes em ‘experimentos nos quais voluntérios passaram 14 horas di- vias na cama por pelo menos uma semana. Nos primeiros dias, tiveram uma média de 12 horas didrias ou mais de sono, aparentemente saldando um débito de média de 25 a 30 horas. Feito isso, voltaram a dormir de 7h30 a 9 horas por noite e, sem débito, sentiram-se energizados e mais felizes (Dement, 1999). Em um levantamento Gallup (Mason, 2005), 63% os adultos que afirmaram dormir a quantidade necesséria também disseram estar “muito satisfeitos” com a vida pessoal (come esto apenas 36% dos que afirmaram precisar de mais sono). Quando Daniel Kahneman ¢ seus colegas (2004) con- vidaram 909 mulheres trabalhadoras a informar seus humo- es didrios, elas se fixaram ao que importava pouco, como Ginheiro (desde que nao estivessem enfrentando a pobreza). E se fixaram ao que importava muito - menos pressio de tempo no trabalho e uma boa noite de sone. © Em uma enquete Gallup de 2001, 61% dos homens, mas apenas 47% das mulheres, disseram dormir o suficiente. ° Infelizmente, muitas pessoas esto softendo com padrdes ‘que no $6 as deixam com sono, mas também lhes negam uma sensacio energizada de bem-estar (Mikulincer et al., 1989). Adolescentes que tipicamente precisam de 8 ou 9 horas kc sono agora dormem cm média menos de 7 hores ~ quase Guas @ menos por noite do que seus pares de 80 anos atras (Holden, 1993; Maas, 1999). Em um levantamento, 28% dos estudantes do ensino secundério confessaram dormir urante a aula pelo menos uma vez por semana (Sleep Foun- ation, 2006). Quando 0 tédio aparece, o sono prevalece. ‘Mesmo quando acordados, os estudantes frequentemente funcionam abaixo de seu potencial. E sabem disso: quatro em cada cinco adolescentes americanos ¢ trés em cada cinco jovens de 18 a 29 anos gostariam de poder dormir mais urante a semana (Mason, 2003, 2005). Anda assim, aquele apaz que s¢ levanta cambaleando melancolicamente em res- posta a um alarme inconveniente, boceja ao longo das aulas, Taatinais e sente uma certa depressio durante grande parte do dia pode ganhar energia as 23h ¢ ignorar a atemorizante sonoléncia do dia seguinte (Carskadon, 2002). Oppesquisador do sono William Dement (1997) relata que nna Stanford University, 80% dos alunos estdo “perigosamente privados de sono... A privado de sono [acarreta] dificuldade mos estudos, diminuicgo da produtividade, tendéncia a come- ter ents, iritabilidade, fadiga”. Um grande débito de sono “faz vocé ficar burro”, diz Dement (1999, p. 231). “Tiger Woods disse que uma das maiares vantagens de | sua escotha de deixar Stanford para entrar no circuito | profissional de golfe foi que entao ele pade dormir 0 | bastante? ‘William Dement, pesquisador do sone de Stanford, 1397 Também pode fazer voce engordar. A privagdo de sono gumenta a quantidade do horménio grelina, que estimaula a fome, ¢diminuia de sua parceira leptina, que suprime a fome. ‘Aumenta também 9 cortisol, o horménio do estresse, que estimula 0 corpo a fabricar gorduura, Como esperado, crian- gas eadultos que dormem menos que 0 normal sio mais gor- dos que aqueles que dormem mais (Chen etal., 2008; Knut- son et al., 2007; Schoenborn e Adams, 2008). E a privagio experimental de sono em adultos aumenta o apetite ea quan- tidade de alimento ingerida (Nixon et al., 2008; Patel etal, 2006; Spiegel et al., 2004; Van Cauter etal, 2007). Isso pode ajudar a explicar o ganho de peso comum cm estudantes pri- vados de sono (embora uma analise de 11 estudos revele que co suposto ganho de 7 kg que os americanos atribuem ao pri- ‘meiro ano de faculdade esté, em média, mais préximo de 2 kg [Hull et al, 2607]). ® Para saber se vocé & um dos muitos estudantes privados de sono, voja a Tabola 3.1 ‘Além de nos tomar mais vulneréveis 3 obesidade, a priva~ ¢fo de sono pode suprimir as células imunolégicas que com- batem as infeccies virais eo céncer (Motivalae Irwin, 2007). Isso pode ajudar a explicar por que pessoas que dormem de 7 a8 horas por noite tendem a sobreviver aquelas eronica~ ‘mente privadas de sono e por que adultos de idade mais avan- sada que néo tém dificuldade para adormecer ou manter 0 Sono tendem a viver mais que seus contemporiineos que dor- mem menos (Dement, 1999; Dew et al., 2003). Quando infeccSes se instauram, em geral dormimios mais, estimu- lando as células imuoidgicas. O débito crénico de sono altera também funcionamento metabélico ¢ hormonal de modos que mimetizam o envelhe- ‘imento e conduzem a hipertensio e 20 prejuizo da meméria (Spiegel et al., 1999; Taheri, 2004). Outros efeitos incluem irritabilidade, lentidio e diminuigao da criatividade, da con- centragdo ¢ da comunicacio (Harrison e Horne, 2000). © tempo de rea¢do aumenta, assim como erros em tarefas visuals como as que envolvem a inspecio de bagagens em aeroportos, a realizagdo de cirurgias ¢a leitura de radiogra- fias (Horowitz et al, 2003). ‘Sonoléncia ¢ alerta vermetho!” ‘William ement, he Promise of Sleep, 1999 [A privagio de sono pode ser devastadora para motoristas, pilotos e operadores de equipamentos. Estima-se que a fadiga ao volante contribua para 20% dos acidentes de transito nos Estados Unidos (Brody, 2002) e para cerca de 30% das mor- tes nas rodovias australianas (Maas, 1999). Considere os horérios do vazamento de petréleo do Exxon Valdez, em 1989; o desastre da Union Carbide em Bhopal, na India, em 1984; € 0s acidentes nucleares de Three Mile Island, em 1979, e de Chernobyl, em 1986 - todos ocorreram apés a meia-noite, quarsdo o$ funcionérios encarregados estavam provavelmente mals sonolentos © menos atentos a sinais que requeressem ‘uma reagao alerta. Quando os lobos frontais cansados enfre {am una situacdo inesperada, oinfortinio muitas vezesé0 resultado. Stanley Coren aproveitou aquilo que, para muitos norte- americanos, ¢ uma experiéncia semianual de manipulacdo do sono - 0 “adiantamento” para o horario “de verao” € “atraso” para o hordrio “normal”. Pesquisando milhées de registros, Coren descobriu que tanto no Canadé como nos Estados Unidos o ntimero de acidentes aumenta imedlata- mente apés 2 mudanca de horario que encurta 0 sono (FIGURA 3.13). 76 _capituto 3 © psicdlogo James Maes. de Comell University afrms que a maioria dos estudantes cofe as consequéncias de dormir menos do que sdeveriam. Para saber se vocé esté nesse grupo, tesponda as Seguintes questoes com “verdadeira" ou “also”: Verdadeiro Iso 1. Precso de um despertador pare acordar na hora cea 2.€ uma lua sei de cama de mena, 43. Durante @ semana ligo varias vezes a funcao “sonecat para dormir mals. 4, Sinto-me cansado,intével ¢estressado durante a semana. ‘5. Teno problemas para me concentrar © me lembrar das coisas. 6. Sinto-me lento no pensarnento citico, na resolucao de problemas e na cratvidade. 7; Frequentemente adormeco assstindo 4 TV. 8, Fequentey ‘adormeco em reuniaes ou palestras entediantes ou am lugares aconchegantes. 89. Frequentemente adoimeco apés refeicoes pesadas ou apés uma pequena dose de dlcool 10. Frequentemente adormeco enquanto relaxo apds o jantar. 11. Frequentemente adormero em cinco minutos apés ir para a cama. 12. Fequentemente sinto-me sonolento enquanto dinjo, 15. Frequentemente durmo horas a mais nas fin de semana. 14. Frequentemente preciso de um cochio ra enttertaro dia. 15. Tenho citeulos escuros ao redor de ‘Se voc tespondeu “verdadeiro’atrés ou mais itens, provavelmente no esté dormindo o sufiente. Para determinar sua necessidade de sono, ‘Maas recomenda que voeé “vs para cama 15 minutos antes do habitual todas 2s notes na proalma semana ~ © continue esse prtica adicionando 15 minutos a cada semana ~ até acordar sem despertador e se sentir desperto durante todo 0 dia’. (Questionéro reprodusida ‘am permissao de James 8. Meas, Power sleep: The ‘program that prepares your mind and body for peak performance [Nova Yorke HarperCollins, 1999)), hs. Namero de Namero ce ets edotes 2.000} Nenos toni seuentes 270 200 als sno, menos | raters 2400| 4000 2300 200 2400 3400 Ss Inicio do horério de vera (horas de sono perdidas) 1 Segunde-feira antes da ‘mudanca de horério > FIGURA 313 Fim do horario de veréo (horas de sono ganlias) BE Segunda-fera apés a rmudanga de horario Acidentes de transite no Canada Na segunda-eia seguinte 20 inicio do horéio de verd0, {cidentes aumentaram em comparacso & segunde-eita anterior. No outono, nivel de neve, golo e escurdso, mas dimin quando as pessoas perdem uma hore de sono, os (0s acidentes de trnsito normalmente aumentam devida ao maior am apés a mudanca de horério. (Adaptado de Coren, 1996) ACONSCIENCIA EA MENTE DE DUAS VIAS (TWO-TRACK MIND) TT ‘Mas vejamos as coisas pelo lado positivo: levar a vida com sono o bastante para despertar naturalmente e bem-descan- sado é estar mais alerta, produtivo, feliz, saudavel e seguro. Teorias do Sono 6: Qual é a funcao do sono? Entio, a natureza cobra nosso débito de sono. Mas por que temos essa necessidade de dormit ‘Temos muito poucas tespostas, mas o sono pode ter evo- ufdo por cinco razées: primeira, o sono protege. Quando a escuridao interrompia a caca e a coleta de comida de nossos ancestrais distantes e tornava as viagens incertas, eles fica~ yam melhor dormindo em cavernas, longe do perigo. Aque- Jes que ndo tentavam se locomover por entre pedras ¢ des- penhadeiros a noite tinham mais chances de deixar descen- dentes. Isso se enquadra em um principio mais abrangente: © padrio de sono de uma espécie tende a se adequar a seu nicho ecoldgico, Os animais que tém mais necessidade de ‘pastar ¢ menos habilidade para se esconder tendem a dormir menos. Elefantes ¢ cavalos dormem de 3 a 4 horas por dia; gorilas, 12 horas; ¢ gatos, 14 horas. Para morcegos e timizs, que dormem 20 horas, viver no vai muito além de comer ¢ dormir (Moorcroft, 2003). (Voc? preferiria ser como uma girafa, que dorme 2 horas por dia, ou como um morcego, ‘que dorme 20?) | “Durma mais répido, precisamos dos travesseiros.’ Provéthio idiche Segunda, 0 somo ajuda nossa recuperagiio. Auxilia a restau- racio ¢ 0 reparo do tecido cerebral. Morcegos ¢ outros ani- mais que tém metabolismo elevado quando acordados quei- ‘mam uma grande quantidade de calorias, produzindo muitos radicais livres, moléculas toxicas para os neur6nios. Dormir bastante da aos neurénios em repouso tempo para se repa- rar, embora permita o enfraquecimento de conexdcs nio uti- lizadas (Siegel, 2003; Vyazovski et al., 2008). Pense desta ‘maneira: quando a consciéncia deixa sua casa, os operdrios do cérebro entram para uma reforma. “Bocejo longo: fome, sono ou manha de dana.” Anénimo Porém, 0 sono nao serve apenas para nos manter seguros «para reparar o cérebro. Novas pesquisas revelam que o sono serve para fabricar memorias - para restaurar ¢ reconstruir ‘ossas lembrancas desvanecidas das experiéncias do dia. Pes- soas trelnadas para desempenhar tarefas lembram-se melhor elas apds uma noite de sono, ou mesmo apés um rapido FIGURA 3:14 © sono ao longo da vida A medida que 3p enwelhecemos, nossos padres de sono mudam, ‘anos Nos primeiros meses, passamos progressivamente ‘menos tempo em REM. Nos primeiros 20 anos, passemos cada vez menos tempo dormindo. (Adaptado de Snyder e Scott, 1972) a2_capiruto 3 Teontas 00 SoNHO Teoria Explicacdo “satstecao de deseios (red) Percunre a Si Mesmo Em alguns paises, como a Gra-Bretanha, 0 horétio escolar dos, adolescentes vai aproximadamente das 9h as 16h. Em outros, ‘como nos Estados Unidos, costuma ir das 8h as Ih, ou mesmo das 7h30 as 14h30. Madrugar nao estd ajudando a estudar, dizem os criticos — s6 a cochilar. Para uma Vigilancia e um bem-estar idea, os jovens precisam de 8 2 9 horas de sono por noite, Entio, deveriam as escolas que ‘comecam cedo mudar para um horério posterior, mesmo que isso requeira a compra de mais Onibus ou a troca ée harério ‘com escolas primatias? Ou seria impraticavel e adiantaria pouco para remediar 0 problema do cansaco dos adolescentes? > Teste a Si Meso 2 ‘Voce tem dormido o suficiente? © que vocé poderia se Perguntar para responder a esta pergunta? ‘As respostas is Questses “Teste Si Mesmo” podem ser encontadse ne ‘péndiceB, no final dove, Hipnose 10: O que é hipnose, e que poderes um hipnotizador tem sobre um sujeito hipnotizado? IMAGINE QUE VOCE ESTA PRESTES A SER hipnotizado. © jotizador convida-o @ se reclinar, fixar o olhar em um, onto no alto da parede e relaxar, Com voz calma ele prope: (0s sons fornecem ume “valve de escape psig expressando sentimentes de outa forma inaceRave’s; Possuem conteddo manifesto lembredo) e uma camada thai profunda de contedo latent>—um sgticado ocala. (Qs sonhos ajudam-nos a seleconar os eventos do ‘Restimulagao regular do crebro pelo sano REN pode ento ea presenuagao das vas neurals (0 sono REM desencadeia 2 aividede neural que evoca ‘memirias visuals aleatoras, as quais nosso cerebro mei transforma em fist (0 canted do sono refete 0 desenvolvimento cognitive do sonhador ~ seu conhecimento e sua compreensao. Consideracies Criticas cr Catece de qualquer suport cnt Sonos podem er nterpretacos de rane erent: iaea Mas porque as veres sonhamas com eventos que nae vvenciamos? Issa pode sar verdadeio, mas nao exp or Gu temos soos significa. © cerebro do Indiiduo est tecendo a5 Fistor, que ainda nos dizem algo sob 8 sonhador. Nao considera a neurociéncia dos ‘sonhos. “Seus olhos esto ficando cansados... Suas palpebras esti ficando pesadas... mais e mais pesadas... Estdo comegando a se fechar... Vocé esté relaxando mais intensamente... Sua res piracdo agora ¢ profunda e regular... Seus mtisculos esta ficando mais ¢ mais distendidos... Seu corpo inteiro esta comecando a parecer chumbo.” ‘Apés alguns minutos dessa inducdo hipndtica, vocé pode, experimentar a hipnose. Quando o hipnotizador sugere: “Suas pélpebras estdo tao fechadas que voc€ no conseguira abri-las se tentar”, pode de fato parecer estar além de seu controle abri-las, Se ele Ihe disser que esqueca 0 ntimero 6, vocé pode ficar perplexo ao contar 11 dedos em suas maos. Convidado a inalar um perfume sensual que na verdade € aménia, vocé € capaz de se prolongar, deliciado, sobre seu ‘odor pungente. Se Ihe for dito que néo pode ver certo objeto, como uma cadeira, vocé pode realmente afirmar que ela nio esté ali, embora consiga evité-la ao andar pelo recinto (o que ‘mais uma vez ilustra essa sua mente de duas vias). ‘Mas seria mesmo a hipnose um estado alterado da cons- cigncia? Comecemos com alguns fatos bem-aceitos. Fatos e Mitos Os estudiosos da hipnose concoram em que seu poder reside no no hipnotizador, mas na abertura do sujeito & sugesto (Bowers, 1984). Hipnotizadores nao tém um poder magico de controle da mente; simplesmente empregam a capacidade das pessoas de se concentrar em certas imagens ou compor- tamentos. Mas até que ponto estamos abertos & sugesta0? Qualquer Um Pode Experimentar a Hipnose? Até certo ponto, estamos todos abertos & sugesto. Quando as pessoas ficam de pé com os olhos fechados e Ihes é dito que estio balancando para ld e para e4, a maioria ird real- ‘mente balancar ium pouco. De fato, a oscilagao postural é um dos itens avaliados na Escala de Suscetibilidade Hipndtica de Stanford. Pessoas que respondem a tais sugest®es sem hip- nose sio as mesmas que respondem com hipnose (Kirsch ¢ Braffman, 2001)

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