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99 Colarapite, Ksopor. pens caudais de arara 2 plumas de ct Ribeiro, Fla de Janeiro etdees, 56, col Em tudo isso tem um papel central o pai do menino a ser batizado, que desde o nascimento de seu filho macho, perdeu seu nome para ser chamado simplesmente pai-do-menino. Ele convocaré os parentes para ediftcer ume nova maloca que seja grande, portentose e bela, para ali re: esber © acolher todos 98 convidados: sabando bom que cada um delee staré 0 medir a feste polae dimenadee daquo'a casa, comparando-a com quantas vra antos. As mulheres da aldoia tamoém tém taroias 05- paciais como a modelagem des grandas camucins Ge ceramics para fer- mentar 0 cauim que a todos iré embriagar. Também elas so julgadas pelas dimensées, pelo formato e pela beleza desses imensos potes boju- dos ao radar dos quais se desenvoive a festa. 0 pa, ademais. deve conteccioner, sozino,s2 6 capaz ou ajudado palo melhor plumista, se necessério, os dois prineais adornos Kaapor 6 colar-lauta-emplumedo com api de 0ss0 de gawéo real que tocara durante a cerimdnia, e o grande diadema amerelo-ouro feito de penes caudais do japu, dédiva do proprio Mafre-Coraci a seu povo. Ele ¢ a re~ presentacéo do pr6ptio sol que deve abrirse e cingir 8 cebece do guti, justo momento do amerhecer, quando se saberé sou nome. Nome que, desde entéo, ser usado pelo pai o ndo polo filho: Maxhu se o filho so chara Maxi, Soké-hu se 6 Sokd. Mas no somente gf pai, todos 0s ho- mens @ mulheres @ todos 08 corvidados que ey de fostaestardo por longo tempo preocupados em colecionar plunas de passaros para preparar os adornos que hao de exibir durante 0 cerimonial ¢ depois. nas largas horas de comedoria, de bebedeira e de folia orgiastica E principalmente em funcdo destas festas cerimonais que os Kaa- or fazem seus pentes emplumados, seus brincos e suas pulseiras deli- cadissimas, suas belas bracadeiras florais, seus soberbos canitares ama- relos ou verdes, enchendo os patuas com aquilo que constitula quando 14 estivemos — por volta de 1950 — a sua grande riqueza e seu grande orgulhe Jé nos roferimos aos rituais de méscaras de outras tribos que so também enormes cerimonais festivos com igual gasio supérfluo de bers © com igual exibiedo de grace ¢ de beleze, principalmente nas dances, colotivas, com toda a gonto engalanada, pintada o omplumada, Assim 6 que a fests concatena inGmeras atividades, reativando toda a vida tribal para devolver a cada possoa 0 gosio dos quitutes mais gostosos e Ihes dar as alegrias da folia e todos os melhores gozos deste mundo © que taz 0 Kaapor na festa de nominagso outros grupos fazem a partir de citerentes cerimoniais, utilizando certas instancias como os pasos de uma idade a sequinte, ou outra motivacdo qualquer para mon- tar 0 que realmente importa, que s&0 seus cerimoniais festivos. No norte do Amazonas, Indios adeptos de Jurunari — 0 sabio afiancador da hege- monia dos machos, em economias nas quais as mulheres eram jé a prin= cipal forga produtiva, cultuam sua meméria, com diversos tipos de festas cerimoniais. Os Bororo elaboraram a prépria morte cultuendo fertestica- mente © sepultamento dos seus grandes chefes em cerimoniais que du- ram quase um més, durante os quais tode a tribo deve reunit-se para re- acender em cada um de seus membros o gosto de viver, de dancar, de Tit, de comer, de beber e de amar. wow Os xinguanos reslizam sous moitards como vastas festas a que comparecem tadas as tribos da regio para concorrer nas disputas das- portivas da uka-uka € do javart, nos leilSes de escambo e também nas dancas @ nos ritos cerimoniais que garantem a sobrevivéncia do mundo +e.a continuidade do gozo de viver dos homens. Os Timbira consequem o milagre de manter o ritmo de um ciclo cerimonial festivo com dez anos de duragao. Constitul una superfesta @ uma verdadeira escola que en- volve toda a tribo para arregimentar cada nove geragao, iniciando-a, ano apds ano, através de perlocos de prétices cerimoniais, na sabedoria ideolégica e pratica da tribo, até sua integrapao no.mundo dos adultos. ‘As grandes malocas + Outro cempo maior da criatividade artistica dos indios brasileiros & a edificagZo da maloca, Ela constitul o grande empreencimento coletiva cuja concepeio arquiteténica e cuja engonharia construtive resumem tode @ sobedoria tradicional que se recapitula, atualize e transmite as no. vas goragées, cada vaz cus so emprocndo a construgéio de uma nove maloca A maloca 6, em muitos sentidos, 0 simbolo da comunidade que @ edifica 2 que nela vive. Como tal expressa 0 orgulha tribal, tanto por suas dimensdes avantajadas como por seu primoroso acabarhento. Mais que ualauer outra atividade, ela exprime o poder de conducao da lideranca tribal e a capacidade de cooperagdo do grupo local. AO MeSMG TEMPO, 499 inser demote, ate Xingu Cumpre a {uneao social de consolidar a solidariedade comunal materiai- Zando seus vinculos de parentesco e de linhegem numa grande obre Visivel que & a residéncia coletiva Observando as casas indigenes brasileires se pode constetar como diferentes tribos, com graus distintos de complexidade cultural, thes fo- ram dando as formas que clas assumiram sucessivamente, desde 09 abrigos mais olomentares at6 as grandes malocas. Enire as casas mais singolas, contam-se os péra-ventos de galhos © palnas simplesmonte fin cades no chZo vergados scbre uma vara para protager contra uma chuvareda, coma fariam os Bctocudos de Minas. Ou os taperis de folha de sororoca armados da improviso pelos Guaja do Marenhao. Mais com- plexos s40 0s toldos feitos com grandes esteiras de canas de piripiri com que 03 Indios do Pantanal armavam suas barracas, Ainda na categoria de abrigos temos a galnaria sustentada numa vara transversal dos indios Xokleng de Santa Catarina. Formas ainda elementares, mas de grandes dimensdes desenvalvidas aparentemente a partir dos abrigos, s80 por exemplo os enormes péra-ventos dos Yanomani, montedos em cliculo com paredes de até quinze metios, fortemente inclinadas para dentro @ em geral deixanco eberto tado um lado; quando por excegao fechem-no, @ maloca configura um enarme circulo COnico com ume vasta abertura central no alto, € j4, entdo, uma obra de arte que orgulheria a um bom arouiteto. 101 Maloca. ato Xinou Formas algo mais complexas, correspondents |4 2 casas, $80, por exemplo, a habitacio tubular aberte lateralmente, dos Kayud do sul de Mato Grosso, ou 0 ranchgo em forma de szla, fectiado lateralmente, dos Karaja da ilha do Bananal, As malocas proprierente surgem em duas li- nhas mestras que se desenvolvem também a partir dos abrigos, Uma de- las, de gosto curvilinea, nos dé tanto as cu mais postes centrais, como a casa colmeia dos Wapixana; 8 as gran. des construgies de base circular e teto cénico dos Makuxi; 0 ainda, na mesma linha, as grandes malecas do Xingu, com seus 25 metros de comprimente por 10 de largura e 7 de altura, armadas como grandes cestos cupulares de varas verdes e palmas sobre uma base eliptica sustentadas por varias colunzs, 4s vezes ajudadas por pilares transver- sais. Estas Ultimas so também inegavelmente grandes criapdes arquite- tOnicas, A outra linha, esta quadrangular, nos dé, tanto casas medianas de 16 metros por 6, de duas éguas. cobertas de palmas, dos Kaanor do Gu- Tupi. Como as imensas construcdes dos Baniwa co rio Negro, que atin glam 45 metros de comprimento por 14 de largura € 12 de altura, po: dendo abrigar centenas de pessoas. S80 as maiores edificagdes © as mais elaboradas dos indics do Brasil ‘esas de base circular, com um combinacao de motivagdes cerimoniais com a nace A construgo dessas grandes malocas ocupa a comunidade por meses €, as vezes, por mais de um ano, como uma atividade diuturna que envolve tado o grupo local. Sua consecugao supée, geralmente, a idade da mudanca do arupo para um outro sitio, em razao do esgotamento dos terrenos de cultivo mais proximos, ou da superexploracéo das areas vinhas de cava, pesca e coleta. Deve, por isso, ser preceaida da abertura de rocado num sitio novo e durante muito temipo © grupo fica ainda na dependén- cia da antiga morada, pois 5 érvores frutiferas, as talas de canas, as fi- bras, os pigmentos, os temperos € outras plantas das coiveras levam ‘anos para se desenvolver. A edificagio em si é um empreondimento importante quo exiga meses de trabalho exaustivo para cortar ¢ acumular sapé ou palmas, co- Ihidas na lua certa; para talar @ conduzir a aldeia centenas de toros de madeira de dimensdes apropriadas e milhares de vigas varas: além de toneladas de cip6s que a tudo devem atar A mudanca final para a grande maloca ¢ assinalada, em garal, por uma grande festa organizada pela comunidade para sua propria gratificagdo depois do grande estorco cesprendido também para recordar a todos os grupos vizinhos com ‘que mantém relacdes de reciprocidade que os de c4 estao vivos e vivern bem. Aimporténcia artistica da maloca ¢ acrescida porque elas receber, em alguns casos, verdadeiros painéis de decoragéo pict6rice. Karl von den Steinen, que foi o primeiro cientista a visiter o Xingu —e a quem de- vemos um dos melhores registros sobre as artes indias —, viu vérios des- 1808 mureis pintados nas casas-de-fleutas des aldeias xinguanas. Chegou mesmo a designar como casa-dos-artistas a estas malocas especiais em que s6 05 homens t8m entrada, porque ali guardam a paramentalia ceri- monial que as mulheres no podem ver. Os referidos painéis, um dos quais tinha 60 centimetros de largura e cobria toda a extensAo de mais de 20 metros da casa, era pintado com 0 que. para nés, séo triangulos. losangos e reténgulos nas formas estilizadas através das quais, para os xinguanos, elas figuram u/uris, peixes € morcegos. Algumas vezes eram. pintados com riscos negros esverdeados de jenipapo sobre fundo branco de tabatinga. Outras vezes, com listas amarelas e brancas sobre fundo negro de fuligem. Outro etndlogo, Koch-Grinberg, descreveu uma das enormes malo- cas quadrangulares dos Tukano, onde registrou um imenso painel pin- tado de preto, veimelho, amarelo © branco, com figuras estilizadas de homens, enimais ¢ utensilics ‘A mais alta pinture decorativa do interior des casas foi documen: tada nas aldeias Apalat e Urukuiana do.rio Jari (antes do Ludwig cheger) Consiste de rodas cortadas transversalmento om troncos de madoira que podem alcangar um motro de didmotro, para sorom postas como ro- mate no poste central das suas malocas circulares, pintadas como os paingis mais policromados de quantos jé se registraram no Brasil. Suas figuras, provavelmente simbélicas, de sabor geométrico, so pintadas com tinta preta, branca, amarela, vermalna e até azul sabre o fundo ne- gro carbonizado da grande roda } } 2.5 Nose os indios Postos em contato pacifico com frentes da sociedade nacional, 0s Indios comegam a percorrer 0 doloroso transe que medeia entie sua condigdo original de gente auténoma, com seu modo de vida peculiar @ a sua prépria visdo do mundo, @ a condieao posterior de marginals da ci- vilizagSo. Neste trénsito deixam de ser indios espectticos - revestidos dos atributos de sua cultura - para se reduzirem a indios genéricos - cada vez mais aculturados - mas, ainda assim, sempre indios, porque se con- cebem a se sofrem @ assim so vistos € malvistos pelos vizinhos neobra- sileiros. No curso deste processo de integracdo compulséria & sociedade regional @ nacional, centenas de povos com suas linguas e culturas pré- prias desapareceram quase sem deixor vestigios. Com oles desaparece ram outros tentos estilos de criatividede artfstica, dando cabo, inapela- velmente, de uma quantidede assombrosa do oxpressées singulares da busca humana de boloza © impacto da civilizagdo sobre as sociedaces tribais tudo corrdi @ degrada, Apodrece os corpos com as pastes do homem branco que re- duzem drasticamente a populagdo @ convertem os sobreviventes, oor longo tempo. em mulambos ambulantes. Desintegra a comunidade soli- daria para atrelar homens e mulheres a economia de mercado, @ com ela, a existéncia femeélica dos brasileiros pobres. Desacredita suas cre: cas e desmoraliza seus valores, ao demonstiar que seus deuses s8o im- potentes; suas verdades, ilusdes; suas virtudes, fanfarronadas; porque 0 nico fato incontestével ¢ 0 poderio, a sabedoria ¢ a porversidade dos homens brancos. Igualmonte drastico so seus efeitos sobre a arte india, que perece polo engajamente dos indios na sociedade de classes, sequida da des- mobilizaco das velhas motivacdes que sustentavam o estorco perteo: cionista e da desmoralizacao de seus critérios de apreciacao da beleza. vistos agora como bizarros ou até mesmo como hortendos. Generos inteiros desaparaceram de abrupto. Este foi o caso, entre tantos, do instrumental de pedra polida de primorosa execucdo que, assentando-se numa alte mesiria técnica, também ensejava altas ex- pressées estéticas. Ao contato com a civilizagdo, ele code lugar és nos- ‘sas ferramentas supercortantes que apesar de tdo eficiantes nada acres centaram 8 criatividade do artista indigena, desrnoralizado ¢ desativedo: A gloriosa nuder original, que era a base fisice da arto da pintura de corpo e da ornamentagao pluméria, dé lugar as figuras malt-spilhas do indio catequizado e aculturado. As grandes malocas comunais que cons- ttufam a8 meioros criagSes da técnica @ da arte indigenas, so desfazam ‘om miltiplas rancherias precarissimas, como a dos caboclos, a cuja cexisiéneia @ a cuja tristeza os Indios sé compelidas a acamodar-se vaya ge © mais doloroso é que tudo isto se perde em vao. E se perde total © completamente. Nossas artes erudites nada tm, nem terdo, da indi- gene. S8o transposigdes das artes do invasor, 36 sensiveis aos movimen- 108 estéticos metropolitanos. Nossas artes populares - oriundas soja de ressondncias das oruditas, soja de oxpressées incultas da criatividade dos pobres - também no herdaram nada da sensibilidade e do requinte da arte indigena, nam do patriménio artistico desenvolvido por tantos. povos 0 longo de milénios ‘As artes indias que ai se véem e que Dodemos estudar nao S80 for- mas decadentes daquelas artes perdidas. Sao, isto sim, artes de povos alcangados tardiamente pela avalanche civilizatoria que, 30 por isto, pu- deram preserver sua criatividade até nossos dias. Aigumas deles que ainda pudemos observar diretamente, hé trinta anos atrés, quando eram artes viventes expressendo-se com todo vigor - como a caprichosa pin. tura de corpo dos Kadiwéu ou a apuradissima arte pluméria dos Kagpor, dogradaram-se depois, avassaladas. As artes que ainda vive, quanto tempo mais sobreviverdio? Da civilizagao as artes indigenes s6 receberam trés contribuigées representadas por dois novos materiais ¢ por um estimulo revigorador. A Drimeira contribuicdo surge nas aldeias na forma de um material novo ue encante os indios, um material s6 inferior as plumas da passarada, que eram as migangas de louce colorida. Por elas os indios pagam, desde os primeiros sfculos de contato, o que se queira, certos de que elas so 0 verdadeirs ouro dos brancos, incapazes de apracié-lo em todo © 80u valor inestimével. Usam-na para compor colares, brincos, pulsoires @,no alto Amazonas, até mesmo para tecer tangas belissimas, com uma arte propria e Gnica 0 outro material artistico da civlizapao so as anilinas. que desban- cam rapidamente as tinturas indigenas para telas. substituindo-as pela gama belissima das cores quimicas que entram prontamente 2 colorir seus molambos. © incentivo a que nos referimos, este de carater ambiguo, por ser t80 destrutivo como construtivo, & representado pelo interesse ldidico que algumas criagdes indigenes despertam no nosso mercado turistico. Efetivamente, se 0 alento que deles provém possibilite a sobrevivéncia de certas técnicas, ole também compele, no mesmo passo, & sue produ- 80 em massa com fins vonais 0 A consequente degradago. Por esta via surgem os primeiros artes&os indigenas, ou seja, indios profissionaliza dos no fazimento de pegas estereotipadas para o mercado, que pouco 2 pouco vao dexando de produzi-las para o gosto da comunidade tribal ara passarem a atender ao gosto da freguesia nova. Essa vida na morte, dada pelo interesse turistico. ainda assim 6 mais vida que @ morte derra- deira PRINCIPAIS COLECOES PLIBLICAS Museu co indo R. Mata Machado, 127 Rig de Janero, Ri. Museu Nacional Quinta da Bos Vista Rio de Janero, Ru. Museu Paraense Emilio Goes ‘Ay Irdependéncia, 364 Belém, PA. Museu Paulista da Universidade de S80 Paulo Jardim do Ipiranga Sao Paulo, SP BIBLIOGRAFIA ANORADE, Mério de. Macurtina, $80 Pavia. Martins. 1977 BALDUS, Hervert, Lendes dos Jadios do Brasil Sao Paulo, Brasilonse. 1966, — Tepirep: tbo tuoi ro Brasil Cone Sio Paulo, Cia. Editora Nacional 1970. BARATA Frederica. As artes piésticas no Brasil Rio de vaneiro, Sul América © Banca Hipotecério Lar Bresilero 1982, BISILLIAT Mauréan. 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Ceramics, In: HAND- BOOK ef South American Indians Weshingten, Smitnsonian Institue ton, p. 139-204 wow 99 Do século XVI ao inicio do século XIX: maneirismo, barroco e rococé Benedito Lima de Toledo 3.1 Introdugao . “Eu, ElRei, faco sober a vés, Tomé de Sousa, fidalgo de minha casa, que vendo eu quanto servico de Deus e meu 6 conserar e enobrecer as Capitanias povoacdes das terras do Brasil e dar ordem e maneira com que meihor ¢ mais seguramente se possam ir povoando, para exakzamento da nosse Santa Fé ¢ proveito de meus Reinos e Senhorios, @ dos natureis deles, ordenei ora de mendar nas ditas terras fazer uma fortaleza e povoacao grande e forte, em um lugar conveniente, para dal se dar favor @ ajuda ds outras poveag6es © so ministrar justica prover nas cousas que cumprirem a meu servico e 208 negécios de minha Fazenda @ a bem das partes: @ por ser informado que a Bahia de todas os Santos 6 © lugar mais conveniente da costa do Brasil para se oder fazer a dita povoacéo e assento, assim pele disposicéo do porto e ries que nela enram, como pela bondade, abastanca € saude da terra, € por outros respeitos, hei por meu servigo que na dita Bahia se faca « dita povoagdo e essento, e pare isso vé uma armada com gento, artiharia, armas 0 munig&es e todo o mais que for necessério (...) E 1n0 sitio que vos melhor parecer, ordenareis que se faca uma fortaleza da grandura @ feipSo que a requerer 0 lugar em que a fizerdes. conformando-vos com as tragas e amostras que levais: praticando com 08 oficiais que para isso Id mando. e com quaisquer outras pessoas que 0 bem entendam; e para esta obra vo em vossa compenhia alguns oficiais, assim pedreiros e carpinteiros, como outros que poderéo senir de fazer cal, telhe, tiolo; @ para se poder comegar a dita fortaleza, vio, nos navios desta Armada, algumas achegas, eno achando na terre apareiho para se a dita fortaleza fazer de pedra e cal, fer-so-d de pedra e barro ou taipas ou madeira, como ‘melhor puder ser, de maneira que seja forte; e como 172 aita fortaleza for feita tanta obra que nos parece que seguramente vos podereis nela recolher @ agasalhar com a gente que levais, vos passareis a ela, eixando, porém. na dita cerca que esté feita, alguma gente que 4 baste para @ povoar e defender’ do reaimenta de Tomé de Sousa As terras que El-Rei D. Jodo Il tao zelosamente tratava de conservar e enobrecer fascinava a imagina¢ao dos povos. Cumpria povod-la e detende- la. Américo Vespiicio, que em 1503 estivera na feitoria de Cabo Frio, entie outras, fez um relato cuja repercussdo podemos aferir pela obra de Thomes Morus. Consta que essa feitoria teria inspirado a Utopia. No livro primeiro dessa obra, na Comunicagéo de Rafael Hitiodeu, essim 6 apresentado 0 personagem: “Portugal & 0 seu pais. Jovem ainda, abandonou seu cabedal aos itmaos; e. devorado pela paixao de correr o mundo, amarrou-se 4 pessoa e 4 fortuna de Américo Vespticio. Néo deixou por um 86 instante este grande navegador. durante as trés das quatro viagens, cuja narrativa se 18 hoje em todo mundo” Depois de alguns ensaios, El-Re: toma a deciséo, jé inadidvel, de “dar ordem & maneira com que methor © mais seguramente se possam ir povoando” terres ‘tho cobigadas. Por essa época, 0 mundo das artes via surgit elgumas obras, como L Architettura (1640), de Sobastiano Sorlio, Regole delli cinque ordini (1562), de Jacopo Barozzi Vignola, Quatro libri doll architettura (1570), de Andrea Palladio. Por sua vez, Vasari, em 1550 e depois em 1568, publicaria a sua célabre obra Le Vite, estabelecendo pela primeira vez uma teorla do desenvolvimento da hisi6ria da arte. Todos esses eventos se juntam quando comegamos @ estudar a formagao da rede urbana no Brasil, 0 surgimento das primeiras obras de arquitetura © 03 primérdios da produgao artistice. ovis omn9s00 ‘reno Soran nsw x oon} OO * “que uma denominaga exoressa ape- nas a porspectiva segundo e qual oventa- mos nossas pesquisas, nfo ccrrespon- endo, poreno, a uma verdad ininsece! * "senda mais audaciosas ou mals ing russ, tracuriram justamerte sentiments ou iélas cule expresséo se via tolhide polas regres @ pala douttina, embcre hnoje em dia ja se tenha consciéncia de que elas stesiam a var'edede 0 as contra digdes da experiéncia humana na Eu- f0p2, no transeurco de uma épeca que vai da Renascence ao lluminismo * "as zonas indeterminadas ce transicdo ou de contaminsetc’ Para bem compreender o significado das expresses Renasci- mento, Meneirismo, Barroco, devemes ter prosente a recomondagao de Victor Tapié, a sabot, “qu'une dénomination traduit seulement la pers- active dans laquelle nous orientons nos recherches et qu'elle ne saurait correspondre & une vérité intrinsdque’"** Foi necessério muito tempo para que a critica'se libertasse dos pre- conceitos racionalistas do século XIX que langavam 0 Barroco 4 conta de arte decadente, por se ataster das estritas regras' do Classicism. Falta de equilfbrio, falta de contencéo, concessao excessiva a emo- 40, tais os desvios apontados ao Berroco. Esses ‘desvios’, por serem devidos a0 ambiente, a condicionantes histéricus © sociolégicos, aca- bam, justamente, por der maior interesse & obra de arte. Precisamos fi- car atentos @ um felso julgamento de valor que atribue uma superiori dade de direito de um estilo sobre outro, dag obras que respeitam as re- gras estabolecidas sobre as que “plus audaciouses ou plus naives ont traduit justement les sentiments ou des idées dont les régles et la doc- trine génaient expression et dont nous savons bien, a présent, ou’elles attestent la variété et les contraditions de l'expérience humaine, en Eu- rope, au cours d'une époque qui va de la Renaissance a la philosophie des lumiéres”*? Segundo 0 mesmo Victor Tapié, que nos recomenda ainda que ao invés de procurar antagonismos entre periodos devemos buscar justamente “les zones indéterminées de frange ou de contamination”.® Nesses zonas indeterminadas vamos encontrar 0 Maneirismo, pala- wa que ainda carrega alguma conotago pejorativa No século XVI por ‘maneira’ entendia-se o procedimento inerente a uma menifestacdo ertistica, @ forma correta de proceder, ou a peculiari- dade de produdo de um determinado artista. J4 no século passado 80 raservava 0 termo ‘maneirismo’ pare a arte que no conseguia ultrapassar os limites da pura imitagao, abdicandb da originalidade. Hoje, Maneirismo é termo reservado para designar justamente um desses periodos de assentamento, de ajuste, de transicéo. © Maneirismo caracteriza-se primordialmente por um confito. De uma parte havia uma codificacéo que regia 4 boa arquitetura, cuja ex pressao eram os tratados de Serlio, Vasari, Vignola @ Palladio, De outra, uma tend@ncia & ampliacao desse formulario com maior concessdo a criatividade do artista colocado face as imposigdes circunstanciais de seu trabalho, Na primeira fase do Renascimento no havia concessdes. O artista perseguia um ideal; seu mérito artistico era aferido, em grande medida, por critérios intelectuais, Logo, porém, as academies surgides na Itélia comegaram, em mea- dos do século XVI, @ por a prova esses regras, colocando o artista face 6 duas opybes: ater-se @ elas de forma quase impessoal ou permitir que sua sonsibilidade conduzisse a noves soluges + “A carga nao pesa, @ bese nao sus- tonta, ag reagbes naturais ndo t8m qual- quer partcpag3o — um sistema alta mente artificial mantido pela mais sovera as disciplines. Eo conflito entre a tradig&o ideal e a tradic80 histbrica de que nos fala Leonardo Benevolo, para quem “a audécia ¢ a inquictagao da arqui- tetura maneirista agiré sobretudo dentro dos limites convencionais, compondo © decompondo de todas as formas possiveis os elementos habitusis."* A procura de solugées novas e originais acontece em outros cam- pos, como no cientifico, @ exemplo das hipéteses engenhosas de Copé'- nico No Renascimento. assinala Leonardo Benevolo, 0 artista para ficar 4@ altura de seu ideal deveria ser um génio, enquanto se chegasse a dar uma forma mensuravel a esse ideal, haveria luger para todo tipo de deci 880, das mais audaciosas 85 mais timidas, e luger pare todo tipo de ta- lento, do g&nio ao aprendiz honesto. essa forma, a figura do génio vai cedendo lugar a figura do profis- sional. Hé, igualmente, uma separac&o mais clara das atribuigdes do ar- quitoto, do pintor @ do esculter. O primeiro trabalho de Miguel Angelo (1475-1584) como arqui toto, ¢ trabalho de quem nunca havia sido iniciado nos segredos das téc- nicas construtivas e do projeto, foi a capela Médici, a qual, assinada Ni kolaus Pevsner, foi concebida para ser fundo de uma obra escultorica * Quanto a biblioteca Laurenciana — maneirismo em sua forma arquiteto- nica mais sublime. segundo esse autor —. a arquitetura parece parali- sada: “The load does not weigh, the support does not carry, natural reac- tions play no part — a highly artificial system upheld by the severest discipline.”** Pare Jacob Burckhardt a sala da biblioteca Laurenciana “6 uma incompreensivel brincadeira do grande mestre".* Na arquitetura do Maneirismo, as formes estruturais, a escultura © ‘2 decoraggo se fundem ou se superpdem som respeito @ antiga hierar- quia. Resumidamente, podemos lembrar 0 conflto registrado por Bene- volo ao dizer que a expariéncia maneirista continha duas tendéncias opostas: definir de modo preciso um niicleo de normas gerais que ser- visse a aplicagées as mais diversificadas para. em saguida, fugir de Modo sistematico a essas mesmas regras. valorizando a tenséo tradu- 2a pelo confronto entre as regras e sua transgressao.” A \ustificative que Vignola dé pera a inseroao em seu tratado da cor- nija usade na fechada da Vila Jalia é que “ela fica muito agradavel” Quando o primeiro governador-geral do Brasil deu inicio a constru- ‘925 de maior significado, em meados do século XVI, os tratadistas pro- cuziam suas obras. Esse receituério deveria ser usado pelos nossos pri- meiros arquitetos, como o permitissem as condigdes do meio e de me- neira que 0 resultado ficasse agradével, pera usar @ expresséo de Vig- rola. E 0 Maneirismo que caracteriza a primeira fase das manifestacdes artisticas no Brasil sobretudo na arqutetura. acs oR onsuNM axCTESCOOGMIONUN IASCO gy 3.2 Teorias do Barroco Colocado entra 6 Renascimento e a Revolueso Francesa, nd um momento na hisi6ria da arte referico por Pierre Lavedan como 0 ‘contlito co Barroco.* Denois de um lergo periodo de estabilidade baseada nos ideais de antiguidade cléssica, @ arte européia parece conhecer uma fase de ind2- finigae caracterizada pela preocupagdo em desenvolver ¢ intensificar de meneira artificiosa as formas consagredas do Renascimento ‘Asse periodo, que Victor Tepié diz-se tentado a situer cronologica- mente entre 1580 © 1880, poderemos chamar Maneirismo. Nele, so gundo Dvorak, esto as rafzes do Berroco, e explicam a transigéo entre dois momentos considerados antagGnicos na histéria da arto. Se Vasari afirmara que Rafael (1483-1620), Ticiano lc. 1485- 1578) @ sobretudo Miguel Angelo atingiram © cuma, no seriam possi veis novos progressos, restando aos artistas trabalhar para atingir a composigéo. a forma anatdmica e a perfeicso cromatica desses mastras Essa forma de pensar conduziu exatamente 20 esgotamento das formas expressivas, fendmeno que pode ser atribuido. ndo menor qua- lidade dos artistas, mas a0 esvaziamento do conteudo face 20 culto a forma ou, como sumariza Tapié, “poderiamos dizer que no Renasci- mento como mais tarde ocorreu com 0 Barroco 0 estilo tendia @ um va- lor universal ¢ que o Maneirismo s@ conteve no particular”.® Por outro lado, se por volta de 1530 0 Renascimento dava sinais de esgotamento, o Igreje tomeva consciéncia que a Reforma jé atingia pro- porgdes alarmantes, Depois de alguma hesitagdo foi convocado um conoflio, em Trento” (1545-1563). Esse concilio racomendou austeridade, sobrotudo na arto, procurando dessa forma esvaziar uma preocupagéc dos protestantes que denunciavam a arte como um apelo sensorial, algo supérfluo @ in- compativel com os objetivos espirituais. Logo, porém, o catolicismo percebeu, como nota René Huyghe, que se “a arte pode seduzir @ alma, perturbé-la e encanté-la, emociond- la nas profundezas nao percebidas pela taza, que isso se faca em be- “sneficio da fé! O protestantismo em sua secura exigante desdenhava as necessidaces da vida sensival. las, entdo, preenché-las para comover. acor- dar, drenar pare a {6 os”impuisos mais obsouros possiveis das almas Em decorréncia, 0 mesmo autor conclui: "Daf em diante a arte vi- rou as Costas ao Classicismo, a0 seu despojamento, ao seu rigor, a sua pureza, por vezes {ria torne-se berroca, feite de profusio @ dinamismo, de secugao e do patético. E nesse sentido que o Barroco se afirma, prin- cipalmente como arte da Contra-Reforma”® Essa @ uma das teorias que explicam o surgimento do Bartaco de- senvolida por Marcel Raymond e posteriormente por Werner Weisbach. ~ Dessa interpretagao, Weisbach fez 0 proprio ttulo de sua obra: Berroco, arte da Contra-Reforma. Jé outro historiador, © holandés Leo Bellet, vé as reizes do Barroco na polftica. Para esse autor o Berroco se identifice cor 0 poder ilimi tado, ou seja, 6 6 arte do absolutismo, Hé para olo um paralelismo entre © governante que impée seu poder @ ndo respeita a liberdade netural do incividuo © 0 Barroco capaz de produzir imagens dotadas de tal perfel- 80 que seriam capazes de competir com a propria natureza Weisbach e Ballet explicam 0 Barroco como um fen6meno direta- mente entrosado na vida social, a que deram expressao artistica. Na ver- dade, mesmo nessa parspectiva. 0 Barroco nao pode se limitar ao fato religioso e politico. Os comerciantes enriauecidos dos Palses Baixos pro- curaram na facnada de pedra rica e prolixa de suas guildas exteriorizar @ sua prosperidade. Basia lembrar 0 magnifico conjunto da Grande Place de Bruxeles. Nesse sentido, lembrando Hauser, devemos chamar a atenogo pare a diferenciagdo entre 0 Barroco das cortes catélicas eo Barroco da bur. guesie protestants . Esses autores, Weisbach, Tapié, Ballet e Hauser, fundamentam, portanto, sua teoria numa vis8o religiosa, politica e econémica do fen5- meno artistico. Compdem um grupo responsével por uma teoria genético-social ou teoria da particulerizacao, segundo Lourival Gomes Machado. Este mesmo autor chama atencao para um outro grupo de historia- dores para quem as formas obedecem a uma evolucdo propria dentro de um determinado complex histérico. Isto é, 0 esoirita humano teria cer- tas consiantes, € a teoria genético-formal ou teoria da generalizagéo. Focillon, por exemplo, afirma que dentic de todos os estilos h& um estigio pré: cléssico, um classico e finalmente um barroco. (Para o proprio Barroco haveria um Bartoco pré-classico, um Barroco cléssico ¢ um Barroco: barroco.) Hé uma evidente conotagdo de decadncia associada a idéia de Berroco. © mais notével representante desse grupo & Heinrich Welifiin. Em 1888, no seu livro Renaissance und Barack, coloca 0 Barroco como a arte que sucede @ se opie a Renascenga. Wolffiin estabelece cinco conceitos capazes de constituir um guia seguro para a catacterizagao plastica do Barroco. Hannan Levy tornou os conceitos de Wolttlin muito conhecidos en- tre nos. Igualmente, devemos a Lourival Gomes Machado uma bem ela- borada sintese desses conce'tos: “Podemos resumir-ihe @ exposicao, limitando-nos ao registro dos cinco simbolos de visualidade pura codifi- cados em antinomias, > 1. 0 conflito @, pois, ¢ passagem do linear ao pictorico, que sobrevém quando @ linha, guia ocular e elemento téctil de contomo, cede lugar ac conceito, visual puro, expressamente pictérico, cepaz de captar optica~ mente 0 objeto, sem isolé-lo pele linha de contorno (uma berreira entre © ser © © espace circundente) mes, pelo contrério, integrendo-o no con- junto de entes visuais que compdem um mesmo todo ambiental e exis- tencial apreensivel pela vis8o ¢ traduzivel na oriagéo ertietica; 20:08 30204 ONSHENYHAK OS 69 ORIN OF AXONS OD 2. a pessagem de superficie & profundidade, imediatamente decorrente da relagdo anterior, posto que, enquanto a visio linear impée 3 organiza- 9&0 numa mesma superficie em que 0 objeto se delimita e se separa do espaco ambiente figurado pelo restante da superficie, a vis8o pictbrica superando essa concep¢3o puramente téctil, exige a superpasico dos entes visuais pare defini-los por avanco e recuo uns em relacao com ou- tros, cabendo acrescentar que Wolfflin se recusava a identificar a organi- zagéo superficial com @ visdo do primitive, desde que naquela poderso estar presentes elementos de escorgo & de perspectiva rebatida 3. oposieéo entre @ forma fochada ¢ a forma aberte, pois, se tanto na vi- ‘Bo linear quanto na viedo pietérica, toda obra do arto tendo 2 fechar-so num todo intogro © completo, ndo é menos certo que as formas podem ‘soltar-ce’, oscapando 2 regras fixas @ @ construpdes rigidas: 4. passagam da multiplicidade @ unidade, denotadora de uma arte em plena evolugaa, pois que, se, perante a visdo primitiva. fragmentaria @ in- capaz de estabelecer conexdo entre os entes visuais sempre definidos pelo isolamento individual, 0 classico surge como a consecugac de uma harmonia geral, ern tal hermonia cada perte, mesmo em relagao com as demeis, mentém-se em si mesma auténoma ¢ s6 0 Barroco cumpriré a tarcfo de concentrar © organizer todas es partes segundo um modo Gnico, em cuja falta no restaré significagdo para os componentes 8. antinomia clareza-absoluta/clareza-relativa, pois os entos visucis, que se tomayern separadamente masmo na harmonia classica, surgom om sua totalidade quando defrontamos a organizapao barroca. Essa simbo- logia, em verdade, nao passa de cinco taces de um mesmo fenémeno — @ passagem do tactil ao Optico, de Alois Rieal — que Wolfilin cesejou anoter com @ maior mindcia para estabelecer como necessarla a passa- gem do cléssico a0 Berroco” Usando essas categorias, temos um guia seguro para cistinguir plasticamene Classicismo e Barroco, como nota 0 mesmo professor: “Cléssica, segundo Wolffiin, seré a arte que se sirva, simultaneamente, dos cinco conccitos de linearidade, organizagio em superficie, forma fe. chads, unidade miltipla ¢ absoluta clarezs, onquanto 0 Barroco se defi ir como pict6rico, exprimindo-se em profundidade, por meio de for” mas abertas, alcancando unidade indivisivel e clareza relativa” viajente encontrara no forro de igrejas em todo pais pinturas que fingem continuar a arquitetura do edificio buscando as profundazas ce- lestiais, com cores vibrantes que recusam 0 limite das linhas em favor de formas'abertas, formando um conjunto do qual € impossivel retirar qual: ‘Quer pormenor, dentro de uma atmosfera a quai cabe bem 4 expresso Clareza relativa. E 0 Barroco. 102 Imager ce rettbclo da antiga crea jesutioa do Reo de Janeiro (damoide), hoje ne capola de Santa asada Wiseri2o1a, Plo fe Jarero 108 Manual da Costa Ataide foro da matis da Santo Antenie, Senta Boar, Minge Gerais, Av obras da primeia fase caracterzam-se por uma dscilina prtona do periado de Conta Reforma lt =m Vines Garis vemos no fre {doe capeles a libordads forma ingle 2cla pinture lusionistea de Manuel da Costa Aaige. AS colunas e 0 errablarento Cantinuam a aiqutura do rave. buscando = Drofundidade. “Baraca 80 pix, 2xprminde-£0 am profundidads per maio de ‘ormas aboras atingindo slarera rlatve € dnidade absolute

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