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25. “FORMACKO DO TRABALHO: MOBILIDADE E IMOBILIZACAO DA FORCA DE TRABALHO NA AGRICULTURA BRASILEIRA? “UMA ANALISE CRITICA DA FORMULACAO DE GAUDEMAR™ Carlos Minc Baumfeld RESUME La mobilité géographique des individus et des couches so~ ciales fait partie des moUvements plus complexes que cons- tituent historiquement le tissue sociale et que rédefinent les rapports entre l'espace et les classes sociales. Les propositions théoriques de GAUDEMAR dépassent positive ment quelques conceptions traditionnelles de la Démogra- phie et de la Géographie de 1a Population. Cependent GAU- DEMAR généralise ses postulats en partant des pays dévélon pés et de la sphére de 1'industrie. Cet article reprend les processus de mobilité et de 1'inmo bilisation de la force de travail partant d'une analyse des pays sous~développés et de la sphére de la production agricole, et il se fonde sur des travaux sur le terrain realisés sur la formation du marché de travail aux frontié res agricoles brésiliennes. MIGRACOES E MOBILIDADE A demografia tradicional praticamente reduziu os movimen- tos de populacdo 4s instancias da sua reprodugdo biolégica. Ainda hoje, diversos estudos partem das varidveis cldssicas: idade, sexo e nivel de instrugdo, para avaliarem a decisdo de migrar, supondo uma perspectiva in dividual. “O migrante individualizado corresponde a um certo protétipo psicoldgico com niveis ou graus de motivagdo, de aspiragao, de expectati- va, de iniciativa, de propensio pessoal. 0 crescimento populacional e a migragao néo sdo pensados como fendmenos globais, mas como somatérios de fendmenos de ordem individual - decisio de procriar ou decisdo de migrar"*, Na realidade, a fecundidade e a mortalidade, antes de cons- tituirem ponto de partida para a explicag&o do fendmeno, devem elas pré- prias constituir objeto de estudo, para a andlise das condicionantes so- ciais que as determinam. Teste trabalho contou com o apoio do CNPq e da PINEP, 2acevEDO, R.E. € HEBETTE, J. - Mobilidade do Trabalho. Série Semindrips e Debates, n? 7, Niicleo de Altos Estudos AmazGnicos, Universidade Federal do Paré, Belém, 1982. 26. Na andlisé.hist6rica da formacdo dos mercados de trabalho, vemos que a populacio escrava apresentou, no Brasil, uma variagdo natural negativa, ou seja, a mortalidade superava largamente a natalidade, 0 que apenas foi compensada pelo trdficé est avo dos navios negreiros por cerca de 300 anos. © regime e 4 intensidade de trabalho impostos ao escravo de tertidnavan a imposdibilidade de que ele constituisse familia, procriasse normalmente. vVivendo em senzalas - d¢andes batracdes onde eram amontoa— dos em grupos numerosos -, o escravo via sua eventual companheira ou seu filho serem vendidos a outro proprietario. Com alimentacéo precdria e jornadas de trabalho longuissi- mas, seu tempo de vida acabava sendo determinado pelo tempo de amortiza— sao do investimento feito nele, Neste caso nado podemos falar em reprodu- so da FT, mas em "manutengdo" da FT’, Neste caso é mais evidente como as varidveis demogréficas s4o nroduzidas e controladas pelo modo de produ gao. Outra idéia tradicional, neste caso da geografia da popula cdo, € a andlise das migragSes do prisma do antagonismo Populagdo x Recur, sos. Esta abordagem restringe consideravelmente a andlise aos desequili- brios produzidos entre o crescimento vegetativo da pooulacdo e as poten— cialidades naturais do meio ambiente. Em verdade, estes desequil{brios que "produzem" um excedente populacional sio sobretudo resultantes das formas de apropriagdo do espago natural e da sua utilizacdo por determina das classes sociais, Nossa experiéncia de trabalho na Guiné-Bissau (ex-coldnia portuguesa) nos permitiu estudar, p. ex., como em determinadas regides das etnias Fulas e Balantas foi produzido pelo colonialismo um excedente ge populacio!, Estas comunidades praticavam culturas itinerantes, basea- das em queimada da floresta, plantagao de arroz por 3 anos, deslocagio va ra nova Grea, etc. A volta vara a drea inicial levava em média 30 anos. © colonialismo se apodera p- ex. da metade destas terras para a plantacdo comercial do amendoim ("mancarra" como dizem os Fulas) para exportagao. As comunidades passam a retornar as areas de origem em 15 anos, insuficien tes para recompor o funds de fertilidade natural do solo de forma a ali- mentar a comunidade. Neste caso ha apenas 2 hipdteses: ou se adotam sistemas sro dutivos mais intensivos, com irrigacio, rotagio de culturas, etc., 0 que zy GORENDER, J. ~ 0 Escravismo Colonial. Ed. Atica, Sio Paulo, 1981. VAINER, C. - Production vivriére et Reproduction de la force de Travail Aas Brésil. Tese de Doutorado. IEDES, Paris, 1979, “DowBoR, L. e BAUPELD, C.!. - Colonialisno e Populagéo, Comissariado 4o Plano, Bissau, 1979, 27. é invidvel em condigdes de extrema repressfo e dominacdo politica, ou se produz um "excedente" de populacéo, que serd usado pelos colonialistas de diversas formas. Neste caso, pelo menos, a relag&o Populacao x Recursos passa por um intermedidrio poderéso e mal-intencionado! voltando a critica que desenvolviamos 4 perspectiva indiv dual e comportamentalista, podemos dizer, pelo menos no caso brasileix» atual, a gtande maioria dos movimentos de populagdo de origem rural nao consistém Huma “opgio" e so géralmente inposig¢ées, Os dados do Censo de 1970 mostravam que cetca de 1/3 da populagdo brasileira nfo residia nos municipios de nascimento e os dados preliniinares do Censo de 1980 indicam que a transitoriedade residencial aumentou. Diversas pesquisas com camponeses em regides de - fronteira mostram que parte considerdvel dos camponeses, posseiros, migzantes repe- tidos nas fronteiras, j4 realizaram 2, 3, até 7 e 8 etapas migratérias, e as razdes sio frequentemente: expulsdo, violéncia, endividamento. Nestes casos é sem diivida dificil restringir a andlise "a propensio psicolégica para migrar" ou aos “critérios sécio-profissionais de retengdo seletiva". Nao ha dividas, no entanto, que determinadas opgdes de migrar, principal- mente no meio urbano e ainda mais em paises desenvolvidos tém conotacdes que passam pelo nivel de instrugdo e de renda e perspectivas de ascensio social. Para a formagéo de mercados de FT agricola séo determinar.- tes os mecanismos que pdem em movimento, ou os que, ao contrario provocz a retenc&o e a semi-imobilizagao de grandes contingentes humanos, setorce e fragdes de classes sociais. Outras abordagens do fen6meno migratério acentuam as comog nentes espaciais para a apreensio do movimento. Nesta proposta os luga— res de origem e destino sao analisados e tipificados e a estrutura agra— xia de determinado tipo ou cidades com certa hierarquia na rede urbana,ou a partir de determinados limiares de povulagdo, seriam os elementos ‘carac ter{sticos de atracio e de repulsio. : Como 0 espago nao & homogéneo e sua diversidade 6 também produto da acdo de grupos sociais, 6 importante que a dimensio espacial seja efetivamente incorporada na andlise dos movimentos da populagao “(que por sua vez redefinem seu prdprio espaco de insergdo). No entanto, a én- fase em varidveis de natureza estritamente espacial, pode empobrecer a apreensao do fenémeno no seu conjunto. 5 a HEBETTE” chama a atengdo para o fato que nas correntes mi- gratérias de grupos, a nogéo de pontos de origem e de destino tornam-se ox tremamente fluidas. Nestes casos o lugar de nascimento nao coincide ne~ -_ HEBETTE, J, e ACEVEDO, R. - Colonizacdo Nao-Dirigida na Belém-Brasili: NAEA/UFPa, Belém, 1976. : i aes: y 28. cessariamente com o ponto de partida da corrente, e os destinos imedia s80 geralmerite pontos de partida para novas migragées. Nosso trabaiho de caitpo em frorteiras agricolas e em parti cular na rea da BR-364 em Rondénia detectou varias regides em transforma g&o que sio simultaneamente Area de atracdo para certos grupos sociais e rea de repulsio para outros, além do que diversos grupos véem —— mudadas suas condigdes de insercdo na produgdo sem se deslocarem da regiao. © aiscurso governamental, trata: das migragdes como fator de progresso, de desenvolvimento, no caso das areas pioneiras, e por ou— tro lado, defende a necessidade de fixar o homem ao campo, quando 0 que es +4 em jogo sio as migracées rurais-urbanas com destino 4s grandes metrépo les. © curioso é que grande parte da oposic&o, seja parlamen- tar, seja académica, geralmente repete o mesmo discurso, apenas discordan do das causas dos fendmenos e acentuando seus aspectos sociais. Qual a natureza do curioso consenso nacional sobre a neces sidade de "fixar o homem ao campo"? GAUDEMAR E A MOBILIDADE DA FT Nos Gitimos 5 anos no Brasil, algumas dreas das ciéncias sociais e politicas que estudam a questdo das migragdes e da _mobilidade do trabalho tém tomado como referéncia o trabalho de GAUDENAR®. Referimo- -nos sobretudo 4 sua tese: "Mobilidade do Trabalho e Teoria Econémica - En saio de Genealogia de um Conceito", e nao aos seus trabalhos mais recen- tes sobre a nova ordem produtiva e a empresa mével’, estes praticamente desconhecidos dos pesquisadores brasileiros, embora tenham gerado viva po lémica na Franca’. Em sua tese, GAUDEMAR tenta responder porque "...a forga de trabalho dos homens se presta a todas as variagdes de duracdo, intensi dade, produtividade, que levam a> nascimento da mais-valia tanto sob sua forma absoluta quanto relativa?"? © conceito de mobilidade da FT que GAU DEMAR desenvolve a seguir vai muito além da deslocacao espacial, inclusi- ve das mudangas de forma e de usos especificos: o conceito tenta apreen— der as variagdes da utilizacdo capitalista das disponibilidades fisicas ¢ intelectuais dos homens é da doéilidadé (FOUCAULT) de seus corpos e mentes. ScauDEMAR, J.P. - Mobilidade do Trabalho e Acumulacdo do Capital. Ed. Bs tampa, Lisboa, 1977 (trad. da Ed. Maspero, 1976). a 7, GAUDEMAR, J.P. (org.), CORIAT, B., GALLE, R. et alii - Usines et Ouvriers - Figures du nouvel ordre productif. Maspero, Paris, 1980. 8ver p.ex. 0 n? 15/16 da nouvelle série de Critiques de 1'Economie Politi que, Maspero, avril-juin 1981, sobretudo o artigo de Pialoux, M. - Force de Travail et structure de classe. ScAUDEMAR, op. cit., pig. 14. e 29. © autor situa politicamente seu propdsito tedrico e a atua- lidade do tema e do conceito a partir das modificagdes que o K impde a FT e das formas de resisténcia dos trabalhadores no que coficerne 4 mobilidade e contra-mobilidadé da FT. ‘As éstratégias governamentais (no ex. da Fran- ca) consistém em ehdorajar movimentos migratérios que facilitem polariza- Ses otimizadas da Ft para o desehvolvistierito do &, controle da imigragao, intensifickgdo da mobilidade profissional, inténsiflcdgdo deral do traba- lho (industrial e terciario), do uso politico e econdmico do trabalhador 1- migrante, na extensio do trabalho por turnos, nos processos de desqualifi- cago do trabalho operdério e aumento da rotatividade dos postos de traba~ ias consistem em lutas e movimentos contra o lho, etc. As contra-estratég despedimento e o fechamento de empresas, lutas de imigrantes, lutas urba- nas, "regresso 4 terra"; atitudes coletivas contra a mobilidade ou a imobi lidade forcadas, etc. © eixo central do trabalho de GAUDEMAR é o de construir um conceito marxista de mobilidade da FT através de uma releitura de MARX, de senhando os contornos da problemitica através de uma base histérica e ana- litica encontrada dispersa na obra de MARX. Para reconstituir o conceito marxista de mobilidade da FY? GAUDEMAR submete 4 andlise critica uma extensa colecdo de formulacgées clis sicas e neo-cldssicas, mostrando seu aperfeicoamento sucessivo e suas limi tagdes estruturais, No modelo dos circulos concéntricos de VON TUNEN (1851) ,sd0 as culturas que se deslocam segundo os rendimentos por unidade de superfi- cie e os custos de transportes. 0 trabalho e os trabalhadores sao os grandes ausentes do modelo. No modelo das isodapanas e dos triangulos lo- cacionais de WEBER (1909) a localizagdéo da FT intervém nos custos de trans portes, mas sua localizacio 6 fixa. Posteriormente LOSCH (1940) introduz © modelo de diviséo espacial do trabalho para a maximizagdo dos lucros, on de a mobilidade do trabalho 6 um elemento de um mecanismo de conjunto de localizagées de fatores de produgdo, fornece assim uma base espacial do e- quilibrio de WALRAS, e a mobilidade do fator trabalho tende a produzir uma igualizagio espacial das taxas de saldrio; no entanto LOSCH abstrai o com- ponente histérico da formag&o dos mercados de FT, nfo analisa a evolucao es trutural da oferta de FT nemo papel da mobilidade para o crescimento da elasticidade da oferta global de Fr!?, Na segunda parte, sobretudo nos capitulos 5 a 8, GAUDEMAR organiza a releitura de MARX segundo 3 eixos, ou 3 grandes momentos do pro cesso de acumulag&o: a produgio, a utilizagao e a circulagéo da FT. A produgdo da FT 6 o momento de aquisig&o da mobilidade por Lo. Resumo de alguns dos modelos tratados por GAUDEMAR no 2° CapStulo, ses- sdes 3.e 4, da 18 parte, op. cit., 30, parte do trabalhador; este se desvincula de outras relagées sociais (ex.: a servidio, na Europa, 0 Escravismo Colonial, no Brasil) ou se dissocia da propriedade de meios de produgdo (ex,.: a terra); 0 trabalhador passa a dispor livremente de sua FT, mas tem absoluta necessidade de a vender, 9 que funda a condigdo de exercicio da FT como mercadoria e cria as bases para a constituigdo do mercado de trabalho. A utilizacdo da FT 6 © momento da submissdo da mobilidade do trabalhador as exigéncias-do K. “A FT deve prestar-se as formas =e transformages da organizacao do processo de trabalho. Dura¢do, intensi- dade, produtividade sio suas palavras chave."!1 Neste momento a FT livre 6 enquadrada juridica e disciplinarmente as necessidades concretas do pr> cesso de acumulagdo do K: 4s jornadas de trabalho, 4 permutacao dos pos~ tos de trabalho, a uma divis&o do trabalho cada vez maior. A circulagdo da FT é o momento em que os mecanismos de mer cado e a produgao da superpopulacdo relativa produzem a submissio da mobi lidade do trabalhador as contingéncias dos movimentos do capital entre as esferas da atividade econdmica, acompanhando seus ciclos de conjuntura, as novas regides integradas 4 produc&o.capitalista, etc. £ o momento que © erescimento acelerado do K social Ihe permite dispensar parte mais ou menos considerével da FT empregada, libertando-se assim de qualquer res- trigdo demografica. A andlise destes 3 grandes momentos da produgao da mobili- dade da FT passa pela histéria do prSprio capitalismo, da acumulacdo pri- mitiva 4 manufatura, da grande indistria 4 internacionalizagio do circui- to produtivo. GAUDEMAR procura seguir os passos de MARX da mais-valia ab soluta e relativa ao processo conjunto da acumulagao do K recolhendo as caracteristicas e as transformacdes produzidas na mobilidade da FT. A sistematizacdo realizada por GAUDEMAR é sem diivida de grande utilidade para os estudos sobre a formagdo de mercados de FT. #4 no entanto que agregar novos elementos e outros eixos de andlise que ca pacitem o modelo analitico proposto para a apreensdo da especificidade das _realidades que estudamos. PAISES DE INDUSTRIALIZACAO RECENTE E A MOBILIDADE DA FT Ha que considerar as caracteristicas especificas do merca- do de FT nestes paises (e no Brasil, particularmente) com a existéncia de uma importante superpopulacao relativa de atividades precarizadas, Esta situacdo vai geralmente acarretar um uso mais intensi. vo @ predatério desta FT e como consequéncia um tempo de vida menor parao trabalhador??, ie EEE ESE Mop. cit., pag. 194. 12, : Ver também SALAMA, P. - Etat et Précarization de l'emploi dans 1'agrical ture et l'industrie. IEDES, Paris, 1983 ¢ BAUMFELD, C.M, -Condigdes de Pormag3> 43° Mercado de Trabalho. UFRJ, 1982. 31. © incremento de acidentes de trabalho provenientes deste uso predatério (o Brasil, em 1974, foi recordista mundial de acidentes de trabalho) aliado 4 inadequacdo, técnica de parte da FT vao provocar ainda uma rotago mais acelerada da FT. Evidentemente esta an&lise passa pela instancia politica e as formas concretas de exercicio do poder que implicarao em maior ou me- nor amparo juridico-politico ao aumento da instabilidade ¢ rotatividade da FT. . A prépria dinamica do setor de atividade precarizada vai implicar numa multiplicidade de ocupacdes em locais diversos, do tercia— rio inferior 4 construcdo civil, de atividades ilegais 4s safras agrico- las, com intensidade de mobilidade temporal, ocupacional e espacial supe- riores 4s intensidades verificadas num mesmo espaco de tempo nos paises desenvolvidos. Nestes paises de industrializacdo recente, como o Brasil, as condigées da forca politica do movimento sindical e da forca das prati cas democraticas no campo dos direitos civis sdo menos desenvolvidas que nos paises industrializados, em geral. Isto implica num desconproittsso do poder pablico com uma série de atividades basicas essenciais, que assim passam a ser realizadas como sobretrabalho pela populacado trabalhadora. Escrevemos recentemente um artigo sobre este tema, intitu- wl3 lado ironicamente "O homem dos sete instrumentos"™”, no qual.ise descreve as miltiplas jornadas de trabalho que o trabalhador é forgado a realizar. Primeiro, trabalha 8 horas numa fabrica a ritmos alucinantes e com sala- rio insuficiente para a reprodugdo das condigées de vida de sua familia. Depois, tem de cumprir 2, 3 até 4 horas extras para completar o salario. Ainda assim, o trabalhador 6 obrigado a realizar alguns servicos e bisca- tes, A noite, ou em feriados, reparar um carro ou trabalhar numa pequena obra de ampliagdo de residéncia particular, para fazer face as necessida~ des imprevistas da familia (saide precdria, dividas acumuladas, etc.) .Sua instabilidade de trabalho e os aumentos constantes dos precos dos alimen- tos fazem com que este conjunto de ocunagdes se revele insuficiente para garantir a nutricaéo da familia. Surgem entdo os programas de auxilio qo- vernamental, com apoio de bancos oficiais, do tipo "faca uma horta em sua casa", com distribuicao de somentes de verduras.e legumes, Entfo este trabalhador e sua familia dedicam mais algumas horas para a producéo da sua sdbrevi éncia no assegurada pelo conjunto de trabalhos e ocupacdes precarias. Persiste, no entanto, o problema habitacional, pois a irre gularidade da ocupacdo torna esta familia inadimplente face aos programas oficiais de aquisicdo 4 longo prazo da cada prépria. Entdo aparece a no- va solugdo, partilhada geralmente pelas oposigdes e pela esquerda: a auto -construgdo, como por exemplo na provosta do PROFILURB (Projeto de Finan- 13 'BAUNFELD, C.M. - O Homem dos Sete Instrumentos. 5? Encontro Nacional de Geégrafos A.G.B. - Porto Alegre, 1982. > 32. ciamento do Lote Urbanizado). ‘iais uma "jornada de trabalho", Mas hA outros problemas: este trabalhador vive numa munici palidade pobre, esvaziada de recursos financeiros devido 4 extrema concen tragdo originada pela forma de arrecadagéo tributdria (atualmente 0 bdlo tributdrio é repartido nas seguintes proporgdes: municipios 28 do total; estado da federagao 5,5% e governo central 92,58). Assim, este municipio ndo tem recursos para asfaltar uma rua, reparar os defeitos da rede de Aguas, limpar as ruas, etc. Ai entra o apelo do trabalho comunitari 20 “mutirao", com toda uma ideologia participativa. Entio o nosso persona- gem, 0 super-proletario, "o homem dos sete instrumentos", que j4 traba- nou a jornada normal, cumpriu horas extras, fez biscates, plantou seus alimentos, construiu sua casa, vai infraestruturar sua cidade, porque os recursos do governo federal foram, por exemplo para o Programa Muclear, Que robot japonés teria esta versatilidade, pagando os préprios —custos da sua manutencio? Que pais desenvolvido conhece tal “carnaval de mobili dade"? Partindo destas consideragées sobre o uso mais intengivo e predatério da FT nos paises recentemente industrializados e de relagées de forga adversa, ao nivel das ncliticas piblicas, que implicam numa mul- tiplicidade de encargos que recacm sobre os préprios trabalhadores e ori- ginam novas deslocacées, novas tarefas produtivas e maior intensidade de extragGo global de sobretrabalho, podemos questionar a validade de uma das afirmagdes de GAUDEMAR: "A mobilidade da PT surge como uma condicdo necessaria mas néo suficiente da génese do capitalismo e como indice do seu desenvolvimento. Assim, 6 nos paises mais desenvolvidos que se obser va a maior mobilidade’!4, A nosso ver, esta afirmacgdo nao tem base empirica e parte de uma idéia ligeiramente evolucionista, que guarda alguma semelhanca com © raciocinio do ROSTOW das etapas do desenvolvimento. Este raciocinio de GAUDEMAR tem sentido apenas no que corresponde 4 mobilidade originada da sujeicao técnica, dos aperfeicoamentos e treinamentos exigidos, dos con- troles automaticos, etc., que sem diivida 6 mais intensa nos paises indus~ trializados. Mas se tomamos o conceito de mobilidade como um todo, impli cando em deslocamentos, despedimentos © recontratagées, multinlicidade de ocupacdes e tarefas, formas, locais e hordrios diferenciados para os dis- tintos trabalhos, esta tese de GAUDEMAR se torna insustentavel. Ainda mais se passamos ao terreno da esfera da produgio agricola, como abordare mos logo a seguir. . A_MOBILIDADE NA ESFERA DA PRODUGAO AGRICOLA A esfera da produgdo agricola tem suas especificidades leis préprias, o que trard consequéncias muito importantes ao nivel da mo bilidade da FT. Este aspecto nfo foi tratado por GAUDEMAR, dado o nivel 14, GAUDENAR, op. cit., pag. 192. Sublinhado meu - CMB 33. de abstragSo © a dimensio temporal em que ele trabalha e também pelo pré- prio mStodo de tratar a mobilidade da PT ligada a uma relagio de producdo e nao descer as esferas particulares da produgdo. uma das especificidadss da esfera da producdo agricola 6 a exist@ncia da renda da terra (esta aliés 4 a tinica especificidade desta esfera da produgdo tratada por MARX, em O CAPITAL). As variagdes na ren~ da da terra e por consequéncia'no prego da terra terdo uma influéncia bas. tante incisiva sobre a mobilidade do trabalho na agricultura, de varias formas. No caso brasileiro, por exemplo, 9 aumento dos precos da terra foi um dos fatores que tornou anti-econdmica a esterilizagdo de parte da renda da terra em lotes (ainda que de 2 a 3 ha) que serviam de complemen- to de subsisténcia e de elements para a fixagio do trabalhador nas gran des exploragdes agricolas e para viabilizar um salario monetdrio bastan baixo. J elevagdo vertiginosa dos pregos das terras tornou mais interessante o pagamento de um saldrio maior em dinheiro, apenas durante 6s poucos meses de trabalho, do que alijar das culturas comerciais a area Gorrespondente a estes lotes, que correspondiam a uma area total signifi- cativa nas exploragées com um grande niimero de colonos, moradores e = de trabalhadores residentes. Esta transformagéo nos sistemas de contratacdo teve papel decisivo na aceleragio da mobilidade da FT agricola. Outra implicagdo do eumento do prego da terra (e da renda da terra) na mobilidade da FT agricola diz respeito 4 inviabilizacio da renovagdo de contratos de pequeno arrendamento e da pequena parceria. 0 pequeno camponés semi-dependente perde a possibilidade de seguir exploran do terras valorizadas e tenta reinstalar-se ou reconstituir uma unidade familiar de produgdo em areas de fronteira, mais distantes. Parte deste campesinato precarizado, som condigdes de empreender esta longa migracao (por vezes milhares de kms) junta-se aos contingentes de futuros trabalha dores diaristas: “volantes" e "béias-frias". Tanto numa hipdtese como na outra h consequéncias.diretas na mobilidade da FT. H& ainda um terceiro tipo de implicacdo: um grande aumento do prego das terras mais préximas aos grandes centros de consumo induzem A estratégias das empresas agricolas de maximizarem o rendimento fisico por unidade de superficie (ou scja, a produtividade sor ha), 0 que se trz duz numa utilizagdo muito mais intensiva de meios quimicos e mec&nicos, por vezes de meios biolégicos, com consequéncias diretas no aumento da sa zonalidade de emprego da FT. Isto se verifica norque a utilizacdo destes processos nio se distribui uniformemente segundo as diversas culturas e as diversas fa- ses do processo produtivo!>, oa gonsequéncta-é-uma“grande economia dé FT em certas culturas agricolas e om certas fases do calendério agricola,con acentuada variabilidade do contingente-de FT utilizada. 15, BAUMFELD, C.i1. - Mutations Agraires et Mobilité de la Force de Travail: le cas bré silien. In Critiques de 1'Bconomie Politique, ne 24, } |. Paris, octobre~décom— esha que, Maspero. is, 34, HG mais duas implicacdes: a substituigao de culturas, e as consequéncias da valorizagdo de terras nara sua utilizagio especulativa, com aumento dos processos expulsivos de colonos, arrendatarios, meeiros, posseiros, etc. Além da especificidade da mobilidade da FT agricola decor- rente da renda da terra, verificamos também as particularidades decorren~ tes das diferengas entre o tempo de trabalho e o tempo de produgéo que caracterizam este setor © tempo de produgio compreende tempos de trabalho e tempos de ndo-trabalho. =nquanto na indiistria o taylorismo e o fordismo permi~ ‘tem reduzir sensivelmente os tempos de nfo-trabalho, o panorama na agri~~ cultura é bem distinto. nquanto o tempo de produgdo pode comegar com o desmate de uma floresta ou a preparacio e adubacdo da terra, os processos biolégicos exigem tempos de “maturacdo*!® animais e vegetais que avesar dos avangos da engenharia genética e bioldgica, contém ainda um grau bas- tante significativo de inelasticidade. Bste tempo de maturagéo faz, por~ tanto, parte obrigatéria dos processos de producdo, ainda que impliquem trabalho, parcialmente em tempos de no: A existéncia de duragées significativas dos tempos de nao- trabalho, faz aumentar a diferenga entre o tempo de produgdo e 0 tempo de trabalho na agricultura, criando uma base objetiva para formas diversi ficadas de mobilidade da FT agricola: emoreyo sazonal, trabalho de emprei tada, combinagdo do trabalho precdrio do camponés com 0 assalariamento o= casional, alternancia do trabalho assalariado agricola com o assalariamen to em obras de represas, pontes e estradas, como trabalho de garimpeiro (prospecedo de mineral de aluvido individual e precéria) e com o assala— riamento urbano. © incremento da mobilidade da FT agricola é também de cer~ ta forma resultante da combinagéo das especificidades da ésfera da orodu~ c4o agricola com as dos vaises recentemente industrializados. Neste caso, a modernizacdo das relagées téenicas e a monetarizacdo produzem uma eleva cdo dos custos, ao contrario do que se passa na indistria!’ - isto aconte ce devido 4 desagregacdo de zonas de economia de subsisténcia que garan- tiam uma reprodugao barata (do ponto de vista monetario) da FT e simulta~ neanente uma produgdo comercial de alimentos a baixos custos. Os aumen- tos imediatos no custo dos alinsntos e da FP (e dos precos da terra, con- forme j4 analisamos) vao ter coro consequéncia uma utilizacdo "racionada” e criteriosa da PT, o.que implica em aumento da intensidade e duragéo da Jornada de trabalho incidindo exclusivemente sobre culturas comerciais e a diminuicdo brutal do nimero de dias de contratagio desta FT. Estes me canismos de salariamento tempordrio e de trabalho de empreitada existiram T & . KAGEYAMA, A. ~ 0 enprego temporrio na agricultura brasileira: seus determinantes © sua evolugdo recente. In: Boletim Reforma Agraria, v. 12, n? 05, set/out. 1982, 1 : Tgsta tese 6 correta num horizonte temporal de curto e médio orzo, A laryo prazo a produgdo capitalista de escala pode (em varios casos, pelo menos) reduzir os custos unitarios. 35. @ existem nos paises capitalistas desenvolvidos, como a colheita de fru~ tas na Califérnia feita pelos migrantes mexicanos, ou a colheita de beter raba na Franca, executada em parte por portugueses e espanhdis sob siste~ ma de trabalho temporario. ‘Mais ils n'ont pas acquis la densité et la violence que leur ont imprim4 1a précipitation et la brutalité de la pene tration des rapports marchands dans l'agriculture, dans les pays = sous~ ~developpés, C'est pourquoi ils deviennent propre au sous développement et le caractérise"™, MOBILIDADE E A URBANZZACKO DA FT AGRIC © terceiro eixo de abordagem deve ser agregado ao corno conceitual proposto por GAUDEMAR diz respeito justamente as caracteristi- cas especificas que os processos diferenciados de urbanizacdo e de “rurba nizagdo" imprimem 4 mobilidade da FT. GAUDEMAR naturalmente aborda esta questéo, mas de um ponto de vista mais estrito: do Gxodo rural promovendo uma mobilidade da PT, © que coineide com sua urbanizagao e transferéncia setorial, produzida pelo duplo efeito "... da atragdo da indastria manufatureira e da introducdo do capitalismo na agricultura"??, xste trecho vem em seguida, apoiado pelo mecanismo geral descrito por MARX de transformagao dos campos de cul tura em pastagens e do direcionamento do fluxo de trabalhadores para = a nascente indistria urbana (téxtil, sobretudo) . Mais adiante, GAUDEMAR retoma este tema quando analisa cri ticanente @ cohtribuicio de LENIN para o estudo das migragées operérias™, principalmente na reparticio territorial da grande indistria, distinguin- do 3 tipos de centros fabris: as grandes cidades, as povoacées indus- triais e as povoagées de “kustari” (de artesdos). Aqui o autor trabalha com 0 processo espezializado de cons tituigio da FT “pelo éxodo rural para os centros industriais, ou pela transformagdo dos camponeses em operarios agricolas, e da constituicao de outras classes que completam a configuracdo capitalista"’?. Mas suas cri ticas A LENIN se restringem 4 conotacdo weberiana da andlise leninista de localizacio industrial por minimizagao de custos salariais e 4 sua consi- derago sobre o carater progressista das migragées (opnodo-se 4 visao lo-~ cal-comunitéria-anti-capitalista dos populistas). Os problemas tedricos que nos defrontamos e que se relacio nam diretamente as formas precdrias de urbanizacao, espontaneas ou plan jadas, com a mobilidade da FT, nfo encontram respostas satisfatérias a9 nivel de aprofundamento que GNUDEMAR enfoca este aspecto. Te, qpSREaMA, P, @ MATTAS, S. - L'Ztat sur-developpé. Maspero, Paris, 1983 GAUDEMAR, ‘op. cit., pag. 313. 2065, cit:, Cap. 10, principalmente pag. 372 a 383. 21, s, . cit., pag, 374, citando LENIN - Desenvolvimento do Capitalismo na ssia, ed. Sdciales, pag. 180. 36. A_urbanigacao precarizada funciona no Brasil como base de estruturagao de um mercado de FT agricola fundado essencialmente no_tra- balho temporério e de empreitada ¢ supde uma cadeia de intermediarios pa~ ra_a contratagao, transporte e controle desta FT. As bases desta situa- ¢Go séo as seguintes: a] As dificuldades crescentes da populacdo se apropriar do espaco de trabalho (a terra agricultavel). b] As modalidades de funcionamento das Unidades Familiares de Produgao (UFP) de tipo Residual ou Complementar que implicam na venda intermitente de FT pelos membros destas Unidades. c] A transformagéo nas relagdes sociais de trabalho que im plicam na substituicao do trabalhador residente e do trabalhador permanen te por formas de trabalho temporario e trabalho de empreitada. a] As mudangas permanentes nos locais de trabalho, na moda lidade do trabalho e na durag&o deste trabalho para os trabalhadores agri colas “volantes". e] Os povoados funcionam como pontos estruturadores da cir culagdo da FT agricola "volante". f] Teriamos uma situacdo tedrica que se afastaria do mode- lo de CHRISTALLER para a distribvig&o espacial das localidades: neste ca- so 0 raio dos deslocamentos desta populacdo para compras e para o acesso a bens e servigos é limitada pelo scu baixo poder aquisitivo e pela pré— pria instabilidade de emprego, mas no entanto a amplitude dos deslocamen- tos para a procura de trabalho é muito ampla, passando justamente por es- tes “pontos” estruturadores da circulagio da PT ~ os povoados”?, As relagdes entre as formas precarizadas de urbanizagio e as modalidades de mobilidade da PT passariam pela prdépria dissociacao es~ pacial dos integrantes da UFP: a agricultura de subsisténcia da familia {ou base territorial), o local (os locais) de trabalho dos membros da UFP que se assalariam, os locais destes Gltimos dormirem e reporem as e- nergias (povoados provisérios ou acampamentos das hidroelétricas ou agro- pecudrias) e os locais para onde estes se deslocam em busca de trabalho (povoados que sio "pontos-de-gateiro") 23, Estas modalidades de circulagao da FT implica numa multi- plicidade de formas de ocupagio do espago tanto entre os diversos membros da familia como nos pontos de referéncia espaciais simultaneos para o mes mo individuo. Uma parte da populagio recenseada como urbana tem sua ocu- pag&o principal (mas ndo exclusiva) em atividades agricolas diversas. A transitoricdade residencial acelerada’ e a-fluidez da ocupagdo do espaco 22, = MACHADO, L. Os6rio - Urbanizaclo e Politica de Integrago no Norte de Golds. ‘Te se de Mestrado, UFRJ, Dept? de Geografia, novanbro de 1979, Rio de Janeiro, 7 2 3epontos-de-gateiro" - locais de passagen dos recrutadores de FT (ou ga- teiros). Sobre a mltiplicidade de “residéncias",ver também SAWYER, D. R. - Mobilidade Espacial da Populacfo e Estrutura Produtiva na Amazonia Brasileira: Nota de Pesquisa. CEDEPLAR, U.F. de Minas Gerais, 1980. caracterizam a Forma dominante de “gestdo” (ou manipulacdo) da PT livre e spobilizada", onde os pequenos niicleos urbanos.espontaneos ou «planejados soos elog basicos da articulacio desta mobilidade. : MOBILIDADE DO TRABALHO NAS REGIOES AGRICOLAS DESENVOLVIDAS © processo de circulac3o da FT agricola apresenta aindapar ticularidades concernentes as areas capitalistas consolidadas e 4s 4reas de fronteira agricola. Enquanto_nestas dltimas no _ha_uma tradigao anti- ga de hegenonia de forma ~ salério ¢ ha proximidade de terras, que se 14 ndo sio mais "livres", pelo menos sio em parte desocupadas, nas dreas on~ > desenvolvimento capitalista da agricultura se processou em profundida~ de, j4 existe um mercado regional e local de FT organizado e adestrado pe lo e para o trabalho assalariado, e 0 nivel de ocupagdo econdmica e_juri- dica das terras amente, pleno. ra Assim) enquahto nas areas‘ de fronteira, se processam deslo cagdes de centenas de kms da FT e se seguem perfodos onde vigoram mecanis mos de fixagdo e de semi-imobilizacao da FT, nas regides agricolas capita Listas mais desenvolvidas ¢ mecanizadas o sistema é distinto, Devemos ainda distinguir- entre o trabalho temporario dos membros das UEP residuais e complementaresie 0. trabalho volante, em que‘ o trabalhador 6 totalmente destituido cesso A terra. A populacio dos volantes é caracteristica das regides a~ gricolas. consolidadas.e desenvolvidas ypercialménte em regiées de fron— tetra num segundo periodo, onde_a frente, latifundifria - pecuarista, . ou agropecuaria-florestal, ocupa 9 espaco produzindo novos desenraizamentos. qualauer meio de produgdo ¢ de_a- a Pesquisa de, campo realizada_no inicio da década.dé 70. na regiao.de Votuporanga,S. José do. Rio Preto, Sdo-Paulo, mostrava como ; 9 desenprego sazonal, a troca de ocupacées -constante.c até a mendicancia ca racterizavam 0, agrupamento: de volantes: maio¥ia -da: populagad' volante! ..!,. tem trabalho asse- gurado: apenas -por ‘ocasio.-da\colheita dd ‘café, -Algodao e‘aciicar ... ma. @ntresafra.'s3o. poucos “6s “volantes.". que conseguem exercer atividade no can po; isto os obriga-a, tentar,trabalho-em servigos diversos nas .zonas urba~ nas: vendedores: ambulantes, jardineiros,;faxineiros, serventes e outros no qualificados ...,muitas -vezes, na impossibilidade.de exercicio de tais.. a & comum: encontra-los perambulando, nas,:cidades como pedin ‘ n tes..." ". continuados, ondé “0 ‘trabalhador sé aloja suicessivamente’ nas’ fagendas, “sem ér-retaguarda rurbana ou peri-urbana. A modalidade rurbana implica na re~ siiéncia urbana do,volante, que mantém como refergmcia um ponto fixo do gat parte para jornadas diarias, eee ou pluridiatias de trabano? Cada ima *exwnos, H.J. ~ Os birolos de wohporan, Bstudo sociolégicp da miio-de-cbra_volante. FYCEA, Osasco, Saé’Paulo; 197. 25 ‘GONZALEZ e' BASTOS'~'0 trabalho ‘Wolahte ‘na Agricultura Brasileira, pag.” 35-37. In: SIN GER, P. (organiz.)-. Capital .e Trabalho. no- Campo, -Ed. HUCTTEC, S30 eee Fee “estas Trormas impiica em processos «2-recrutamento e de “intermediagao c1-~ ferentes na estruturacdo de mercado de FT. Uma outra variedade é 0 trabalho volante organizado a par- tir de "turmas fixas" ou turmas-firmes, Esta forma se caracteriza pelo grupo de trabalhadores volantes trabalhar praticamente 0 ano todo, em di- versas fazendas (sucessivamente), trabalhando sob contrato como mesmo empreiteiro de FT (no caso o “turmeiro"). Esta forma foi constatada so- bretudo em So Pavlo e Minas Gerais, a partir de meados da década de 70 Or GRAZIANO DA SILVA e FREITAS”© na Baixa Sorocabana (S, Paulo) e por ALLIER na regiéo de Jaguariiina (S. Paulo)?7, Esta modalidade (turmas fixas) corresponde 4 reconstitui- g0 da _continuidade do trabalho, aumentando a eficiéncia e a _disciplina, diminuindo tempos de selegdo e recrutamento. Estas turmas fixas poderiam apresentar a desvantagem de ter uma certa rigidez em relagdo 4 demanda de PT de cada empreitada. No entanto o acesso a familiares menores dos tra~ balhadores da turma aumenta a elasticidade, mantendo as vantagens do sis- tema: ".., por ocasido da safra, quando a demanda de mio-de-obra aumenta, as turmas fixas sio ampliadas de duas maneiras: primeiro pela incorpora- 8 dos filhos menores e outros familiares ocupados em servicos urbanos de baixa remuneragéo. Costuma dizer-se que nesta época do ano o caminhao vai lotado, chegando a se retirar os bancos de tras para caber mais gente, Segundo, pelo aparecimento do sub-empreiteiro na prépria regiao, ou de pe quenos enpreiteiros das xegides vizinhas onde a existéncia de FT seja me- nor no momento . Este mecanismo cria dentro da categoria volante uma turma fixa, permanente e uma turma de reserva, complementar. Segundo pesquisas de diversas regiées, a proporgao de volantes "permanentes" dentro do con- tingente de volantes, varia entre 35% e 60879, Turmas fixas permanentes e complementares, volantes sem turma contratados esporadicamente por sub-empreiteiros de FT e parte dos membros das UFP residuais e complementares acompanham através de migra- des de tipo circular o calendrio agricola. Em So Paulo, 0 itinerario € 0 seguinte: janeiro e fevereiro hd plantio da cana e do feijao e colhed ta da mamona e de amendoim; marco e abril é 0 plantio do trigo e a colhei ta de algodéo ¢ de arroz; de maio a agosto é o plantio da batata e da man Gioca e colheita de soja e do café; de setembro a dezembro 6 0 plantio do café, algodéo e mamona e colheita da cana, laranja e batata, Em face de uma certa especializagao microrregional, parte consideravel desta FT vo- lante cumpre este itinerdrio. %, GRAZIANO DA SILVA © FREITAS, G.P. ~ Os volantes na zona do Avaré e Carpueira César. as Mogis de I Reuniao Nacional de Mo de Obra volante na Agricultura, Botucatu, mi~ 27, ‘ALLIER, M. Verena ~ As milheres no caminhio de turma. In: Cay . Int Capital e Trabalho no Camo, on pe ean ed. HUCITEC, 28 ed., Colecdo Estudos Brasileiros n? 7, Sdo Paulo, Pe aE . 28 GRAZIANO DA SILVA € FREITAS - op, cit, Ver p. ex. para Presidente Prudente: INCAO, M. Conceigé: 5 er D. ts 3 1, Me 80 ~ O BSia Fria - acumlacio e niséria, Vozes, Petropolis, 7@ ed., 1979, IT parte, pig. 85-126, Ver p. ex. Row spectiva de varias pesquisas: GRAZIANO DA’STLVA - 0’ “bSia fria": entre aspas e com 08 pingos nos is. In: Mio de Obra = segdo 1 — oe pies bra Volante na Agricultura, Parte II - secdo 1 - as tur ae © volante e mesmo o trabalhador tempordrio ao atompanhar a marcha das safras transpde muitas vezes os limites dé seu Estado. Bm Santo Anas tAcio (S. Paulo) apés a colheita do algodio, estes trabalhadores em gran- de patte deslocam-se para Goids, onde participam da colheita do arroz. Outras vezes empréiteiros dé turmias-fixas trazem 4 Sdo Paulo trabalhado- res de outros Estados: na Alta Araraquarénse e em Brotas (8. Paulo) é co- mum os caminhGes i¥em até Vitéria da Conquiéta (Bdhia) recrutar trabalha- dores para o corte da cana de agiicar (cerca de 800 km de percurso). Finda a safra a maior parte destes trabalhadores retornam 4s suas UFP residuais © complementares na Bahia, ou ainda se empregam temporariamente em cons- trugdo de barragens e de estradas??, No caso do emprego temporario dos volantes em indistrias regionais, este se di nos trabalhos bragais e pior remunerados, com jorna das de trabalho intensas e geralmente mais longas, A pesquisa de savmos?! em Votuporanga mostrou que o emprego destes volantes em indistrias gran— des era sobretudo em tarefas complementares e nas indistrias médias 0 do- minante era sua ocupagao bracal em tarefas de ensacamento e carregamento. Varias outras pesquisas estudam o fendmeno do trabalho vo- lante no Nordeste. suarEz?? pesquisando o municfoio de Ribeirgo, em Per- nambuco, na Zona da Mata, a partir do processo de desterritorializagao ms siva dos moradores de engenho, detecta 3 movimentos: mobilidade inter-ex ploragSes com manuten¢ao da atividade, migraga0 sazonal sertéo-agreste pa ra a Zona da Mata (decaindo ultimamente em importancia), e emigragdo com destino urbano (sendo que as prézrias capitais nordestinas, sobretudo Re- cife, Fortaleza e Salvador tem sido um destino importante desta categoria fe migrantes, ainda que Rio e S40 Paulo continuem como um ponto de atra- so). Analisando de outro angulo a evolugao do mercado de FT na exploragao acucareira da Zona da Mata, SIGAUD>? mostra que este processo ae desterritorializacdo dos moradores criou uma segmentacio no contingen- te de PT: os trabalhadores residentes, mais qualificados, cobertos pelas garantias do ETR e os trabalhadores tempordrios, "os clandestinos" como sao chamados, morando nag "pontas de rua" das nequenas cidades da regiio, que nao & registrado, ou "fichado", ndo tendo qualquer garantia da legis- lacdo trabalhista. Os trabalhadores residentes ou “povo da fazenda" sio chama dos a cumprir uma série de tarefas extras e complementares, intensifican- do sua jornada de trabalho, o que geralmente cumprem para manter sua si- tuagéo de "fichados", com direitos. Os trabalhadores “clandestinos" ou o “povo de fora" podem ser recrutados diretamente pelas fazendas ou através de empreiteiros de FT, Os “clandestinos" contratados através de_emprei— 30, ROSSINI, Esther ~ Estar de So Paulo~A intensidade das micragdes e do éxedo rural- urban Revista Cigncia e Cultura, SB°C, julho de 1977, SANTOS, HJ. ~ op. cit. 2, exe, M. Teresa Sales - Cassacos e cormbas. Ed. Atica, Sio Paulo, 1977. SIGAUD, Ligia ~ Os Clandestinos e os direitos: Estudo sobre trabalhadores da cana-de- pittcar Ge Pernambuco. Ei. Duas Cidades, Sio Paulo, 1979, Ver tanb&m: SIGAUD, L, - 0 eee ee estratégia do capital, In: A mao-de-obra volante na Agricllturajop, cit, 40, teiros sio geralmente pagos 4 tarefa, o que permite, de outra forma, inten sificar e estender a sua jornada de trabalho. Enquanto o trabalhador re~ ichado" esta preso 4s solicitagdes permanentes e imposicdes do sidente " “cativeiro no engenho", o trabalhador "clandestino", "liberto" desta con— Aigio perde os "direitos" e se submete 4s normas do empreiteiro de FT. Uma terceira abordagem sobre a mobilidade da FT no nordes- te é tratada na tese de BARBOSA sobre a cultura fumageira em Alagoas e sua vinculagdo com firmas de beneficiamento de fumo, Bstudando a drea de Ara piraca, dominada pela cultura do fumo, altamente absorvedora de FT, a au~ tora analisa as transformagdes ocorridas na mobilidade espacial e seto- rial da FT consequentes da integracio da fumicultura de Arapiraca no mer~ cado fumageiro internacional e da instalacdo de firmas de beneficiamentc de fumo na prépria zona, que antes se localizavam em salvador?*, © levantamento 4a vida ocupacional durante 24 meses de 580 trabalhadores permitiu elaborax matrizes e graficos reveladores do fluxo de entrada e sada de atividades diversas da PT, que demonstraram a cir- culagdo permanente da FT sucessivamente do campo (agricultura fumageira) & cidade (saldes urbanos de destalagdo de fumo e firmas de beneficiamen— tod. 0 trabalhador temporario contratado na 4rea urbana por pe~ riodos de 6 meses em geral, pela indistria do fumo, séo chamados de “ope- raérios safristas" (trabalham de agosto/setembro 4 fevereiro/mar¢o) . A principal demanda de FT rural na cultura fumageira 6 de fevereiro/marco 4 agosto/setembro, o que permite que os trabalhadores tempordérios emprega~ dos naé duas atividades sejam, no fundamental, os mesmos. Esta circulacdo foi plenamente comprovada, sendo que para a maior parte da FT envolvida neste fluxo permanente foram detectadas 4 etapas: 1] das atividades rurais para as atividades urbanas,geralmente sa lées de destalacaéo; 2] destas para outras atividades urbanas, geralmente firmas de beneficiamento de fumo; 3] das atividades assalariadas urbanas para fora do mercado de trabalho, geralmente atividades do lar, para mu- lheres, inclusive costura e lavagem de roupa, e biscates e terciario in— formal para os homens; 4] de fora do mercado de trabalho para as ativida- des rurais, reiniciando 0 ciclo. Neste caso a FT acompanha as diversas fases do processo de um produto, correspondento a sucessivas mudancas de ocupagéo e de = local @e trabalho, que simultaneamente implicam em movimentos campo-cidade-cam- po, © em movimentos agricultura-artesanato-indistria-terciério inferior -agricultura. 3m, BARBOSA, Silvete - Cultura Fumageira e Mobilidade da FT em Arapiraca ~ Alagoas. Tese de Mestrado-UFRJ, Instituto de Geociéncias. Fotocopiado, novembro de 1982, Rio de Janeiro. : 41. HOBILIDADE E INOBILIZACAO DA FORCA. DE TRABALHO EM REGIOES DE FRON- TEIRA AGRICOLA ~ 0 CASO DE RONDONIA As regides de fronteira se diferenciam das regides agrico- las de desenvolvimento capitalista consolidado devido A abundancia de ter ras inexploradas e 4 inexisténcia de um mercado de trabalho formalmente constituido, Estas caracteristicas implicam em-que nestas reas, a orga~ nizagad.do mercado de trabalho agricola utilizar’ formas-de-fixacio e Je “B forca de trabalho, ainda que estas se.combinem com outras for mas de mobilidade da forca de trabalho, como veremos a seguir. repressac © conjunto das fronteiras tampouco & homogéneo, e sequnslo a natureza dos agentes econSmicos determinantes em sua ocupacao, sua esca la de atuacdo e seu noder politico, segurido a origem geograéfica e social dos imigrantes, teremos caracteristicas e mecanismos diferenciados Ae fo mag&o 40 mercado de trabalho. Nosso trabalho Ce campo em Ronddnia detectou que a___base principal do mercado de trabalho se desenvolve no interior do circuito di ferenciado das Unidades Familiares de rodugio, sob a forma de trabalho semporrio, e principalmente sob a forma de trabalho agregado. A relacdo camnonesa de "agregac4o" 6 o que possibilita a viabilizagéo de parte Jas Unidades Familiares ercantis através da implan- tacdo de culturas perenes, sobretudo café e cacau. Esta relagdo é a base que permite a manutengdo dos novos migrantes chegados 4 Rondénia, que aguardam seu lote nos Projetos de Colonizagdéo do INCRA, representando uma alternativa 4 sua completa proletarizagéo, e uma nossibilidade de acumula rem alguns meios de subsisténcia e de investimento para a abertura e ins- talagao no futuro lote., As fazendas pecuaristas e as empresas agricolas cacauicul- tores ¢ seringalistas gncontram sérios problemas na continuidade de seu aprovisignamento em forga de trabalho, devido A espectativa e acesso A propriedade da terra por parte dos novos migrantes, e a alternativa 40 “mercado camponés de trabalho", que por meio de relagdes de parentesco ¢ de vizinhanga na origem, constitui a porta de entrada dos migrantes??, Estas fazendas e empresas usam agentes para recrutar traba lhadores entre as familias que chegam diariamente em caminhSes na BR-364, Estes agentes percorrem também as pensdes de solteiros em Ji-Parand e Ariquemes, com propostas de trabalho para os hdspedes endividados. En vista da insuficiente quantidade de trabalhadores “Li- vres" e dispostos a se assalariarem de forma permanente, e da irregulari- fade @ instabilidade do mercado de trabalho (que se esvazia a cada abertu ra de um novo garimpo, ou ao aniincio de um novo projeto do INCRA), muitas fazendas e empresas recorrem 4 importacio direta de trabalhadores de ou- tros Estados e sua posterior imobiliza¢do-relativa no interior de suas propriedades. 3Soma visio maia detalhada deste proveses, © Ga aniline que se seqe, encontra-se em nossa tese de Doutoramento: “Mobilité e Inmobilisation: la formstion’du ‘Travail. dans L'agriculture Brésilienne", Paris I, fevereiro de 1984, 42. Entre as empresas:.cacauicultoras, verificamos que a Frey = Plorestal recruta trabalhadorés diretamente da.regiio de Ilhéus e de-Ita- buria, que chegam 4 Ronddnia de forma ilegal. Entte 4s empresas seringa- listas, o recrutamento interestadual de trabalhadore’ se faz sobretudo nos Estados do Ceard e Piaui, como constatamos no seringal do Jotao (pre- feito de. Ji-Parané) e no Seringal 70. : BSS -,.,,AS-fazendas pecuaristas do sul de Rondénia, na Gleba Colum biara;?recrutam trabalhadores~em Minas Gerais e Mato Grosso, e ultimamen-- te chegaram a utilizar 0 expediente de corromper dirigentes de prisdes pa ra que o$,presos cumpram parte. da _sentenga trabalhando em suas terras..Em presdrios.e pecuaristas tém solicitado ao INCRA uma contercao da_Coloni~ zagao Oficial, ritmos mais lentos de entrega dos lotes, diminuigdo do ta- nanho dos lotes nos novos projetos, maior seletividade na atribuicéo de eréditos e maior complementaricdade entre a colonizac&o oficial e 08 pro. jetos empresariais. A expans&o da Colonizagao Oficial baseada’na imigragéo do Sul e Sudeste representa um bloqueic parcial 4 constituigdéo de um numero- so proletariado agricola em Ronajdnia, apesar do impressionante fluxo mi- gratério dirigido para este Estado nos diltimos 10 anos. © capitalismo floresce nas novas cidades da BR-364 e nos circuitos da economia campone- sae da economia empresarial, a partir do debacle do poder politico e territorial dos antigos seringalistas, fundados em relagdes de aviamento, que bloqueavam a expansdo do mercado capitalista regional. Mas as fornias particulares que este desenvolvimento capitalista assume, na esfera agri- cola, impée sistemas de recrutamento de trabalho 4 grandes distancias ¢ formas extra-econémicas de coergio e fixagéo dos trabalhadores. MOBILIDADE E IMOBILIZACAO: PRECARIZACAO E VIOLANCIA NA AMAZONIA’ ORTENTNL A AmazSnia Oriental, na faixa compreendida pelo ceste e su doeste do Maranhdo, leste e sudeste do Parf e norte:de Goids, 6 uma zona caracterizada por uma importante expansio da frente camponesa originada no Nordeste e secundariamente proveniente do Leste e Centro-Oeste do ndis. A partir do asf2: da Transamazdnica, da reversio da nolitica de estimulo 4 pequena produgio e dos vultuosos incentivos fiscais “ferecidos as grandes empresas, a fren te éspontanea camponesa sofre a investida da frente pecuarista-empresa rial, que através da violéricia ¢ do, poder’ econémico cria as bases para a instituigao do mercado de terras e co mercado de trabalho em toda esta area tamento da Belém-Brasiliae da abertura A-grilagem em larga escala utiliza a vidléncia direta, in- vasdo de terras com expulsio, queima de colheitas, ameacas e assassinato de camponeses: Algumas vezes a forca nfo é utilizada.para a’ expulsao,mas para _instituir a cobranga de rendas, em produto (arroz) ou ém trabalho (fomagio de pastos). Estes processos, com frequéncia desembocam na poste- rior expulsao, configurando exemplos de combinacdo da exploracdo do traba lho e expropriagao das’ terras. 43. A violéncia sofrida pelag Unidades Camponesas se reflete na sua instabilidade, precariedade, afeta ag condigdés de satide de seus membros e desarticula sua base econdmica, induzindo a6 assalariamento in~ termitente., Este por sua vez, implica na diminuicdo da drea plantada e @as horas de trabatho efetuadas na Unidade Familiar, cronificando o défi+ As Goftsequéncdds da disrup¢ao das unidades catponesas nao se restringem ao assalariamento de seus membros ¢ A sta dissociagao esna~ cial (a exploragao familiar se transforma em babe territorial, o barrac~ periférico urbano em locus de busca de trabalho e reposigéo de ehergia, ¢ 98 espagos de trabalho externo si> as fazendas, minas, _hidroelétricas, etc.). As formas de resisténcia 4 proletarizagao e 4 expropriagdo se des dobram em diversas estratégias, como a ccupagao de terras, a imigracdo, © trabalho independente nos garimpos, luta pela expansio da colonizagéo oficial e pela regularizagéo fundidria das posses. As grandes empresas aqronecudrias tém necessidade de impor tantes contingentes de FT no periodo de instalagdo, derrubada da floresta e@ implantagdo de pastos. Esta demanda de trabalho nio é satisfeita exclu sivamente pelo circuito das unidades camponesas a nivel local e regional, que & irregular e inst4vel. Elas organizam um circuito interregional de selegio, recrutamento, transporte, alocacdo_¢ controle da FT, principal- mente 4 partir dos Estados do Nordeste. Este sistema de intermediacgao difere substancialmente do que existe em Rondénia pela maior frequéncia e intensidade de ativacdo do cireuito, pela maior importancia da escala de contratagdo, pela maior ex~ tensio e complexidade da cadeia de _intermediacdo no recrutamento, e pela mais aberta cumplicidade do poder piiblico regional. A repressao da mobilidade e da liberdade do trabalhador a- través da atual "peonagem amazdnica" nfo 6 semelhante aos sistémas de co- lonato do café no Sudeste, ou ao sistema de morador-de-engenho no Nordes~ te, que caracterizaram a transicdo para o trabalho-livre no Brasil, e nem aco sistema de aviamento predominante nos antigos seringais, A peonagem amaz6nica ndo implica no sistema ce lotes, nem no paternalismo patriarca— lista, nem no trabalho individual © nao dirigido na floresta, que caracte rizavam respectivamente os 3 sistemas que mencionamos acima. A atual peonagem amazGnica fundamenta-se num sistema de recrutamento complexo, num sistema de trabalho organizado por equipes, sob gomando_centralizado e num sistema de repressio 4 mobilidade baseado na forca armada e com vigéneia temporal limitada. Este sistema no é organi zado em. base ao trabalho familiar e implica em circulagdo dos trabalhado- res por diferentes fases di processo de trabalho, com alteragdo na nature za e no ritmo de trabalho. i No caso da moderna peonagem, verificamos que a mobilidace espacial interregional se articula com um sistema de imobilizacao da for— ga de trabalho por determinado periodo (3 a 6 meses) e se articula igual mente com um uso capitalista intensivo da FT, trabalho em equipe e circu. 44, lacSo nas fungSes produtivas (plantio de midas, combate As formigas, im- plantagao de pastos, construca> de cercas, etc.). CONSIDERAGOES PINATS A mobilidade da forga de trabalho agrfcola 6 uti dos mecd- nismos fundamentais de estruturacdo do mercado aqricola ¢ rurbario, Esta mobilidade apresenta, no entanto, uma grande diversidade regional: os vo- lantes sem-terra de S46 Paulo, recrutados em turmas-fixas; os camponeses- vvolantes do Para, membros de Unidades Familiares Complementares; os dia- ristas e agregados de Rondénia, que trabalham no "mercado camponés de tra balho" e no circuito das empresas; os trabalhadores do tabaco, de Alagoas, ane ‘seguem todas as fases do processo produtivo, com uma mudanca circular de lugar e de natureza do trabalho; as formas de mobilidade espacial de grande distancia combinadas com sistemas de peonagem. A natureza @ a diversidade destas formas de mobilidade nao podem ser apreendidas e analisadas 4 partir de um nivel de abstragdo que Ago incorpore as condigées particulares das formagSes sociais coneretas (p. ex. ~ paises de industrializacio recente, com fronteiras agricolas) ,e AGE as especificidades decorrentes da natureza do setor produtivo (p. ex. asricultura, ou trabalho rurbano} ,como induziriam as aplicagdes mecdnicas da abordagem de GAUDEMAR. A violéncia das formas de imobilizagdo ndo caracterizam um "novo eseravismo" como sugerem alguns autores (p. ex. Souza Martins), mas 20 contrario sao utilizadas por grandes empresas, inclusive multinacio- nais, articulam-se com formas intensas de mobilidade, e caracterizam uma etapa de formacdo do meraco de terras e do mercado de trabalho, Por seu lado, os camponeses “utilizam" sua mobilidade para fentarem viabilizar suas exploragées, angariando recursos através da plu ri-atividade, mas o mais importante é que eles usam esta "mobilidade" pa~ Fo Ocupar terras dos grandes projetos e mesmo terras resetvadas a peque~ nos produtores présperos, que correspondam ao perfil aceito pelo Banco Mundial para seus projetos de modernizacdo. Na Amaz6nia Oci tal nao ha uma Gnica grande propriedade que nfo tenha perdito ao menos uma fragao de suas terras para os camponeses, 4 agdo recente do GETAT - Grupo Executivo de terras do ara guaia e Tocantins ~ tenta reqularizar a situagio de parte dos camponeses desta regio, considerada 4e seguranca nacional, fixando-os, restringinds Sua acho perturbadora sobre os projetos arquitetados, dos quais esta mas- Sa camponesa esté obviamente excluida na sua maior parte, Naturalmente esta politica do GETAT provoca um conflito par cial com as empresas que desejam a mobilidade dos camponeses-pedes em di- rego aos seus dominios ¢ sua imobilizagao no interior deles, durante os Reriodos de trabalho. © caso do Nordeste mostra a ambiguidade da oposicéo Mobili dade-Imobilidade: os trabalhadores Permanentes, "registrados", tém os "ai 45. reitos", mas se consideram “cativos" na Usina. Os outros, expulsos, os “clandestinos", consideram-se livres do-novo senhor, mas priSioneiros de sua crénica pobreza e instabilidade e sujeitos aos designios dos novos re erutadores de pedes. A esséncia do’ proplema situa-se na natureza das re- lagGes sociais e do poder politico e na baserda estrutura fundiaria, © famoso "consenso" sobre a necessidade de fixagdo do ho- mem ao campo merece ser objeto de uma profunda revisdo, 0 discurso urba- no, de diversos quadrantes, pretende naturaimente manter as ameagas da po breza e da violéneia longe das cidades. Mas fixar em que condigdes? aque las dos proprietérios, como a peonagem? Aquelas oferecidas pelo GETAT, para alguns, em algumas areas restritas, sob acirrada vigildncia? Aquelas do INCRA - que na década de 80 passa a privilegiar a colonizacéo privada, em detrimento da colonizacdo oficial (em 83 0 INCRA destinow 600 mil hads reservas para a Colonizago Oficial e 3 milhdes de ha para a Colonizacio Privada, através de empresas particulares de colonizacao) ? Os 4,6 milhSes de trabalhadores e pequenos camponeses fi- liados 4 CONTAG ~ Confederagdo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura reafirmaram em seus recentes encontros, posteriores ao III? Congresso,sua luta por uma Reforma Agraria, com participagio dos camponeses e trabalha- dores rurais nos critérios de despropriagio e de indenizacdo: com garan— ia para as exploracées que venham a ser constitufdas, cooperativas ou em presas familiares, de participagéo direta nas decisdes econémicas concer- nentes 4 agricultura, acesso ao crédito, 4 comercializacio, 4s entidadese organismos econédmicos e politicos urbanos. Os camponeses e trabalhadores manifestam.claramente a von- tade politica de liberdade de se apropriarem de seu préprio territério,de af permanecerem de forma associada, e ainda de manter sua liberdade de movimentos para ampliar sua cooperacio, sua participagio, suas _aliangas politicas e sua cidadania. Sio os interessados que pretendem modificar uma situacdo secular de injusticas, para garantir tanto seus direitos de ficar, como sua liberdade de associagao e dp movimento. "A mais cruel das escraviddes esta em ser privado da terra, porque o escravo que tem um dono, 6 escravo de uma sd pessoa, mas o homem privado do direito da terra, é escravo de todo o mundo." TOLSTOI

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