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Saramago: um minuto de silêncio

*Omar Taha

“A História não é vida real


Literatura sim.E nada mais.”
J.Saramago

Não há quem goste de literatura que não tenha sentido a morte de José Saramago. De fato,
Saramago, era um dos grandes pensadores do nosso tempo e as suas idéias, maneira de
viver, comportamento ultrapassavam a boa literatura que ele cometia. Segundo o crítico norte
americano Harold Bloom era um “um dos últimos titãs de um gênero literário que está a se
desvanecer”. Realmente o destaque de Saramago ficou por conta dos romances.Apesar de ter
escrito dezenas de obras com crônicas , poemas, artigos diversos, nos seus romances aplicava
toda maestria do exercício da língua portuguesa e demonstrava o quanto esta podia estar a
serviço do pensamento lógico, encadeado, filosófico e racional.

Segundo alguns críticos, como Ernani Terra e José de Nicola o autor provavelmente tenha sido
o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
Mesmo assim, a impressão é de que Saramago não era tão bem quisto em sua terra como no
Brasil – os portugueses tinham admiração por outros escritores e de certa forma desdenhavam
um pouco a mítica de Saramago, mesmo com o Premio Nobel e tantos Títulos Doutor Honoris
Causa recebido em diversas Universidades do mundo.

O comportamento anti-eclesiástico e sua ligação ao Partido Comunista podem explicar um


pouco essa atitude. Mas não se justifica, mesmo sabendo-se da compulsão atávica dos
portugueses pela mística católico-cristã. E não foi casual que a maior parte dos títulos lançados
por José Saramago nas últimas duas décadas estavam relacionados à nomes e temas cristãos
ou eclesiásticos. “Memorial do Convento”,”História do Cerco de Lisboa” ,” O Evangelho
Segundo Jesus Cristo” , “Terra do Pecado”,”Caim”, “A Viagem do Elefante” são obras que
discutem a questão da Fé, sob o viés cristão e questionam uma série de fundamentos da
cultura ocidental.

Um detalhe que não passa despercebido aos seus detratores: mesmo com a derrocada do
Muro de Berlim, Saramago recusou-se a rever suas posições ideológicas, marcadamente
comunista e ateísta. Paradoxalmente foi um dos autores da língua portuguesa que mais
apresentou temas ligados ao cristianismo em sua obra e apesar de não professar a fé cristã
em nenhum momento de sua literatura a destratou ou a menosprezou.

Saramago estava mais preocupado, nos últimos anos em discutir as grandes questões como o
humanismo, o racionalismo e um eventual novo modelo de socialismo. Numa entrevista
concedida no Brasil, há alguns anos atrás Saramago apontou com todas as letras a causa do
seu ceticismo e de seu desencanto com a humanidade – “a história da humanidade é um
desastre contínuo; nunca houve um momento que se parecesse com um momento de paz”. Foi
assertivo ao evidenciar que a Razão de nada serve ao homem – “ não se percebeu ainda que o
instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem”.

Estas e outras digressões fazem de Saramago um homem maior que o seu tempo. Suas obras
inspiram e inspirarão uma reflexão profunda sobre a humanidade, sobre a razão da existência
do ser humano com suas vicissitudes e idiossincrasias, mesmo aos que não concordam com
seu ideário.

Saramago nunca foi de afagos. Explicando o “Ensaio Sobre a Cegueira” diz que a obra surgiu
de um questionamento -“E se estivéssemos todos cegos? Mas, nós estamos de fato cegos.
Cegos da razão. Não usamos a razão para defender a vida”. Este é o Saramago que perdemos
agora: um pensador arguto e corajoso, que defende idéias polêmicas e recusa-se a fazer parte
do rebanho.
Um minuto de silêncio para Saramago e para suas idéias.

*Omar Taha,51 anos é médico e escritor.

Omar Taha 51 anos é médico, escritor e articulista.Colabora com diversas publicações.

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