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A violência nas grandes cidades

Engº Antonio Fernando Navarro1

Semanas atrás, um jornal apresentou uma série de artigos sobre o tema "violência", nos
quais eram traçados parâmetros e comparações, expondo o que está ocorrendo nos estados
brasileiros. Foram apresentadas estatísticas sobre a violência de um modo geral. Face ao conteúdo
vago dos artigos, com características alarmistas e face também ao fato de já termos pessoalmente
sido vítimas disso, à tempos, resolvemos dissertar rapidamente sobre o tema a respeito.
A violência não é uma prerrogativa existente somente em um determinado estado
brasileiro, ou fruto dos grandes aglomerados urbanos e de divergências ou desequilíbrios
econômico-sociais. A violência também não é pressuposto de certos países. A violência não está
apenas nos programas de televisão ou nos filmes policiais.
Estudiosos costumam dizer que as desigualdades sociais e econômicas são um dos
indicadores do nível de violência, já que nas cidades onde as desigualdades sociais são mais
intensas há maior índice de violência. Em aglomerados onde existem somente ricos ou somente
pobres, ou seja, sem essas desigualdades, a violência costuma ser menor do que em locais com
sensíveis desequilíbrios sociais. Alguns pensam logo: é a favela revoltando-se contra as mansões. É
o pobre insurgindo-se contra o rico. Nas cadeias do nosso Brasil podemos dizer que não existem as
desigualdades sociais e econômicas, mas a violência lá campeia.
Para a solução deste grande problema que nos afeta e nos preocupa para o futuro, não
podemos compreender ou estudar a violência estigmatizando os lados. A letra de uma música
antiga dizia que "pobre correndo era ladrão e que rico correndo era atleta". Não é assim que as
coisas são. Em alguns momentos, nessas situações, a violência passa a ser um indicador da
dominação ou opressão. Se quisermos resolver o problema da violência deveremos buscar a origem
de tudo em um momento não muito remoto. Esqueçamos as dicotomias, como o rico e o pobre.
A violência afeta o equilíbrio emocional das pessoas, e, por conseguinte, afeta todo o Ser. A
violência muda hábitos até mesmo os mais arraigados. De repente, passamos a não mais querer
conversar com os amigos nas portas de nossas casas, ou dentro dos carros nas ruas. Também de
repente, passamos a não mais querer sair de noite. Em seu surto máximo, a neurose contra a
violência chega ao ponto da instalação de grades e alarmes em volta da casa toda, da síndrome do
porteiro eletrônico e da mania de ver os outros através das lente de circuitos de televisão, do medo
de andar-se junto a paredes ou de árvores, principalmente em dias de noite escura, já que as
sombras também passam a ser perigosas. Surgem as manias de se andar com um molho de chaves
e de conferir as fechaduras a cada momento, a fim de certificarmos se fechamos as portas
adequadamente. As pessoas vão ficando cada vez mais enclausuradas. Aí, surge a raiva: "por que
tenho que ficar preso em casa e o bandido solto na rua?"
Somente quem já passou por uma situação de violência, como nós, ou quem já foi
submetido a uma, sabe dar o devido valor às medidas prevencionistas. Somente quem já foi
assaltado sabe o verdadeiro significado do que vem a ser impotência frente ao bandido. Você não
consegue reagir. E, se o fizer, poderá morrer. E depois reclamar. Reclamar a quem??? Morto pode
reclamar? Claro que não!!!
Mas, o que vem a ser a violência? É antes de tudo uma ação despropositada e arbitrária, que
uma pessoa comete contra outras pessoas ou contra bens de terceiros, motivada por um
desequilíbrio de ordem emocional, financeira, psíquica, etc., ou então, fruto de um momento
presente, quase sempre causado por uma forte motivação ou compulsão. Existem os que tem
compulsividade patológica pela violência. São os violentos sob a ação de drogas, inclusive de álcool.
Outros, pela motivação de sua turma de "amigos", a conhecida pressão do grupo social. Dentre as
muitas formas de manifestação da violência existem:

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Antonio Fernando Navarro é Engenheiro Civil, Consultor de Empresas, especialista em programas de
Gerenciamento de Riscos - E-mail: afnavarro@terra.com.br
· Do arrombador de residências, que muitas vezes procura obter, ilicitamente, algo para trocar
por drogas nas ruas ou pelo simples prazer de se apropriar de algo que não é seu. Nessa
segunda hipótese podemos classificar o ladrão de bicicletas ou de tênis;
· Do torcedor insatisfeito com o desempenho do seu time de futebol, que à saída do estádio, e
motivado por seus companheiros, resolve provocar depredações no patrimônio de terceiros ou
agressões a outros torcedores, tentando se vingar do mal resultado do seu time;
· Do assaltante de bancos que efetua o assalto para beneficiar a si com o dinheiro ou para
outrem. Quase sempre a prática desses atos destina-se a aquisição de armas e drogas;
· Do pichador de muros ou monumentos, que quer deixar a sua marca sempre em pontos ou
paredes cada vez mais altas, não importando tratar-se de um prédio de apartamentos, de uma
igreja, de uma placa de trânsito ou de um monumento público;
· Dos vândalos de ocasião, que depredam bancos de rua ou praças, ou luminárias de ruas,
tentando descarregar a sua raiva incontida pelas circunstâncias;
· Dos brigões no colégio ou nas ruas, quase sempre em disputa pela liderança de um grupo;
· Dos pai que espanca o filho, por várias razões, inclusive porque nesse dia não pôde espancar o
patrão;
· Do professor que encarcera o aluno para que tenha bons modos e não o perturbe mais;
· Do chefe que humilha o funcionário;
· Do político que se apropria do dinheiro do povo, ou dá emprego fácil para todos os seus
parentes, sem que esses trabalhem, enquanto existem milhões de desempregados que poderiam
estar ocupando os seus lugares com eficiência;
· Daquele que calunia ou difama pelo simples prazer de ver os outros em situações difíceis;
· Daquele que toca fogo em um índio que havia cometido o deslize de estar dormindo em um
banco de praça, porque não tinha para onde ir, e outras formas mais.
O que é comum em todas essas formas de violência é a existência de uma motivação. Uns
motivam-se pelo uso de drogas, outros pela necessidade financeira, que aqui denominamos de
"ladrão de galinhas", outros pela satisfação de seu ego doentio, outros, como diria a minha avó,
pela "safadeza" mesmo. Sempre haverá uma motivação que justifique a violência.
Nós, que trabalhamos com Gerenciamento de Riscos a muitos anos, vemos a violência como
uma escala crescente de ações desordeiras que têm, como objetivo maior, trazer a quem a provoca,
algum tipo de benefício, mesmo que não o seja a satisfação de seu ego.
Agora mesmo, o Governo Federal está promovendo uma nova ação contra a violência nas
grandes cidades. Para os governos estaduais são bilhões de reais, em época de "vacas magras". Para
o sofrido povo brasileiro, uma esperança.... Quem sabe se algumas dessas ações não vêm a dar
certo?
A violência não surge do dia para a noite. Não começa sem mais nem menos. Normalmente
é fruto de um conjunto se situações, algumas perfeitamente previsíveis. Vejamos por etapas:

· A violência não é fruto somente de ambientes pobres. Não podemos nos esquecer que meninos
ricos e mimados ou desassistidos pelas famílias também cometem violências;
· A violência não é específica de drogados, desesperados por dinheiro para a compra da "erva";
· A violência não é específica de ladrões de bancos ou de seqüestradores, que empregam o
dinheiro arrecadado para a compra de armas ou outras coisas mais;
· A violência não é específica do grupo dominante da escola, que de repente se vê intimidado com
a presença de novos colegas e busca se impor por meio da força;
· Enfim, a violência não se deve a uma única causa.
O que podemos fazer para eliminar a violência de nosso meio? Em princípio, não se pode
eliminar completamente a violência de nosso meio, porque sempre poderão existir os casos de
desequilíbrio emocional ou psíquico. Contudo, poderemos reduzi-la a níveis aceitáveis, se é que se
pode considerar a violência aceitável. E como poderá ser isso? Através de um amplo e moderno
programa que abranja:
Educação – Carinho – Supervisão
1) Com a educação mostramos aos nossos jovens, desde o início, que sempre poderão existir
outros modos para se resolver os problemas. Através da educação incutimos em suas cabeças os
princípios éticos, morais, religiosos e familiares. Educação é um processo contínuo e não
momentâneo. Educa-se na escola, na rua, em casa, e em qualquer outro local. O guarda de rua
que agride com um cacetete à alguém não está educando, e sim cometendo mais uma violência.
O professor antigo que usava a palmatória para ensinar não estava educando, e sim usando de
uma violência para transmitir as suas idéias.
2) Com o carinho, afastamos a violência no tratamento interpessoal. Filhos de pais violentos
tendem a ser violentos. Alunos de professores agressivos tendem a ser agressivos. Funcionários
de chefes recalcados tendem a ser recalcados. Se agimos com carinho, primeiro conseguimos
entender muito daquilo que o nosso coração endurecido pela vida não entenderia. Segundo,
transmitimos paz, o que é muito importante para essa nossa juventude. O carinho deve ser
sempre o contrário da brutalidade, da raiva, do rancor, da ira. Somente os corações amargos
podem transmitir amargura. Somente os rancorosos transmitem o rancor. Somente os raivosos
transmitem a raiva. Os violentes transmitem a violência.
3) Finalmente, a supervisão é muito importante, porque possibilita transmitir a imagem de que
nunca a pessoa terá a oportunidade de praticar a violência impunemente, sob o manto do
segredo ou das sombras. Com a supervisão, inibimos muitas das formas de violência. Na
Europa existem cidades supervisionadas por câmeras de vídeo. Lá, os níveis de violência foram
bastante reduzidos. Os assaltos a lojas com circuito interno de TV também foram reduzidos.
Sempre que houver a possibilidade de alguém constatar que pode ser identificado, com certeza
já teremos posto um freio na violência. A supervisão deve ser sempre a antítese da impunidade.
Será que para se obter isso tudo precisamos dos bilhões de reais apregoados pelo governo?
Precisamos de algum tipo de investimento sim, porque muito terá que ser feito em um curto espaço
de tempo. Deixou-se passar muito tempo para que acordássemos do torpor. A muitos anos atrás
escrevemos um artigo sobre a violência. Apresentamos naquela ocasião gráficos e informações.
Dissemos que, do lugar de onde saíam os bandidos para assaltar e roubar também saia o contigente
daqueles que engrossariam os times dos vigilantes, ou seja, todos eram fruto de ambientes
extremamente violentos, ou seja, das favelas. E por quê das favelas? Porque lá estavam todos
aqueles que desejavam assegurar para si o dinheirinho do fim do mês. Os que queriam ser
honestos, e não tinham as qualificações profissionais necessárias e suficientes, sujeitavam-se a
trabalhar por um salário vil. Existiam também aqueles que tinham como fetiche o uso de uma farda
e de uma arma na cintura. Assim, como combater a violência com a violência?
O recente episódio do "bandido" que manteve mulheres como reféns em um ônibus no Rio
de Janeiro, culminando com a morte de uma delas, demonstra claramente que naquele momento a
violência foi combatida com a violência e a vítima foi uma inocente professora, que se encontrava
no lugar errado e na hora errada. O policial, emocionado e despreparado empregou a arma
inadequada, no momento inadequado, atingindo a refém ao invés do bandido. Agora vê-se os
superiores desse soldado treinando os subalternos e ensinando como defender a população. Será
que não é uma atitude tardia? Sempre que a violência é usada contra a violência os resultados não
são nada animadores. É o mesmo que empregar-se o fogo para combater o fogo.
Outro fato bastante interessante é que determinados programas ou filmes da televisão
também constituem-se em fator motivador do aumento da violência. Sempre que nos domingos há
exibição de filmes violentos, com certeza haverão problemas nas escolas pela segunda-feira. Alguns
filmes incentivam a violência, quando assistidos por pessoas despreparadas ou com ímpeto para a
prática da violência. Noticiários sobre as gangs de lutas livre incentivam novos episódios de brigas.
Filmes sobre assaltos em elevadores provocam ações desse tipo. Em resumo, as pessoas com índole
para a violência procuram reproduzir aquilo que vêem.
A ação do Governo de proibir a emissão de novos portes de arma não é de todo inócua. Com
certeza, as pessoas exibicionistas que gostam de andar armadas, e que não tem o adequado preparo
contribuirão para o grande grupo daqueles que as perdem para os bandidos. Trata-se de uma
pequena ação. O que se vê é que, na maioria das vezes os bandidos não se utilizam dessas armas
comuns, que as pessoas podem comprar em lojas de armas, mas sim, de armamento especial,
quase sempre contrabandeado. São as metralhadoras Uzi, os fuzis AR-15, as bazucas e outros tipos
de armas, que desconhecíamos e que de repente passaram a ser do conhecimento de todos. A
guerra termina sendo desigual. O policial com um revolver de 5 ou 6 balas, muitas vezes com pouca
munição, lutando contra um bandido armado com uma pistola de 14 balas, com farta munição. No
momento do confronto a maioria pensaria só em fugir dali.
Alguns estados do Brasil que antes não sabiam o que é a violência não podem ficar livre da
violência que assola o restante do país, já que fazem parte dele. Nesses também passou a existir o
desequilíbrio financeiro e social entre a população, fruto do movimento migratório de populações
inteiras em busca de oportunidades de emprego. Infelizmente, muitos são desqualificados para os
empregos aos quais estão se apresentando. Assim, o contingente dos desempregados, sem
experiência, sem qualificação e com problemas de toda a ordem, passa a ser cada vez maior. Esse
tipo de migrante é uma boa presa na mão dos traficantes, que acenam com o dinheiro fácil. Nos
sinaleiros já há os lavadores de vidro dos carros, que vem com uma garrafa e um rodo. Muitos
motoristas já foram ameaçados por eles e por seus rodos, por não terem dado o tão esperado
dinheiro. Fazer o que? Mandá-los embora, prendê-los, ou conseguir para eles um local onde
aprendam uma profissão e possam se sustentar condignamente?. A pujança financeira traz consigo
os meninos riquinhos, sem famílias adequadamente constituídas, ou com sérios problemas
familiares, e com tudo ao seu dispor: carros do ano, dinheiro farto e tudo o mais. Também esses
são sérios candidatos para engrossar o contingente daqueles que podem ser presas fáceis dos
manipuladores de ocasião. Nos condomínios de luxo inúmeros são os casos de arrombamentos de
casas ou de violências contra menores praticadas por esses filhos da classe média alta.
Enfim, violência não é algo que se deva varrer para debaixo do tapete, esperando que
ninguém dê por ela. É algo que se deve encarar de frente. Se nada fizermos já, com certeza
estaremos nos lamentando mais tarde. O nosso Estado do Paraná, oásis de tranqüilidade, está
mudando rapidamente, e estamos todos assistindo a tudo de braços cruzados. Precisamos deixar de
planejar para partir para a ação. Não precisa ser nada espetacular. A experiência tem nos
demonstrado que o somatório de pequenas ações vale muito mais que as ações espetaculares,
motivadas pela mídia ou pela proximidade das eleições. O que é necessário é que as ações se dêem
rapidamente. Em resumo, uma das maneiras de ratar-se a violência é encarando-a de frente, com
ações realmente efetivas, em um processo de conscientização coletiva ou de mutirão.

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