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BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIENCIAS SOCIAIS PSICOLOGIA Aconselhamento Psicolégico & Psicoterapia Auto-afirmagao - um determinante ba: OSWALDO DE BARROS SANTOS Conselho Diretor: Anita de Castilho e Marcondes Cabral Nelson Rosamilha Oswaldo de Barros Santos In memorian: Dante Moreira Leite LIVRARIA PIONEIRA EDITORA Sao Paulo Capa: Jairo Porfirio 1982 Todos os direitos reservados por ENLO MATHEUS GUAZZELLI& CIA. LIDA. 02515 - Praga Dirceu de Lima, 313 Telefone: 266-0926 - Sao Paulo indice Introdugao. PARTE | VISAO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPEUTICOS 1, Diagnéstico, Orientagao, Aconselhamento e Psicotorapia............. O longo caminho: do diagnéstico para a assisténcia psicolégica. O uso de testes psicolégicos. Orientagao, aconselhamento e psicoterapia. 2, Métodos Centrados no Contexto Sécio-Cultural......... 006. 0eeeee Fundamentos, Procedimentos comuns, Técnicas espectficas, 3. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal...........00e.0 000008 Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas especificas. 4, Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema. Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas especificas. Aconselhamento e terapia em processos de grupo. 5. A Revolugao Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicolégico e da Psicoterapia . .. Sintese histérica, Kléias basicas e originais. As condigées terapéuticas essenciais, Evolugao das idéias: o experienciar e as atuagdes em grupo. PARTE 11 OBSERVAGOES PESSOAIS 6. Hipétese Sobre a Auto-Afirmagao Como Determinante Basico do Comportamento . Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipétese. Seria possivel um neo-rogerianismo? A motivagéo e os determinantes do comportamento. A auto-afirmagao como motivo basico e emocionalmente preponderante. 7. A Personalidade e a Auto-Afirmagao. 0 Eu Pessoal, o Eu Social e a emergéncia da auto-afirmago, A ocorréncia patolégica, Neurose e significado da vida. Valores sociais e a aulo-afirmagao. Perspectivas humanisticas e filoséficas. 8, Contribuigdes a Terapia Psicolégica. . Objetivos basicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. Metodologia psicoterapica: a dinamica do processo. PARTE Ill APLICAGOES EM SITUAGOES ESPECIIS 9, Filhos e Alunos Dificeis............00c0eceseveeee este serene Como ocorrem os problemas. Medidas gerais. 10. Agdes Preventivas na Educagao, na Familia e no Trabalho, .. 11. A Vida na sua Terceira Fase: a Valorizagao do kioso. . Técnicas de orientagao e psicoterapia Referéncias bibliograficas. ..... English-abstract 0.000.066 cece eee ccc ce cette cece tet e cece cee Introdugao Os métodos, técnicas ou modelos de atuagdo, originarios de atitudes naturais ou de comportamentos direcionados, freqlientemente usados para ajudar as pessoas com problemas psicolégicos, so extremamente variados; dependem de concepgées filoséficas e sociais, como, igualmente, dos recursos situacionais, profissionais, éticos e operacionais, Ademais, as ciéncias do comportamento colocam duvidas ¢ interrogacées sobre os efeitos dos procedimentos orientadores ou terapéuticos em virtude de pesquisas pouco elucidativas. Os conceitos ¢ as indicagdes ou lembretes existentes neste livro resultam, de um lado, de informagées bibliogréficas e, de outro, de observagées ¢ inferéncias pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. E uma ligeira coleténea de posigdes tedricas e da metodologia correspondente, seguida de uma hipdtese sobre a auto-afirmacao como determinante basico do comportamento e, em conseqiéncia, de procedimentos e técnicas terapéuticas. Todas as consideragées, sugestoes ¢ hipéteses estdo francamente abertas 4 critica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou a aplicagao pratica do aconselhamento psicolégico e da psicoterapia, seja na situagéo natural e espontanea dos relacionamentos humanos, seja na situagao profissional. O que se pretende é colocar nossas observagées - ainda que falhas ou limitadas - a servico desses alvos. Seréo especialmente acolhidas as apreciagdes e contribuigses relacionadas com a proposi¢ao original, isto é, com a hipdtese de ser a auto-afirmagao 0 determinante basico do comportamento no plano psicolégico. Agradego a meus alunos e ex-alunos da Universidade de Sao Paulo pelo incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o mais, fecundo material para estudos e conclusdes. Agradeco, lambém, as psicélogas Alice Maria de Carvalho Delitti e Walderez BF. Bittencourt pela gentileza em rever e comentar 0 texto do capitulo 4, oferecendo titeis contribuigdes. OBS. PARTE | VISAO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPEUTICOS 1 - Diagnéstico, Orientagéo, Aconselhamento e Psicoterapia O longo caminho: do diagnéstico para a assisténcia psicolégica Poucos teréo definido tio bem a evolugéo da Psicologia no plano operacional, como Rogers (1942) 0 fez ao examinar sua contribuigao ao bem-estar e a assisténcia que dela se poderia esperar. Disse o fundador do método centrado na pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do individuo era essencialmente de estilo analtico e de diagnéstico. "Floresceram os estudos de casos, os testes, os registros e observagées e os rétulos de diagndstico psiquiatrico. Com o tempo, essa tendéncia voltou-se da diagnose para a terapia, para a procura de meios e de processos pelos quais 0 individuo encontre a ajuda de que necessita. Atualmente, preocupamo-nos mais com a descoberta de recursos terapéuticos mais efetivos na assisténcia ao individu. A dindmica do processo de ajustamento substitui a longa fase de descrigdes e rotulacdes" Realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas psicolégicas, parece ser possivel inferir que a maioria dos trabalhos psicolégicos era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir no complexo enredo do comportamento humano. As técnicas de diagnéstico tiveram seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. A psicometria e os estudos estatisticos relacionados com a sensibilidade, a precisdo e a validade dos instrumentos de avaliagao psicolégica desenvolveram-se de forma sensivel dando origem, inclusive, a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela American Psychological Association, conseqiiéncia natural do crescente interesse pelos pormenores sobre os métodos de construgao e de aferigao de testes. A classificagdo de reagdes ou de sintomas e 0 relacionamento de tragos e de fatores da personalidade era a tendéncia dominante. E a psicologia, como estudo e avaliagéo do comportamento, passa a ser reconhecida como ciéncia na medida em que 6 capaz de prever € descrever, por testes, questionarios, inventarmos e outros recursos, o comportamento de individuos ou de grupos. O préprio comportamento é analisado, identificado e classificado por idades, sexo, grupos sécio-econémicos ou em varidveis estatisticamente determinadas. Com Binet, Kuhlmann, Stem, Terman, Claparede, Spearman e outros, surgem 0 estudo e a elaboracao de testes mentais e escalas métricas, Os conceitos de idade mental, quociente de inteligéncia ¢ a psicometria alingem niveis de alta sofisticagéo; ha preocupagées em se desvendar as "habilidades” primarias ou basicas e tém lugar os estudos fatoriais com Thurstone, Goodman, Thomson, Vernon, Kelley, Cattell outros mais; aparecem famosos testes tais como 0 "Differential Aptitude Test" , o "California Test of Mental Maturity" , 0 "Guilford Zimmerman Aptitude Sorve", o "General Aptitude Test Bater’, Na década de 1940-1950, Wechsler estuda a inteligéncia e desenvolve as nao menos famosas escalas denominadas W AIS e WISC. Por titimo, surge a contribuigéo de Guilford, baseada em estudos fatoriais pelos quais 120 combinagées de habilidades sao teoricamente possiveis (Guilford e Hoepfner, 1971) e€ os famosos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da crianga. Na rea da personalidade, além do Teste de Rorschach, do MMP1L, do T.A.T., do Teste de Machover surgem notaveis técnicas expressivas tais como 0 P.MK. inimeros questionarios, provas situacionais e clinicas (Anastasi, 1948, 1957; Van Kolck, 1975). Esses estudos e trabalhos de mensuragao se distanciavam muito dos procedimentos terapéuticos como se estivéssemos em campos independentes. O aperfeigoamento das técnicas de diagnéstico conduziu o Psicélogo a um conhecimento razodvel das reagdes humanas, mas nao lhe ofereceu recursos suficientes no sentido de manipulé-las. O objetivo fundamental, que seria conhecer para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava distante, Ainda encontramos essa situagéo em muitos servigos psicolégicos: a preocupagéo com um bom diagnéstico. Se tal exigéncia é por vezes necessaria, ndo menos 0 6 a do estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos ajudar as pessoas atendidas, por uma raz4o ou outra, em uma clinica psicolégica ou de orientagdo ou em um grupo assistencial. O cenério retratado marca a longa trajetéria da Psicologia para seu aspecto aplicado, assistencial, Professores, chefes, supervisores, orientadores, pais e até mesmo psicélogos tinham diante de si um quadro, t40 perfeito quanto possivel, do ponto de vista descritivo, etiolégico, causal, mas poucos sabiam para alteré-lo. O mais acurado diagnéstico ficava, assim, inoperante, simplesmente porque os recursos de ajuda, de interveng4o, ndo eram conhecidos ou nao aplicados. A literatura psicolégica, farta em técnicas de exame psicolégico, conservou.-se relativamente pobre em estudos e informagdes sobre procedimentos para atuagéo na conduta. Estes se limitavam, principalmente, a manipulagdes ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendagées e conselhos. Por outro lado, em outro universo, desenvolvia-se a Psicandlise com teorias e técnicas delas derivadas; surgiu a contribuigao rogeriana, e brotaram os processos de Skinner bem como outras teorias e técnicas. A conjungao entre a medida dos fenémenos psiquicos de um lado ¢ o tratamento desses mesmos fendmenos produzivse de maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem campos mutuamente exclusivos. O relacionamento entre a psicometria e a psicoterapia e as preocupacdes com solugdo de problemas psicolégicos foram devidos, também, ao consideravel impulso motivacional a partir da lI Grande Guerra, quando contingentes imensos de ex-combatentes precisavam se reintegrar na vida civil. Como assinalam Sundberg e Tyler (1963), drasticas alteragées ocorreram. "Uma nova énfase nos problemas de adultos e de criangas desenvolveu-se rapidamente. Os exames de inteligéncia e de aptides continuaram sendo necessarios, porém, maior atengdo foi dirigida aos complexos e dificeis campos da personalidade © da motivagao. A Psicoterapia tornou-se a preocupagao essencial’ © uso de testes psicolégicos Os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da psicologia experimental iniciados por Wundt no século passado, desenvolvidos no comego do século por Binet e consideravelmente valorizados até a década de 1950-1960, quando teve inicio forte tendéncia contréria a seu uso. As razdes que lhes foram opostas sao, em geral, técnico.cientficas e filosdficas. As primeiras questionam a validade técnica das medidas psicolégicas e as titimas o direito que teriam as. pessoas de invadir e medir um campo de fenémenos nitidamente pessoais ou de utilizar os dados obtidos em beneficio de grupos ou de instituig6es, sejam estas educacionais, politicas ou empresariais. Parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo psicolégico a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis que negar a existéncia de testes ou exames é desconhecer a realidade da propria vida. O que se faz, na verdade, é tentar substituir a avaliagéo psicométrica por entrevistas e observagées clinicas, mudando-se 0 método mas nao a intengao. A avaliagdo nao pode, porém, deixar de existir seja por um processo seja por outro. O excessivo apego a resultados psicométricos sem a devida interpretagao do contexto individual e social foi, e com razo, a origem da resisténcia aos testes. O problema do diagnéstico e particularmente dos testes parece concentrar-se em dois pélos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) 0 uso das medidas obtidas uma vez comprovada sua vaiidade técnico-cientfica O primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for precaria, insegura e instavel, tudo o mais que dela partir é falso e altamente prejudicial, O segundo ponto envolve problemas sociais, pollicos e essencialmente éticos. Testes e avaliagdes sempre existiram e sempre existirdo, sob diferentes titulos e calcados no conhecimento acumulado e na filosofia da época. Nosso problema é aperfeigoar as avaliagées no seu sentido intrinseco e nas suas implicagées culturais, éticas terapéuticas. Quando se coloca 0 problema do diagnéstico prévio em aconselhamento ou terapia, podem os testes ser necessdrios ou nao. A tendéncia atual 6 esperar que 0 diagnéstico ocorra como produto de interagao entre psicélogo e cliente e na qual este atue como participante no seu propalo Julgamento A .pessoa ira a0 pouco firmando sua Imagem e, seu autoconceito. Para fins de pesquisa e para outras atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores ou indicadores de comportamento e sua utiizagao é, as vezes, indispensavel, desde que validos e adequadamente aplicados e Interpretados * * No Brasil como no restante do mundo, os testes e técnicas de diagnéstico também floresceram nas décadas de 1930 a 1950. Varios instrumentos de avaliagao foram elaborados, dentre os quais 0 Teste SENAIAG-3 ¢ 0 Teste DEP, a cargo do autor e de seus colaboradores. Tais testes destinam-se a medida da inteligéncia geral, em termos do Fator G. Orientagao, aconselhamento e psicoterapia Orientar, do ponto de vista psicolégico, significa facilitar 0 conhecimento e a analise de caminhos ou diregdes para a conduta, com base em referenciais pessoais e sociais. Aconselhar, paralelamente, refere-se: ao proceso de indicar ou prescrever caminhos, diregdes ¢ procedimentos ou de criar condigdes para que a pessoa faga, ela propria, o julgamento das altemativas e formule suas opgdes. Psicoterapia € 0 tratamento de perturbagdes da personalidade ou da conduta através de métodos e técnicas psicolégicas, E facil admitir que esses trés conceitos, expressos em atuagées praticas de ajuda, esto constantemente se intercruzando, seja nos habitos e costumes do dia-a-dia, seja nos processos educacionais ou psicolégicos formais e intencionais. As vezes, uma simples agdo orientadora, em que se facilita o acesso a informagdes e se deixa a pessoa decidir por si sé, pode ser muito mais eficaz do que um conselho ou controle da conduta; noutros casos, principalmente em situagdes de emergéncia e de grande ansiedade, um conselho pode ser mais produtivo da que um demorado processo de orientagao ou de terapia; em muitos casos porém, orientagdes e conselhos no so suficientes para alterar a conduta, recorrendo 4 terapia, como processo mais complexo, mais dificil e mais demorado A efetividade de uma atuagao depende de inimeros fatores nos quais sobressaem a personalidade do cliente, as emergéncias existentes, os recursos disponiveis principalmente, os objetivos que se quer atingir e os critérios sociais e filoséficos que os determinam. Os conceitos de orientagao e de aconselhamento, vistos pelo lado de seus efeitos, tm variado ao longo da historia. Ja dizia Sécrates quatro séculos antes de Cristo: "Conhece-te a ti mesmo”, conceito que parece se renovar no posicionamento atual da linha existencialista e rogeriana, e que com algumas alteragées de forma e de contetido vem prevalecendo através dos tempos. Todavia, ha pensamentos diferentes, Williamson (1939), um dos pioneiros do movimento académico de Orientagao, identificava, em certos aspectos, o aconselhamento com a Educacao, considerando que "a parte da moderna Educagdo referida como aconselhamento a que se refere a processos individualizados e personalizados, destinados a ajudar 0 individuo a aprender matérias escolares, tragos de cidadania, valores e habitos pessoais e sociais e todos os outros habitos, habilidades, altitudes e crencas que iro constituir um ser humano normal e ajustado" Como uma das grandes expresses no campo do aconselhamento, Rogers (1942, 1951) ndo se preocupa em estabelecer conceitos e definigées, De toda sua obra, porém, se depreende que o aconselhamento ¢ um método de assisténcia psicolégica destinado a restaurar no individuo> suas condiges de crescimento e de atualizacao, habilitando-o a perceber, sem distorgoes, a realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcangar ampla satisfagdo pessoal e social. Aplica-se em todos os casos em que 0 individuo se defronta com problemas emocionais, nao importando se se trata de doengas ou perturbagées nao patolégicas. O aconselhamento consiste em uma relago permissiva, que oferece ao individu oportunidade de compreender a si mesmo e a tal ponto que a habilita a tomar decis6es em face de suas novas perspectivas, O cliente passa a se dirigir através da liberagdo e reorganizagdo de seu campo perceptual. A orientagao rogeriana afetou profundamente os principios e os métodos até entéo existentes, e em face dessa repercussao dedica este livro um capitulo especial (Cap. 5) 4 obra desse psicdlogo, Para Robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de comunicago, e originariamente colega de Rogers, 0 aconselhamento é a atuagao que "cobre todos os tipos de situagées de duas pessoas, na qual, uma delas, o cliente, 6 ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si propalo e a seu melo", Sua técnica principal é a comunicagao, através de entrevistas cuidadosamente conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a tomada de decisées e atuam terapeuticamente. De ponto de vista dos efeitos da relagdo ocortida no processo de aconselhamento, Pepinskye Pepinsky (1954) os definem como resultantes da interagéo que ocorre entre dois individuos, conselheiro e cliente, sob forma profissional, sendo iniciada e mantida como melo de facilitar alteragées no comportamento do cliente. Hahn e Maclean (1955), representantes, como Williamson, da corrente cléssica de aconselhamento, dao énfase ao processo de diagnéstico e tomam o aconselhamento no sentido de informagées prestadas ao cliente sobre alternativas que se oferecem na solucéo de seus problemas. Ha casos, dizem esses autores, sobre os quais 0 cliente precisa ser instruido! Ha fatos que precisa conhecer; ha aprendizagem a ser realizada. Patterson (1959) é de opinido que o aconselhamento pode ser focalizado em termos de Areas de problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.), assim como em termos de ajustamento pessoal ou mesmo terapéutico. Segundo esse mesmo autor, 0 aconselhamento nao se limita a pessoas normais; aplica-se a0 excepcional, ao anormal ou ao desajustado; manipula as tendéncias adaptativas do individuo a fim de que este possa usa-los efetivamente. Shoben (1966), analisando as implicagées cientificas e filoséficas envolvidas nos processos de assisténcia psicolgica, afirma que do ponto de vista educacional @ clinico, ha dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o paciente a desenvolver suas capacidades para aperfeicoar sua auto-avaliagdo "sem, necessariamente, se determinar 0 contetido de suas conclusées", Um segundo alvo, de certa forma contraposto ao primeiro, & o de se recusar ajuda técnica sempre que esta possa ser solicitada num contexto que venha violar os principios intrinsecos do valor pessoal. Na corrente comportamentista, encontramos Bijou (1966) afirmando ser "o objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu melo e a substituir 0 comportamento mal ajustado pelo ajustado". "Parece claro, do ponto de vista da anélise experimental do comportamento, que uma das mais eficientes formas de produzir as altoragdes desejéveis é pela modificagao direta das circunstancias que as suportam, e um dos meios mais efetivos de manter essas alteragées é organizar um melo que continue a suporté-las.” A aplicagdo das leis de aprendizagem é 0 melo pelo qual se adquire comportamentos desejaveis. Krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do aconselhamento na mesma diregao dos psicdlogos contemporaneos. Segundo seus coneeitos, "orientadores e psicélogos dedicam-se a ajudar as pessoas a resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. Alguns desses problemas relacionam-se com importantes decisdes escolares e profissionais, tais como: Que curso devo fazer? A que profisséo devo me dedicar? Outros problemas se relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais como: Como posso salvar meu casamento? Como poderei suportar esses horriveis sentimentos de ansiedade, solidéo e depresséo? Como deverei agir para fazer valer meus direitos? Como posso relacionar-me melhor com os outros?" A essas questées 0 conselheiro acrescenta outras: Como se conceituam os problemas? Como colocar alvos? Que técnicas serdo tteis para atingir esses alvos? Como avaliarei meu propalo trabalho? Tais questées sao téo familiares e nos apegamos tanto a elas que os novos procedimentos (refere-se ele ao método comportamental) podem justificar uma verdadeira revolugdo no aconselhamento ‘A posigdo européia, notadamente a francesa, face ao aconselhamento psicolégico, 6 bem diferente da americana. Piéron (Nepveu, 1961), em um de seus Ullimos trabalhos, dizia que os métOdos americanos aproximam-se muito da Psicanalise e que a concep¢do francesa e a americana divergem muito no juizo que fazem sobre o papel do conselheiro. "No regime americano, onde a educag4o nao tem cardter nacional e onde a tendéncia geral é a de favorecer em tOdos os dominios as iniciativas individuais. 0 conselheiro se aproxima muito do psicoterapeuta; dirige-se a ‘clientes’ e no participa, de modo algum, dos problemas gerais da educagdo, nem se preocupa em participar de uma obra coletiva, Na Franga, ao contrario, tem-se procurado reduzir, ao maximo, a comercializagéo em matéria de Orientagdo. Esta, que tende a se integrar, cada vez mais, na obra nacional de educago, nao visa satisfazer clientes, mas a servir os interesses dos Jovens encarando 0 seu futuro..." Embora haja movimentos renovadores, Nepveu pareceu exprimir bem a tendéncia na época dominante na Franga e, talvez, na Europa quando, analisando os métodos de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em contribuigdes européias de Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes 6 0 “conselheiro adotar uma attitude de peritO, ou de amigo desinteressado”. "Esforga-se em compreender os problemas e as pessoas, em prever uma certa possibilidade de éxito, em formular conselhos adequados, bem-vindos e liberais", Nao obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicolégico parece ter tOmado corpo e expressao na década de 1950-1960. De acordo com relatO de Super (1955), "essa nova expresso resultou do consenso geral de um grande niimero de psicélogos reunidos no Congresso Anual da American Psychological Association, em 1951, na Northwestern University". O "Counseling Psychology’ substitui os antigos conceitos e métodos, origindrios da orientagéo profissional, modelada por Parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho mais sensivel 4 “unidade da personalidade, mais sensivel as pessoas do que aos problemas, pois que a adaptacao a um aspecto da vida esté em relacéo com todos os outros". "0 novo movimento encerra dados teéricos e técnicos da psicoterapia, inclui orientago profissional e ocupa-se, sobretudo, do individuo como pessoa, procurando ajudé-lo a adaptar-se com sucesso aos varios aspectOs da vida. Os conselheiros ou orientadores, nesse novo ponto de vista, ocupam-se de pessoas normais podendo cuidar, ainda, daquelas que apresentam deficiéncias e s4o mal ajustados, porém, de uma maneira diferente daquela que caracteriza a Psicologia Clinica’ Steffre e Grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento psicolégico, chegam a algumas consideragdes que parecem exprimir a dimensdo hoje dominante: a) "a definigéo de aconselhamento depende dos diferentes pontos de vista das autoridades no assunto. Essas diferengas tém origem em diferentes pontos de vista filoséficos..."; b) "no se pode fazer uma distingao muitO clara e precisa entre aconselhamento psicoterapia"; c) "o aconselhamento € uma forma deliberada de intervengao na vida dos clientes". Esse mesmo autor classifica 0 aconselhamento em quatro diferentes posigdes ou "sistemas", baseado em quatro diferentes teorias: a) Teoria do trago-fatOr, segundo a qual a mudanga do comportamento "depende do conhecimento que o cliente tenha de informagées"; b) Teoria centrada no cliente, pela qual o comportamento é modificado pela “reestruturagéo do campo fenomenolégico"; c) Teoria comportamental, segundo a qual, apés um diagnéstico da situagdio, determina-se os comportamentos a serem extintos ou reforgados; d) Teoria psicanalitica, que se propée' ‘claramente a uma redugéio de ansiedade na crenga de que dai resulte um comportamento mais flexivel e discriminador". Para Rollo May (1977), 0 campo do aconselhamento situa-se entre os problemas da personalidade, para os quais ha necessidade de um terapeUta e o_ problemas de imaturidade ou de caréncia de instrugdo, para os quais ha necessidade de um educador. Uma revisdo de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa propria experiéncia, poderia nos levar as seguintes consideragdes: 1. A orientagao, 0 aconselhamento psicolégico e a psicoterapia nao sdo meros procedimentos técnicos ou operacionais. Subjacente a eles hd todo um arcabougo de posi¢ées filoséficas operantes tanto no terapeuta ou ‘conselheiro. como nas pessoas assistidas, 0 que estabelece marcantes diferengas entre a psicologia e outras ciéncias humanas. Mesmo na posigao classica de liberdade e de ndo-diretividade ha, por parte do psicélogo, uma deliberada e consciente postura filoséfico-social. Noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um comportamento espectfico, ha, igualmente, um papel social idealizado. 2. O posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta flutua, em geral, entre trés premissas: a) 0 homem é um produto predominantemente social; possui impulsos naturais, bons ou maus, que precisam ser canalizados para um tipo de sociedade na qual nos localizamos ¢ que nos assegura a sobrevivéncia e 0 bem-estar, b) o homem é suficientemente capaz de decidir por si mesmo e escolher as agdes mais. adequadas para si propalo e p?ra os outroS desde que sejam criadas condig6es facilitadoras para avaliagao auto e hetero-referente e para as opges individuais; c) a autodeterminagao é uma utopia; 0 homem é o produto de miitiplas varidveis; temos que atuar nos agentes que o controlam e nos comportamentos tal como ocorrem na vida. quotidiana, Na pratica pedagégica ou psicolégica é dificil A distingdo entre orientago, aconselhamento e psicoterapia e a maioria dos autores nao se preocupa muito com essa diversificagdo tedrica. Alguns, entretanto, tentam tragar linhas demarcatérias. Assim, Perry (1960) distingue o aconselhamento da psicoterapia, baseando-se nos papéis e fungdes sociais visados pelo primeiro e na dinamica da personalidade proposta pela psicoterapia. Outros autores parecem diferengar estas duas atuagdes atribuindo a0 aconselhamento os procedimentos que se focalizam no plano intelectual, cognitivo, consciente, e a psicoterapia os que se relacionam com fatores afelivos @ inconscientes. Rogers (1942; 1955) usa os dois termos de forma indiferente - como fara 0 autor neste trabalho - porquanto, segundo ele, ndo ha o que distinguir na série de contactos individuais que visam assistir a pessoa na alteragao de atitudes ou do comportamento, Wolberg (1977) salienta que a psicoterapia é uma forma de tratamento para problemas de natureza emocional e na qual uma pessoa, especialmente treinada, estrutura uma relag&o profissional com o cliente, com o objetivo de remover ou de modificar os sintomas ou padrées inadequados de comportamento e promover crescimento e desenvolvimento da personalidade. Analisando 0 relacionamento cada a vez mais intenso entre aconselhamento e psicoterapia, Albert (1966), por outro lado, deciara que 0 mesmo processo informative, conceme-se ao aconselhamento académico e vocacional, ndo pode se limitar aos planos conscientes e racionais da personalidade, j que os niveis profundos refletem-se em todos os aspectos do comportamento Nossa experiéncia vem indicando uma razoavel ocorréncia de casos nos quais 0s métodos de orientagdo e aconselhamento confundem-se com os de terapia. Se um jovem tem dificuldade de relacionamento. Com os pais _ se aplicarmos determinadas técnicas de tratamento emocional, sejam elas rogenanas, comportamentais ou outras, estaremos fazendo aconselhamento ou terapia? Se uma mulher procura 0 psicdlogo para libertar-se de um continuo desinteresse sexual pelo marido, tendo-se constatado, previamente, néo haver problemas na area orgénica que possam ser responsaveis pelo fato e verificarse haver uma real incompatibilidade emocional entre mulher e marido e se técnicas psicolégicas forem usadas para tentar soluges, seria essa tarefa aconselhamento ou psicoterapia? Se um jovem, movido por profundos sentimentos de inseguranga na escolha de carreira, no consegue tomar decisdes e 0 psicélogo passa a cuidar do problema nos seus aspectos emocionais, estaria efetuando intervengao terapéutica? Atualmente, a tendéncia é distinguir aconselhamento de psicoterapia mais em termos de grau do que em forma de atuacao. Esta titima é semelhante e até certo ponto indistinguivel do primeiro, tanto no seu feitio profilético como no de recuperagao ou .. Cura’ '. Deixar ao psicélogo os chamados" casos normais com problemas, diferenciando-os dos patolégicos ou anormais para os psiquiatras, ¢ praticamente impossivel, mesmo porque o conceito de normalidade 6 apenas uma proposicao tedrica (Mowrer, 1954). Quer nos parecer, pois, que a psicoterapia ouo aconselhamento so melhor descritos em termos de um continuum, em lugar de um julgamento dicotémico. A flexibilidade do trabalho do orientador e do psicélogo deve ser assegurada, em beneficio do propalo cliente por ele assistido. Essa atuagao, face a casos claramente patolégicos, pode ser associada a de outros profissionais. A evolugao de cada caso indicar a colaborago pessoal de outros especialmente sem que tenhamos de determinar, com base em supostas demarcagdes, os limites da atuagdo orientadora e da agdo terapéutica Uma das mais explicitas conceituagées e descrigdes dos papéis atribuidos aos que se especializam em Aconselhamento Psicoldgico é proposta por Jordaan (1968), em seu levantamento sobre as fungdes do Conselheiro Psicolégico. Segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores da vida social (consultérios, centros universitérios, escolas, hospitais, centros de reabilitagdo, servigos de orientagdo profissional, departamentos de pessoal, servigos de colocagao e de treinamento, etc.), Analisando as eventuais diferengas entre Clinica © Aconselhamento, assinala que alguns especialistas apontam diferongas entre esas duas especializagées, outros, porém, consideram tais diferengas como irrelevantes. Segundo muitos especialistas, 0 psicélogo-conselheiro tende a trabalhar com pessoas normais, convalescentes ou recuperadas e a encaminhar casos mais sérios a outros especialistas. Usa técnicas psicoterdpicas e outros recursos, tais como exploragao de condigses ambientais, informagées, testes, experiéncias exploratérias outros procedimentos mais freqiientemente do que o psicélogo clinico, Em geral, 0 conselheiro tera desempenho profissional de acordo com a formagao que recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem... Os dados hoje existentes._-parecem —caracterizar_ oo psicélogo-conselheiro como o profissional da psicologia de formagaio mais ecletica © que ndo impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de atuagao na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se dedicam a problemas psicolégicos do Trabalho, da Educagao, da Familia, etc. Do ponto de vista psicolégico, a atuagao assistencial, profilatica, terapéutica ou corretiva pode assumir diferentes rétulos classificados por alguns autores como formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento (Pennington & Berg, 1954; Wolberg, 1977). Sem nos apegarmos a essa classificagao, pois parece-nos dificil distinguir 0 que realmente ocorre, em face de um rotulo predeterminado, vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos de métodos mais conhecidos, dando maior extensao Aqueles com os quais esta o autor mais familiarizado. Procurouse, porém, agrupé-los, tanto quanto possivel, em capitulos proprios, pelo critério de seu posicionamento conceitual. Essa divisdo setorial no reflete, porém, nenhuma tentativa de introduzir uma nova taxionomia no campo da psicoterapia. O Quadro 1, a seguir, relaciona exemplos de métodos, devendo-se notar que muitos destes, consoante a situagéo, podem se enquadrar em outras categorias. QUADRO 1 . EXEMPLOS DE METODOS DE ORIENTACAO, ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO E PSICOTERAPIA METODOS ENTRADOS NO CONTEXTO. METODOS CENTRADOS NO CONTEXTO SOCLO-CULTURAL PESSOAL ~ Informagao - orientagdo - Persuasdo - Manipulagao |- Psicandlise e técnicas analiicamente orien ambiental - Aproveitamento de interesses e recursos | Técnicas de reorganizagao cognitiva - Técni pessoais e ambientais - Terapia ocupacional - crescimento pessoal e autodeterminagao - 7 Socioterapia : Comunidades terapéuticas e suportivas ou de tranquilizagao : Terapia ges vivenciais; processos de grupo Terapia biofuncional e bioenergética - Psico Analise transacional - Terapia primal - Psicc + Logoterapia « Existencialismo Nota: Alguns métodos podem ser clasificados em uma ou mais categorias: outros nao sao apresentados sob a nomenclatura habitual e enquadram-se na classe geral em que sao colocados no texto (capitulos 2, 3 e 4). 2-Métodos Centrados no Contexto Sécio-Cultural Fundamentos ‘A imposig&o de padrées culturais, nos seus varios aspectos, @, sempre, teoricamente repelida, na ansia de liberdade e autenticidade que envole o ser humano. O homem busca afirmar-se e talvez nisto consista todo o mével da conduta humana e sobre 0 qual falaremos no Capitulo 6. Nao obstante o alvo tantas vezes cultivado, vé-se o homem julgado, aceito ou rejeitado pela forma como se ajusta aos padrdes que o cercam. A acepcao é valida em todas as épocas e em todos os lugares, em todas as classes e faixas etarias. Mesmo a adolescéncia contestatoria, as vezes iconoclasta e irreverente, mas criativa e pura em muitos ideais que tenta opor a tradigdo e aos habitos e costumes, cria, para si mesma, um modelo ao qual os adolescentes aderem, com normas e valores proprios. Estes passam a ser os critérios de conduta e de ajustamento pelos quais os préprios adolescentes sao entre si aceitos ou rejeitados. O comportamento grupal, diluido em pequenas castas e classes ou generalizado em amplos segmentos populacionais, envolve principios normativos. Chega-se ao paradoxo de propor-se a liberdade, a autenticidade, o ser-ele-proprlo e essa altitude transforma-se em valor Imposto, o que contraria a idéia fundamental de liberdade. ‘A adaptacao da pessoa a certas normas, estilos ou formas de vida é, pois, um critério comum de ajustamento, embora tentemos rejeité-lo. Dai se deduz que muitos procedimentos profilaticos ou educacionais, como técnicas de reeducagao ou de terapia, pautam-se, inexoravelmente, por padrées sécio-culturais, alguns transit6rios ou superficiais, frutos de modismos ou situagdes de emergéncia, outros permanentes profundos, produtos da experiéncia acumulada na sucessao de geragées em uma espécie de inconsciente coletivo de que nos fala Jung. Como ser diferente, marginalizado, ou ndo reconhecido socialmente, pode, em certos casos ter 0 sentido de destrui¢do, a pessoa procura adaptar-se aos sistemas existentes para atender 4 necessidade biolégica, basica, de sobreviver. A sociedade indica-he os caminhos para se preservar; exige, de forma aparente ou velada, que se "eduque", isto 6, que saiba falar, andar, vestir-se e usar o sistema social tal como existe; exige que estude, trabalhe, cuide dos filhos ou de pessoas, segundo certos padrées; espera que participe da vida comunitaria, que pague impostos e que desfrute de seus bens, méveis e iméveis, segundo certas regras e limitagdes. Em suma, estabelece certos determinismos cuja observancia é essencial para que a pessoa seja aceita. O aconselhamento e a terapia so, nestes casos, uma proposta de adaptagao a uma vida pré-definida. A liberdade seria apenas a possibilidade de escolha entre os determinismos que nos pressionam. Muitos procedimentos de aconselhamento psicolégico e de psicoterapia visam alingir os alvo_de que falamos: tentam conduzir as pessoas as situagdes que os valores sociais estabelecem como adequadas. Essa imposigao, se, em muitos casos, produz reagées de critica e de oposigdo e até de uma alienagdo conducente a quadros patolégicos, por outro lado pode gerar seguranga aos que se incorporam a massa, as tradigdes, ao pensamento grupal. E coletivo. E a tendéncia sociocéntrica em oposigao a linha individualista ou centrada na pessoa. Até que ponto as tendéncias socializantes ou personalizantes sao benéficas ou prejudiciais, apraziveis ou aterradoras néo sabemos. E assunto Dara os fildsofos, socidlogos e psicélogos sociais. O que nos parece evidente é a auséncia de padrées, valores ou pressdes que, de uma forma ou outra, balizam o comportamento humano. Do ponto de vista do aconselhamento psicolégico e de tratamento, ha recursos terapéuticos que visam adaptar 0 homem a seu contexto sécio-cultural embora se procure, atualmente, limitar ao maximo a subserviéncia a valores preestabelecidos, sem, porém, ignord-los; tenta-se colocar a pessoa em condigées de pao, ampliando-se o leque de escolha; procurase aproveitar as potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudangas sociais; procura-se facilitar 0 questionamento de problemas e situagées de vida. E de forma tal que as transigdes ocorram na pessoa e na sociedade sem violenté-las na sua esséncia, mas vigorosas no seu posicionamento. O aconselhamento imposto, extremamente autoritério, é coisa do passado, ainda que as informagées, os conselhos, as adverténcias atuem em certos casos. Se os conselhos e recomendagdes fossem; por si s6s, eficientes, as Prisdes estariam vazias e os instrumentos; de represséo teriam amplo sentido. Ha, pois, que estabelecer um sistema de comunicagao, de orientago e de atuaco psicolégica que produza resultados benéficos para a pessoa e para a sociedade. E, no caso em que os valores sociais sejam predominantes, muitos processos sao usualmente aplicados com maior ou menor beneficio pessoal ou social consoante as. exigéncias que, naquele momento, fluem da pessoa ou do grupo. Procedimentos comuns Como se verifica em varios autores (hahn & MacLean, 1955; Steffire & Grant, 1976; Sundberg & Tyler, 1963; Wolberg, 1977), ha grande variagdo nos procedimentos adotados nesta categoria metodolégica de tipo “orientador" ou ‘diretivo" . ‘Ainda que prevalega o sentido sociocéntrico,. Baseado em padrées culturais, tenta-se, do ponto de vista psicolégico, reduzir ao minimo a diretividade procurando-se reduzir tenses e preparar a pessoa para decisdes socialmente desejaveis, Em geral, os procedimentos mais comuns sdo: 1) Discussao com o psicélogo dos prés e contras de cada situago; 2) informagao, pelo psicélogo, com base no diagnéstico, das possiveis causas e da possivel evolugdo das reagdes observadas; 3) Opinido do psicdlogo no sentido de estimular ou de impedir a consecugéo de certos planos; 4) Planejamento de situagdes, com o cliente, envolvendo assuntos relacionados com os problemas tratados. Dificiimente se encontra, na literatura, a citagdo de pormenores técnicos do método, isto é, sobre o tipo de didlogo e atuagéo pelo qual o psicélogo conduz o relacionamento com o cliente. Em geral" so citados métodos de interprotar resultados de testes face a uma situagao considerada e prognésticos que podem ser levantados. Limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve ser informado", que" deve tomar conhecimento J", que o psicélogo deve considerar isto ou aquilo e que o cliente deve decidir. Em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros, analogos, ,embora com nomenelatura diferente, compreendem trés etapas: Fase catértica © psicélogo ouve o cliente mantendo atitudes nao criticas, facilitando sua expresso, O cliente expde seus problemas e o psicélogo usa varias intervengdes, tais como repetigao, sumdrio e proposigao de questées, esperando que o problema seja devidamente enquadrado em hipdteses provaveis. Essa fase pode durar uma ou mais sessdes, na medida em que seja necessario chegarem, psicélogo e cliente, a.uma estruturagao formal dos problemas a enfrentar. Fase de diagnéstico Preparado emocionalmente o cliente na fase catarlica, pode seguir-se o diagnéstico, orientando-se sua execugao de acordo com os problemas ou hipéteses fixados na etapa anterior. Anamnese, testes, questionarios, entrevistas com familiares.e outras pessoas séo usados, Exames médicos e pareceres escolares ou profissionais podem ser incluidos no diagnéstico. Este envolve mais de uma pessoa e, em algumas clinicas, uma grande equipe participa do estudo do caso e da formulagao de hipéteses e de planos (Vide outros comentarmos sobre o diagnéstico, no Capitulo anterior) ‘Ao mesmo tempo, o psicélogo procura conhecer as oportunidades de estudos, de trabalho, de vida social, de recreagdo e de eventuais tratamentos espectficos disponiveis para o cliente; precisa recorrer a diferentes especialistas, entre os quais orientadores educacionais, assistentes sociais, médicos, professores @ até mesmo a outros profissionais. Como tem que julgar a disporibilidade de recursos da comunidade, seu trabalho pessoal geralmente ¢ insuficiente. Quando 0 diagnéstico € necessdrio, temos notado ser mais eficaz o procedimento que identifique: 1) 0 nivel potencial do cliente, e que se estende desde suas condigdes de satide até seus niveis de escolarizagao e de condigdes sécio-econémicas, inclindo nivel de inteligéncia, de aptiddes e reagdes sensoriais ¢ motoras; 2) as condigées de adaptabilidade que favorecem ou delimitam 0 uso de suas potencialidades, penetrando-se no estudo da personalidade do cliente e nos seus dinamismos. Todos os planos geralmente consideram as expectativas sociais e, de outro lado, as potencialidades individuais, inclusive as facilitagdes ou barreiras que a pessoa pode encontrar (Barros Santos, 1978). Fase de decisées Com 0 quadro do cliente diante de si, 0 psicdlogo é levado a compreensao do comportamento do cliente e a decisdo sobre os procedimentos aplicaveis para prevengo, ajustamento ou alteragdo de conduta, A caracteristica basica reside na maior dose de iniciativa e decisao atribuida ao psicélogo. Este espera o cliente colocar os problemas ¢ as solugdes, mas, se estas ndo surgirem, assume o psicélogo 0 papel de proponente. O didlogo é Uma troca de idéias. O psicélogo informa, de modo impessoal, sobre os dados apurados, baseando-se em interpretagdes clinicas e estatisticas (Meehl, 1954; Super, 1955; Coule, 1960; Goldman, 1961). Evita personalizar as situagées e oferece panoramas gerais, impedindo © aparecimento de nova ansiedade quando certos dados possam contrariar os alvos do cliente. Ao discutir com este, 0 psicélogo, ao mesmo tempo que informa, tenta explorar em cada idéia ou fato novo os sentimentos manifestos. Essa atuagao, informativa e exploratoria, leva o cliente a conhecer suas possibilidades e, desde que ndo gere tensées, produz condigées favoraveis para escolhas e decisées. E uma etapa dificil, principalmente quando existem dados fortemente contrérios as expectativas da pessoa. Em geral, é mais cauteloso esperar que esta, pouco a pouco, com a atmosfera de conforto criada pelo psicélogo, possa ir, ela propria, inferindo conclusées. As interferéncias no sentido de ordenar, proibir, persuadir nao tém, em geral, mostrado eficdcia. A informagao e a exploragao subseqiientes e imediaias nos parecem ser o procedimento mais adequado até agora encontrado, O psicélogo julga e avalia as possibilidades do cliente, mas o faz atenuando qualquer grau de dependéncia ou de ansiedade, na medida em que seja capaz de, concomitantemente com a informagao, incluir atitudes que conduzam o cliente a explorar-se a si mesmo e a tomada de decisoes, Variagées no processo Em inumeros casos, na fase catartica ou na fase de decisées, o cliente se sente mais a vontade “falando dos seus problemas" do que dos motivos originariamente expostos como razies para consulta, A redugao da ansiedade criada pelas afitudes do psicélogo permite, pois, distinguir os casos em que ocorrem problemas emocionais generalizados dos que procuram, apenas, informagdes para uso predominantemente intelectual. Nessas circunstdncias, vé-se 0 psicélogo na contingéncia de continuar o processo no esquema original previsto, de transforma-Lo em proceso terapéutico especifico ou, ainda, de combinar ambos. O atendimento do caso pode ter inicio com atitudes e técnicas centradas na pessoa, 0 que, além de preparar o cliente para um melhor diagnéstico, quando este se revelar necessério, permite iniciar uma assisténcia terapéutica que sera util nas situagdes em que, ao lado dos aspectos intelectuais, haja situagdes emocionais a serem manipuladas. Quando 0 método é aplicado principalmente em casos de orientagéo vocacional ou profissional, sem problemas emocionais graves, temos notado que os clientes, quando submetidos apenas a reflexo de sentimentos, mostraram pouco ou nenhum avango no sentido de equacionar melhor suas opgdes. Sempre que o psicélogo intervinha apenas com técnicas rogerianas, ndo se notava o aparecimento de respostas que revelassem modificagdo de comportamento associada a eventuais decisdes. Em se tratando de casos em que predominavam problemas cognitivos O que se supés antes e se verificou posteriormente - a técnica de informagao, discussdo e explanagao refletivse favoravelmente no aumento das possibilidades de decisao. Tais efeitos concordam, em parte, com 0 que afirmam os partidarios desse método e segundo os quais os problemas de escolha nem sempre sao originariamente emocionais. Estudos de Watley (1967), concementes a predigao do sucesso de estudantes atendidos por conselheiros de orientagao doutrinaria e técnicas diferentes, demonstraram que os conselheiros filiados a teoria informativa (teoria e tragos da personalidade) predisseram com mais exatidao o grau de sucesso dos individuos estudados do que os filiados orientagao nao diretiva, dos chamados ecléticos ou dos que ndo tinham doutrina técnico-cientifica bem definida. A maioria das técnicas ou de recursos terapéuticos baseados no contexto sécio-cuitural ndo tem nomes consagrados. Muitos mesclam-se entre si. Vamos enumeré-los com pequenas explicagdes j que constituem variagses do procedimento geral descrito. Informagao-Orientagéo E um processo tradicional de interagao, de natureza predominantemente Profilatica. Visando oferecer. E discutir alternativas de ago conduzidas, em geral, Sob a forma de: a) procedimentos de apoio; b) analise de opgdes envolvendo Questées. Lembretes. Consulta a dados existentes. Observagdo da realidade circunstancial confrontagéo com modelos de conduta e resultados; c) reflexdo dos sentimentos provocados pelas alteativas estudadas. Aplica-se, em geral, a pessoas que mantenham contato com a realidade. Motivadas e suficientemente desenvolvidas para analise de informagées. Os procedimentos informativos ou orientadores atuam geralmente no plano racional, desde. que haja prévia liberagao de estados emocionais que perturbem a tomada de decides. E um dos procedimentos mais usados através do tempo e ttl sempre que a pessoa precise de informagées para comparar os possiveis efeitos de suas opgées. Enquadram-se estes procedimentos no campo habitual dos Orientadores ou conselheiros. Seja no campo familiar, escolar, profissional ou social. Persuaséo Trata-se de imposigéo comportamental, no plano da ideagdo e da agdo, baseada em padrdes de condula previamente definidos como tnicos possiveis validos. De efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasao racional, geralmente associada a recompensas e punigdes. E de valor ético discutivel e somente indicado em sitagdes de emergéncia e de perigo para o cliente ou para outras pessoas. Inclui, muitas vezes, a doutrinagao e a orientagdo das pessoas para comportamentos sociais ou politicos emanados de um grupo dominante. Um exemplo extremado deste procedimento ¢ a chamada "lavagem cerebral". Manipulagao ambiental Consiste em uma atuacdo planejada e diretiva sobre agentes externos, presentes na familia, na escola, no trabalho ou na comunidade, visando eliminar ou atenuar a exposigao do cliente as fontes de frustracao ou de conflito. Pode exigir amplo diagnéstico do cliente e dos fatores externos atuantes em seu comportamento para localizar as variaveis nele intervenientes e a aplicagao de medidas que conduzam alvos desejados. Muitas vezes o processo é indireto, ou seja, 0 proprio cliente néo tem conhecimento dos alvos e das intengdes que visam alterar seu comportamento, 0 que ocorre em casos de deficiéncia grave e incapacitante no plano intelectual ou emocional. Aproveitamento de interesses e de recursos pessoais e ambientais Partindo de prévio diagnéstico global! E diferencial, visa utilizar ao maximo o potencial e a estrutura individual, usando caminhos ndo bloqueados. Inclui o Estudo da dinamica do comportamento e dos alvos e das necessidades individuais, procurando-se concilid-las com as ofertas e as necessidades sociais. Multo usado no Campo da Orientagao Vocacional e Profissional e na Educagdo, baseia-se nas possibilidades da comunidade ou da instituigéio, procurando-se facilitar 4 pessoa seu ajustamento a uma ou mais alternativas que a sociedade oferece. E menos diretivo Do que os procedimentos _ti.anteriores, ja que oferece opgdes no campo do trabalho, Do lazer, da familia, das atividades comunitarias ou em outras areas do comportamento social. Terapia ocupacional Compreende atividades de lazer, de recreagdo e, principalmente, tarefas que revelem utilidade e sentimento de auto-afirmagao. As atividades podem ser livres, dirigidas ou semidirigidas e propiciam redugdo de tensdes, exploragao de aptiddes e de interesses, melhora de comunicagao e: da expresso e podem ter acéo preventiva. educativa ou terapéutica (Willard &Spackman, 1970). Pode atuar como procedimento complementar ou como técnica terapéutica essencial, principalmente quando outros métodos sao invidveis. Pode incluir outras atividades, tais como esporte, teatro, movimentos associativos, atividades artisticas, civicas, sociais, religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais. E aplicavel, também, no campo empresarial para liberagéo de tensdes, desenvolvimento pessoal enriquecimento do trabalho e melhora da comunicagao. A laborterapia & algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional porque estabelece um padrao minimo de (desempenho a atingir, periodicamente revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagdgicos e psicolégicos tanto para pessoas ditas normais como deficientes. Muitas vezes recorre-se a oficinas especiais ou "protegidas", mas a tendéncia alual é usar o ambiente normal de trabalho. Socioterapia Confunde-se com outros métodos e técnicas j& que o aconselhamento e a psicoterapia de qualquer estilo sao, também, socioterdpicos, Mescla-se, mais comumente, com a manipulagao ambiental, com comunidades terapéuticas e com as técnicas de grupo em geral, Em esséncia, visa um contexto grupal, de que sao exemplos a terapia familiar (Bowen, 1978), a terapia institucional (para pessoas que tém vida em comum) e equipes de trabalho. Nestes e noutros casos, a énfase é dirigida para os sentimentos e as relagées intragrupos e intergrupos; concentra-se nos problemas de agrupamentos humanos em geral como, também, em grupos especiais tais como grupo de doentes, grupo de viciados (0 A.A.A. 6 um exemplo), grupo de minorias raciais, grupo de delingiientes, etc. Os procedimentos aplicados correspondem, em geral, as técnicas de grupo, sob orientagées psicolégicas as mais diversas (vide capitulo 4). Comunidades terapéuticas e vivenciais; processos de grupo S40 geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se a socioterapia, As comunidades terapéuticas e vivenciais sdo, também, destinadas aos casos que ndo possam ser atendidos em clinicas ou consuttérios comuns por dificuldades diversas. Aplicam-se igualmente as pessoas que tenham problemas de residéncia, de locomogao e as que precisam de constante assisténcia, seja médica ou psicolégica. Em alguns casos caracteriza-se uma intemagao ou seja um regime de vida em clinica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um tratamento médico, psicolégico e social em geral programado pela instituigéo que a acolhe. Modemamente, os "intemos" sdo convidados para colaborar, podendo até participar da diregdo dos programas em regime de co-gestdo, visando-se confrontago com a realidade @ auto-afimacdo, A interago entre os participantes 6 discutida em sessdes especiais prevendo-se, também, relagdes externas e o gradativo término da internagéio com o conseqiiente autogoverno. Os procedimentos e todas suas variagdes médicas, psicolégicas ou sociais so planejados e aplicados por equipes muttdisciplinares, com a cooperacao dos participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em escolas, empresas, estabelecimentos penais, centros de abrigo e protegao e obras assistenciais. O hospital-dia, centro-dia ou centro terapéutico é uma variagdo metodolégica na qual o cliente conserva o vinculo com a famiia e freqiienta o centro diariamente ou algumas vezes por semana. Aplica-se a pessoas para as quais a tarefa terapéutica de consultério ou de ambulatério 6 insuficiente e para as quais a intemagao comum 6 desnecessaria ou contra-indicada. Tanto a intemacao ou hospitalizagéo comum como o centro-dia implicam na existéncia de varias alividades que compreendem, em geral: 1) Assisténcia médica em geral; 2) Atividades psicoterapicas tais como sessGes de grupo, jogos, dana, esporte, artes plasticas e musicais, artesanato, participacao em tarefas para o centro; 3) Psicoterapia especfica, conforme o caso; 4) Contacto com a realidade; 5) Trabalho com a familia, fazendo desta uma ativa participante. O centro-dia, ou centro terapéutico, vem sendo usado também no campo da gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vinculos familiares sendo, simultaneamente, assistido por uma eauipe especializada, em um melo que Ihe proporciona convivencia e atividade produtiva. A vivéncia comunitaria é outra variagéo do procedimento de internagao e comunidade terapéutica. Pode assumir varias formas, desde instituigdes destinadas a menores excepcionais ou desemparados, até instituigdes penais ou conjunto residencial para idosos. Esse sistema tem algumas vantagens e algumas desvantagens. Em geral prové meios assistenciais mais facilmente e menos onerosos mas, por outro lado, afasta o individuo da realidade existencial contribuindo, até certo ponto, para uma segregagao social ou etéria. Outro perigo é 0 envelhecimento ou saturagao da comunidade ou seja, 0 cansago resultante de uma constante vida em comum. Os inconvenientes apontados podem ser removidos com uma organizagao suficientemente ampla e flexivel, com programagées variadas e com populagao parcialmente rotativa. Pode-se, também, em certos casos, limitar a estada residencial a alguns dias por semana ou intercala-la com temporadas em outros locais, principalmente junto a familia, 3 - Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal Fundamentos ‘Ao longo dos tempos, a sociedade revé os focos de referéncia em que balisa seus alvos, concentrando-se ora na pessoa, ora no grupo ou ‘sistema, o que acarreta, no campo do aconselhamento psicolégico ou da psicoterapia, correspondentes alteragdes. O conceito humanistico, ‘voltado para uma atitude antropocéntrica, geralmente se sucede ao periodo sociocéntrico, no retorno a um equilibrio natural. Essas tendéncias se alternam e, as vezes, coexistem. Hoje parece estarmos diante de uma orientago predominantemente personalista em que o individuo 6 © centro. Nesta conceituagao, acentuada depois da Il Grande Guerra, 0 foco preferencial tem sido o homem, a pessoa antes do grupo, embora alguns sistemas sociais existam como alvo prioritario. Embora essas colocag6es ¢ a luta pelos direitos humanos definam uma marcante filosofia social, a distancia é bem grande entre a idéia e a a¢do. Mesmo no aconselhamento tipicamente centrado na pessoa, quando terapeuta e cliente buscam libertar-se das amarras sociais, estas ndo conseguem ser eliminadas. Os seres vivos tm medo de mudangas e apegam-se as estruturas existentes. No humanismo psicolégico, pois, 0 efeito maximo atingido parece limitar-se a uma proposigao para o futuro, isto é, ao planejamento para geragao posterior. O humanismo é um desenvolimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa, com énfase na inovagéo, no enriquecimento experiencial e no crescimento, 0 que no significa constante oposigao social mas a capacidade e a habilidade de extrair do melo o que ¢ Util 4 pessoa e, em contrapariida, oferecer ao melo o que pode ser a ele necessario para 0 equilibrio geral. Neste ponto, o aconselhamento e a psicoterapia de linha chamada’ ‘humanistica’ sao contrérios 4 educagao de massa, & modelagem social e a socializagao planejada. Os métodos e técnicas dirigidos pelo enfoque humanistico partem do principio de que a pessoa, como organismo total, 6 um ser com caracteristicas préprias, que age e interage de acordo com as coordenadas bsicas, biopsiquicas e sociais de sua personalidade, em uma equagao pessoal de que nos falam tantos autores. O meio social € um corpo a parte, t4o significativo quanto O ente biopsiquico, mas ndo o alvo irremovivel e indiscutivel. A pessoa € 0 centro e ndo 0 sistema de valores e de habitos sociais. Francamente opostos ao dominio séclo-cultural, da primeira categoria de métodos (Capitulo 2), coloca como objetivo basico a satisfagao e o bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou subversao mas, ao contrério, em busca de valores e de opgdes que conciliem o EU pessoal com 0 EU social, Os métodos e os procedimentos praticos atuam tanto no plano consciente como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenolégicos ou, como diz Tyler: "Lida com o mundo como a pessoa o vé mais do que com a realidade existente" (Sundberg e Tyler, 1963). A pessoa atingida pela orientagdo individualista passa a sentir-se segura e trangtilla 4 medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redugéo de tensdes; 0 autoconceito se eleva; a critica a si mesmo e aos outros tende a diminuir € os sucessos e fracassos sao percebidos como fatos naturais proprios do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida. © aconselhamento psicolégico e as técnicas psicoterdpicas que freqiientemente se intitulam humanisticas, ou centradas na pessoa, nem sempre assim atuam, quer colocando como referencial o contexto séclo-cultural (ver capitulo anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras ciéncias. No enfoque centrado na pessoa, 0 trabalho terapéutico ou profitico é intencionalmente voltado para o proceso particular pelo qual os eventos psiquicos ocorrem em uma dada pessoa, | 'Os erros da vida ocorrem quando o individuo tenta representar algum papel que ndo o seu’. Esta frase de May (1977) esclarece bem a individualidade de cada um de nés. Nao ha tipos, nem rétulos ou categorias de individuos ou de problemas. HA pessoas nas quais condigdes organicas ou sociais geraram dificuldades, as quais foram manipuladas de acordo com recursos pessoais em um dado momento. Todo psicélogo experiente sabe que nao ha dois clientes iguais, embora, aparentemente, os problemas sejam os mesmos. A vivéncia de cada um deles @ sempre “sui-generis". Diz Jung que cada um de nés traz em si uma constituigéo especifica de vida, indeterminavel, que nao pode ser substituida por outra. A singularidade de cada pessoa e sua harmonia intrinseca s4o os alvos. A Psicandlise de Freud, bem como as teorias e técnicas que dele se originaram, constituem exemplos classicos da orientagao antropocéntrica, embora o controle social e cultural esteja sempre presente, Procedimentos comuns A abordagem inicial, muitas vezes, é semethante a usada na metodologia da primeira categoria (capitulo 2), ou seja, hd uma fase de relacionamento e catarse na qual o cliente expe seus problemas, formula sua "queixa" e 0 psicélogo o assiste, refletindo seus sentimentos e demonstrando aceitagao e empatia (0 que nao significa aprovagéo ou reprovagéo). A partir dessa fase e de acordo com um préjulgamento que o psicélogo efetua sobre o cliente e as possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periédicos, individuais ou em grupo. Pode ou néo haver diagnéstico psicolégico no seu sentido tradicional. Geralmente essa providéncia é dispensavel em certas modalidades de atuagéo; noulras, faz parte do proceso e noutras é contra-indicado, como na metodologia rogenana. ‘As técnicas de atuaéo séo bastante variadas, subordinadas a uma nomenclatura classica e bem definida, como a Psicandlise, o Psicodrama, a Gestalt e outras mais. Todas' lidam com a dinamica do comportamento e procuram levar 0 cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que, conscientemente ou nao, atuam sobre ele. A medida em que o cliente consegue recompor as situagSes traumatizantes, em termos que suavizem suas frustragGes e confltos, pela redugao da sensibilidade (nivel de tolerdncia), pela melhor compreenséo de si mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre maior enriquecimento & fortalecimento do EU e conseqUentemente maiores e melhores recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais. A seguir veremos, resumidamente, alguns exemplos de técnicas desta categoria. Psicanilise e técnicas analiticamente orientadas A Psicandlise parece constituir 0 mais significativo movimento no campo da Psicologia, em todos os tempos. Embora os efeitos de seus métodos terapéuticos sejam questionados por muitos, os referenciais tedricos por ela estabelecidos vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse muito do que se passa em seu comportamento. De tal forma suas proposigées corresponderam a necessidade de explanagdo da conduta humana, que seus conceitos e sua terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem cientifica ou profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos atuais sobre as reagdes humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente. Devida a Sigmund Freud, seu genial criador, as teorias e técnicas passaram, posteriormente, por grandes e minuciosas elaboracées e que se classificam, hoje, em métodos freudianos ou ortodoxos, @ muitos outros, clasificados de analiticamente orientados; envolvem associagao livre, catarse, interpretacdo de idéias, de atos, de atitudes, de sonhos, de resisténcias e a manipulagéo do fenémeno de transferéncia (Freud, 1949, 1958). Os conceitos basicos, derivados da Psicandlise, nao se limitam atualmente 4 tradicional relagdo terapeuta-cliente, no inviolavel gabinete do psicanalista, mas estendem suas aplicagdes a quase todos os campos do comportamento humano, seja na educagdo, na poltica, na religiao, como, mais recentemente, dento das organizag6es de trabalho, a servigo do bem estar e da produtividade. Assim, conflitos existentes nas relagdes profissionais, enriquecimento do trabalho e o desempenho de chefes e subordinados tém sido analisados e interpretados em termos freudianos. Como processo terapéutico, a Psicandlise t: seus derivados constituem tratamentos demorados e dispendiosos, aplicaveis 4s pessoas com represses € conflitos profundos, servindo 0 terapeuta como uma espécie de ponte pela qual 0 cliente revive suas experiéncias passadas e o "aqui e agora" e reorganiza seus sentimentos em relagao a essas experiéncias e ao quadro geral da personalidade ‘A topografia da vida mental é entendida em termos de Id, Ego e Superego, quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenciatura diversa, mas de conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes psicolégicas. Na sua mais ampla acepcdo, 0 método empregado tem em vista o estudo e a manipulagao das forgas psicolégicas inconscientes que motivam 0 comportamento humano. Este é analisado e interpretado, seja na atividade manifesta no dia-a-dia, seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte noutros aspectos do pensamento e da aco. O alvo terapéutico basico e original é dotar a pessoa de consciéncia de suas caracteristicas e dos dinamismos que emprega para lidar com suas experiéncias traumaticas anteriores, com seus instintos e suas energias. Como técnica, o terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambiguo. A esséncia da terapia é a andlise, interpretacao e manipulagao da transferéncia, isto , © encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto aceitavel que simboliza seus problemas. Qualquer modificagdo profunda na personalidade implica em compreender e explorar ativamente essa transferéncia, de forma que o cliente perceba como seu passado interfere no presente. A medida que o processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependéncia do analista e reformula suas atitudes basicas, 0 que geralmente exige longo tempo e consideravel habilidade do terapeuta. Muitas e profundas alteragdes ocorreram no campo aberto por Freud, de tal forma que algumas delas passaram a consfituir “escolas" ou movimentos com concepgées e métodos dificilmente ligados as raizes originais. Nao vamos comenté-las, dada a magnitude do assunto mas, apenas, citar os nomes mais expressivos devendo-se notar que alguns destes aparecem nos itens seguintes, uma vez que suas concepgées podem se enquadrar em classificagdo metodolégica diferente. Dentre, pois, tais "escolas" ou movimentos significativos, poderiam ser lembrados, em ordem alfabética: Abraham (1927); Alexander e French (1946); Berne (1976); Binswanger (1956); Erickson (1950); Fenichel (1941); Ferenczi (1926); Fromm (1941); Hoey (1950, 1959); Jung (1927, 1939, 1968); Klein (1949); Lacan (1968, 197, 1979); Laing (1963, 1967); Lowen (1967); Perls (1976); Rank (1945); Reich (1945); Reik (1948); Rosen (1953); Stekel (1940); Sulivan (1940, 1954)*, Algumas das contribuigées destes autores sao mencionadas mais adiante. . As datas mencionadas neste trecho, bem como em todo o lwo, correspondem as datas das publicagdes citadas nas referéncias bibliograficas. Técnicas de reorga agao cognitiva A énfase terapéutica, nesta linha de agdo, é dirigida para os conceitos e valores que 0 cliente desenvolveu e em fungdo dos quais as dificuldades vivenciais emergiram. Procura o psicdlogo descobriras concepgdes “errdneas” ou *inadequadas" do cliente e trazé-las a sua compreensdo, modificando, assim, o que Adler denominou de “estilo de vida" (1917). © processo varia muito entre seus aplicadores consistindo, genericamente, em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da sua constelagio de vida, a fim de se ter idéias precisas das desordens comportamentais. O mapa cognitive 6 explorado; as dificuldades s4o francamente discutidas, apontando-se as incoeréncias, ilogicidades e erros interpretativos, atuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom senso. Adler da grande atengao ao clima e as relagdes familiares (1917); Ellis procura detectar as principais falsas concepgées ¢ tenta modificé-las (1958, 1971); Phillips (1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955) tém idéias basicas correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas. Este Uitimo de quem falaremos mais adiante, salienta-se pelo foco dirigido ao encontro de um sentido de vida e a responsabilidade que a pessoa assume no contribuir para a vida mais do que no usé-la, Um extenso estudo da terapia cognitiva é encontrado em Beck (1976). O cliente é instruido a lutar contra as falsas concepgées, a ignorar as depressdes ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto inevitavel, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como indicadores de algo errado no seu estilo de vida. A terapia cognitiva envolve técnicas especiais (Beck, 1976) que abrailgem, também, a andlise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu mondlogo interior. A teoria da dissonancia cognitiva (Festinger, 1957) pode oferecer pistas para estratégias de tratamento na linha comportamentalista (Jensen, 1979). As técnicas de persuaséo sao também incluidas e analisadas por diversos autores (Harrell, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na medida em que se cuida de um processo de aprendizagem. Neste enfoque, os procedimentos tém em vista manipular os sintomas e os problemas de ajustamento sem atentar para eventuais causas. As sessdes terapéuticas assumem, muitas vezes, as caracteristicas de instrug6es e de aulas. O uso de reforcos, comportamento imitative e observagao de modelos sao largamente usados (vide Capitulo 4), Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminagao Embora haja algo em comum com outras posigdes psicodinamicas, coube a Rogers (1942) dar inicio a um posicionamento considerado, na ocasiao, revolucionario em matéria de aconselhamento e de psicoterapia. Em virtude de sua larga repercusséo e de tratar-se de uma linha de atuagéo que interessou parlicularmente ao autor e a seus alunos dos cursos de Psicologia, é dedicado um espaco especial sobre o assunto, apresentado no capitulo seguinte. Técnicas diversas Presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria, seja em outras, assinaladas nos Capitulos 2 e 4. Ha grupos, movimentos e servigos pUblicos e particulares (centros pastorais, centros de valorizagao da vida, centros de emergéncia e de assisténcia a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitérios e grupos de encontro em geral, grupos de gestantes de idosos e um sem-fim de proposigdes). Alguns se ultiizam de lazer, entretenimentos, recreagao comum; outros utilizam o' esporte e os exercicios fisicos; alguns empregam o esforgo, outros 0 repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontragao, outros, ao contrdrio, a assungao da responsabilidade e da preocupagao; alguns promovem estados solitérios e de meditagao, outros 0 companheirismo e a convivéncia grupal; outros, enfim, propdem a criatividade, a libertagao e a expressao de si mesmo, enquanto outros proclamam a submissao, a obediéncia e o conformismo. Todos eles tem em comum a busca de solugdes para problemas emocionais ou circunstanciais, no plano existencial. As proposigées terapéuticas parecem estar ao sabor da atividade de muitos, bem como do charlatanismo de alguns, embora haja um bom nimero de profissionais seriamente empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos clientes. Dentre as técnicas que tém merecido consideravel estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como: As técnicas suportivas ou de tranquilizagao, individuais ou em grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou depressao. Usam-se varios procedimentos, dentre os quais a catarse, atividades fisicas, compreensdo e empatia, sugestéo, persuasao, hipnose, relaxamento fisico & mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos iniciais seguidos, depois, por atividades programadas no sentido lidico, artistico, filantrépico, profissional, etc. Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nivel de ansiedade, ou de depressao, elevando-se, por outro lado, o nivel de tolerancia as frustragdes e confltos, principalmente quando estes séo irremoviveis (redugéo do autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade fisica, convivéncia forgada com fontes de atrito, etc.). Nao se cogita de reorgarizar a personalidade, mas de reduzir ou eliminar os sintomas agudos, propiciando condigdes para uma programagao terapéutica posterior. + A terapia gestéltica que parte da experiéncia organismica, colocando © corpo, com seus movimentos e sensagGes, no mesmo plano da mente. A énfase terapéutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), seu principal fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuragao da percepeao, isto 6, 0 processo ativo que leva a construgdo de um todo perceptive organizado € significative entre o organismo e seu meio. Os desajustes e neuroses so conseqiéncias de separagdes e espagos nao naturais na formagao das “gestalten” (configuragdes) e a ansiedade seria a sensagdo de ameaca a essa unificagao criativa, O tratamento €, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais so usadas dramatizagoes, troca de posigdes e papéis, visando-se "minimizar o espago vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a totalidade da experiéncia ndo-verbal concebida como uma espécie de elam vital" (Kovel, 1976). Uma extenséio do método ¢ a terapia gestaltica centrada na pessoa, como forma de conjungdo entre a posigao rogeriana e gestallista e da qual falamos a seguir. + A terapia gestatica centrada na pessoa é, no dizer de Maureen Miller * , uma’ terapia de movimento; movimento através do espago, do tempo e dos niveis de consciéncia. O objetivo 6 a libertagdo do movimento natural de energia de vida, através de ado espontanea e livre que leva a pessoa a percepgéo e a satisfagdo de suas necessidades através de harmonioso contacto com 0 universo de onde provém energia para a vida’, * Tradugao do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora. Os seguintes conceitos sao basicos: 1, © universo é um todo; 6 racional; comporta-se’ de acordo com suas proprias leis e estd em evolugao; 2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em diregao a complexidade. Essa tendéncia formativa é um movimento no sentido da realizagao construtiva de possibilidades que the sao inerentes e que nao podem ser destruidas sem se destruir todo 0 organismo; 3. E da natureza da consciéncia humana procurar sempre contacto cada vez mais profundo com uma realidade absoluta; 4. A consciéncia tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto coma realidade absoluta. A postura do terapeuta na abordagem gestalica centrada na pessoa é a de fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é conhecido como personalidade 6, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. E uma postura de curiosidade a procura de uma visao mais ampla da realidade; é uma postura de incursao e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como co-explorador dés mistérios internos e extemos que constituem a existéncia do cliente e que o ajuda a descobrir os limites de sua energia.. de seu movimento e de sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (Miller, 1981). +A terapia biofuncional e bioenergética, resultante das contribuigdes de Reich (1945), tem como nticleo a idéia de que o estado emocional depende da fungdo. do organismo; vivemos e atuamos fundamentalmente através do corpo e de suas energias, expressas ou reprimidas. Neste sentido, a fungao vital e saturar do orgasmo é um exemplo frisante. E necessario penetrar na “couraga muscular" que 0 cliente desenvolve a fim de libertar o material inconsciente. Essa liberagao de emogdes reprimidas, através da manipulagao dos estados e tensdes corporais, permite a mobilizagdo da energia organica. Dai Q nome de orgonoterapia a essa posicdo. Posteriormente, Lowen desenvolveu 0 pensamento reichiano, com algumas contribuigées, sob 0 nome de terapia bioenergética. + O Psicodrama criado por Moreno (1959) visa a -expressao de sentimentos gerados por situagdes propostas pelo terapeuta ou pelos clientes e pela audiéncia, através de determinados papéis desempenhados pelos participantes, O psicodrama pode atuar sob diferentes orientagdes doutrinarias e tem evoluido muito como técnica terapéutica, preventiva ou educativa. Dentre suas alternativas ha situagbes que enfocam o “aqui e agora” no relacionamento pessoal e social, bem como situagdes que antecipam dificuldades futuras e outras que focalizam problemas j& vividos e que possam ser revistos. Ha, também, dramatizagées de situagdes hipotéticas que possam trazer a tona represses e comportamentos nao suficientemente explorados. O psicodrama, além de sua fungdo terapéutica, 6 usado, também, como procedimento didatico. : + A anélise transacional, criada por Bere (1976), enfatiza as respostas ¢ os papéis que as pessoas adotaram nas relagdes ambientais e interpessoais, as situagdes de seguranga, auto-estima e de inferioridade comumente assumida por cldssicas figuras de Pai, Adulto e Crianga e seus simbolismos. A terapia focaliza 0 Ego adulto e os estados de OK, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e pelos outros, ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu significado. + A terapia primal ou do grito primal, originaria de Janov (1970), baseia-se na liberagao de sentimentos profundamente reprimidos e que pode ocorrer sob forma dramatica, O cliente é instruido para seguir uma programagdo terapéutica, tal como permanecer em um hotel durante trés. semanas e abster-se de drogas ou distragdes redutoras,de tensao © dedicar-se intensa e unicamente ao tratamento, nesse periodo. Nessa fase, 0 cliente tem sessées de duas ou trés horas didrias com 0 terapeuta, como Unico diante a ser atendido. Em cada sessao lida-se com um objetivo especifico para levar o cliente a expressar seus mais profundos sentimentos relacionados com seus pais e isto ocorre através de palavras, gestos e vigorosas expressdes fisicas e verbais. Seu tratamento pode continuar, depois, em grupo no qual o cliente continua centrado no seu problema (Kovel, 1976). + A psicobiologia, de A. Meyer (1958), que enfatiza as vantagens de um amplo diagnéstico e, a seguir, a integragao de todas as formas de psicoterapia, bem como as atuagdes bioligicas e médicas. O posicionamento € global ou holistico com base no senso comum ena vivéncia do cliente em seu meio. + Ja parcialmente mencionada no item relative aos métodos de contexto sécio-cultural, a logoterapia € aqui citada por constituir um conjunto de principios e de técnicas de certa forma deles independente. Criada por Victor Frankl (1955), sucessor de Freud em sua cétedra em Viena, opde-se ao principio do prazer e ao pansexualismo freudiano. Sua técnica consiste em facilitar ao cliente o encontro de um sentido em sua vida o que, paralelamente, implica em aceitagao do Dever e da Responsabilidade. A satide psiquica decorre do preenchimento do vazio existencial; de um espiritualismo que conduza a descoberta, em si mesmo, do significado da vida. A logoterapia esforga -se, especialmente, pela conscientizagéo do espiritual. Como andlise da angustia existencial, procura levar 0 homem a se perceber como ser responsavel e, nesse parametro, achar o sentido de sua existéncia. A intengao paradoxal é um dos procedimentos usados. Incentiva o cliente a enfrentar e a praticar aquilo que teme. Esse processo, ja estudado por outros métodos, equivale a desenvolver uma resisténcia mental (ou espiritual) a certos fatos perturbadores ou ameagadores. Além da herdica resisténcia, acompanha-se de ironia para com o fato ameacador, destruindo-Ihe a forga. Aposigao existencialista e 0 retorno a filosofia Partindo da Fenomenologia, o Existencialismo,aiém de seu contetido filoséfico, assumiu uma série de posigdes orientadoras ou terapéuticas condizentes com seu entendimento do Eu e do Mundo, Esse posicionamento nao se erige, porém, como um novo" ‘sistema de terapia, mas uma nova alitude para com a terapia", como afirma May (1976). A influéncia de Kierkegaard, de Husserl, de Heidegger e de Jaspers, como de outros fildsofos, 6 sensivel como assinalam alguns comentaristas (Foulquié, 1960; Forghieri, 1972), cumprindo destacar, mais tarde, as contribuigées de Sartre (1943, 1953), de Binswariger (1956), de Buber (1958) ¢ de May (1973, 1976, 1977). Ha um dimensionamento humanistico com retomo as questées fundamentais do ser, da vida e dos valores humanos, em franca oposigao a avaliagdo e a medida psicologica instaladas a partir da Psicofisica de Fechner e da Psicologia Cientifica ou Experimental de Wundt e que teve seu apogeu nos trabalhos de Binet e no surgimento dos testes psicolégicos e da psicotécnica na primeira metade do século XX. Passa-se, assim, do furor de exames e verificagdes de quocientes de inteligéncia ou de outros atributos a uns posicionamentos globais, dindmicos, em que esses dados continuam significativos, mas sua importancia na vida e nas reagdes humanas ¢ sentida e entendida noutras perspectivas. O comportamento da pessoa néo se define mais em termos de perfis ou de tragos independentes, mas em termos d€ sua experiéncia vital, nem sempre acessivel aos instrumentos atuais de medida. Na perspectivas holisticas, compreensivas, inclem-se valores sociais ¢ humanos, extemos, oriundos de um contexto de necessidades e pressées grupais e, de outro, de auto-expressdo, de ser o que é. Embora inconcebivelo Eu sem o outro, existe no campo do pensamento e da ag&o um territério marcadamente pessoal, parcialmente auténomo, que responde a solicitacdo. e exigéncias internas, geradas na relagéo Eu-Outro e que passa a pertencer 4 pessoa como patriménio pessoal que vive e vivencia. Pode-se admitir que nao existe um conjunto de processos formais, metodolégicos, de estilo terapéutico, na Fenomenologia ou no Existencialismo, pois isso iria de encontro a seus principios basicos. Existem, porém, atitudes terapéuticas. A empatia abre as portas ao mundo do cliente para que ele se veja a si mesmo, se encontre e se aceite; tolere suas limitagdes e perceba o valor e a peculiaridade de ser ele mesmo. importa descobrir-se e descobrir os outros, como 0 Eu emerge e evolui através do contacto com o mundo e com pessoas. Entender e sentir a totalidade da existéncia é 0 alvo, Alguns existencialistas, dentre os quais Boss (1979), tragam uma certa imagem de uma terapia existencialista (‘daseinanalytic therapy"), opondo-se frontalmente aos coneeitos freudianos, particularmente no que se refere aos fenémenos da transferéncia e do inconsciente (embora os relatem sob outros titulos). RoBo May admite que a terapia existencialista nao é uma cura, mas busca do autoconhecimento. A chave para o processo de aconselhamento, como textualmente declara May, esta na empatia. E através desse sentimento que todos os conselheiros atingem as pessoas. Na medida em que essa comunhao de sentimentos ocorre na sessao de aconselhamento, 0 problema do cliente "é transferido para essa nova pessoa e 0 aconselhador arca com sua metade do problema, E a estabilidade psicolégica do conselheiro, seu esclarecimento, coragem e forga de vontade transferir-se-do para o aconselhando, prestando-lhe grande assisténcia na luta que se desenvolve no interior de sua personalidade" (May, 1977). A volta aos problemas filoséficos nao se faz, porém, a moda antiga. Vem impregnada de conceitos operacionais e ndo se restringe a filosofia pura, Busca nesta uma praxis, algo que ajude o homem a extrair da vida o que ela tem de melhor para si e para os outros e ndo se identifica com a pura especulagdo. Nesse sentido, © retorno a filosofia pode vir, com o tempo, a explicar muitos dos fracassos dos diagnésticos e prognésticos psicolégicos. Se conseguirmos enquadrar e entender 0 comportamento humano dentro de um quadro de valores sociais e pessoais, provavelmente a agao orientadora e psicoterapica ultrapassara os modestos resultados até hoje obtidos. 4.-Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema Fundamentos Embora a eficdcia dos procedimentos orientadores ou terapéuticos esteja ligada a estrutura e @ dinémica da personalidade, segundo o velho aforismo "ha doentes e néo doengas", néo se pode ignorar a ocorréncia de situagées externas que constituem razdo suficiente para gerar frustragdes e conflitos, até certo ponto independentes do funcionamento global da personalidade. Desde que tais ocorréncias podem comprometer outras areas do comportamento, pode-se, igualmente, agir no sentido inverso, isto é, eliminar ou reduzir as desordens comportamentais atuando-se sobre agentes extemos ou indiretos. Problemas sexuais, por exemplo, podem ser tratados com técnicas e informagdes espectficas (Master & Johnson, 1970); problemas escolares ou profissionais podem ter origem na relag&o professor-aluno ou chefe-subordinado e como tais serem removidos quando se alua nessa relacdo; uma dificuldade de aceitagéo grupal na adolescéncia, ou em outras idades, pode gerar sentimentos de inadaptagdo e comportamentos anti-sociais, a qual, quando removida, pode reinstalar comportamentos sadios; auséncia de afeto e prote¢ao na infancia podem criar comportamentos patolégicos; um desequilibrio organico, desde uma leve intoxicagao alimentar até uma grave disfungéo hormonal, pode dar origem a mudangas no comportamento; uma deficiéncia intelectual ou sensorial pode dar como resultado uma redugéo da capacidade competitiva e uma conseqiiéncia emocional desastrosa; uma deficiéncia nutritiva pode produzir baixo nivel de rendimento e ser interpretada como um falso quadro de indiferenga ou desatengao; uma atmosfera educativa no lar, tipo “laissez faire", com liberdade excessiva e pouca disciplina, pode gerar imaturidade, inseguranga e comportamentos agressivos ou anti-sociais (Sears, 1961). Os exemplos so incontaveis. Como os efeitos emocionais das frustrages ou dos conflitos estéo sempre presentes, podem ser usados procedimentos mistos que atuem, concomitantemente, sobre os agentes externos (causas) e sobre a pessoa (feito). As vezes, os psicélogos se preocupam apenas com os estados emocionais, quando seria mais indicado atuar diretamente nas raizes circunstanciais do problema. A dificuldade consiste em identificar os agentes extemos, néo-psicoldgicos ou paralelos e as estratégias e taticas que atuem na pessoa e no meio. A seguir vamos mencionar, apenas a titulo de lembrete, sem entrar em pormenores técnicos que escapam a competéncia do autor, alguns dos métodos e técnicas que atuam em varios aspectos. Alguns deles aproximam-se mais da abordagem cultural, outros da abordagem pessoal e oUtros sao centrados em problemas espectficos. A escolha dos procedimentos depende, também, como nos. demais recursos terapéuticos, da formag&o e preparagao profissional do Orientador ou Terapeuta das possibilidades praticas de atuacao * Este capitulo, principalmente no que se refere a Modificagéo do Comportamento, foi gentilmente revistO por Alice Maria de Carvalho Detiti Walderez BF. Bittencourt que o enriqueceram e o cortigiram com valiosas contribuigées. Procedimentos comuns Em geral, os processos de orientagéo, aconselhamento ou terapia, nesta categoria de métodos, incluem ampla avaliagao das condig6es da pessoa (estudo de caso), das caracteristicas do problema, da situagéo a manipular e das alternativas de tratamento existentes. A maioria das atuagées processa-se no plano cognitivo, com énfase no processo do problema, o que nao significa desprezar a pessoa ou 0 contexto sécio-cultural nem excluir 0s processos emocionais. Os comportamentos, nas suas causas e conseqiiéncias, sao geralmente estudados em laboratérios, no campo da psicologia experimental e, com base nos dados obtidos, uliizados na assisténcia psicolégica, As pessoas sao estudadas face aos problemas que apresentam. O foco ¢ interpretar os dados luz de um processo genérico que tende a ocorrer como respostas organismicas. So caracteristicas basicas do método a definigdo to precisa quanto possive! dos comportamentos a serem atingidos, quer para implanta-los, quer para remové-los ou allerd-los, e um sistema de controle pelo qual seja averiguado o processo de mudanga. Em certos tipos de tratamento sdo usados medidores de estados de tensao ou de relaxamento, bem como outros indicadores - médicos ou psicolégicos - de condigées organicas ou de estados emocionais. Tais procedimentos, como se podera inferir, produzem efeitos satisfatorios em numerosos casos. A dificuldade consiste, como nas demais categorias de métodos, em identificar 0 método adequado a uma determinada desordem comportamental. Terapia médica ou somatica Como os exemplos so suficientemente significativos no que se refere a distirbios de comportamento causados por fatores fisiolégicos, a somatoterapia 6 um recurso aplicdvel em numerosos casos, seja como método basico, seja como coadjuvante fio tratamento. A literatura em geral menciona casos em que o tratamento com vitaminas reduziu a ocorréncia de perturbagées mentais associadas a pelagra; em que drogas energizantes melhoraram estados de depresséio ou de desinteresse; em que correg6es do funcionamento hepatico diminuiram estados de imitabilidade. S40 conhecidos, também, os efeitos de certas substéncias sobre 0 desejo ou 0 desempenho sexual, bem como os efeitos da desnutrigao e as repercussées mentais de muitas doengas ou disfung6es organicas. Nesta modalidade profilatica ou terapéutica ha sempre necessidade de se fecorrer a uma equipe multidisciplinar, em que atuem médicos, psicdlogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudidlogos e outros profissionais. E possivel conjecturar, embora haja poucos estudos concludentes, que muitos disturbios do comportamento, chamados estruturais ou de temperamento e, portanto, de origem predominantemente genética, sejam beneficiados com esse tipo de assisténcia, bem como os que resistem aos tratamentos psicoterapicos conhecidos. Sobre o assunto deve o leitor reportar-se a obras no campo psiquidtrico e psicossomatico (Baldessarini, 1977; Lion, 1978; Linden e Mass, 1980). Pode-ser incluido neste tépico um variado elenco de procedimentos que vo desde exercicios fisicos ou relaxamento, até fisioterapia e processos bioquimicos. Muitas agées cirtrgicas, bem como as plasticas, ortopédicas ou alimentares, podem ser titeis. As revistas médicas mencionam a acdio sedativa de neurolépticos sobre o sistema nervoso, reduzindo estados de excitabilidade, bem como 0 efeito de varias drogas sobre o comportamento em geral (Coleman, 1973; Spoerri, 1974). ‘A quimioterapia parece apresentar dados promissores, na medida em que os processos patolégicos tenham origem ou sejam desencadeados por fendmenos organicos. E um valioso recurso auxiliar também nos casos de desordens funcionais para remissdo ou alivio de sintomas, facilitando a pessoa tornar-se acessivel a atividades do dia-a-dia, a ocupagdes profissionais e a psicoterapia. Provocando redugao, ainda que temporaria, do medo, da angistia, da agressividade, da depresséo ou de oUtras manifestagdes inadequadas a situago, consegue reambientar as pessoas, diminuir alucinagdes e delirios e abrir perspectivas para uma retomada de suas atividades habituais, o que as ajuda no plano emocional de auto-afirmagao e de relacionamento social e, assim, indiretamente, contribui para a melhora do quadro geral. Beitman (1981), citando inquérito entre membros da Associagao Psicanaliica Americana, menciona que cerca de 60% dos analistas usa medicamentos em alguns dos pacientes. Lesse (1978) afirma ter obtido 83% de resullados salisfatorios com o uso de psicoterapia e tratamento farmacolégico combinado, em um periodo de trés semanas, em um grupo de clientes com severa depressao, O mesmo aUtor assinala que no caso de depressées profundas, com idéias de suicidio, 0 tratamento puramente psicoterapico mostrouse inferior ao tratamento combinado com drogas. ‘Ao mencionarmos a relagdo fisico-psiquica naetiologia e no tratamento de distirbios mentais e emocionais, poder-se-ia distinguir as técnicas psicossomaticas das somatopsiquicas. No primeiro caso, estaria o tratamento de desordens corporais por processos psicolégicos; no segundo, o tratamento das perturbagdes da personalidade por processos fisicos ou fisiologicos. Essa distingao. 6, apenas, didatica, pois 0 organismo se comporta como um conjunto interdependente.O que se comenta, no momento, é a terapia de desordens mentais ou emocionais por procedimentos somaticos, geralmente afeto a Medicina e areas paramédicas. Reflexologia A reflexologia, baseada nas contribuigées de Paviove Bechteéew, na Russia, e de Watson, nos Estados Unidos, foi @ precursora da terapia comportamental de que trataremos mais adiante, Os fatos psicolégicos so vistos como eventos fisiolgicos, ndo havendo lugar para a consciéncia. As teorias sobre o associassionismo e os conceitos sobre Inibigao e excitagéo sao importantes na compreensao e no tratamento dos eventos comportamentais. O objetivo, segundo Salter, é "desinibir a inibigao e atinge-se esse objetivo com o que podemos chamar de quimica verbal’. O desajustamento é um processo de aprendizagem e assim é a psicoterapia. O "equilibrio entre a excitagdo e a inibigao é a base da vida normal" (Wolpe, Salter e Reyna, 1966). ; - Os procedimentos podem incluir diélogos, manipulago ambiental, drogas © aparelhagem variada que atuem para desinibir os focos da inibigo condicionada. Muitas. técnicas de "controle mental", de "controle emocional’, exercicios de concentragéo e de descontragéo sensorial, estimulagéo ou tranquilizacéo enquadram-se nesta categoria, inclusive sistemas de controle eletromecanicos ou eletrénicos relacionados com o uso de biofeedback. Fisicultura, esportes e manipulagao corporal Embora néo haja pesquisas suficientes sobre os efeitos psicolégicos decorrentes de determinadas praticas de educagao fisica ou de esportes, a observagdo vem mostrando influéncia favoravel dessas atividades, no ajustamento pessoal e social. A redugao de tensdes pela ativagao de fungées fisiolégicas ou pelo relaxamento programado, assim como sentimentos de aUto-afirmagao, sdo alguns dos efeitos observaveis. Incluem-se neste grupo de procedimentos todas as atividades relacionadas com ginastica (diferentes modalidades), esportes individuais e coletivos e atividades de lazer combinadas com exercicios fisicos. Podem incluir, também, regimes dietéticos, alteragdio de habitos de higiene e de sate fisica, trato da aparéncia, do vestuario, da postura e ele expressdes corporais como, até mesmo, a redugdo ou eliminagao de problemas ortopédicos (ver Terapia Somatica e Fisioterapia). Geralmente a terapia pela cultura fisica ¢ feita individualmente ou em grupos através de: 1) Programagao de exercicios fisicos variados e agradaveis, diariamente ou algumas vezes por semana; 2) Organizagéo de grupos para competigdes adequadas ao nivel de desempenho, idade e interesse dos participantes; 3) Sessées de relaxamento e recreagao, inclusive danga, misica, meditagao e repouso, articuladas com a programagao fisica. Solemon e Bumps (1978) apresentam um novo método para induzir 0 relaxamento fisico empregando corrida lenta, de longa distancia, combinada com meditagao. O método baseia-se nas alterag6es fisiolégicas e conseqliente mudanga no estado de consciéncia ocorrida, similarmente, na corrida e na meditagao. A combinagao dos dois efeitos seria vantajosa como coadjuvante terapéutico. Caberia considerar que os processos tradicionais de fisicultura (exercicios, condicionamento fisico, esportes, competicées) vém sendo questionados e até combatidos pela antiginastica e pela kinesiterapia (Bertherat, 1979) com base na teoria de que 0 corpo nos seus estados de rigidez e tensdo retrata, exatamente, os conflitos, repressdes e angiistias que permanecem insoliveis. Ha toda uma linguagem corporal que precisa ser previamente interpretada e trabalhada tomando-se consciéncia do corpo nos seus movimentos e expressées. Assim, muitas praticas esportivas e de ginastica podem atuar no sentido inverso mantendo ou desenvolvendo deseauilibrios tensionais preexistentes. Ha, no caso, uma estreita ligagao entre esse posicionamento e a orgonoterapia de Reich (vide referéncias adicionais no Capitulo 3). Técnicas sugestivas e hipnéticas A sugestéo sempre exerceu papel terapéutico e suas aplicagdes remontam a Antigiidade, inclusive no que se refere a influéncia de agentes extraterrenos ou misticos de que falaremos mais adiante. Um dos procedimentos conhecidos, proposto por Coué (1936) e, posteriormente, desenvolvido por outros autores, consiste em levar o cliente a repetir que, dia-e-dia, acha-se melhor, bem melhor, praticando pouco a pouco um processo de encorajamento pessoal e de confianga em si. O treinamento autégeno (Schultz, 1959), forma mais atualizada de aplicagdo do método, combina a aUto-sugestao com o relaxamento. A. hipnose, geralmente usada como método auxlliar, teve seu valor redescoberto recentemente como procedimento valido e auténomo (Erickson, 1947). E Util em varias situagdes, principalmente na remogao de sintomas que facilite posterior introdugéo de outros agentes terapéulicas. Varias consideragées sobre hipnose sao encontradas em Spiegel (1978), em Moraes Passos (1975), nos ja mencionados trabalhos de Erickson e em Wolberg (1977). Arteterapia Inclui grande variedade de agdes no campo da misica, pintura, escultura, literatura, bem como na expressao corporal (danga, gindstica, artes marciais, exercicios grupais), seja como trabalho terapéutica individual ou em grupo, como redutor de tens6es (musica no trabalho, na escola, em hospilais, etc.). Ha trabalhos pioneiros como os de Licht (1946) sobre musica, de May (1941), de Rosen (1957) e de Schoop (1974) sobre danga. Relaciona-se, em alguns aspectos, com a terapia ocupacional e com outras técnicas terapéuticas. ‘A danga-terapia e 0 uso do movimento corporal verJ. sendo bastante utilizada na redugdo de tensGes, no desenvolvimento motor e afetivo. Segundo afirma Serra (1981), coube @ Laban (1950) abrir caminhos novos com base na qualidade do movimento ¢ a Kestenberg (1967) enfatiza-los no desenvolvimento das estruturas psiquicas da crianga. Ha; nestes casos, intima relagdo com as terapias de manipulagao corporal citadas em item anterior. Varios programas de atividades attisticas vém sendo desenvolvidos com doentes mentais que incluem, principalmente, a criatividade e a recuperagao da propria identidade. Nessa area destaca-se 0 trabalho de J.M. Erikson (1976) Ludoterapia Aplicada principalmente em criangas, pode ocorrer sob varias orientagdes terapéuticas, sejam freudianas, rogerianas, comportamentais, ou outras. Utiiza-se das expressées livremente ensejadas pelos participantes ou decorrentes de jogos e situagdes provocadas pelo terapeuta. Baseia-se na acep¢ao de que os sentimentos livremente expressos sao importantes para a crianga, independentemente do que diga ou faga, embora haja limites que Ihe permitam ajustar-se a realidade e toma-la consciente de sua responsabilidade na relagdo estabelecida com pessoas e objetos (Axiine, 1980; Gondor, 1954). Encontra-se em Schaefer (1976) amplo estudo sobre o Uso do jogo infantil para finalidades terapéuticas no qual o autor especifica diferentes linhas doutrinarias. Biblioterapia Ocupa um lugar modesto no arsenal terapéutico, discutindo os psicélogos seu Uso e seus efeitos, Consiste em um procedimento livre ou dirigido de leituras que propiciam ao cliente informagao, instrugdes e encorajamento como, também, meios de reflexao e de auto-andlise. Um dos inconveniente & nao permitir 0 didlogo podendo, em certos casos, conduzir o cliente a interpretagdes inadequadas de sua situagéo, Menninger (1937) e Schneck (1945) foram alguns dos poucos especialistas que, em anos passados, tentaram sistematizar a literatura sobre esse procedimento. Seméntica Consiste em rever, comentar e explorar o sentido de palavras e expresses que o cliente usa para se conceituar ou para explicar suas frustragdes ¢ confltos. Os esclarecimentos lingtisticos permitem reduzir ou eliminar as ilogicidades de pensamentos, atos e conceitos codificados pela linguagem. Os simbolos iingtisticas so revistos e analisados em fungdo das aspiragées e necessidades da pessoa e da maneira como ela reage a esses conceitos. Korzybski (1941) é considerado 0 pioneiro do método. Modificagao do comportamento As teorias e os procedimentos subordinados a teoria comportamentalista seguem, com algumas variagées, o esquema tradicional da Psicologia Experimental e de seus estudos no campo da psicologia da aprendizagem, jé que" aconselhando, orientando, intervindo na conduta, o psicélogo ou terapeuta visa modificar comportamentos existentes e promover a instalagao ou aprendizagem de outros. A expresséo "modificagéo do comportamento" ("behavior modification") tem prevalecido como titulo dessa nova abordagem, ainda que pareca impropria, eis que todo processo de aconselhamento ou de psicoterapia tem como alvo modificagdes comportamentais. Os estudos e preocupagées com as mudangas de comportamento, entendidas como tais as respostas a certos estimulos, podem ser, sob nomes e situages diversas, localizados nas mais longinquas épocas, desde que o homem tenha modificado sua conduta face aos resultados ou conseqiléncias que sente ou observa. Os estudos de laborat6rio datam, porém, do século passado dentre os quais os de Ebbinghaus e de Thotndike. Posteriormente, Paviov, Hull e outros pesquisadores ofereceram novas contribuigées até que, com Watson (1930), Skinner (1938, 1967,1968), Bandura (1961), Lazarus (1971,1972,1977) e outros especialistas do campo, as implicagdes tedricas e praticas aleangaram quase todos os dominios da psicologia, inclusive o aconselhamento e a psicoterapia, ramificando-se em teorias e agdes suplementares e, por vezes, um tanto divergentes, entre si. O corpo teérico basico permanece, embora, para muitos, seja inaceitavel, como foi a teoria psicanalitica no comego do século XX. Estudos, comentarios e analise de resullados da terapia comportamental so fartamente apresentados em numerosas publicagdes das quais se destacam as de Eysenck (1952, 1960), de Hersen e outros (1979) e de Franks e Wilson (1980). O principio basico da teoria comportamentalista é 0 de que 0 comportamento humano, como o dos animais, é fungao de fenémenos que o precederam, isto é, de antecedentes que facilitam, dificultam ou impedem o surgimento de uma dada resposta. E claro, também, que essa mesma resposta pode ser afetada por fatores constitucionais, inatos, ndo observaveis 0 que, todavia, nao invalida o principio geral. As conseqiiéncias de um comportamento podem, também, modificar a ocorréncia de outro, do qual é um antecedente. Manipular os antecedentes, os conseqiientes os mediadores (processos encobertos, nao diretamente observaveis) toma, pois, 0 comportamento passivel de mudanga. Os seguintes principios tedricos e praticos sao geralmente aplicaveis as situag6es de aconselhamento e de psicoterapia: a) © comportamento @ fungéo do ambiente. Controlamos e somos controlados. Os eventos que ocorrem em torno de nés modelam o nosso comportamento. O controle ocorre principalmente pelo reforgo e pela punigao. b) O comportamento 6 aprendido quando, ao ocorrer, 6 de alguma forma “recompensado”. A expressao ‘reforgo" significa recompensa ou gratificagao. c) Se a uma resposta casual ou espontanea seguir-se um estimulo reforgador, a forga dessa reagdo (resposta) serd aumentada; se néo 0 for, sua freqiiéncia, no futuro, sera menor. As respostas, reforgadas ou ndo, terdo, assim, maior ou menor probabilidade de ocorrer no futuro d) Ha reforgos positivos e negativos. Os primeiros consislem na apresentagao de estimulos, no acréscimo de alguma coisa a situacao, tal como alimento, Agua, contacto sexual, etc. Os outros consistem na remogao de algo perturbador, por exemplo muito baruho, luz intensa, choque elétrico, frio ou calor intenso, etc. Alem destes, ha reforgos secundarios ou estimulos que, associados aos anteriores, atuam como eles. e) Enquanto o reforgamento toma as respostas mais freqiientes, sua falta ou auséncia extingue a resposta. f) A conseqiiéncia da retirada do reforgo positivo é uma redugdo na freqiéncia das respostas, e a conseqiiéncia da remogao de algo desagradavel (reforgo negativo) 6 um aumento dessa frequiéncia g) Para que sejam oficazes os estimulos reforgadores, é preciso que eles surjam logo apés a resposta casual ou espontanea. Um intervalo maior do que alguns segundos pode reduzir de muito o efeito reforgador, O reforgador deve ocorrer exata e imediatamente apés a concretizagéo do comportamento a ser aprendido. Caso isso néo se verifique, um comportamento diferente pode instalar-se. h) O ato de aprender é uma modelagem paulatina do comportamento através de reforgos. Estes podem ser usados e planejados na situagéio de aconselhamento e terapia de varias maneiras, usando-se intervalos e meios para discriminar e generalizar, i) Mudar o comportamento é mudar as conseqliéncias e rearranjar as “contingéncias do reforgamento”. }) A aprendizagem ou mudanga comportamental ocorre através de quatro tipos de processos: - discriminagao. = generalizagao - encadeamento - modelagao. k) O comportamento seguido de conseqiiéncias reforgadoras (recompensa) tem maior probabilidade de ocorrer novamente. }) O comportamento seguido de conseqiéncias aversivas (punigao) tem menor probabilidade de ocorrer novamente, mas a forga relativa da punigdo em alterar comportamento é pequena, comparada com a forga do reforgamento positivo. m) O comportamento que néo for reforgado tende a se extinguir, n) Confirmar ao cliente que ele modificou seu comportamento em diregdo a um resultado desejado ¢ reforcador para ele. ©) A principal diferenga entre os que aprendem é a rapidez com que ocorre a aprendizagem, ndo a maneira como ela ocorre. p) Uma das contingéncias de reforgamento mais importantes & 0 tempo que medeia entre 0 comportamento e 0 reforgamento, Quando as conseqiiéncias positivas ocorrem imediatamente apés 0 comportamento, as probabilidades de que este venha a ocorrer novamente so maiores do que se houver uma demora. q) A transferéncia do comportamento de uma situacao para outra depende de provocé-lo na situagao mais préxima possivel da realidade que se quer atingir. 1) Outra contingéncia importante é 0 esquema de reforgamento, isto é, a conseqiiéncia intermitente ou continua, O mais eficiente para instalar novos comportamentos 6 0 esquema de reforgamento continuo (que ocorre sempre apés a emissao da resposta), e para manutencdo do comportamento 6 o esquema intermitente (que ocorre de vez em quando sem que a pessoa saiba quando ocorrera, mas espera que ocorra). s) O intervalo entre os reforgos importante. Em geral é mais eficiente iniciar reforgando 0 comportamento toda vez que ele ocorra e, a seguir, deixar de reforgar em algumas ocasides, Passa-se depois a reforgar ao acaso de maneira a manter-se © comportamento desejavel. t) Finalmente, para que o comportamento possa ser instalado, é preciso que o cliente emita esse comportamento. As aplicagdes desses principios em situagao de aconselhamento ou terapia exigem muitas situagdes previamente programadas: Terapeuta e cliente procuram: a) identificar 0 comportamento que se quer instalar, b) determinar o critério ou nivel de realizagéo adequado ou desejavel; c) criar condigdes em que apareca o comportamento desejado e os reforgadores adequados; d) aplicar 0 esquema de reforgamento mais adequado; e) escolher situagdes que mais se aproximem: do real; f) minimizar a possibilidade de erros ou punigées; g) criar um procedimento para a ocorréncia da resposta desejavel e verificar a manutengao desse comportamento, Fé, misticismo, parapsicologia e 4reas correlatas Neste conjunto de recursos, condenado por muitos, aceito por outros, mas aberto a conjecturas, haveria que distinguir algumas posigées principais, a saber: 1) procedimentos que, embora sob denominagées diversas, incluem-se no campo da fisiologia e da psicologia convencional ou da ciéncia em geral; 2) procedimentos relacionados com doutrinas ou praticas nao ortodoxas, baseados em “forgas” ou agentes sobrenaturais; 3) procedimentos parapsicolégicos que incluem parte do primeiro grupo, parte do segundo e fendmenos ainda pouco esclarecidos. ‘A primeira posig&o pouco acrescenta, do ponto de vista cientfico atual, aos procedimentos que a ciéncia dispde; apenas muda-se de nome e tenta-se criar uma doutrina propria. O ritual que os acompanha 6, geralmente, parte de um revigorante influxo sugestivo ou um processo bem elaborado de condicionamento operante e, desse modo, produz resultados. Podem ser incluidos neste grupo: 0 Hinduismo, para estados de tensdo e que compreende, em geral, relaxamento muscular, meditagao e, depois, concentragéo em solugées objetivas para os problemas; a Yoga, uma variante do hinduismo que visa ao autocontrole, em varios estagios; Budismo, que busca o controle de todos os desejos ¢ o dominio de si mesmo como técnica para eliminar sofrimentos; 0 Zen-budismo, baseado na intuigaéo e na iluminagao, na procura de maneiras diferentes de solver problemas; muitas técnicas orientais, influéncias astrais e de fenémenos da natureza (Barter, 1967). A meditagéo, outrora pertencente apenas ao campo do comportamento esolérico, proprio de certos rituais orientais, é hoje um procedimento aplicado como recurso terapéutico basico ou associado a outros métodos. Maupin (1965) 6 considerado um dos pioneiros nas investigagdes e aplicages experimentais do método. Deikman (1966), paralelamente, relata que a meditagéo pode indwir a pessoa a libertar-se de esteredtipos mentais e atingir formas mais agradaveis de encarar as realidades existentes. ‘A meditacdo pode relacionar-se, no plano teérico ou operacional, a outros procedimentos, tais como o treinamento autégeno, de Schultz, 4 Yoga, a auto-regulagéo do processo cerebral e aos processos genéricos de tomada de consciéncia (Chang, 1978): Estudos citados por Hart e Tomlinson (1970) indicam a ocorréncia de mudangas fisiolégicas devidas 4 meditagdo e que a pessoa “pode aprender a controlar suas ondas mentais” (p. 588). Dizem os mesmos autores que “se o homem puder aprender a controlar sua propria consciéncia, através da combinagao de antigas técnicas com a modema tecnologia, estaremos entrando em uma nova idade cultural” ‘A meditagéio lembra, ainda, a Terapia Morita (Chang, 1978) e implicagées em areas correlatas tais como a percepeao do proprio Eu, um recurso para entender a consciéncia e 0 uso de processos subjetivos para controle mental. Infelizmente, hd poucas pesquisas significativas sobre téo fascinante campo e muitos métodos e técnicas so, apenas, comercialmente explorados. Na segunda posigao podem ser encontrados certos cultos e crendices com grande variedade de atuagées fisicas, materiais e espirituais; pode incluir superstigdes, magias e correlatos. Embora a dimensao do transcendente em terapia nao seja ignorada pela ciéncia psicolégica, sua deturpagdo sob a forma de rituais exdticos é francamente questionada pelos riscos que a obsessdo e a compulséo podem acarretar. Sacrificios pessoais e atos anti-sociais podem ter origem em posigées misticas inabalaveis. Muitos lideres carismaticos, atuando sobre pessoas emocionalmente imaturas ou em extremos graus de ansiedade ou sofrimento, podem converter-se em gentes” de cura ou de solucéo de problemas. O culto de imagens, de pessoas vivas ou mortas, de gestos, de palavras e de habitos, bem como as expiagées deliberadamente impostas e deliberadamente aceitas, inclusive autotortura e flagelamento, em fungdes de certos “deuses” ou simbolos magicos, é atuagao comum notadamente em povos primitives e nos habitantes marginalizados de grandes concentragSes urbanas. Os sistemas com base na fé podem produzir curas, seja por efeitos sugestivos, seja por modificacdo biopsiquica resultante de redugdo de tensao, seja por outros fenémenos ainda nao totalmente explicados. Neste grupo encontram-se toda sorte de agdes, inclusive as que ocorrem em sessoes espiritas. Em uma terceira posigéo encontra-se um conjunto de fatos e de atuagées na area da Parapsicologia e, a julgar pelos dados existentes até o momento, segundo a maioria dos autores, “os fenémenos parapsicolégicos, na realidade, nao passam de fendmenos psicolégicos” (Ribas, in Amadou, 1969). Embora essa afirmago tenha certo contetido de verdade, nao se pode negar a existéncia de outros fenémenos (as fungées psi) que ndo se acham, ainda, suficientemente explicados pela psicologia comum ou cientifica E pensamento do autor que o aconselhamento e a terapia psicolégica por procedimentos parapsicolgicos enquadram-se, embora nao nominalmente, na vasta gama de métodos e técnicas jé conhecidos, principalmente nos procedimentos reflexoldgicos, comportamentais, persuasivos e sugestivos. Ha que se admitir, todavia, a possivel ocorréncia de eventos que, embora possam se enquadrar no campo cientifico que conhecemos, ainda assim constituem Areas que precisam ser consideradas e investigadas. Segundo Amadou, a utilidade da parapsicologia consiste em permitir melhor conhecimento da natureza psicolégica e fisiolégica do homem. “Se a psicologia profunda da as manifestag6es paranormais o seu sentido pessoal e as recoloca no seu contexto individual, em compensacdo a parapsicologia enseja aos analistas nao vaguearem acerca da interpretaao de determinada manifestaao paranormal e os habilita a compreender e a fazer compreender melhor ao paciente seu proprio inconsciente, permitindo-Ihe que atue sobre ele” (Amadou, 1969). Em suma, nao nos parece haver, até 0 momento, suficientes razdes para se acreditar em métodos e técnicas exclusivamente parapsicolégicas, com causas, procedimentos e resultados proprios de um novo sistema psicolégico. Contudo, um estudo de procedimentos nessa area ¢ indispensavel. Aconselhamento e terapia em processos de grupo A literatura psicolégica, em geral, cita Pratt como pioneiro do trabalho em grupo com finalidades profilaticas e terapéuticas, ao reunir tuberculosos, intemos de um hospital, nos Estados Unidos, em 1905, e leva-los a discutir seus problemas de vida. Moreno, em 1920, é também citado e, especialmente, Kurt Lewin, ao propor, em 1947, os famosos “T-Group" (grupos de treinamento). Posterior mente surgiram inumeraveis proposigdes sobre o assunto e estudos sobre os processos grupais (Foulkes, 1951; Cartwright e Zander, 1953; Powdermaker e Frank, 1953; Glanz Hayes, 1967; Rogers, 1970; Bion, 1974). Ha grande variedade de alvos e de técnicas para aconselhamento e terapia em grupo e de grupo. Algumas formas de atuagéo tém objetivos claros e exclusivos; outros so semiconcentrados em determinadas areas ou assuntos; outros, enfim, deixam a diego e o contetido dos assuntos a cargo do proprio grupo. Do ponto de vista da estrutura e da dinamica grupal podem ser geralmente encontrados os seguintes estilos operacionais* * Vide parte final do capitulo 5 1. Grupos orientados ou dirigidos, nos quais a discussao e as contribuigdes dos participantes so concentrados pelo lider (monitor ou facilitador) em alguma tarefa, sentimento ou atitude que constitua um alvo espectfico de interesse comum do grupo ou de uma organizagao. Tais grupos geralmente se associam ao contexto sécio-cuitural ou ambiental e tém, na maioria das vezes, uma finalidade psicopedagégica, isto é, visam desenvolver comportamentos considerados titeis ou necessérios; 2. Grupos de apoio ou de estimulo, destinados a encorajar e manter certas atitudes e habitos, bem como desestimular outros tais como 0 uso de drogas, delinguéncia, etc. Sdo exemplos o AAA., para alcodlatras, o “synamon’, para toxicémanos, os centros de valorizagao da vida e outros. Geralmente concentram-se na solugdo de problemas especificos. 3. Grupos de livre iniciativa, dos quais 0s Grupos de Encontro séo um exemplo, bem como certos tipos de comunidade terapéutica, Enfatizam a liberdade de expresséo e de experienciagdo, a melhora das relagdes interpessoais © a redugo de tensées. Os grupos variam também quanto a sua composigao, duragdo instrumentagao utiizada. Podem ser abertos (para qualquer pessoa, em qualquer momento) ou fechados (destinados a certas pessoas); podem ter duragao ilimitada endo programada ou, ao contrario, obedecer a rigidos limites de datas, hordrios e locais; podem ser conduzidos em ambientes especiais ou ndo e podem utilizar apenas a verbalizacdo, ou as posturas e a abordagem corporal, bem como leituras, atividades kidicas, profissionais e de lazer ou entretenimento. Todos esses estilos, sua fundamentagao tedrica e sua técnica so aplicados em diferentes situagdes tais como na terapia familiar, na terapia conjugal, na terapia profissional, na terapia infantil (combinada com a ludoterapia), na terapia de idosos, na terapia de doentes ou de pessoas segregadas nas prisdes ou instituigdes sociais e assim por diante. Muitos dos processos grupais jé adquiriram nomes préprios, tais como Psicodrama, A.A.A., Grupo de Encontro, ete. Sabem todos quantos operam em grupos que os comportamentos em situagao grupal podem ser muito distintos dos que ocorrem na relagao diddica, entre terapeuta ou conselheiro e cliente. Embora possa parecer simples, mesmo em grupos nao dirigidos, o trabalho do terapeuta, ou de dois ou mais terapeutas operando em conjunto, € um processo complex. Em geral, os grupos sao organizados e conduzidos (ou facilitados) de acordo com a fundamentagao doutrinaria a que se filiam seus condutores ou facilitadores. Ha grande diferenga de procedimentos, por exemplo, entre as agdes manifestas ou conduzi das em um grupo liderado por um psicélogo comportamentalista e as decorrentes de um psicélogo de formagao freudiana, adleriana ou rogeriana. Além da diferenciagéo doutrinaria que se caracteriza pelo tipo de verbalizacdo, interpretagéio ou intervengéo do terapeuta, ha, ainda, que considerar dois alvos bem distintos: a) o grupo como alvo terapéutico e o grupo como agente terapéutico na pessoa. O grupo sempre representa uma dimensdo social que envolve a. maneira como as pessoas se comunicam, como efetuam transagdes interagem em geral. Pode haver, pois, uma concentragaio no plano coletivo, no grupo como um organismo ou, por outro lado, com a pessoa e com a forma pela qual responde ela a situagao grupal. No primeiro caso temos a terapia de grupo; no segundo a terapia em grupo. : Os efeitos das terapias em situagao de grupo sao dificeis de avaliar, dada a extrema variedade de casos e situagdes. Faltam dados concludentes sobre composigao de grupos, sobre sua duragéo e caracteristica metodolégicas. A maioria dos autores concorda em que o grupo oferece apoio, estimulo e contacto com a realidade e, nesses aspectos, sobrepse-se a terapia individual. 5 -A Revolugao Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicolégico e da Psicoterapia Sintese histérica Nao 6 facil identificar as origens do movimento que, em orientagdo, aconselhamento psicolégico © psicoterapia, marcaram as profundas mudangas conceituais e operacionais ocorridas nos meados do século em que vivemos. Os conceitos sociais se encaminhavam no sentido de valorizar o homem, a pessoa, seu ideais e seus direitos humanos e se verificava, paralelamente, em observagées do comportamento dos clientes e dos terapeutas, que os métodos assistenciais para “desajustados “ para " ansiosos” para “neuréticos” e até mesmo para “psicéticos”, vitimas de rétulos tradicionais, herdados da longa tradigao psiquidtrica, atuavam melhor quando se respeitava as pessoas como elas so, quando se evitava dirigi-las ou impor normas de conduta. O sentido de liberdade do homem vem de longe e ja propria religido, na sua longa histéria, atribui ao homem a faculdade do livre arbitrio, sem o que o pecado e a virtude nao teriam sentido. A anlipsiquiatria e o existencialismo-fenomenolégico (Laing, 1963) nos mostram o drama do ser humano pressionado por modelos e imposigdes sociais que o alienam e 0 conduzem a comportamentos tidos como anormais ou patolégicos. A procura de um alvo na vida e a auto-afirmagdo, como pessoa, o respeito aos interesses e ao estilo de vida de cada um parecem ter surgido, simultaneamente, em todas as esferas da atividade humana, como natural explosao de repressdes acumuladas durante séculos. Passou-se de uma atitude impositiva, reflexo de uma ciéncia fragmentaria que ditava valores e métodos, a uma concep¢ao humanistica na qual se colocava o organismo e a pessoa como entidades dominantes em fungéo das quais os fatos psicolégicos e a conduta séo melhor explicades e compreendidos. Nesse contexto tomaram forma as idéias de Carl Rogers, a partir de seu revoluciondrio livro: Counseling and Psychoterapy: never concepts in practice (Boston; H. Miffiin, 1942), A repercussao das idéias rogerianas pode, pois, ter ocorrido por representar uma tendéncia que na época ja germinava como, também, ser entendida como uma gigantesca descoberta no campo psicolégico. E provavel que, em certos limites, esses dois eventos tenham se agregado. E, como as novas idéias constituiram um meio assistencial de que antes ndo disptinhamos ou que ‘substituiam antigos inaceitaveis conceitos operacionais, a elas nos dedicamos, como muitos psicdlogos de todo 0 mundo. E, por esta razo, temos um capitulo todo especial deste livro, Rogers descreve sua propria historia e como se viu envolvido em métodos revolucionarios no campo da Psicologia. Diz ele que por mais de trinta anos foi Conselheiro Pessoal ou Psicoterapeuta, tentando ajudar criangas, adolescentes adultos,quer apresentassem problemas de estudos, de escolha de carreira, de vida matrimonial; quer fossem normais, neurdticos ou psicdticos (pois para ele esta titima classificagdo indica, apenas, rétulos enganosos). Escreveu Carl Rogers varios livros © muitos artigos em revistas especializadas. Estes ullimos ascendem a cerca de 140. Rogers 6 psicélogo e dedicouse, essencialmente, aos trabalhos de aconselhamento psicolgico e psicoterapico, embora, na realidade, seja dificil distinguir onde terminam uns e comegam outros, Seu interesse, como ele mesmo declara, prende-se ao sofrimento e a esperanga, a ansiedade e a satisfagao que se acham presentes na sala do conselheiro psicolégico ou do terapeuta. Dirige-se as peculiaridades da relagéo que cada terapeuta desenvolve com seu cliente e, igualmente, aos elementos comuns que descobrimos em todas essas relagées. Concentra-se nas grandes experiéncias pessoais de cada um de nés; no cliente que, no consultério, lula para ser ele proprio, ainda que com medo mortal de ser ele mesmo, tentando ver suas experiéncias como elas so, desejando vivé-las e, no entanto, profundamente temeroso do futuro, Interessante 6 notar que Rogers defenda ardentemente os processos terapéuticos em que predominam a permissividade e a total auséncia de julga. mento e de diregao, com vida familiar, na infancia e na juventude, marcada por disciplina rigida e arduo trabalho. Seus pais trataram-no e a seus irmos como filhos queridos, embora controlassem, zelosamente, 0 comportamento de cada um. Nada de bebidas alcodlicas, dangas, jogos de cartas ou teatro. A vida social era restrita ao minimo e, em seu lugar, muito trabalho. A partir dos 12 anos, Rogers foi criado no meio rural onde, lendo e estudando agricutura, tomou contato com métodos cientficos, grupos de controle e grupos experimentais e aprendeu, também, o quanto 6 dificil testar uma hipdtese. Essas sao suas proprias afirmagdes (Rogers, 1961). . Rogers sentiu que estava se interessando por Psicologia quando comegou a freqiientar cursos e conferéncias no Teachers College, da Columbia University, em Nova York, Ainda em fase de completar seus estudos, empregou-se como auxiliar numa clinica de criangas e, mais tarde, como psicélogo, em Rochester, Nova York. Ai passou 12 anos atendendo criangas delinglientes e com problemas s6cio-econdmicos, enviadas, em geral por agéncias e pelos juizados de menores. Faziam-se diagnésticos e “entrevistas” de tratamento, nos quais a preocupacao dominante era: “Serd que dé certo?"; "Vale a pena?”. Varios casos de delinguéncia ou de tendéncias anormais foram assistidos sem que se constatasse qual quer recuperagéo. Alguma coisa estaria errada ou ausente do trabalho psicoligico. E quando comega a the ocorrer a idéia de que os clientes, ¢ sd eles, é que realmente sabem 0 que os traumatiza, que diregdes tomar, quais os problemas cruciais. Somente o cliente poderia, pois, oferecer a pista para o rumo a seguir. ‘Ao trabalhar na Universidade de Rochester, passou Rogers a alimentar duvidas sobre se era ou ndo um psicélogo, pois essa instituigao deixou bem claro que 0 trabalho por ele desenvolvido nao era Psicologia. Seus contatos subseqUentes, porém, no ramo psiquiatrico e de servico social e sua filiagdo a American Association of Applied Psychology, permitiram-lhe sentir-se mais a vontade no campo psicolégico. Convidado pela Ohio State University, em 1940, apés a publicagdo de seu primeiro livro, Clinical Treatment of the Problem Child (1939), comegaram suas idéias a provocar discussées. Dois anos depois, em 1942, publicou seu mais famoso livro, Counseling and Psychotherapy, cujas vendas ja ultrapassam a casa dos 70.000 exemplares. Com esse livro, inicia-se grande divulgagdo das idgias e técnicas que vieram transformar profundamente os procedimentos até entéo vigentes, principalmente no campo da orientagao e da psicoterapia. Em 1951, no livro Client-centered Therapy, expande Rogers suas idéias e analisa melhor varias situagées do proceso terapéutico, concluindo por apresentar uma teoria sobre a personalidade e o comportamento. Em 1961, publica On Becoming a Person, no qual insere, na mesma linha original, varios fatos e conseqiléncias como ele os vé, decorrentes de seus principios. Em 1965, com Kinget, escreve Rogers um livro extremamente pratico sobre os procedimentos da terapia rogeriana, aproveitando parte de seus trabalhos anteriores. Em 1969, Rogers descreve seus métodos aplicados ao ensino e a educagao. Em 1970, abordando o trabalho terapéutico com grupos, comenta Rogers os efeitos observados e as condigdes facilitadoras das mudangas operadas nos clientes. Sobre problemas matrimoniais relacionados com assuntos sexuais, escreve Rogers, em 1973, um livro em que expe os sentimentos experimentados por casais face a algumas variagdes no modelo classico de vida matrimonial. Outros livros se segui ram, inclusive A Pessoa como Centro, escrito em portugués com tradugéo e cooperagao de Rachel L. Rosenberg, a qual, com o autor, organizou e dirigiu servigos psicolégicos de orientacdo rogeriana na Universidade de Sao Paulo, a partir de 1967. A vida profissional de Rogers é marcada, ainda, por varias posigées profissionais, tais como as de professor da Universidade de Chicago, de 1945 a 1957, de professor da Universidade de Wisconsin, de 1957 a 1963, de membro diretor do Wester Behavioral Sciences Institute, em LaJolla (.California), a partir de 1964, e, finalmente, de membro fundador do Center for Studies of the Person, na mesma cidade. Seus livios so marcos histéricos na evolugao e desenvolvimento de idéias humanisticas. Muitas destas acham-se insertas em conferéncias e artigos de revistas e jornais. Todo esse conjunto de conceitos e de orientagdo terapéutica tornou 0 método rogeriano muito conhecido © nao menos discutido; passou a impregnar, direta ou indiretamente, as atuag6es dos terapeutas de todas as escolas; afetou os processos de orientagao educacional e profissional e penetra, agora, no campo filoséfico, desenvolvendo idéia sobre o ser humano, sua liberdade e suas possibilidades permanentes de vir a ser ele proprio. Embora alguns terapeutas ainda se conservem alheios ou cépticos em relagdo ao método rogeriano, este progride mesmo no campo médico-psiquiatrico, abalando técnicas tradicionais de outras correntes e até mesmo da Psicanalise. Discipulos, colaboradores e seguidores existem em todos os paises, inclusive no Brasil, Em nosso pals, os estudos sobre o método rogeriano tiveram inicio nos cursos para formagao de Orientadores Educacionais, sob a forma de disciplina tedrica. Com a criagao dos cursos de Psicologia, a divulgagao do método, do ponto de vista teérico e pratico, passou por grande desenvolvimento; Coube-nos a regéncia desses cursos na Universidade Catélica de Campinas, em 1958-1960, na Universidade Catdlica de Sao Paulo, de 1960 a 1964, ¢ a partir dessa data na Universidade de Sado Paulo. Neste ultima, um centro de aconselhamento psicolégico, de orientagao rogeriana, foi por nés criado em 1966, continuado, depois, por Rachel Rosenberg, Henriette Morato e outros colaboradores. Idéias basicas e originais As idéias de Rogers tém suas raizes em muitas e diferentes fontes, das quais, a pratica com clientes parece ser a mais significativa. Nao obstante, e como ele proprio afirma, a terapia de Otto Rank, os trabalhos de Jessy Taft, de John Levy e de Frederic Allen so origens importantes. Dentre os modemos analistas, Homey poderia ser citada (Rogers, 1951). Rogers declara que o desenvolvimento de seu trabalho nao teria sido possivel sem a aprecia¢éo dos impulsos inconscientes e dos complexos de natureza emocional que constituiram a contribuigo de Freud, Embora seu trabalho tenha se desenvolvido de algum modo diferentemente dos pontos de vista terapéuticos de Horneye Sullivan, ou de Alexander e de French, mantém, todavia, muitas linhas de interconexéo com essas modernas formulagdes do pensamento psicanaltico. Por outro lado, a psicologia da Gestalt teve, também, sua participagao e, assim, outras correntes, de forma que a terapia centrada no cliente foi influenciada pelas teorias e técnicas atuais do campo clinico, cientifico e filoséfico que se acham presentes em nossa cultura Segundo o proprio Rogers descreve (1942), 0s novos conceitos tém alvos completamente distintos dos anteriores. O individuo é 0 foco e nao o problema. O objetivo é facilitar o “crescimento” do individuo e no resolver problemas espectficos. E permitir que com maior independéncia e integragao pessoais possa ele préprio, 0 cliente, enfrentar nao s6 0 problema presente como os do futuro, de forma mais adequada. Nao consiste em fazer-se alguma coisa para 0 individuo ou induzi-lo a fazer algo; consiste, apenas, em liberé-lo para seu crescimento e desenvolvimento normal. Os conselheiros ou terapeutas s4o apenas facilitadores desse crescimento. Do problema o que importa sao os aspectos emocionais e nao os intelectuais. Salienta-se mais a situagao presente que a passada. Os padrées emocionais de reago, aqueles que atuam no seu comportamento e que precisam ser considerados mais seriamente, apresentam-se tanto no passado como no presente. Finalmente, a propria entrevista psicdlogo-cliente ou terapeuta-cliente é, em si mesma, uma experiéncia valiosa, uma experiéncia de crescimento. A consequéncia basica desses conceitos é que, ao contrario de muitas outras correntes, os alvos a atingir sao os mesmos para todos os clientes, pouco significando se se trata de um jovem com dificuldades de escolha de carreira, de alguém com distirbios psicossomaticos ou de pessoa com dificuldades matrimoniais. Poder-se-ia afirmar que a técnica de Rogers foi bem aceita porque, de certa forma, libertou muitos psicélogos e orientadores da angusstia gerada pelo fato de néo saberem 0 que fazer com os clientes, Afeitos ao diagnéstico, mas néo a medidas para intervir no comportamento, vinham os conselheiros em busca de algo que Ihes sugerisse uma forma de atuar sobre o cliente, de intervir no seu comportamento com vistas 4 recuperagdo, ao desenvolvimento ou a cura. Rogers ofereceu uma solugao a esse crucial problema, dando-thes um instrumento de trabalho, permitindo que se transpusesse 0 profundo fosso entre o diagnéstico e a assisténcia efetiva esperada pelo cliente ou por seus responsaveis, como assinalamos no Capitulo 4 O carater marcante do método ¢ a classica ndo-diretividade, embora muitos psicélogos questionem essa posigao e a vejam como utopia ou algo inoperante. Em verdade, 0 ndo-diretivismo de Rogers nao é to inconciliével quanto parece com outros métodos. Pesquisas diversas mostram ser possivel utilizar uma combinagao de técnicas em beneficio do cliente (Barros Santos, 1970, 1972). Além de sua contribuigéo doutrindria, baseada em experiéncias assistematicas iniciais com centenas de casos, abriu Rogers as fronteiras das entrevistas individuais, gravando-as e estudando-as. Iniciou uma nova era na investigago sobre 0 que ocorre nas sessées terapéuticas tentando, com os poucos recursos disponiveis, introduzir julgamentos e avaliagdes por critérios que nado fossem s6 08 do terapeuta envolvido nas sessdes. Em conseqiiéncia, pesquisas e experimentos dos mais variados tipos, sobre os fenémenos que surgem na rela¢éo psicélogo-cliente, sao hoje possiveis. © método rogeriano, inicialmente absorvido por técnicas de didlogo na entrevista, vem evoluindo em face do actimulo de dados colhidos pelo seu criador e por seus seguidores. As bases continuam, porém, as mesmas, ou seja: 1, O diagnéstico anterior ao tratamento € dispensavel. © comportamento psicolégico inadequado 6 caracterizado por tensées que dificultam respostas adaptativas. Reduzir as tensdes para que o individuo manipule seus recursos pessoais é a orientagdo basica, qualquer que seja o problema enfrentado pelo cliente. 2. © individuo tem tendéncias pessoais, proprias, de auto-realizacao. O trabalho do terapeuta é libertar o individuo das barreiras psicolégicas que impedem esse crescimento, Para tanto, deve criar uma atmosfera isenta de press6es, criticas ou diregdo, na qual as forgas construtivas sao liberadas. 3. Os conceitos e as imagens que o individuo faz de si e dos outros pautam-se pelo esquema fenomenolégico. © mundo é, para ele, aquilo que ele sente. Durante 0 processo de tratamento, psicblogo e cliente tornam-se capazes de reconhecer 0 que representa para este o conceito de si mesmo e como se sente em face dessa imagem de si mesmo. No tratamento bem sucedido, essa imagem e os sentimentos que a acompanham sao modificados; as percepgdes se tomam mais flexiveis; os sentimentos podem ser diferenciados e as experiéncias simbolizadas adequadamente, 4. A tarefa do terapeuta concentra-se, principalmente, em atitudes. Veremos, mais adiante, como o préprio Rogers descrove essas atitudes basicas como condigdes para modificagées construtivas da personalidade. 5. O psicdlogo ndo da conselhos, informagdes ou apoio, nem interpreta. Como facilitador, reflete e vi vencia tanto quanto possivel os sentimentos do cliente, Este deve sentir as relagdes entre seus problemas e sua experiéncia passada e presente. Estas, sentidas e simbolizadas, assim como planos de ago e tentativas de ajustamento, emanam naturalmente do cliente, sem qualquer atuagao direta, nesse sentido, por parte do psicdlogo. O individuo recompée suas percepgées e a vivéncia de seus sentimentos. Embora a compreensdo do pensamento rogeriano seja relativamente facil, nao 0 sua aplicagao orientadora ou terapéutica. Alguns a confundem com uma permissividade equivalente ao endosso ou aprovagao de comportamentos social ou pessoalmente prejudiciais; outros, com uma excessiva neutralidade que conduziria a um relacionamento ‘frio e distante"; outros, ainda, com uma superficialidade de tratamento. E usual nos clientes, nos seus pais ou responsaveis e no proprio Pliblico a expectativa de que a orientacdo inclua sugestées, indicagées, lembretes, informagées e conselhos. Se é verdade que em certos casos tais procedimentos sao validos, na maioria das situagdes essas técnicas sao inécuas ou, as vezes, prejudiciais. Se tais conselhos fossem titeis na modificagao do comportamento, a conduta humana poderia ser facilmente modificada; os delingentes poderiam ser recuperados com bons conselhos; os doentes mentais poderiam ser tratados com informagdes e indicagées que Ihes mostrassem e indicassem comportamentos ‘normais’; as situagdes de ansiedade e de divida poderiam ser resolvidas com informagées adequadas. Infelizmente muitos orientadores, e mesmo psicdlogos, supdem que recomendagées e adverténcias s4o sempre necessarias. Acreditam que se deva “fazer alguma coisa pelo cliente” e confiam nos seus informes e sugestdes como sendo um produto concreto final de sua atuag4o. Muitos desses profissionais assim agem por ignordncia dos processos psicolégicos, outros porque emocionalmente sentem necessidade de dirigir e guiar, outros, enfim, porque se sentem ameagados pela critica do cliente quando este nao recebe indicadores coneretos e objetivos. Para reduzir suas proprias tens6es, acabam dando conselhos, ou atuando de forma paternalista com a impressdo de que assim agindo atuaram corretamente Manipular as expectativas do cliente, dos pais, de professores ¢ de outros elementos envolvidos na orientagao do caso nao é facil. Requer profunda habilidade psicolégica do facilitado r no sentido de demonstrar suas técnicas de atuagao e de levar o cliente a obter os efeitos desejaveis. informar, previamente, o cliente sobre a maneira de agir seria incorrer na mesma falha; dizer-Ihe que ndo ha recomendagées, sugest6es ou conselhos pouco ou nada adiantaria. Precisa o cliente sentir, por si mesmo, a forma de atuar do facilitador, orientador ou do psicdlogo, nao no sentido de que a responsabilidade das decisées Ihe pesard agora mais do que antes, mas no clima em que os problemas sero evocados e juntos - cliente e conselheiro - vo ambos senti-los e estuda-los sem pressées ou solugées externas. E to grande a expectativa de “guias” e “direcdes’, “resultados” e “pareceres” , que a maioria dos clientes se refugia nesses dados de forma profunda, néo obstante eventuais informagdes do conselheiro sobre o procedimento a adotar. Podem os clientes sentir-se logrados, insatisfeitos, desgostosos com as afitudes de conselheiros contrarias a essas expectativas. Essa frustrago pode durar uma ou mais sessdes e pode levar muitos clientes a pensarem que o orientador ou nada sabe ou é um charlatéo. Todavia, se as sessées psicolégicas forem adequadamente conduzidas, esse sentimento desaparecera facilitando opgdes ou mudancas construtivas. Rogers, em varios de seus trabalhos, discute as condigées que, no seu entender, facilitam o desenvolvimento psicolégico e, em conseqléncia, seu ajustamento ou sua recuperacao. Inicialmente, diz Rogers, (e isto é comprovado por pesquisas) os ‘terapeutas, que realmente ajudam seus clientes, manifestam algo de comum entre si. Essa verificagao, como era de prever, demonstrou notavel interesse em todos os campos terapéuticas. A hipstese original é a de que modificagao da personalidade do cliente ocorre no em virtude da qualificagdo profissional do terapeuta; ndo por causa de seu treinamento ou filiagdo doutrinaria; nao por motivo de suas técnicas de entrevista; nao por ser habil em interpretar, mas, essencialmente © somente, por causa de certas caracteristicas de atitude que se formam na relagéo com o cliente” (Rogers, 1965b). Qs clientes aparecem para terapia com uma desconcertante variedade de problemas e uma enorme gama de caracteristicas pessoais; enfrentam os terapeutas, que, de Outro lado, demonstram larga diversidade de vistas com relago ao que seré itil como terapia exibindo, também, diversas caracteristicas de personalidade no contato com seus clientes. Todavia, subjacente a toda essa diversidade, parece ser possivel distinguir um processo basico no relacionamento

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