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NOSSA PÁSCOA
Ritual Popular de Exéquias
As exéquias são ritos e orações com os quais a comunidade cristã acompanha seus mortos e os
encomenda a Deus. Em todos os povos e em todos os tempos encontram-se ritos relacionados com
os defuntos e com os que choram a morte de algum familiar.
Para os cristãos "a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado
nos céus um corpo imperecível"(Prefácio dos Defuntos I). O Concílio Vaticano II determinou que
"o rito das exéquias volte a exprimir mais claramente a índole pascal da morte cristã". Determinou
também que corresponda melhor às condições e tradições das diversas regiões (cf. SC 81). Atenta a
este princípio orientador da Igreja, a Sagrada Congregação para o Culto Divino, em 15 de agosto de
1969, promulgou o novo Ritual de Exéquias, traduzido e publicado no Brasil em 26 de abril de
1971, com esta clara orientação: "Celebrando as exéquias de seus irmãos, cuidem os cristãos de
afirmar a esperança da vida eterna; mas façam isso de tal forma que não pareçam ignorar ou
desprezar a mentalidade e o modo de agir dos homens do seu tempo e região, no que se refere aos
mortos. Aceite-se de bom grado o que houver de bom nas tradições familiares, nos costumes locais
e nos serviços das empresas funerárias; o que, porém, estiver em contradição com o Evangelho,
procure-se transformar, de modo que a celebração das exéquias cristãs manifeste realmente a fé
pascal e o espírito do Evangelho" (Introdução do Ritual de Exéquias, n.2).
O Ritual Popular de Exéquias, intitulado Nossa Páscoa, editado pela Paulus, encontra-se ä venda
nas livrarias católicas. É uma excelente ajuda na organização de celebrações por ocasião de velórios
e sepultamentos, normalmente presididas por leigas e leigos, na perspectiva de recuperar e
aprofundar o sentido pascal da morte dos cristãos.
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SENTIDO DAS EXÉQUIAS CRISTÃS
Como tantos outros aspectos da liturgia cristã, as exéquias constituem uma classe de ritos comparáveis aos de
outras religiões. Um bom caminho para descobrir os valores especificamente cristãos das exéquias é sua
comparação com os ritos funerários pagãos, nos quais é possível sublinhar as seguintes dimensões: são ao mesmo
tempo um ato profundamente humano e um rito religioso e sagrado; neles dão-se a mão o culto divino e o culto
aos mortos; exprimem a íntima comunhão existente entre vivos e defuntos e, de um modo ou de outro, manifestam
a esperança no além. Em relação a cada uma destas dimensões, podemos também distribuir os principais valores
das exéquias cristãs.
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Convocação dos santos
Tanto nas orações da recomendação do moribundo como nas orações e cânticos que acompanham os ritos
mortuários, há invocações à Virgem Maria, aos anjos e aos santos. Sem negar o aspecto de petição de
intercessão dos mesmos em favor do defunto, é preciso sublinhar como intenção primordial da liturgia a
de realizar como que uma chamada, uma convocação de todos os membros da Igreja celestial para que
recebam em sua companhia aquele que até agora fazia parte da comunidade terrena.
b. Procissão
As exéquias podem ser consideradas um tipo especial de procissão litúrgica. Como toda procissão,
exprime o simbolismo da Igreja como povo peregrinante, em marcha, para as metas definitivas da glória.
É precisamente por ocasião da morte de um de seus membros que a comunidade eclesial pode sentir-se
menos instalada neste mundo e experimentar ao vivo sua essencial condição nômade, de homens e
mulheres que não têm aqui morada permanente mas que esperam a futura. Embora atualmente haja razões
poderosas que obrigam a suprimir os cortejos fúnebres, sobretudo nas grandes cidades - e a isto obedece a
possibilidade prevista no novo Ritual de organizar as exéquias segundo três tipos principais, que se
diversificam segundo o número de estações e procissões -, contudo, parece que é necessário conservar de
alguma forma o sentido processional das exéquias.
c. Oração pelo defunto
Um dos principais objetivos que a liturgia dos funerais persegue é o de elevar preces de intercessão pelo
defunto, com o que se põe também em evidência a íntima vinculação entre vivos e mortos. As petições da
Igreja centralizam-se no perdão dos pecados do defunto, na libertação das penas do inferno, na entrada na
glória celestial. O sacrifício eucarístico oferecido pelo defunto tem também essa finalidade de intercessão,
e também as orações que fazem parte da vigília fúnebre. Tudo isto é mostra palpável dos vínculos
estreitos que existem entre a comunidade dos vivos e o membro defunto. É interessante verificar que a
oração mais antiga pelos defuntos - ainda incrustada na oração eucarística - diz simplesmente: Memento,
"Lembra-te, Senhor", insinuando com isto que a "recordação" que Deus tem dos defuntos está
intimamente vinculada à "recordação" que deles conservam os fiéis vivos através de suas orações e
sufrágios.
d. Catequese para os vivos
Boa parte da liturgia exequial está destinada a doutrinar os fiéis vivos sobre o sentido da morte. A Igreja,
aproveitando o fato da morte de um dos seus filhos, ministra um ensinamento vivo e eficaz, que serve
também para reforçar os laços de união entre todos os seus filhos. As leituras bíblicas e a homilia
constituem uma parte essencial de tal ensinamento catequético, mas também os cânticos e as orações
contêm uma grande riqueza doutrinal. Um aspecto interessante deste ensinamento - e que também mostra
a vinculação com o defunto - é que, de certa forma, é o próprio defunto que, posto no meio da assembléia,
adoutrina os demais com sua presença muda e com uma série de textos ditos in persona defunti.
4. ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO
A esperança da ressurreição é um dos leitmotiv mais manifestos das exéquias cristãs. Os textos das leituras
bíblicas, dos salmos, das antífonas e das orações exprimem constantemente a confiança na ressurreição dos
mortos. O rito da inumação ou enterro propriamente dito também tem este significado, que é o indicado por são
Paulo: "Semeado na podridão, o corpo ressuscita incorruptível. Semeado na humilhação, ele ressuscita glorioso.
Semeado frágil, ressuscita forte. E semeado um corpo animal, ressuscita um corpo espiritual" (1Cor 15,42-44). O
rico simbolismo da inumação, herdado de outras religiões, é o que explica a resistência que a Igreja Católica teve
em admitir outro tipo de práticas com relação aos cadáveres. Contudo, a legislação canônica atual admite também
a cremação e incineração, desde que isto não represente desprezo pelo dogma da ressurreição dos mortos nem se
apresente como uma atitude anticristã.
Em resumo, se queremos situar em seu lugar adequado a originalidade específica das exéquias cristãs em relação
com os ritos funerários civis ou de religiosidade natural, devemos falar, de acordo com a constituição
"Sacrosanctum concilium" do Vaticano II (n. 81), do "sentido pascal da morte", isto é, da relação da morte cristã
com o mistério pascal de Jesus Cristo. Não poderia ser de outro modo, já que o caráter específico do cristianismo,
sua novidade radical, consiste precisamente na pessoa de Cristo e, mais concretamente, no aspecto dinâmico de
sua morte e de sua ressurreição.
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AS EXÉQUIAS CRISTÃS
1680. Todos os sacramentos, principalmente os da iniciação cristã, têm por fim a última páscoa do cristão,
que, pela morte, o faz entrar na vida do Reino. Então se cumpre o que ele confessa na fé e na esperança:
«Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir» (14).
I. A última Páscoa do cristão
1681. O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, em
quem pomos a nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus «abandona este corpo para ir
morar junto do Senhor» (15).
1682. O dia da morte inaugura para o cristão, no termo da sua vida sacramental, a consumação do seu novo
nascimento começado no Baptismo, o definitivo «assemelhar-se à imagem do Filho», conferido pela unção
do Espírito Santo e pela participação no banquete do Reino, antecipada na Eucaristia, ainda que algumas
derradeiras purificações lhe sejam ainda necessárias, para poder vestir o traje nupcial.
1683. A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente no seu seio o cristão durante a sua peregrinação
terrena, acompanha-o no termo da sua caminhada para o entregar «nas mãos do Pai». E oferece ao Pai, em
Cristo, o filho da sua graça, e depõe na terra, na esperança, o gérmen do corpo que há-de ressuscitar na glória
(16). Esta oblação é plenamente celebrada no sacrifício eucarístico, e as bênçãos que o precedem e o seguem
são sacramentais.
II. A celebração das exéquias
1684. As exéquias cristãs são uma celebração litúrgica da Igreja. O ministério da Igreja tem em vista, aqui,
tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto, como fazer participar nela a comunidade reunida para o
funeral e anunciar-lhe a vida eterna.
1685. Os diferentes ritos das exéquias exprimem o carácter pascal da morte cristã e correspondem às
situações e tradições de cada região, até no que respeita à cor litúrgica (17).
1686. A Celebração das Exéquias – Ordo exsequiarum – da liturgia romana propõe três tipos de celebração
das exéquias, correspondentes aos três lugares em que se desenrolam (a casa, a igreja, o cemitério), e
segundo a importância que lhes dão a família, os costumes locais, a cultura e a piedade popular. O esquema
é, aliás, comum a todas as tradições litúrgicas e compreende quatro momentos principais:
1687. O acolhimento da comunidade. Uma saudação de fé dá início à celebração. Os parentes do defunto são
acolhidos com uma palavra de «consolação» (no sentido do Novo Testamento: a fortaleza do Espírito Santo
na esperança (18). Também a comunidade orante, que se junta, espera ouvir «as palavras da vida eterna». A
morte dum membro da comunidade (ou o seu dia aniversário, sétimo ou trigésimo) é um acontecimento que
deve levar a ultrapassar as perspectivas «deste mundo» e projectar os fiéis para as verdadeiras perspectivas
da fé em Cristo Ressuscitado.
1688. A liturgia da Palavra, aquando das exéquias, exige uma preparação, tanto mais atenta quanto a
assembleia presente pode incluir fiéis pouco frequentadores da liturgia e até amigos do defunto que não
sejam cristãos. A homilia, de modo particular, deve «evitar o género literário do elogio fúnebre» (19) e
iluminar o mistério da morte cristã com a luz de Cristo ressuscitado.
1689. O sacrifício eucarístico. Quando a celebração tem lugar na igreja, a Eucaristia é o coração da realidade
pascal da morte cristã (20). É então que a Igreja manifesta a sua comunhão eficaz com o defunto: oferecendo
ao Pai, no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, pede-Lhe que o seu filho defunto
seja purificado dos pecados e respectivas consequências, e admitido à plenitude pascal da mesa do Reino
(21). É pela Eucaristia assim celebrada que a comunidade dos fiéis, especialmente a família do defunto,
aprende a viver em comunhão com aquele que «adormeceu no Senhor», comungando o corpo de Cristo, de
que ele é membro vivo, e depois rezando por ele e com ele.
1690. O adeus («a Deus») ao defunto é a sua «encomendação a Deus» pela Igreja. É «a última saudação
dirigida pela comunidade cristã a um dos seus membros, antes de o corpo ser levado para a sepultura» (22).
A tradição bizantina exprime-o pelo ósculo do adeus ao defunto:
Nesta saudação final, «canta-se por ele ter partido desta vida e pela sua separação, mas também porque há
uma comunhão e uma reunião. Com efeito, mortos, nós não nos separamos uns dos outros, porque todos
percorremos o mesmo caminho e nos reencontraremos no mesmo lugar. Nunca nos separaremos, porque
vivemos para Cristo e agora estamos unidos a Cristo, indo para Ele... estaremos todos juntos em Cristo» (23).