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abril-junho 2017 // 3€ A REVISTA DO IEFP Dirigir & Formar N.

º 15

O SISTEMA DE
APRENDIZAGEM
EM DEBATE

SEPARATA
Qualificação e Orientação:
Novos Instrumentos
ISSN2182-7532
A janela
que lhe abre
portas.

Apoios à contratação, criação do próprio emprego www.iefp.pt


e empreendedorismo, ofertas de emprego, estágios,
formação profissional, integração de pessoas com
deficiência e incapacidade. É tudo isto e muito mais, o
que pode esperar quem bate a uma das nossas muitas
portas, em todo o país. Porque, sempre que precisar, o
IEFP estará cá para o ajudar. Perto de si.

Estamos perto de si
EDITORIAL
D&F

A
escolha do tema para a presente edição da revista D&F, tria, da diretora de Recursos Humanos do grupo Salvador Caetano
«O Sistema de Aprendizagem em Debate», decorre da e de um administrador da Schmitt+Sohn Elevadores, enquanto
necessidade de todos refletirmos sobre um dos mais im- empresas parceiras do IEFP no Sistema Aprendizagem e, também,
portantes desafios com que ainda estamos confrontados a nível de uma ex-formanda do CINEL (Centro de Formação Profissional da
nacional: a necessidade de aumentar a qualificação dos nossos Indústria Eletrónica, Energia, Telecomunicações e Tecnologias de
jovens e promover a sua empregabilidade, e essa é, obviamente, Informação). Este debate, de que a reportagem que ora se publica
uma preocupação central do IEFP, I.P. faz eco, é um testemunho eloquente da relevância do sistema, das
Conscientes desta realidade e de que os cursos ministrados no expetativas e motivações dos seus atores, através de três perspe-
âmbito do Sistema de Aprendizagem constituem uma opção de tivas fundamentais: a institucional, a das empresas que acolhem
primeira linha na construção do percurso escolar e profissional dos os jovens em posto de trabalho e de uma ex-formanda.
jovens e que, na verdade, traduzem uma efetiva alternativa, quer ao Neste quadro, permito-me destacar dois artigos que refletem bem
sistema regular de ensino, quer a outras ofertas de cursos profis- a importância desta temática: um primeiro intitulado «Valorizar o
sionalizantes, distinguindo-se fundamentalmente dessas modali- sistema de aprendizagem: contributos para uma agenda», em que,
dades pelo reconhecimento das empresas como espaço privilegia- além de uma retrospetiva histórica, o autor convida os leitores a
do de formação onde uma parte significativa da aprendizagem se refletirem sobre a problemática da aprendizagem e promove o de-
desenvolve, torna-se indispensável criar e assegurar as condições bate sobre a estratégia de valorização deste sistema, destacando
para que as empresas possam envolver-se de forma crescente nes- «... três planos em que, isolada ou de forma combinada, poderá as-
ta metodologia de formação contribuindo, designadamente, para a sentar uma estratégia de valorização do Sistema de Aprendizagem:
qualificação e a melhoria dos níveis de empregabilidade dos jovens a consolidação do atributo de diversificação pedagógica no contex-
formandos. Deste modo, pretendemos com este número da revista to do Sistema Nacional de Qualificações, o reforço da vinculação
promover a reflexão e o debate sobre as virtualidades e as questões da aprendizagem ao universo das empresas e o desenvolvimento
que ainda se colocam ao Sistema de Aprendizagem reafirmando a de pontes para o mercado de trabalho apoiadas pela estratégia de
sua importância, dando a conhecer as suas potencialidades, por regulação das relações laborais», e um outro sobre «As ofertas de
forma a torná-lo cada vez mais uma primeira escolha, tanto mais dupla certificação e o seu contributo para a empregabilidade dos
que possibilita, a quem o frequenta, ter várias perspetivas e várias jovens em Portugal», onde a autora demonstra com dados estatís-
opções de futuro que podem passar, igualmente, pela prossecução ticos que o contributo das ofertas de dupla certificação para a em-
de estudos, tal como acontece no sistema de ensino regular. pregabilidade dos jovens é evidente e chama a atenção para «...a
Aliás, a importância do ensino e formação profissionais está bem importância da permeabilidade das vias de ensino e formação e da
patente numa das dez medidas que integram a Agenda de Compe- possibilidade real de prosseguimento de estudos para os diploma-
tências para a Europa, adotada pela Comissão Europeia há cerca dos das ofertas de dupla certificação...».
de um ano, que sublinha a necessidade de «tornar o ensino e a for- Finalmente, a Separata apresenta a estratégia de formação peda-
mação profissionais (EFP) uma primeira escolha, reforçando, para gógica de tutores e como esta se articula com o plano definido para
tal, as oportunidades de os alunos de EFP enveredarem por uma o desenvolvimento das competências específicas dos formadores,
aprendizagem em contexto de trabalho e divulgando os resultados considerando, nomeadamente, o seu contexto de intervenção.
positivos de EFP no mercado de trabalho», (in, http://europa.eu/ Divulga-se ainda o elenco modular dos novos referenciais de For-
rapid/press-release_IP-16-2039_pt.htm). mação para Tutores e de Formação de Formadores de Tutores.
Este foi, de resto, o pretexto para a organização do debate subordi- Em conclusão, espero que esta edição de revista D&F possa
nado ao tema «Valorizar a Aprendizagem» com que iniciamos esta constituir mais um passo para a valorização do nosso Sistema de
edição da revista e que teve lugar no passado dia 28 de março, no Aprendizagem.
Centro de Formação Profissional de Setúbal, do IEFP, I.P., contando António Valadas da Silva
com a presença dos secretários de Estado do Emprego e da Indús- Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, I.P.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 1
ÍNDICE
1 TEMA DE CAPA 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
04 EM DEBATE...Valorizar a aprendizagem | Rita Vieira TEMAS DE FORMAÇÃO
10 Valorizar o sistema de aprendizagem: contributos 49 Opção de «primeira linha» para muitos jovens
para uma agenda | Paulo Feliciano | Vitalino José Santos
17 As ofertas de dupla certificação e o seu contributo 55 Aprendizagem ao longo da vida com Prezi
para a empregabilidade dos jovens em Portugal | Fernando Ferreira
| Ana Cláudia Valente
29 Cursos de aprendizagem devem afirmar-se como
uma alternativa | Rita Vieira
33 Hotel Futuro | João Godinho Soares

2 PONTO DE VISTA 4 PÁGINA INSTITUCIONAL


EM FOCO 59 Wordskills Portugal | Sandra Sousa Bernardo
36 Sobre a promoção das aprendizagens em contexto 63 Criação da rede de parceiros de excelência para
de trabalho | Sandra Pratas Rodrigues a aprendizagem | Dpt. Formação Profissional do IEFP, I.P.
40 A aprendizagem como modelo profissional
| José de Oliveira Guia
43 Trajetórias profissionais | Luís Vicente
RADAR GLOBAL
47 Bússola geopolítica | Ruben Eiras
48 Banco de ideias verdes | Ruben Eiras

Cursos de aprendizagem devem 29


afirmar-se como uma alternativa

Sobre a promoção das Aprendizagens 36


em contexto de trabalho

Opção de «primeira linha» para 49


muitos jovens

Wordskills Portugal 63

EM DEBATE...
04 «VALORIZAR A APRENDIZAGEM»

2 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
FICHA
TÉCNICA
N.°15

5
PROPRIETÁRIO/EDITOR
EUROPA EM NOTÍCIAS IEFP - Instituto do Emprego
e Formação Profissional, I.P.
Rua de Xabregas, 52 - 1949-003 Lisboa
65 Formação em alternância (aprendizagem)
| Ana Maria Nogueira DIRETOR Paulo Feliciano
70 Euroflash | Nuno Gama Oliveira Pinto RESPONSÁVEL EDITORIAL
Maria Fernanda Gonçalves
COORDENADORA Lídia Spencer Branco
CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA
Adélia Costa, Ana Cláudia Valente, António
José de Almeida, Conceição Matos, Fernando
Moreira da Silva, João Palmeiro, Luís
Alcoforado, Nuno Gama de Oliveira Pinto,
Paulo Feliciano, Pedro Guilherme
REVISÃO Laurinda Brandão
REDAÇÃO Gabinete de Comunicação
e Relações Externas

6
Revista DIRIGIR&FORMAR
DIVULGAÇÃO Tel.: 215 803 000 / Ext.: 90011 e 90014
CONDIÇÕES DE ASSINATURA
BREVES Enviar carta com nome completo, data de
nascimento, morada, profissão e/ou cargo,
71 Tome nota | Nuno Gama Oliveira Pinto empresa onde trabalha e respetiva área de
72 Sabia que | Nuno Gama Oliveira Pinto atividade para: Rua de Xabregas, 52 -
1949-003 Lisboa, ou e-mail com os mesmos
dados para: dirigir&formar@iefp.pt.
ESTATUTO EDITORIAL https://www.iefp.
pt/documents/10181/696230/Estatuto_
Editorial_DirigirFormar.pdf
NOTADA NO ICS
DATA DE PUBLICAÇÃO junho 2017
PERIODICIDADE 4 números/ano
DESIGN E PRODUÇÃO Opticreative®
Tel.: 218 289 662 / geral@opticreative.pt
FOTO DE CAPA IEFP, I.P.; Opticreative®
FOTOGRAFIA IEFP, I.P.; istockphoto; freepik;
shutterstock; DR
IMPRESSÃO LIDERGRAF Sustainable Printing
Rua do Galhano, EN 13
4480-089 Vila do Conde
TIRAGEM 20 000 exemplares
REGISTO Anotada na Entidade Reguladora
para a Comunicação Social
DEPÓSITO LEGAL 348445/12
ISSN 2182-7532

Todos os artigos assinados são de exclusiva responsabili-


dade dos autores, não coincidindo necessariamente com
as opiniões do Conselho Diretivo do IEFP. É permitida a re-
produção dos artigos publicados, para fins não comerciais,
desde que indicada a fonte e informada a Revista.

SEPARATA ABRIL-JUNHO 2017


Nesta Separata apresenta-se a estratégia de formação pedagógica
de tutores e o elenco modular dos novos referenciais de Formação
para Tutores e de Formação de Formadores de Tutores

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 3
1 TEMA DE CAPA

EM DEBATE...
RITA VIEIRA, JORNALISTA JOSÉ CARLOS GARCIA, GCRE, IEFP, I.P.

«Valorizar a
aprendizagem»
CURSOS DO IEFP CONSTITUEM
«UMA ENORME MAIS-VALIA»
Os cursos de aprendizagem do Instituto de Emprego e For-
mação Profissional (IEFP, I.P.) «constituem uma enorme
mais-valia para os jovens», considera o secretário de Esta-
do do Emprego. No debate subordinado ao tema «Valorizar
a Aprendizagem», realizado a 28 de março no Centro de
Formação Profissional de Setúbal do IEFP, I.P., Miguel Cabri-
ta salientou que estes cursos de formação profissional ga-
rantem uma experiência prática em contexto empresarial
que não é possível adquirir na escola tradicional.
«Os cursos de vias profissionalizantes, como o sistema de
aprendizagem, têm uma estreita articulação com o merca-
do de trabalho, garantem uma formação académica sólida,
mas também que boa parte da formação é feita em contex-
to de empresa, para os jovens perceberem o que é estar no
mercado de trabalho, o que é interagir em equipa, cumprir
horários, adquirir competências próprias de quem está a
trabalhar», sublinha o responsável governamental. Por-
tanto, acrescenta Miguel Cabrita, «estes cursos têm uma
enorme mais-valia desse ponto de vista. Garantem que
são cursos com conteúdos adaptados às necessidades de
formação do mercado de trabalho e dão às pessoas uma
experiência que só nos bancos de escola tradicional não
têm».
No debate promovido pelo IEFP, I.P., o secretário de Estado
do Emprego salientou que «os cursos de aprendizagem
têm de começar a ter uma maior visibilidade e um maior

4 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar a aprendizagem 1

prestígio». Miguel Cabrita referiu que estes cursos de for- ALIANÇA EUROPEIA PARA A APRENDIZAGEM
mação profissional do IEFP não podem ser vistos como
uma escolha de recurso: «nós temos de garantir que estas
vias profissionalizantes, em particular aquelas que estão Lançada em 2013, esta as reformas nacionais que
em estreita articulação com as empresas e as associações aliança tem como obje- visem estabelecer novos
dos setores, como é o caso do sistema de aprendizagem, tivo ajudar a combater regimes de aprendizagem
têm visibilidade porque, muitas vezes, há muitas famílias o desemprego juvenil ao ou reforçar os existentes.
e jovens que não sabem que estas alternativas existem e, melhorar a qualidade e a A aliança promove também
por outro lado, também têm prestígio porque, muitas ve- oferta de aprendizagens medidas a apoiar pelo Fun-
zes, deixámos criar a ideia, erradamente, de que as vias em toda a União Europeia do Social Europeu, a Ini-
profissionais são uma espécie de segunda escolha, quan- (EU) através de uma ampla ciativa para o Emprego dos
do é exatamente ao contrário». parceria entre intervenien- Jovens e o novo programa
Por seu lado, o secretário de Estado da Indústria, João Vas- tes estratégicos nas áreas Erasmus+, no domínio da
concelos, defendeu que a indústria tem de se tornar mais do emprego e da educação, educação, formação e
atrativa, sendo que as qualificações são fulcrais para atin- explica o site da Comissão juventude.
gir esse objetivo: «nós vemos isso para a manutenção e Europeia. Mas não só, pre- O apoio à aliança está
para a atração de investimento estrangeiro. Neste momen- tende ainda uma mudança consubstanciado na pri-
to, as primeiras prioridades que os investidores nos pedem de atitudes no que respeita meira declaração conjunta
é mão-de-obra qualificada, com este género de qualifica- às aprendizagens, ao mes- assinada pela Comissão
ções e com este género de ensino». mo tempo que identifica os Europeia, a presidência do
Como explica João Vasconcelos, «este tipo de ensino é modelos de maior sucesso conselho de ministros da
muito respeitado». O secretário de Estado da Indústria es- na UE e aplica soluções UE e as organizações de
teve recentemente a visitar dezenas de empresas na Ale- adequadas a cada Estado- parceiros sociais a nível
manha, nomeadamente a Airbus e a Volkswagen, e o tema -membro, pelo que apoiará europeu.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 5
1 TEMA DE CAPA

REDE DE PARCEIROS DE EXCELÊNCIA PARA Durante o debate o secretário de Estado da Indústria


A APRENDIZAGEM – ENTREGA DE PRÉMIOS aproveitou para convidar o IEFP para integrar o Con-
selho Estratégico da Indústria 4.0.
Antes do debate houve ainda oportunidade de visitar as Segundo João Vasconcelos, «a indústria está a pas-
oficinas de cariz tecnológico do Centro de Formação de sar por um bom momento: no ano passado aumentou
Setúbal e de proceder à cerimónia de entrega de prémios do o emprego, as exportações continuam a aumentar e
concurso para a criação do logotipo da Rede de Parceiros de os números do início deste ano também são ótimos.
Excelência para a Aprendizagem. O 1.º prémio foi conquistado Portanto, é previsível que a contratação de quadros
por Carla de Faria Martins, o 2.º prémio foi entregue a Fábio técnicos com este tipo de qualificações aumente e,
André Magalhães Silva e o 3.º prémio a Emanuel José Moreira consequentemente, a pressão sobre estes centros
de Sousa. Recorde-se que, na sequência da criação da Rede (de formação profissional) vai-se manter», referiu
de Parceiros de Excelência para a Aprendizagem, o IEFP, I.P. o governante. Aliás, sublinhou ainda, «a minha pre-
lançou, em dezembro de 2016, um concurso de ideias com sença aqui pretende demonstrar a importância que
o intuito de criar um logotipo para esta rede. Esta iniciativa esta via de ensino tem para Portugal». Esta via de
pretendeu, em simultâneo, proporcionar uma oportunidade ensino «é muito respeitada e valorizada na indús-
aos formandos dos cursos da rede de Centros de Gestão tria, às vezes até mais do que aquilo que se pensa»,
Direta e Participada do IEFP na área dos Audiovisuais e acrescentou. Mas, de qualquer forma, considera que
Produção dos Media, para que revelassem o seu talento basta divulgar a empregabilidade destes cursos em
e as competências adquiridas durante a formação. Assim, relação aos outros, assim como o vencimento destes
o logotipo classificado em 1.º lugar vai ser utilizado em formandos, para «pôr muitos jovens e pais a pensa-
todos os materiais promocionais que o IEFP, I.P. e as rem na vida». Na sua opinião, isto é suficiente para
entidades parceiras produzirem para promover e divulgar mudar a perceção da sociedade sobre a importân-
a sua atividade enquanto Parceiros de Excelência para a cia que este ensino tem. «Esta é uma das melhores
Aprendizagem. apostas que um jovem pode fazer», realça.
O secretário de Estado da Indústria explicou também
que há muitas empresas que estão disponíveis para
trabalhar nesta via de ensino, como a Google, e para
ceder equipamento aos centros de formação, sendo
das qualificações esteve sempre em destaque, que esta ponte poderia ser feita pelo Ministério da
sendo que as empresas que já se encontram em Economia. Por outro lado, João Vasconcelos referiu
Portugal realçaram a importância «dos quadros ainda que «temos de tornar a indústria sexy», fazen-
que vinham destes cursos». do com que os jovens queiram trabalhar neste setor.
O mesmo aconteceu no programa Indústria 4.0, Além de constituir o motor da economia, a indústria
ao qual aderiram quase 100 empresas e onde «o evoluiu muito nos últimos anos: «as fábricas não
ponto central foi claramente o ensino, as qualifica- têm nada a ver com o que eram antigamente».
ções e o papel destes centros para a indústria». «Portanto, há muito futuro para esta mão-de-obra,
A Indústria 4.0 consiste numa estratégia para a há muito futuro para este ensino.» E deixou ficar a
competitividade de Portugal num mundo digital. sugestão de se começar a fazer mais open days nas
«Quando falamos em Indústria 4.0 falamos na fábricas para os jovens ficarem a conhecer melhor
quarta revolução industrial, de uma mudança tec- esta realidade.
nológica em todos os modelos de negócio. Isto não O secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita,
vai lá só com formação profissional, mas também acrescentou ainda que «Portugal era até há pouco
com formação de ativos porque não nos podemos tempo o único país europeu que não fazia parte da
esquecer quem trabalha atualmente nas fábricas, Aliança Europeia para a Aprendizagem. Nos últimos
temos de os requalificar», adianta. anos, todos os países europeus construíram este
«Todos os países estão a aprender. Não há um GPS compromisso e Portugal havia ficado para trás, mas
para esta revolução industrial. O IEFP, como é a en- o processo de adesão de Portugal à Aliança Europeia
tidade com mais know-how na área da formação para a Aprendizagem é já uma realidade». E o res-
no Estado português, vai ter um papel relevantís- ponsável governamental acrescenta que «começar
simo» na qualificação de ativos, sendo este um a pôr fim à ideia de que este tipo de ensino é uma
enorme desafio. escolha de recurso é, atualmente, uma prioridade».

6 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar a aprendizagem 1

IEFP OFERECE CURSOS DE APRENDIZAGEM EM 40 O IEFP, I.P. dispõe de uma rede de 55 centros de formação
ÁREAS DE FORMAÇÃO E MAIS DE 100 PROFISSÕES equipados com máquinas, ferramentas e tecnologia que
pretendem reproduzir contextos reais de trabalho e oferece
Este debate foi realizado no âmbito das ações de reflexão cursos de aprendizagem em 40 áreas de educação e formação
para a valorização dos cursos de aprendizagem. Estes cursos e mais de 100 profissões.
surgiram em Portugal há mais de 30 anos, inspirados no A formação prática em contexto de trabalho, desenvolvida nas
sistema dual alemão e na apprentissage francesa. Lançados empresas, tem uma duração correspondente a 40% da duração
em 1984, os cursos de aprendizagem revestem- total da formação, distribuída, de forma crescente, ao longo de
-se de uma importância estratégica no quadro das políticas três períodos de formação.
de educação, formação e trabalho, uma vez que, sendo Esta organização da formação em alternância, na qual
um dispositivo profundamente implantado a nível regional se sustentam os cursos de aprendizagem, centra-se
e local, constituem uma alternativa ao sistema formal de na aquisição de conhecimentos, aptidões e atitudes
ensino. através do desenvolvimento de atividades de natureza
Estes cursos, da responsabilidade do IEFP, I.P., constituem predominantemente prática, conjugando os conhecimentos
uma modalidade de formação de dupla certificação, escolar teóricos com as competências desenvolvidas no posto
e profissional, conferindo simultaneamente uma habilitação de trabalho (learning by doing), e valoriza grandemente o
escolar de nível secundário (12.º ano de escolaridade) e uma contributo das empresas enquanto espaços de aprendizagem.
qualificação profissional de nível 4 do Quadro Nacional de As empresas assumem-se, assim, como parceiros ativos
Qualificações. e estratégicos na dinamização das respostas formativas
Estes cursos promovem a formação inicial de jovens com e contribuem para ajustar a formação às necessidades
idade inferior a 25 anos tendo em vista aumentar a sua do mercado de trabalho, bem como facilitar a integração
empregabilidade face às necessidades do mercado de profissional dos jovens qualificados.
trabalho e, além disso, possibilitam a progressão escolar e Em 2013 foram abrangidos em cursos de aprendizagem
profissional. Os cursos de aprendizagem têm uma duração dual 40 246 formandos, que representaram um volume de
de cerca de 3700 horas, o equivalente a dois anos e meio formação de 28 121 382 horas na totalidade das ações de
de formação, e os planos curriculares organizam-se em formação desenvolvidas pelos centros de emprego e formação
quatro componentes de formação: sociocultural, científica, profissional de gestão direta do IEFP, dos centros protocolares e
tecnológica e prática em contexto de trabalho. das entidades formadoras externas.
Em 2013, as dez áreas com maior número de formandos
correspondem, na sua totalidade, a áreas prioritárias: o
Comércio, com 6926 formandos, Hotelaria e Restauração
(6584), Eletricidade e Energia (4233), Ciências Informáticas
(3539), Metalurgia e Metalomecânica (2465), Construção e
Reparação de Veículos a Motor (2441), Cuidados de Beleza
(2404), Eletrónica e Automação (2268), Audiovisuais e
Produção dos Média (1598) e Saúde (1194).
Entre os anos de 2012 a 2014 registou-se um grande
crescimento do número de formandos nos cursos de
aprendizagem dual: 32 844 formandos em 2012, 40 246 em
2013 e 45 470 em 2014.
Este crescimento ganha maior importância se tivermos em
conta o aumento do desemprego jovem. Apesar do fenómeno
do desemprego qualificado ser uma nova característica da
atual crise do emprego de jovens, numa recessão económica
grave os jovens com menos instrução e baixas competências
enfrentam um maior risco de desemprego do que os mais
instruídos e qualificados porque lhes falta capital humano
específico à empresa e que as empresas consideram que vale a
pena reter.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 7
1 TEMA DE CAPA

PARCERIA COM O IEFP

O IEFP, como é a É UMA FÓRMULA DE SUCESSO


O grupo Salvador Caetano tem 35 anos de experiência no
entidade com mais ensino dual. Colabora com o IEFP, I.P. desde 1983, altura em
que tiveram início os primeiros cursos piloto de aprendi-
know-how na área zagem nas áreas da Construção e Reparação de Veículos
a Motor, nomeadamente mecatrónica automóvel, repara-
da formação no ção e pintura de carroçarias e recção oficinal. Atualmente
o grupo tem a decorrer 25 cursos de aprendizagem que
Estado português, abrangem 467 formandos nestas áreas. Em 2016 as em-
presas do grupo acolheram 420 formandos em for-
vai ter um papel mação prática em contexto de trabalho.
«A parceria com o IEFP é uma fórmula de
relevantíssimo na sucesso» na qual o grupo quer continuar
a apostar, como explica Paula Arriscado,
qualificação de diretora de Recursos Humanos do grupo

ativos, sendo este


Salvador Caetano, interveniente também
no debate promovido pelo IEFP. «Nós, neste

um enorme desafio
momento, temos 400 jovens em ensino apren-
dizagem no Grupo Salvador Caetano. Na “última
fornada”, de agosto de 2015 a agosto de 2016, saíram
138 jovens com o 12.º ano e com a certificação profissio-
nalizante e, desses jovens, cerca de 30% ficam no grupo
Salvador Caetano, os outros vão para as restantes empre-
sas e, ao mesmo tempo, posso dizer-lhe que estes jovens,
quando saem com o 12.º ano, têm emprego garantido.»
Paula Arriscado considera ainda que o segredo está na ne-

8 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar a aprendizagem 1

cessidade de dignificar este ensino porque, neste momen-


to, «onde sentimos mais dificuldades é nestas profissões:
nós precisamos de mais soldadores, de mais IEFP DEFINE LINHAS ESTRATÉGICAS PARA A
pintores, de mais carpinteiros», pelo que VALORIZAÇÃO DOS CURSOS DE APRENDIZAGEM
estes cursos têm uma grande corres-
pondência com aquilo que as empre- O Instituto de Emprego e Formação Profissional definiu
sas necessitam. recentemente várias medidas que visam aumentar a
Miguel Franco – convidado também qualidade, assim como a atratividade dos cursos de
para intervir no debate como repre- aprendizagem.
sentante da Schmitt+Sohn Elevadores Entre estas destaca-se a criação da Rede de Parceiros
– tirou um curso de aprendizagem há 30 de Excelência para a Aprendizagem, uma medida que tem
anos e afirma que o curso foi fundamen- como objetivo distinguir e divulgar as boas práticas das
tal para o seu percurso profissional. Começou empresas e outras entidades empregadoras que promovem
como formando na Schmitt+Sohn Elevadores, onde atual- a qualidade da formação prática em contexto de trabalho,
mente é administrador. a integração dos jovens no mercado de trabalho e que
Este ano a empresa conta com 17 formandos, sendo que assumem o compromisso de colaboração com o sistema de
cerca de 92% dos jovens costumam ficar a trabalhar na em- aprendizagem na disponibilização de recursos e atribuição
presa. Por isso, não hesita em sublinhar a importância des- de benefícios aos formandos.
tes cursos: «Têm-nos permitido recrutar jovens altamente A certificação como Parceiro de Excelência para a
qualificados para todas as nossas áreas da empresa, des- Aprendizagem consiste na atribuição de um certificado
de a engenharia, à produção, à montagem e ao serviço pós- de reconhecimento às entidades de apoio à alternância
-venda.» que, no âmbito dos cursos de aprendizagem, desenvolvem
A Schmitt+Sohn foi fundada em 1861, na Alemanha, e está formação prática em contexto de trabalho de elevada
há 60 anos em Portugal. Há mais de um século que con- qualidade, proporcionando condições de aprendizagem de
cebe, fabrica, monta, exporta e realiza a manutenção de referência, facilitadoras do desenvolvimento e aquisição
elevadores. de competências técnicas, relacionais e organizacionais
Com filiais em vários países europeus, emprega mais de fundamentais para o exercício da atividade profissional, bem
1360 pessoas e tem quatro unidades produtivas, duas na como contribuem para a empregabilidade dos jovens através
Alemanha e duas em Portugal, na zona do grande Porto, da contratação dos formandos na própria empresa/entidade
onde emprega cerca de 412 trabalhadores. Entre 2014 e empregadora após a realização da formação.
2015 abrangeu 46 formandos dos cursos de aprendizagem Neste momento, a Rede de Parceiros de Excelência para a
e tem, neste momento, formandos nas áreas de Gestão e Aprendizagem é constituída pelas seguintes entidades:
Administração, Metalurgia e Metalomecânica,
Eletrónica e Automação. CMP – Cimentos Maceira e Pataias, SA
Durit – Metalurgia Portuguesa do Tungsténio, LDA
ESTE CURSO MUDOU-ME A VIDA Famolde (Grupo GLN)
Helena Santos, ex-formanda do pri- Grupo Delta Cafés
meiro curso de aprendizagem de Grupo ID Logistics
Eletrónica, realizado há 30 anos, Hotel Tivoli Marina Portimão
no CINEL, confessou neste debate: Salvor Hotéis – Grupo Pestana SA
«Este curso mudou-me a vida.» O Schmitt+ Sohn Elevadores
curso de aprendizagem foi «muito im- Toyota Caetano Portugal, SA
portante porque não só me proporcionou Volkswagen AutoEuropa, Lda
uma formação que me permitiu ter um emprego
em que gostava de fazer aquilo que estava a fazer, como
ter um salário muito razoável. A outra importância vital foi
a de ter descoberto que gostava de física», sublinha.
Atualmente, Helena Santos é investigadora no Laboratório
de Instrumentação e Física Experimental de Partículas e
no CERN – Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, e é ainda
docente na Faculdade de Ciências de Lisboa. •

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 9
1 TEMA DE CAPA

Valorizar o sistema
de aprendizagem:
contributos para uma agenda
PAULO FELICIANO, VICE-PRESIDENTE DO IEFP, I.P. OPTICREATIVE

INTRODUÇÃO constitui causa relevante das elevadas taxas de desempre-


Trinta e três anos passados sobre a publicação do decreto- go juvenil que hoje se verificam». Mais adiante, é dito que «a
-lei que criou o Sistema de Aprendizagem em 29 de março de experiência tem demonstrado nos países em que funcionam
1984, o que mais se destaca, quando olhamos a evolução sistemas análogos, constitui um mecanismo indispensável
cumprida, é que o caminho percorrido tem feito prevalecer para assegurar uma mais fácil inserção e integração socio-
problemas e desafios que hoje se mantêm válidos, assim profissional de jovens» e é explicitado ainda «o objetivo fun-
como uma necessidade muito continuada de renovar o de- damental de assegurar a transição dos jovens do sistema
bate sobre os objetivos e as estratégias que melhor servem de ensino para o mundo do trabalho (...)». O mesmo texto
a valorização do sistema. É esse, no fundo, o desiderato que clarifica ainda que «o regime que através do presente di-
mais uma vez convocamos e é nessa corrente de reflexão ploma se institui distingue-se fundamentalmente do ensino
que procuro inscrever o breve contributo que neste artigo se técnico-profissional porque reconhece as empresas como
desenha. Que o mesmo possa perscrutar caminhos que se- espaço privilegiado de formação».
jam novos é uma aspiração normal, que a concretização de Ora, aqui se pontuam aspetos que permitirão situar o ponto
novas perspetivas conduza ao reforço do Sistema de Apren- de partida desta reflexão.
dizagem no contexto do Sistema Nacional de Qualificações Em primeiro lugar, é evidenciado no espírito do diploma fun-
uma aspiração legítima que só será viável se o debate for dador o posicionamento do sistema na resposta ao problema
participado e o esforço de ação for coletivo. do abandono escolar e, coincidentemente nessa ótica, en-
quanto percurso de segunda oportunidade. Consideremos, a
À PROCURA DO ESPÍRITO FUNDADOR este respeito, a seguinte passagem do referido preâmbulo:
A retrospetiva histórica não constitui objetivo deste artigo, «sendo grande o número daqueles que anualmente deixam
pelo que se faz prevalecer a opção de sublinhar, a traço gros- o sistema de ensino sem ter concluído a escolaridade obriga-
so, alguns atributos e problemas que têm acompanhado o tória e com o intuito de evitar a sua marginalização por um
Sistema de Aprendizagem ao longo destas três décadas. facto pelo qual nem sempre são responsáveis, estabelece-
O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 102/84, fundador do regime -se a possibilidade da criação de cursos de pré-aprendiza-
jurídico da «formação profissional inicial de jovens em regi- gem, que conferirão equivalência à escolaridade obrigatória,
me de aprendizagem», é, a este título, bastante ilustrativo. habilitação mínima para a frequência de cursos de aprendi-
Vejamos em que medida o preâmbulo do referido decreto-lei zagem». Desta estigmatização enquanto oferta de segun-
dá um precioso auxílio a este desiderato. Logo no primeiro da oportunidade nunca o sistema se libertou plenamente,
parágrafo, o referido preâmbulo deixa clara a intenção de constituindo, ao dia de hoje, um constrangimento, que o
vocacionar o Sistema de Aprendizagem para dar resposta ao tempo acentuará, à mobilização da procura. A redução do
problema da «existência de milhares de jovens que anual- abandono escolar precoce e o alargamento da escolaridade
mente deixam o sistema oficial de ensino, com ou sem a obrigatória são conquistas que, simultaneamente, reduzem
escolaridade obrigatória...». Ainda no mesmo primeiro pará- o espaço de intervenção na ótica da segunda oportunidade
grafo, é referido que a ausência de «preparação profissional, e a tornam mais difícil. Sem dúvida, o momento para datar a

10 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar o sistema de aprendizagem 1

ideia percursora e procurar uma abordagem renovada. Esta um reconhecimento adicional de valor a esta formação. Quer
será uma oportunidade que se coloca à valorização do siste- a organização do Sistema de Relações Laborais, cuja regu-
ma na justa medida em que impõem a perentória afirmação lação se apoia fortemente no diploma escolar e numa pro-
de uma escolha alternativa. gressiva, mas ainda insuficiente, distinção da aprendizagem
O espírito fundador afirma, ainda, a articulação entre as da profissão feita pela formação profissional por contrapon-
dimensões de formação profissionalizante e de formação to à construída pela experiência de trabalho, quer o quadro
geral que responde ao desiderato de proporcionar a esco- de compromisso das empresas no desenvolvimento e fun-
laridade obrigatória. Assim era à data da criação do sistema cionamento do Sistema de Aprendizagem, limitam, a meu
através da pré-aprendizagem – que permitia a atribuição da ver, a robustez desta tese. A ligação do sistema ao diploma
escolaridade obrigatória –, assim é hoje em dia com a du- escolar funcionou, até certo ponto, como uma cláusula de
pla certificação ao nível do 12.º ano. Vários têm sublinhado salvaguarda para uma disposição de modos de organizar e
esta ambivalência de propósitos como uma vulnerabilidade de pôr em prática que se caraterizam por alguma tibieza na
na afirmação dos cursos de aprendizagem por diminuir a dinâmica de relação com o mercado de trabalho.
expressão da formação profissional e, em consequência, a
eficácia na disponibilização de quadros médios qualificados ALGUMAS PISTAS ADICIONAIS
para as empresas. Assim seria se as trajetórias de inserção PARA ENQUADRAR A REFLEXÃO
no mercado de trabalho convocassem a tradição de serem Generalizado o 12.º ano como patamar mínimo de escolari-
fortemente apoiadas pela qualificação de natureza profis- zação, este debate afigura-se algo datado, surgindo como
sional e, sobretudo, se a participação e compromisso das fundamental não hipotecar os termos de participação do
empresas com o sistema fosse de maior monta e garantisse Sistema de Aprendizagem no quadro do Sistema Nacional de

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 11
1 TEMA DE CAPA

Qualificações e, de forma incisiva, fortalecer as suas ânco- foram introduzidas, sem que se possa dizer que muito de
ras na relação com as empresas e a promoção da inserção substancial tenha sido alterado. Com efeito, a descontinua-
de quadros qualificados no mercado de trabalho. ção da aprendizagem no Nível 2 de Qualificação trazida pelo
Outra referência relevante inscrita na génese da medida e Sistema Nacional de Qualificações (referido ao 9.º ano de
que o tempo tem consolidado diz respeito à forma como dife- escolaridade), a referenciação dos referenciais de formação
rencia esta oferta formativa do ensino técnico-profissional, ao Catálogo Nacional de Qualificações com a revisão curri-
atribuindo ao facto de a aprendizagem reconhecer as empre- cular que se lhe associou e a extensão da carga horária da
sas como espaço preferencial de formação o seu principal formação em contexto de trabalho (Portaria 1497/2008),
atributo distintivo. Ora, aqui se percebe que estava mais do para citar algumas das alterações mais emblemáticas, não
lado da diferenciação pedagógica do que da agilização da in- transformaram significativamente o quadro de partida.
serção no mercado de trabalho (através da construção de Ao longo do tempo tem prevalecido um modelo aberto da or-
trajetórias de transição mais reguladas e eficazes) a afirma- ganização da oferta que inclui a rede de Centros de Gestão
ção identitária do Sistema de Aprendizagem. Assim tem sido, Direta do IEFP, entidades formadoras externas e a Rede de
de facto. Poderá afigurar-se resumido enquanto elemento Centros de Gestão Participada que, pela sua acrescida pro-
identitário, mas não deixa de ser relevante. ximidade às associações empregadoras e aos setores de
Esta necessidade de distinção pressupõe, ao mesmo tem- atividade, representam um potencial, aquém de estar plena-
po, um fundo algo conflitual na competição entre sistemas, mente cumprido, de reforço da ligação às empresas.
o educativo e o de formação profissional, que o debate téc- Em que situação se encontra o sistema hoje em dia? No mes-
nico, a ação administrativa, a prática gestionária e, por ve- mo plano de ambivalência que marca a sua génese, sem que
zes, o discurso político se têm encarregado de perpetuar. isso questione a coerência da sua identidade e a relevância
Uma competição que se centra mais em reivindicar espaços do seu contributo. Há, porém, transformações relevantes de
de atuação do que em afirmar os méritos da estratégia. Por contexto e dificuldades que, pela inércia própria do que não é
isso, uma competição que resume em vez de alargar. Resu- resolvido, vão ganhando peso. Vejamos algumas delas.
me porque afunila vias de aprendizagem ao modelo escolar Da gestão do dia a dia, chega a notícia de um confronto
da formação, resume porque limita a escolha e presume que crescente com a dificuldade de mobilizar formandos que
a diferença de estratégias não traz valor, resume porque é, também, a expressão de um confronto com uma nova
penaliza a combinação de recursos e competências. Assim, postura das escolas na resposta ao cumprimento da esco-
deixa de alargar os objetivos da educação profissional, os laridade obrigatória que, muitas vezes, sobrepõe o interesse
modos de a construir e o quadro de participação. corporativo da instituição escola ao da liberdade individual
De todas as escolhas, a abordagem que procura resumir as dos jovens. Este é um problema que afeta, também, o ensi-
alternativas é a mais pobre. Será no fundo esse racional, de no profissional e, sobretudo, aquele que é feito pelas esco-
valorização da diversificação estratégica, o que justifica a las profissionais. Do dia a dia chega, também, a luta diária
generalização de vias alternativas de educação e formação contra taxas de abandono que se avaliam como elevadas e
nos sistemas de educação da maior parte dos países, no- a desigualdade de recursos pedagógicos que são afetos à
meadamente os que se inscrevem no espaço da UE e os que rede no seu conjunto.
pertencem à OCDE. Desiguais são, também, as taxas de empregabilidade dos di-
Quanto à forma de participação das empresas no sistema plomados no sistema, o que puxa a média para valores que
e à regulação do modo como esta se processa, a legislação convocam o esforço de melhorar.
fundadora não aprofunda o tema, confiando à inserção for- Do plano de gestão mais estratégico, chega a preocupação
mativa em contexto empresarial a virtude primeira, e sufi- com o reforço da eficácia da formação, da sua adequação às
ciente, deste regime de formação. necessidades das empresas, da articulação da rede com a
Em síntese, a resposta ao abandono escolar precoce, a ar- rede de oferta do ensino profissional, da qualidade da forma-
ticulação entre uma dimensão de formação profissional ção em contexto de trabalho, da participação das empresas
específica com uma dimensão de formação de base, a va- e, mais amplamente, da valorização do contributo dos cur-
lorização da formação na empresa como estratégia de dife- sos de aprendizagem no contexto do Sistema Nacional de
renciação pedagógica fortemente alinhada com a procura de Qualificações.
uma maior eficácia na promoção da inserção profissional e Estes problemas devem inspirar a reflexão e o debate públi-
uma insuficiente estratégia mais integrada de ligação ao (e co sobre o futuro do Sistema de Aprendizagem. As propostas
participação do) tecido empresarial são atributos que suma- que a seguir sumariamente se enunciam apenas constituem
riam a identidade fundadora do Sistema de Aprendizagem. um breve contributo para a construção de uma agenda de
De então até hoje, várias alterações, com rosto de acertos, valorização do sistema.

12 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar o sistema de aprendizagem 1

A articulação entre as dimensões


de formação de base e de formação
profissional não devem representar uma
dualidade disjuntiva mas, antes, uma
forma de melhor combinar as diferentes
dimensões da competência para agir em
contexto profissional e social

CONTRIBUTOS PARA UMA AGENDA pelas empresas e outros empregadores estará longe de es-
Consideremos, primeiro, alguns dos esteios axiológicos que tar cumprida.
sustentam as propostas apresentadas. O aprofundamento desta relação com o mercado de trabalho,
O atributo pedagógico, ou seja, a diversificação da estratégia que constituímos como fundamento da estratégia de afirma-
de formação que procura alargar as vias para atribuição de ção do sistema, remete, também, para a própria dinâmica
significado à experiência de aprendizagem continua a cons- das relações laborais. Com efeito, construir uma ligação
tituir um ativo do sistema. Nessa medida, o contributo que mais forte com o mercado de trabalho contempla a opção
dá para diversificar as vias de conclusão do ensino secun- de reforçar a eficácia das trajetórias de inserção no mercado
dário constitui uma valia a preservar e, sobretudo, a quali- de trabalho. Este desiderato beneficia de um acrescido reco-
ficar no contexto da estratégia de diversificação das vias de nhecimento dos cursos de aprendizagem enquanto via de
conclusão do ensino secundário e de promoção do sucesso qualificação profissional, mas pode, também, apontar para
educativo. a possibilidade de regular a sua inclusão na esfera das rela-
Nesta ótica, a articulação entre as dimensões de formação ções laborais. Os termos que regulam o contrato de aprendi-
de base e de formação profissional não devem representar zagem denunciam uma relativa neutralidade no que a esta
uma dualidade disjuntiva mas, antes, uma forma de melhor dimensão se refere, em pouco se distinguindo do contrato
combinar as diferentes dimensões da competência para de formação.
agir em contexto profissional e social. Em suma, as empresas acabam por não encarar suficiente-
Os fundamentos da diferenciação que o Sistema de Apren- mente o sistema como coisa sua. Esta perspetiva é sinteti-
dizagem propõe beneficiam, como é claro da experiência de zada por José Cardim da seguinte forma: «o sistema enca-
outros países, de uma mais estreita relação com o mercado minhou-se, na sua gestão, objetivos e inspiração, para fora
de trabalho e, em particular, com as empresas e outros em- das necessidades e preocupações da indústria e dos peque-
pregadores. Na verdade, o conceito de aprendizagem remete nos negócios, tornando-se um outro sistema de ensino téc-
para o cumprimento de rito iniciático do mercado de traba- nico».1 Não havendo volta a dar à importância de o ter – o
lho, isto é, o de aprender com os outros que já exercem os valor escolar – haverá, pois, que dar a volta à forma de o ver
meandros de uma profissão. Fá-lo, porém, num contexto pe- – afastando o estigma do refúgio e afirmando a excelência
dagógico formal e regulado. Nessa medida, a aprendizagem da componente profissionalizante.
é, enquanto dispositivo de formação, um referencial peda- Do dito ressaltam três planos em que, isolada ou combina-
gógico e didático que tem no centro, mais do que o contexto damente, poderá assentar uma estratégia de valorização do
de trabalho, a empresa. Não é semanticamente indiferente Sistema de Aprendizagem, ou seja, consolidação do atributo
esta distinção. No contexto de trabalho referencia-se um
modo experiencial de aprender, na empresa referencia-se, 1
Cardim, José, Do Ensino Industrial à Formação Profissional: As políticas públi-
além disso, uma proximidade acrescida aos sistemas pro- cas de qualificação em Portugal, Universidade Técnica de Lisboa, Instituto de
dutivos e ao posto de trabalho. Esta apropriação do sistema Ciências Sociais e Políticas, 2005.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 13
1 TEMA DE CAPA

a qualidade do projeto formativo é uma forma incontornável


de o conseguir.

A aprendizagem
Qualificar as estruturas e recursos formativos e assegurar
que na rede não existem desvios significativos a um padrão

tem na articulação médio elevado constitui uma opção de base para nivelar a
qualidade da formação.

com o mercado Complementarmente à valorização dos recursos, importa


garantir sistemas de controlo de qualidade, no contexto da
de trabalho e as gestão das entidades formadoras e, mais especificamente
dos projetos formativos adequados à ambição de excelên-
empresas e outros cia. Valorizar a rede de Centros de Gestão Direta e de Gestão
Participada, dotados de recursos que comummente fazem
empregadores que a diferença, e as Entidades Parceiras cujos projetos forma-
tivos se afirmam pela qualidade, constitui a opção válida
lhe dão vida a sua neste âmbito. O mesmo se aplica às entidades de apoio à
alternância.
principal natureza A aposta na eficácia dos dispositivos e práticas de orien-
tação representa um domínio complementar de resposta.
distintiva A prevalência do interesse, sobre a forma de necessidade,
mas também de motivação, dos jovens e a capacidade de os
conhecer são elementos essenciais desta aposta. Esta não é
uma área em que o IEFP possa agir sozinho uma vez que são
muitos os potenciais formandos do Sistema de Aprendiza-
gem que realizam nas escolas o seu processo de orientação.
de diversificação pedagógica no contexto do Sistema Nacio- Importante seria que o espírito de serviço ao interesse maior
nal de Qualificações, reforço da vinculação da aprendizagem dos jovens e de competência técnica no processo prevale-
ao universo das empresas ou, dito de outro modo, a assun- cessem, independentemente do espaço e dos modos que
ção por parte destas de um sistema de formação que tam- sustentam as práticas de orientação.
bém é seu e, por fim, o desenvolvimento de pontes para o Seria também fundamental que os processos de diagnósti-
mercado de trabalho apoiadas pela estratégia de regulação co e orientação se apoiassem em competências multidisci-
das relações laborais. plinares que, colaborativamente, mais eficazmente podem
Estas são, por assim dizer, as premissas de uma estratégia. responder ao esperado. A Orientação Técnica do IEFP que,
Vejamos agora que tipo de apostas lhe poderão dar corpo, há cerca de um ano, aprovou a «Metodologia para a ativação
subordinando o seu enunciado a três eixos motrizes no con- dos públicos da aprendizagem e constituição de grupos de
texto da gestão do sistema: o da governação, o da partici- formação», procura dar um passo neste sentido (não apro-
pação e o da regulação. fundarei os detalhes na medida em que pode ser consultada).
A qualificação dos formadores e tutores, com abordagens
ATRAVÉS DA GOVERNAÇÃO, próprias para cada um dos casos, é um incontornável ele-
FORTALECER A CREDIBILIDADE DO DISCURSO mento de aposta. À razão primeira, que é a de pugnar pela
E A ATRATIVIDADE DA OFERTA excelência das práticas pedagógicas, junta-se uma segunda
Resgatar os cursos de aprendizagem do estigma de oferta que remete, naturalmente, para a importância de afirmar a
de segunda oportunidade que, em certa medida, penaliza o natureza diferenciadora do projeto pedagógico. Isso exige
seu reconhecimento não encontra solução óbvia e tem no que a pedagogia e as práticas didáticas que servem os cur-
paradigma fundador uma espécie de predeterminação es- sos de aprendizagem cumpram o objetivo de diversificação,
tratégica. Reposicionar, selecionando, o público-alvo do sis- apoiando-se em metodologias ativas e de projeto e valori-
tema não será eticamente curial, atendendo aos objetivos zando adequadamente o diferencial proporcionado pelo con-
de política pública a que o mesmo se subordina, nem ope- texto de aprendizagem. A estratégia que o IEFP tem vindo
racionalmente viável. Assim, a opção parece ter de ser feita a desenvolver neste domínio explicita bem a forma como
pela inversão dos termos da equação, ou seja, em vez de se valorizamos esta linha de aposta. São vários os referenciais
propor escolher os atributos que reconhece, a aprendizagem de formação contínua de formadores que temos vindo a de-
terá de ser escolhida pelos atributos que possui. Fortalecer senvolver tendo em vista consolidar uma dinâmica mais viva

14 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Valorizar o sistema de aprendizagem 1

e compreensiva de qualificação dos formadores do sistema sistema. Garantir uma maior implicação das empresas pa-
de formação profissional. Do mesmo modo, está planeado rece requerer estratégias complementares, de maior proxi-
para este ano, e já em curso, um forte investimento na for- midade, para a qual o IEFP e os seus principais parceiros no
mação de tutores. sistema poderão dar um relevante contributo.
Também o planeamento estratégico, porque dá resposta a A participação faz-se, também, ao nível da organização da
necessidades identificadas como prioritárias, e a articulação formação. Distinguir as melhores práticas e promover o en-
da rede de oferta são elementos fundamentais da estraté- volvimento das empresas com o sistema constitui uma for-
gia. Neste caso, a parceria com o Ministério da Educação e a ma de o fazer. Foi nessa perspetiva que se criou a Rede de
sua rede, seja das escolas públicas seja das escolas profis- Parceiros de Excelência da Aprendizagem, que representa
sionais, é incontornável. Aqui se aspira a um bem maior do uma forma de distinguir as empresas que se destacam pela
que o de uma estratégia concertada, o que já não será pou- sua colaboração no Sistema de Aprendizagem e, simultanea-
co, posicionando-se, também, o objetivo de conseguir uma mente, dar visibilidade a um espaço de colaboração que se
estratégia conciliada na complementaridade. O Sistema de pretende mais participado. Esta é uma forma de o procurar
Antecipação de Necessidades de Qualificações, coordenado fazer. Ao mesmo tempo, entendemos que este espaço de
pela Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profis- participação se pode diversificar e densificar. De que modo?
sional, I.P. (ANQEP) constitui-se como instrumento relevante Promovendo um maior compromisso das empresas com o
desta aposta e a abordagem local uma prioridade que pro- formando, por um lado, e estimulando para que a aprendi-
curamos fomentar. zagem se constitua gradualmente como a etapa primeira
Naturalmente, além de construir um sistema que aspira a das carreiras profissionais. No que respeita ao comprome-
ser de excelência, importa comunicar a proposta e a sua va- timento das empresas com a formação, será plausível pro-
lia. Sendo este um processo contínuo e que se renova, pode curar que estas possam reforçar o apoio dado aos forman-
justificar momentos de maior esforço com a realização de dos, compensando deste modo o contributo que estes
campanhas de comunicação que melhor deem a conhecer também dão à empresa. A atribuição de pequenas bolsas
os cursos de aprendizagem e apoiem o esforço dos vários de aprendizagem representaria uma forma de sinalizar a re-
operadores de formação do sistema no esforço de angaria- lação preferencial do sistema com o tecido produtivo e de
ção de formandos. potenciar a sua atratividade. No que diz respeito à articula-
ção com a gestão de carreiras, a base setorial e a negociação
ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO, ESTREITAR coletiva podem constituir espaços de pilotagem de alguma
A LIGAÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO inovação a este nível.
Promover a apropriação do Sistema de Aprendizagem pelas
empresas e garantir um reconhecimento maior enquanto ATRAVÉS DA REGULAÇÃO, AFIRMAR NOVAS
instrumento de qualificação para o mercado de trabalho re- SOLUÇÕES E POTENCIAR O OBJETIVO DE INSERÇÃO
quer, como é evidente, uma acrescida participação. Esta par- NO MERCADO DE TRABALHO
ticipação deve ser assegurada diretamente pelas empresas São vários os domínios em que a consolidação do Sistema
mas, também, pelos parceiros sociais. São vários os níveis de Aprendizagem pode convocar a utilidade de alterar o
em que esta pode ocorrer. quadro de regulação do sistema. Procuramos sinalizar aqui
O plano da definição dos referenciais de qualificação é, cer- alguns desses domínios, constituídos como hipóteses de
tamente, um dos mais relevantes. Os Conselhos Setoriais trabalho que um debate amplo e aprofundado deve permitir
para a Qualificação que suportam a dinamização do Catá- confirmar ou infirmar.
logo Nacional de Qualificações assumem a linha da frente Em primeiro lugar, importa reconhecer que o espaço da
desta preocupação. Contudo, haverá que reconhecer que formação profissional é, também, o espaço da educação
o quadro de participação que assegura é insuficiente para pós-secundária. É este o espaço do Nível 5 de Qualificação.
que possamos afirmar que os empregadores se mobilizam A escolaridade obrigatória cumpre-se ao fim de doze anos
e reconhecem esse espaço de participação como seu, va- de escolaridade e, desejavelmente, do ensino secundário.
lorizando-o pela ação. Não se trata de encontrar novas so- Esta é uma etapa que é marcada pelo alargamento das es-
luções institucionais mas, antes, de encontrar estratégias colhas: a inserção no mercado de trabalho, a realização de
que consigam ser mais efetivas na ativação das empresas. uma formação complementar e o prosseguimento de estu-
Propor soluções que respondam à preocupação de adequar dos para o ensino superior. A realização de uma formação
os referenciais de qualificação às necessidades de qualifi- complementar, designadamente a que se enquadra no Nível
cações e competências impostas pelos sistemas produtivos 5 de Qualificação, constitui uma estratégia para conciliar a
será uma relevante forma de potenciar o reconhecimento do opção de manter em aberto a possibilidade de prosseguir

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 15
1 TEMA DE CAPA

estudos com a opção de procurar uma inserção qualificada Do mesmo modo, será possível aprofundar a possibilidade
no mercado de trabalho através da obtenção de uma espe- de quando a aprendizagem se refira a qualificações de nível
cialização. Nesta ótica, fará todo o sentido que os cursos de pós-secundário se estreita a articulação entre esta e a figu-
aprendizagem possam desenvolver-se, também, no Nível 5 ra dos estágios profissionais que, em boa medida, pretende
de Qualificação, até porque poderão cumprir melhor do que cumprir uma função qualificante que apoie a transição dos
qualquer outra modalidade a promoção de uma inserção jovens para o mercado de trabalho. Esse será, também, o de-
qualificada no mercado de trabalho, beneficiando do regime siderato da aprendizagem. Havendo relevante sobreposição
de alternância. de propósitos no caso dos jovens com o ensino secundário,
Naturalmente, a eventual opção de alargar a aprendizagem não deixaria de ser uma valia a possibilidade de obtenção de
ao Nível 5 imporia exigências novas do ponto de vista da um nível de qualificação adicional por via da associação en-
definição dos referenciais de qualificação que suportam a tre estas duas figuras.
oferta formativa neste nível. Aqui se justificaria o desenho O reforço da flexibilidade curricular é, também, uma linha
de projetos que, viabilizando uma reforçada participação das de aposta que se inscreve dentro deste plano de atuação,
empresas, possibilitassem, também, a renovação do leque sendo que o objetivo de reforçar a adequação da resposta
de qualificações existente neste nível. Ora, convocar esta ao mercado de trabalho não deve hipotecar os principais
preocupação não deixa de servir de mote para referir que elementos de coerência que sustentam o Sistema Nacional
fará sentido equacionar que opções se colocam ao nível do de Qualificações e o Catálogo Nacional de Qualificações, em
quadro de regulação do Sistema Nacional de Qualificações, particular a valia de disponibilizar qualificações de banda
designadamente ao nível dos Conselhos Setoriais para a larga que são transversais a diferentes estratégias de ob-
Qualificação, para intensificar e qualificar a participação dos tenção da qualificação. •
parceiros sociais e dos empregadores e trabalhadores que
estes representam.

A FINALIZAR

Sustentar uma presença relevante tégia que, em vez de conciliar, se de qualificações intermédias da
do Sistema de Aprendizagem no proponha promover uma escolha nossa economia, constitui uma
contexto do Sistema Nacional de entre a opção de dupla qualifi- opção privilegiada.
Qualificações exige que se invista cação ou uma opção que ponha A agenda que permitirá cumprir
na procura de caminhos que toda a enfâse nos desígnios, esse desígnio exige debate e
permitam atribuir-lhe mais valia supostamente mais específicos reflexão aprofundada. Natural-
e reconhecimento. A escala do (ou estreitos) da formação para a mente, nem a reflexão exigida
Sistema, medida pelo número de profissão. Sem prejuízo desta visão nem o enunciado das apostas
formandos, de entidades formado- de integração entre domínios de que poderá dar corpo a tal estra-
ras e de entidades enquadradoras competências e de certificação, a tégia poderão caber num artigo
da formação não é uma condição aprendizagem tem na articulação desta natureza e dimensão. Por
primeira da sua afirmação, mas com o mercado de trabalho e as essa razão, o que aqui se diz
perdê-la tornará, certamente, empresas e outros empregadores constitui um exercício de reflexão
mais difícil mover os recursos e que lhe dão vida a sua principal breve, incompleto e, obviamente,
a atenção que uma agenda de natureza distintiva. Reforçá-la, submetido ao debate, esperando
valorização requerem. não só pela via pedagógica, mas, com as críticas e as propostas
A escolha do caminho a percorrer também, da valorização da ótica que possa suscitar contribuir
não deverá, pois, abdicar de ga- de inserção qualificada no merca- para apoiar as escolhas que
rantir essa relevância, assim como do de trabalho e, simultaneamen- importa fazer.
dificilmente potenciará uma estra- te, da resposta às necessidades

16 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
TEMA DE CAPA 1

AS OFERTAS DE DUPLA
CERTIFICAÇÃO
E O SEU CONTRIBUTO PARA
A EMPREGABILIDADE DOS
JOVENS EM PORTUGAL

ANA CLÁUDIA VALENTE,


VOGAL DO CONSELHO DIRETIVO DA ANQEP, I.P.

OPTICREATIVE

INTRODUÇÃO
Com este artigo pretende-se discutir o contributo das
ofertas de dupla certificação para a empregabilidade dos
jovens.
Com um crescimento muito significativo em Portugal, as
ofertas de dupla certificação têm vindo a configurar uma
via de ensino secundário cada vez mais expressiva e for-
temente indutora da progressiva generalização do ensino
secundário entre as gerações mais novas. A sua afirmação,
embora seja devedora da expansão que registou, deve-se
também à valorização crescente de percursos de qualifi-
cação inicial de jovens com características distintas e com
uma forte ligação ao trabalho.
As ofertas de dupla certificação têm vindo a proporcionar
uma vantagem significativa na empregabilidade, mesmo
num contexto de elevado desemprego jovem. Neste sen-
tido, apresentam-se várias evidências que mostram que,
no que respeita à inserção no mercado de trabalho, os jo-
vens diplomados da via de ensino secundário profissional

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 17
1 TEMA DE CAPA

GRÁFICO 1. PERCENTAGEM DE ALUNOS JOVENS MATRICULADOS EM VIAS PROFISSIONALIZANTES


DO ENSINO SECUNDÁRIO, NO CONTINENTE (2000/2001 A 2014/2015)

2000/01 2002/03 2004/05 2006/07 2008/09 2010/11 2012/13 2014/15


50
42,6 42,9 44,5 44,8
42,1 43,5
45 40,5
40 34,8
% 32,4 32,7 33,1
35
29,2 29,5 29,6
30 28,4

25
Jovens em vias profissionalizantes*

Nota: * São consideradas as seguintes modalidades: cursos tecnológicos (ensino regular); cursos de artes visuais e audiovisuais e cursos de
dança (ensino artístico especializado em regime integrado – regular); cursos profissionais; cursos de aprendizagem; cursos vocacionais; cursos
CEF; 10.º ano – via profissionalizante.
Fonte: DGEEC – Dados atualizados em outubro de 2016.

tendem a encontrar trabalho mais rapidamente do que os dade mínima obrigatória e da expansão considerável das
diplomados do ensino secundário geral. Por outro lado, as ofertas de dupla certificação. A taxa real de escolarização
qualificações intermédias têm vindo a conquistar espaço no ensino secundário progrediu favoravelmente – 74,6%
num mercado de trabalho ainda muito polarizado, o que é em 2014/2015 face a 62,5% em 2000/20011 –, sendo que
da maior importância para o progresso económico e social o sucesso educativo alcançado neste nível de ensino foi
e que se traduz num crescimento potencial de emprego, também muito melhorado: a taxa de conclusão passou de
estimado para a próxima década, muito considerável. 48,8% em 2000/2001 para 70,1% em 2014/2015.2
Apresentam-se, por fim, alguns dos principais desafios A expressão que as vias de ensino secundário profissiona-
suscitados. A necessidade de tornar as ofertas de dupla lizante assumiram nestes últimos anos, sobretudo a partir
certificação, e as qualificações que produz, mais relevan- da expansão, para a rede de escolas públicas, dos cursos
tes tendo as expetativas, as motivações e as necessidades profissionais, quer traduzida em número de alunos abran-
das novas gerações, os novos requisitos da empregabilida- gidos, quer no seu crescimento muito significativo a par-
de e as qualificações e competências mais procuradas. tir de 2005/2006, terá contribuído não apenas para uma
A necessária valorização das aprendizagens em contexto significativa alteração na distribuição dos alunos entre en-
de trabalho que, embora inerentes à organização curricular sino geral e ensino profissionalizante, mas também para
das ofertas de dupla certificação, requerem uma estrutura- uma acrescida capacidade de captação de mais jovens
ção acrescida. E ainda a necessidade de avaliar e divulgar, para o ensino secundário.
de forma sistemática e fiável, o contributo destas ofertas No ano letivo 2014/2015, em Portugal, 156 726 dos 360
para a empregabilidade dos jovens sem, contudo, deixar de 787 alunos jovens matriculados no ensino secundário en-
proporcionar perspetivas reais de prosseguimento de es- contravam-se em cursos de dupla certificação, o que repre-
tudos para os seus diplomados. senta uma percentagem de 43,4% do total de alunos jovens
matriculados neste nível de ensino (muito semelhante ao
AS OFERTAS DE DUPLA CERTIFICAÇÃO valor 43,5% registado no Continente, cf. Gráfico 1).
EM PORTUGAL O peso de alunos em ensino secundário profissionalizante,
A par da crescente valorização do investimento em edu- que em 2000/2001 era de 28,4%, aumentou significativa-
cação pelas famílias e pelos jovens, o aumento muito con- mente, chegando a 43,5% em 2014/2015, um valor muito
siderável que se registou nas qualificações das gerações mais próximo da média da UE28 (50%).
mais novas beneficiou amplamente, entre outros fatores, O Gráfico 2 mostra a evolução, na última década, do nú-
da melhoria dos níveis de eficácia e eficiência do próprio mero de alunos jovens inscritos no ensino secundário
sistema educativo em Portugal, do aumento da escolari- por tipologia de curso. Os cursos científico-humanísticos

18 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
As ofertas de dupla certificação e o seu contributo
para a empregabilidade dos jovens em Portugal 1

GRÁFICO 2. ALUNOS JOVENS MATRICULADOS NO GRÁFICO 3. ALUNOS JOVENS MATRICULADOS


ENSINO SECUNDÁRIO, POR TIPOLOGIA DE CURSO, EM VIAS PROFISSIONALIZANTES DO ENSINO
NO CONTINENTE (2005/2006 A 2014/2015) SECUNDÁRIO, POR TIPOLOGIA DE CURSO (%),
NO CONTINENTE (2014/2015)
250 000
Profissional
200 000 72,58%

150 000

100 000

50 000 Aprendizagem
21,79%
000
Vocacionais 1,36%
05/06

06/07

07/08

08/09

09/10

10/11

11/12

12/13

13/14

14/15 Artístico especializado CEF 0,25%


(regime integrado)
Cursos científico-humanísticos 1,51% Tecnológico 2,51%
Cursos Vocacionais
Nota: No ensino artístico especializado em regime integrado só são
Ensino Artístico Especializado considerados os cursos de artes visuais e audiovisuais e os cursos de dança.
Cursos Tecnológicos Fonte: DGEEC – Dados atualizados em outubro de 2016.

Cursos Profissionais
Cursos Educação e Formação
Cursos de Aprendizagem

Fonte: DGEEC, Estatísticas da Educação. Tratamento da ANQEP

continuam a assumir uma expressão muito elevada, na or- A EVOLUÇÃO DAS QUALIFICAÇÕES DOS JOVENS
dem dos 200 mil alunos/ano, mantendo-se praticamente E O CONTRIBUTO DAS OFERTAS DE DUPLA
estável ao longo deste período, o que contrasta com o dina- CERTIFICAÇÃO NO ENSINO SECUNDÁRIO
mismo, ainda que muito diferenciado dos cursos de dupla Se atendermos à evolução de três principais indicadores
certificação. de educação dos jovens, conforme mostra o Gráfico 4, é
Entre estes sublinha-se a expansão significativa dos evidente a melhoria que temos vindo a fazer na qualifica-
cursos profissionais, sobretudo a partir de 2005/2006, ção das gerações mais novas e em progressiva conver-
chegando a cerca de 115 mil alunos matriculados em gência com as metas da Estratégia Europa 2020, nomea-
2014/2015, ou seja, três vezes mais do que o número de damente no que respeita à redução do abandono precoce
alunos que registava dez anos antes. de educação e formação e na percentagem de população
Os cursos de aprendizagem ministrados pelos Centros de entre os 30 e 34 anos com ensino superior ou equivalente.
Emprego e Formação Profissional são a segunda modalida- Em 2000, 43,6% dos jovens entre os 18 e 24 anos tinham
de de cursos de dupla certificação mais representativa em deixado de estudar sem completar o ensino secundário em
Portugal e que a partir de 2011/2012 viu crescer o número Portugal. Em 2016 este valor é de 13,6%, bastante mais
de jovens inscritos para valores na ordem dos 33 mil alu- próximo da meta definida pela estratégia europeia de re-
nos/ano. duzir, a pelo menos 10%, até 2020. Também o indicador de
O predomínio destas duas tipologias de cursos na oferta de qualificações superiores entre a população dos 30 aos 34
dupla certificação do ensino secundário no Continente é anos teve uma evolução assinalável, passando de apenas
claramente evidente no Gráfico 3. Os cursos profissionais, 11,3% em 2000 para 34,3% em 2016. O valor registado em
com 114 848 alunos em 2014/2015, representavam 72,6% 2016 para o conjunto da UE28 é de 39%, já muito próximo
dos alunos jovens matriculados em cursos de dupla certi- da meta de 40% para 2020.
ficação e os cursos de aprendizagem, com 33 030 alunos, Naturalmente que a percentagem de jovens que tem como
representavam 21,8%. nível de educação mais elevado pelo menos o ensino se-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 19
1 TEMA DE CAPA

GRÁFICO 4. EVOLUÇÃO DOS INDICADORES DE GRÁFICO 5. JOVENS (20-24) COM PELO MENOS
EDUCAÇÃO DOS JOVENS (%), PORTUGAL (2000 A 2016) O ENSINO SECUNDÁRIO EM PORTUGAL E JOVENS EM
VIAS PROFISSIONALIZANTES DO ENSINO SECUNDÁRIO
90,0 (%) NO CONTINENTE (2000 A 2014)
80,0
80,0
70,0
70,0
60,0
50,0 60,0

40,0 50,0
30,0 40,0
20,0 30,0
10,0
20,0
0,0
10,0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016

0,0

2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Jovens (20-24)
com pelo menos o ensino secundário
População (30-34)
com ensino superior ou equivalente Jovens (20-24)
com pelo menos o ensino secundário
Jovens (18-24) com abandono
precoce de educação e formação Jovens em vias profissionalizantes

Fonte: Eurostat. Taxa de abandono precoce de educação e formação (18-24 Fonte: Eurostat, Jovens (20-24) com pelo menos o ensino secundário: última
anos): última atualização 28.02.17. População (30-34) com ensino superior atualização 12.04.17. Acedido a 23.04.17. DGEEC, Jovens em vias profissionali-
ou equivalente: última atualização 28.02.17. Jovens (20-24) com pelo menos zantes: dados atualizados em outubro de 2016.
o ensino secundário: última atualização 12.04.17. Acedido a 23.04.17.

cundário resulta e determina o desempenho dos dois cente do ensino secundário entre os jovens. Note-se que
outros indicadores. A generalização progressiva deste o coeficiente de correlação entre estes dois indicadores é
patamar de qualificação entre as gerações mais jovens, de 0,928 e que um modelo de regressão linear revela uma
como patamar mínimo fundamental à participação social, elevada capacidade explicativa do aumento do número de
à aprendizagem ao longo da vida e à empregabilidade, é jovens inscritos em cursos de dupla certificação, neste pe-
determinante. Por outro lado, condiciona a própria progres- ríodo, no desempenho positivo que temos vindo a eviden-
são académica destas gerações e a disponibilidade futura ciar na qualificação da população jovem em Portugal (R2
de uma população ativa com qualificações superiores. Se = 0,860).
em 2000 apenas 43% dos jovens em Portugal, entre os 20 No entanto, embora este seja um progresso muito positivo,
e 24 anos, tinham pelo menos ensino secundário, em 2016 está ainda aquém dos 83% de jovens que na UE28 têm pelo
este valor passou a ser de 78%. menos o ensino secundário, em 2016, ou dos 10 Estados-
A expansão das ofertas de dupla certificação no ensino -membros que atingem valores próximos ou superiores a
secundário em Portugal tem assumido um contributo ine- 90%.3 Por outro lado, significa que em Portugal cerca de 1
gável para a qualificação progressiva dos jovens. O Gráfico em cada 5 jovens, entre os 20 e 24 anos, não tem garantido,
5 mostra como a percentagem de jovens inscritos em vias como nível mínimo de educação, o ensino secundário, um
profissionalizantes do ensino secundário tem tido uma dado que nos deve fazer continuar a estar muito atentos à
evolução muito semelhante à registada, nos últimos quin- necessidade de recuperar os que já deixaram de estudar
ze anos, pela percentagem de jovens que em Portugal ob- antes de concluírem este nível de ensino e de prevenir o
teve pelo menos o ensino secundário e, desde modo, como insucesso e o abandono daqueles que ainda se encontram
a expansão e a afirmação crescente das ofertas de dupla no sistema de educação e formação.
certificação têm contribuído para a generalização cres-

20 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
As ofertas de dupla certificação e o seu contributo
para a empregabilidade dos jovens em Portugal 1

DUPLA CERTIFICAÇÃO: AS TRANSIÇÕES GRÁFICO 6. SITUAÇÃO EM 2014/2015 DOS


PARA O MERCADO DE TRABALHO DIPLOMADOS EM 2013/2014, POR MODALIDADE
E O PROSSEGUIMENTO DOS ESTUDOS DE ENSINO (%)
A expansão destas ofertas consubstancia-se, como vimos, Situação após 1 ano dos diplomados do ensino secundário,
no número de alunos que alcançou, na diversidade de tipo- por modalidade de ensino
logias de ofertas e de cursos que se encontram disponíveis,
4 2 1 2
nomeadamente no âmbito da formação inicial de jovens, e 100
1 7 1
na amplitude da rede de operadores de educação e forma- 10
90
ção. Mas o contributo das ofertas de dupla certificação não
6
se deve apenas à expressão quantitativa que estas têm 80
vindo a alcançar no panorama educativo português. Deve-
70 52
-se também à sua valorização crescente como percursos 53
de qualificação inicial de jovens, com características que se 60
distinguem e que complementam as vias de ensino geral. 79
O conceito de dupla certificação – escolar e profissional – 50
que se generalizou a todas as tipologias de cursos a partir 82
40
da Reforma da Formação Profissional, em 2007, veio conferir-
-lhes uma mais-valia cada vez mais reconhecida por jovens, 30
famílias e empregadores e absolutamente fundamental na 45
20 39
preparação dos jovens – o acesso a uma qualificação esco-
10 16
lar ao nível do ensino secundário e simultaneamente a uma
qualificação profissional numa determinada área de trabalho. 0
Ainda que tipicamente sejam ofertas que privilegiem a in- Cursos científico- Cursos Cursos Ensino artístico
-humanísticos profissionais tecnológicos especializado
serção na vida ativa, é precisamente esta característica de
dupla certificação que lhes confere tanto a possibilidade
de um ingresso qualificado no mercado de trabalho como Não encontrado a estudar
de prosseguimento de estudos para níveis de educação Estuda numa IES em cursos CET ou TESP
pós-secundários e superiores, e que abre um leque muito Estuda no ensino secundário
variável de trajetórias futuras que são hoje indispensáveis
à preparação da população ativa e à formação ao longo da Estuda numa IES para grau superior
vida. Por outro lado, com a introdução em Portugal do Quadro Estuda num curso CET fora das IES
Nacional de Qualificações, alinhado com o Quadro Europeu
de Qualificações, foi amplamente reconhecido às ofertas de Fonte: DGEEC, 2016, p. 10. Dados reportados pelas escolas secundárias de
Portugal Continental ao sistema de informação do Ministério da Educação;
dupla certificação um nível de qualificação que até aí não Inquérito RAIDES aos Estabelecimentos de Ensino Superior.
tinha ainda ganho nem sentido nem visibilidade formal. A
conclusão com sucesso de um curso de dupla certificação
no ensino secundário passava então a conferir o Nível 4 de A afirmação progressiva destas ofertas, junto dos jovens
qualificação do Quadro Nacional de Qualificações. e famílias e junto dos empregadores, é igualmente deve-
A criação do Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) em dora da sua capacidade de formar para as transições para
2007, instrumento que assume a regulação estratégica das o mercado de trabalho e no próprio sistema educativo, no-
qualificações de dupla certificação de nível não superior meadamente para prosseguimento de estudos.
em Portugal, e a referenciação progressiva destas ofertas São já várias as evidências que mostram que, no que res-
aos seus referenciais, tem procurado garantir maior legi- peita à inserção no mercado de trabalho, os jovens diplo-
bilidade e coerência ao que existe mas também introduzir mados da via de ensino secundário profissional tendem a
dinâmica e novidade no ajustamento do leque de ofertas encontrar trabalho mais rapidamente do que aqueles que
disponíveis às necessidades da procura. Neste momento, provêm do ensino secundário geral, e mais frequentemen-
o CNQ integra cerca de 300 qualificações de níveis 2, 4 e te em empregos permanentes (CEDEFOP, 2012). A relevân-
5 do QNQ, das quais 196 são de Nível 4 de qualificação, cia do ensino profissional nesta matéria é também salien-
atribuindo tanto o nível secundário de qualificação escolar tada pela OCDE no último relatório Education at a Glance
como uma certificação profissional, e cobrindo 44 áreas de (OCDE, 2016).4 O relatório mostra ainda que nos países da
educação e formação (CNAEF a 3 dígitos) distintas. OCDE a taxa de desemprego é mais baixa (9,2%) entre os

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 21
1 TEMA DE CAPA

GRÁFICO 7. PROJEÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO EMPREGO (%), PORTUGAL, 2015-2025 (CENÁRIO BASE)

All qualifications 2.1%

Low -17.6%

Medium 24.2%

High 37.7%

-20 0 20 40

Fonte: CEDEFOP, Skills Forecast, 2017.

indivíduos que têm o ensino secundário profissionalizan-


te, em comparação com os que detêm uma certificação de
secundário, proveniente de cursos gerais (10%).
Os dados do módulo do Inquérito ao Emprego – Entrada
As ofertas de
dos Jovens no Mercado de Trabalho – realizado em 20095,
mostravam claramente que além de uma mais elevada
dupla certificação
escolaridade facilitar o processo de transição entre es-
cola e emprego6 – que em média demorava 20,4 meses7
privilegiam uma
(tempo entre a última saída da escola até ao momento que
iniciaram um primeiro trabalho de mais de três meses) –,
formação inicial
também a frequência de modalidades orientadas para o de jovens com
uma forte ligação
mercado de trabalho permitia um acesso mais rápido ao
emprego.

ao mundo do
Os jovens (15-34 anos) com escolaridade a partir do 3.º
ciclo, que frequentaram modalidades de ensino de cará-

trabalho através do
ter vocacional e que referiram ter um trabalho de mais de
três meses após a saída da escola, demoraram em média
12,7 meses a encontrar trabalho, o que representa cerca de
metade do tempo dos jovens que frequentaram cursos de desenvolvimento
caráter geral (24,4 meses, em média).
Mais recentemente, o Inquérito «Jovens no Pós-Secundá- de competências
rio 2014»8 do Observatório de Trajetos dos Estudantes do
Ensino Secundário (OTES), da DGEEC (2016a), mostra que para o exercício
enquanto a grande maioria dos jovens provenientes dos
cursos científico-humanísticos se encontrava a estudar de uma profissão
no pós-secundário (81,3%), os jovens provenientes dos
cursos profissionais apresentava trajetos mais diversi-
e da formação
ficados, sendo que 72,3% estavam já trabalhar, à procura
de emprego ou a estudar e a trabalhar.9 Apenas 22,9% dos
em contexto de
jovens provenientes de cursos profissionais continuavam
a estudar.
trabalho (FCT)
Ainda que as vias profissionalizantes também permitam o
prosseguimento de estudos, um estudo estatístico recente-

22 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
As ofertas de dupla certificação e o seu contributo
para a empregabilidade dos jovens em Portugal 1

mente realizado pela DGEEC (2016b) sobre a transição entre No entanto, quando desagregadas por níveis de educação,
o secundário e o superior mostra que as taxas de prossegui- as taxas de desemprego jovem são, aliás, muito diferentes
mento de estudos em 2014/2015 dos alunos que concluíram e a maior diferença é precisamente entre os jovens com
as várias modalidades do ensino secundário em 2013/2014 o ensino secundário ou pós-secundário não superior (IS-
são, de facto, muito diferentes (Gráfico 6): 82% dos diploma- CED 3-4) e os que não têm sequer esse nível de ensino,
dos de cursos profissionais não prosseguiram estudos no relevando bem a importância da escolaridade ao nível do
ano letivo seguinte, face a apenas 16% dos diplomados de secundário para a sua empregabilidade.
cursos científico-humanísticos que não o fizeram.
As razões destas diferenças são várias, passando pelo con-
texto socioeconómico dos alunos, pelas características do TABELA 1. TAXA DE DESEMPREGO (%), TOTAL E JOVEM
próprio sistema educativo, nomeadamente no que respeita E POR NÍVEL DE EDUCAÇÃO, PORTUGAL E UE28, 2015
às condições de acesso ao ensino superior, pelos resulta- Portugal UE28
dos escolares dos jovens e pelas suas próprias expetativas Taxa de desemprego total (25-64) 11,4 8,4
de percurso e desempenho futuro, e naturalmente pelas Taxa de desemprego jovem (20-24) 29,4 19,0
vocações distintas destas vias e de quem as frequenta, ou ISCED nível 0-2 33,5 31,1
distintas perceções e imagens sociais entre percursos de ISCED nível 3-4 26,8 16,8
ensino secundário mais orientados para o prosseguimento ISCED nível 5-8 30,2 15,3
de estudos e percursos de ensino secundário mais orienta- Fonte: Eurostat, última atualização 28.03.17. Acedido a 24.04.17.

dos para a inserção no mercado de trabalho.10


Ainda que a necessidade de também tornar mais efetivo Em Portugal, eram os jovens com o secundário que, em
o acesso ao ensino superior para os jovens provenientes 2015, registavam a taxa de desemprego mais baixa, de
das vias de ensino secundário profissionalizante mereça 26,8%, inclusivamente quando comparada com a dos jovens
toda a atenção, são inegáveis os contributos destas vias com ensino superior (30,2%). Na UE28, a taxa de desempre-
de ensino para o prolongamento dos estudos e melhoria do go jovem é mais baixa entre os que têm o ensino superior.
nível educativo dos jovens, em linha com a generalização Outro indicador interessante para avaliar a empregabilida-
do ensino secundário, e para uma inserção mais qualifica- de jovem é o da taxa de emprego dos recém-diplomados
da e menos demorada no mercado de trabalho. (grupo etário 20-34) um a três anos depois de completado
Nesta perspetiva é necessário assinalar, divulgar e refor- o nível de educação mais elevado. Como se pode ver na Ta-
çar a importância que a educação tem na empregabilidade bela 2, a taxa de emprego dos recém-diplomados aumenta
e na menor exposição ao desemprego, mesmo quando, no consideravelmente à medida que aumenta a escolaridade.
período da crise, o agravamento do desemprego foi gene- Esse aumento é bastante mais expressivo entre os níveis
ralizado e o desemprego jovem, tipicamente mais elevado, ISCED 0-2 (ensino básico ou inferior) e 3-4 (ensino secun-
atingiu níveis sem precedentes. Por outro lado, as qualifi- dário ou pós-secundário não superior), em Portugal e no
cações intermédias têm vindo a conquistar espaço num conjunto da UE28, o que revela mais uma vez a importân-
mercado de trabalho ainda muito polarizado, que se traduz cia decisiva que uma educação ao nível do secundário as-
inevitavelmente na valorização crescente por parte dos sume na inserção no mercado de trabalho.
empregadores das vantagens da dupla certificação.
TABELA 2. TAXA DE EMPREGO DE
DINÂMICAS DO MERCADO DE TRABALHO JOVEM: RECÉM-DIPLOMADOS (GRUPO ETÁRIO 20-34) (%),
A VANTAGEM DA EDUCAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DE UM A TRÊS ANOS DEPOIS DE COMPLETADO O NÍVEL
DAS QUALIFICAÇÕES INTERMÉDIAS MAIS ELEVADO DE EDUCAÇÃO, TOTAL E POR NÍVEL DE
A Tabela 1 mostra bem as diferenças na taxa de desem- EDUCAÇÃO, PORTUGAL E UE28, 2015
prego global e jovem (20-24) e entre níveis de educação. Portugal UE28
Mesmo num período em que o mercado de trabalho em Por- Todos os níveis ISCED (%) 70,5 75,8
tugal e na UE28 já indicava uma trajetória de recuperação, ISCED nível 0-2 54,2 45,7
os jovens registam taxas de desemprego que são mais do ISCED nível 3-4 68,6 70,9
dobro das registadas globalmente, refletindo as dificulda- ISCED nível 5-8 75,5 81,9
des habituais de transição da escola para o emprego. Em Fonte: Eurostat, última atualização 28.02.2017. Acedido a 23.04.2017.

2015 existiam em Portugal 91 300 mil jovens, entre os 20


e 24 anos, que estavam desempregados, e na UE28 cerca Em 2015, 68,6% dos jovens entre os 20 e 34 anos, diploma-
de 3344 mil. dos com o ensino secundário ou pós-secundário não supe-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 23
1 TEMA DE CAPA

rior em Portugal, estavam empregados no período de um a


três anos depois de concluírem os estudos, um valor que é
aliás muito próximo do europeu (70,9% na UE28). Atenden-
do às diferentes vias de ensino secundário – geral e profis-
sional –, podemos também verificar na Tabela 3 que a taxa
de emprego dos diplomados do ensino profissional é mais
elevada, quer em Portugal quer na UE28, do que a dos diplo-
mados do ensino geral. Um a três anos depois de concluído
o ensino secundário em vias profissionalizantes, 70% dos
jovens em Portugal e 73% na UE28 encontram emprego.

TABELA 3. TAXA DE EMPREGO DE


RECÉM-DIPLOMADOS (GRUPO ETÁRIO 20-34) (%),
DE UM A TRÊS ANOS DEPOIS DE COMPLETADO O
ENSINO SECUNDÁRIO OU PÓS-SECUNDÁRIO NÃO
SUPERIOR, TOTAL E POR ORIENTAÇÃO DOS ESTUDOS,
PORTUGAL E UE28, 2015
Portugal UE28
ISCED nível 3-4 68,6 70,9
Ensino Geral 66,0 61,2
Ensino Profissional 70,1 73,0
Fonte: Eurostat, última atualização 28.02.2017. Acedido a 23.04.2017.

Este indicador vem confirmar o contributo adicional das


ofertas de dupla certificação, ao nível do secundário, para
a empregabilidade jovem. Este é, aliás, um contributo mais
evidente no conjunto da UE28 do que em Portugal mas que
tem vindo a registar um aumento assinalável em Portugal.
Note-se que em 2014 o mesmo indicador indicava uma
taxa de emprego de 61,6% para os recém-diplomados do
ensino secundário profissional, tendo aumentado para
70,1% em 2015.
É ainda importante referir que o potencial de empregabili-
dade das qualificações intermédias é elevado em Portugal.
A mudança estrutural da economia, que tende a privilegiar
a procura de qualificações médias e superiores, mais ade-
quadas a modelos e conteúdos de trabalho intensivos em
tecnologia e sobretudo mais devedores de aprendizagem
contínua e acumulação de conhecimento, proporciona a
geração de mais oportunidades de emprego para os mais
qualificados. Por outro lado, conjugada com a oferta de
uma população ativa mais escolarizada, acelera-se o efei-
to de substituição de mão-de-obra em empregos poucos
qualificados por mão-de-obra mais qualificada, ainda que
nalguns casos a custo do ajustamento ideal entre os requi-
sitos e as condições desse emprego e as qualificações de
quem o exerce.11
Se tomarmos por referência as projeções de emprego feitas
para Portugal pelo CEDEFOP para o horizonte 2025 (Gráfico
7), podemos verificar que o crescimento estimado do em-
prego de qualificações médias, isto é, requerendo mão-de-

24 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
As ofertas de dupla certificação e o seu contributo
para a empregabilidade dos jovens em Portugal 1

-obra com escolaridade ao nível do ensino secundário ou


pós-secundário não superior, é muito significativo – 24,2%
–, representando cerca de dez vezes mais aquele que no
conjunto da economia portuguesa se espera para o mes-
mo período (2,1%). Em contrapartida, o emprego de baixas
qualificações (inferiores ao secundário), que assume um
peso considerável em Portugal, é expectável que registe
um decréscimo acentuado na próxima década.
Com um crescimento de emprego de qualificações médias
desta ordem, as projeções do CEDEFOP apontam ainda para
a possibilidade de virem a ser criadas, na próxima década,
cerca de 600 mil oportunidades de emprego que exigirão
qualificações a este nível. Estas resultam de alguma capa-
cidade de geração de novos postos de trabalho mas, sobre-
tudo, da necessidade de substituição de mão-de-obra que
entretanto sairá do mercado de trabalho.
Este é um potencial de empregabilidade que importa não
desaproveitar, preparando em volume e qualidade as no-
vas gerações e dando oportunidade aos que, já estando na
vida ativa, necessitam igualmente de se formar. Importa,
nomeadamente, estar atento aos desajustamentos que
persistem entre as competências que formamos e as que
as empresas procuram, uma das razões apontadas para
a dificuldade em preencher parte das ofertas de emprego
disponíveis.
De facto, várias fontes parecem dar alguma fundamenta-
ção a este argumento.12 O inquérito do Eurobarómetro (Eu-
ropean Commission, 2010) mostra que 1 em cada 5 empre-
gadores em Portugal identificava a falta de candidatos com
as competências adequadas como o principal obstáculo ao
preenchimento de vagas. O último inquérito do Eurofound
às empresas (ECS, 2013)13 revela que, mesmo num período
de crise e de elevado desemprego na maioria dos Estados-
-membros, cerca de 40% das empresas na UE tiveram difi-
culdade em encontrar trabalhadores com as competências
adequadas. O inquérito realizado pela Manpower (2013)14
também concluiu que, em média, em 17 Estados-membros
da EU, mais de 25% dos empregadores teve dificuldades
de recrutamento. Mais recentemente o estudo da Mckin-
sey (2014)15, em oito países europeus, incluindo Portugal,
mostra que 27% dos empregadores inquiridos indicaram
ter deixado uma vaga por preencher no ano anterior devi-
do ao facto de não terem encontrado candidatos com as
competências adequadas, sendo que este problema foi
mais expressivo nos países com mais elevados níveis de
desemprego jovem.
Um dos mais evidentes desajustamentos, de acordo com
os dados de vários inquéritos, é o das soft skills. Incluindo
uma variedade de atitudes e comportamentos que facili-
tam quer a transição para o emprego, quer o desempenho
em contexto de trabalho, as soft skills são hoje em dia, em

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 25
1 TEMA DE CAPA

CONCLUSÕES

A expansão das
ofertas de dupla
Ainda que o progresso nas qualificações dos mais jo-
vens seja significativo, e o contributo das ofertas de

certificação no
dupla certificação inegável e com reflexos na sua em-
pregabilidade, há importantes desafios a superar. Des-

ensino secundário tacaria, em jeito de conclusão mas também de debate,


alguns dos principais.

em Portugal tem ALÉM DA EXPANSÃO, A RELEVÂNCIA DAS

assumido um OFERTAS DE DUPLA CERTIFICAÇÃO


Com o objetivo de chegar a 50% dos jovens em ofertas
contributo inegável de dupla certificação até 2020, como define a estratégia
do governo para a qualificação da população, é neces-
para a qualificação sário garantir uma continuada afirmação das ofertas de
dupla certificação, tanto em volume como em qualida-
progressiva dos de. A expansão destas ofertas terá de ser acompanhada
pelo aumento da sua relevância. Por um lado, tendo em
jovens conta aquelas que são as expetativas, as motivações
e as necessidades das novas gerações. Por outro lado,
tendo em conta os novos requisitos da empregabilidade
e as qualificações e competências mais procuradas e
valorizadas.18
complemento com uma sólida formação científica e técni- O planeamento da oferta exige naturalmente uma acres-
ca, essenciais do ponto de vista da empregabilidade. Estão cida capacidade de antecipação das necessidades do
entre as cinco competências mais importantes para mais mercado de trabalho, de envolvimento e de concertação
de 50% dos empregadores em Portugal (European Commis- de vários stakeholders e de capacidade de resposta
sion, 2010) e fazem parte dos requisitos de trabalho de diferenciada ao desenvolvimento das regiões. É este o
mais de 60% dos trabalhadores (EWCS, 2010).16 propósito do Sistema de Antecipação de Necessidades
Apesar de estas competências serem naturalmente desen- (SANQ) que a ANQEP tem vindo a implementar desde
volvidas fora da escola, a educação pode e deve ter um pa- 2015. Com recurso a informação sobre o mercado de
pel fundamental no seu desenvolvimento, particularmente trabalho – a evolução recente do emprego, as intenções
em ciclos ou modalidades mais vocacionados para empre- de contratação dos empregadores a curto-médio prazo
gabilidade. De acordo com o estudo da Mckinsey (2014), e as projeções de emprego para Portugal no horizonte
74% dos operadores de educação mostram-se confiantes de 2025 –, avalia-se a relevância das diferentes quali-
na preparação dos seus diplomados para o trabalho, mas ficações disponíveis e a necessidade de gerar novas
apenas 38% dos jovens e 35% dos empregadores inquiridos qualificações.
concordam. Também os dados do mais recente inquérito O envolvimento cada vez mais extensivo das Comuni-
do Eurobarómetro sobre este tema (European Commis- dades Intermunicipais (CIM), tanto no aprofundamento
sion, 2014) revelam que apenas um quinto dos cidadãos regional deste exercício como na posterior concertação
em Portugal, e 30% na Europa, concorda que a educação e da rede de ofertas a disponibilizar no território, tem sido
formação (formal) que receberam lhes terá dado as com- crucial para um planeamento mais atempado e adequa-
petências transversais necessárias para encontrar um em- do de cursos profissionais, e que certamente terá refle-
prego adequado às suas qualificações.17 xos na informação e orientação dos jovens e, junto dos
empregadores, na valorização acrescida destas qualifi-
cações.
Por outro lado, a atualização permanente e ágil do Ca-
tálogo Nacional de Qualificações, alicerçada em estu-
dos de antecipação e em referenciais organizados em

26 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
As ofertas de dupla certificação e o seu contributo
para a empregabilidade dos jovens em Portugal 1

competências e descritos e resultados de aprendizagem, é A ATRATIVIDADE DAS OFERTAS DE DUPLA


fundamental para que as qualificações sejam mais legíveis CERTIFICAÇÃO: ENTRE A EMPREGABILIDADE
e adequadas às necessidades da procura. E O PROSSEGUIMENTO DE ESTUDOS
O contributo das ofertas de dupla certificação para a em-
A NECESSÁRIA VALORIZAÇÃO DAS APRENDIZAGENS pregabilidade dos jovens é, como vimos, evidente. Além do
EM CONTEXTO DE TRABALHO retorno que tipicamente os investimentos em educação
Embora o panorama das ofertas de dupla certificação em trazem do ponto de vista do mercado de trabalho, acresce
Portugal seja tipicamente caraterizado por uma elevada di- que os jovens provenientes do ensino secundário profissio-
versidade de tipologias de cursos, de arranjos curriculares nal beneficiam de transições mais rápidas para o emprego,
e de pretensos propósitos e públicos-alvo, e ainda por fre- quando comparados com os jovens diplomados do ensino
quentes descontinuidades, que pouco abonam a sua esta- secundário geral. Esta é, de facto, uma mais-valia destas
bilidade e afirmação e, sobretudo, a sua legibilidade para ofertas, sobretudo num contexto de elevado desemprego
quem pretende optar por esta via ou para quem pretende jovem, e que importa avaliar, divulgar e valorizar.
recrutar os seus diplomados, sobressai a sua matriz comum A implementação, já em curso em Portugal, do Sistema de
de currículo integrado, entre as componentes de formação Garantia da Qualidade para o Ensino e Formação Profissio-
sociocultural e científica e a componente de formação técni- nais, alinhado com os princípios do EQAVET, privilegia pre-
ca ou tecnológica, e a formação prática em contexto de tra- cisamente esta dimensão ao dar prioridade a três dos dez
balho. As ofertas de dupla certificação privilegiam uma for- indicadores previstos: a taxa de conclusão por curso, a taxa
mação inicial de jovens com uma forte ligação ao mundo do de colocação após a conclusão do curso e a utilização no
trabalho através do desenvolvimento de competências para local de trabalho das competências adquiridas. Pretende-se
o exercício de uma profissão e da formação em contexto de que todos os operadores com ofertas de dupla certificação
trabalho (FCT), pressupondo uma forte interação com o teci- venham progressivamente a adotar este modelo. Através
do empresarial e uma adequada capacidade de resposta às da avaliação contínua e evidence-based dos resultados, no-
necessidades do mercado de trabalho e do desenvolvimento meadamente do ponto de vista da empregabilidade, este é
económico e social do país e das regiões onde se insere. um importante contributo para a excelência destas ofertas e
A valorização das aprendizagens em contexto de trabalho, certamente que também para a sua atratividade.19
embora inerente à organização curricular das ofertas de du- No entanto, não podemos esquecer a importância da per-
pla certificação, necessita de uma atenção acrescida. Este é meabilidade das vias de ensino e formação e da possibilida-
também um desafio a nível europeu, que tem vindo a ganhar de real de prosseguimento de estudos para os diplomados
expressão no debate sobre a importância das várias formas das ofertas de dupla certificação. Embora Portugal já tenha
de work-based learning (Comissão Europeia, 2013; 2015a; feito um avanço considerável nesta frente com um siste-
2015b). ma de educação e formação que é hoje bastante mais per-
Com a introdução recente, em Portugal, do Sistema Nacional meável e flexível do que era, a verdade é que é ainda muito
de Créditos para o Ensino e Formação Profissionais, em li- reduzida a proporção de jovens provenientes das vias de
nha com a recomendação europeia ECVET, foi atribuído um ensino secundário profissionalizante que acede ao ensino
número de pontos de crédito à formação em contexto de superior. Ainda que este dado possa resultar da vocação na-
trabalho. Este pretende ser mais um passo na valorização tural destas vias, e de quem as frequenta, será expectável e
desta componente mas necessita que consolidemos outros desejável que estes jovens pretendam, necessitem e pos-
desenvolvimentos: identificar as competências a desen- sam prosseguir os seus estudos. De outra forma, estaremos
volver e os resultados de aprendizagem a alcançar nestes a comprometer uma parte já muito significativa da procura
contextos, de acordo com standards; garantir as condições potencial do ensino superior, o progresso das qualificações
necessárias à formação em contexto de trabalho, nomeada- da mão-de-obra futura e o seu próprio potencial de empre-
mente através da preparação e acompanhamento dos seus gabilidade. •
intervenientes; garantir a qualidade das aprendizagens aí
realizadas e dispor de instrumentos que as avaliem; pro-
porcionar feedback ao sistema, às entidades de educação e
formação e às empresas, abrindo possibilidades de melhoria
contínua.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 27
1 TEMA DE CAPA

Bibliografia 1
Fonte: DGEEC – Dados atualizados em outubro de 2016. Acessível em: http://
• CEDEFOP (2012), From education to working life. The labour market w3.dgeec.mec.pt/dse/eef/indicadores/Indicador_1_5.asp
outcomes of vocational education and training. Luxembourg: Office 2
Fonte: DGEEC – Dados atualizados em outubro de 2016. Acessível em:
for Official Publications of the European Communities. http://w3.dgeec.mec.pt/dse/eef/indicadores/Indicador_4_7.asp
• DGEEC (2016a). Jovens no Pós-Secundário em 2014 – Percursos de 3
Entre a Áustria com 89,4% e a Croácia com 95,9%, temos a República
inserção escolar e profissional. Lisboa: Direção-Geral de Estatísticas Checa, Grécia, Polónia, Eslováquia, Lituânia, Eslovénia, Chipre e Irlanda neste
da Educação e Ciência (DGEEC). conjunto de 10 Estados-membros.
• DGEEC (2016b). Transição entre o Secundário e o Superior. Parte I. 4
http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/education/
Lisboa: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). education-at-a-glance-2016/portugal_eag-2016-75-en#.WPc79DKFP-
• European Commission (2010). Eurobarometer «Employers perception cs#page1
of graduate employability». Flash EB Series N. 304. Survey conducted 5
INE (2009). «Entrada dos Jovens no Mercado de Trabalho», in Destaque, 30
by The Gallup Organization upon request of the Directorate-General de abril de 2010. Lisboa: INE.
for Education and Culture. 6
A transição entre a escola e o primeiro trabalho é mais demorada para os
• European Commission (2013). Work-based learning in Europe. jovens que saíram da escola apenas com uma escolaridade até ao ensino
Practices and Policy Pointers. Luxembourg: Publications Office of the básico (3.º ciclo – 26 meses) do que para os que saíram já com o secundário
European Union. ou pós-secundário (14,8 meses) e os que têm ensino superior (9,5 meses).
• European Commission (2014). Special Eurobarometer 417 «European 7
Excluindo os indivíduos que começaram a trabalhar ainda enquanto estu-
area of skills and qualifications». Survey conducted by TNS Political & davam.
Social at the request of the European Commission, Directorate-Ge- 8
O inquérito «jovens no pós-secundário – 2014» foi aplicado universo
neral for Education and Culture and co-ordinated by the Directorate- de estudantes que responderam aos inquéritos «à entrada do secundário
General for Communication. 2010-2011» e «à saída do secundário 2012-2013». Este inquérito foi aplicado
• European Commission (2015a). Good for Youth. Good for Business. 14 meses após a data prevista de conclusão do ano letivo 2012-2013 e visa
European Alliance for Apprenticeships. Luxembourg: Publications analisar os trajetos escolares e/ou profissionais dos jovens após a conclusão
Office of the European Union. do ensino secundário. Participaram neste inquérito 19 406 inquiridos de um
• European Commission (2015b). High-performance apprenticeships & universo de 60 467 jovens (representando 32,1% do universo inicial), abran-
work-based learning: 20 guiding principles. Luxembourg: Publications gendo 758 escolas públicas e privadas de Portugal continental.
Office of the European Union. 9
31,2% apenas a trabalhar, 4,9% a estudar e a trabalhar e 31,2% à procura de
emprego não estando a estudar.
10
Para uma discussão mais aprofundada destas razões, consultar DGEEC
(2016b) e Observatório de Trajetos dos Estudantes do Ensino Secundário
(OTES), acessível em: http://www.dgeec.mec.pt/np4/47/
11
A este propósito, ver o estudo do CEDEFOP. Skills, qualifications and jobs
in the EU: the making of a perfect match. Acessível em: http://www.cedefop.
europa.eu/pt/publications-and-resources/publications/3072. O estudo
baseia-se no inquérito «European Skills and Jobs» (ESJ), realizado junto de
49 mil trabalhadores – adultos com idades compreendidas entre os 24 e os
65 anos – dos 28 Estados-membros da União Europeia. Acessível em: http://
www.cedefop.europa.eu/en/events-and-projects/projects/european-skill-
s-and-jobs-esj-survey. Os resultados apontam para a degradação, a longo
prazo, do potencial dos trabalhadores num contexto de crise prolongada.
Esta ideia é reforçada pela evidência de que a maior parte das pessoas que
encontrou emprego recentemente iniciou funções em trabalhos que reque-
rem qualificações e competências inferiores às que possuem.
12
Para uma discussão mais detalhada sobre este tema, vide Valente, 2014.
Ainda sobre o tema, ver o estudo «Faz-te ao Mercado», apresentado em
2014 e acessível em: https://www.fazteaomercado.org; e o estudo de Marques
e Vieira (2014), acessível em: http://maiorempregabilidade.forum.pt/
13
http://www.eurofound.europa.eu/surveys/ecs/2013/
14
http://www.manpowergroup.com/wps/wcm/connect/587d2b45-c47a-
4647-a7c1-e7a74f68fb85/2013_Talent_Shortage_Survey_Results_US_hi-
gh+res.pdf?MOD=AJPERES
15
http://www.mckinsey.com/insights/social_sector/converting_education_to_
employment_in_europe
16
http://www.eurofound.europa.eu/european-working-conditions-surveys
-ewcs
17
Para uma discussão mais detalhada sobre este tema, vide Valente, 2015.
18
Veja-se, a este propósito, os desafios apontados pelo diagnóstico que a
OCDE, no âmbito do programa OECD Skills Strategy, identificou para Portugal:
«Challenge 2: Strengthening the responsiveness of VET to labour markets
needs» (OECD, 2015). Acessível em: http://skills.oecd.org/developskills/do-
cuments/Portugal-Diagnostic-Report-web.pdf
Mais recentemente, o relatório «Education at a Glance», da OCDE (2016) para
Portugal destaca a importância do ensino profissional de nível secundário
referindo que este ensino dá importantes competências e qualificações a jo-
vens dos 25 aos 34 anos mas que Portugal «vai precisar de garantir que estes
cursos mantenham a sua relevância, à medida que se expandem, e que as
qualificações que atribuem assegurem o seu valor no mercado de trabalho».
19
A par, importará igualmente garantir mecanismos mais sistemáticos e
fiáveis de avaliação de resultados e de impactos, que são ainda pontuais em
Portugal. Refiro-me, em particular, a metodologias que recorrem essencial-
mente a registos administrativos e ao cruzamento de bases de dados e que
permitem avaliar as trajetórias dos indivíduos no sistema educativo e no
mercado de trabalho e, inclusivamente, realizar avaliações de impacto do tipo
contrafactual.

28 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
TEMA DE CAPA 1

Cursos de aprendizagem
devem afirmar-se
como uma alternativa
RITA VIEIRA. JORNALISTA de Emprego e Formação Profissional, I.P. (IEFP) considera,
por isso, que os cursos de aprendizagem devem afirmar-se
FOTOS DOS ENTREVISTADOS
cada vez mais como mais uma alternativa ao sistema de
educativo.
É importante promover a formação profissional como uma
opção de primeira linha na construção do percurso acadé-
mico dos jovens e facilitadora na entrada no mercado de tra-
balho. Assim, o IEFP pretende que, a curto e médio prazo,
esta modalidade de formação possa ser reconhecida como
uma verdadeira alternativa, quer ao sistema regular de en-
sino, quer a outras ofertas de cursos profissionalizantes.
O objetivo é o de posicionar os cursos de aprendizagem do
IEFP num patamar correspondente a uma formação de qua-
lidade, da qual resultam jovens altamente qualificados, cuja
integração no mercado de trabalho se traduz, a médio prazo,
no crescimento do capital humano das empresas e no au-
mento da sua competitividade.
O papel que as empresas parceiras do IEFP desempenham
nesta formação é fundamental para a valorização que se
pretende porque lhes permite a contratação de jovens
qualificados e capazes de responder mais ágil, eficaz e efi-
cientemente aos desafios que lhes são colocados. Além de
promoverem e certificarem a excelência, estes cursos per-
mitem aos jovens estarem mais próximos das empresas e
do mercado de trabalho enquanto estudam. Desta forma, as
suas oportunidades de conseguirem um trabalho altamente
qualificado aumentam, sem qualquer prejuízo de poderem
prosseguir normalmente uma carreira académica.
Com o objetivo de dar a conhecer esta modalidade formativa
e de como esta pode ser importante no percurso profissio-
nal dos jovens, a revista D&F foi à procura de testemunhos

A
pesar de existirem há mais de 30 anos em Portugal, de ex-formandos que atestam a importância que os cursos
grande parte da sociedade portuguesa pode ainda de aprendizagem tiveram para o seu sucesso profis-
não ter uma perceção clara do que é a Aprendiza- sional. Estes ex-formandos consideram que es-
gem, em que consiste, a quem se destina e quais são as tes cursos de formação profissional têm uma
suas vantagens efetivas. Por outro lado, para quem já tem componente muito prática que os preparou
algum conhecimento do que estes cursos representam, para exercerem a sua profissão e não hesi-
pode ainda haver um certo estigma que os leva a serem tam em recomendá-los a outros jovens.
classificados como uma opção de segundo nível, destinada Quando era mais pequeno, Gonçalo Empis
essencialmente a classes mais desfavorecidas. O Instituto já sonhava com automóveis. Desde cedo

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 29
1 TEMA DE CAPA

O papel que as empresas parceiras


do IEFP desempenham nesta
formação é fundamental para a
valorização que se pretende porque
lhes permite a contratação de jovens
qualificados e capazes de responder
mais ágil, eficaz e eficientemente
aos desafios que lhes são colocados

que o seu objetivo sempre foi o de seguir um caminho liga- grande. Quando comecei a trabalhar num concessionário
do a esta área. Quando terminou o 12.º ano, queria tirar um como rececionista recordo-me de os mecânicos ficarem ad-
curso relacionado com automóveis mas o ensino superior mirados com um “engenheiro” que sabia mudar pastilhas de
naquela altura, há 20 anos, não tinha opções nesta área. travão, substituir juntas de cabeça, etc. Olho para trás e vejo
Por isso, o curso de Mecânica Automóvel foi o único que foi que primeiro andei três anos para trás mas, ao mesmo tem-
de encontro aos seus objetivos: o de ingressar num curso po, recuperei e ganhei pelo menos cinco anos para a frente.»
com uma base prática e ligado à área automóvel. Tomou Gonçalo Empis não tem dúvidas de que aconselharia os cur-
conhecimento da existência deste curso numa visita a um sos de aprendizagem a outros jovens: «Esta formação tem
centro de emprego do IEFP e nem pensou duas vezes. Con- a vantagem de nos qualificar para uma profissão. Quer seja
cluiu-o no Centro de Formação Mercedes-Benz, em 1997, e para ingressar no mercado de trabalho logo após a conclu-
é atualmente responsável pelo Departamento de Formação são do curso, ou para quem queira seguir para o ensino
do BMW Group. superior.» Com estes cursos «ganha-se uma van-
A formação em contexto de trabalho foi realizada tagem competitiva em relação aos colegas: a ex-
num concessionário da marca. «Lembro-me que periência prática da formação profissional».
o contacto com a realidade foi duro, mas muito O que Marlene Moreira sonhava ser quando
importante porque quando terminei o curso sen- era mais nova nada tem a ver com aquilo que
tia-me completamente preparado», confessa. acabou por seguir. Sempre gostou muito de
E acrescenta que a relação com o tutor era de animais e a ideia era a de seguir veterinária.
confiança: «Quando comecei, lembro-me que o Mas, como o irmão já frequentava a escola, os
tutor me mandava varrer o chão e arrumar a ofici- pais insistiram que se inscrevesse no curso de
na, o que não era muito agradável ao início; mais tarde Construções Mecânicas, no CENFIM, no Porto. Fre-
entendi que o objetivo desta tarefa era apenas o de me fazer quentou o curso entre 2002 e 2005 e acabou por se apai-
perceber a importância de ter uma oficina bem organizada.» xonar pela área, acabando por se licenciar em Engenharia
O balanço que faz do curso é muito positivo: «Ensinou-me Mecânica, no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e
muito e ao mesmo tempo preparou-me para o mundo profis- estando já a terminar o mestrado. Hoje em dia dá formação
sional.» Destaca como ponto forte a ponte que se estabele- no Centro onde teve a sua formação inicial (CENFIM).
ce entre a teoria e a prática. Em relação aos pontos fracos, Fez a formação em contexto de trabalho na área de proje-
diz que não se recorda de nenhum. E não tem dúvidas de tos da ADIRA, empresa que faz maquinaria para a indústria
que este curso contribuiu muito para o seu sucesso: «Na al- metalomecânica, e sublinha que lhe «alargou bastante os
tura, como já tinha o 12.º ano, tive de voltar atrás três anos. horizontes». O balanço do curso não podia ser melhor. Foi
Depois, quando terminei este curso segui para o ensino su- este curso «que me catapultou depois para tirar outras for-
perior, e a experiência prática deu-me uma vantagem muito mações, para querer saber mais». Na opinião de Marlene

30 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Cursos de aprendizagem devem
afirmar-se como uma alternativa 1

Moreira, a preparação que é dada para o mercado de traba- Atualmente é coordenador de área de Automação, Robótica
lho é o principal ponto forte dos cursos de aprendizagem. e Eletrónica na ATEC – Academia de Formação.
Já o ponto fraco é a preparação em algumas disciplinas, A prática, a exigência e a obrigação de encontrar soluções
como Matemática e Física, ficar muito aquém do necessário são os pontos fortes dos cursos de aprendizagem, na opi-
para quem quer seguir o estudo universitário. Participou nos nião de Vasco Vaz, que não vê pontos fracos neste tipo de
Campeonatos Internacionais das Profissões e chegou tam- formação. «São muito completos e dão-nos uma grande
bém a ser jurada. Marlene Moreira confessa que os campeo- preparação para aquilo que é o mercado de trabalho», su-
natos a ajudaram muito. Além de estimularem a competição blinha. Vasco Vaz foi também concorrente e júri em diversos
saudável, «numa preparação para um campeonato acaba Campeonatos das Profissões, nacionais e internacionais, e
por se aprender ainda mais do que durante os três anos do realça a importância destas competições
curso». «Foi isso que me fez ficar no CENFIM, pelo facto de para a aprendizagem dos formandos.
ter sido sempre uma aluna aplicada, de querer sempre saber Diana Filipa Azevedo Fonseca é
mais, o facto de ter participado nos campeonatos acabou modelista de vestuário. Terminou o
por ser uma grande vantagem para ter de ficar curso, na Modatex, em 2015, tendo
aqui.» feito o estágio curricular e agora o
Vasco Vaz frequentou o curso de Eletrónica estágio profissional com a estilista
no CINEL, entre 2002 e 2005, licenciou-se Katty Xiomara.
em Engenharia Eletrotécnica no Instituto Sempre esteve ligada à costura, mas
Superior de Engenharia de Lisboa e fez o nunca pensou seguir a área. Diana Fon-
mestrado em Energias Renováveis. seca conta que resolveu ir trabalhar com o
Para Vasco Vaz, foi fácil escolher o que 12.º ano de escolaridade ainda por terminar. Quando decidiu
queria seguir. Sempre gostou muito de ele- voltar a estudar é que descobriu, através de uma pesquisa
trónica, pelo que queria seguir uma área deste na Internet, que havia um curso de moda que lhe permitia
ramo. «Sempre fui muito focado naquilo que que- ter equivalência ao 12.º ano. Confessa que está a aprender
ria», confessa. Soube dos cursos de aprendizagem através muito com a Katty Xiomara: «O ambiente é bom, ela é muito
de amigos e do Centro de Emprego, mas lembra-se que já na acessível e estamos sempre à vontade para colocar dúvi-
escola os testes psicotécnicos indicavam que devia seguir das.» Considera que a componente prática lhe permitiu ficar
esta área. No entanto, as orientadoras no 9.º ano nunca lhe a saber como funcionam as coleções, o trabalho que está
falaram nestes cursos. por detrás das coleções, o tempo que demoram a ser exe-
Fez a formação em contexto de trabalho na NautiRadar, uma cutadas.
empresa que instala equipamentos náuticos. Os três está- Como ponto forte dos cursos de aprendizagem destacaria a
gios que fez durante o curso de aprendizagem foram feitos formação em contexto de trabalho: «Podermos estar numa
nesta empresa e «foram fundamentais», refere. Na Nauti- empresa ajuda-nos bastante, ficamos a saber como funcio-
Radar, «durante o tempo quente, havia muito trabalho de na o mercado de trabalho.» Já como ponto fraco salienta o
instalação e manutenção em barcos, depois todo o equipa- facto de os formandos nem sempre estarem na área que
mento que saía dos barcos vinha para o armazém para se mais lhes interessa.
fazer depois a triagem, em altura de menos trabalho. Nessa Diana Fonseca espera continuar a trabalhar na área da moda
altura, abria-se o equipamento, detetava-se a avaria, arran- e que este curso contribua para o seu sucesso profissional.
java-se e ficava pronto para um próximo trabalho», explica. Não tem dúvidas de que aconselharia estes cursos a outros
Considera que o tutor dentro da empresa é tudo porque é jovens. Aliás, sublinha que prefere os cursos profissionais,
essencial, «quando somos novos temos de ter sempre al- «apesar de por vezes terem uma conotação negativa, mas
guém que nos guie». Por isso, faz um balanço muito positivo aconselha porque é mais fácil aprender do que num curso
deste curso porque, sublinha, foi a partir daqui «que tudo o curricular, que não dá a experiência prática que necessi-
resto se abriu». Mal acabou o curso no CINEL, já tinha tam» no mundo empresarial. São uma «mais-valia»,
duas propostas de trabalho: a da empresa onde acrescenta.
estagiou e a do próprio CINEL, para ingressar na Vítor Pedro Castro Gomes é técnico de Enobre-
carreira de formador. «Nunca me tinha passa- cimento Têxtil, terminou o curso no Modatex,
do pela cabeça fazer carreira de formador, mas em 2005, e é atualmente investigador no De-
achei piada e, na altura, aceitei e fui crescendo: partamento Têxtil da Universidade do Minho.
comecei como assistente, passei a formador Quando era mais pequeno, tinha um tio e um
principal e depois a coordenador de turma.» irmão que eram militares e pensava, por isso,

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 31
1 TEMA DE CAPA

seguir a carreira militar. Aos 15 anos optou pela área de des- CAMPEONATOS DAS PROFISSÕES
porto porque queria ser professor de Educação Física. No REMONTAM A 1950
entanto, depois quis aprender algo mais específico e tomou
conhecimento dos cursos de aprendizagem através de um Os primeiros Campeonatos PORTUGAL. E os campeo-
conhecido. Escolheu este curso porque vivia numa zona que Internacionais das Profis- natos das profissões vieram
tem uma tradição têxtil e a mãe também trabalhava nessa sões foram disputados em dar visibilidade e promover
área. Sempre que «estava com ela, ela explicava-me o que 1950, em Madrid, entre Por- esta necessidade. Rapi-
fazia, achei que era interessante e resolvi ir para este cur- tugal e Espanha. Estávamos damente, o Campeonato
so», refere. Fez a sua formação em contexto de trabalho na num período de pós-guerra das Profissões chamou a
estamparia Adalberto e não esconde a importância do tutor: em que era necessário atenção de outros países
«Apoiou-me bastante, fez-me um plano de estágio, passei reconstruir a Europa e que foram aderindo e cons-
por todas as partes da empresa e fiquei com um conheci- havia uma enorme carência tatando que esta iniciativa
mento muito grande sobre todos os aspetos da área têxtil.» de profissionais qualifi- era um aliado das empresas
Vítor Gomes considera que, mesmo depois quando entrou cados. Assim, a formação e do desenvolvimento, ten-
para a faculdade, foi muito importante ter conhecimentos profissional surgia como do mesmo muitos países,
sobre a base têxtil. uma forma de combater por analogia ao espírito
A experiência em contexto de trabalho é, assim, o ponto for- o desemprego e ajudar a olímpico, adotado a desig-
te dos cursos de aprendizagem. Já os pontos fracos, diz que ultrapassar a crise em que a nação de Olimpíadas das
não consegue apontar nenhum. Europa estava mergulhada. Profissões. Hoje, os Cam-
Atualmente está a fazer o doutoramento em Engenharia Têx- A formação assumiu-se, peonatos Internacionais
til e sublinha que o curso do IEFP foi muito importante por- naquela época, como um das Profissões realizam-se
que «criou-me o gosto pela área têxtil e preparou-me muito catalisador da retoma e do em mais de 75 países e
bem, foi muito fácil prosseguir com a minha crescimento económico atestam a excelência da
carreira académica». Aconselharia, clara- por via da WORLDSKILLS formação profissional.
mente, estes cursos a outros jovens.
Por seu lado, Rui Brites concluiu o
curso de Mecatrónica Automóvel no
CEPRA, em 2015, e constituiu a sua
própria empresa no ano seguinte.
Já quando era pequeno queria ser
mecânico, para seguir as pisadas do
pai. Soube da existência deste curso de
aprendizagem através de amigos e da Inter-
net e não hesitou porque em nenhum dos outros consegui-
ria ter uma componente prática. Por isso, o balanço que faz
não podia ser mais positivo: «É um curso que tem uma com-
ponente teórica, mas também prática. Um curso que não
tem a parte prática acaba por ser incompleto, pelo menos na
minha área.»
Rui Brites explica que a formação em contexto de trabalho
foi feita na oficina automóvel do pai e correu muito bem.
Como ponto forte dos cursos de aprendizagem destaca os
Campeonatos Internacionais das Profissões. Participou no
campeonato nacional, europeu e mundial, em 2014 e 2015,
tendo ficado em primeiro lugar no nacional, em terceiro no
europeu e obtido a medalha de excelência no mundial. «Cla-
ro que tudo o que sei aprendi no curso, mas o meu melhor
prémio foram os campeonatos», sublinha. E, claro, aconse-
lharia estes cursos a outros jovens. •

32 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
TEMA DE CAPA 1

CRÓNICA

HOTEL FUTURO
Breve crónica a propósito do
Sistema Dual de Aprendizagem

JOÃO GODINHO SOARES; ENGENHEIRO OPTICREATIVE

NA RECEÇÃO DO HOTEL logo que eu não prestava para estar aqui e que devia era vol-
Quando terminou de falar com o cliente, o gerente do hotel tar para África...
trocou o sorriso que mantivera, com esforço, até aí, por uma Com os olhos rasos de água, Samira continuou a falar, preci-
expressão totalmente fechada. Rodou sobre si próprio e diri- pitadamente, sem refletir, como se as suas palavras já esti-
giu-se ao balcão da receção. vessem todas prontas para sair a qualquer momento, como
Por detrás do balcão, três mulheres viram-no chegar e per- se soubesse de antemão que as teria fatalmente de deitar cá
ceberam, de imediato, que alguma coisa se passava. A mais para fora, mais tarde ou mais cedo. O gerente interrompeu-a.
velha era uma rececionista experiente, que há já alguns Gerente – Chega! Já vi tudo! O que vale é que o seu estágio
anos trabalhava no hotel. As outras duas eram formandas de está a acabar. Natércia, você assistiu?
uma turma de Aprendizagem, a poucos dias de terminarem A rececionista mais velha, que por acaso era a tutora de Sa-
a formação em contexto de trabalho do 1.º ano do curso de mira, avaliou rapidamente a situação, percebendo que não
Rececionista de Hotel. Ambas rondavam os vinte anos. poderia escusar-se a assumir a sua quota parte de respon-
Gerente – Samira! Acabei de receber uma reclamação de um sabilidade no sucedido.
hóspede a teu respeito. Natércia – Não, não assisti, mas a Samira já me tinha conta-
Samira, uma das estagiárias, arregalou os enormes olhos, do mais ou menos o que se passou.
numa expressão de espanto e ansiedade. As outras duas O gerente centrou então toda a atenção na subordinada.
mulheres olharam instintivamente para ela, mas logo vira- O tom era intimidatório.
ram a cabeça na direção do gerente. Gerente – Então, e não me disse nada? E onde é que você
Gerente – Segundo ele, pediu-te informações sobre a conta estava para não ter assistido?
e tu recusaste dar-lhas. Natércia – Eu tinha ido à casa de banho nesse momento.
Samira – Ele foi malcriado. Foi só por uns minutos, mas já não assisti. Deixei a Samira
Foi a vez de o gerente esbugalhar os olhos. As duas outras sozinha só por uns momentos. Nada fazia prever o que se
testemunhas da cena mantinham-se em silêncio, sendo passou...
evidente o seu embaraço, misturado com curiosidade mal Gerente – E o que é que a Samira lhe disse, afinal?
disfarçada. O gerente era um homem grande, com a capacidade de assu-
Gerente – Malcriado? Como assim? mir uma expressão amigável, quase angelical, em especial
Samira – Ele chegou aqui, sem dizer boa tarde nem nada, e quando falava com alguns hóspedes ou com os donos do
começou a pedir para eu lhe mostrar a conta dele, sem dizer hotel, mas que punha uma cara de facínora (era assim que
o número do quarto nem nada, como se eu tivesse a obriga- Natércia, às escondidas, se referia a esta característica do
ção de o conhecer. Nem disse «por favor» nem nada. Quan- gerente) quando se zangava. Natércia e ele já se conheciam
do lhe pedi para me explicar melhor o que pretendia, ficou há muitos anos. A sua relação era pacífica, o que permitia à
zangado e começou a chamar-me incompetente e que se via rececionista ficar segura de si.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 33
1 TEMA DE CAPA

Natércia – Mais ou menos o que a Samira contou. Não me Patrícia – Samira! Abre os olhos, coisa! Estás a tirar um cur-
surpreendi nem valorizei o incidente porque sei quem é o so que te pode vir a dar um emprego decente. Ainda por cima
cliente. É um chato sem maneiras! é um trabalho agradável, onde não tens de andar a lavar es-
Com aquela é que o gerente não contava! A colega acabava cadas ou a tirar o lixo dos caixotes. Não me digas que não é
de se colocar ao lado da estagiária! Entretanto, outros hós- uma boa oportunidade...
pedes passavam perto e um aproximou-se do balcão. O ge- Samira – Ora! Já não seria a primeira vez que eu desistia da
rente percebeu que aquela conversa tinha de terminar rapi- escola. E, se calhar, não será a última! Eu hei de safar-me!
damente e resolveu ficar «na mó de cima»: Patrícia – Não sei o que queres dizer, mas nunca hás de pas-
Gerente – Está bem, Natércia, depois falamos com mais sar da cepa torta dessa forma. Com o diploma sempre podes
tempo. Mas (voltando-se ostensivamente para Samira) que ter um ordenado melhorzito...
isto não se repita, senão devolvo-a ao Centro de Formação Samira – Tu falas assim porque podes esperar até ao fim do
enquanto o Diabo esfrega um olho! curso, tens o teu homem que te ajuda. Mas eu não. A minha
E afastou-se, sem chegar a ver que Natércia tinha posto um família está sempre a chatear-me para eu me empregar e
braço sobre os ombros de Samira, tentando acalmá-la, num trazer dinheiro para casa. Eu é que bati o pé para fazer este
gesto rápido, porque os clientes do hotel já se haviam chega- curso... Afinal, para isto...
do ao balcão e Patrícia – a outra estagiária – tentava atendê- Samira estava novamente com lágrimas nos olhos. O au-
-los o melhor que sabia e podia. tocarro não havia meio de aparecer. Patrícia sentou-se ao
lado dela.
À ESPERA DO AUTOCARRO Patrícia – Acredita, Samira, nós só nos safamos se tivermos
Já noite, na paragem do autocarro, Samira e Patrícia espe- um diploma. Só assim podemos ter esperança de ter um
ravam pelo transporte que as levaria ao bairro de subúrbio trabalho que nos permita viver mais ou menos, melhor do
onde moravam. Normalmente falavam de banalidades, mas que os nossos pais. Olha para mim. Deixei a escola porque
daquela vez a conversa foi mais séria. engravidei. A família ajudou, mas não posso ficar sempre às
Samira – Já chega! P’ra mim acabou. Que vão todos à m... ordens deles. Este curso dá-nos o 12.º e ensina-nos uma pro-
Patrícia – Acabou o quê? Estás a pensar desistir? fissão. Queres melhor? É preciso ter um pouco de paciência.
Samira – Isto não é para mim. É sempre a mesma coisa. No Engolir alguns sapos.... Olha! Porque é que não vais falar com
fim, a culpa é sempre da preta. Estou farta, farta! o João e lhe contas o que se passou. Ele ajuda-te de certeza!
Patrícia – Calma! Não fiques assim. Claro que não é fácil, eu Samira – O professor João? Ele é fixe, mas achas que me vai
sei. Mas estamos já no fim do 1.º ano. Só falta um ano e picos dar atenção? Ele está sempre tão ocupado1! (pausa) Além
para acabar o curso. Estão a abrir todos os dias novos hotéis disso, já decidi! Amanhã já não venho!
e hostels em Lisboa. No fim, vais ver que conseguimos ar- Patrícia – És parva! Vais outra vez servir hambúrgueres?
ranjar emprego... Hum... Sabes o que eu penso? (sem esperar pela resposta da
Samira – Para quê? Para depois vir um branco parvo qual- outra) O problema não é do parvo do hóspede, o problema és
quer que me falta ao respeito e me faz perder o emprego? tu mesma! És esquisita! Já nas aulas ficas sempre à parte,
Não estou para isso, minha!... Além disso, não era este o não te misturas com o pessoal! És bicho-de-mato!
curso que eu queria. Eu queria Cabeleireira, mas não havia Samira – Olha, olha! Até parece que sou só eu que não gosto
nenhum a começar naquela altura... de misturas! Porque é que não falas dos outros cromos lá

34 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Hotel futuro 1

UM ANO E CINCO MESES DEPOIS...

“Acredita, Samira,
Naquele fim de tarde, no grande hall do hotel tudo estava
tranquilo. Atrás do balcão da receção, duas rececionistas

nós só nos safamos


atendiam os esporádicos clientes que se lhes dirigiam. A cal-
ma reinante permitiu o seguinte diálogo:

se tivermos um Natércia – ... e não te esqueças de confirmar as reservas


antes de saíres.

diploma. Só assim Samira – Fique descansada, dona. Sabe que nisso eu não
falho!
podemos ter Natércia – És um amor, miúda, mas não me chames dona, o
gerente não gosta!
esperança de ter Samira – Oh, deixe! Com esse posso eu bem. Já lá vai o tem-
po em que ele me assustava, lembra?
um trabalho que nos Natércia – Se lembro! Pôs-te a chorar!
Samira – Eu não chorei! Fiquei com raiva, só isso... Mas já
permita viver mais lá vai!
Natércia – Estava a ver que dessa vez é que te ias embora
ou menos (...)” mesmo... Era uma pena!
Samira – Obrigada. Acho que nunca cheguei a agradecer o
seu apoio dessa vez... e nas outras!
Natércia – É! Tu és boa moça, mas às vezes ferves em pouca
água. Tens de ter mais atenção. Esta profissão não é para
da turma? E os que já se foram embora a dizer que não gos- gente nervosa...
tavam do ambiente, hã? Éramos 22 no início, lembras-te? Samira – Eu tenho. Eu gosto disto. Ainda bem que não de-
Agora somos 11! Metade, ao fim de menos de um ano! sisti do curso.
Patrícia – É verdade! Mas sabes porque é que a maior parte Natércia – É verdade, e da Patrícia? Tens sabido alguma
se foi embora, sabes? coisa?
Samira – Sabes tu? Samira – Está outra vez em casa...
Patrícia – Sim, o professor João disse-me. Porque pensaram Natércia – Em casa? O quê? Desempregada?
que o curso era muito diferente da escola, que era só apren- Samira – Não! Teve o segundo há dois dias. Esqueci de dizer.
der os truques da profissão, nos hotéis, fora do Centro. Afinal É uma menina.
descobriram que havia aulas de Português e Matemática e Natércia – A sério? E correu tudo bem?
outras coisas assim, tal como na escola! Chatearam-se! Samira – Tudo.
Samira – E com razão! Quem é que aguenta? Com a aproximação do gerente, ambas se calaram.
Patrícia – Aguentas tu e aguento eu, que já chegámos até Gerente – Olha lá, Samira, o André está outra vez doente e
aqui. Se desistes agora vais arrepender-te pró resto da vida! não pode vir amanhã. Tu podes fazer o turno dele? Sei que
E depois vais dizer: «Ai, se eu tivesse tirado o curso, agora é a tua folga...
estava no quentinho da receção de um hotel em vez de estar Samira – Amanhã? Chiii... Tava a pensar visitar a Patrícia,
a apanhar um autocarro às 5 da manhã para ir lavar o chão que teve uma menina anteontem... Não faz mal. Vou depois.
dos outros. Ai, seu eu tivesse tirado o curso podia estar a ga- Gerente – Ah, sim? A Patrícia? (aparentando indiferença)
nhar o dobro! Ai, seu tivesse tirado o curso...» Ela ainda está naquele hotel de Sesimbra? Foi uma pena não
Samira – Chiii, minha! Tu julgas que és diferente dos outros? ter ficado aqui. Vocês faziam uma boa equipa...
Pode ser que tu aguentes a chatice das aulas, os desaforos E afastou-se com uma expressão que poderíamos conside-
dos brancos... rar... angelical. •
Patrícia – (interrompendo) Mas quais brancos qual carapu-
ça! Porque tens de ser racista sempre? Os desaforos vêm
de todo o lado, minha! Ou já te esqueceste daquele black da 1
O Responsável Pedagógico (ex-Coordenador de Turma) é o formador que
nossa turma que te chateou? A coisa tava feia!... Não fosse acompanha a(s) turma(s) globalmente, como coordenador, e que, para além
ele ter bazado... das suas funções de zelador da qualidade pedagógica da ação de formação,
é também assoberbado por inúmeras tarefas administrativas: lançar faltas,
Samira – Desliga, branquinha, vem ali o bus... apreciar as respetivas justificações, tanto de formandos como de formadores,
fazer as atas das reuniões, as pautas com os resultados das avaliações, etc.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 35
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

SOBRE A PROMOÇÃO
DAS APRENDIZAGENS EM
CONTEXTO DE TRABALHO
SANDRA PRATAS RODRIGUES, PROFESSORA DO INSTITUTO OPTICREATIVE
POLITÉCNICO DE SETÚBAL

D
urante séculos, o modelo de aprendizagem complexo processo de formação experiencial que
profissional dominante na Europa implicava abrange os domínios profissional, pessoal e social.
que um aprendiz mergulhasse no contexto O reconhecimento dos efeitos formativos dos con-
profissional e privado de um mestre. A propósito textos e do exercício do trabalho é uma matéria que
dessa realidade, Canário (2007) dá o exemplo de merece interesse crescente, tanto por parte dos in-
um contrato de trabalho celebrado há cerca de cem vestigadores sociais, como dos atores diretamente
anos, no Porto, através do qual um jovem adolescen- envolvidos no mundo laboral. Tal cenário favorece
te foi instalado na casa de um relojoeiro com o intui- a emergência de novas formas de pensar a rela-
to de aprender o seu ofício. Um contrato de trabalho ção entre a formação e o trabalho e convoca novos
era, ao mesmo tempo, um contrato de aprendiza- agentes para o panorama da formação profissional.
gem que integrava o desenvolvimento de saberes As exigências atuais de desenvolvimento perma-
e competências profissionais num processo lato de nente de novas competências para o trabalho re-
construção identitária (Veloso, 2007). fletem-se na expansão e profusão, sobretudo nas
Correspondendo a um curto e recente período últimas décadas, de atividades de formação pro-
da história, a primazia modelo escolar de ensi- fissional associadas às evoluções e solicitações do
no-aprendizagem instaurou uma hegemonia dos tecido empresarial. Sendo indubitável que a capaci-
saberes teóricos que tem afastado os espaços da dade de adaptação e crescimento de uma empresa
aprendizagem dos espaços do trabalho, desvalori- está dependente do desenvolvimento de todo o
zando a relevância dos saberes da ação. Quando seu coletivo humano, a consciência desta interre-
estendido à formação profissional, este paradigma lação atravessa as estratégias de formação que
implica uma clivagem entre os conteúdos a trans- as empresas levam a cabo, que são fruto e reflexo
mitir e os problemas a resolver. Esta polarização vai das constantes mutações técnicas, tecnológicas e
persistindo em contraciclo com as demandas atuais, organizacionais do mundo do trabalho. Essas estra-
uma vez que a experiência e as vivências do traba- tégias passam frequentemente pela adesão a es-
lho sempre foram e continuam a ser fatores funda- truturas de formação externas, sendo que também
mentais para o desenvolvimento dos trabalhadores podem sustentar-se em dispositivos de formação
e das organizações, porquanto transportam um tipo internalizados, inscritos nas especificidades do mo-
de saber que não é substituível por qualquer outro. delo de organização das empresas.
Atualmente, a compreensão do potencial formativo Há, no entanto, um conjunto de fatores determinan-
das situações de trabalho integra um movimento tes para que as empresas invistam na formação dos
alargado de revalorização epistemológica da expe- trabalhadores, sobretudo quando se trata de forma-
riência, na defesa de que a prática profissional não ção interna, concebida, organizada e concretizada
só não pode ser entendida como um mero exercício através de recursos próprios e em relação direta
de aplicação de teorias, como faz parte do longo e com o exercício do trabalho, salientando-se aqui al-

36 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
2

guns dos mais relevantes. Desde logo, a dimensão das exercício do trabalho se constitui como um cenário de
empresas é um fator fundamental, uma vez que as gran- virtualidades – que, só por si, é uma fonte de benefí-
des empresas são aquelas que têm o enquadramento cios multidirecional e de que o saber construído a partir
financeiro necessário para um investimento direto na das dinâmicas dessa relação é tendencialmente mul-
formação, assim como os recursos físicos e humanos. tidimensional, polivalente e qualificante –, não basta
Em paralelo, o setor de atividade em que as empresas para entender as lógicas subjacentes às iniciativas de
operam especifica as competências fundamentais para formação levadas a cabo pelas empresas. A questão
o exercício do trabalho, definindo exigências técnicas, não é tanto a de assumir a importância de formas de
tecnológicas e humanas que são muito variáveis de se- aprendizagem articuladas com os contextos de trabalho
tor para setor. Não menos relevante enquanto fator que (prática em torno da qual a concordância é generalizada
dá corpo às decisões sobre a formação nas empresas e tem longa tradição), mas antes a de discutir como e
é o modelo organizacional preconizado, uma vez que com que objetivos é promovida a formação em articula-
define as formas de gestão e estruturação do trabalho ção com o trabalho.
e, nessa medida, especifica os saberes e competências O conhecimento sobre as práticas de formação radica-
exigidos para o seu exercício. Em síntese, pode afirmar- das em ambientes empresariais é ainda limitado, de-
-se que a natureza da formação em que uma empresa pendente que está de uma contextualização que pres-
aposta está fortemente arreigada nas especificidades e supõe a abertura das empresas a olhares externos. Não
tendências de evolução de todo um setor de atividade, obstante, alguns estudos1 permitem enriquecer esta
na dimensão da empresa e sua amplitude de atuação discussão, parecendo ser consensual a predominância
no mercado, assim como nas configurações da orga- de uma articulação estratégica dos planos de formação
nização do trabalho (Kovács e Castillo, 1998; Veloso, das empresas com as suas metas de desenvolvimento.
2007; Almeida e Alves, 2014). Essa articulação concretiza-se em dispositivos de for-
mação que são complexos, uma vez que realizam fun-
O INVESTIMENTO EM FORMAÇÃO INTERNA ções de regulação profissional e social, tentam adap-
O investimento em formação interna fundamenta-se tar-se e/ou promover a mudança constante, enquanto
num conjunto de fatores que são intrínsecos à vida das convivem com uma dose considerável de imprevisibi-
organizações, sendo que, em primeira instância, a con- lidade. Um estudo recentemente realizado sobre um
ceção deste tipo de formação surge como reação a con- centro de formação dependente da Área de Produção de
tingências particulares, para as quais a formação exter- uma empresa multinacional do setor automóvel analisa
nalizada não consegue fornecer respostas ajustadas e/ as práticas de formação em articulação com o exercício
ou atempadas. Simultaneamente, o investimento em do trabalho, no sentido de discutir as potencialidades
formação interna inscreve-se na confiança depositada e as limitações deste modelo de formação (Rodrigues,
nas competências e no conhecimento instalado ao nível 2016). Os conteúdos e metodologias da formação, a
individual, coletivo e organizacional. Nesta sequência, a população-alvo envolvida, e até mesmo a sua inscrição
credibilidade conferida ao know-how interno alavanca na Área de Produção, revelam a centralidade que os
lógicas endogâmicas de formação nas empresas que processos produtivos têm na estratégia de desenvol-
fazem uso dos seus próprios recursos para resolver os vimento da empresa. Consentaneamente, as atividades
seus problemas concretos (Caspar, 2011; Estêvão et da formação submetem-se aos ritmos, ciclos e exigên-
al., 2006), confirmando a primordialidade da experiên- cias da produção, estabelecendo-se uma relação fusio-
cia na procura de soluções para melhor se adaptarem, nal entre esta e a formação (Rodrigues e Alves, 2017).
ou mesmo anteciparem, aos problemas surgidos no seu A missão central da formação internalizada é, neste
quotidiano. caso particular, promover uma maior identificação dos
Estas «novas» realidades formativas participam na trabalhadores com os conceitos metódicos do Sistema
construção de uma matriz educadora/socializadora de Produção e, em simultâneo, as competências técni-
que é poderosa e abrangente, nomeadamente porque o
seu impacto não se limita à esfera profissional (Dello- 1
A título exemplificativo, consideram-se os estudos de Estêvão et al.
(2006), Veloso (2007), Almeida et al. (2008), Bernardes (2013), Almeida
be, 1996). Contudo, a interpretação linear de que a re- e Alves (2014) e Rodrigues (2016), todos eles centrados em empresas
lação entre a formação pensada em articulação com o nacionais.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 37
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

cas adstritas aos processos operacionais do trabalho. Estas em saberes prescritos, com base nos conceitos e standards
duas dimensões da formação são assumidas como basilares do Sistema de Produção emanado do grupo que gere a multi-
e transversais para todos os trabalhadores da empresa. Para nacional. A estrutura de formação interna converte-se, assim,
que estes objetivos se concretizem, a formação abrange não num agente mediador das orientações da Área de Produção,
só aqueles que intervêm no chão de fábrica – operadores que por sua vez é porta-voz das diretrizes da empresa-mãe.
de linha, líderes de equipa, supervisores – como também os Uma formação concebida nestes moldes preconiza a flexibi-
que estão afetos aos serviços de apoio – recursos humanos, lização e polivalência de competências e funções no quadro
logística, finanças. Deste modo, a formação fomenta uma de uma matriz organizacional que é marco estruturante, cuja
heterogeneidade dos grupos de formação que favorece o diá- primazia se propaga do contexto de trabalho para o da forma-
logo e a partilha de conhecimento entre diferentes áreas e ção e do contexto global para o local.
hierarquias de trabalho, enquanto promove a transversalida- A emergência de práticas de formação integradas no funcio-
de e flexibilização de competências. Conforme Veloso (2007) namento das empresas é, como se percebe, uma realidade
também faz notar, a flexibilidade exigida pelo mundo do tra- complexa, feita de realidades particulares e expande, do
balho é, hoje, determinante nas formas de trabalhar e nos ponto de vista da sua análise crítica, a discussão em torno
modos de organizar o trabalho, impondo um conhecimento dos objetivos com que é concebida. Com efeito, ainda que
sólido de todos sobre os processos de produção e sobre todo as práticas formativas nas empresas possam estar ancora-
o sistema técnico e organizacional de uma empresa. das num discurso que enfatiza a importância da formação
É ainda de assinalar que as atividades formativas são mor- enquanto contributo para o processo de desenvolvimento
mente baseadas na reflexão sobre as operações e os proble- dos trabalhadores, concretizam frequentemente uma lógica
mas do trabalho, através do questionamento sobre a prática gestionária de recursos humanos (Canário, 2003). Segundo
profissional para a melhorar. Além destas atividades motiva- esta perspetiva, a formação é entendida como um instru-
rem a partilha de decisões sobre os problemas a resolver, o mento de valor acrescido, inscrito numa estratégia global de
seu principal intuito prende-se com a explicitação dos sabe- desenvolvimento das organizações que tem em vista metas
res tácitos dos trabalhadores com vista à sua reconfiguração e resultados económicos bem definidos, mais do que partici-

38 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Sobre a promoção das aprendizagens
em contexto de trabalho 2

A função da
formação integra
as estratégias
de crescimento
e mudança das
próprias empresas,
participando de
forma preponderante
na reconfiguração da
natureza dos saberes
e competências
atualmente
solicitados pelos
Bibliografia
• ALMEIDA, A. J., ALVES, N., BERNARDES, A. e NEVES, A, «Estruturas e
práticas de formação das médias e grandes empresas em Portugal», in

mais variados
Atas do VI Congresso Português de Sociologia, n.º série 731, pp. 3-20.
Consultado a 29 de março de 2017. Disponível em http://www.aps.pt/
vicongresso/pdfs/731.pdf, (2008).

setores e atividades • ALMEIDA, A. J. e ALVES, N., «A formação profissional nas empresas


portuguesas. Entre a tradição e os desafios da competitividade», in
Caetano, A., Silva, S. A., Tavares, S. M. e Santos, S. C. (org.), Formação

profissionais e Desenvolvimento Organizacional. Abordagens e Casos Práticos em


Portugal, Lisboa, Mundos Sociais, 2014, pp. 61-73.
• BERNARDES, A., Políticas e Práticas de Formação em Grandes Empre-
sas. A Dimensão Educativa do Trabalho, Porto, Porto Editora, 2013.
• CANÁRIO, R. (org.), Formação e Situações de Trabalho, Porto, Porto
Editora, 2003.
• CANÁRIO, R., «Aprender sem ser Ensinado. A Importância Estratégica
pando num processo contínuo de evolução e emancipação da Educação Não Formal», in Miguéns, M. I. (dir.), A Educação em
dos trabalhadores. Portugal (1986-2006). Alguns Contributos de Investigação, Lisboa,
Compreende-se que a função da formação desenvolvida e Conselho Nacional de Educação (CNE), 2007, pp. 207-267.
• CASPAR, P., La Formation des Adultes: hier, aujourd’hui, demain...,
articulada com os contextos de trabalho, sobretudo nas gran- Paris, Eyrolles Éditions d’Organisation, 2011.
des empresas, não é já apenas a de capacitar os trabalhado- • DELLOBE, N., «Formation en entreprise et socialisation: cadre d’émer-
gence et processus psycho-sociaux», in Francq, B. e Maroy, C. (org.),
res para as permanentes mudanças técnicas e tecnológicas. Formation et socialization au travail, Paris, De Boeck et Larcier S.A,
A função da formação integra as estratégias de crescimento 1996, pp. 41-56.
• ESTÊVÃO, C., GOMES, C. A., TORRES, L. L. e SILVA, P. (org.), Políticas
e mudança das próprias empresas, participando de forma e Práticas de Formação em Organizações Empresariais Portuguesas,
preponderante na reconfiguração da natureza dos saberes Braga, CIEd, Universidade do Minho, 2006.
e competências atualmente solicitados pelos mais variados • KOVÁCS, I. e CASTILLO, J. J., Novos Modelos de Produção: Trabalho e
Pessoas, Oeiras, Celta Editora, 1998.
setores e atividades profissionais. É, pois, do maior interes- • RODRIGUES, S., «Formação e Exercício do Trabalho: Práticas e
se que se conheçam com maior profundidade as opções Lógicas de Formação Profissional Contínua Numa Grande Empresa»,
Lisboa, Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, Tese de
formativas das empresas, por forma a que se compreendam Doutoramento, 2016.
essas tendências de mudança. Esse conhecimento permiti- • RODRIGUES, S. P. e ALVES, N., «A indelével relação entre trabalho e
formação: o caso do Centro de Formação de uma grande empresa»,
ria mapear as práticas de formação inscritas em contextos Revista Portuguesa de Pedagogia, n.º 50-51, 2017, pp. 117-138.
organizacionais e clarificar as orientações que prevalecem • VELOSO, L., Empresas, Identidades e Processos de Identificação,
na promoção das aprendizagens em contexto de trabalho. • Porto, Editora UP, (2007).

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 39
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

A APRENDIZAGEM
COMO MODELO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
JOSÉ DE OLIVEIRA GUIA, REPRESENTANTE DA CIP – OPTICREATIVE
CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL NO C.A. DO IEFP, I.P.

A. UMA METODOLOGIA GLOBAL e ainda matérias específicas da formação profissional, mas


1. O objetivo desta reflexão sobre aprendizagem não é o es- no sentido político do combate à segregação social culti-
clarecimento do conceito na sua aplicação ao processo na- vada no «antigo regime» e traduzida na existência de um
tural de apreensão e compreensão do «eu», que se vai (re) sistema liceal que preparava os filhos das «elites» – sele-
conhecendo ao longo da construção irrepetível e sempre cionados para a universidade e destinados a ocupar os altos
inacabada, do seu universo relacional, objetivo e subjetivo, cargos das estruturas políticas e da alta administração do
com a «realidade» envolvente. Respeitadas as óbvias seme- Estado –, e de um dispositivo territorial de escolas técni-
lhanças, o propósito é bem mais prosaico: trata de utilizar o cas destinadas a preparar os filhos dos segmentos sociais
conceito no quadro da sua identidade com uma metodologia mais frágeis da população para o desempenho das tarefas
de transmissão de conhecimentos e competências opera- profissionais anónimas mas imprescindíveis à atividade da
cionais que visam o «fazer saber fazer». economia real: a dos bens e serviços transacionáveis.
Adotar o vocábulo «aprendizagem», de tão vasta pluralidade A criação do ensino unificado decorreu, portanto, do impe-
de sentidos e aplicações, como identificador de uma modali- rativo «revolucionário» de uma igualdade social apenas
dade formativa, não terá sido uma escolha inteiramente fe- formal; não foi suportado por uma lógica vocacional ou por
liz; e talvez radique nesta circunstância o facto de, enquanto critérios de racionalidade na eleição dos modelos mais ade-
identificadora de um sistema de formação profissional, a ad- quados às necessidades da atividade económica: a prolifera-
jetivação complementar – «dupla certificação» – é a que, ção das «ofertas» foi a demonstração inequívoca da total
com maior precisão, traduz a sua mais impressiva natureza. ausência de uma política – que resultou, por sua vez, da
É precisamente por aqui que importa caminhar: visitar-lhe as falta persistente e incompreensível de uma estratégia. Os
origens, compreender-lhe a natureza, identificar-lhe as virtu- muitos milhões de contos e de euros (cinco vezes contos)
des e, com o rigor possível, fixar os termos e os modos de oriundos da CEE – Fundos Estruturais e Fundos de Coesão
converter tudo isto num contributo sério para a progressi- –, dizimados pela miríade de «operadores», públicos e pri-
va melhoria da qualidade do desempenho nacional. vados, em delírios de «devassidão», com altíssimos índices
2. A aprendizagem, na asserção de «oferta» formativa – de incompetência e oportunismo, por vezes roçando a cri-
para utilizar a terminologia generalizada pelo uso (inadequa- minalidade, foram exemplares da particular aptidão lusitana
do) do que, em boa verdade, é tão só um modelo de resposta para esgotar as oportunidades irrepetíveis de valorização e
às necessidades – portanto, à «procura» – de operadores enriquecimento do corpo nacional em estratagemas e apro-
qualificados para as várias disciplinas da atividade económi- veitamentos que combinam, em doses variáveis, a ilicitude,
ca, surgiu há trinta e cinco anos como resposta administrati- a imoralidade e até, desgraçadamente, em alguns casos, o
va aos graves problemas resultantes da extinção do Ensino crime.
Técnico Profissional. 3. A desordem instalada nos processos de atribuição e con-
A verdade é que o vazio cavado não foi preenchido pelo nas- trolo da aplicação dos recursos financeiros destinados à
cimento de uma tipologia de ensino que, então, se designou formação profissional induziu a avidez das corporações de
por unificado: não no sentido de que o seu conteúdo curri- interesses, confundiu os que tinham por missão identifi-
cular integraria disciplinas dos ensinos básico e secundário car os problemas (que eram necessidades imperiosas) e

40 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
2

conceber os modelos das


respostas que não se esgo-
tavam na disponibilidade de
dinheiro. As questões-chave
eram, são e sempre serão,
portanto, a formulação dos
conteúdos formativos, a
eleição e disponibilidade da
instrumentação didática,
as definições e orientações
pedagógicas, os formadores
qualificados para a trans-
missão dos conhecimentos
teóricos e das tecnologias
de processo e de produção
aplicáveis a cada uma das
disciplinas e fases do fazer
saber fazer – identificadas
com as necessidades reais
da economia (universo das
empresas).
A aprendizagem distingue-se, assim, no conjunto das tipo- Do ponto de vista (da filosofia) do conceito desta modalidade
logias formativas, como o método por excelência do que formativa, a aprendizagem exibe ainda a especificidade de
poderíamos, com todo o rigor, designar por formação profis- se dirigir à pessoa do formando como unidade indestrutí-
sional aplicada. Porque é, de facto, o caso. A chamada dupla vel: consciência reflexiva; pensamento autónomo; sensibi-
certificação atribuída aos formandos com aproveitamento lidade como refúgio e reserva de identidade; sociabilidade
atesta que são portadores de dois tipos de competências: as como impulso e desejo de partilha. A metodologia, assente,
de natureza escolar, que os habilitam para a compreensão do ponto de vista técnico, em dois tempos distintos – a for-
e relação com as envolventes interna e externa – de ordem mação (teórica) em sala e a formação (prática) em contexto
social ou política, técnica ou tecnológica – numa perspeti- real de trabalho –, não pode esquecer nunca a unidade sin-
va de cidadania informada e responsável; e as de natureza gular de cada um dos formandos enquanto pessoas. Neste
profissional, que os certifica para o exercício qualificado quadro – que toma a pessoa por inteiro –, bem se pode falar
– geralmente no seio de organizações empresariais – das de «metodologia global» quando nos referimos ao sistema
operações de natureza técnica que, integradas em progra- de aprendizagem; e é exatamente por isso que se constitui
mas de investigação ou produção de bens e serviços, têm como instrumento privilegiado das funções educativa e for-
por objetivo servir (isto é, resolver, suprir) necessidades das mativa de jovens: que, sendo distintas, são naturalmente
comunidades humanas. complementares na perspetiva dos objetivos (necessida-
des) que visam satisfazer.

A aprendizagem distingue-se, assim, no


conjunto das tipologias formativas, como o
método por excelência do que poderíamos,
com todo o rigor, designar por formação
profissional aplicada

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 41
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

B. APRENDIZAGEM: ENSINO E FORMAÇÃO

A chamada dupla
1. Como metodologia, a aprendizagem harmoniza e poten-
cia as virtualidades do sistema de ensino – fornecedor das
«linguagens relacionais» e instrumentais da socialização
que cimenta as comunidades –, com o conhecimento e do- certificação atribuída
mínio dos materiais e tecnologias de produção dos bens e
serviços de que aquelas necessitam: as credenciais a que aos formandos com
chamamos competências e se traduzem na capacidade de
«saber fazer». aproveitamento
O chamado ensino vocacional – identificado como oferta no
«portefólio» do MEC – revela a persistência no equívoco bá- atesta que são
sico que perverte a ordem natural das coisas: os serviços de
educar, ensinar, formar, qualificar, certificar, não residem em
portadores
estado de imanência numa qualquer sede de sabedoria que
tenha por endereço o MEC e por administradores plenipoten-
de dois tipos
ciários os seus quadros científico e político-administrativo.
Não dispondo o MEC de um catálogo de soluções acabadas,
de competências: as
não pode, portanto, oferecê-las; tem, sim, com o recurso às
competências científicas de que dispõe, a vocação e o dever
de natureza escolar,
de investigar, testar e propor as soluções que, no plano do (...) e as de natureza
profissional, (...)
ensino, da formação e da certificação profissionais do nos-
so «tecido» humano, melhor respondam ao dinamismo e
variabilidade das necessidades do país, em processo de
permanente identificação pelos atores desse ofício.
Ora tem o MEC, no quadro do seu atual desenho institucional
e operacional, condições para o conveniente desempenho «vertida» em Instituto Público («et pour cause»). A outra
de tarefas que pretende atribuir-se, não já no que respeita ao tutela da ANQEP é o MTSSS – Ministério do Trabalho, Solida-
ensino das áreas científico-humanistas (a amável distinção riedade e Segurança Social – que é igualmente tutela do IEFP,
utilizada pela «intellegentia» científico-burocrática instala- Instituto Público investido na responsabilidade de executar
da para diferenciar do plebeísmo do «fazer saber fazer» a – e com o sucesso que os mais exigentes critérios interna-
nobreza do conhecimento teórico muitas vezes diletante), cionais exuberantemente ilustram –, as políticas públicas de
mas precisamente para habilitar os nossos jovens e os nos- promoção do Emprego e da Formação Profissional. Cabe per-
sos ativos com as competências para o «saber fazer», im- guntar, então, a que título, com que fundamento, critérios,
prescindíveis à economia real do país? – Reconhecidamen- competências e recursos didáticos específicos vem o MEC
te, não! a «construir» – ignorando as necessidades concretas da
2. A incapacidade do MEC para assegurar o imprescindível economia e do universo empresarial que importa servir e
serviço de formar profissionais para as necessidades de sustentado no recurso ao expediente de uma «silenciosa via
uma atividade económica confrontada com crescentes e legislativa à medida» –, o modelo virtual de apropriação de
diversificadas exigências de competitividade global não se funções que desde há quarenta anos lhe não competem?
mede apenas pela óbvia inadequação dos seus recursos Se somarmos às interrogações formuladas os sucessivos
didático-pedagógicos e humanos à especificidade e com- exercícios de irracionalidade – desde logo os transportados
plexidade da tarefa. Desde logo, atente-se na circunstância nas absurdas e até ilegítimas restrições financeiras que
paradoxal de o MEC não dispor, sequer, de uma via de diálogo estão a conduzir à desagregação e paralisia acelerada do
institucional com as estruturas de representação dos atores sistema nacional de formação e qualificação dos nossos
da atividade económica. Como pode, então, produzir perfis jovens e ativos, assente no dispositivo de Centros de For-
profissionais e conteúdos curriculares que sirvam neces- mação Profissional do universo IEFP e em algumas Esco-
sidades que não conhece? las Profissionais –, resta concluir que uma imperativa de-
Sabe-se como tem vindo a ser eludida esta insuperável fra- cisão estratégica aplicada à questão fulcral de qualificar os
gilidade: ao preço do desrespeito sistemático pelo estatuto nossos ativos humanos está a ser sacrificada à necessida-
institucional de dupla tutela da ANQEP – Agência Nacional de circunstancial do sustento financeiro da hiperestrutura
para a Qualificação e o Ensino Profissional, posteriormente acumulada no MEC. •

42 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
PONTO DE VISTA | EM FOCO 2

TRAJETÓRIAS
PROFISSIONAIS
UM OLHAR
SOBRE O PRVCC A
o longo dos anos, a Câmara Municipal de Lisboa tem
reforçado a sua aposta na educação e qualificação
de adultos através do seu Programa + Valor, onde
se inserem as atividades do Centro Qualifica da Autarquia e
LUIS VICENTE, DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO o Projeto Trajetórias Profissionais, que procura recolher os
E FORMAÇÃO / CENTRO QUALIFICA DA CM LISBOA testemunhos dos adultos que frequentaram o Processo de
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO E FORMAÇÃO Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências
/ CENTRO QUALIFICA DA CM LISBOA
(PRVCC) na CML, constituindo também um acervo documen-
tal de Portefólios de Competências disponível à comunidade
e a todos os que se interessam pela aprendizagem ao longo
da vida e pela metodologia assente na narrativa autobiográ-
fica.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 43
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

Nesta medida, e com base na recolha de alguns desses tes- também não os valorizam, o sentimento de incapacidade
temunhos, procura-se refletir acerca do caminho trilhado, aumenta, fazendo diminuir drasticamente a taxa de suces-
sobre a importância do PRVCC no sistema de qualificação e so. Não obstante o défice de qualificações escolares, a não
seu impacto junto daqueles que tiveram a oportunidade de o conclusão dos estudos não impediu os adultos de adquirem
trilhar, partilhando assim algum do nosso sentir. saberes práticos. Aliás, será essa mesma práxis que lhes irá
O nosso olhar prende-se, muitas vezes, aos balanços positi- proporcionar os meios para que possam ver certificadas as
vos e negativos do passado, diluindo a perceção da riqueza suas competências, construídas em diferentes contextos,
das aprendizagens proporcionadas ao longo do tempo. Por formais, não formais e informais, e que devem ser integra-
isso, e não obstante muitos dos adultos que iniciam um Pro- doras de saberes, tornando-se assim necessário envolver
cesso de Reconhecimento, Validação e Certificação de Com- os que mais precisam e que se encontram afastados de ex-
petências (PRVCC) terem um elevado património pessoal de periências educativas.
competências e aprendizagens, têm uma imagem menor Daí que a primeira preocupação dos técnicos que acom-
de si mesmo, desvalorizando essas mesmas competências panham os adultos que iniciam um processo de RVCC não
que muitas vezes não sabem reconhecer como um valor em seja a certificação em si mesmo, mas criar as condições
si próprio e em si. necessárias para desbloquear os constrangimentos e gerir
«Bastante. Porque eu muitas vezes julgava que era um zero as expetativas. Procura-se que o adulto reconstrua e valo-
à esquerda. Mas ao escrever, verificava, eu sou uma pes- rize o seu trajeto de vida, atribuindo-lhe novos sentidos e
soa.» significados. Este é, assim, o momento de reviver o vivido,
«Eu a princípio, quando me foi dada a hipótese de ver re- pensar o presente e projetar o futuro.
conhecidas as minhas competências, pensei que isto não A reconstrução de vivências é uma reconstrução reflexiva,
tinha muito a ver com a minha vida, eu não estudei o su- que está na base da aprendizagem e do saber. O reconhe-
ficiente para ver reconhecidas as competências em deter- cimento de competências exige a cada um a capacidade de
minadas áreas que eu pensava que não tinha. E ao longo analisar e refletir acerca das suas experiências de vida que
de todo o meu processo, eu realmente fui aprendendo que lhe permitiram adquirir aprendizagens e desenvolver com-
apreendi muito ao longo da minha vida (...) que me deu mui- petências. Conhecer-se a si próprio exige uma autorreflexão.
tas competências.» As histórias de vida possibilitam esse balanço retrospetivo.
São adultos com baixo nível de qualificação, com precarieda- É a possibilidade de olhar para o caminho percorrido, para
de profissional, com dificuldades de integração, o que influi as pessoas que passaram e que permanecem nas nossas
direta ou indiretamente na sua vida pessoal e social. Esta vidas e ver sentidos e significados nesses acontecimentos.
autodesvalorização tende a transformá-los em pessoas E esse caminho não tem um fim, porque há sempre algo que
sem perspetivas, com pouca autonomia e baixa autoestima, descobrimos de diferente em nós.
o que aumenta a resistência, condicionando o processo de «(...) foi conhecer-me. Realmente eu desconhecia-me. Te-
reconhecimento de competências e o objetivo da certifica- mos a noção que nos conhecemos, mas depois quando
ção. A desmotivação tende a emergir e, quando os outros aprofundamos e vamos escrevendo a nossa História de

44 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Trajetórias profissionais 2

Reviver o passado implica pensar


o presente, abrir as gavetas da nossa
memória e percecionarmos o saber
adquirido na relação com o outro, porque
só nesse outro ganhará o verdadeiro
sentido de si

Vida, vamos vendo... O que é isto? Então, aí, ficamos a co- de integração positiva de tudo o que foi vivido, permite a
nhecermo-nos realmente. Nunca admitimos, mas quando valorização da identidade e possibilita o emergir de novos
começamos a escrever, ficamos assim... (suspiro), afinal eu desafios tanto pessoais como profissionais, e neste sentido
sou diferente. Eu não sou aquilo que os outros pensam que torna-se um meio de projetar o futuro.
eu sou, e eu sou mais do que aquilo que pensava.» «Sim, porque levou-me a desejar sempre aprender mais.
«(...) à medida que vamos escrevendo, vamo-nos lembran- Eu quando terminei o processo de RVCC não fiquei de bra-
do de mais um pormenor, mais uma coisinha, mais qualquer ços cruzados e procurei desde logo mais formação (...), es-
coisa que estava lá escondido no recôndito da nossa memó- tou em constante aprendizagem, foi uma das coisas que o
ria. É muito giro, é muito gratificante.» PRVCC me deu. A oportunidade de me lembrar que eu gosto
«Viajar no tempo trouxe-me momentos de reflexão e emo- de aprender!»
ções...» «Abriu-me a mente para ir um bocadinho mais longe... ten-
«Abordamos várias etapas da nossa vida que nos fazem, tar fazer a faculdade.»
sem querer, simplesmente parar por momentos, quando «Contribuiu (...) a decisão de encetar o curso de arquitetu-
estamos as escrever. Nestes “momentos de paragem” dou ra, o PRA foi um trampolim (...)»
por mim a refletir sobre algo que queria passar para o pa- «Sim, ainda não concretizei o sonho de estudar psicologia
pel e penso, penso... houve fases em que ri sem parar, ou- por causa do meu desemprego. O que eu tenho colocado
tras que chorei, outras que refleti, desligando por completo de parte é para uma emergência e como o miúdo continua
o computador.» desempregado... primeiro está ele. Mas ainda vou fazer o
Reviver o passado implica pensar o presente, abrir as gave- curso de psicologia (...) o handicap de não ter concluído a
tas da nossa memória e percecionarmos o saber adquirido escolaridade, o ter de voltar à escola, estudar matemática,
na relação com o outro, porque só nesse outro ganhará o afastava-me.»
verdadeiro sentido de si. Este processo de consciencializa- A conclusão de PRVCC surge assim como a alavanca para no-
ção, de recuperação de memórias, de génese de sentido, vos percursos formativos e para um maior enriquecimento

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 45
2 PONTO DE VISTA | EM FOCO

ao nível de conhecimentos e de novas competências como A partilha de experiências cria saberes coletivos e auxilia a
um meio, e não como um fim. caminhada de outros, além de nós mesmos. E este é um dos
Quando o adulto termina o processo de RVCC com a respeti- objetivos a que nos propusemos, o de partilhar, de lançar o
va certificação é percetível uma valorização pessoal, mes- desafio para que outros possam trilhar novos caminhos.
mo quando o adulto está numa situação de desemprego. Este desafio levou-nos a querer explorar o significado da ex-
Obter a certificação significa mudar a visão de si próprio e periência autobiográfica implícita no processo de RVCC, pro-
do modo como perceciona a realidade e como interage com curar o sentido e a avaliação crítica das experiências viven-
essa mesma realidade. ciadas, avaliando também o impacto e o grau de satisfação
«A nível pessoal o PRVCC contribuiu para sentir-me realiza- dos adultos que frequentaram o PRVCC no Centro Qualifica
da, pois consegui subir este degrau e já posso dizer tenho o da CML.
12.º ano. Pode ser pouco ainda, mas digo-o com orgulho de Neste sentido surgiu o Projeto Trajetórias Profissionais, in-
mim. Nunca é tarde.» serido no Programa + Valor da CML que tem como objetivo
«Eu pessoalmente até me tornei um defensor acérrimo des- a construção de um acervo de Portefólios de Competências
te processo e até procurei difundir ao máximo, pois enten- dos candidatos que frequentaram e concluíram o PRVCC,
di que sendo uma experiência ótima para mim, de certeza valorizando a aprendizagem adquirida e o saber fazer, di-
também seria para os outros (...) vejam lá se abrem cami- vulgando e dando a conhecer todas as potencialidades do
nhos na vossa vida e tentem isto, porque vale a pena.» PRVCC. Para isso foram efetuadas diversas entrevistas aos
Aliada a essa valorização pessoal surge a expetativa de uma adultos que terminaram o seu percurso, cujo conteúdo par-
progressão na carreira, e que muitas vezes é efetivada face tilhamos em alguns excertos, e recolhidos diversos porte-
à conclusão do percurso escolar via PRVCC. fólios que enriquecem uma base de dados que se encontra
«Profissionalmente é uma mais-valia. Sou assistente opera- disponível para a comunidade científica e académica, e do
cional a exercer funções administrativas e se abrirem con- qual já apoiaram diversas linhas de investigação na área das
cursos para técnica administrativa já poderei inscrever-me Ciências da Educação, nomeadamente na área de especiali-
e assim equiparar as minhas funções à categoria, visando zação em formação de adultos.
uma maior estabilidade no serviço e financeira também.» Cremos que, no Ano Europeu da Educação de Adultos, esta é
«Neste momento permitiu-me mudar (…) de categoria pro- uma boa forma de reiterar a importância da Aprendizagem
fissional, porque até dezembro do ano passado era canto- ao Longo da Vida (ALV) e a mais-valia do PRVCC no aumento
neira de limpeza, assistente operacional e neste momento da qualificação escolar, e que esta seja uma importante fon-
através de procedimento concursal consegui passar para te de motivação para que novos adultos possam, também
assistente técnica.» eles, prosseguir os seus estudos e valorizar-se pessoal e
Algo que aprendemos com as histórias de vida é que «não profissionalmente.
existem vidas erradas», elas são a consequência do nosso Afinal a perceção sobre nós mesmos pode modificar a nossa
caminho. Se em determinado momento da nossa vida parar- ação no futuro. A busca desta singularidade é o nosso desa-
mos e procurarmos em nós «e se eu tivesse feito diferente?» fio e o desafio de todos nós. •
O diferente seria isso mesmo, diferente. E a incerteza dessa
diferença é a incerteza de nunca termos o termos trilhado.

46 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
PONTO DE VISTA | RADARNome
GLOBAL
do artigo 2

BÚSSOLA GEOPOLÍTICA
RUBEN EIRAS, ESPECIALISTA EM SEGURANÇA OPTICREATIVE
ENERGÉTICA (REIRAS@GMAIL.COM)

EUA COLOCAM
nível no mercado, fizeram com que as linhas de crédito con-
tinuassem a fluir para os produtores shale, originando uma
retoma da perfuração para preencher essa lacuna no inven-

PETRO- tário mundial. Ou seja, os cortes de produção acabaram por


servir a viabilização do negócio do shale dos EUA.
Os dados indicam essa tendência: o número de poços em

-ESTADOS NA operação duplicou desde maio de 2016, segundo a Baker Hu-


ghes. E o ano de 2017 pode ser o do regresso do crescimento

ENCRUZILHADA
do investimento no shale nos EUA. Se entre 2014 e 2016 os
investimentos nos EUA desceram de 180MM$ para 60MM$,
é expectável um aumento de 40% no presente ano.

GEOPOLÍTICA Segundo as previsões da Rystad Energy, no que toca ao pe-


tróleo shale, as zonas de produção da Permian contribuirão
com um crescimento de 250 kbbl/d, a seguir às quais se si-
tua o Niobrara com 50 kbbl/d. Para concretizar este cresci-

A
OPEP e a Rússia deverão ter de estender os tetos de mento de produção, será preciso mais atividade de perfura-
produção para além do verão de 2017. É que o stock ção. A Rystad Energy indica que a zona do Permian Delaware
de crude nos EUA está a aumentar para níveis recor- captará 4,5MM€ de investimento, ou seja, um crescimento
de e os preços estão persistentemente abaixo dos $50/bbl. de 57%. Eagle Ford crescerá 60%.
A OPEP e a Rússia são petro-Estados, um grupo geopolítico E como se não bastasse, a Repsol realizou a maior descober-
focado nos preços elevados do crude, e vão fazer tudo para ta de petróleo dos últimos 30 anos em solo norte-america-
que tal aconteça. É que, apesar do preço descer 20% após no, no estado do Alasca, na formação de Nanushuk, e deverá
o anúncio dos cortes de produção, o facto é que o preço totalizar cerca de 1200 milhões de barris de crude.
do barril voltou a contrair não só devido à insuficiência dos A produção deverá arrancar em 2021, sendo que a jazida
mesmos, mas também devido à resiliência dos produtores terá potencial para produzir 120 mil barris de petróleo por
shale dos EUA. A reunião dos ministros da OPEP em Viena a dia. Um dos poços, denominado Horseshoe-1, foi perfurado
25 de maio irá dar a resposta se o corte de produção irá ser a uma profundidade de 1828 metros, tendo sido descoberta
estendido ou não. O mais provável é que o farão. uma coluna de petróleo de 46 metros. O segundo poço, no
Como mostram os dados da AIE, ao ritmo atual de diminui- qual foi descoberta uma coluna de 30 metros, foi perfurado
ção dos inventários de crude a OPEP e a Rússia irão gastar a uma profundidade de 2503 metros.
menos de um terço do excesso dos 300 milhões de barris se Portanto, está instalado o dilema geopolítico na OPEP e nos
o corte de produção não ultrapassar os seis meses. seus petro-Estados aliados na guerra contra o shale oil dos
EUA: se sobem a produção, o preço cai, mas não o suficien-
O EFEITO PARADOXAL DOS TETOS te para inviabilizar os shale wildcats e as novas produções
DE PRODUÇÃO DA OPEP convencionais – e pelo caminho depauperam a sua susten-
Mas se o mesmo corte de produção for estendido, este po- tabilidade financeira, dada a sua extrema dependência de
derá funcionar como um paradoxal incentivo para o estímulo receitas do petróleo; se cortam a produção, criam incentivos
do crescimento do shale nos EUA, que cresce para preen- para a produção shale dos EUA crescer e ganhar quota de
cher o vazio da produção. Isto porque os tetos de produção mercado – e o preço do barril não volta a subir, depauperan-
da OPEP, destinados a reduzir a quantidade de crude dispo- do na mesma a seiva da sua sobrevivência financeira. •

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 47
2 PONTO DE VISTA | RADAR GLOBAL

BANCO DE IDEIAS VERDES


RUBEN EIRAS, ESPECIALISTA EM SEGURANÇA OPTICREATIVE
ENERGÉTICA (REIRAS@GMAIL.COM)

EMPRESAS PETROLÍFERAS
APOSTAM NA EÓLICA OCEÂNICA

C
om as projeções a indicarem uma estagnação no A big major anglo-holandesa está especialmente interessada
consumo de crude, as empresas petrolíferas estão a na eólica oceânica, dado que o seu contexto de produção é
adaptar-se ao novo mercado das energias limpas. altamente favorável à geração de eletrolise para o fabrico de
Segundo as previsões da Bloomberg New Energy Finance, hidrogénio. A Shell perspetiva o hidrogénio como o melhor
daqui por duas décadas as tecnologias da energia solar, eóli- substituto do petróleo para a mobilidade.
ca e as viaturas elétricas irão substituir 13 milhões de barris As movimentações são sinal disso mesmo: ganhou contra-
de petróleo por dia na procura mundial, um volume maior do tos na Holanda para construção dos parques eólicos Bor-
que aquele que está a ser produzido atualmente pela Arábia selle III e IV em dezembro de 2017, com o segundo custo de
Saudita (11 milhões bbl). produção mais baixo a nível mundial. Ou seja, sendo uma
Com efeito, o CEO da Shell declarou recentemente que a pro- empresa com cultura de elevada eficiência, está a trazer
cura por petróleo irá atingir o pico na próxima década. esse conhecimento de engenharia para o negócio da eólica
offshore. Além disso, é uma empresa com grande expertise
na comercialização energética, fator crucial para a rentabili-
dade atrativa da eólica offshore.
A Statoil está a perseguir um caminho semelhante. O parque
eólico da estatal norueguesa na costa este inglesa será 40%
mais barato face a outro construído seis anos antes mesmo
ao lado. Isto porque a empresa está focada na criação de fun-
dações que eliminem os custos elevados da ancoragem das
estruturas offshore no leito submarino. Além do Reino Unido,
a Statoil também está a desenvolver projetos na Alemanha,
Noruega e Nova Iorque.
Segundo a BNF, os custos poderão cair 26% até 2035, devido
a maiores turbinas e a maior competição. A entrada das big
majors neste negócio é uma tendência de longo prazo, já que
são empresas com uma escala que lhes permite financiar
estes projetos a um custo mais baixo face aos concorrentes.
Isto significa que as renováveis oceânicas estão entre as
prioridades de diversificação do negócio das petrolíferas,
como serão uma das principais fontes de substituição dos
combustíveis fósseis tanto para a eletricidade, como para os
combustíveis líquidos. •

48 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO 3

Opção de «primeira linha»


para muitos jovens
Os cursos de aprendizagem visam constituir uma alternativa
ao sistema formal de ensino em Portugal desde 1984, sob
a responsabilidade do Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP, I.P.), possibilitando uma modalidade de
formação de dupla certificação: escolar e profissional.
A presente reportagem resulta da identificação de alguns
dos «atores no terreno» de um projeto de formação em Viseu.

VITALINO JOSÉ SANTOS (JORNALISTA,


LICENCIADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS)

FOTOS CEDIDAS PELOS ENTREVISTADOS

O
curso de Técnico de Multimédia é um dos caminhos
propostos para a formação inicial de jovens com
idade inferior a 25 anos, qualificando-os para os de-
sempenhos profissionais ligados ao desenho e à produção
digital de conteúdos multimédia, entre outras tarefas téc-
nicas e artísticas de soluções interativas de comunicação.
No âmbito do respetivo projeto de formação e de trabalho,
em regime de alternância, falámos com a diretora do Cen-
tro de Emprego e Formação Profissional (CEFP) de Viseu
(Marta Rodrigues) e com a formadora Andreia Quintal, bem
como com os formandos Bernardo Cangalhas e Joana Fi-
gueiredo, a qual desenvolve a sua aprendizagem prática
numa empresa de fotografia viseense cujo proprietário é o
tutor Bruno Santos.

SUCESSO DA FORMAÇÃO ESTÁ NA DUALIDADE


«O regime de formação em alternância entre os contextos
de formação e de trabalho tem obtido resultados muito po-
sitivos junto dos jovens com maior apetência para a forma-
ção de cariz mais prático», afirma a socióloga Marta Cristi-
na Rodrigues, que dirige o CEFP de Viseu desde novembro
de 2012. No entender desta responsável, «a articulação de
saberes é feita de uma forma mais coloquial», reconhecen-
do que, em ambiente de trabalho, «os jovens conseguem
estabelecer conexões» entre as duas vertentes dos cur-
sos de aprendizagem, os quais se fundamentam no siste-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 49
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

ma dual alemão e na «apprentissage» francesa.


«De facto, o regime em alternância permite um
caráter de maior informalidade à aprendiza- «O regime [de formação] em
gem dos saberes e os jovens acabam por se alternância permite um caráter
rever neste sistema de ensino», observa a de maior informalidade à
diretora do CEFP viseense, admitindo que aprendizagem dos saberes»
«muitos dos conhecimentos apreendidos
observa a diretora do CEFP de Viseu,
pelos formandos só são realmente percebidos a socióloga Marta Rodrigues
quando, na prática, refletem sobre eles». No en-
tanto, «o inverso também acontece – perceberem
conteúdos de caráter mais teórico graças à sua interioriza-
ção informal durante o posto de trabalho». Na opinião de
Marta Rodrigues, «é nesta dualidade que reside o sucesso
da Medida de Aprendizagem». FORMANDOS «CONFIANTES
DAS SUAS CAPACIDADES»
«IMAGEM FRANCAMENTE POSITIVA A propósito das expetativas dos seus formandos no início
NAS EMPRESAS» do Curso de Técnico de Multimédia, a engenheira informá-
Ao caraterizar os jovens que ingressam nos cursos abran- tica Andreia Quintal apercebeu-se que «estavam bastante
gidos pela referida medida de aprendizagem, a diretora do motivados, pois alguns dos cursos que frequentavam – a
CEFP diz que, «maioritariamente», eles são «curiosos para maioria veio do ensino regular – eram muito teóricos e não
quem o modelo tradicional de escola, mais vocacionado tinham grandes perspetivas de empregabilidade».
para a abstração, não permite aquisições de saberes fun- Sabendo que, com este curso, «iriam aliar a teoria à prá-
damentais ao exercício de uma profissão». «Não obstante, tica», a formadora constata que «o que mais os motiva,
temos tido maior incidência de formandos provenientes do ainda hoje, é o facto de poderem frequentar a formação
ensino dito regular que, ao terminarem o 9.º ano de esco- em contexto de trabalho e aplicar [na realidade] as com-
laridade, querem – apoiados pelos pais – ingressar num petências que vão desenvolvendo ao longo das sessões de
curso de aprendizagem», nota Marta Rodrigues. formação, sentindo-se confiantes das suas capacidades».
Convicta de que «estes jovens têm necessidade de sa- Isso, ao mesmo tempo que «conseguem a equivalência ao
beres diferenciados» e também uma maneira «muito 12.º ano, com a possibilidade de integrarem o mercado de
própria» na aquisição de novas competências, Marta trabalho ou de prosseguirem estudos superiores, «já com
Rodrigues compreende que exijam «uma grande dispo- bases a nível técnico».
nibilidade por parte de todos os que com eles articulam, Apresentando-se como um grupo «bastante heterogé-
direta ou indiretamente». Assim, os «desafios constantes neo», com idades que, inicialmente, se situavam entre os
às normas» requerem «uma reflexão crítica» de todos os 15 e os 21 anos, «existiam comportamentos menos aceitá-
intervenientes. veis e alguma dispersão da atenção» por parte de determi-
No campo das relações que se estabelecem (sob a influên- nados formandos. «Com o passar do tempo e com diálogo»
cia dos cursos de aprendizagem) entre o centro de forma- verificou-se uma «melhoria», para a qual também contri-
ção e as empresas da região, estas têm absorvido grande buiu «o caráter prático das sessões de formação».
parte dos formandos, atendendo a que «a prática em con- «Alguns formandos já possuíam conhecimentos de mul-
texto de formação permite desconstruir muitos dos este- timédia, a exemplo do tratamento de imagens e de som.
reótipos relativos a este tipo de formação, ainda encarada Outros nunca tinham contactado com nenhuma das áreas
como uma alternativa de segunda linha para a maioria das que a multimédia pode abarcar», registou então Andreia
famílias». Porém, «esta visão, ainda muito datada, do ensi- Quintal. «Essa heterogeneidade faz com que o formador
no profissional tem vindo a desvanecer-se», considerando prepare as suas sessões e as dinamize de modo a que os
o caso do CEFP de Viseu. «Muito fruto do prestígio social formandos não se sintam perdidos – sobretudo, aqueles
associado às profissões que os nossos formandos desen- que ainda estão a iniciar – nem desmotivados», particular-
volvem e à sua preparação para o mercado de trabalho!», mente os que chegam com algumas noções. Daí que a for-
sublinha Marta Rodrigues, adiantando que estes «jovens madora tenha efetuado uma avaliação diagnóstica de cada
deixam uma imagem francamente positiva nas empresas jovem a fim de «poder adaptar as estratégias necessárias
da região», as quais «assumem já o IEFP como um parcei- para a promoção do sucesso dos formandos». Uma dessas
ro fundamental». estratégias utilizada por Andreia Quintal foi colocar os for-

50 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Opção de «primeira linha» para muitos jovens 3

mandos «mais avançados» a auxiliarem os colegas com


menos experiência, para que se pudesse «começar do «A área de multimédia está em
zero, sem qualquer tipo de fragilidade», e para que «fosse
constante mudança – principalmente,
mais fácil dissipar as dúvidas de todos, uma vez que a tur-
ma é grande» (tem 19 jovens).
a nível do software – e nós
[formadores] temos de ir ao encontro
VALORIZAR A COOPERAÇÃO E O SABER ESTAR das ferramentas mais recentes
«A cooperação entre os elementos da turma, neste mo- e mais usadas no mercado de
mento, é excelente!», salienta a formadora, sugerindo trabalho»
que, na componente tecnológica, «os referenciais de for- diz a engenheira informática Andreia Quintal
mação» devem ser atualizados, tendo em conta as tecno-
logias sobre as quais incidem as sessões formativas. «A
área de multimédia está em constante mudança – princi-
palmente a nível do software – e nós [formadores] temos
de ir ao encontro das ferramentas mais recentes e mais cimentos em sala de aula e os possam apli-
usadas no mercado de trabalho, as quais nem sempre são car em contexto de mercado de trabalho em
as que constam nos referenciais.» três momentos distintos».
Acerca da formação em conjuntura de trabalho, Andreia «Quanto às componentes sociocultural e científica, apesar
Quintal pensa que «o tempo estabelecido [corresponden- de a maioria dos formandos achar o contrário, julgo que
te a 40% da duração total da formação] é suficiente e está estão bem organizadas, possibilitando os conhecimentos
bem enquadrado, uma vez que funciona em regime de al- necessários para o prosseguimento de estudos por parte
ternância, fazendo que os formandos adquiram os conhe- dos que assim o desejam», reforça esta formadora, preo-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 51
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

cupada em «desenvolver uma relação baseada no respeito «TEMOS DE DESENVOLVER COMPETÊNCIAS PARA
mútuo e na criação de um ambiente que proporcione um QUE NOS POSSAMOS ADAPTAR»
clima de confiança e disponibilidade recíproca para ensi- No final de um ciclo de formação, com a duração de 3700
nar e aprender», valorizando «o saber estar». horas, o jovem Bernardo julga que estará «preparado para
trabalhar em qualquer área multimédia, com conhecimen-
tos gerais de fotografia, de tratamento de imagem, de som
e de vídeo, entre outros». «Além disso, as horas de es-
«As horas de estágio tágio vão ajudar bastante na integração no mercado
vão ajudar bastante na de trabalho», considera, na expetativa de um próxi-
integração no mercado mo exercício profissional e de, assim, «ajudar a famí-
de trabalho» lia como for preciso».
«Se me aplicar e continuar a ter o mesmo desempe-
considera o formando Bernardo Cangalhas,
na expetativa de um próximo exercício nho que tive até agora, tenho a certeza de que conse-
profissional guirei entrar no mercado de trabalho mesmo sabendo
que não está fácil», assinala este formando, encarando
o CTM como uma «via verde» no sentido da empregabili-
dade, a par da vantagem comparativa (relativamente a
«SIMPLESMENTE, QUERO ENTRAR outros tipos de aprendizagem) «no que toca à formação
NO MERCADO DE TRABALHO!» e à preparação para a entrada e permanência no mercado
Nascido em Lisboa há 23 anos, Bernardo Miguel Sousa de trabalho». E ainda pela formação prática em contex-
Cangalhas iniciou a sua formação no Curso de Técnico de to de trabalho: «Embora pareça uma carga horária muito
Multimédia (CTM), a decorrer no âmbito do CEFP de Viseu, pesada, essas horas são muito importantes. O regime de
em setembro de 2015. Este jovem optou por um curso de alternância, a meu ver, serve para termos mais e melhores
aprendizagem «devido a não ter finalizado o secundário bases e esclarecermos dúvidas durante a formação.»
normal, na variante de Científicos», e por «precisar», a Embora não acredite numa profissão para toda a vida –
curto prazo, de um «emprego/trabalho». ideia «um pouco ultrapassada», sobretudo no espaço da
«Penso que foi uma das melhores decisões que poderia ter multimédia –, Bernardo Cangalhas reconhece que é um
tomado. Apenas me arrependo de não ter frequentado este domínio «em constante desenvolvimento e evolução, re-
mesmo curso mais cedo. Não por ser menos exigente, mas querendo que continuemos a ser os melhores».
pela experiência profissional a que somos sujeitos», decla- «Por isso, temos de desenvolver competências para que
ra Bernardo Cangalhas. nos possamos adaptar», sustenta o jovem, reparando:
«De todos os cursos disponíveis na altura, quando me «Faço conta de continuar a evoluir na área e de fazer o
inscrevi o de Técnico de Multimédia seria e continua a melhor possível para me manter informado no meu futuro
ser aquele para o qual estou mais vocacionado, uma vez emprego!»
que sempre tive um enorme interesse pela área», refere
o jovem, também motivado com o facto de alguns amigos «FOI UMA DECISÃO DA QUAL
exercerem profissões integradas neste setor, em regime NÃO ESTOU ARREPENDIDA»
de trabalho independente ou em gabinetes de comunica- Até se inscrever no CTM, em 2015, Joana Marta Figueiredo
ção e em empresas gráficas de comunicação audiovisual e frequentou o ensino regular, na área de Línguas e Humani-
de publicidade, entre outras entidades. dades, tendo «deixado uma disciplina por fazer».
«Tanto a família como os meus amigos não fizeram quais- Esta jovem viseense, actualmente com 19 anos, optou por
quer comentários negativos sobre a minha decisão. Pelo um curso profissional «visto que não teria possibilidades
contrário, até me apoiaram na mesma e concordam que de ir para a universidade». Assim, parece-lhe mais fácil
foi uma boa escolha!», acentua Bernardo Cangalhas, pre- aceder ao «mundo do trabalho», expetativa que os fami-
viamente informado de que esta modalidade de formação liares acompanham.
lhe possibilita uma dupla certificação. «Embora a opção A respeito da dupla certificação (escolar e profissional)
de continuar os meus estudos continue em aberto, a pre- inerente ao CTM, Joana Figueiredo não pensa em prosse-
ferência de ir trabalhar e/ou fazer um estágio profissional guir para estudos superiores porque quer começar rapida-
mantém-se. Simplesmente, quero entrar no mercado de mente a trabalhar, deliberação também alicerçada em al-
trabalho!», insiste o formando. gumas dificuldades financeiras. «Foi uma decisão da qual
não estou arrependida. Olhando para trás, arrependo-me

52 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Opção de «primeira linha» para muitos jovens 3

que concerne às relações, no âmbito dos cursos de apren-


Tendo em conta o plano curricular deste curso de dizagem, entre o CEFP de Viseu e as empresas da região,
aprendizagem, a formanda Joana Figueiredo Bruno Santos confirma serem «relações institucionais
nota que
sólidas» e «essenciais para a formação de profissio-
«ajuda a ter outra visão nais competentes».
do que é, realmente, o No que toca a uma eventual visão estratégica relati-
mundo do trabalho» vamente à qualificação como fator essencial para a
melhoria da sua competitividade, este profissional e
empresário ligado à fotografia crê que as empresas e as
demais entidades empregadoras regionais estão sensi-
de não ter feito logo esta escolha assim que bilizadas para investirem na formação e para se moderni-
acabei o 9.º ano de escolaridade», manifesta. zarem. «Acredito que, atualmente, as empresas regionais,
e não só, consideram a qualificação um fator essencial
COMPONENTE PRÁTICA «PRÓXIMA» DA REALIDADE ao seu sucesso no mercado», expressa, perseverando na
Depois de «adquirir as competências suficientes na área transmissão das boas práticas de atuação e nos aspetos
da fotografia, principalmente», a jovem argumenta que a da qualificação e da empregabilidade dos jovens. «O nos-
componente formativa da prática em contexto de trabalho so objetivo passa por criar jovens cada vez mais qualifica-
está mais próxima da «realidade» laboral. Nessa ótica, dos», especifica.
concorda com a carga e a distribuição da componente prá-
tica, tendo em conta o plano curricular do curso de apren- CONJUGAR CONHECIMENTOS TEÓRICOS
dizagem: «Ajuda a ter outra visão do que é, realmente, o COM A PRÁTICA
mundo do trabalho.» Os critérios que privilegiam ou fundamentam a rede de
Agora, numa fase avançada do CTM, tenciona «adquirir ain- parcerias empresariais ativas e estratégicas neste tipo
da mais conhecimentos para, assim, conseguir aproveitar de cursos em sistema dual ou de formação em alternân-
a oportunidade de emprego proporcionada no local» onde cia são, segundo este tutor e empresário, «a qualificação
realizou o segundo estágio, pensando também aí experi- teórica e a prática em contexto de trabalho, conjugando os
mentar o terceiro período de estágio. conhecimentos teóricos com as competências adquiridas
Joana Figueiredo alega tratar-se de um «curso que abran- no posto de trabalho, de modo a cimentar esses conheci-
ge diversas áreas e que é bastante versátil» quanto às mentos».
oportunidades que sugere. Embora caiba a «cada um aper- Por conseguinte, Bruno Santos garante que os cursos de
feiçoar os seus conhecimentos», a formanda frisa que as aprendizagem nos quais participa desenvolvem uma ade-
respetivas «bases são bastante boas». Ciente de que o quada formação prática de elevada qualidade. «Nem pode-
país precisa de si na qualidade de futura técnica de multi- ria ser de outra forma, pois a formação prática é fundamen-
média, a jovem viseense argumenta que, «no mundo atual, tal. No nosso caso, tentamos que o formando domine todo
o importante é adquirir cada vez mais competências em o processo de trabalho, desde o simples carregar no botão
diversas áreas para desempenhar múltiplas funções». da máquina fotográfica até à impressão de fotografias»,
informa o tutor, expressando que o regime de alternância
ALÉM DE «CARREGAR NO BOTÃO lhe parece ser «positivo e equilibrado para a consolidação
DA MÁQUINA FOTOGRÁFICA» dos conhecimentos adquiridos», sendo a respetiva «car-
«Mais do que tutor, procuro ser um “colega” de trabalho, ga horária uma mais-valia para os formandos poderem pôr
embora com mais experiência. É esse conhecimento téc- em prática» os novos saberes teóricos desta modalidade
nico baseado na experiência que lhes quero incutir», es- de formação.
clarece Bruno Santos, um viseense de 32 anos com expe-
riência empresarial no domínio da fotografia há 14 anos. «ALGUNS JÁ TÊM OFERTA
Enquanto responsável pelos postos de trabalho que vai DE TRABALHO GARANTIDA»
disponibilizando na sua empresa, este tutor assume o Retomando a entrevista à diretora do CEFP de Viseu, na in-
papel de facilitador do desenvolvimento e na aquisição de tenção de aferir se os cursos propostos têm a ver com as
competências técnicas, relacionais e organizacionais, por necessidades verificadas em determinadas áreas de ativi-
parte dos jovens que acolhe (ao abrigo da parceria com dades locais e regionais ou se pretendem responder aos
o Centro de Emprego e Formação Profissional – CEFP), a anseios e motivações dos jovens, atendendo ao fascínio
exemplo da formanda Joana Figueiredo. Nessa medida, no das profissões ligadas, por exemplo, ao desenho e à produ-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 53
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

bretudo, pelos mediadores pessoais e sociais, os


«Acredito que, atualmente, as quais têm tido um papel determinante; não só na
perspetivação da oferta formativa, como tam-
empresas regionais, e não só,
bém no acompanhamento dos jovens ao longo
consideram a qualificação de todo o percurso» formativo.
um fator essencial ao seu Para a socióloga Marta Rodrigues, «o sistema
sucesso no mercado» dual permite, de facto, que os jovens transfi-
declara o tutor do CTM e empresário de fotografia ram os seus saberes e que partilhem as suas
Bruno Santos dificuldades de inserção, ainda em contexto de
formação, o que faz com que o seu nível técnico e as
competências transversais sejam superiores aos de ou-
tros trabalhadores que não experienciaram este contexto
de aprendizagem».
ção digital de conteúdos multimédia, Marta Rodrigues de- No que respeita a este curso de multimédia (CTM), a exem-
para com uma questão contraditória: «As profissões mais plo dos demais cursos de aprendizagem, constitui um ca-
bem remuneradas e aquelas que oferecem melhor taxa de minho ou formação inicial que abona «os alicerces para
empregabilidade são pouco atrativas para os/as jovens.» a vida profissional futura dos jovens», tanto «a nível das
Não obstante, «tem havido um trabalho contínuo e de pro- competências técnicas específicas de cada saída profis-
ximidade para a desconstrução destes mitos». «Tentamos sional» como ainda no que se refere às «competências
um equilíbrio entre o que nos é pedido e as reais neces- transversais, as designadas soft skills, fundamentais para
sidades do mercado de trabalho», comenta a diretora do a integração na vida profissional».
CEFP de Viseu, elucidando que «este trabalho é feito, so- Por sua vez, a formadora Andreia Quintal informa que, des-
de que iniciou (em 2015) a
formação com esta turma,
«não houve desistência do
curso por parte de qualquer
formando, o que também
comprova o entusiasmo e
as boas expetativas dos for-
mandos». Numa fase mais
avançada do curso (ou seja,
no seu terceiro período for-
mativo), estes jovens que
frequentam o CEFP «têm
sido bem aceites pelas en-
tidades», dada a sua capa-
cidade em ultrapassar os
desafios propostos.
«O seu aproveitamento
tem sido considerado bas-
tante bom, excelente até,
para alguns formandos»,
distingue Andreia Quintal,
concluindo que, «como
reconhecimento da mais-
-valia em que se tornaram,
alguns já têm oferta de
trabalho garantida, mesmo
ainda antes de terminarem
o curso». •

54 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO 3

Aprendizagem
ao longo da vida
com Prezi
O Prezi oferece um potencial visual para apresentações
sem precedentes, pois combina um ecrã em branco, com
espaço e movimento, envolvendo a audiência por comple-
to. A forma de trabalhar no Prezi é muito acessível e flexível,
pois pode escolher um modelo que depois pode personali-
zar a seu gosto, adicionando conteúdos e diversos tipos de
ficheiros multimédia. Pode melhorar e apresentar o traba-
lho em qualquer local recorrendo a um simples computador
ou telemóvel.

A CRIAÇÃO DE UMA CONTA


Em primeiro lugar, abra o seu browser (navegador web) e
aceda ao endereço www.prezi.com
Depois, faça clique em «Entrar»:

FERNANDO FERREIRA, ENGENHEIRO INFORMÁTICO


A seguir, inserira os seus dados de acesso: e-mail e pala-
FERNANDO FERREIRA ; OPTICREATIVE vra-passe:

V
alorizar a aprendizagem deve ser a aposta de to-
dos, pois a aprendizagem ao longo da vida permite
aumentar a qualificação profissional, algo funda-
mental nos tempos atuais para qualquer cidadão e, conse-
quentemente, para as organizações e empresas.
O Prezi é um sistema on-line que segue o lema «Apresen-
tando a melhor maneira de apresentar», permitindo criar Se desejar pode optar por entrar usando a sua conta de Fa-
excelentes apresentações, elegantes e dinâmicas, como cebook. Depois de inserir os dados solicitados faça clique
iremos demonstrar. em «Entrar», obtendo o acesso à sua conta. Caso ainda
não esteja registado no Prezi, o sistema fornece uma men-
APRESENTAÇÃO DO PREZI sagem de erro, informando que se deve registar:
O Prezi, ao entrar, apresenta-lhe uma justificação do seu
sucesso, da sua eficácia, que é o facto de que 90% do que NOVO NO PREZI? CADASTRE-SE
o seu cérebro sente vem dos olhos! De facto, a parte visual
de qualquer projeto é um dos principais fatores para o su- Caso seja um novo utilizador, deve escolher um plano. Se
cesso (recordemos o ditado popular «Uma imagem vale desejar uma conta completamente grátis opte por «Pu-
por mil palavras»). blic», ou seja, uma conta pública. Fica o alerta de que com

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 55
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

esta conta os seus projetos serão públicos — podem ser


vistos, acedidos, pesquisados e reutilizados por qualquer
pessoa.
Em alternativa, pode optar por um dos planos de pagamen-
to – Enjoy, Pro e Pro Plus –, cujas características e condi-
ções pode consultar no website do Prezi. Note-se que é ofe-
recido um desconto a quem se inscrever com um endereço
de e-mail de uma instituição de ensino. Se optar pelo Prezi,
a versão grátis, terá acesso ao formulário de registo:
Depois deste passo, pode passar a usar o Prezi.

CRIAR UMA APRESENTAÇÃO


Os passos essenciais para criar uma apresentação em Pre-
zi são: inserir título e descrição, criar os tópicos (que per-
mitem zoom automático, o que mantém a audiência aten-
ta), definir a ordem de apresentação e, finalmente, gravar
e apresentar! Para iniciar o trabalho no Prezi terá de fazer
clique no botão «Start creating».

INSERIR UM TÍTULO
Faça clique no ecrã para inserir o título da sua apresen-
tação.

FORMATAR OS ELEMENTOS
Aplique a formatação nos diversos elementos, como tipo de
caractere (fonte), cor, tamanho, itálico, alinhamento, etc.
No centro do ecrã possui os elementos que vão fazer parte
da apresentação. Do lado esquerdo tem acesso a ícones
com as miniaturas dos vários elementos. Faça clique no
primeiro ícone para fazer um efeito de zoom do seu primei-
ro tópico.
Em seguida insira os dados desse zoom, ou seja, o que pre-
tende que apareça no ecrã, ampliado.
Para inserir o segundo tópico faça clique no ícone seguinte,
do lado esquerdo do ecrã:

Depois insira o conteúdo desse tópico. Pode inserir uma


imagem, fazendo uso da caixa de listagem «Insert».
Escolha a imagem desejada no seu computador.
A imagem irá aparecer no Prezi. Pode dimensionar a ima-
gem recorrendo aos cantos da seleção. Pode movimentar
a imagem na sua apresentação recorrendo ao ícone com
uma mão.

56 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Aprendizagem ao longo da vida com Prezi 3

Se fizer clique na página, pode inserir uma caixa de texto.

VERIFICAR A ORGANIZAÇÃO
Para ver como a apresentação está a ficar,
faça clique no botão «Home».

Neste momento terá o seguinte aspeto no centro do seu


ecrã.

ADICIONAR ELEMENTOS
Para adicionar um novo elemento, faça clique no ícone do
lado esquerdo do ecrã «Circle Frame»:

Terá acesso a um novo elemento. Para o deslocar no ecrã


faça clique no ícone com uma mão e arraste. Insira depois
o conteúdo.
Em cada elemento pode inserir outros tipos de conteúdo,
como barras, círculos, retângulos, etc.

APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Para apresentar o trabalho faça clique no botão situado
no topo do ecrã «Apresentar». Ao lado deste botão possui

O Prezi é um sistema várias opões: compartilhar o ficheiro, criar um ficheiro PDF,


configuração do tamanho do ecrã (tela).
on-line que segue o Quando optar por «Apresentar», e quando a apresentação
se iniciar, pode optar por recorrer às setas situadas no fun-
lema «Apresentando do do ecrã para navegar entre os diapositivos, ou seja, para

a melhor maneira acionar os zooms a cada um dos elementos criados:

de apresentar»,
permitindo criar
excelentes
apresentações,
elegantes
e dinâmicas

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 57
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

Ao fazer clique no círculo «O que fazemos» é feito zoom do


conteúdo.
Ao fazer clique, o foco passa para o próximo elemento:

Ao fazer mais um clique, o zoom passa para o próximo ele-


mento.

GRAVAR O TRABALHO
Para gravar o projeto faça clique em «Save»:

VOLTAR AO PREZI
Sempre que desejar apresentar o projeto, apenas terá de
aceder a www.prezi.com, entrar com os seus dados e pro-
ceder à apresentação ou, se desejar, ao modo de edição
para fazer alguma alteração ou atualização.
Ao aceder ao website do Prezi pode optar por filtrar os seus
ficheiros e criar pastas para os organizar melhor.
Se desejar, pode abrir um dos seus ficheiros e fazer altera-
ções ou apresentar à audiência.
Pode ainda iniciar um novo Prezi com um clique no botão
«Criar um novo prezi». Opte por uma página em branco CONCLUSÃO
com o botão «Iniciar Prezi em branco».
Outra alternativa é recorrer a um dos modelos predefinidos
aí disponíveis como, por exemplo. Se estiver pronto para criar • A inserção de ilustrações
e apresentar a sua melhor baseadas em gráficos,
apresentação, então opte tabelas e diagramas.
pelo Prezi! Esta ferramenta • A flexibilidade de ter a
tem imensas capacidades, apresentação offline,
umas grátis outras associadas instalando aplicativos para
a um plano Pro (profissional), desktop, permitindo tam-
como: bém a edição sem ligação à
O passo seguinte é inserir elementos e personalizar a apre- • A possibilidade de armaze- Internet.
sentação a seu gosto, com imagens, símbolos, vídeos, nar, compartilhar, colaborar • Ferramentas de edição
gráficos... e mesmo com uma música de fundo. Basta fazer ou apresentar o seu traba- avançada de imagem, entre
clique no menu «Inserir», optar por um item e formatar o lho em qualquer lugar, com outras.
elemento e posicioná-lo no ecrã: acesso seguro baseado Com o Prezi pode melhorar as
numa nuvem. suas comunicações, seja em
• Uma forma rápida de ambiente escolar, pessoal ou
adicionar impacto na empresarial.
narrativa, incorporando O sucesso espera por si! Bom
vídeos com um simples link trabalho!
do YouTube.

58 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
PÁGINA INSTITUCIONAL 4

WORLDSKILLS PORTUGAL
CAMPEONATOS DAS PROFISSÕES
Melhores políticas em matéria de
competências contribuem, de forma
decisiva, para a resiliência económica,
para a promoção do emprego e para
o reforço da coesão social.
SANDRA SOUSA BERNARDO, TÉCNICA SUPERIOR ASSESSORA
(MARKETING E COMUNICAÇÃO DA WORLDSKILLS PORTUGAL),
IEFP, I.P.
CEDIDAS PELO IEFP, I.P.

PROMOVER A EXCELÊNCIA ATRAVÉS DA FORMAÇÃO


PROFISSIONAL
No âmbito da Estratégia Nacional de Competências da
OCDE para Portugal, projeto coordenado pela Agência Nacio-
nal para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP) e que
envolve todos os ministérios e organismos com intervenção
nos domínios da educação, formação e emprego, incluin-
do o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP),
pretende-se traçar um quadro geral descritivo dos desafios
que Portugal enfrenta em matéria de competências, com o
objetivo último de desenvolver uma estratégia eficaz para
Portugal no que a esta matéria diz respeito.
Depois de passar por um programa de ajustamento finan-
ceiro exigente e por elevadas taxas de desemprego, nomea-
damente desemprego jovem, urge agora garantir emprego e
ofertas de educação e formação equitativas e de qualidade,
promovendo o crescimento económico e o bem-estar indivi- Para este efeito, importa retirar elementos dos campeona-
dual e social. tos que valorizem a formação profissional começando, em
Melhores competências, melhores empregos, melhores primeiro lugar, por valorizar as profissões. Nos campeonatos
condições de vida. Na sua qualidade de serviço público de existe um enorme potencial de projeção da imagem das pro-
emprego e formação profissional, o IEFP assume este desíg- fissões: as competições abertas ao público em geral permi-
nio na sua missão e atribuições, procurando, cada vez mais, tem que se crie uma visão e uma consciência mais sólida
tornar visível e publicamente reconhecida a formação profis- e sustentada das profissões, comprovando in loco a tecnici-
sional de excelência desenvolvida pela sua rede de centros dade, exigência e rigor inerente a determinadas atividades,
de emprego e formação profissional. mas que nem sempre é percetível a quem está fora do siste-
Uma das vias privilegiadas para promover este reconheci- ma. Os campeonatos são, assim, uma verdadeira montra dos
mento é através da WorldSkills Portugal, estrutura respon- recursos tecnológicos que os diversos operadores afetam
sável pela promoção e organização dos Campeonatos das à formação profissional, com grande visibilidade para os jo-
Profissões. vens, para as famílias e para os futuros empregadores.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 59
4 PÁGINA INSTITUCIONAL

«Há um aspeto muito importante que decorre da


participação nos campeonatos – a experiência adquirida
por via do contacto com outros jurados, que vai moldando
a forma como depois trabalhamos no nosso dia a dia,
enquanto profissionais da formação. Os campeonatos são o
culminar de uma série de aspetos da formação e tudo o que
se retira destas competições é importante para a evolução
e desenvolvimento da formação profissional em Portugal.»
Eduardo Fonseca, gestor de formação no CEPRA e jurado internacional da WorldSkills na área da
Mecatrónica Automóvel

Mas os Campeonatos das Profissões são também uma fon- competências pessoais (ao
te de capacitação e de reforço das competências técnicas nível da formação do caráter,
no domínio das muitas respostas de formação promovidas da confiança e da autoestima)
pelo IEFP. Existe um manancial de instrumentos, ferramen- e, naturalmente, as profissionais
tas e informação produzidos no âmbito dos campeonatos, altamente reforçadas – um jovem
a nível nacional e internacional, que podem e devem ajudar que passa por um ciclo completo é um
a inovar na forma como a formação profissional é pensada profissional com um potencial de em-
e desenvolvida. Falamos de provas aplicadas em exigentes pregabilidade elevadíssimo.
contextos de competições internacionais que podem servir Para os jovens, estes campeonatos
de base a instrumentos de avaliação, falamos de descritivos são uma inspiração e uma oportuni-
técnicos, concebidos em linha com standards mundiais que dade de se compararem com os me-
se podem constituir como uma ajuda preciosa para a inova- lhores do mundo, de aprenderem entre
ção das pedagogias e didáticas utilizadas. Falamos dos jura- eles e de criarem laços duradouros.
dos e dos presidentes de júri que, por via da sua participação Por outro lado, permitem que eles
nestes eventos, e designadamente nas competições inter- próprios se tornem uma ins-
nacionais, adquirem experiências, conhecimentos e compe- piração, um exemplo de de-
tências difíceis de obter por outra via e num tão curto espa- terminação, competência e
ço de tempo. O IEFP, e as restantes entidades formadoras, sucesso a seguir por outros
reconhecem esta mais-valia de reforço das competências jovens em fase de decisão
técnicas dos seus formadores como sendo um contributo do seu percurso.
inestimável para a criação de condições para que a forma- Sem prejuízo de percecionar
ção atinja níveis mais elevados de qualidade. a WorldSkills Portugal como
Não perdendo nunca de vista os ganhos nesta dimensão uma plataforma para onde
técnica e de promoção da qualidade, os verdadeiros protago- convergem os resultados da for-
nistas são os concorrentes que, no fim de um ciclo de cam- mação profissional desenvolvida por
peonatos, depois de se sagrarem campeões nacionais e de todos os operadores do sistema de educação e formação
passarem pelas competições internacionais, veem as suas profissional em Portugal, o IEFP considera que, no quadro

«O rigor que está associado aos campeonatos permite-me,


entre muitas outras coisas, passar para os meus formandos
um grau de exigência superior – estamos a falar de
profissões de alta competição.»
Zacarias Lebre, formador no IEFP (Centro de Emprego e Formação Profissional de Águeda) e jurado
internacional da WorldSkills na área da Fresagem CNC

60 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Wordskills Portugal 4

das ofertas que disponibiliza, os cursos de aprendizagem,


pelas suas características, se constituem como o principal Os Campeonatos das Profissões são uma ferramenta
acesso aos Campeonatos das Profissões, não só pelo pú- poderosa para a construção de uma cultura de respeito e
blico a quem esta modalidade de formação se destina, mas valorização das profissões, permitindo que jovens altamen-
também pela sua estrutura curricular, que integra uma forte te qualificados motivem e inspirem as próximas gerações a
componente de formação prática em contexto de trabalho reconhecerem que a formação profissional pode contribuir
(40% destes cursos decorrem em empresas e outras entida- para a obtenção de empregos bem remunerados e para a
des empregadoras dos mais variados setores de atividade), realização pessoal e profissional num mundo cada vez mais
permitindo aos jovens um contacto com o mundo do traba- competitivo.
lho e com métodos, procedimentos e tecnologias que nem
sempre são possíveis de simular em contexto de formação.
Por outro lado, possibilita aos empregadores a oportunidade
de conhecerem a próxima geração de talentos qualificados, Os cursos de aprendizagem destinam-se a jovens, com
constituindo-se como uma via para a contratação de jovens idade até aos 25 anos, com o 9.º ano de escolaridade e sem
qualificados e capazes de responder mais ágil, eficaz e efi- conclusão do ensino secundário. No âmbito das priorida-
cientemente aos desafios que lhes são colocados. des definidas para 2017, o IEFP identifica esta oferta como
Prosseguindo o intuito de que os cursos de aprendizagem a resposta privilegiada para os jovens, centrada em áreas
se afirmem como uma marca forte do IEFP, é imprescindí- de educação e formação que respondam às necessidades
vel que, sobretudo os jovens, se sintam envolvidos com o atuais e emergentes do mercado de trabalho.
universo de valores que lhe estão associados – inovação,
cooperação, qualificação, qualidade, excelência e emprego.
E é neste ponto que ganha particular relevância a associa-
ção aos Campeonatos das Profissões, onde os melhores
jovens profissionais (muitos deles oriundos de cursos de «Se tivesse de aconselhar um jovem
aprendizagem) competem entre si por lugares no pódio em sobre o seu futuro, diria para não
competições nacionais e internacionais, enfrentando os me- pensar na formação profissional
lhores dos melhores. Os resultados obtidos traduzem não só apenas como uma via supostamente
a competência destes jovens, mas também a qualidade dos mais “fácil” para concluir o 12.º
seus formadores e das entidades formadoras. ano. A verdade é que esta opção é
Neste momento, Portugal está a preparar a participação no
Campeonato do Mundo das Profissões, que vai decorrer de
muito exigente mas pode trazer-nos
14 a 19 de outubro de 2017, em Abu Dhabi, nos Emirados oportunidades únicas na vida e na
Árabes Unidos. Pela primeira vez, o Médio Oriente vai aco- nossa carreira.»
lher uma edição da WorldSkills. Até agora 60 países, mais de José Pereira, concorrente pelo CENFIM em Controlo Industrial
1300 concorrentes e um número idêntico de especialistas (vencedor da medalha de prata e melhor da nação no EuroSkills,
estão já inscritos naquele que será o maior Campeonato das Gotemburgo 2016)
Profissões de sempre.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 61
4 PÁGINA INSTITUCIONAL

Os Campeonatos das de cada profissão a concurso, por um lado, comprovar


Profissões são competições através de provas práticas os resultados da formação
dirigidas a jovens entre os 17 avaliadas segundo critérios profissional ministrada pelos
e os 25 anos que concluíram exigentes e de acordo com diferentes operadores e,
ou se encontram a frequentar prescrições técnicas estabe- simultaneamente, induzir fa-
formação profissional, onde lecidas internacionalmente tores de crescente qualidade,
se destaca o nível individual por peritos altamente qualifi- inovação e criatividade nos
de competências, rigor e cados (formadores, profissio- processos de ensino-apren-
domínio de técnicas e de nais, empresários). Com estes dizagem.
ferramentas para o exercício campeonatos pretende-se,

tão de Redes Informáticas, Eletricidade de Instalações e Me-


«The WorldSkills Competition is to catrónica Industrial.
skills what the Olympic Games are Mas sendo os Campeonatos compostos de ciclos que se
to athletes – a source of inspiration, cruzam, enquanto uma equipa se prepara para o mundial já
começaram os trabalhos de planeamento do próximo nacio-
an opportunity to compete against nal. Em 2018 é a cidade de Beja que acolhe o Campeonato
the best in the world, and a means Nacional das Profissões, de 25 de fevereiro a 2 de março. Ao
of raising both the quality and the longo de seis dias, cerca de 400 jovens altamente qualifica-
prestige of skills worldwide.» dos vão competir entre si, em mais de 40 profissões, e dar
In WorldSkills International | History continuidade ao sonho de atingir um lugar nos pódios.
Está previsto um programa alargado a todo o Alente-
jo, recheado de atividades que vão ao encontro
de todos os públicos: jovens, famílias, profis-
A comitiva portuguesa é composta por 17 sionais da educação e formação, empresá-
jovens que vão dar o seu melhor em CAD, rios e entidades empregadoras e cidadãos
Controlo Industrial, Desenho Gráfico, em geral, numa lógica de sensibilização
Fresagem CNC, Gestão de Redes Infor- para a importância da formação como
máticas, Instalações Elétricas, Joalharia, fator de aprendizagem ao longo da vida,
Mecatrónica, Pintura Automóvel, Polime- de desenvolvimento pessoal, de promo-
cânica, Refrigeração e Ar Condicionado, ção da inovação, de crescimento econó-
Robótica Móvel, Serviço de Restaurante e mico e coesão social. •
Bar, Tecnologia Automóvel e Tecnologias da
Moda, em representação de sete entidades
formadoras (ATEC, CENFIM, CEPRA, CINDOR, ENTA,
IEFP e MODATEX).
Estes concorrentes foram apurados na última edição do
Campeonato Nacional das Profissões – Coimbra 2016 e, A WorldSkills Portugal está presente nas redes sociais:
dos 17, 12 estiveram presentes no Campeonato Europeu – https://worldskillsportugal.iefp.pt
EuroSkills, Gotemburgo 2016, na Suécia, em dezembro de www.facebook.com/WorldskillsPortugal
2016. Nesta competição europeia Portugal participou com twitter.com/WorldskPortugal
22 jovens e obteve oito medalhas: duas de prata, uma em www.youtube.com/channel/UCrfETx2HxX15LHX17vSrA3w
Mecatrónica Automóvel e outra em Controlo Industrial, uma www.flickr.com/photos/worldskills-portugal/
de bronze em CAD e cinco medalhas de excelência em Ges- Iwww.instagram.com/worldskills_portugal

62 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
PÁGINA INSTITUCIONAL 4

CRIAÇÃO DA REDE
DE PARCEIROS DE
EXCELÊNCIA PARA
A APRENDIZAGEM
DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO IEFP, I.P. cimento às entidades de apoio à alternância que desenvol-
vem formação prática em contexto de trabalho de elevada
OPTICREATIVE qualidade, proporcionando condições de aprendizagem de
referência, facilitadoras do desenvolvimento e aquisição
de competências técnicas, relacionais e organizacionais
fundamentais para o exercício da atividade profissional. Pa-

O quadro de alternância em que se sustentam os cursos


de aprendizagem centra-se na aquisição de compe-
tências através do desenvolvimento de atividades de
natureza predominantemente prática, conjugando os co-
nhecimentos teóricos com as competências desenvolvidas
ralelamente, as entidades parceiras distinguem-se pelo seu
contributo para a empregabilidade dos jovens, através da
contratação dos formandos após a realização da formação.
As empresas certificadas, por seu lado, comprometem-se a
participar na valorização dos cursos de aprendizagem e na
no posto de trabalho, e valoriza grandemente o contributo sua divulgação.
das empresas enquanto espaços de aprendizagem. Fazer parte desta rede permite a utilização do logótipo de
Considerando que a duração da formação prática em con- identificação no exercício da atividade das entidades, en-
texto de trabalho desenvolvida nas empresas corresponde quanto parceiras de excelência do IEFP, I.P. no desenvolvi-
a 40% da duração total da formação, o papel das empresas mento, promoção e divulgação desta modalidade formativa.
no processo formativo é determinante para o sucesso da Podem candidatar-se à Rede de Parceiros de Excelência para
aprendizagem e a obtenção da qualificação. a Aprendizagem as entidades de apoio à alternância que
As empresas são mobilizadas para a formação enquanto en- tenham desenvolvido esta atividade nos últimos três anos,
tidades de apoio à alternância, evidenciando experiência em tendo em conta os seguintes critérios: número de forman-
áreas cuja qualificação responda a necessidades efetivas do dos acolhidos em formação prática em contexto de trabalho,
tecido económico e empresarial português. Nesta perspeti- número de formandos contratados após a formação, núme-
va, assumem-se como parceiros ativos e estratégicos na ro de tutores com certificação pedagógica e colaboração
dinamização das respostas formativas e contribuem para com o sistema de aprendizagem, designadamente em ter-
ajustar a formação às necessidades do mercado de trabalho, mos de antiguidade, regularidade, disponibilidade e atribui-
facilitando a integração profissional dos jovens qualificados. ção de benefícios aos formandos.
Com o objetivo de distinguir e divulgar as boas práticas das As empresas e outras entidades empregadoras que reú-
empresas e outras entidades empregadoras que promovem nam os requisitos exigidos devem fazer a sua candidatura
a qualidade da formação prática em contexto de trabalho e através do preenchimento de formulário próprio submetido
a integração dos jovens no mercado de trabalho, o IEFP, I.P. eletronicamente à Delegação Regional do IEFP, I.P. em que a
criou, em novembro de 2016, a Rede de Parceiros de Exce- entidade se enquadra.
lência para a Aprendizagem. O certificado tem uma validade de três anos, renovando-se
A certificação como Parceiro de Excelência para a Aprendi- por igual período desde que a entidade mantenha os requisi-
zagem consiste na atribuição de um certificado de reconhe- tos estabelecidos.

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 63
4 PÁGINA INSTITUCIONAL

A Rede de Parceiros de Excelência para a Aprendizagem é • SCHMITT+ SOHN ELEVADORES


atualmente constituída pelas seguintes entidades: • TOYOTA CAETANO PORTUGAL, SA
• CMP – CIMENTOS MACEIRA E PATAIAS, SA • VOLKSWAGEN AUTOEUROPA, LDA
• DURIT – METALURGIA PORTUGUESA DO TUNGSTÉNIO, LDA A participação das empresas na formação profissional con-
• FAMOLDE (GRUPO GLN) tribui para a valorização dos recursos humanos, é indutora
• GRUPO DELTA CAFÉS da consciencialização da importância da aprendizagem ao
• GRUPO ID LOGISTICS longo da vida por parte dos trabalhadores e fomenta a trans-
• HOTEL TIVOLI MARINA PORTIMÃO ferência de novas práticas e novos saberes entre contextos
• SALVOR HOTEIS – GRUPO PESTANA, SA de trabalho e de formação. •

CENTRO INTERNACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO COMENDADOR RUI NABEIRO

A IMPORTÂNCIA último século. Dos proje- ingressaram no mercado aproveitamento escolar,


DA EXCELÊNCIA NA tos desenvolvidos resultou de trabalho e 5% prosse- porque aprendem uma
APRENDIZAGEM uma constante transfe- guiram estudos. profissão e acedem mais
Integrado no universo rência de conhecimento No que concerne à com- facilmente ao mercado
do Grupo Nabeiro-Delta através da integração de ponente de formação em trabalho ou, em alterna-
Cafés, o Centro Interna- formandos em diversos contexto de trabalho, os tiva, prosseguem os seus
cional de Pós-Graduação departamentos da Delta formandos realizam-na estudos. Já para o Grupo
Comendador Rui Nabeiro Cafés. em empresas do Grupo Nabeiro é extremamen-
(CIPGCRN) tem como uma Nabeiro-Delta Cafés. te motivante intervir na
das premissas centrais da ACORDO REFORÇADO Ainda assim, a experiên- formação destes jovens,
sua atividade a parti- EM 2008 cia no desenvolvimento podendo usufruir de
lha de conhecimento e A parceria entre o Grupo da formação prática em novas perspetivas, novas
saber enquanto fator de Nabeiro e o IEFP foi contexto de trabalho não metodologias de trabalho
crescimento sustentável reforçada em 2008, altura se limita aos formandos e ideias. Por outro lado,
das comunidades. Face a a partir da qual o Centro dos cursos ministrados além da componente téc-
esta realidade impõe-se, Internacional de Pós-Gra- internamente. Recebemos nica que vai ao encontro
pois, a colaboração do duação Comendador Rui anualmente formandos daquelas que são as nos-
Centro com o Instituto Nabeiro foi protocolado provenientes de outras sas necessidades em ma-
do Emprego e Formação como Entidade Formadora entidades formadoras na téria de recursos humanos
Profissional, I.P. (IEFP), no Externa (EFE) para a área área da Aprendizagem, – como resultado de um
âmbito da Rede de Par- da Aprendizagem. integrados nos mais di- primeiro contacto com a
ceiros de Excelência para Entre os cursos minis- versos setores: marketing, realidade da organização
a Aprendizagem. trados destacam-se: gestão, comercial, logísti- –, os formandos ficam
Desta sinergia entre Técnico de Refrigeração ca, controlo de qualidade, mais alinhados com os
instituições beneficiam e Climatização; Técnico gestão de equipamentos nossos valores e cultura
grandemente os cidadãos, de Cozinha e Pastelaria; informáticos, controlo de organizacional.
ajudados a encontrar um Técnico de Manutenção qualidade, multimédia e Porque são as pessoas
caminho e a descobrir, em Industrial, Metalurgia e contabilidade. quem verdadeiramente
muitos casos, uma verda- Metalomecânica; Técnico Estamos seguros de que faz a diferença, sabemos
deira vocação. de Eletrotecnia. Os núme- esta experiência se traduz que a nossa permanen-
A parceria entre o Institu- ros alcançados falam por em mais-valias para todos te preocupação com o
to do Emprego e Forma- si, já que num universo os intervenientes. Os investimento na formação
ção Profissional e o Grupo de 90 formandos a taxa formandos revelam uma representa um fator deci-
Nabeiro-Delta Cafés de sucesso registada é maior motivação, tradu- sivo para o nosso sucesso.
remonta aos anos 80 do de 87%, sendo que 82% zida numa melhoria do

64 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
EUROPA EM NOTÍCIAS 5

FORMAÇÃO EM
ALTERNÂNCIA
(APRENDIZAGEM)
Um modelo de custo-benefício
para as empresas?
A formação em alternância1, como uma forma de
aprendizagem2 baseada no trabalho, facilita a transição
do ensino/formação para a vida ativa, e há provas3 de que
os países com um forte sistema de formação profissional
em regime de aprendizagem têm níveis mais baixos de
desemprego juvenil. Daí que muitos Estados-membros4
estejam atualmente a procurar reformar os seus sistemas
de formação profissional.

ANA MARIA NOGUEIRA, ANA.NOGUEIRA@EP.EUROPA.EU OPTICREATIVE

RESUMO DA PUBLICAÇÃO devem poder obter benefícios líquidos do seu investimento


Aprender uma profissão no local de trabalho, e não apenas quer durante a aprendizagem, quer logo depois, empregando
em escolas profissionais, permite aos aprendizes obterem um trabalhador plenamente formado.
experiência de trabalho durante a formação o que, por sua Precisamente por esta razão, peritos na Suíça e na Alema-
vez, facilita a sua transição para o mercado de trabalho. Os nha – dois países com um longo historial de formação em
aprendizes combinam e alternam a formação na empresa alternância/dual – têm calculado os custos e benefícios da
com a educação escolar (como parte do mesmo currículo) educação/formação em aprendizagem por mais de duas dé-
e adquirem uma qualificação reconhecida após a conclusão cadas. Os resultados são conclusivos: as empresas benefi-
do curso. Na maioria das situações existe uma relação con- ciam com a sua participação na formação em alternância.
tratual entre o empregador e o aprendiz, sendo o aprendiz Mas este facto não diz nada sobre se empresas noutros paí-
remunerado pelo seu trabalho. ses, com pouca ou nenhuma experiência em formação em
Apesar do interesse generalizado na formação de aprendi- alternância, poderiam também beneficiar deste sistema.
zes, as reformas enfrentam um grande obstáculo: a relutân- Com o objetivo de fornecer aos países interessados na for-
cia das empresas. Muitas vezes, as empresas veem a forma- mação em regime de aprendizagem argumentos económi-
ção como um investimento negativo. Temem perdas. Tornar cos e desencadear o debate acerca da introdução desse tipo
a aprendizagem uma realidade requer mais do que boas de formação em vários sistemas de ensino profissional, a
intenções. Requer argumentos económicos: as empresas Bertelsmann Stiftung5 na Alemanha e a Fundación Bertel-

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 65
5 EUROPA EM NOTÍCIAS

to de empresas pelos ministérios da Educação e do Trabalho


foi criada, em 1984, a «formação profissional em regime de

A Aliança visa
alternância» ou «sistema de aprendizagem».6
A fim de introduzir um modelo de aprendizagem, os gover-

combater o nos devem convencer as empresas a aderirem ao sistema.


No entanto, fornecer formação no posto de trabalho a apren-

desemprego juvenil dizes é um investimento e, como qualquer outro investi-


mento, traz custos para as empresas que o fornecem – mas
ao melhorar a também pode trazer benefícios. Convencer as empresas de-
pende, assim, da sua capacidade de gerar mais benefícios
qualidade e a oferta do que os custos ao aderir a esse tipo de formação.
Por conseguinte, o estudo da Bertelsmann Stiftung pro-
de aprendizagens cura determinar em que circunstâncias as empresas (neste
caso, espanholas) podem beneficiar com a participação no
em toda a UE sistema de aprendizagem. Mais especificamente, este estu-
do procura responder à questão se uma empresa espanhola
através de uma média, no ambiente económico atual do país, poderá espe-
rar um benefício líquido na implementação de um programa
ampla parceria de modelo semelhante ao empregado pelas empresas suí-
ças.
entre intervenientes A fim de determinar se as empresas espanholas poderiam

estratégicos nas
obter benefícios líquidos ao participarem num tal sistema
de formação de aprendizes é necessário calcular quais os

áreas do emprego
custos que as empresas suportariam e quais os benefícios
que iriam conseguir. Para este efeito, foi utilizado um mode-

e da educação
lo de custo-benefício de formação originalmente desenvol-
vido para calcular os custos e benefícios suportados pelas
empresas na Suíça. Nas últimas duas décadas, peritos uti-
lizaram este modelo de custo-benefício para recolher dados
sobre os custos e benefícios do sistema de aprendizagem
em todas as etapas do ciclo económico e para centenas de
smann em Espanha simularam os custos e benefícios da atividades. No entanto, a pesquisa baseada nesse modelo
formação em aprendizagem para as empresas em países calcula os custos e benefícios das empresas que estão en-
sem tradição de formação de aprendizes. O estudo de simu- volvidas neste tipo de formação de aprendizes há décadas.
lação custo-benefício é o primeiro deste tipo e diz exclusiva- O estudo, pelo contrário, procura simular os potenciais cus-
mente respeito à formação em aprendizagem em Espanha. tos e benefícios que as empresas poderiam suportar se um
A Espanha introduziu recentemente a aprendizagem no seu modelo de aprendizagem semelhante ao suíço fosse intro-
sistema de ensino profissional, mas a adesão das empresas duzido no sistema de ensino profissional espanhol.
tem-se revelado modesta. Com base no atual modelo-tipo de formação profissional em
Espera-se que o estudo possa ser um estímulo para en- Espanha foram desenvolvidos três modelos de simulação
volver as empresas na formação de aprendizes no país. Ao que ampliam o modelo de formação espanhol para se asse-
mesmo tempo, pode abrir caminho para que outros países melhar às condições do modelo de formação suíço.
possam igualmente levar a cabo análises de custo-benefício • Modelo 1 (M1) – aproxima-se do modelo de aprendiza-
semelhantes, provando às empresas que compensa aderir gem suíço, formação no final da escolaridade obrigatória,
ao sistema de aprendizagem. Afinal, o sucesso do sistema em alternativa à formação geral a tempo inteiro. Neste
depende da participação das empresas. modelo, os aprendizes passam 1600 horas em sala de
A persistência de elevadas taxas de desemprego na UE (so- aula e 600 horas de formação (formal) na empresa, a
bretudo desemprego juvenil) trouxe a formação profissio- juntar ao tempo de trabalho (formação formal total: 2200
nal ou, mais precisamente, a aprendizagem, para o topo da horas). O programa inteiro dura três anos.
agenda política. De referir que, em Portugal, na sequência de • Modelo 2 (M2) – é o que mais se aproxima da situação
uma experiência desenvolvida depois de 1980 num conjun- atual em Espanha, um programa de qualificação depois

66 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Formação em alternância (aprendizagem) 5

de ter completado o secundário como alternativa à pros- líquidos de formação, segundo diferentes pressupostos da
secução dos estudos na universidade. Neste modelo, os produtividade dos aprendizes. Em quarto lugar, é realizada
aprendizes passam 1000 horas em sala de aula e 600 ho- uma análise do ponto de equilíbrio (break-even analysis),
ras em formação, além do tempo de trabalho (formação mostrando o salário máximo que as empresas podem pagar
formal total: 1600 horas). O programa inteiro dura dois para oferecer aprendizagem a custo zero. Em quinto lugar, as
anos. variações dos custos líquidos são discutidas.
• Modelo 3 (M3) – é uma extensão do M2 e baseia-se no- A fim de fornecer ao leitor a lógica subjacente ao cálculo
vamente na assunção que os aprendizes entram no pro- dos custos e benefícios da formação em aprendizagem foi
grama depois de terem completado o ensino secundário. selecionada uma profissão para análise detalhada, nomea-
Neste modelo, porém, os aprendizes passam o terceiro damente a de empregado de balcão (balconista). Cada uma
ano a receber mais formação em empresa do que no M2 das etapas mencionadas na aplicação do modelo de custo-
(cerca de mais 200 horas; formação formal total: 1800 -benefício é elaborada para o funcionário da loja para facilitar
horas). O programa inteiro dura três anos. a compreensão das análises de custo-benefício para as res-
Para efeitos do estudo, estes três modelos foram aplicados tantes nove atividades.
a uma seleção de 10 profissões diferentes de seis setores Os resultados deste estudo de simulação sugerem que a
da economia espanhola: a indústria química, a indústria participação no sistema de aprendizagem pode, de facto,
automóvel, a indústria de retalho, a indústria bancária, a in- trazer benefícios líquidos para as empresas (espanholas)
dústria alimentar e a indústria hoteleira. Para cada uma das até ao fim do período do programa, embora com diferenças
10 atividades escolhidas, os autores calcularam os custos e significativas entre setores e atividades. Um aprendiz de
benefícios da formação em aprendizagem no âmbito de cada secretário no setor bancário após um período de três anos
um dos modelos de simulação enumerados. num programa de aprendizagem (M3), por exemplo, pode
Além disso, a cada modelo foram aplicados dois cenários render um benefício líquido de 4000 euros para a sua empre-
salariais diferentes: um em que os aprendizes recebem 300 sa de formação, enquanto um aprendiz de balconista rende
euros por mês e outro em que recebem 530 euros por mês. mais de 8000 euros de benefícios líquidos. Além disso, num
É importante que os aprendizes recebam o seu salário todos mesmo setor, o benefício líquido obtido na formação de um
os meses durante a duração do programa, independente- aprendiz pode divergir por um ratio de 2 ou mais entre dife-
mente de passarem mais tempo na empresa ou na escola. rentes atividades, dependendo, por exemplo, da participação
O modelo custo-benefício empregado neste estudo consiste dos aprendizes em tarefas produtivas. Na indústria hoteleira,
em três componentes: por exemplo, a formação de um especialista em gestão ho-
• primeiro, os custos que surgem durante o período de for- teleira pode resultar num benefício líquido de 13 000 euros,
mação (e.g., formadores/tutores, salário do aprendiz); enquanto a formação de um cozinheiro em hotéis e restau-
• segundo, os benefícios que as empresas podem gerar rantes resulta num benefício de 6000 euros.
durante o período de formação, permitindo que os apren- Os resultados deste estudo também mostram que, mesmo
dizes substituam trabalhadores não qualificados e quali- quando as empresas não conseguem o ponto de equilíbrio
ficados (e.g., salários – não pagos – de trabalhadores não no final do período de formação, se empregarem os aprendi-
qualificados e qualificados); zes após a graduação podem recuperar o seu investimento a
• terceiro, os benefícios que uma empresa pode potencial- curto prazo. Em muitas atividades as empresas assumiriam
mente gerar após o período de formação ter terminado custos líquidos até ao final da formação de um aprendiz,
(e.g., custos de contratação de novos trabalhadores no mas estes custos são frequentemente inferiores aos custos
mercado de trabalho). mensais de uma empresa para um trabalhador qualificado
Os valores de cada componente são calculados utilizando (cerca de 3000 euros), o que torna muito viável equilibrar
dados dos estudos de custo-benefício mais recentes sobre as perdas empregando o aprendiz após a formação ser con-
a aprendizagem na Suíça e são complementados com dados cluída.
do mercado de trabalho espanhol. Mais importante ainda, os resultados também mostram que
O modelo custo-benefício é aplicado a cada uma das profis- mesmo quando os custos ultrapassam os 3000, 6000 ou
sões selecionadas da seguinte maneira. Em primeiro lugar, até 12 000 euros, as empresas podem ainda beneficiar con-
são calculados os custos líquidos de formação para os três tratando os aprendizes. Isso pode ser atribuído aos custos
modelos. Em segundo lugar, são calculados os custos de de contratação economizados: quando a formação do apren-
contratação. Em terceiro, é conduzida uma análise de produ- diz é cara, geralmente significa que o custo da contratação
tividade relativa dos aprendizes em relação aos empregados de trabalhadores do mercado de trabalho ou de outras em-
qualificados, a fim de ter em conta as alterações nos custos presas é igualmente elevado. Se os estágios/formações em

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 67
5 EUROPA EM NOTÍCIAS

certas profissões resultam


em elevados custos líquidos
até ao final da formação, as
empresas podem ainda obter
benefícios contratando dire-
tamente os aprendizes após
a graduação, economizando
elevados custos de recruta-
mento e contratação.
Em geral, o estudo também
mostra que os programas
de três anos (M1 e M3) tra-
zem mais benefícios do que
os programas de dois anos
(M2), uma vez que permi-
tem ao aprendiz passar mais
tempo na formação formal
em empresa e no trabalho,
aumentando assim a sua
contribuição para a produti-
vidade da empresa. Cenários
de baixos salários (300 eu-
ros/mês) tendem a produzir
mais benefícios do que os
cenários de salários eleva-
dos (530 euros/mês), já que
reduzem o investimento feito
na provisão da formação.
É, no entanto, de salientar
que a maioria dos estágios pode ser oferecida lucrativamen- na sala de aula), o desenvolvimento de uma entidade profis-
te com um salário alto: significa que a formação em aprendi- sional, mais oportunidades de emprego, a transição da vida
zagem pode ser adaptada para que a mesma se torne rentá- escolar para a vida profissional, ganhos de produtividade e
vel para as empresas e atraente para jovens aprendizes. Por níveis mais elevados de recrutamento e retenção por parte
último, as empresas de maior dimensão beneficiam mais da dos empregadores8. No entanto, na maioria dos países da
formação que as de menor dimensão. Em alguns setores e UE, a aprendizagem está longe de ser uma via essencial do
atividades pode ser identificada uma relação linear, sendo EFP (ensino e formação profissional). São poucos os países
que as empresas de maior dimensão geram benefícios líqui- onde a aprendizagem constitui uma opção popular e bem-
dos até 10 000 euros, enquanto empresas com menos de 10 vista por jovens, pais e empregadores.
trabalhadores podem até incorrer em custos líquidos. Esse Com o objetivo de combater o ceticismo de empregadores,
padrão não é surpreendente e leva a que a probabilidade de jovens e famílias relativamente a este modelo de EFP, a UE
oferecer formação é muito mais elevada para as médias e lançou a Aliança Europeia para a Aprendizagem (AEA)9.
grandes empresas do para empresas muito pequenas; em- A Aliança visa combater o desemprego juvenil ao melho-
presas mais pequenas teriam de ser apoiadas nos seus es- rar a qualidade e a oferta de aprendizagens em toda a UE
forços para proporcionar formação em aprendizagem. através de uma ampla parceria entre intervenientes estra-
tégicos nas áreas do emprego e da educação. Visa igual-
CONCLUSÃO mente uma mudança de atitudes no que respeita às apren-
As vantagens de uma aprendizagem de elevada qualidade dizagens, ao mesmo tempo que identificará os modelos de
para o indivíduo, os empregadores e a sociedade estão am- maior sucesso na UE e aplicará soluções adequadas a cada
pla e devidamente documentadas7. Estas vantagens combi- Estado-membro.
nam o desenvolvimento de qualificações e competências A Aliança foi lançada em julho de 2013 com uma declaração
(nomeadamente as que são mais difíceis de desenvolver conjunta dos parceiros sociais europeus (CES, BusinessEu-

68 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
Formação em alternância (aprendizagem) 5

rope, UEAPME e CEEP), da Comissão Europeia e da Presidên-


cia do Conselho da UE. 1
Períodos alternados de ensino ou formação realizados num estabeleci-
mento de ensino ou centro de formação e no local de trabalho. A alter-
A Aliança apoiará as reformas nacionais que visam estabele- nância pode ocorrer numa base semanal, mensal ou anual. Dependendo
cer novos regimes de aprendizagem ou reforçar os existen- do país e da legislação aplicável, os participantes podem estar contra-
tualmente vinculados ao empregador ou receber uma remuneração.
tes. A Comissão convida todos os potenciais parceiros a ade- Nota: o sistema dual alemão é um exemplo de formação em alternância.
rirem à Aliança: autoridades públicas, empresas, sindicatos, Fonte: Cedefop, 2008.
2
Em português, tal como em francês, o termo «aprendizagem» designa
câmaras de comércio, prestadores de educação e formação tanto a formação de aprendizes como o processo de aquisição de
profissionais, representantes da juventude e serviços de conhecimentos.
emprego. Insta-os a assumirem compromissos firmes no Fonte: Cedefop, 2004.
3
Vocational education and training in European countries. https://www.
sentido de impulsionar o financiamento público e privado de bibb.de/dokumente/pdf/a1bud_auswahlbibliografie-vet-in-european-
regimes de aprendizagem. countries.pdf. O Sistema Dual – Uma solução para o desemprego jovem?
(artigo publicado na revista D&F – abril/junho 2013, IEFP).
Ao assinarem a Declaração Conjunta, os representantes dos http://opac.iefp.pt:8080/images/winlibimg.aspx?skey=&do-
sindicatos e dos empregadores europeus comprometeram- c=85717&img=1652
4
E outros países fora da UE: Brasil, África do Sul, China, Índia...
-se a centrar esforços nas seguintes ações: 5
A Fundação Bertelsmann realiza pesquisa/estudos sobre questões
• Sensibilizar para as vantagens das aprendizagens para políticas, sociais, económicas, educacionais, culturais e de saúde. Não
os empregadores e os jovens. fornece subsídios, bolsas de estudo ou financiamento de projetos a ter-
ceiros, mas centra-se na investigação, publicação e incentivo ao debate
• Disseminar experiências e boas práticas nas suas pró- público sobre os seus temas.
prias organizações. https://www.bertelsmann-stiftung.de/en/home/
6
A gestão deste sistema foi cometida ao IEFP, para que a execução,
• Motivar e aconselhar as respetivas organizações para no terreno, fosse realizada através da rede de centros de formação e
um desenvolvimento de aprendizagens de alta qualidade, emprego deste Instituto. Criado inicialmente com objetivos muito ambi-
ciosos, a sua implementação veio a revelar dificuldades decorrentes da
adequadas às necessidades de competências do merca- complexidade organizativa do sistema. Somente após 1986 se verificou
do de trabalho. um crescimento sensível. Tal como concebido em Portugal, o sistema
Incentivarão ainda as organizações que representam a: de aprendizagem inclui uma tripla componente de formação: escolar,
profissional e em empresa, visando, além da qualificação profissional,
• Cooperar com escolas e serviços de emprego. uma certificação escolar.
• Apoiar a formação de mentores internos das empresas e Cedefop, O Sistema de Formação Profissional em Portugal, 2.ª edição,
1999.
o treino de aprendizes. 7
Fundação Europeia para a Formação (ETF) (2013), Work-based learning:
• Aumentar a oferta e a qualidade das aprendizagens. Benefits and obstacles – A literature review for policy makers and social
partners in ETF partner countries.
A Comissão está empenhada em: 8
Comissão Europeia (2013j).
• Promover a revisão/aprendizagem interpares com vista 9
http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=1147&langId=pt
a apoiar as reformas políticas necessárias nos Estados-
-membros, em especial os que foram alvo de recomen-
Fontes
dações específicas em matéria de educação e formação • Apprenticeship training in Spain – a cost-effective model for firms?
profissionais. https://www.bertelsmannstiftung.de/fileadmin/files/BSt/Publikationen/
GrauePublikationen/LL_GP_cost_benefit_study_EN_FINAL1.pdf
• Garantir a melhor utilização dos fundos da UE para con- • Vocational Training: Opportunities for Everyone!, https://www.bertel-
tribuir para os objetivos da Aliança (apoiar o desenvolvi- smann-stiftung.de/en/our-projects/vocational-training-opportuni-
ties-for-everyone/
mento dos regimes, o conteúdo das aprendizagens e a • Fundación Bertelsmann (Espanha) https://www.fundacionbertelsmann.
mobilidade do pessoal e dos aprendizes). org/es/home/
• Estudar a inclusão das aprendizagens na rede EURES, em • Digital Reading in PISA 2012 and ICT Uses: How do VET and General
Education Students Perform?, https://crell.jrc.ec.europa.eu/?q=publi-
estreita cooperação com os agentes relevantes. cations/digital-reading-pisa-2012-and-ict-uses-how-do-vet-and-
• Convidar as Eurochambres e outras partes interessadas general-education-students
• Parlamento Europeu, Ensino Dual: Uma Ponte sobre Águas Revoltas?,
a adotarem medidas que contribuam para a aplicação ICF International http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/
concreta da Aliança. STUD/2014/529072/IPOL_STU(2014)529072_PT.pdf
• European Commission, The European Alliance for Apprenticeships,
Embora gerido pela Comissão, o êxito da AEA reside na im- http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=1147&langId=en
plementação de compromissos nacionais e no empenho dos • CEDEFOP, Terminology of European education and training policy
parceiros, nomeadamente através de promessas de partes • CEDEFOP, O Sistema de Formação Profissional em Portugal, 2.a edição,
1999
interessadas.
A formação profissional permite a inclusão económica e so-
cial. Os EM devem envidar esforços para criar um sistema
mais flexível, capaz de oferecer a todos a oportunidade de
desenvolver as suas capacidades e talentos. •

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 69
5 EUROPA EM NOTÍCIAS

EUROFLASH
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)

SALÁRIOS REAIS COMBATE AO MAIOR REGULAÇÃO PRODUÇÃO


EM QUEDA DESEMPREGO DO MERCADO DE CIENTÍFICA
JOVEM TRABALHO AUMENTA
Portugal é um dos sete paí-
ses da União Europeia onde O Fundo Europeu de Ajusta- Portugal foi um dos países De acordo com dados divul-
os trabalhadores ganham mento à Globalização, cria- onde a proporção dos salá- gados pela Direção-Geral
menos do que há oito anos. do há dez anos para auxiliar rios no rendimento nacional de Estatísticas da Educação
De acordo com um estudo os trabalhadores de setores mais diminuiu, passando de e Ciência, a produção cien-
publicado em Bruxelas, mais expostos ao processo 60% do total do rendimento tífica em Portugal registou,
realizado pela Confederação de globalização, poderá vir nacional em 2003 para 52% entre 2005 e 2015, um
Europeia de Sindicatos, em a apoiar igualmente, em al- em 2014, refere a Organiza- crescimento médio anual de
colaboração com o Instituto gumas regiões, a população ção Internacional do Traba- 10%, colocando o país entre
Sindical Europeu, entre mais jovem. lho (OIT). De um total de 133 os quatro Estados-membros
2009 e 2016 os salários Os Estados-membros países analisados entre 1995 da União Europeia que mais
reais (corrigidos pela infla- cujas regiões tenham sido e 2014 esta proporção caiu progrediram neste indicador.
ção) caíram anualmente, em afetadas por despedimen- em 91 países, manteve-se Na tabela que avalia o nú-
média, 3,1% na Grécia, 1% na tos elegíveis para apoio constante em 10 e aumen- mero de artigos publicados
Croácia, 0,9% na Hungria, deste fundo e que apresen- tou apenas em 32. por milhão de habitantes
0,7% em Portugal, 0,6% no tem um elevado nível de Para inverter esta trajetória, Portugal subiu do 16.º lugar,
Chipre, 0,4% no Reino Unido desemprego jovem poderão a OIT recomenda a cada em 2005, para 11.º em 2015.
e 0,3% em Itália. incluir, até ao final de 2017, país o reforço da regulação A Dinamarca, a Suécia e a
entre os beneficiários das do mercado de trabalho, Finlândia ocupam as três
medidas de apoio os jovens nomeadamente através do primeiras posições.
que não estejam a trabalhar aumento da contratação
nem frequentem programas coletiva e do aumento do
de ensino ou de formação salário mínimo.
profissional.

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DIVULGAÇÃO | BREVES 6

TOME NOTA
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)

NOVOS INCENTIVOS AO ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE REGIONAL


EMPREENDEDORISMO E À CRIAÇÃO
DE EMPREGO A Comissão Europeia apresentou recentemente a terceira
edição do índice de competitividade regional, relativo a 263
O Sistema de Incentivos ao Empreendedorismo e ao Emprego regiões da União Europeia (UE). Lançado em 2010 e publicado
(SI2E) visa apoiar, de forma simplificada, pequenos investi- de três em três anos, o estudo realizado pela Comissão assenta
mentos empresariais de base local e complementar os atuais na abordagem do Índice de Competitividade Global do Fórum
incentivos às empresas no domínio da competitividade e da Económico Mundial, permitindo que as diversas regiões euro-
internacionalização. Com esse objetivo, tem disponíveis 320 peias (NUTS 2) que foram analisadas monitorizem e avaliem a
milhões de euros (repartidos regionalmente) para apoiar pro- sua evolução ao longo do tempo e em comparação com outras
jetos de investimento, inferiores a 235 mil euros, apresentados regiões da UE.
por micro e pequenas empresas. «Este índice é um instrumento precioso, que permitirá melho-
Integrado no âmbito do Portugal 2020, o SI2E poderá também rar a definição das políticas. Reforça os esforços da Comissão
apoiar a criação do próprio emprego, uma vez que a remunera- para apoiar as reformas estruturais e estimula as capacidades
ção dos postos de trabalho criados, que sejam preenchidos por de inovação das regiões da UE, através dos investimentos ao
desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação abrigo da política de coesão», salientou Corina Cretu, comissá-
Profissional, passam a ser elegíveis para financiamento comuni- ria responsável pela Política Regional.
tário. Estão igualmente previstos incentivos à criação, expansão Em termos globais, os resultados agora obtidos estão em con-
ou modernização de micro e pequenas empresas constituídas sonância com os registados em 2013. Uma vez mais, constata-
há menos de cinco anos, assim como à expansão ou moderni- -se a existência de um modelo policêntrico, em que as capitais e
zação de micro e pequenas empresas que tenham sido criadas as zonas metropolitanas são os principais motores da com-
há mais de cinco anos. petitividade. Observam-se efeitos indiretos na maior parte do
Os projetos aprovados pelo SI2E poderão beneficiar de um noroeste europeu, embora estes sejam muito menos evidentes
apoio entre 30% a 50% do investimento elegível, aumentando nas regiões da UE a este e a sul.
para 60% em territórios de baixa densidade. Por outro lado, os elevados níveis de variação frequentemente
Por cada posto de trabalho criado, o apoio a conceder poderá registados dentro de um mesmo país são causados pelo facto
prever um período até 15 meses (ou 18 meses no caso de ter- de os resultados da região onde se localiza a capital superarem
ritórios de baixa densidade), tendo como limite mensal 421,32 claramente os das outras regiões do país.
euros, ou seja, o valor de um Indexante dos Apoios Sociais (IAS). Em comparação com as duas edições anteriores do índice,
publicadas em 2010 e 2013, Malta e várias regiões de França,
Alemanha, Suécia, Portugal e Reino Unido melhoraram a sua
classificação. Em sentido contrário, Chipre, algumas regiões da
Grécia, da Irlanda e, mais recentemente, dos Países Baixos bai-
xaram de posição neste último estudo realizado pela Comissão
Europeia, que poderá ser consultado em:
http://ec.europa.eu/regional_policy/en/information/maps/re-
gional_competitiveness/

DIRIGIR&FORMAR N.º 15 71
6 DIVULGAÇÃO | BREVES

SABIA QUE
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)

30 ANOS DO PROGRAMA ERASMUS


O que começou por ser, em 1987, um pequeno programa de
mobilidade dirigido a estudantes do ensino superior, tendo
no seu primeiro ano de existência 3200 participantes, trans-
formou-se, nos últimos 30 anos, num dos programas euro-
peus mais emblemáticos, no qual participam anualmente
quase 300 mil pessoas.
A cobertura geográfica do programa Erasmus também se
alargou substancialmente ao longo das últimas três déca-
das. Tendo começado com 11 países participantes, em 1987,
o seu número foi crescendo, sendo atualmente 33 os países
MOBILIDADE E APRENDIZAGEM NA EUROPA que participam no programa (todos os Estados-membros da
União Europeia e também a Turquia, a antiga república jugos-
A Comissão Europeia lançou uma iniciativa, dirigida aos es- lava da Macedónia, a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein).
tudantes e aos estabelecimentos de ensino da UE, que pre- No 30.º aniversário do programa Erasmus, Jyrki Katainen,
tende apoiar a mobilidade e a aprendizagem na Europa. In- vice-presidente da Comissão Europeia, responsável pelo
tegrada no programa Erasmus+, a iniciativa «Move2Learn, Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade,
Learn2Move» está a ser implementada através da platafor- partilhou a sua própria experiência como antigo estudante
ma eTwinning. Os projetos apresentados deverão promover Erasmus na Universidade de Leicester, no Reino Unido. «A
a mobilidade sustentável e a inclusão social na Europa. educação é vital para dotar as pessoas com conhecimen-
«Nos transportes não se trata de vias, navios ou autoestra- tos, capacidades, competências e aptidões para tirarem o
das; trata-se de pessoas. Queremos dar aos jovens europeus maior partido do seu potencial e das oportunidades que se
a oportunidade de descobrirem a Europa. Também queremos lhes apresentam. A mobilidade alarga os nossos horizontes
incentivá-los a viajarem de uma forma ecológica, motivo e torna-nos mais fortes. O programa Erasmus pode oferecer
pelo qual as emissões de CO2 serão tidas em conta», salien- ambas as coisas. Enquanto antigo estudante Erasmus, pude
tou Violeta Bulc, comissária responsável pelos Transportes. testemunhar isto mesmo diretamente. Convido outros estu-
Lançada em 2005 como principal recurso do programa dantes e, em especial, professores, formadores, animadores
eLearning da Comissão Europeia, a eTwinning, a maior rede de juventude e estudantes do ensino e formação profissio-
de professores do mundo, faz parte do programa Erasmus+, nais a utilizarem também as oportunidades que lhes são
o programa europeu de educação, formação, juventude e proporcionadas ao abrigo do programa Erasmus+.»
desporto, desde 2014. O atual programa Erasmus+, que irá decorrer entre 2014 e
A plataforma eTwinning é apoiada pela European Schoolnet, 2020, dispõe de um orçamento de 14,7 mil milhões de eu-
uma parceria internacional que envolve 30 ministérios da ros. Ao longo deste período espera-se que possa permitir a
Educação europeus, onde são desenvolvidas estratégias de mais de 4 milhões de pessoas participarem em programas
aprendizagem dirigidas às escolas, aos professores e aos de ensino e de formação ou terem uma experiência de traba-
alunos de diversos países da Europa. lho ou de voluntariado no estrangeiro. •

72 DIRIGIR&FORMAR N.º 15
A porta
que lhe abre
portas.

Apoios à contratação, criação do próprio emprego e www.iefp.pt


empreendedorismo, ofertas de emprego, estágios,
formação profissional, integração de pessoas com
deficiência e incapacidade. É tudo isto e muito mais, o
que pode esperar quem bate a uma das nossas muitas
portas, em todo o país. Porque, sempre que precisar, o
IEFP estará cá para o ajudar. Perto de si.

Estamos perto de si
A certificação como Parceiro de Excelência para a Aprendizagem é um reconhecimento
atribuído às entidades que, no âmbito dos Cursos de Aprendizagem, desenvolvem uma
formação prática em contexto de trabalho de elevada qualidade. Assim, o IEFP dá relevo a
quem mais e melhor contribui para a formação e empregabilidade dos jovens portugueses.
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