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A“REVISAO DA BIBLIOGRARIA” EM TESES E DISSERTACOES: MEUS TIPOS INESQUECIVEIS Alda Judith Alves da Faculdade de Educagao/UFRJ RESUMO © artigo anaiisa o papol da reviséo da bibliografia om trabalhos {de pesquisa @ aponta as principals defciéncias observadas em esos de mestrado © doutorado, no quo se refere a ess0 as ecto. A primeira seco destaca a importinca da andlise crtca {do estado atval do conhecimento na Area de interesse do pes- ‘quisador para a problematizagio do tema a sor investigado. A ‘segunda trata do raferencial teGrico @ discute as dficuldades ‘contradas na construgdo tedrca no campo da educagso. Final ‘mente, a torcoira sa¢do apresenta 08 equivoces mais frequentes ‘observados om revises de bibliografa, uiizando o recurso da ccaricatura para tomar mais vislveis cortos tragos. ENSINO SUPERIOR + POS-GRADUAGAO - METODOLOGIA DE PESQUISA - REVISAO DE BIBLIOGRAFIA ABSTRACT LITERATURE REVIEWS IN THESES AND DISSERTATIONS: MY CHOICE OF MEMORABLE REVIEWS. The article analyzes the role of literature review in research works and points out the main inadequacies observed in graduatos’ dissertations and theses regarding this aspect. The frst section emphasizes the importance of a critcal analysis of the state of the art in researchers’ field of intorast, 50 that a subject may be tumed into a research problem. The second deals with the theoretical framework and discusses the dificulies of theory construction in the field of education. Finaly, by using the caricature as a ‘means of stressing some features, the last section presents the ‘most frequent mistakes obsorved in ltarature reviews, Cad. Pesq. Séo Paulo, n.81, p.53-60, maio 1992 53 A revisdo da bibliografia, apesar de sua indiscutivel importancia para 0 encaminhamento adequado de um problema de pesquisa, 6 freqdentemente apontada como um dos aspectos mais fracos de tases e dis- sertagdes de pés-graduagéo em Educagéo. Almeida (1977), 20 avaliar a qualidade das teses defendidas fem mestrados do Rio de Janeiro, observou que 70% das revis6es se situaram nos niveis regular e sotrivel, tendo sido também, dentre os aspectos avaliados, 0 mais freqUentemente classificado como péssimo. Igualmente preocupadas com esse problema, Castro @ Holmesland (1984) avaliaram as revises apresen- tadas em tases de mestrado da PUC-RS e constata- ram que a maioria ndo se baseava em trabalhos de pesquisa e artigos de revistas nacionais ou estrangei- fas e, sim, em livros, os quais, sabidamente, refletem com atraso 0 estado do conhecimento numa dada area. ‘A ma qualidade da revistio da literatura compro- mete todo 0 estudo, uma vez que esta nao se cons- titui em uma seco isolada mas, ao contrario, tem por objetivo iluminar 0 caminho a sor trlhado pelo pes- quisador, desde a definigéo do problema até a inter- pretacdo dos resultados. Para isto, ela deve servir a dois aspectos basicos: (a) a contextualizagao do pro- blema dentro da érea de estudo; e (b) a andlise do referencial tebrico, Esses dois aspectos seréo aqui discutidos, pro- curando-se apontar as dificuldades enfrentadas por pesquisadores iniciantes, especialmente alunos de pés-graduagao, no que se refere a reviséio da litera: {ura necesséria & elaboragao de suas teses @ disser- tagbes, @ sugerir procedimentos que possam contri- buir para a elevacso da qualidade desses trabalhos. Dado o fato de que a reviséo da bibliografia deve es- tar a sorvigo do problema de pesquisa, é impossivel, alm do indesejavel, oferecer modelos a serem segui- dos. Por essa razio, procuramos oferecer apenas ofientagoes gerais. Mas, se no se pode especificar como deve ser uma reviséo da literatura, 6 possivel mostrar 0 que deve ser evitado. & 0 que procuramos fazer ao apre- sentar, ao final deste trabalho os tipos de equivocos mais freqUentes no que se refere a revises da bi- bliografia. Esses tipos so apresentados usando 0 re- curso da caricatura, para tomar mais visiveis certos tragos e amenizar a aridez do tema. Finalmente, 6 importante esclarecer que aqui tra- taremos de dois tipos de reviséo de literatura: (a) aquola que 0 pesquisador necessita para seu proprio consumo, isto 6, para ter clareza sobre as principais questées' teérico-metodolégicas pertinentes ao tema escolhido, e (b) aquela que vai, efetivamente, integrar © telatério do estudo. Quanto mais eficiente for a pri- meira, mais funcional @ focalizada serd a segunda. CONTEXTUALIZAGAO DO PROBLEMA A produgao do conhecimento nao 6 um empreendi- mento isolado. E uma construgéo coletiva da comu- 54 nidade cientifica, um processo continuado de busca, no qual cada nova investigacdo se insere, comple- ‘mentando ou contestando contribuigbes anteriormente dadas ao estudo do tema. A proposigao adequada do um problema de pesquisa exige, portanto, que 0 pes- quisador se situe nesse proceso, analisando critica- mente 0 estado atual do conhecimento em sua area de interesse, comparando e contrastando abordagens te6rico-metodolégicas utilizadas © avaliando o peso @ confiabllidade de resultados de pesquisa, de modo a identificar pontos de consenso, bem como contro- vérsias, regiGes de sombra e lacunas que merecem ser asclarecidas. Essa andilise ajuda 0 pesquisador a definir methor ‘seu objeto de estudo e a selecionar teorias, procedi. mantos @ instrumentos ou, ao contrério, a evité-los, quando estes tenham se mostrado pouco eficientes na busca do conhecimento pretendido. Além disso, a familiarizagao com a literatura j& produzida evita o dis- sabor de descobrir mais tarde (as vezes, tarde de- mais) que a roda jé tinha sido inventada. Por essas razbes, uma primeira reviso da literatura, extensiva, ainda que sem o aprofundamento que se fard neces- ‘sério a0 longo da pesquisa, deve anteceder a olabo- rago do projet. Durante essa fase, o pesquisador, auxiiado por suas leituras, vai progressivamente con- seguindo definir de modo mais preciso o objetivo de seu estudo, 0 que, por sua vez, vai ihe permitindo se- lecionar melhor a’ literatura realmente relevante para © encaminhamento da questao, em um processo gra~ dual @ reciproco de focalizagao. Esse trabalho inicial 6 faciltado quando existem revisbes atuais publicadas sobre o tema. Infelizmente, so poucas as revises produzidas no Brasil sobre o conhecimento acumulado numa dada area (Schitfel- bein © Cariola, 1989), 0 que obriga o pesquisador a um trabalho de “garimpagem’. Prética tradicional nos paises desenvolvides, a elaborago dos chamados es- lados da arte entre nés fica muito restrita a capituios encontrados em tases e dissertagSes de mestrado e doutorado. Tal contribuigéo, embora n&o possa ser desprezada, 6 insatistatéria. Em primeiro lugar, porque estados da’ arte devem ser elaborados por especia- listas, pessoas que aliem profundo conhecimento da rea @ capacidade de sistematizagao, o que, como ja foi dito, nem sempre é 0 caso de alunos de mestrado @ doutorado. Além disso, teses @ dissertagbes s&o, ‘em geral, pouco divulgadas, s6 estando disponiveis nas bibliotecas das instituigses em que foram defen- didas. De qualquer forma, sempre que houver revises de bibliografia recentes e de boa qualidade sobre 0 tema 6 conveniente comecar por elas , a partir delas, identiicar estudos que, por seu impacto na area, e/ou maior proximidade com o problema a ser estudado, devam ser objeto de andlise mais profunda. Essas re- visées, ainda que constituam precioso auxiliar, preci sam ser complomentadas pela leitura de outros estu- dos que, por terem sido publicados posteriormente, ou por nao atenderem aos critérios adotados nas revi ‘S606, nelas ndo tenham sido incluidos. Quando nao Cad. Pesq. n.81, 1992 houver revises dispontveis, 6 recomendavel comegar pelos artigos mals recentes e, a partir destes, ir iden: tifleando outros citados nas respectivas bibliogratias. Obras de referéncia (como Abstracts © os catélogos de teses), sistemas de informagao (como o ERIC-Edu cational Research Information Center), redes de infor- mago por computadores (como a REDUC-Rede La- tino Americana de Informago e Documentacaio em Educacao), bibliografias selecionadas', também sao de extrema utiidade na identificagao e selecdo de 0s- tudos para reviséo. Vale acrescentar, ainda, que, & excegdo dos estados da arte, 0 pesquisador deve, sempre que possivel, basear sua revistio em fontes primatias, isto 6, nos préprios artigos, documentos ou livros, @ n&o em citagdes de terceiros. Cabe ainda assinalar quo, no caso de posquisas realizadas no Brasil, a comparacdo 6 dificultada pelo cardter fragmentério dessa produgao e pela grande variedade de abordagens teéricas © metodoiégicas adotadas. Muitas vezes, resultados confitantes entre Pesquisas que focalizam um mesmo t6pico so devi- dos & utilizagao de diferentes procedimentos, unida- des de anélise, bem como ao tipo de populagio en volvida. Sempre que for este 0 caso, tais diferengas devem ser avaliadas em termos de adequagao do ins trumental tedrico e metodolégico utilizado em cada es tudo, Tal procedimento frequentemente permite relati- vizar, ou até mesmo anular, a significancia de certas incongruéncias entre resultados de pesquisa. Mas, se uma certa quantidade de leitura 6 neces séria ao investigador na abordagem de um tema, isto no quer dizer quo 0 leitor da tese ou dissertagao te- nha que acompanhé-lo nesta longa © penosa caf hada. A viséo abrangente da area por parte do pos- quisador deve servir justamente para capacitélo a identiicar as questées relevantes e a selecionar os estudos mais significativos para a construgao do pro: blema a ser investigado. A ientificagéo das questées relevantes da organicidade & revisao, evitando a des- crigio monétona de estudo por estudo. Em tomo de cada questo sao apontadas areas de consenso, in- dicando autores que defendem a referida posigao ou estudos que fornecem evidéncias da proposigao apre- sentada, O mesmo deve ser feito para areas de con- trovérsia. Em outras palavras, néo tom sentido apre- sentar varios autores ou pesquisas, individualmente, ara sustentar um mesmo ponto. Anélises individuais 0 justificam quando a pesquisa ou reflexéo, por seu Papel seminal na construgéo do conhecimento sobre © tema, ou por sua contribuigo original a esse pro- cesso, merecem destaque Em resumo, 6 a familiaridade com o estado do conhecimento na area que torna o pesquisador capaz de problematizar um tema, indicando a contribuigao que seu estudo pretende trazer & expans&o desse co- nhecimento, quer procurando esclarecer questées controvertidas ou inconsisténcias, quer preenchendo lacunas. E sao os aspectos basicos para a compreen- so da “légica adotada para a construcaio do objeto” (Warde, 1990, p.74) que devem aparecer, de forma A “tevisao da bibliografia”.. clara @ sistematizada, na Introdugéo do relatério. & ainda a familiaridade ‘com a literatura produzida na rea que permite 20 pesquisador selecionar adequa- damente as pesquisas que seréo utlizadas, para efei- to de comparagao, na discusséo dos resultados por ole obtidos. ANALISE DO REFERENCIAL TEORICO ‘A exigéncia de um referencial teérico nos trabalhos de pesquisa, freqdentemento um fator de ansiedade para os alunos de mestrado e doutorado, merece al- ‘gumas consideragdes. A primeira diz respeito & au- séncia de consenso quanto & abrangéncia do préprio conceito de teoria. As definigées encontradas na lite- ratura variam desde aquolas que, dentro da tradigao positivista, adotam 0 modelo das ciéncias naturais — ‘2 que implica um alto grau de formalizacéo — até as que incivem os niveis mais rudimentares de interpre- tagao. Procurando dar conta dessa diversidade, par- ticularmente sensivel no campo da educagéo, Snow (1978) propée uma hierarquia entre varios niveis de conceitualizagao que, partindo do nivel mais rigoroso (que ele chama de “teoria axiomatica’), inclui, como construgées teéricas, niveis de elaboracdo bem mais modestos, como constructos, hipéteses, taxonomias, ou até mesmo metaforas. Nesse sentido, podem ser admitidos como perten- cendo ao campo tadrico diversos tipos de esforgos para ir além da mera descrigao, atribuindo significado aos dados observados. O nivel de teorizagao possivel em um dado estudo vai depender do conhecimento acumulado sobre 0 problema focalizado, bem como da capacidade do pesquisador para avaliar a adequa- G40 das teorizacbes disponivels aos fendmenos por ole observados. Esse esforgo de elaboragao teérica 6 essencial, pois 0 quadro referencial clarifica 0 ra- ional da pesquisa, orienta a definigdo de categorias @ constructos relevantes @ da suporte as relacdes an- tecipadas nas hipéteses, além de constituir 0 principal instrumento para a interpretagao dos resultados da Pesquisa. A pobreza interpretativa de muitos estudos, varias vezes apontada em avaliagies da produgso cientifica na érea de educagao (Gatti, 1987; Warde, 1990, por exemplo), deve-se essencialmente & ausén- cia de um quadro te6rico criteriosamente selecionado. Varios autores (Goergen, 1986; Tedesco, 1984, entre outros) assinalam, entretanto, que a educacdo carece de um corpo te6rico proprio e consistente, um problema que esta diretamente vinculado as dificulda- des de definigéo da natureza e especificidade da pré- pria educacdo. (Para uma discussdo sobre estas questées, ver Em Aberto, 1984.) Sem um campo cla ramente definido e teorias propria, a pesquisa edu- 1. Por exomplo, as bibliogratias publicadas pelo INEPIMEC no periédico Em Aberto, ou os estados da arte elaborados para ‘a REDUC, publcados polo INEP ¢ pela Fundagio Carlos Chagas (V. relagéo anexa eo final das referéncias deste ar igo), cacional frequentemente recorre a conhecimentos ge- rados om outras reas — como a Psicologia, a So- ciologia, a Filosofia, a Histéria e, mais recentemente, a Antropologia. Isto’ndo constitui necessariamente um problema: essa "tradugao" de teorias para o campo da educagao pode resultar em abordagens originais @ de grande potencial heutistico, desde que nao se assuma uma posigo reducionista (psicologizante, so- ciaizante, ov outra), perdendo de vista a natureza mais ampla do fenémeno educacional; por outro lado, quando se recorre a nao apenas uma dessas cién- clas, mas a varias, em uma abordagem inter ou trans- disciplinar, 0 resultado tende a ser altamente enrique- cedor. O perigo, portanto, 6 reduzir 0 Ambito @ a com- plexidade da questo investigada, através de intorp tages parciais e/ou enviesadas. E importante lembrar, ainda, que a utilizagao de conceites ou constructos pertencentes a teorias div sas para dar conta da complexidade dos fendmenos observados em um estudo requer cautela. Ao se valer de mais de uma vertente teérica para interpretar seus. resultados, 6 necessério que o pesquisador esteja se- guro de que as teorias utlizadas, das quais muitas ‘vezes tomou apenas parte, nao apresentam, em sua globalidade, contradig6es entre seus pressupostos @ relagées. ‘Além disso, conforme observa Tedesco (1984), a situagéo de dependéncia cultural dos paises da Amé- rica Latina faz com que estes adotem, de modo acri- tico, modelos todricos gerados nos paises desenvol- vidos, principalmente nos Estados Unidos e na Fran- a. Tais teorias, por terem sido elaboradas em res- Posta a situagdes encontradas em outros paises, nem sempre so adequadas a compreensao dos proble- ‘mas latino-americanos. Nao se trata aqui de defender uma posigao xen6foba, de rejeig&o a priori de toda e qualquer teoria que tenha sido construida além das nossas fronteiras, até porque sabemos que a produ- ‘go do conhecimento cientifico se d& em nivel inter- nacional, e que a atitude segregacionista leva a os tagnagdo ou ao retrocesso. Defendemos, sim, uma osigéo “antropotagica” — que implica um conheci- mento profunde do contexto focalizado, para que so possa avaliar se uma dada teoria 6 ou nao adequada — 0 que n&o exclui um esforgo maior no sentido de procurarmos gerar nossas préprias teorias. Numa atitude mais radical, alguns autores ligados & vertente qualitativa (como por exemplo Lincoln e Guba, 1985) questionam a adocao de qualquer es- quema te6rico @ priori, defendendo a idéia proposta, por Glaser e Strauss (1967) de que este deveré emer- gir da analise dos dados. Argumentam que a escolha de um quadro te6rico a prior focaliza prematuramente @ viséo do pesquisador, levando-o a enfatizar deter- minados aspectos © a desconsiderar outros, muitas vezes igualmente relevantes no contexto estudado, mas que no se encaixam na teoria adotada. Obser- vam esses autores que, dada a natureza idiogréfica dos fendmenos sociais, nenhuma teoria selecionada a priori 8 capaz de dar conta das especifcidades do um dado contexto. Sem entrar na discussao sobre as 56 FO vantagons © desvantagons de tal posig&c®, cabe as- sinalar que, quer 0 pesquisador se vaiha de teorias, elaboradas por outros autores, quer construa sua pré- pria, com base nas observac6es feitas, utiizando-se ‘ou no de teorias presxistentes, a teorizacao deve os- tar sempre presente no relatério final. Dovo:se escla- recer, entretanto, que a construgao te6rica nao ¢ ta- ‘efa simples, exigindo profundo conhecimento do cam- po conceitual pertinente, além de grande capacidade de raciocinio formal. Finalmente, quanto & forma de apresentagao do quadro tebrico ‘na tese ou dissertacdo, nao ha con- senso: alguns pesquisadores preferem uma apresen- tagio sistematizada em um capitulo & parte, enquanto outros consideram isto desnecessario, inserindo a dis- cussao teérica ao longo da andlise dos dados. Esta ltima alternativa, embora exija maior competéncia, tende a tomar o relatério mais elegante. Em qualquer circunstancia, porém, a literatura revista deve formar com os dados um todo integrado: 0 referencial tebrico servindo & interpretagao @ as pesquisas anteriores orientando a construgao do objeto © fornecendo pa- rametros para comparagao com os resultados @ con- dlusdes do estudo em questa A seguir, serao brevemente descritos alguns tipos de reviséo de literatura frequentemente encontrados ‘em relatérios académicos. A caricatura, como foi men- cionado, é utiizada como recurso didatico, nao ape. ‘nas para facilitar 0 reconhecimento dos tipos focali zados, como para induzir a rejeigdo a esses modelos. Os tipos descritos nao pretendem ser exaustivos nem tampouco sdo mutuamente exclusivos. Muitos outros poderiam ser acrescentados, ¢ inimoras combinagdes entre eles so encontradas. TIPOS DE REVISAO A SEREM EVITADOS. Summa Pesquisadores inexperientes freqientemente sucumbem ‘a0 fascinio representado pela idéia (lluséria) de “es- gotar 0 assunto”. De origem medieval, a summa é aque- ie tipo de reviséo em que o autor considera neces- apresentar um resumo de toda a produgao cien- tifica da cultura ocidental (em anos recentes passando @ incluir também contribuigdes de culturas orientais) sobre o tema, @ suas ramificagdes e relagdes com ‘campos limitrofes. Por essa razao, poderia ser tam- bém chamado “Do universo e outros assuntos" Arqueolégico Imbuido da mesma preocupagao exaustiva que carac- teriza 0 tipo anterior, distingle-se deste pela énfase 2 As vantagens @ desvantagens da escolha de uma taoria 2 priori foram por n6s analisadas em arigo anterior (Alves, 4991), Cad, Pesg. n.81, 1992 ina visto diacrénica. No que se refere & educagao, co- ‘mega pelos jesultas mesmo que o problema diga res- Peito & politecnia; se 0 assunto for de educagao fisica, ‘considera imperioso recuar & Grécia classica, e assim por diante® Patchwork Este tipo de reviséo se caracteriza por apresentar uma colagem de concsitos, pesquisas © afirmacdes de diversos autores, sem um fio condutor capaz de guiar a caminhada do leitor através daquele labirinto, (A denominagao "Saudades de Ariadne” talvez fosse ais apropriada.) Nesses trabalhos, néo se consegue vislumbrar um minimo de planejamento ou sistomat: zagao do material revisto: os estudos @ pesquisas so meramente arrolados sem qualquer elaboragéo com: parativa ou critica, 0 que freqdentemente indica que © proprio autor se encontra 140 perdido quanto seu leitor ‘Suspense No tipo suspense, ao contratio do anterior, pode-se notar a existéncia de um roteiro; entretanto, como nos classicos do género, alguns pontos da trama perma- necem obscuros até o final. A dificuldade ai 6 saber ‘onde 0 autor quer chegar, qual a ligacdo dos fatos expostos com 0 /eitmotiv, ou seja, 0 tema do estudo. Em alguns casos, 0 mistério se esclarece nas paginas finais. Em outros, porém, como nos maus romances: Policiais, 0 autor no consogue convencer. E em ou- ttos, ainda, numa variante que poderiamos chamar de “cortina de fumaga’, tudo leva a crer que o estudo se encaminha numa direcdo e, de repente, se descobre: que © foco 6 outro. Rococs Segundo 0 “Aurélio” (Novo Dicionario da Lingua Por- tuguesa, 1* edigéo, p.1253), 0 termo rococé designa © estilo ornamental surgido na Franca durante o rei- nado de Luiz XIV (1710-1774) @ caracterizado pelo excesso de curvas caprichosas e pela profuse de elementos decorativos (..) que buscavam uma ele- gancia requintada, uma graca nao raro superticial Impossivel n&o identificar a definigaio do mestre Aurélio com certos trabalhos académicos nos quais conceituagses tedricas rebuscadas (ou tratamentos metodolégicos sofisticados) constituem os “elementos decorativos” que tentam atribuir alguma elegancia a dados irrelevantes’ Caderno B Texto leve que procura tratar, mesmo os assuntos mais complexos, de modo ligeiro, sem aprofundamen- A “tevisio da bibliografia’. tos cansativos. A predilegao por fontes secundérias, de preferéncia handbooks, onde o material ja se contra mais digerido, 6 uma constante, @ a Colegao Primeiros Passos, auxiliar precioso. Coquetel tosrico Diz-se daquele estudo que, para atender a indisciplina dos dados, apela para todos os autores disponiveis, Nostes casos, Marx, Bachelard, Althusser, Gramsci, Heidegger, Habermas, Weber, Freud @ muitos outros, Podem unir forgas na tentativa de explicar pontos obs- curos. Apéndice indtil Esto 6 0 tipo em que 0 pesquisador, apés aprasentar sua reviséo de literatura, organizada om um ou mais capitulos a parte, aparentemente exaurido pelo esfor- 60, recusa-se a voltar ao assunto, Nenhuma das pes- Guisas, conceituagées ou relagées toéricas analisadas 6 utlizada na intorpretagao dos dados ou em qualquer outra parte do estudo. O fendmeno pode ocorrer com a revisdo como um todo ou se restringir a apenas um de seus capitulos. Neste citimo caso, © mais frequen temente acomotido desso mal 6 0 que se refere a0 “Contexto Historica’. Monéstico Aqui parte-se do principio de que 0 estilo dos traba- lhos académicos deve ser necessariamente pobre, mortficante, conduzindo, assim, 0 leitor a0 cultive das virtudes da disciptina e da tolerancia. Os estudos des- se tipo nunca tm menos de 300 paginas. Cronista social E aquele em que @ autor da sempre um “jitinno” de citar quem esta na moda, aqui ou no exterior. Esse tipo de revisio de literatura 6 © principal res. onsével pelo surgimento dos “autores curinga’, que Se tormam referéncia obrigatoria, seja qual for 0 tema estudado. 3 E corto que, mitas vezes, torna-se necessério um breve his: Yérico da evolugdo do conhecimento sobre um tema para apontar tendéncias elou distorcées, marcos te6rices, estudos seminais. Estes casos, porém, néo se incluem no tipo ar queciégico, 4 Isto nao quer dizer que se deva passar por cima de com. Blexidades teGricas ou metodotégicas, © sim que teorizacées 18 metodologias complaxas nao conferem consistoncia a da {dos superficiais efou inadequados ao estudo do objato, Além disso, cabe lembrar que 0 rigor tesrico-metodolégico incl a ebedkéncia ao principio da parciménia. 87 Colonizado X xenéfobo Optamos aqui por apresentar esses dois tipos em Conjunto, pois um 6 exatamente 0 reverso do outro, ambos igualmente inadequados. O colonizado 6 aque: le que se basela exclusivamente em autores estran- geiros, ignorando a produgao cientfica nacional sobre © tema. © xenéfobo, a0 contrario, nfo admito citar toratura estrangeira, mesmo quando a produgéo na- ional sobre o tema ¢ insuficiente. Off the records Este termo, tomado do vocabulario jornalistco, refe- re-se aqueles casos em que o autor garante 0 ano- nimato as suas fontes, através da utlizagao frequente do expresses como “sabe-se", “tem sido obsorvado'®, “muitos autores”, “varios estudos" © outras similares, impedindo seu leitor de avaliar a consisténcia das afir mages apresentadas, além do nogar o crédito a quem o merece, Ventriloquo E 0 tipo de revisdo na qual o autor sé fala pela boca dos outros, quer citando-os literalmente, quer parafra- seando suas idéias, Em ambos os casos, a revisdo torna-se uma sucesso mondtona de afirmages, som comparagSes entre elas, som andlses crticas, toma: das de posigéo ou resumos conclusivos. O estilo 6 faciimente reconhecivel: os paragrafos se sucedem alternando expross6es como "Para Fulano", “Sogun- do Beltran", com “Fulano afirma’, "Beltrano obser- va", “Siorano pontua’, alé esgotar 0 estoque de ver- bos®. CONSIDERAGOES FINAIS A importancia atribuida a revisao critica de teorias esquisas no processo de produgao de novos conhe- cimentos no 8 apenas mais uma exigéncia formalista @ burocratica da academia. E um aspecto essencial A construgo do objeto de pesquisa © como tal deve ser tratado, se quisermos produzir conhecimentos capazes de contribuir para o desenvolvimento te6- rico-metodolégico na area e para a mudanga de praticas que ja se evidenciaram inadequadas ao tra- to dos problemas com que se defronta a educacao brasileira Acreditamos, entretanto, que 0 que aqui foi dito com referéncia & reviséo da bibliografia pode ter pa- recido a alguns, excessivo, ou mesmo fruto de uma mente obsessiva. Esclaregamos: sup5e-se que uma pessoa, ao se propor a pesquisar um tema, nao seja leiga no assunto, isto 6, supée-se quo ja 0 tonha tra- balhado em cursos ou praticas de pesquisa anterior- 58 mente realizadas. Consequentemente, 0 que se exige 6 apenas um esforgo de atualizagao e integracao des- ‘ses conhecimentos. Além disso, no que se refere a alunos de pés-graduagao, é necessério assinalar que © papel do orientador 6 fundamental: ele deve, por- tanto, ser um especialista na area, e, como tal, capaz de pré-selecionar as leituras necessérias & questéo de interesse, ovitando que o aluno parta para um "véo cego’ Um outro ponto que merece comentarios 6 a dis- tingdo, no que se refere ao nivel esperado, entre es- tudos realizados para a obtengao dos titulos de me: tree de doutor E evdente que as exigéncias deverdo ser diferenciadas, uma vez que a tendéncia dominan- te 6 garantir, aos mestres, uma iniciagéo & pesquisa, enquanto, dos doutores, espera-se uma formagao que lhes permita futura atuag&o como pesquisadores au- ténomos. Especificar em que consiste essa diferencia- 40 6, entretanto, praticamente impossivel, uma vez que, em termos concretos, as exigéncias variam se- gundo a institvigéo ©, dentro de cada institigao, de ‘um orientador para outro. Podemos dizer que visamos aqui, precisamente, aquilo que 6 desejavel para uma pesquisa competente. Se, para os alunos de douto- rado, isto deve ser visto como uma exigéncia, para os de mestrado dave ser visto como uma diregéo. Finalmente, muito se tem lamentado que o des- tino de grande maioria das teses @ dissertagdes 6 mo- far nas prateleiras das bibliotecas universitérias. Uma das causas desse fato 6, sem divida, a qualidade dos rolatérios apresentados, particularmente no quo so re- fere as revisbes da bibliografia: textos repetitivos, re- buscados, desnecessariamente longos ou vazios afas- tam rapidamente 0 leitor nao cativo, por mais que o assunto Ihe interosse 5 0 uso do exjeito indeterminado 6 portinente not casoe em ue a conclusio veiculada ja 6 do “dominio publico’, isto 6, consensual ou quase consensual entre os autores que tra: taram do toma, no cabendo, portanto, destacar apenas um ou ois. 6 CitagSes Iterais devem ser usadas com cautela, uma vez us, por serem extraidas de outro contexto conceitual, rara- mente se adequam perfeitamente ao fuxo da expocigéo, além de, através dessa extracéo, correr-se 0 risco de des Vinuar © pansamenta do autor. € imperiozo respeitar a “eco: logia conceitua’, indicando a que tipo de situacso, preocu- ppagbes © condicies a afirmagdo se refere. Consideramos ‘que citagoos lteras se justticam om trés situapbes basicas: {a} quando 0 autor citado foi tao foliz @ acurado em sua for- ‘mulagao da questéo que qualquer tentatva de paratrasedla seria empobrecedora; (b) quando sua posizdo em relacdo ao toma 6, além de relevante, to iossincratica, to orginal, ‘que © pesquisador julga conveniante expresséila nas pala ‘ras do préprio autor, para afastar a divida do quo a paré frase pudesse ter traido © pensamento do autor; @(c) quan. do, no que se refere a autores cujas idéias tveram consi

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