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São Paulo
2007
Ricardo Moreira da Cruz
São Paulo
Abril de 2007
Ficha Catalográfica
Elaborada pelo Departamento de Acervo e Informação Tecnológica – DAIT
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
1 INTRODUÇÃO 08
2 CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE 10
2.1 Contexto Geral dos Três Pilares da Sustentabilidade 10
2.2 O Pilar Econômico 15
2.2.1 Indicadores econômicos 15
2.3 O Pilar Ambiental 17
2.3.1 Normas ambientais auditáveis 17
2.3.2 Indicadores ambientais 21
2.4 O Pilar Social 24
2.4.1 Normas auditáveis em RSE 26
2.4.2 Indicadores sociais 27
4 DESEMPENHO SUSTENTÁVEL 34
4.1 Indicadores de Desempenho Econômico 37
4.2 Indicadores de Desempenho Ambiental 38
4.3 Indicadores de Desempenho Social 39
6 CONCLUSÃO 49
REFERÊNCIAS 50
8
1 INTRODUÇÃO
Muitos trabalhos já foram desenvolvidos com o intuito de aprofundar as
discussões sobre o gerenciamento do desempenho competitivo, econômico, social e
ambiental das organizações, quer propondo modelos, métodos e variáveis de
medição, quer apresentando modos de integrar duas ou mais áreas do desempenho
organizacional.
Ainda hoje são poucos os estudos sobre formas de tornar a gestão das
organizações sustentável e competitiva, considerando a relação de
interdependências entre os diversos aspectos do desempenho organizacional num
âmbito mais complexo e difícil de delinear relações de causalidade.
O presente trabalho pretende, ao seu término, propor um modelo de gestão
baseado tanto nas componentes internas do desempenho organizacional, já
bastante discutidas e estudadas no mundo todo, quanto no que, dentro da disciplina
econômica, convencionou-se chamar de externalidades.
Externalidades são todos os fatores que dentro da contabilidade clássica são
impossíveis ou muito difíceis de serem contabilizados, estando ainda fora do âmago
organizacional. Assim, podemos citar como exemplos de externalidades dentro
deste conceito: custos decorrentes do descarte de produtos após a perda de sua
função, custo por serviços ambientais (seqüestro de carbono, filtragem natural de
água, controle da umidade etc.), influência sobre padrões culturais locais, alterações
na qualidade de vida etc.
Para isso, o autor se fundamenta em modelos desenvolvidos nos últimos
anos para compreender a relação entre os aspectos econômicos, sociais e
ambientais do desempenho organizacional, e o modelo de gestão competitiva que
melhor representa o intuito deste trabalho e que vem apresentando uma grande
adesão das organizações brasileiras.
Esta obra tem seu conteúdo divido em quatro partes para a melhor
compreensão e apresentação das idéias pretendidas. O capítulo 2, intitulado
"Contexto da Sustentabilidade", traz as definições do que seja a sustentabilidade
para o objetivo deste trabalho, decompondo o conceito em três áreas detalhadas em
descrição, meios de medição e, nos dois últimos casos, normas de gestão.
O terceiro capítulo, denominado "Estratégia e Desempenho Competitivo",
explora o conceito de estratégia e competitividade, trazendo definições referentes a
estes conceitos e a um modelo muito utilizado pelas organizações para medição e
gestão de seu desempenho, pautado por uma visão multidisciplinar da elaboração e
implementação da estratégia.
Em "Desempenho Sustentável", título auferido ao quarto capítulo, o autor
explora um modelo bastante discutido e aceito em âmbito mundial para a
mensuração e reporte do desempenho sustentável das organizações, pautado nos
conceitos previamente expostos no capítulo 2.
Finalizando o desenvolvimento trabalho, o quinto capítulo desenvolve a
contribuição do autor no campo da gestão da estratégia e competitividade
organizacionais, aliada à gestão da sustentabilidade de suas operações. Para tanto,
propõe um modelo de integração entre as duas disciplinas que possa, de forma clara
e lógica, correlacionar os diversos aspectos que figuram as estratégias
9
2 CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE
Neste capítulo são enunciados os mais relevantes conceitos relativos à
sustentabilidade, desenvolvidos sob a ótica do que Elkington (2001) chamou de
"teoria dos três pilares", envolvendo os aspectos da qualidade ambiental, justiça
social e desenvolvimento econômico.
Pretende-se explorar o princípio do desenvolvimento sustentável, para o qual
o desenvolvimento econômico, a coesão social e a proteção ambiental são
interdependentes e indissociáveis, a fim de se garantir às futuras gerações uma
sociedade de prosperidade e justiça, um mundo menos poluído e uma melhor
qualidade de vida. Para tanto é necessário um crescimento econômico que privilegie
o progresso da sociedade e respeite o equilíbrio ecológico.
Aqui se pretende tão somente apresentar resumidamente o histórico evolutivo
das questões concernentes aos três pilares da sustentabilidade e seus principais
fundamentos, auxiliando na compreensão das idéias neles contidas e de suas
implicações práticas.
2.1 Contexto Geral dos Três Pilares da Sustentabilidade
As questões ambientais (consumo não planejado de recursos e serviços
naturais, degradação da qualidade ambiental, escassez de energia e alimentos etc)
tomaram vulto em meados do século XX como uma crise do sistema econômico-
produtivo, passando pelo aspecto comportamental de consumo e consciência
ecológica.
Esta crise traz consigo pelo menos duas importantes perspectivas passíveis
de explicá-la: uma cita os impactos de uma explosão demográfica sobre os limitados
recursos necessários a sua sustentação; a outra critica a acumulação do capital e a
maximização dos lucros como fator de desequilíbrio no sistema produtivo e padrões
de consumo perdulários das populações sobre um ambiente limitado em recursos
para oferecer.
Seja qual for a perspectiva aceita, esta problemática gerou mudanças nos
sistemas sócio-econômicos em que as pessoas de ambas as opiniões vivem, em
todos os lugares do mundo. É exatamente este aspecto global que torna inútil uma
ação estritamente local ou isolada, fazendo-se necessária uma ação conjunta de
alcance global, orientada por normas ambientais precisas e efetivas.
Ao final da década de 60, na qual floresceram os movimentos ambientalistas
e preservacionistas, a idéia de que desenvolvimento econômico e equilíbrio natural
eram questões incompatíveis dominava o cenário mundial. Muitos futurólogos
apontavam para uma rápida escassez de recursos minerais como petróleo e cobre
dentro de poucas décadas. Prova deste pensamento foi a publicação de um relatório
por Dennis e Donella Meadows em 19721, patrocinado pelo Clube de Roma, um
grupo que congregava cientistas, intelectuais e empresários com a finalidade de
debater o futuro do planeta.
O estudo afirmava que, uma vez mantido o mesmo nível de industrialização,
produção e poluição, o limite para o crescimento seria alcançado em menos de um
século, consistindo no começo do fim de nossa civilização. Estas idéias já haviam
sido defendidas durante uma conferência do Clube de Roma realizada na cidade do
Rio de Janeiro em julho de 1971.
1
“Limites para o crescimento”
11
2
Comissão Brundtland
12
co
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So
ô
cia
on
l
Ec
Ambiental
Figura 2-1: Equilíbrio Perfeito entre os Pilares.
Do equilíbrio resulta o nível ótimo de sustentabilidade.
Fonte: Autor
co
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Ec
Ambiental
Figura 2-2: Desequilíbrio entre os Pilares.
O desequilíbrio resulta em redução na sustentabilidade.
Fonte: Autor
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So
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Ec
Ambiental
Figura 2-3: Desequilíbrio com Proeminência Econômica.
Este desequilíbrio resulta da ênfase no econômico em detrimento do social.
Fonte: Autor
ES
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So
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cia
on
l
Ec
AE Ambiental SA
Para cada entrelinha, Elkington (2001) pontuou alguns desafios que surgem
neste viés de busca pelo equilíbrio entre os três pilares, visando a sustentabilidade.
Destes desafios, alguns já encontraram espaço no dia-a-dia das organizações,
porém nem sempre na escala e importância desejável. Outros ainda consistem em
uma preocupação sem uma solução definida ou sequer vislumbrada. O Quadro 2-1
apresenta os desafios apresentados por Elkington (2001).
Entrelinha Desafio
Preço Reflexo
Reforma Tributária Ecológica
AE: Ambiental-Econômica Economia e Contabilidade Ambiental
Obrigações Ambientais e Valor dos Acionistas
Eco-Eficiência
Educação e Treinamento Ambiental
Capacidade de Suporte para o Turismo
SA: Sócio-Ambiental Refugiados Ambientais
Justiça Ambiental
Equidade Inter-Gerações
Direitos Humanos e das Minorias
Impactos Sociais de Investimentos
ES: Econômico-Social Ética Empresarial
Comércio Justo
Capitalismo Participativo (Stakeholders)
Quadro 2-1: Desafios da Sustentabilidade
Fonte: Adaptado pelo autor de Elkington (2001).
Ainda, Daly (2004) defende uma economia sem crescimento, porém com
desenvolvimento pautado na distribuição da riqueza já existente como caminho para
a sustentabilidade. Segundo este mesmo autor, a economia é um subsistema aberto
e crescente contido no ecossistema, este último fechado, finito e não-crescente.
Como é impossível e indesejável o homem dominar toda a natureza e dela extrair
valor econômico, a economia encontraria seu limite de crescimento antes mesmo de
atingir as bordas do ecossistema.
O ato de crescer denota "ficar maior", enquanto o ato de desenvolver
depreende "ampliar o potencial qualitativo". O ecossistema se desenvolve e, quando
isto ocorre, torna-se diferente e não maior. Porém o sistema econômico, que é
aberto, pode crescer e também se desenvolver, mas é preciso parar de crescer ao
mesmo tempo em que se enfatiza o desenvolvimento.
Assim, o "crescimento sustentável" é um contra-senso por admitir que o
sistema econômico possa expandir-se indefinidamente, mesmo que compreendido
como sendo o aumento em tamanho acompanhado de transformações qualitativas.
O desenvolvimento sustentável necessita ser entendido como sendo
"desenvolvimento sem crescimento" para realmente merecer a qualidade de
"sustentável".
15
5
Ecologia industrial é a aplicação de conceitos relacionados à descrição de cadeias tróficas para a
compreensão das interações entre as várias indústrias dentro de uma cadeia produtiva industrial.
16
6
Valor Econômico Agregado (preço de venda menos os custos de obtenção do produto)
7
Lucro Antes de Juros e Impostos (preço de venda menos os custos operacionais de venda,
obtenção e logística)
8
Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização
17
Redução de Custos
Aumento e Mix de Receita Utilização dos Ativos
Aumento de Produtividade
Crescimento Aumento da taxa de vendas Receita/Funcionário Investimento (percentual
por segmento de vendas)
Percentual de receita Pesquisa e
gerado por novos produtos, Desenvolvimento
serviços e clientes (percentual de vendas)
Fatia de clientes e contas- Custos versus custos dos Índices de capital de giro
alvo concorrentes (ciclo de caixa a caixa)
Sustentação
9
Vendas cruzadas Taxas de redução e custos ROCE por categoria-
Percentual de receita Despesas indiretas (percentual chave de ativo
gerada por novas de vendas) Taxas de utilização dos
aplicações ativos
Lucratividade por clientes e
linhas de produtos
Lucratividade por cliente e Custos unitários (por unidade Retorno
linhas de produtos de produção por transação) Rendimento (throughput)
Colheita
9
Retorno Sobre o Capital Empregado
10
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável
18
11
ABNT NBR ISO 14001:2004 – Sistemas da gestão ambiental – Requisitos com orientações para
uso
19
12
Informações fornecidas pelo Departamento de Marketing da empresa certificadora Bureau Veritas
Quality International (BVQI)
13
Regulamento nº 761/2001 de 19 de Março de 2001 que permite a participação voluntária de
organizações num sistema comunitário de eco-gestão e auditoria
14
Associação Brasileira da Indústria Química
20
15
Partes Interessadas
21
Decisão
Entradas Saídas
IDA
Fornecimento Distribuição
ICA
16
NBR ISO 14031:2004: gestão ambiental – avaliação de desempenho ambiental – diretrizes
22
17
Design for Environment
18
Design for Disassembling
19
Design for Recycling
25
20
Pacto Global
27
21
www.sa-intl.org
28
22
benchmarks
29
Áreas Princípios
1. As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos
reconhecidos internacionalmente dentro de sua esfera de influência
Direitos Humanos
2. As empresas devem certificar-se de que não são cúmplices de abusos e
violações dos direitos humanos
3. As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o
reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva
4. As empresas devem apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho
Direitos do Trabalho forçado ou compulsório
5. As empresas devem apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil
6. As empresas devem eliminar a discriminação com respeito ao emprego e
à ocupação
7. As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios
ambientais
8. As empresas devem se engajar em iniciativas para promover maior
Proteção Ambiental
responsabilidade ambiental
9. As empresas devem incentivar o desenvolvimento e difusão de
tecnologias ambientalmente amigáveis
10. As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas,
Contra a Corrupção
inclusive extorsão e propina
Quadro 2-5: Áreas de Concentração e os Princípios do GC
Fonte: Adaptado pelo autor de Ethos (2006).
30
23
Harvard Business Review, janeiro-fevereiro de 1992.
33
4 DESEMPENHO SUSTENTÁVEL
Medir o desempenho sustentável, ou seja, o impacto da atividade da empresa
nas três áreas que o compõem (econômica, ambiental e social) é um processo-
chave para a implementação efetiva de uma estratégia e de um plano de
sustentabilidade.
Porém, esta avaliação levanta muitas questões, como por exemplo que forma
é a mais adequada para medir os desempenhos econômico, ambiental e social e
com base em que indicadores? Como gerir um volume e uma diversidade crescente
de informação – tanto em quantidade quanto em qualidade – ou ainda os riscos de
enfrentar uma opinião pública cada vez mais crítica acerca das informações
relatadas pelas organizações, que podem ser consideradas incompletas ou
inverossímeis?
Tais questões demonstram a complexidade do trabalho de se elaborar uma
matriz global que reflita o desempenho sustentável organizacional, razão esta pela
qual muitas organizações ainda não aderiram à elaboração e publicação de um
relatório de sustentabilidade.
A CERES (Coalition of Environmentally Responsible Economies24) – uma
associação de investidores, sindicatos, gestores de fundos de investimentos,
fundações e associações – empenhou-se em desenvolver uma matriz comum de
avaliação do desempenho sustentável das organizações, que fosse abrangente e
consensual.
Em 1997, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), a CERES desenvolveu a GRI (Global Reporting Initiative25),
cuja missão é desenvolver e divulgar linhas gerais globais para servir de orientação
na elaboração de relatórios de sustentabilidade, conhecidas como "Diretrizes para
Relatórios de Sustentabilidade". Estes relatórios deveriam versar sobre as
dimensões econômica, ambiental e social das atividades, produtos e serviços
desenvolvidos pelas organizações.
Com base num processo consultivo que envolveu cerca de dez mil
organizações em mais de 75 países e uma rede de milhares de outros interessados,
a GRI conta ainda com a colaboração de numerosas organizações, diferentes em
dimensão e em atividade (Procter & Gamble, Baxter, Electrolux, Ford, General
Motors, Henkel etc), que se colocaram à disposição para testarem a aplicação das
diretrizes e relatarem as dificuldades encontradas. Estas ações contribuíram para o
melhoramento sucessivo das linhas gerais propostas.
As primeiras diretrizes para a mensuração do desempenho sustentável pelas
organizações, propostas pela GRI, surgiram em 1999 como um esboço preliminar,
seguindo sua disponibilização para comentários das diversas partes interessadas e
implementação em caráter experimental. Tiveram então sua efetiva publicação em
junho de 2000.
Todavia a onda que motivou a criação das diretrizes publicadas naquele ano
não arrefeceu sua força, ganhando intensidade na maioria dos casos. As discussões
sobre globalização da economia, governança, responsabilidade e cidadania
24
Coalizão das Economias Ambientalmente Responsáveis
25
Iniciativa Global de Reporte
35
corporativas tomam cada vez mais espaço nas agendas dos governos e
organizações, preponderando nas discussões políticas e administrativas.
Imediatamente após tal publicação, um processo de revisão e melhoria
contínua teve início. Após dois anos de discussões, sugestões e comentários de
partes interessadas e em escala global, foi disponibilizada a versão 2002 das
"Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade", refletindo um consenso,
consolidando a visão do conselho da GRI sobre o processo de medição e reporte do
desempenho sustentável.
Desde 2002 até a elaboração do presente trabalho26, cerca de três mil
empresas já publicaram relatórios de sustentabilidade seguindo os indicadores
propostos pelo GRI. Assim, por meio de um conjunto de indicadores para cada uma
das três áreas (econômica, ambiental e social) é possível medir e comparar as
práticas entre empresas, algo que até aqui só se considerava ser possível aferir na
área econômica, considerando-se os impactos na área social e ambiental de
natureza muito complexa e de difícil avaliação.
Alguns fatores figuram como os principais vetores que corroboram para o
rápido crescimento na adesão das organizações ao modelo de medição e reporte do
desempenho sustentável proposto pela GRI. Dentre eles estão o rápido avanço da
globalização, necessidade de novos modelos de governança global em conjunto
com a reforma da governança organizacional, medição do desempenho orientado à
sustentabilidade, o desenvolvimento de um novo conceito de contabilidade e o
interesse do mercado financeiro em balanços de sustentabilidade.
O avanço rápido da globalização ocorre no auge da era da informação,
quando crescem os mercados de capitais e afloram inúmeras oportunidades de
geração de riquezas. Porém, surge a dúvida sobre se e de que forma estas riquezas
serão distribuídas, reduzindo as desigualdades sociais.
Para prover e acompanhar a economia cada vez mais livre de barreiras, os
governos de muitos países buscam por mecanismos de controle da atividade das
organizações globais a fim de garantir que se tenha equilíbrio no desenvolvimento
econômico, ambiental e social. Tal preocupação é motivada por um sistema
econômico global mais e mais complexo e interligado, demandando graus mais
elevados de transparência no reporte do desempenho das organizações. Assim
como necessita evoluir a governança em escala macro, também a governança das
organizações passa por profundas transformações, adequando-se às preocupações
depositadas sobre sua influência no futuro sustentável da civilização.
À medida que a gestão do desempenho sustentável vem produzindo frutos,
um número cada vez maior de organizações tem procurado desenvolver e praticá-la.
Buscando a capacidade de estabelecer metas e padrões adequados, faz-se
necessária uma base de dados confiável e amplamente aceita, pautada em
indicadores consistentes e representativos.
A tradição e experiência contidas nos últimos cinqüenta anos de
desenvolvimento da contabilidade e na elaboração de balanços financeiros, serviu
como base para a criação da estrutura do "Relatório de Sustentabilidade" sugerido
pela GRI. Os contadores mais modernos já sinalizam para a necessidade de uma
nova contabilidade, capaz de lidar com as novas características da economia da era
26
Está marcada a apresentação da terceira geração de diretrizes do GRI para o dia 07/12/2006.
36
partes interessadas, bem como a forma pela qual estas partes são afetadas pelo
desempenho organizacional nesta dimensão.
Impactos econômicos indiretos podem ser entendidos como aqueles
relacionados a externalidades, ou seja, resultados que não são refletidos
diretamente no montante apurado das operações. A GRI não propõe indicadores
dessa natureza em suas diretrizes por conta de sua extrema complexidade e
particularidade, porém reconhece sua importância e incentiva a figuração deste tipo
de informação nos relatórios de sustentabilidade das organizações.
A título de apresentação, pode-se citar como exemplos de indicadores
econômicos indiretos os efeitos econômicos motivados por mudanças de localização
ou em operações das organizações, assim como a contribuição de uma indústria
para o PIB27 nacional ou para a competitividade de uma região, sensibilidade
financeira de uma comunidade em relação às operações da organização, entre
outros.
O Quadro 4-1 traz a relação das características utilizadas pelas diretrizes da
GRI para medir o desempenho da dimensão econômica nas organizações que as
adotam.
Categoria Aspecto
Impactos Econômicos Clientes
Econômica
Diretos Fornecedores
Funcionários
Investidores
Setor Público
Quadro 4-1: Indicadores Categoria Econômica
Fonte: Adaptado pelo autor de GRI (2002).
27
Produto Interno Bruto
39
Categoria Aspecto
Impactos Ambientais Materiais
Energia
Água
Ambiental
Biodiversidade
Emissões e Resíduos
Fornecedores
Produtos e Serviços
Adequação à Legislação
Transporte
Quadro 4-2: Indicadores Categoria Ambiental
Fonte: Adaptado pelo autor de GRI (2002).
28
Organização Internacional do Trabalho
40
Categoria Aspecto
Práticas Trabalhistas Emprego
Relações com Funcionários
Saúde e Segurança
Treinamento e Educação
Diversidade e Oportunidade
Direitos Humanos Estratégia e Gestão
Não-discriminação
Liberdade de Associação e Negociação Coletiva
Trabalho Infantil
Trabalho Forçado e Compulsório
Social
Procedimentos Disciplinares
Procedimentos de Segurança
Direitos Indígenas
Sociedade Comunidade
Suborno e Corrupção
Contribuições Políticas
Competição e Política de Preços
Responsabilidade sobre Saúde e Segurança dos Consumidores
Produtos e Serviços Produtos e Serviços
Propaganda
Respeito à Privacidade
Quadro 4-3: Indicadores Categoria Social
Fonte: Adaptado pelo autor de GRI (2002).
41
Riquezas Conhecimento
Materiais
Produtos
Energia
Operações
Conhecimento
Serviços
Riquezas
Financeira
Ambiente Externo
Organização
Clientes
Processos
Internos
Competência e
Conhecimento
Financeira
Ambiente Externo
Organização
Clientes
Processos
Internos
Competência e
Conhecimento
Recursos e
Responsabilidade
Serviços
Social
Ambientais
29
Capacidade do meio natural de proporcionar os ciclos naturais, tais como os ciclos da água,
nitrogênio, fósforo, carbono etc.
45
6 CONCLUSÃO
Após todo o exposto, fruto do estudo da bibliografia utilizada para a
elaboração do presente trabalho, o autor é levado a algumas conclusões
reconhecidamente preliminares.
Muito ainda necessita ser desenvolvido no conceito de sustentabilidade, pois
as linhas de entendimento são muitas vezes dicotômicas criando assim um
consenso ainda frágil e inconsistente em algumas de suas áreas.
Existem diversas vertentes estratégicas, algumas em declínio de sua
utilização, outras em visível fortalecimento. Isto enriquece o campo ao mesmo tempo
em que dificulta a seleção da mais adequada e a comparação de sua eficácia em
preparar as organizações para o devir.
Os indicadores disponíveis para a mensuração da sustentabilidade estão bem
desenvolvidos para as dimensões Econômica e Ambiental, porém a dimensão Social
ainda carece de bons indicadores que reflitam o desempenho real das organizações
no desenvolvimento sustentável.
O modelo proposto pelo autor necessita de um teste prático para validação da
lógica interna. Certamente ajustes serão necessários para adequação do modelo a
cada tipo de organização, mas a estrutura deve manter-se consistente.
Sugere-se um maior aprofundamento na forma de representação do
desempenho por perspectiva, refinando o modo como são ponderadas as medidas
dentro de cada perspectiva, possibilitando sua comparação.
O autor pretende ainda retomar o tema do presente trabalho, explorando-o de
um modo mais profundo, desenvolvendo a técnica de contabilidade das
externalidades nas três dimensões da sustentabilidade como forma de apurar o
desempenho sustentável das organizações em termos financeiros e não-financeiros.
50
REFERÊNCIAS