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Endocrinologia

ENDOCRINOLOGIA
Paulo J. M. Santos1

Introdução
Mecanismos de acção hormonal
• Hormonas proteicas
• Hormonas esteróides
• Outros mecanismos

Hormonas da adeno-hipófise
• Hormona do crescimento
• Hormona adrenocorticotrófica
• Hormona estimulante da tiróide
• Prolactina
• Hormona folículo-estimulante e luteínizante
• Hormona melanócito-estimulante

Hormonas da neuro-hipófise
• Hormona anti-diurética
• Oxitocina

Hormonas da supra-renal
• Aldosterona
• Cortisol

Hormonas do pâncreas endócrino


• Insulina
• Glucagina

Hormonas da tiróide
• Tiroxina e triiodotironina
• Calcitonina

Hormona da glândula paratiróide


• Paratormona

Hormonas sexuais masculinas


• Testosterona

Referências

1
Professor associado da FCDEF-UP e regente da cadeira de Fisiologia Geral.

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Endocrinologia

Introdução

O sistema endócrino, conjuntamente com o sistema nervoso, é o responsável pela maioria


das funções de controle do organismo. Geralmente o sistema nervoso controla as
actividades rápidas, tais como as contracções musculares, os fenómenos viscerais de
breve evolução e até mesmo a intensidade de secreção de algumas glândulas endócrinas
(medula supra-renal e hipófise posterior).

Já o sistema endócrino regula, principalmente, as diferentes funções metabólicas do


organismo, dirigindo as velocidades das reacções químicas intracelulares, o transporte de
substâncias através das membranas celulares, ou outros aspectos do metabolismo celular
como o crescimento e a secreção. Um exemplo da acção conjugada destes dois sistemas é
a coordenação da resposta fisiológica que assegura a homeostasia da glicemia, tanto em
repouso como durante o exercício.

Este bloco procura, em primeiro lugar, dar ao aluno uma perspectiva global do sistema
endócrino, destacando os principais mecanismos de acção e regulação hormonal.
Seguidamente, são referidas as várias glândulas endócrinas, bem como as acções mais
relevantes das hormonas2 que libertam, com particular destaque para o papel
desempenhado pela hipófise.

Habitualmente o controle da secreção hormonal é feito por feedback negativo. Com


efeito, cada glândula tende a uma secreção excessiva da sua própria hormona, e quando
o efeito fisiológico normal dessa hormona é alcançado, a informação é transferida,
directa ou indirectamente, para a glândula produtora, inibindo a secreção posterior.
Inversamente, quando a glândula tem um nível de secreção baixo, os efeitos fisiológicos
são menores, reduzindo também o feedback e permitindo que a glândula recomece a
secretar quantidades hormonais adequadas. Deste modo, o organismo controla a
velocidade de secreção de cada hormona consoante as necessidades fisiológicas. Os
mecanismos específicos de feedback negativo serão discutidos relativamente às
diversas hormonas isoladamente.

Quanto à sua forma de actuação, as hormonas podem classificar-se em locais e gerais.


As primeiras, promovem efeitos locais específicos e, entre estas, podemos citar a

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Hormona - composto químico secretado nos líquidos corporais por uma célula, ou grupo de células, e que exerce um controle
fisiológico sobre outras células do corpo.

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acetilcolina, a secretina e a colecistoquinina. As segundas representam a grande maioria


das hormonas, sendo segregadas por glândulas endócrinas específicas e transportadas no
sangue até aos tecidos alvo. Entre este último grupo de hormonas, designadas de gerais,
podemos encontrar as hormonas da hipófise, as hormonas adreno-corticais, as hormonas
do pâncreas endócrino, as hormonas da tiróide e paratiróide e as hormonas das gónadas.

Mecanismos de acção hormonal

Em termos do mecanismo de acção hormonal, a função das diferentes hormonas é a de


controlar os níveis de actividade dos tecidos alvo, alterando as reacções químicas
intracelulares, a permeabilidade da membrana celular a substâncias específicas, ou
activando algum outro mecanismo celular específico. As diferentes hormonas atingem
estes efeitos de muitas maneiras diferentes, no entanto existem dois importantes
mecanismos gerais segundo os quais muitas das hormonas funcionam: (1) activação do
sistema AMPcíclico celular que, por sua vez, activa as funções celulares específicas. A
maioria das hormonas proteicas actua segundo este mecanismo; (2) activação dos genes
das células (DNA), os quais originam a formação de proteínas intracelulares que
iniciam funções celulares específicas. As hormonas esteróides (derivadas do colesterol)
actuam segundo este mecanismo.

Hormonas proteicas (acção rápida)

Estas hormonas exercem os seus efeitos sobre as células alvo causando primeiro a
formação da substância 3',5'-monofosfato de adenosina cíclico (AMPcíclico)na célula, e
este, uma vez formado, causa os efeitos hormonais intracelularmente. O AMPcíclico é
assim considerado o mediador hormonal intracelular. Em termos gerais, podem
considerar-se as seguintes fases no mecanismo de acção hormonal em que intervém o
A M P cíclico : (1) ligação destas hormonas a receptores específicos de membrana
(plasmática); (2) formação do complexo hormona-receptor específico na membrana e
estimulação da enzima adenil-ciclase; (3) o aumento de actividade da adenil-ciclase
provoca um aumento na formação de AMP cíclico intracelular; (4) o AMPcíclico formado
actua intracelularmente aumentando a velocidade de um ou mais processos. São
exemplos de hormonas que utilizam o AMPcíclico como segundo mensageiro: os factores
hipotalâmicos de libertação, a calcitonina, a gonadotrofina coriónica, a ACTH, a

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adrenalina, a FSH, a glucagina, a LH, a lipotrofina, a MSH, a noradrenalina, a


paratormona, a TSH, a ADH e a secretina.

Hormonas esteróides (acção lenta)

Um segundo meio principal de actuação hormonal, é provocando a síntese de proteínas


nas células alvo. Referimo-nos concretamente ao mecanismo de acção das hormonas
esteróides3 secretadas pelo córtex da supra-renal (cortisol e aldosterona), pelo ovário e
placenta (estrogénio e progesterona) e pelo testículo (testosterona). As proteínas assim
formadas são, provavelmente, enzimas que, por sua vez, activam outras funções
celulares. Em termos gerais, podem considerar-se várias fases no mecanismo de acção
hormonal em que intervêm as hormonas esteróides: (1) a hormona esteróide entra na
célula e liga-se a uma proteína receptora específica no citoplasma (receptor intra-
citoplasmático); (2) o complexo hormona-proteína receptora atravessa o citoplasma e
atinge o núcleo; (3) ao longo do trajecto até ao núcleo, a proteína receptora é alterada
(menor peso molecular); (4) o complexo hormona-proteína receptora, torna um factor
activo que acciona os genes específicos para formar RNAmensag; (5) o RNAmensag inicia a
tradução nos ribossomas, conduzindo à formação de novas proteínas.

Outros mecanismos

As hormonas podem apresentar outros efeitos directos sobre as células, embora, em


alguns casos, os mecanismos exactos de tais efeitos não estejam ainda totalmente
esclarecidos. Por exemplo, a insulina aumenta a permeabilidade celular à glucose e a
hormona do crescimento aumenta o transporte de aminoácidos para o interior das
células. Adicionalmente, a hormona do crescimento (somatotrofina) estimula ainda a
síntese de proteínas de várias maneiras, além de aumentar a concentração intracelular de
aminoácidos. Várias outras hormonas, como as catecolaminas e a acetilcolina, afectam
directamente as membranas celulares provocando uma alteração das suas
permeabilidades aos iões, desencadeando a contracção muscular ou causando outros
tipo de efeitos.

Hormonas da adeno-hipófise (hipófise anterior)

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As hormonas esteróides são compostos lipossolúveis com uma estrutura química similar à do colesterol, composto do qual derivam na sua
grande maioria.

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A hipófise (pituitária) apresenta um diâmetro inferior a 1cm, meio grama de peso e


localiza-se na sela turca na base do cérebro. Liga-se ao hipotálamo pelo pedículo
hipofisário e encontra-se dividida em 2 porções: a hipófise anterior (ou adeno-hipófise)
e a hipófise posterior (ou neuro-hipófise). Embriologicamente, a hipófise anterior
origina-se da bolsa de Rathke (invaginação embrionária do epitélio da faringe), o que
explica a natureza epitelióide das suas células, enquanto que a hipófise posterior se
origina de um brotamento do hipotálamo (tecido neural), apresentando-se rica em
células de tipo glial (os pituícitos), fibras nervosas terminais e terminações nervosas de
feixes nervosos que se originam nos núcleos supra-óptico e para-ventricular
hipotalâmicos. As terminações nervosas localizam-se sobre os capilares onde são
secretadas as hormonas da hipófise posterior (ADH e Oxitocina).

Certos neurónios no Hipotálamo sintetizam e secretam hormonas chamadas factores


hipotalâmicos de libertação e de inibição, que controlam a secreção das hormonas da
hipófise anterior. Estes factores hipotalâmicos são imediatamente absorvidos para os
capilares porta hipotálamo-hipofisários e levados directamente para os sinusóides
(capilares) da adeno-hipófise. Para cada hormona adeno-hipofisária há um factor
hipotalâmico de libertação correspondente, no entanto, apenas algumas destas hormonas
possuem um factor de inibição correspondente. Embora os factores de libertação
exerçam o controle hormonal preponderante, pelo menos no caso da prolactina, é um
factor de inibição que assume o principal papel controlador.

• Hormona do Crescimento (Somatotrofina)

Em termos gerais, promove o crescimento animal afectando muitas funções metabólicas


em todo o corpo, sobretudo a formação de proteínas. Actua no desenvolvimento de
todos os tecidos do corpo capazes de crescer, promovendo tanto a multiplicação como o
crescimento celular.

Esta hormona aumenta a velocidade da síntese proteica, contribuindo para o aumento


das proteínas corporais, da seguinte forma: (1) aumenta o transporte de aas através das
membranas celulares; (2) aumenta a síntese proteica nos ribossomas; (3) aumento a
formação de RNAmensag; (4) diminui o catabolismo das proteínas e aas.

Promove o catabolismo lipídos: (1) aumentando as concentrações de ácidos gordos (ag)


nos líquidos corporais; (2) aumentando a conversão deAGem acetil-CoA.

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Diminui a utilização dos glúcidos: (1) diminuindo a utilização da glucose como fonte de
energia; (2) aumentando a deposição de glicogénio nas células; (3) diminuindo a
absorção de glucose pelas células.

Em suma, a somatotrofina aumenta as proteínas corporais, conserva os glúcidos e utiliza


as reservas de gorduras como principal fonte energética.

Esta hormona não tem um efeito directo, mas sim indirecto, sobre o crescimento da
cartilagem e do osso, estimulando a formação de uma substância no fígado (e talvez no
rim), chamada somatomedina. Esta, por sua vez, age directamente sobre a cartilagem
e osso, promovendo o seu crescimento. A somatomedina é necessária para a deposição
do sulfacto de condroitina e colagéno, necessários ao crescimento cartilagíneo e ósseo.

Para que a somatotrofina promova o crescimento, é necessário que a insulina actue


simultaneamente e que existam HC disponíveis. Parte desta necessidade de glúcidos e
insulina, destina-se a fornecer a energia necessária ao metabolismo do crescimento.
Por outro lado a insulina aumenta especificamente o transporte de aas para o interior das
células.

Após a adolescência a secreção de somatotrofina continua numa taxa igual (ou quase
igual) à da infância. Além disso, esta taxa de secreção aumenta e diminui em questão de
minutos, relativamente ao estado de nutrição ou stress do indivíduo (ex: jejum,
hipoglicemia, exercício, excitação e trauma). Em condições agudas o estímulo
hipoglicémico é mais potente do que o decréscimo na concentração sanguínea de aas.
Por outro lado, em condições crónicas, o grau de deplecção proteica celular representa
um estímulo superior para a secreção de somatotrofina do que a disponibilidade de
glucose. Em suma, parece que o factor mais importante no controle da secreção da
hormona do crescimento é o nível de proteínas celulares, embora as alterações na
concentração de glucose sanguínea também possam causar alterações muito rápidas e
intensas na sua secreção. As concentrações plasmáticas de somatotrofina aumentam
durante o esforço, porém existem relatos controversos acerca do efeito do treino nessa
resposta.

• Hormona Adrenocorticotrófica (ACTH)

Controla a secreção de algumas hormonas do córtex da supra-renal (adrenocorticais):


promove a síntese e a libertação de cortisol, mas tem um papel fraco na libertação de

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aldosterona. A ausência da secreção de ACTH promove a atrofia da camada cortical da


glândula supra-renal. Os factores hipotalâmicos de libertação e inibição controlam a sua
secreção pela adeno-hipófise.

• Hormona Estimulante da Tiróide (TSH)

Controla a velocidade de secreção da tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) pela glândula

tiróide. A tiroxina, por sua vez, controla as velocidades da maior parte das reacções
químicas em todo o corpo.

• Prolactina

Promove o desenvolvimento da glândula mamária e a produção de leite.

• Hormonas folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH)

Em termos gerais, estas hormonas controlam o crescimento das gónadas e suas


actividades reprodutoras. A FSH inicia o crescimento dos folículos ováricos, promove a
secreção de estrogénio nos ovários e o desenvolvimento do esperma nos testículos. A
LH provoca a secreção de estrogénio e progesterona, causa a rotura do folículo e a
libertação do óvulo, promovendo ainda a secreção de testosterona nos testículos.

• Hormona Melanócito Estimulante (MSH)

Estimula os melanócitos (células localizadas entre a derme e a epiderme) a produzirem


melanina (pigmento negro que dá coloração à pele).

Hormonas da neuro-hipófise (hipófise posterior)

• Hormona anti-diurética (ADH ou vasopressina)

Em termos gerais, podemos dizer que esta hormona tem duas funções principais: (1)
promover o controlo da taxa de excreção de água na urina pelos rins, regulando assim a
concentração de água nos líquidos corporais; (2) aumentar a pressão arterial, através da
constrição dos vasos sanguíneos.

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A ADH é formada principalmente nos corpos celulares dos núcleos supra-ópticos


hipotalâmicos, sendo seguidamente transportada ao longo do neurónio por uma proteína
transportadora (a neurofisina), até ás terminações nervosas na neuro-hipófise. Em
repouso, grandes quantidades de ADH acumulam-se nas terminações nervosas da
neuro-hipófise, ocorrendo a sua libertação quandos impulsos nervosos são transmitidos
ao longo das suas fibras. Estes neurónios supra-ópticos funcionam como
osmorreceptores, parecendo apresentar câmaras líquidas que aumentam ou diminuem de
tamanho consoante o grau de concentração dos líquidos extracelulares. A secreção de
ADH é regulada por um mecanismo de controle por feedback, relacionado com a
concentração dos líquidos corporais. Assim, sempre que a pressão osmótica intracelular
é menor que a do espaço extracelular (mais concentrado), os osmorreceptores
(neurónios dos núcleos supra-ópticos) são estimulados (por diminuição de tamanho das
câmaras líquidas) no sentido de, através da secreção de ADH, diminuirem a eliminação
de água pelo rim, procurando compensar o défice de líquido extracelular existente. Se,
pelo contrário, a pressão osmótica do espaço intracelular fôr superior à do extracelular
(menos concentrado), o efeito será o inverso (aumento de tamanho das câmaras
líquidas), aumentando a eliminação de água pelo rim (inibição da libertação de ADH).
Na ausência de ADH, os tubos colectores (e em menor grau os túbulos contornados
distais e as ansas de henle) são quase totalmente impermeáveis à água, o que impede a
sua reabsorção significativa, permitindo a sua perda extrema na urina. Por outro lado, na
presença de ADH, a permeabilidade desses túbulos à água aumenta muito, permitindo a
reabsorção da sua maior parte e conservando assim a água corporal. Desta forma a ADH
é libertada, sendo seguidamente absorvida pelos capilares adjacentes e transportada via
sanguínea até ao orgão alvo - o rim. Em suma, os líquidos corporais concentrados
estimulam a libertação de ADH, enquanto que diluídos provocam a sua inibição.

A ADH é ainda uma controladora muito potente da concentração do ião sódio e,


convém ter presente, que 95% da pressão osmótica total dos líquidos extracelulares são
determinados pela concentração do ião sódio. Verificou-se que uma hiper-secreção de
+
ADH aumenta muito a concentração de Na , correspondendo a uma modificação muito
menor no volume de água dos líquidos extracelulares.

A ADH tem ainda um potente efeito na constrição das arteríolas, aumentando assim a
pressão arterial. Este fenómeno é de extrema importância quando se verifica uma perda

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intensa de volume sanguíneo. Com efeito, este é um dos estímulos mais poderosos para
o aumento da secreção de ADH. Acredita-se que este aumento de secreção resulte
sobretudo da baixa pressão auricular provocada pela baixa de volemia (volume de
sangue circulante).

• Oxitocina

A oxitocina é sintetizada nos corpos celulares dos neurónios dos núcleos


paraventriculares hipotalâmicos, sendo seguidamente transportada pela neurofisina até
ás terminações nervosas na neuro-hipófise, à semelhança do que se verifica com a ADH.
As funções principais da oxitocina são: (1) a contracção da musculatura lisa do útero
gravídico, especialmente no final da gestação, conduzindo à expulsão do feto do útero;
(2) a contracção das células mioepiteliais das glândulas mamárias, provocando a ejecção
do leite. De facto, a sucção no mamilo provoca sinais aferentes para os núcleos
paraventriculares no hipotálamo anterior, provocando a libertação de oxitocina que é
então levada pelo sangue até aos seios, onde finalmente provoca a ejecção do leite
através da contracção das referidas células mioepitelias; (3) o aumento das
probabilidades de fecundação; (4) a contracção ligeira da restante musculatura lisa.

Hormonas da supra-renal (adrenal)

As glândulas supra-renais, que se localizam nos pólos superiores dos dois rins, são
compostas por duas regiões distintas, a medula e o córtex. A medula está relacionada
funcionalmente com o sistema nervoso simpático e secreta adrenalina e noradrenalina
em resposta a uma estimulação simpática. Por sua vez, essas hormonas provocam quase
os mesmos efeitos da estimulação directa dos nervos simpáticos, em todas as partes do
corpo, tais como o aumento da taxa de glicogenólise, do fluxo sanguíneo muscular, da
FC, do volume sistólico, do VO2 , da constrição arteriolar e, consequentemente, da
pressão arterial.

O córtex supra-renal secreta um grupo muito diferente de hormonas chamadas


corticosteróides, sintetizadas a partir do esteróide colesterol. A estrutura básica do
colesterol é um núcleo esterol, totalmente sintetizado a partir de acetil-CoA. Estas
hormonas (aldosterona e cortisol), bem como o próprio colesterol, os ácidos biliares, a
vitamina D, os esteróis ovarianos (progesterona) e testiculares (testosterona), têm em

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comum o núcleo do ciclopentanoperidrofenantreno, apresentando fórmulas químicas


semelhantes.

As hormonas adrenocorticais não causam os mesmos efeitos no organismo: (1) os


mineralocorticóides afectam especialmente os electrólitos dos líquidos extracelulares
(particularmente o Na+ e o K+ ); (2) os glucocorticóides aumentam a concentração da
glucose sanguínea e possuem efeitos adicionais, tanto no metabolismo das proteínas
como no dos lípidos; (3) os androgénios exercem no corpo os mesmos efeitos que a
testosterona (hormona sexual masculina), mas são secretados em pequenas quantidades.

• Aldosterona

A aldosterona exerce, aproximadamente, 95% da actividade mineralocorticóide. A


corticosterona e a desoxicorticosterona são outras hormonas esteróides do córtex
supra-renal que apresentam actividade mineralocorticóide. O cortisol também apresenta
uma pequena actividade mineralocorticóide, no entanto é considerado, essencialmente,
um glucocorticóide. O efeito mais importante da aldosterona e dos outros
+
mineralocorticóides, é o de aumentar a taxa de reabsorção renal do Na , o que ocorre
preferencialmente no ramo ascendente da ansa de Henle, no túbulo contornado distal e
no colector. Assim, um aumento na secreção de aldosterona, diminui a excreção de Na +
na urina. Ao mesmo tempo que a aldosterona aumenta a reabsorção de Na + , também
aumenta a excreção de K+ nos túbulos contornados distais e colectores renais. Por outro
+ -
lado, a reabsorção de Na e Cl , provoca igualmente a reabsorção de um equivalente
isosmótico de água, o que conduz a um aumento do volume sanguíneo (volemia) e
consequente aumento da pressão arterial. Exerce ainda efeitos semelhantes sobre as
+
glândulas salivares e sudoríparas, e aumenta a reabsorção de Na pelos intestinos.

Efeitos do aumento da secreção de aldosterona: (1) aumento da reabsorção renal de


+ +
Na - conduzindo a um aumento das concentrações sanguíneas de Na (hipernatremia);
+
(2) aumento na excreção renal de K - conduzindo a uma diminuição das concentrações
+ +
sanguíneas de K (hipocalemia-paralisia); (3) aumento da excreção renal de H -
-
conduzindo a um aumento das concentrações sanguíneas de HCO3 (alcalose); (4)
-
aumento na reabsorção renal de Cl - conduzindo a um aumento das concentrações

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- +
sanguíneas de Cl ligado ao Na ; aumento na reabsorção renal de H2O - conduzindo a
um aumento da volemia

Efeitos da diminuição da secreção de aldosterona: (1) diminuição da reabsorção renal


+ +
de Na - conduzindo a uma diminuição das concentrações sanguíneas de Na
+
(hiponatremia); (2) diminuição na excreção renal de K - conduzindo a um aumento das
+
concentrações sanguíneas de K (hipercalemia - morte cardíaca); (3) diminuição da
+
excreção renal de H - conduzindo a um aumento das concentrações sanguíneas de
-
H2CO3 (acidose); (4) diminuição na reabsorção renal de Cl - conduzindo a uma
- +
diminuição das concentrações sanguíneas de Cl ligado ao Na ; diminuição na
reabsorção renal de H2O - conduzindo a uma diminuição da volemia

+
A aldosterona também provoca sede porque a concentração do ião Na eleva-se
ligeiramente e estimula o centro da sede. O resultado é uma ingestão excessiva de
líquidos - polidipsia - e um aumento na frequência do fluxo urinário (aumento do
número de micções) – poliúria. Um dos efeitos da secreção de aldosterona é o aumento
moderado no volume sanguíneo. Assim, um aumento na secreção de aldosterona,
provoca um aumento do volume sanguíneo e do líquido extracelular, elevando o débito
cardíaco. Deste modo, ocorre uma elevação da pressão arterial que acompanha o
aumento no volume do líquido extracelular (em excesso). No entanto, o aumento da
pressão arterial, por aumento da secreção de aldosterona, provoca um débito urinário
aumentado (poliúria), ocorrendo uma excreção renal de sais e água na mesma
quantidade com que são ingeridos. Este efeito denomina-se "escape" da aldosterona e
impede, quer a ocorrência do edema extracelular generalizado, quer a elevação
excessiva da pressão arterial.

São considerados como principais factores reguladores da secreção de aldosterona, por


ordem decrescente de importância: (1) concentração de K + no líquido extracelular; (2)
sistema renina – angiotensina; (3) concentração de Na + no organismo; (4) ACTH.

• Cortisol

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Endocrinologia

O cortisol exerce aproximadamente 95% da actividade glicocorticóide. Também é


conhecido como hidrocortisona ou composto F. A corticosterona e a cortisona também
exercem uma pequena actividade glucocorticóide.

O efeito metabólico mais importante do cortisol e outros glucocorticóides, é a sua


capacidade de estimular a gluconeogénese pelo fígado - formação de glucose a partir de
compostos não glucídicos (essencialmente aas). Este efeito gluconeogénico é alcançado
da seguinte forma: (1) aumento da mobilização de aas dos tecidos extra-hepáticos
(catabolismo proteico, essencialmente do tecido muscular), aumentando
consequentemente a disponibilidade de aas plasmáticos; (2) aumento do transporte dos
aas plasmáticos para o interior das células hepáticas (e diminuição do transporte para
todas as células extra-hepáticas), aumentando a disponibilidade de aas para conversão
em glucose; (3) aumento na formação de RNAmensag nas células hepáticas, aumentando
a síntese de enzimas necessárias à gluconeogénese; (4) aumento na taxa de
desaminação hepática dos aas (para que possam ser convertidos em glucose), aumento
na formação de proteínas plasmáticas (para o transporte sanguíneo da glucose) e
aumento nas reservas de glicogénio hepático.

Relativamente aos lípidos, o cortisol promove a mobilização dos ácidos gordos (ag)
armazenados no tecido adiposo. O cortisol aumenta o efeito da somatotrofina e da
ACTH, activando assim a lipase nos adipócitos e libertando desta forma os ag. Este
fenómeno aumenta a concentração plasmática dos ag. Seguidamente o cortisol promove
a oxidação dessesAG(estimula a ß-oxidação hepática com formação de acetil-coA),
utilizando-os como fonte de energia.

Um outro efeito extremamente importante do cortisol é o seu efeito anti-inflamatório:


(1) estabiliza as membranas dos lisossomas (diminuindo os riscos de uma rotura); (2)
diminui a formação de bradicinina (substância vasodilatadora); (3) diminui a
permeabilidade da membrana capilar (diminuindo a passagem de proteínas para os
tecidos inflamados); (4) diminui os efeitos da histamina (substância vasodilatadora); (5)
acentua os efeitos da adrenalina e noradrenalina (substâncias vasoconstritoras) que
aumentam a vasoconstrição periférica.

Relativamente aos factores reguladores da secreção de cortisol, é importante referir


que quase nenhum estímulo exerce efeitos directos sobre as células supra-renais para
controlar a secreção de cortisol. De facto, a secreção de glucocorticóides é controlada

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Endocrinologia

quase que inteiramente pela ACTH. Por sua vez a secreção de ACTH é controlada pela
secreção do factor hipotalâmico de libertação da corticotrofina. Deste mod, quase todo o
tipo de stress físico ou mental pode provocar uma hipersecreção deste factor
hipotalâmico, levando ao aumento de secreção de ACTH, o que, finalmente, aumenta a
secreção adrenal de glucocorticóides. O cortisol, por sua vez, possui efeitos directos de
feedback negativo sobre o hipotálamo e sobre a adeno-hipófise.

Hormonas do pâncreas endócrino

O pâncreas apresenta-se constituído, para além da porção exócrina, que está relacionada
com funções eminentemente digestivas (ex: secreção de enzimas proteolíticas,
lipolíticas, glicolíticas, água e iões bicarbonato), por uma porção endócrina que secreta
duas importantes hormonas (insulina e glucagina), que são de importância fulcral para a
regulação do metabolismo da glucose, lípidos e proteínas. Estas duas hormonas são
produzidas num tecido, denominado de Ilhotas de Langerhans, que se apresenta
constituído por dois tipos de células: (1) células alfa - produtoras de glucagina; (2)
células beta - produtoras de insulina.

• Insulina

Efeitos sobre o metabolismo dos HC

Sempre que aumentam os níveis de glicemia 4 a insulina liberta-se e estabiliza


rapidamente esses níveis. Este fenómeno ocorre devido ao efeito básico mais importante
da insulina, que é a sua capacidade de aumentar o transporte de glucose através da
maioria das membranas celulares. Na ausência desta hormona o transporte de glucose
para as células resume-se a 1/4 do normal. Por outro lado, na presença de uma
hipersecreção de insulina, o transporte de glucose para as células pode atingir 5 vezes o
valor normal. Isto significa que a velocidade do transporte de glucose para as células
pode ser alterada até cerca de 20 vezes. A glucose não pode passar para o interior das
células através dos poros das membranas celulares. Assim, liga-se a uma proteína
transportadora existente na membrana celular, que seguidamente a transporta através
da membrana, libertando-a para o interior da célula. O processo de transporte da glucose

4
Glicemia é a concentração sanguínea de glucose. Em repouso corresponde a, aproximadamente, 5mmol/l de sangue.

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através da membrana celular designa-se por difusão facilitada, não ocorrendo contra
um gradiente de concentração e terminando quando a concentração de glucose
intracelular iguala a concentração extracelular. As diferentes células do organismo
apresentam diferentes isoformas desta proteína transportadora de glucose (quadro 1).
O músculo esquelético, por exemplo, contém mais de uma isoforma para o transporte da
glucose (GLUT-1 e GLUT-4) e estes transportadores variam na sua resposta à insulina e
à concentração de glucose. A GLUT-4, no músculo esquelético e no tecido adiposo, é
conhecida como o “transportador regulado pela insulina”, enquanto outros
transportadores não são, aparentemente, afectados pela insulina.

Isoforma Tecido
GLUT-1 Eritrócitos, cérebro, microvasos,
rins, placenta e mús. esquelético
SGLUT-1 Transportador de sódio-glucose do
intestino delgado
GLUT-2 Fígado, células beta-pâncreas, rins
e intestino delgado
GLUT-3 Cérebro, placenta e rins
GLUT-4 Músculo esquelético, tecido
adiposo e coração
GLUT-5 Intestino delgado
Quadro 1. Características das diferentes proteínas transportadoras
de glucose no ser humano (Brooks et al. 2000).

O músculo esquelético e o tecido adiposo constituem quase 65% do peso corporal total.
A insulina é extremamante eficaz em aumentar o transporte de glucose através das
respectivas membranas plasmáticas. No cérebro o transporte de glucose não depende da
insulina, ocorrendo uma difusão simples através da barreira hemato-encefálica.

Durante o exercício prolongado, os níveis de insulina tendem a declinar ao longo do


tempo, isto apesar das concentrações plasmáticas de glucose se manterem relativamente
constantes. No entanto, isto pode ser explicado pelo facto do número e a disponibilidade
dos receptores para a insulina aumentar com o exercício, aumentando a sensibilidade do
organismo à insulina. Com efeito, isto reduz a necessidade de manter níveis plasmáticos
elevados de insulina para transportar glucose para as células musculares durante este
tipo de exercício.

Sem insulina, a maioria dos tecidos do corpo (com excepção do cérebro) terá de utilizar
outros substratos energéticos para produzir energia, uma vez que a glucose não chega a
entrar na célula. No entanto, na presença de insulina, a glucose passa a poder assegurar
a produção de energia na célula, sendo a glucose absorvida em excesso armazenada sob

14
Endocrinologia

a forma de glicogénio, ou de gordura (após conversão). Relativamente ao


armazenamento sob a forma de glicogénio, este ocorre fundamentalmente no tecido
muscular esquelético (glicogénio muscular) e no tecido hepático (glicogénio hepático).
A concentração de glicogénio é superior no fígado (maior reservatório, em termos
relativos) relativamente ao músculo esquelético, no entanto, em termos totais acumula-
se mais no músculo esquelético devido à sua maior massa (maior reservatório, em
termos absolutos). O armazenamento da glucose, sob a forma de glicogénio, só é
possível em resultado da combinação de vários factores, nomeadamente, da abundância
de glucose que penetra nas células, da inibição de algumas enzimas glicolíticas (que
diminuem a velocidade da glicólise), da activação da glicogénio sintetase (enzima que
promove a glicogénese) e da inactivação da fosforilase (enzima que promove a
glicogenólise).

O fígado age como um importante mecanismo tampão da glucose sanguínea, ajudando


a manter um nível adequado de glicemia. Quando a quantidade de glicogénio hepático
armazenado alcançar 5 a 6% da massa hepática, o glicogénio inibe a glicogénio
sintetase de modo a não haver mais deposição de glicogénio. Quando a glicemia
diminui, o fígado liberta grande quantidade de glucose para o sangue (fosforilase
activa).

Convém salientar que o efeito da insulina sobre as células hepáticas é diferente do seu
mecanismo de actuação sobre as outras células (difusão facilitada), pelo facto de a
insulina não aumentar o transporte de glucose através das membranas celulares dos
hepatócitos. Estas membranas celulares são de facto muito permeáveis à difusão de
glucose em qualquer direcção. Assim, após a entrada da glucose no hepatócito, dá-se a
sua imediata fosforilação por acção de uma enzima específica das células hepáticas - a
glucoquinase. A glucose uma vez fosforilada, fica impossibilitada de abandonar a
célula por não poder atravessar a sua membrana plasmática. A insulina actua
provocando o aumento de concentração da glucoquinase nos hepatócitos.

Na ausência de insulina, ou quando a glicemia diminui, o fígado liberta grande


quantidade de glucose para o sangue que é originária de duas fontes:

(1) da glicogenólise hepática - por activação da fosforilase e inibição da glicogénio


sintetase. Ambos os efeitos ocorrem por aumento da concentração do AMPcíclico devido
à ausência de insulina. O glicogénio é, assim, rapidamente degradado a glucose-6-

15
Endocrinologia

fosfato, sendo posteriormente desfosforilado pela enzima glucose-6-fosfatase.


Finalmente, a glucose, uma vez sobre a forma livre, atravessa rápidamente a membrana
da célula hepática (o que não acontece na forma fosforilada) e difunde-se para o sangue
circulante;

(2) da gluconeogénese hepática - na ausência de insulina, grandes quantidades de


glucose são sintetizadas pelo fígado. Esta carência de insulina, estimula a
gluconeogénese principalmente pela mobilização de aas, das reservas proteicas
corporais, e de glicerol, das reservas lipídicas. Ambas as substâncias são, então,
convertidas em glucose pelo fígado. Paralelamente, aumenta a síntese hepática de
enzimas necessárias a este processo bioquímico. Até cerca de 100g de glucose podem
ser sintetizadas por dia e libertadas para o sangue por este processo.

Efeitos sobre o metabolismo lipídico

A insulina promove o transporte da glucose em excesso para as células adiposas,


estimulando o armazenamento de gordura no tecido adiposo. Por outro lado, no tecido
hepático, depois de uma grande parte da glucose em excesso ter sido armazenada como
glicogénio e o conteúdo deste ter alcançado o seu limite máximo, o restante excesso de
glucose é igualmente convertida em gordura, sendo seguidamente exportada sob a
forma de lipoproteínas hepáticas.

Com efeito, uma grande parte da glucose que é degradada na glicólise, pode dar origem
a grandes quantidades de glicerolfosfato no interior das células. No tecido adiposo,
esta substância assim formada combina-se então com os AG, tanto provenientes das
lipoproteínas como sintetizadas na própria célula, formando finalmente TG que se
armazenam nos adipócitos. Também no tecido hepático, o glicerolfosfato formado por
este processo pode combinar-se com AG para formar TG, que são então transportados
pelas lipoproteínas aí sintetizadas ( HDL, LDL e VLDL) até ao tecido adiposo, onde
são finalmente armazenados.

Deste modo, os TG podem ser sintetizados a partir da glucose sempre que esta se
encontra em excesso, através de uma série de reacções que envolvem a formação de
glicerolfosfato, tanto no fígado como no tecido adiposo. O processo bioquímico
envolve a formação de diidroxiacetonafosfato na glicólise, a partir da degradação da
molécula de glucose, e a sua posterior conversão em glicerolfosfato por acção

16
Endocrinologia

enzimática. O glicerolfosfato é então esterificado com dois AG activados, formando-se


o ácido fosfatídico, que é depois convertido em diglicerídeo, seguindo-se uma nova
esterificação para a síntese do TG. No ser humano, o fígado é a fonte da maior parte da
gordura que é armazenada no tecido adiposo, embora pequenas quantidades possam ser
sintetizadas nos próprios adipócitos.

Na ausência de insulina a gordura não só deixa de ser armazenada nas células adiposas,
como começa a ser libertada sob a forma de AG livres. A explicação para este
fenómeno é a ausência de glicerolfosfato (por falta de insulina a glucose praticamente
não entra para as células) que se combine com os AG para formar TG.
Consequentemente os AG difundem-se para fora da célula, ligam-se à albumina
plasmática, e são transportados para todo o corpo pela corrente sanguínea. No entanto,
para além do aumento dos AG no sangue circulante, também os restantes componentes
lipídicos do plasma se encontram aumentados na ausência de insulina. Este aumento
resulta do transporte dos AG em excesso para o fígado, onde vão formar TG, sendo
então libertados para o sangue sob a forma de lipoproteínas hepáticas. Por vezes os
lípidos do sangue aumentam até 5 vezes.

Adicionalmente, muitos dos AG que penetram no fígado são oxidados, formando


acetilCoA, e este, quando em excesso, conduz à formação de corpos cetónicos
(cetogénese), que são seguidamente libertados para a corrente sanguínea. Portanto, na
falta de insulina, aumenta a concentração plasmática dos corpos cetónicos, como o
acetoacetato e o hidroxibutirato (a acetona aparece em concentrações mais baixas),
conduzindo a uma situação de acidose metabólica denominada por cetose (ex:
portadores de diabetes intensa). Com efeito, na ausência de insulina os AG são usados
como fonte energética principal em quase todas as células do corpo (com excepção do
cérebro), o que conduz a uma elevação progressiva dos corpos cetónicos no plasma. No
entanto, em situações extremas, nas quais se verifique uma forte deplecção do
glicogénio muscular e hepático, tanto o músculo esquelético como o tecido nervoso
podem utilizar corpos cetónicos como fonte energética.

Efeitos sobre o metabolismo proteico

A insulina aumenta a quantidade total de proteínas corporais do seguinte modo: (1)


aumentando o transporte de aas para dentro das células; (2) aumentando a formação de

17
Endocrinologia

RNAmensag; (3) aumentando a velocidade de tradução nos ribossomas; (4) aumentando a


velocidade da síntese proteica.

Factores reguladores da secreção de insulina

Este aumento de secreção de insulina perante uma concentração elevada de glucose


sanguínea, fornece um mecanismo de feedback extremamente importante para a
regulação da concentração da glucose no sangue. Portanto, a elevação da glicemia
aumenta a secreção de insulina, e esta, por sua vez, promove o transporte de glucose
para as células, reduzindo então a glicemia de volta aos valores normais. Uma das
funções mais importantes da insulina é a de controlar qual a fonte de energia a ser
utilizada num determinado momento. Assim, a insulina promove o catabolismo dos
glúcidos, enquanto que deprime o dos lípidos. Inversamente, a falta de insulina promove
o catabolismo dos lípidos, enquanto deprime o dos glúcidos (excepto a nível cerebral).

_ glicemia _ _ insulina _ _ catabolismo glucídico


_ glicemia _ _ insulina _ _catabolismo lipídico

O cortisol e a somatotrofina, são libertadas em resposta a uma hipoglicemia,


aumentando o catabolismo lipídico e diminuindo o glucídico. Também a adrenalina
aumenta o catabolismo lipídico, elevando a concentração de AG plasmáticos (ex: numa
situação de exercício), embora aumente, simultaneamente, a glicemia (glicogenólise
hepática).

Mas, não é apenas o excesso de glucose que constitui um estímulo para a secreção de
insulina, dado que certo tipo de aas produzem o mesmo tipo de efeito. Os mais potentes
são a lisina e a arginina. Com efeito, a secreção de insulina induzida pela glucose, pode
atingir até o dobro em presença de um excesso de aas. Desta forma, os aas potenciam
significativamente o estímulo da glucose sobre a secreção de insulina.

• Glucagina

A glucagina é secretada pelas células alfa das ilhotas de Langerhans no pâncreas


endócrino e as suas funções são totalmente opostas às da insulina. A acção mais
importante que promove é o aumento da glicemia (efeito oposto ao da insulina), efeito
designado de hiperglicémico. Por isso, a glucagina é frequentemente designada por
factor hiperglicemiante.

18
Endocrinologia

São os seguintes os principais efeitos da glucagina: (1) aumento da taxa de


glicogenólise hepática, o que contribui para aumentar rapidamente a glicemia; (2)
aumento da gluconeogénese hepática a partir de aas provenientes da proteólise extra-
hepática, principalmente do músculo esquelético; (3) aumento do transporte de aas para
o fígado; (4) aumento da taxa de lipólise no tecido adiposo (com libertação de glicerol)
e do catabolismo lipídico; (5) aumento da conversão hepática do glicerol em glucose
(via gluconeogénese). A glucagina parece ser mais específica para promover a
glicogenólise hepática relativamente à glicogenólise muscular, sendo a última
essencialmente estimulada pela adrenalina.

Factores reguladores da secreção de glucagina

A regulação da secreção de glucagina está dependente da concentração de glucose no


interior das células alfa do pâncreas endócrino, e não da sua concentração no líquido
extracelular (como no caso da insulina). Deste modo, o nível de glicemia é o principal
factor no controlo da secreção desta hormona. Em repouso, quando a glicemia começa
a baixar, a glucagina começa a ser libertada em maiores concentrações, o que faz com
que o fígado começe a funcionar como tampão da glicemia, libertando glucose oriunda
tanto da glicogenólise hepática, como da gluconeogénese a partir de aas. Também
durante o esforço, se verifica um aumento na secreção de glucagina sempre que a
glicemia5 tenda a diminuir. Esta, por sua vez, mobiliza a g l u c o s e hepática
(glicogenólise) para ser utilizada pelo músculo. Adicionalmente, a actividade muscular
também aumenta a taxa de libertação de catecolaminas pela medula adrenal, o que
conjuntamente com a glucagina contribui para estimular ainda mais a glicogenólise.

O aumento da concentração de aas no plasma (por ex: após uma refeição rica em
proteínas), é outro factor que desencadeia o aumento dos níveis de glucagina. Este é o
mesmo tipo de efeito regulador que os aas exercem sobre o estímulo da secreção de
insulina. Por isso, pelo menos no que se refere a este aspecto, os efeitos da insulina e
glucagina não se podem considerar contrários. Este efeito regulador dos aas parece estar

5
A manutenção de uma glicemia constante é fundamental para o ser humano, porque a glucose é o único nutriente capaz de ser
utilizado pelo cérebro, retina, e epitélio germinativo. Mais de metade da glucose formada por gluconeogénese durante o período
interdigestivo, é usada no metabolismo cerebral. No entanto, também existem perigos provocados por uma alta glicemia tais como a
desidratação celular (a glucose determina uma grande pressão osmótica no líquido extracelular), a perda de glucose na urina (o rim
não consegue reabsorver toda a glucose) e a diurese osmótica (perda de glucose na urina, diminuindo os líquidos corporais).

19
Endocrinologia

relacionado com a rápida conversão destes em glucose, disponibilizando assim maiores


quantidades de glucose para os tecidos.

Hormonas da tiróide

A glândula tiróide localiza-se abaixo da laringe, nas faces laterais e anterior da traqueia.
A primeira fase na formação destas hormonas é a transferência de iodetos do líquido
extracelular para as células glandulares da tiróide e daí para o folículo. É a chamada
bomba de iodeto e consiste no transporte activo dos iodetos das membranas celulares
(das células glandulares) para o interior do folículo. As células da tiróide produzem e
segregam para o interior do folículo uma grande molécula de glicoproteína contendo 25
aas de tirosina - a tireoglobulina. Os 25 aas de tirosina da molécula de tireoglobulina,
são os principais substratos que se combinam com o iodo para formar as hormonas da
tiróide6.

• Tiroxina (T4 ) e Triiodotironina (T3 )

O principal efeito das hormonas da tiróide é o de aumentar as actividades metabólicas


da maioria dos tecidos do corpo (com excepção do cérebro, retina, testículo, baço e
pulmões). A ausência completa da secreção da tiróide provoca uma queda na taxa
metabólica basal de 30-40%. Por outro lado, a hipersecreção tiroidiana provoca um
aumento na taxa metabólica basal de 60-100%.

A T3 e a T4 estimulam o metabolismo, aumentando a taxa de processos vitais tais como


o consumo de O2 , a síntese proteica, a glicogenólise e a lipólise. Estas hormonas
parecem actuar indirectamente, promovendo incrementos gerais na taxa metabólica
através do aumento dos efeitos provocados por outras hormonas. As hormonas da
tiróide têm o efeito de aumentar os níveis celulares de AMPcíclico e a sua acção (via T3)
parece promover a estimulação da adenilciclase. Deste modo, os efeitos de hormonas
que actuem via AMPcíclico podem, eventualmente, ser ampliados.

A tiróide produz T4 em maior quantidade. As funções da T4 e T3 são qualitativamente


as mesmas, diferindo pela rapidez e intensidade de acção. A T3 é cerca de quatro vezes
mais potente do que a T4, no entanto é produzida em menor quantidade. Como tal, a sua

20
Endocrinologia

concentração no sangue é menor do que a da T4, persistindo por menos tempo. Deste
modo a T 4 assegura cerca de 2/3 da acção metabólica, enquanto que o restante 1/3 é
exercido pela T 3 . A secreção e libertação de T 4 pela tiróide é regulada através da
hipófise via TSH. Para se formarem quantidades normais de T 4 é necessário
aproximadamente 1mg de iodo por semana7.

Ambas as hormonas necessitam de proteínas transportadoras plasmáticas. Ao penetrar


no sangue, uma parte da T 4 e T 3 , combina-se imediatamente com várias proteínas
plasmáticas da seguinte maneira: (1) 2/3 com a globulina fixadora de tiroxina (uma
glicoproteína); (2) 1/4 com a pré-albumina fixadora de tiroxina; (3) 1/10 com a
albumina. Há um longo período de latência antes que a actividade da T4 comece. Uma
vez iniciada, esta actividade aumenta progressivamente e alcança o seu efeito máximo
entre o 10º e o 12º dias, diminuindo seguidamente de intensidade.

Efeitos sobre o metabolismo proteico

(1) Provocam o aumento do anabolismo e do catabolismo proteico, devido ao facto


destas hormonas aumentarem as actividades enzimáticas nas células. Mobilizam as
proteínas libertando aas para os líquidos extracelulares. Deste modo tornam os aas
disponíveis, contribuindo para o aumento da taxa de gluconeogénese.

(2) Aumento da velocidade do crescimento em jovens - ao favorecer o aumento da


síntese proteica, contribuem para o aumento das proteínas estruturais e de outras
proteínas das células do corpo.

(3) Aumento do crescimento ósseo - da mesma forma que aumentam o crescimento de


todos os outros tecidos do corpo por aumento da síntese proteica.

(4) Aumento da actividade dos osteoclastos - contribuem para o aumento da eliminação


do cálcio e fosfato pela urina e pelo tubo digestivo.

Efeitos sobre o metabolismo dos HC

(1) aumento da absorção de glucose pelas células; (2) aumento da glicólise; (3) aumento
da gluconeogénese; (4) aumento da absorção no tubo digestivo.

6
Este fenómeno ocorre depois dos iodetos serem convertidos por oxidação a iodo elementar, que então se combina com a tirosina
para iniciar a formação das hormonas tiroidianas. A iodação da tirosina vai formar monoiodotirosina e, seguidamente,
diiodotirosina. Duas moléculas de diiodotirosina são então acopladas, formando uma molécula de tiroxina.

21
Endocrinologia

Efeitos sobre o metabolismo lipídico

(1) aumento da mobilização dos lípidos do tecido adiposo; (2) aumento da concentração
dos AG plasmáticos; (3) aumento da ß-oxidação dos AG.

Efeitos sobre o sistema cardiovascular

(1) aumento do fluxo sanguíneo e do débito cardíaco; (2) aumento da frequência


cardíaca; (3) aumento da força de contracção cardíaca; (4) aumento do volume
sanguíneo; (5) aumento da pressão arterial.

Efeitos sobre o aparelho respiratório

Aumento do volume-minuto respiratório (por aumento da frequência respiratória e do


volume corrente).

Efeitos sobre o tubo digestivo

Aumento das secreções e da motilidade do tubo digestivo

Efeitos sobre o sistema nervoso central


Aumento da actividade cerebral

Efeitos sobre a função muscular8


Aumento do vigor muscular

Efeitos sobre as glândulas endócrinas


Aumento de secreção da maioria das glândulas
Aumento das necessidades de hormonas pelos tecidos

Efeitos sobre a função sexual


Impotência sexual (por excesso hormonal)
Perda total da líbido (por deficiência hormonal)

Factores reguladores da secreção de T 3 e T4

O ritmo da secreção tiroidiana é controlada por um mecanismo específico de feedback,


que envolve o hipotálamo e a adeno-hipófise. A TSH, ou tireotrofina, é uma hormona

7
Para prevenir uma eventual deficiência de iodo, basta ingerir o vulgar sal de cozinha que é iodado, com uma parte de iodeto de
sódio para cada 100.000 partes de cloreto de sódio.
8
A ausência de secreção provoca um relaxamento muscular lento após a contracção, enquanto a secreção excessiva provoca
fraqueza muscular.

22
Endocrinologia

da adeno-hipófise (actua via AMPcíclico) que aumenta a secreção de T4 e T3 pela tiróide.


Por sua vez, a libertação de TSH é controlada por uma hormona hipotalâmica,
designada por factor de libertação da tireotrofina (um tripéptido).
A TSH aumenta todas as actividades conhecidas das células glandulares da tiróide,
através do desencadear dos seguintes efeitos: (1) aumento da proteólise da
tireoglobulina, que leva ao aumento de libertação das hormonas da tiróide; (2) aumento
de actividade da bomba de iodeto; (3) aumento de iodação da tirosina; (4) aumento de
tamanho e de actividade secretora das células da tiróide; (5) aumento do número de
células tiroidianas.

Quando há uma concentração excessiva das hormonas da tiróide nos líquidos


corporais, verifica-se uma diminuição na secreção de TSH pela adeno-hipófise
(feedback negativo). É provável que o excesso de T 4 iniba a secreção de TSH pela
adeno-hipófise, através de maneiras diferentes: (1) por efeito directo sobre a a própria
adeno-hipófise (diminuindo a secreção de TSH); (2) por efeito indirecto sobre o
hipotálamo (diminuindo a secreção de TRF, o que, por sua vez, diminui a secreção de
TSH).

• Calcitonina

É sintetizada nas células parafoliculares da tiróide. Tem efeitos opostos aos da


paratormona na regulação da calcemia (niveis plasmáticos de cálcio). A calcitonina
diminui a calcemia, ou seja, reduz a concentração do ião cálcio no sangue. Esta
diminuição da calcemia, é obtida de 3 modos diferentes: (1) diminuição da actividade
dos osteoclastos; (2) aumento da actividade dos osteoblastos, com a conversão dos
osteoclastos inactivos em osteoblastos; (3) impedimento da formação de novos
osteoclastos.

No entanto, a calcitonina exerce um efeito muito fraco sobre a concentração plasmática


de cálcio no adulto, enquanto que na criança o seu contributo é muito mais significativo,
porque a remodelação óssea ocorre rápidamente.

Factores reguladores da secreção de calcitonina

Relativamente à regulação desta hormona, ela ocorre em resposta aos altos níveis de
cálcio plasmático. Com efeito, o aumento da calcemia provoca o aumento da secreção

23
Endocrinologia

de calcitonina pelas células parafoliculares, o que faz com que os níveis deste ião
voltem aos valores normais.

Regulação da concentração de cálcio no sangue (calcemia)

Existe aproximadamente 1 a 2 kg de cálcio no corpo de um adulto médio, 98% do qual


se encontra no esqueleto. A concentração de cálcio no plasma é de, aproximadamente,
10mg/100ml, sendo este nível regulado de maneira precisa, principalmente, pela
paratormona. O cálcio no plasma apresenta-se sob três formas diferentes: (1) 41% do
cálcio encontram-se combinados com as proteínas plasmáticas (fundamentalmente
albumina) e, por isso, não se difunde através da membrana capilar9; (2) 9% do cálcio
encontram-se combinados com outras substâncias do plasma e dos líquidos intersticiais
(ex: citrato e fosfato), não se encontram ionizados e difundem-se através da membrana
capilar (complexos difusíveis); (3) 50% (restantes) do cálcio encontram-se ionizados
2+
(Ca ) e são difusíveis através da membrana capilar. É este cálcio livre e ionizado nos
líquidos orgânicos que é determinante para as funções do cálcio corporal, nas quais se
incluem o efeito deste ião na coagulação sanguínea, na contracção normal do músculo
cardíaco e esquelético, no sistema nervoso e na formação do osso.

A elevação ou deplecção do ião cálcio no líquido extracelular, provoca efeitos extremos


imediatos. Tanto a hipocalcemia como a hipofosfatemia prolongada, diminuem muito a
mineralização do osso. A hipocalcemia leva ainda a um aumento progressivo da
excitabilidade do sistema nervoso, devido ao aumento da permeabilidade da membrana
dos neurónios. As fibras nervosas tornam-se tão excitáveis que começam a sofrer
descargas espontâneas, iniciando impulsos nervosos que passam para os músculos
esqueléticos periféricos, iniciando a sua contracção tetânica. Consequentemente, a
hipocalcemia causa tetania. Quando o nível de cálcio nos líquidos corporais se eleva
acima do normal (hipercalcemia), ocorre depressão do sistema nervoso, ficando lentas
as actividades reflexas do sistema nervoso central. Os músculos ficam igualmente lentos
e fracos (hipotonia), talvez devido ao efeitos do cálcio sobre as membranas das células
musculares (sarcolema). Além disso, a hipercalcemia reduz o intervalo QT do coração,
e causa obstipação (diminuição da frequência da defecação) e anorexia (falta de apetite),

9
Existe uma fórmula que permite o cálculo aproximado da percentagem de cálcio ligado a proteínas plasmáticas: % proteínas
ligadas ao cálcio = 8 x albumina (g/100mg) + 2 x globulina (g/100mg) + 3

24
Endocrinologia

provavelmente devido à diminuição da contractilidade das paredes musculares do tubo


digestivo. Outros efeitos possíveis são náuseas, vómitos, depressão e ocasionalmente
letargia e coma. Em casos de hipercalcemia persistente, poderão mesmo ocorrer
depósitos de cálcio nas paredes dos vasos sanguíneos, no tecido conjuntivo articular, na
mucosa gástrica, na córnea e no parênquima renal.

Hormonas da paratiróide

Normalmente existem quatro glândulas paratiróides no ser humano, localizadas


posteriormente à glândula tiróide, cada uma atrás dos pólos superiores e inferiores da
tiróide. A paratormona tem efeitos opostos aos da calcitonina na regulação da
calcemia. Provoca uma rápida absorção de sais de cálcio dos ossos, provocando uma
elevação do ião cálcio no líquido extracelular (hipercalcemia). Uma hipofunção das
paratiróides leva a uma hipocalcemia, que, por sua vez, provoca tetania. Este efeito
hipercalcemiante da paratormona é devido ao aumento da reabsorção óssea, e resulta
do efeito desta hormona no aumento de actividade dos osteoclastos. Assim, activa os
osteoclastos já formados, aumenta a formação de novos osteoclastos, diminui a
conversão de osteoclastos em osteoblastos e diminui a actividade osteoblástica
(temporariamente).

Além destes efeitos, a paratormona diminui a reabsorção renal de fosfato (aumenta a


sua taxa de excreção na urina), enquanto aumenta a de cálcio. Aumenta ainda a
+ +
reabsorção renal de de iões magnésio e hidrogénio (H ). No entanto, diminui a de Na ,
+
K , aas e fosfato.

Aumenta ainda a absorção intestinal de cálcio, através do aumento da formação de


1,25-diidroxicolecalciferol a partir da vitamina D. A vitamina D possui um potente
efeito, aumentando a absorção de cálcio pelo tubo digestivo. Exerce ainda importantes
efeitos não só sobre a deposição mas também sobre a reabsorção óssea. Contudo, a
vitamina D (propriamente dita) não é a substância activa que, na realidade, causa esses
efeitos. Em vez disso, a vitamina D deve ser primeiro convertida (no fígado e no rim) ao
produto final activo, o 1,25-diidroxicolecalciferol. Vários compostos diferentes
derivados de esteróis, pertencem à família da vitamina D e todos executam, mais ou
menos, as mesmas funções. Destes, o mais importante é o colecalciferol (vitamina D3)

formado na pele, como resultado da irradiação do 7-desidrocolesterol pelos raios solares

25
Endocrinologia

ultra-violetas. No fígado, o colecalciferol é então convertido a 25-hidroxicolecalciferol


que, por sua vez, exerce um efeito inibitório por feedback sobre as reacções de
conversão. Deste modo, este mecanismo de feedback regula, de um modo muito preciso,
a concentração de 25-hidroxicolecalciferol no plasma. Finalmente, nos rins, dá-se a
conversão de 25-hidroxicolecalciferol em 1,25-diidroxicolecalciferol. Esta última
substância é a forma activa da vitamina D3, mas esta conversão final está dependente da
presença da paratormona. Assim, a paratormona ao regular a formação deste composto,
regula também a absorção de cálcio pelo epitélio intestinal. Provavelmente o efeito mais
importante do 1,25-diidroxicolecalciferol, é a formação de uma proteína fixadora de
cálcio no citoplasma das células epiteliais intestinais. A taxa de absorção do cálcio
parece ser directamente proporcional à quantidade dessa proteína fixadora do cálcio.
Além disso, esta proteína permanece nas células durante várias semanas após o 1,25-
diidroxicolecalciferol ter sido removido do organismo, causando um efeito prolongado
sobre a absorção do cálcio.

Factores reguladores da secreção de paratormona

A taxa de secreção da paratormona é controlada, quase por completo e de um modo


bastante potente, pela concentração plasmática do ião cálcio. Quando essa concentração
se eleva (hipercalcemia), ocorre uma inibição imediata de secreção de paratormona.
Na ausência desta secreção, o 1,25-diidroxicolecalciferol não pode ser formado no rim.
Assim, esta elevação de concentração fornece um mecanismo de feedback negativo
para o controle da calcemia. Portanto, um aumento da calcemia inibe a secreção de
paratormona, reduz o efeito da vitamina D, diminui a absorção de cálcio pelo epitélio
intestinal, provocando assim o retorno da calcemia a valores normais. Inversamente, até
o mais ligeiro decréscimo na concentração do ião cálcio no líquido extracelular
(hipocalcemia), faz com que as glândulas paratiróidianas aumentem a sua taxa de
secreção e se hipertrofiem. A paratormona vai, assim, aumentar a formação renal de
1,25-diidroxicolecalciferol que, por sua vez, promove a formação de uma proteína
fixadora de cálcio, conduzindo ao aumento da absorção de cálcio pelo epitélio intestinal.

Hormonas sexuais masculinas

• Testosterona

26
Endocrinologia

Embora tenham sido isoladas diversas hormonas sexuais masculinas dos testículos, a
testosterona é a mais abundante e potente de todas, de modo que pode ser considerada
a única significativamente importante pelos efeitos hormonais masculinos produzidos.

A testosterona é formada pelas células intersticiais ou de Leydig, que se encontram no


interstício, entre os túbulos seminíferos. O termo androgénio é usado como sinónimo
de hormona sexual masculina, mas também inclui as hormonas sexuais masculinas
produzidas em outros locais do corpo, além dos testículos. Por exemplo, a glândula
supra-renal secreta, pelo menos, cinco androgénios diferentes, embora a sua actividade
masculinizante total seja muito pequena. O ovário normal produz quantidades mínimas
de androgénios, que não são significativos. Todos os androgénios são compostos
esteróides de testosterona. Tanto nos testículos como nas supra-renais, podem ser
sintetizados a partir do colesterol ou directamente do acetil-CoA.

Depois de secretado pelos testículos, a maior parte da testosterona encontra-se no


sangue fracamente ligada a uma proteína plasmática. A testosterona que se fixou nos
tecidos, é transformada dentro das células em desidrotestosterona, e é nesta
configuração que a testosterona executa as suas funções intracelulares. A
desidrotestosterona liga-se primeiramente a um receptor proteico intra-citoplasmático,
difundindo-se o complexo resultante para o interior do núcleo (ver mecanismo geral de
acção das hormonas esteróides), onde estabelece conexão com uma proteína nuclear.
Seguidamente desencadeia-se a transcrição do DNA para formar grandes quantidades de
RNAmensag. A testosterona que não se fixou nos tecidos é convertida, principalmente no
fígado, em androsterona e desidroepiandrosterona, sendo simultaneamente conjugada
como glicuronatos ou sulfatos (particularmente glicuronatos), sendo estes excretados na
bílis ou na urina.

Em geral a testosterona é responsável pelas características distintas do corpo masculino.


A produção de testosterona aumenta rápidamente na puberdade e permanece a maior
parte do resto da vida. A secreção de testosterona depois da puberdade leva ao
crescimento do pénis, do escroto e dos testículos - características sexuais primárias -
até cerca dos 20 anos. Simultaneamente, é responsável pelo desenvolvimento das
características sexuais secundárias do macho, tais como o crescimento de pêlos na
maior parte do corpo, a diminuição do crescimento de pêlos no alto da cabeça (contribui
para a calvíce), a hipertrofia da mucosa da laringe (tom de voz masculino), o aumento

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Endocrinologia

da espessura da pele no corpo inteiro e do vigor do tecido subcutâneo. Esta hormona


eleva ainda a quantidade de melanina depositada na pele, a taxa de secreção de grande
parte das glândulas sebáceas (acne na adolescência), a quantidade total de matriz óssea
e a retenção de cálcio (os osssos aumentam de espessura e verifica-se um aumento nos
depósitos de sais de cálcio). Produz ainda a ligação das epífises com os eixos dos ossos
longos em estadios precoces da vida. Pode aumentar a taxa de metabolismo basal até
15%, e tem sido sugerido que a quantidade habitual de testosterona secretada pelos
testículos durante a vida sexual activa, pode aumentar a taxa metabólica 5-10% acima
do valor que teria, caso os testículos não estivessem activos. Aumenta ainda o número
de eritrócitos no sangue e pode aumentar (levemente) a reabsorção de sódio nos túbulos
distais do rim.

No entanto, uma das características masculinizantes mais importantes, é o aumento da


massa muscular após a puberdade, que se encontra associada ao aumento de proteínas
noutras partes do corpo. Com efeito, a testosterona promove intenso anabolismo
proteico, daí o uso frequente de esteróides anabolizantes (testosterona e derivados)
pelos atletas de alta competição, visando o aumento do volume muscular, em
modalidades onde a manifestação das capacidades de força e velocidade se revelam
determinantes para a obtenção de resultados de alto nível. Claro que estes compostos se
encontram na lista das substâncias dopantes, apresentando fortes contra-indicações do
ponto de vista clínico, uma vez que podem induzir graves patologias como a hipertrofia
cardíaca, o cancro da próstata, o cancro do fígado e a impotência sexual, entre outras.
No entanto, apesar dos perigosos efeitos secundários resultantes da sua ingestão, o
número de atletas apanhados nas malhas do controlo anti-doping por utilização de
esteróides não cessa de aumentar.

Factores reguladores da secreção de testosterona

A hipófise anterior secreta duas hormonas gonadotróficas diferentes: (1) a hormona


folículo estimulante (FSH); (2) a hormona luteinizante (LH). Estas duas hormonas
exercem as principais funções no controle da função sexual masculina. Assim, a
testosterona só é produzida pelas células intersticiais de Leydig, quando os testículos
são estimulados pela LH hipofisária, variando a quantidade de testosterona secretada em
função da quantidade de LH disponível. Por sua vez, o hipotálamo controla a secreção
de gonadotrofinas pelo sistema porta hipotálamo-hipofisário. Hormonas

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Endocrinologia

neurosecretoras, chamadas factores de libertação gonadotróficos, são conduzidas pelo


sangue neste sistema porta-hipofisário para a adeno-hipófise, a fim de controlarem a
secreção de LH e FSH: o factor libertador da hormona luteinizante (LRF) e o factor
libertador da hormona folículo-estimulante (FRF).

Pensa-se que a testosterona inibe a estimulação hipotalâmica da hipófise anterior para a


produção de gonadotrofinas. Este efeito inibitório é muito mais marcante sobre a
produção da LH do que da FSH. Este efeito inibitório da testosterona, promove um
sistema de controle por feedback que permite a manutenção da secreção de testosterona
a um nível constante. Portanto, a secreção excessiva de testosterona inibe a secreção de
LH (por inibição do LRF), que, por sua vez, reduz a secreção de testosterona de volta ao
nível normal.

Referências

• Berne R. M., Levy M. N. Physiology. 4th edition. Mosby, Inc., St. Louis, Missouri, 1998

• Ganong W. F. Review of Medical Physiology. 19th edition. Appleton and Lange, East Norwalk,
Connecticut, 1999

• Guyton A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 10ª edição. Interamericana. Rio de Janeiro, 2001

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