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ENDOCRINOLOGIA
Paulo J. M. Santos1
Introdução
Mecanismos de acção hormonal
• Hormonas proteicas
• Hormonas esteróides
• Outros mecanismos
Hormonas da adeno-hipófise
• Hormona do crescimento
• Hormona adrenocorticotrófica
• Hormona estimulante da tiróide
• Prolactina
• Hormona folículo-estimulante e luteínizante
• Hormona melanócito-estimulante
Hormonas da neuro-hipófise
• Hormona anti-diurética
• Oxitocina
Hormonas da supra-renal
• Aldosterona
• Cortisol
Hormonas da tiróide
• Tiroxina e triiodotironina
• Calcitonina
Referências
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Professor associado da FCDEF-UP e regente da cadeira de Fisiologia Geral.
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Endocrinologia
Introdução
Este bloco procura, em primeiro lugar, dar ao aluno uma perspectiva global do sistema
endócrino, destacando os principais mecanismos de acção e regulação hormonal.
Seguidamente, são referidas as várias glândulas endócrinas, bem como as acções mais
relevantes das hormonas2 que libertam, com particular destaque para o papel
desempenhado pela hipófise.
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Hormona - composto químico secretado nos líquidos corporais por uma célula, ou grupo de células, e que exerce um controle
fisiológico sobre outras células do corpo.
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Endocrinologia
Estas hormonas exercem os seus efeitos sobre as células alvo causando primeiro a
formação da substância 3',5'-monofosfato de adenosina cíclico (AMPcíclico)na célula, e
este, uma vez formado, causa os efeitos hormonais intracelularmente. O AMPcíclico é
assim considerado o mediador hormonal intracelular. Em termos gerais, podem
considerar-se as seguintes fases no mecanismo de acção hormonal em que intervém o
A M P cíclico : (1) ligação destas hormonas a receptores específicos de membrana
(plasmática); (2) formação do complexo hormona-receptor específico na membrana e
estimulação da enzima adenil-ciclase; (3) o aumento de actividade da adenil-ciclase
provoca um aumento na formação de AMP cíclico intracelular; (4) o AMPcíclico formado
actua intracelularmente aumentando a velocidade de um ou mais processos. São
exemplos de hormonas que utilizam o AMPcíclico como segundo mensageiro: os factores
hipotalâmicos de libertação, a calcitonina, a gonadotrofina coriónica, a ACTH, a
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Endocrinologia
Outros mecanismos
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As hormonas esteróides são compostos lipossolúveis com uma estrutura química similar à do colesterol, composto do qual derivam na sua
grande maioria.
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Endocrinologia
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Endocrinologia
Diminui a utilização dos glúcidos: (1) diminuindo a utilização da glucose como fonte de
energia; (2) aumentando a deposição de glicogénio nas células; (3) diminuindo a
absorção de glucose pelas células.
Esta hormona não tem um efeito directo, mas sim indirecto, sobre o crescimento da
cartilagem e do osso, estimulando a formação de uma substância no fígado (e talvez no
rim), chamada somatomedina. Esta, por sua vez, age directamente sobre a cartilagem
e osso, promovendo o seu crescimento. A somatomedina é necessária para a deposição
do sulfacto de condroitina e colagéno, necessários ao crescimento cartilagíneo e ósseo.
Após a adolescência a secreção de somatotrofina continua numa taxa igual (ou quase
igual) à da infância. Além disso, esta taxa de secreção aumenta e diminui em questão de
minutos, relativamente ao estado de nutrição ou stress do indivíduo (ex: jejum,
hipoglicemia, exercício, excitação e trauma). Em condições agudas o estímulo
hipoglicémico é mais potente do que o decréscimo na concentração sanguínea de aas.
Por outro lado, em condições crónicas, o grau de deplecção proteica celular representa
um estímulo superior para a secreção de somatotrofina do que a disponibilidade de
glucose. Em suma, parece que o factor mais importante no controle da secreção da
hormona do crescimento é o nível de proteínas celulares, embora as alterações na
concentração de glucose sanguínea também possam causar alterações muito rápidas e
intensas na sua secreção. As concentrações plasmáticas de somatotrofina aumentam
durante o esforço, porém existem relatos controversos acerca do efeito do treino nessa
resposta.
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Endocrinologia
tiróide. A tiroxina, por sua vez, controla as velocidades da maior parte das reacções
químicas em todo o corpo.
• Prolactina
Em termos gerais, podemos dizer que esta hormona tem duas funções principais: (1)
promover o controlo da taxa de excreção de água na urina pelos rins, regulando assim a
concentração de água nos líquidos corporais; (2) aumentar a pressão arterial, através da
constrição dos vasos sanguíneos.
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Endocrinologia
A ADH tem ainda um potente efeito na constrição das arteríolas, aumentando assim a
pressão arterial. Este fenómeno é de extrema importância quando se verifica uma perda
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Endocrinologia
intensa de volume sanguíneo. Com efeito, este é um dos estímulos mais poderosos para
o aumento da secreção de ADH. Acredita-se que este aumento de secreção resulte
sobretudo da baixa pressão auricular provocada pela baixa de volemia (volume de
sangue circulante).
• Oxitocina
As glândulas supra-renais, que se localizam nos pólos superiores dos dois rins, são
compostas por duas regiões distintas, a medula e o córtex. A medula está relacionada
funcionalmente com o sistema nervoso simpático e secreta adrenalina e noradrenalina
em resposta a uma estimulação simpática. Por sua vez, essas hormonas provocam quase
os mesmos efeitos da estimulação directa dos nervos simpáticos, em todas as partes do
corpo, tais como o aumento da taxa de glicogenólise, do fluxo sanguíneo muscular, da
FC, do volume sistólico, do VO2 , da constrição arteriolar e, consequentemente, da
pressão arterial.
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• Aldosterona
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Endocrinologia
- +
sanguíneas de Cl ligado ao Na ; aumento na reabsorção renal de H2O - conduzindo a
um aumento da volemia
+
A aldosterona também provoca sede porque a concentração do ião Na eleva-se
ligeiramente e estimula o centro da sede. O resultado é uma ingestão excessiva de
líquidos - polidipsia - e um aumento na frequência do fluxo urinário (aumento do
número de micções) – poliúria. Um dos efeitos da secreção de aldosterona é o aumento
moderado no volume sanguíneo. Assim, um aumento na secreção de aldosterona,
provoca um aumento do volume sanguíneo e do líquido extracelular, elevando o débito
cardíaco. Deste modo, ocorre uma elevação da pressão arterial que acompanha o
aumento no volume do líquido extracelular (em excesso). No entanto, o aumento da
pressão arterial, por aumento da secreção de aldosterona, provoca um débito urinário
aumentado (poliúria), ocorrendo uma excreção renal de sais e água na mesma
quantidade com que são ingeridos. Este efeito denomina-se "escape" da aldosterona e
impede, quer a ocorrência do edema extracelular generalizado, quer a elevação
excessiva da pressão arterial.
• Cortisol
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Endocrinologia
Relativamente aos lípidos, o cortisol promove a mobilização dos ácidos gordos (ag)
armazenados no tecido adiposo. O cortisol aumenta o efeito da somatotrofina e da
ACTH, activando assim a lipase nos adipócitos e libertando desta forma os ag. Este
fenómeno aumenta a concentração plasmática dos ag. Seguidamente o cortisol promove
a oxidação dessesAG(estimula a ß-oxidação hepática com formação de acetil-coA),
utilizando-os como fonte de energia.
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Endocrinologia
quase que inteiramente pela ACTH. Por sua vez a secreção de ACTH é controlada pela
secreção do factor hipotalâmico de libertação da corticotrofina. Deste mod, quase todo o
tipo de stress físico ou mental pode provocar uma hipersecreção deste factor
hipotalâmico, levando ao aumento de secreção de ACTH, o que, finalmente, aumenta a
secreção adrenal de glucocorticóides. O cortisol, por sua vez, possui efeitos directos de
feedback negativo sobre o hipotálamo e sobre a adeno-hipófise.
O pâncreas apresenta-se constituído, para além da porção exócrina, que está relacionada
com funções eminentemente digestivas (ex: secreção de enzimas proteolíticas,
lipolíticas, glicolíticas, água e iões bicarbonato), por uma porção endócrina que secreta
duas importantes hormonas (insulina e glucagina), que são de importância fulcral para a
regulação do metabolismo da glucose, lípidos e proteínas. Estas duas hormonas são
produzidas num tecido, denominado de Ilhotas de Langerhans, que se apresenta
constituído por dois tipos de células: (1) células alfa - produtoras de glucagina; (2)
células beta - produtoras de insulina.
• Insulina
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Glicemia é a concentração sanguínea de glucose. Em repouso corresponde a, aproximadamente, 5mmol/l de sangue.
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Endocrinologia
através da membrana celular designa-se por difusão facilitada, não ocorrendo contra
um gradiente de concentração e terminando quando a concentração de glucose
intracelular iguala a concentração extracelular. As diferentes células do organismo
apresentam diferentes isoformas desta proteína transportadora de glucose (quadro 1).
O músculo esquelético, por exemplo, contém mais de uma isoforma para o transporte da
glucose (GLUT-1 e GLUT-4) e estes transportadores variam na sua resposta à insulina e
à concentração de glucose. A GLUT-4, no músculo esquelético e no tecido adiposo, é
conhecida como o “transportador regulado pela insulina”, enquanto outros
transportadores não são, aparentemente, afectados pela insulina.
Isoforma Tecido
GLUT-1 Eritrócitos, cérebro, microvasos,
rins, placenta e mús. esquelético
SGLUT-1 Transportador de sódio-glucose do
intestino delgado
GLUT-2 Fígado, células beta-pâncreas, rins
e intestino delgado
GLUT-3 Cérebro, placenta e rins
GLUT-4 Músculo esquelético, tecido
adiposo e coração
GLUT-5 Intestino delgado
Quadro 1. Características das diferentes proteínas transportadoras
de glucose no ser humano (Brooks et al. 2000).
O músculo esquelético e o tecido adiposo constituem quase 65% do peso corporal total.
A insulina é extremamante eficaz em aumentar o transporte de glucose através das
respectivas membranas plasmáticas. No cérebro o transporte de glucose não depende da
insulina, ocorrendo uma difusão simples através da barreira hemato-encefálica.
Sem insulina, a maioria dos tecidos do corpo (com excepção do cérebro) terá de utilizar
outros substratos energéticos para produzir energia, uma vez que a glucose não chega a
entrar na célula. No entanto, na presença de insulina, a glucose passa a poder assegurar
a produção de energia na célula, sendo a glucose absorvida em excesso armazenada sob
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Endocrinologia
Convém salientar que o efeito da insulina sobre as células hepáticas é diferente do seu
mecanismo de actuação sobre as outras células (difusão facilitada), pelo facto de a
insulina não aumentar o transporte de glucose através das membranas celulares dos
hepatócitos. Estas membranas celulares são de facto muito permeáveis à difusão de
glucose em qualquer direcção. Assim, após a entrada da glucose no hepatócito, dá-se a
sua imediata fosforilação por acção de uma enzima específica das células hepáticas - a
glucoquinase. A glucose uma vez fosforilada, fica impossibilitada de abandonar a
célula por não poder atravessar a sua membrana plasmática. A insulina actua
provocando o aumento de concentração da glucoquinase nos hepatócitos.
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Endocrinologia
Com efeito, uma grande parte da glucose que é degradada na glicólise, pode dar origem
a grandes quantidades de glicerolfosfato no interior das células. No tecido adiposo,
esta substância assim formada combina-se então com os AG, tanto provenientes das
lipoproteínas como sintetizadas na própria célula, formando finalmente TG que se
armazenam nos adipócitos. Também no tecido hepático, o glicerolfosfato formado por
este processo pode combinar-se com AG para formar TG, que são então transportados
pelas lipoproteínas aí sintetizadas ( HDL, LDL e VLDL) até ao tecido adiposo, onde
são finalmente armazenados.
Deste modo, os TG podem ser sintetizados a partir da glucose sempre que esta se
encontra em excesso, através de uma série de reacções que envolvem a formação de
glicerolfosfato, tanto no fígado como no tecido adiposo. O processo bioquímico
envolve a formação de diidroxiacetonafosfato na glicólise, a partir da degradação da
molécula de glucose, e a sua posterior conversão em glicerolfosfato por acção
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Endocrinologia
Na ausência de insulina a gordura não só deixa de ser armazenada nas células adiposas,
como começa a ser libertada sob a forma de AG livres. A explicação para este
fenómeno é a ausência de glicerolfosfato (por falta de insulina a glucose praticamente
não entra para as células) que se combine com os AG para formar TG.
Consequentemente os AG difundem-se para fora da célula, ligam-se à albumina
plasmática, e são transportados para todo o corpo pela corrente sanguínea. No entanto,
para além do aumento dos AG no sangue circulante, também os restantes componentes
lipídicos do plasma se encontram aumentados na ausência de insulina. Este aumento
resulta do transporte dos AG em excesso para o fígado, onde vão formar TG, sendo
então libertados para o sangue sob a forma de lipoproteínas hepáticas. Por vezes os
lípidos do sangue aumentam até 5 vezes.
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Endocrinologia
Mas, não é apenas o excesso de glucose que constitui um estímulo para a secreção de
insulina, dado que certo tipo de aas produzem o mesmo tipo de efeito. Os mais potentes
são a lisina e a arginina. Com efeito, a secreção de insulina induzida pela glucose, pode
atingir até o dobro em presença de um excesso de aas. Desta forma, os aas potenciam
significativamente o estímulo da glucose sobre a secreção de insulina.
• Glucagina
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Endocrinologia
O aumento da concentração de aas no plasma (por ex: após uma refeição rica em
proteínas), é outro factor que desencadeia o aumento dos níveis de glucagina. Este é o
mesmo tipo de efeito regulador que os aas exercem sobre o estímulo da secreção de
insulina. Por isso, pelo menos no que se refere a este aspecto, os efeitos da insulina e
glucagina não se podem considerar contrários. Este efeito regulador dos aas parece estar
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A manutenção de uma glicemia constante é fundamental para o ser humano, porque a glucose é o único nutriente capaz de ser
utilizado pelo cérebro, retina, e epitélio germinativo. Mais de metade da glucose formada por gluconeogénese durante o período
interdigestivo, é usada no metabolismo cerebral. No entanto, também existem perigos provocados por uma alta glicemia tais como a
desidratação celular (a glucose determina uma grande pressão osmótica no líquido extracelular), a perda de glucose na urina (o rim
não consegue reabsorver toda a glucose) e a diurese osmótica (perda de glucose na urina, diminuindo os líquidos corporais).
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Hormonas da tiróide
A glândula tiróide localiza-se abaixo da laringe, nas faces laterais e anterior da traqueia.
A primeira fase na formação destas hormonas é a transferência de iodetos do líquido
extracelular para as células glandulares da tiróide e daí para o folículo. É a chamada
bomba de iodeto e consiste no transporte activo dos iodetos das membranas celulares
(das células glandulares) para o interior do folículo. As células da tiróide produzem e
segregam para o interior do folículo uma grande molécula de glicoproteína contendo 25
aas de tirosina - a tireoglobulina. Os 25 aas de tirosina da molécula de tireoglobulina,
são os principais substratos que se combinam com o iodo para formar as hormonas da
tiróide6.
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concentração no sangue é menor do que a da T4, persistindo por menos tempo. Deste
modo a T 4 assegura cerca de 2/3 da acção metabólica, enquanto que o restante 1/3 é
exercido pela T 3 . A secreção e libertação de T 4 pela tiróide é regulada através da
hipófise via TSH. Para se formarem quantidades normais de T 4 é necessário
aproximadamente 1mg de iodo por semana7.
(1) aumento da absorção de glucose pelas células; (2) aumento da glicólise; (3) aumento
da gluconeogénese; (4) aumento da absorção no tubo digestivo.
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Este fenómeno ocorre depois dos iodetos serem convertidos por oxidação a iodo elementar, que então se combina com a tirosina
para iniciar a formação das hormonas tiroidianas. A iodação da tirosina vai formar monoiodotirosina e, seguidamente,
diiodotirosina. Duas moléculas de diiodotirosina são então acopladas, formando uma molécula de tiroxina.
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(1) aumento da mobilização dos lípidos do tecido adiposo; (2) aumento da concentração
dos AG plasmáticos; (3) aumento da ß-oxidação dos AG.
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Para prevenir uma eventual deficiência de iodo, basta ingerir o vulgar sal de cozinha que é iodado, com uma parte de iodeto de
sódio para cada 100.000 partes de cloreto de sódio.
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A ausência de secreção provoca um relaxamento muscular lento após a contracção, enquanto a secreção excessiva provoca
fraqueza muscular.
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• Calcitonina
Relativamente à regulação desta hormona, ela ocorre em resposta aos altos níveis de
cálcio plasmático. Com efeito, o aumento da calcemia provoca o aumento da secreção
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de calcitonina pelas células parafoliculares, o que faz com que os níveis deste ião
voltem aos valores normais.
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Existe uma fórmula que permite o cálculo aproximado da percentagem de cálcio ligado a proteínas plasmáticas: % proteínas
ligadas ao cálcio = 8 x albumina (g/100mg) + 2 x globulina (g/100mg) + 3
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Hormonas da paratiróide
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• Testosterona
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Embora tenham sido isoladas diversas hormonas sexuais masculinas dos testículos, a
testosterona é a mais abundante e potente de todas, de modo que pode ser considerada
a única significativamente importante pelos efeitos hormonais masculinos produzidos.
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Endocrinologia
Referências
• Berne R. M., Levy M. N. Physiology. 4th edition. Mosby, Inc., St. Louis, Missouri, 1998
• Ganong W. F. Review of Medical Physiology. 19th edition. Appleton and Lange, East Norwalk,
Connecticut, 1999
• Guyton A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 10ª edição. Interamericana. Rio de Janeiro, 2001
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