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PAUL L. SINGER A ECONOMIA DOS SERVICOS 1, INDUSTRIA E SERVICOS COMO ATIVIDADES URBANAS Ao contrdrio da agricultura, que é praticada extensivamente no espaco, condicionando uma relativa disper- sao dos que nela se engajam, tanto industria como servicos s&o atividades que se concentram espacialmente, dando lugar a aglomeragdes urbanas. Nao ha dtivida, portanto, de que a urbanizacio, vista como transferéncia de proporgio cada vez maior da populacfo do campo 4s cidades, sé pode resultar duma extensa transformacéo da diviséo social do trabalho, com a passagem de uma crescente parcela da populaco ativa da agricultura e atividades extrativas para a manufatura e servigos. Esta tendéncia € bem conhecida e a urbanizacio é classica- mente encarada como corolario da industrializacéo. No entanto, urbanizacéo é mais do que o resultado da migracao rural. Ela implica na formacdio de redes urbanas, fortemente polarizadas por grandes cidades, ao redor das quais se formam “dreas me- tropolitanas”. E os nucleos destas dreas, por mais estranho que pareca, nfo sio constituidos por concentracdes industriais, mas por complezos de servicos. Na configuracéo urbana tipica, o centro metropolitano é formado por um conjunto de servicos de controle — atividades politicas (executivas, legislativas, ju- diciais), religiosas, financeiras, sindicais, de informatica, fiscais etc. — ao redor das quais se organizam outros servicos que atendem necessidades da populacio (escolas, hospitais, cinemas, centros de cultura e de lazer). A grande industria tende a se afastar do centro metropolitano, localizando-se em sua peri- feria, em geral ao longo dos eixos de comunicacio. O que sobra de atividade industrial nas grandes cidades é, em geral, aquela que depende da proximidade fisica dos servicos, como 6 o caso da industria editorial e grdfica, ou da industria de confeccéo (sem falar, naturalmente, da construc&o civil e dos servicos industriais de utilidade publica — luz, energia elétrica etc.). Ndo interessa discutir aqui por que a grande industria se afasta dos grandes centros urbanos. O fato inegdvel 6 que ela goza de uma certa “auto-suficiéncia” que Ihe permite fun- cionar em relativo isolamento. O que hoje em dia “organiza” a aglomeracio urbana é sem dtivida o complexo de servicos, que constitui sua razféo de ser. Segue-se dai que o gigantismo urbano, que se manifesta sob a forma de “megaldpolis” que se multiplicam tanto nos paises industrializados como nos nao- desenvolvidos, €é de certo modo fruto da “terciarizagio” da eco- nomia e da sociedade. 129 O fato empiricamente inegdvel 6 que os servigos mostram uma tendéncia muito mais forte a se aglomerar espacialmente do que a grande industria. Dado o aperfeigoamento dos meios de transporte, esta pode se afastar até um certo limite dos grandes centros, sem que isto impeca que os que nela traba- Yham continuem morando na proximidade dos ntcleos metro- politanos. Ja no caso dos servigos, a situagio é diferente. Como o seu “produto” nao pode ser levado ao consumidor, é im- prescindivel que estejam localizados junto 4 massa que servem ou de que se servem. Além disso, como muitos servigos atendem apenas parcelas limitadas da populagéo — jardins de infancia servem a determinada faixa etdria, tribunais se ocupam apenas dos que tém questées com a Justiga — eles sé se justificam em aglomeracées de tamanho ponderdavel. Pode-se, assim, formular a hipdtese de que uma “economia de servicos”, para a qual parecem tender quase todos os paises, deve resultar numa sociedade néo sé fortemente urbanizada mas cuja hierarquia urbana se caracteriza por grande concen- tragéo metropolitana. 2, A “TERCEIRIZACAO” DA SOCIEDADE Ha uma tendéncia genérica em todos os paises no sentido da chamada producio “nf&o-material” ocupar uma proporcéo crescente da populacéo ativa. A tendéncia parece ser antiga (nos Estados Unidos ela se manifesta desde 1870) (Brow- ning e Singelmann, 1975) e sdi acompanhar o processo de in- dustrializagao. Hé uma quantidade significativa de explicacdes para ela: de que o progresso técnico se concentrou na produ- gio material, a qual passou a liberar mfo-de-obra; que na maior parte dos servicos a produtividade do trabalho estagna, porque inovagdes técnicas, como a mecanizagéo e a automa- tizacio, a eles néo se aplicam, o que faz com que tenham que absorver mais forca de trabalho, na medida em que se expan- dem; que a elevacéo da renda per capita faz com que aumente a demanda por servicos; e, finalmente, que nos paises em que o Estado nao sustenta os desempregados, vale dizer, nos paises néo-desenvolvidos, a parte “estagnada” do exército industrial de reserva se auto-sustenta mediante o desempenho de uma va- riedade de atividades consideradas “marginais”, entre as quais predominam servicos tais como os exercidos por vendedores ambulantes, engraxates, lavadores de carros, carregadores etc. (Ribeiro, 1977). Estas explicagdes nao deixam de ser verdadeiras, mas elas nao se complementam a ponto de formar uma teoria consis- 130 tente. O primeiro ponto a reparar 6 que o progresso técnico nao consiste apenas no aumento da produtividade mas também na criagéo de novos bens e servigos de consumo. Do ponto de vista do emprego, as inovacdes se dividem em duas categorias de efeitos opostos: — mudancas de processo, que consistem na invengéo de mé- todos de producio mais aperfeicoados, cujo efeito é redu- zir o tempo de trabalho por unidade, de produtos ja conhecidos; — novos produtos, constituidos por bens ou servicos que satisfazem de modo superior necessidades jd reconhecidas ou que suscitam necessidades até entio nfo reveladas. Obviamente mudancas de processo reduzem o emprego a0 passo que novos produtos o ampliam (Singer, 1977). A forte reducio dos ocupados no Primdrio indica que neste setor as mudancas de processo tiveram efeitos muito maiores do que a criacéo de novos produtos. Até agora a invencao de novas espécies vegetais e animais nao foi coroada de muito éxito econédmico, embora nao se possa excluir a possibilidade de que, com o avanco da engenharia genética, isso venha a acontecer no futuro. A crise de energia ou mais especificamente dos combustiveis fdsseis pode suscitar o aproveitamento da Liomassa como fonte de energia, com o conseqiiente aumento do emprego agricola. No caso da industria, a situacio j4 é bem diferente. Embora, desde a Revolucdéo Industrial, mudancgas de processo tenham elevado acentuadamente a produtividade do trabalho no Secun- dario, o surgimento de novos produtos, a partir da chamada Segunda Revolucao Industrial, foi de tal amplitude que o volume do emprego industrial continuou se expandindo e, como pro- porcio do emprego total, nio tem dado mostras de diminuicio significativa nos paises industrializados.' Nao ha, em principio, qualquer razio para supor (como o fez Colin Clark) que os efeitos das mudancas de processo tenham que superar os dos novos produtos, de modo que a tendéncia do emprego no Se- cundario seja necessariamente declinante. Nos paises nao desenvolvidos, a substituigéo de importacdes de bens de consumo manufaturados é a forma especifica pela qual sio introduzidos novos produtos em sua pauta industrial. E de se esperar que, em conseqiiéncia, 0 emprego industrial se expanda, como efetivamente tem acontecido. 1. Entre 1950 e 1970, em 10 paises industrializados, a porcentagem da forga de tra- dalho ocupada na’ industria sé caiu de modo significative em um: no Canadé, de 34,6% para 30,2% (Singelmann, 1974). 131 No que se refere ao Tercidrio, hd ramos (como os Trans- portes, as Comunicagdes e 0 Comércio) em que mudangas de processo ocasionaram substanciais aumentos da produtividade do trabalho. A grande diminuigaéo do emprego no servi¢o do- méstico foi conseqiiéncia, ao menos em parte, de mudangas de processo acarretadas por novos produtos oriundos da in- dustria, tais como os eletrodomésticos e os alimentos proces- sados e semiprocessados. Também nos servicos de controle, inovagées técnicas como a computagao eletrénica levaram a grande aumento da produtividade do trabalho. E curioso obser- var que as mudancgas de processo nos servicos “transferem”, por assim dizer, emprego do Tercidrio ao Secundario, ou seja, na direc&io oposta & tendéncia geral. A primeira vista, dada a forte elevagio do emprego tercidrio, seria de esperar que tenha havido a criacdo, neste setor, de muitos novos produtos que tenham gerado grande volume de ocupagio, N&o parece ser este 0 caso. Os novos produtos que surgiram sio em muitos casos conseqiiéncias de inovacdes in- troduzidas no Secunddrio. O turismo de massas, por exemplo, resultou do aperfeigoamento do aviéio e do automdvel. Os novos servigos de recreagéo, como o cinema e a TV, surgiram igual- mente de inovacées industriais. Um dos fatores que mais contribuiram para a expansio dos servicos foi a ampliacio do publico que eles atendem. Ha algu- mas geracdes, os bancos, as companhias de seguro, as escolas de nivel superior ou a medicina universitdria serviam apenas & fracio mais rica da populacio. Os demais recorriam a agiotas e a curandeiros. A elevagiéo da renda monetdria de uma parcela ponderaével da populacéo fez com que a demanda por estes ser- vicos se expandisse marcantemente, o mesmo se dando com o volume de mao-de-obra por eles absorvida.” E preciso considerar ainda que a sociedade capitalista con- temporanea multiplicou as contradicdes sociais, desde conflitos politicos e choques entre as classes até conflitos intrafamiliares e enfermidades psicossomaticas e funcionais. Hé uma forte ten- déncia de se desenvolverem servicos de controle destas contra- digdes: partidos politicos, sindicatos patronais e de empregados, juntas de conciliagio e de arbitragem, variados aparelhos poli- ciais, servicos de assisténcia social, de aconselhamento conjugal, psiquidtricos, estatisticos, de planejamento etc., etc., sem falar na multiplicacao de religides, seitas, cultos, centros de aperfei- coamento fisico espiritual e assim por diante. Tudo isso faz 2. No caso da medicina, o aumento da demanda se deve principalmente A adogéo do seguro-saide, total ou’ parcialmente financiado com fundos publicos. O mesmo se deu com o andamento da demanda por ensino, possibilitado pelo ensino piiblico gratuito, 132 parte desta dindmica que se convencionou chamar de “tercei- rizagao” da economia e da sociedade. Apesar de profissionalizados e manejados por especialistas devidamente habilitados, nem sempre os servicos de controle sio capazes de cumprir adequadamente seu papel, ou seja, de controlar e menos ainda de resolver as contradigdes que jus- tificam sua existéncia. Este fracasso implica na expansdo dos referidos servigos. Os efetivos policiais crescem no mesmo ritmo que a criminalidade. A difusio do uso de todxicos multiplica os centros de reabilitagio. O aumento da incidéncia de doencas mentais e crénico-degenerativas acarreta a expansao dos ser- vigos de satide, a ponto de hoje se falar em “medicalizagéo da sociedade” (Singer, Campos e Oliveira, 1977). Desta maneira, a simples relacéo descritiva entre crescimento da renda per capita e aumento da demanda por servigos en- globa varias tendéncias distintas: o surgimento de novos tipos de servicos por efeito de inovacgdes no Secundario; a ampliacio do acesso a servicos de camadas antes deles excluidas; e a expanséo dos servigos de controle que decorre da multipli- cacéo e do aprofundamento de contradigdes sociais. Resta finalmente considerar a organizacgéo dos servicos em diversos modos de produgéo. Operam no Tercidrio empresas capitalistas (monopolistas ou nao), produtores simples de mer- cadorias e entidades (estatais ou privadas) sem fins lucrativos. Os mesmos modos de produg&o sao encontrados também no Primdrio e no Secunddrio. Com a industrializagao, é de se esperar que nestes setores 0 modo de producao capitalista se expanda as custas da producio simples de mercadorias, en- quanto a producio sem fim de lucro representa uma fracao insignificante da produgéo total. No Tercidrio, a situacfo é outra. Os servigos organizados como empresa capitalista pre- dominam em alguns ramos (comeércio, finangas), mas em outros (educagéo, satide, governo) a empresa sem fim de lucro é que é hegem6nica e em outros ainda (como certos servigos pessoais: cabeleireiros, tinturarias, fotégrafos etc.) a producéo simples de mercadorias é dominante. Nos paises em que nfo ha sus- tento publico para os que nao conseguem emprego assalariado, os ramos do Tercidrio dominados por operadores auté6nomos constituem atividades-refigio para esta reserva de forca de trabalho. Mas o que poderia ser considerada como a mais im- portante destas atividades-reftigio — o servigo doméstico remu- nerado — nao é propriamente parte do Tercidrio, pois nao é um ramo da divisio social do trabalho mas parcela integrante do que se poderia chamar de “producéo doméstica”. Nao obstante, seria importante averiguar se hd uma tendéncia, nos 133 paises nao-desenvolvidos, de que com a industrializagéo os ser- vigos pessoais se expandam, em termos de emprego, sem que deixem de se organizar predominantemente como producio sim- ples de mercadorias.. Se ela se verificar, deve-se considerd-la como uma fonte especifica de crescimento do Terciario nestes paises, que nao se verificaria, ao menos na mesma proporgao, nos paises industrializados. 3. PROBLEMAS CONCEITUAIS Hé boas raz6es para se supor que a expansao do Tercidrio se dé principalmente devido 4 ampliac&o crescente do que chamamos de servicos de controle. Os demais servicos poderiam ser, por contraste, classificados como servic¢os de pro- duc&o e servigos de consumo, conforme atendam necessidades provenientes de outras atividades de producéo (material e ima- terial) ou necessidades dos consumidores. Seriam servicos de produg&o p. ex. o transporte de carga ou a pesquisa tecnoldgica e servicos de consumo p. ex. a hotelaria, a encenac&o de espe- tdculos ou o servigo de creches. A grande dificuldade esta em conceituar as atividades de con- trole. E facil ilustrar o conceito com servicos que ja adqui- riram autonomia na divisféo social do trabalho: servicos de seguranga externa (forgas armadas, diplomacia) e interna (poli- cia, tribunais, presidios); todos os servicos financeiros podem ser considerados de controle da alocacéo e utilizacéo do excedente econémico e o mesmo se verifica ainda com grande parte da intermediagéo comercial — a especulacéo nas bolsas de merca- dorias, com iméveis, a publicidade, a pesquisa de mercado, o chamado “marketing” — mediante a qual a producdo é ajus- tada as flutuagdes da demanda solvavel. Mas os servicos de controle sio muito mais ubiquos e menos evidentes que as atividades “autonomizadas”, parte das quais acabaram de ser enumeradas. Eles existem por exemplo estrei- tamente imbricados com servigos de producgéo e de consumo. Assim, nao € dificil provar que grande parte dos servicos de satide (sobretudo mas n&o exclusivamente na drea da chamada satide mental) exerce de fato fungdes de controle social (Singer, Campos, Oliveira, 1977). Da mesma forma, a escola, ao mesmo tempo que transmite conhecimentos e cria aptiddes, atendendo necessidades dos alunos, transmite valores e plasma atitudes que correspondem a uma espécie de controle antecipado de com- portamentos considerados inconvenientes para a ordem social constituida. No caso destes dois servicos (e hd outros) as fungG6es de satisfagéo de necessidades de consumo e de controle social sfio aspectos apenas analiticamente distintos de uma mesma atividade. Os servicos escolares e de satide s6 tém 134 eficdcia enquanto manipuladores e/ou repressores de contra- dices sociais na medida em que a populac&o os procura para satisfagao de suas necessidades. Mesmo na produgio material hd servigos de controle que tendem a se expandir na medida em que o capital se concentra e as dimensdes do estabelecimento e sobretudo da firma se agigantam. So os servigos desempenhados pelos departamentos de pessoal e de “relagdes industriais”, de compras, vendas, “marketing”, financas, contabilidade etc, E provdvel que todo © pessoal administrativo e de vendas das industrias e das explo- ragdes agricolas e extrativas exergam, na maior parte de seu tempo, fung6es de controle. O que caracteriza a sociedade capitalista contemporanea 6 a forma peculiar com que as contradigdes sociais sao tratadas. Antigamente eram as classes dominantes que tinham a incum- pbéncia de manipular contradicdes, mediante o exercicio do poder, do comando militar, da magistratura e do sacerdécio. Mas estas atividades estavam acima e fora da diviséo social do trabalho. No capitalismo monopolista a tendéncia é profissionalizar estas atividades — criam-se aparelhos burocraticos e organizagdes econémicas que prestam servicos de controle. E, na medida em que na sociedade capitalista moderna as contradicdes nao sao meramente resolvidas ou suprimidas, mas basicamente manipu- ladas e “absorvidas”, é natural que o seu controle requeira ati- vidades remuneradas que, em sua aparéncia, se confundem com o resto da atividade econdmica e passam a ocupar uma parcela crescente da populacéo ativa. E possivel que a expansfo do Tercidrio nao se resuma & am- pliagio crescente dos servicos de controle, mas é uma hipotese atraente que vale a pena ser explorada. E se ela se revelar verdadeira em alguma medida, pode ser que ela permita en- tender a forma que a urbanizacéo vai assumindo, tendo os nucleos metropolitanos como centros nervosos de redes cada vez mais extensas de servigos de controle. BIBLIOGRAFIA GROWNING, H. L. e SINGELMANN, J., The Emergence of a Service So- ciety: Demographic and Sociological Aspects of the Sectoral Transfor- mation of the Labor Force in the USA (relatério de pesquisa nao publi- cado), Austin, 1975. RIBEIRO, A. C. Torres, Trabalho Urbano: Biscate e Biscateiros (tese de mestrado nao publicada), Rio, 1977. SINGELMANN, J., The Sectoral Transformation of the Labor Force in Seven Industrialized Countries 1920-1960 (dissertagio para doutoramento, néo publicada), Austin, 1974. SINGER, P., Economia Politica do Trabalho. Séo Paulo, Hucitec, 1977, SINGER, P., CAMPOS, O. e OLIVEIRA, E. M. de, Prevenir e Curar — O Controle Social Através dos Servigos de Satide, Rio, Forense Universi- téria, 1978. 135

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