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RESUMO
No presente trabalho foi feita uma análise por elementos finitos do ensaio ELS (End Loaded
Split), com o objectivo de validar o seu uso para a caracterização do comportamento à
fractura em modo II da madeira de Pinus pinaster, no sistema de propagação de fendas RL.
Com o intuito de averiguar a influência dos modos de propagação I e III na medição da taxa
crítica de libertação de energia em modo II (GIIc), foi construído um modelo de elementos
finitos tridimensional, o qual inclui elementos de interface e um modelo de dano progressivo
baseado no uso indirecto da Mecânica da Fractura. As metodologias usadas para a
identificação de GIIc a partir dos resultados numéricos do ensaio ENF foram a Teoria das
Vigas Elementar (TVE), o Método de Calibração de Flexibilidade (MCF), a Teoria de Vigas
Corrigida (TVC) e o Método de Calibração da Flexibilidade baseado na Teoria de Vigas
(CFTV). Os resultados obtidos permitem-nos afirmar que o ensaio ELS, juntamente com esta
última metodologia de tratamento de dados, é apropriado para a determinação de GIIc da
madeira Pinus pinaster Ait.
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de propagação de fendas RL da madeira de dificuldade em garantir o encastramento
Pinus pinaster. Por sua vez, Silva et al. perfeito do provete. O outro problema reside na
(2005) estudaram a validade do Método de medição precisa do comprimento de fenda
Calibração da Flexibilidade (MCF) e da durante a propagação (Corleto et al., 1995).
Teoria das Vigas Corrigida (TVC) para a Neste trabalho apresenta-se um estudo
identificação de GIIc dessa espécie de por elementos finitos sobre a aplicação do
madeira. Com base nesse estudo, os autores ensaio ELS à madeira de Pinus pinaster. O
concluíram que o MCF é adequado para a sistema de propagação de fendas analisado
determinação de GIIc, enquanto que a TVC foi o sistema RL. Para averiguar a
subestima o valor de GIIc. Este facto deve-
influência dos modos de propagação I e III
se ao desenvolvimento de uma Zona de na medição da taxa crítica de libertação de
Processo de Fractura (ZPF) na extremidade energia em modo II (GIIc), foi elaborado um
da fenda. Os autores analisaram também a modelo tridimensional de elementos finitos,
influência da tensão de corte e do atrito na onde foram incluídos elementos finitos de
curva P-δ e na curva de resistência, tendo interface e um modelo de dano progressivo
concluído que a influência desses baseado no uso indirecto da Mecânica da
parâmetros é desprezável. Fractura. Os perfis de distribuição das taxas
Carlsson et al. (1986) concluíram que para de libertação de energia Gi (i = I, II ou III),
evitar uma propagação instável da fenda inicial ao longo da extremidade da fenda foram
(a0), durante a execução de um ensaio ENF, era obtidos recorrendo a uma adaptação do
necessário que a0 fosse maior ou igual a 70% Método de Fecho de Fenda Virtual (Virtual
de metade do vão do provete. Crack Closure Technique, VCCT). O valor
de GIIc foi identificado a partir dos
A principal dificuldade com ensaio ENF
tem a ver com medição do comprimento de resultados P-δ -a fornecidos pela simulação
fenda (a). Para contornar este obstáculo, numérica, usando as seguintes
Edde et al. (1995) e Qiao et al. (2003) metodologias de tratamento de resultados:
Teoria das Vigas Elementar (TVE), Método
propuseram o ensaio TENF. Este ensaio é
de Calibração de Flexibilidade (MCF),
caracterizado por induzir uma propagação
de fenda estável para qualquer valor de a0. Teoria de Vigas Corrigida (TVC) e Método
de Calibração da Flexibilidade baseado na
Contudo, o atrito entre as faces da fenda
Teoria de Vigas (CFTV).
tem um efeito do atrito não desprezável na
medição de GIIc (Davies et al., 1999).
Yoshihara (2004) usou o ensaio 4ENF 2. ANÁLISE
para obter a taxa crítica de libertação de
energia em modo II da madeira. Para isso, 2.1. Modelo 3D
usou um provete com uma secção As dimensões usadas para o provete ELS são:
transversal em forma de I, a fim de evitar 2h=20 mm, L=235 mm, B=20 mm e a0=0.65L
roturas indesejáveis. (figura 1). As propriedades mecânicas da
Schuecker et al. (2000) verificaram que madeira de Pinus pinaster usadas nas análises
o valor de GIIc, obtido através do ensaio numéricas encontram-se na tabela 1.
4ENF é superior ao obtido através do Foi construído um modelo de elementos
ensaio ENF. Este fenómeno deve-se à finitos tridimensional (3D), recorrendo ao
influência que o atrito tem nos resultados software comercial ABAQUS® (figura 2).
do ensaio 4ENF (Schuecker et al., 2000). Este modelo é constituído por 35250
Wang et al. (1992) mostraram que a elementos tridimensionais de 8 nós e por
propagação de fenda no ensaio ELS é estável se 4890 elementos finitos de interface de 8
o comprimento da fenda inicial for superior a nós, previamente desenvolvidos (de Moura
65 % do comprimento do provete. O ensaio et al., 1997; Gonçalves et al., 2000).
ELS apresenta porém alguns problemas de Entre as faces superior e inferior da pré-
execução experimental. Um deles reside na fenda foram impostas condições de
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contacto (sem atrito), com o objectivo de Assim, foi também elaborado um
evitar a interpenetração dos braços superior modelo de elementos finitos 2D, recorrendo
e inferior do provete. ao código comercial ABAQUS®. Este
modelo é composto por 4820 elementos
Os elementos de interface foram
sólidos bidimensionais de oito nós e por
colocados a meio da altura do provete, a
250 elementos finitos de interface (figura
partir da extremidade da fenda inicial (ver
3). O detalhe 1 representa a região do
detalhe 1 da figura 2). O deslocamento total
provete com pré-fenda, onde foram
(δtotal=10 mm) foi aplicado por um cilindro
impostas condições de contacto entre o
de diâmetro igual a 6 mm (actuador, na
braço superior e inferior, com o objectivo
figura 2), de uma forma incremental,
de evitar a sua inter penetração. Os
considerando um valor de incremento muito
elementos finitos de interface foram
pequeno (0,01% de δtotal), por forma a colocados a meio da altura do provete, na
garantir uma propagação estável. O região contígua à pré-fenda (representados
actuador foi simulado como um corpo
por cruzes no detalhe 2, da figura 3). Neste
rígido (detalhe 2 da figura 2).
modelo numérico foram igualmente
A análise por elementos finitos foi consideradas superfícies de contacto entre o
efectuada considerando um comportamento provete e o actuador. O actuador foi
não linear geométrico. modelado como um corpo indeformável.
A análise por elementos finitos 2D foi
2.2. Modelo 2D efectuada para as mesmas condições de
Um dos objectivos deste estudo consiste deslocamento total ( total) e tamanho de
em validar o uso de um modelo incremento que foram empregues na análise
bidimensional (2D) de elementos finitos do tridimensional (3D). A análise foi
ensaio ELS. Essa validação basear-se-á na conduzida considerando um estado plano de
comparação entre as curvas GIIc=f(a) e P- tensão um comportamento geométrico não
obtidas a partir dos modelos 2D e 3D. linear.
Tabela 1. Propriedades mecânicas da espécie de madeira Pinus pinaster (Xavier, 2003; Reiterer et al., 2002).
EL ER ET υ LR υ TL υ RT GLR (REF.) GLT (REF.) GRT (REF.)
(GPa) (GPa) (GPa) (GPa) (GPa) (GPa)
15,13 1,91 1,01 0,47 0,51 0,59 1,12 1,04 0,17
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Detalhe 1
Elementos de
interface
Actuador
Região da pré-fenda
Detalhe 2
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A
A – Elemento actuador
σ j 3 ( wk t − wk b )
GI =
2
τ j 31 (u k t − u k t )
G II = (1)
2
τ j 32 (v k t − v k t )
G III =
2
onde os deslocamentos nodais das faces
superior e inferior são representados,
respectivamente, por ukt, vkt e wk t e por ukb,
vkb and wkb (figura 4). A presença das taxas
de libertação de energia em modo I (GI) e
em modo III (GII) ao longo da espessura do
provete (B) é desprezável. Assim, a
distribuição de GII em toda a largura (B) do
Fig 4. Nós locais usado no método VCCT.
provete ELS é praticamente uniforme, com
um valor médio superior a 99,5 % do valor
de Gtotal (figura 5). Com base neste estudo,
G II / (G I+G II+G III)
100,5%
pode-se afirmar que a taxa de libertação de 100,0%
energia na frente da fenda ocorre em quase
99,5%
puro modo II, para a geometria do provete
considerada. 99,0%
98,5%
0 5 10 15 20
4. MÉTODOS DE TRATAMENTO B (mm)
DOS RESULTADOS
Fig 5. Distribuição da taxa de libertação de energia
4.1. Teoria de Vigas Elementar em modo II (GII), ao longo da espessura do provete.
A taxa crítica de libertação de energia
em modo II é determinada recorrendo à P 2 dC
G IIc = (2)
equação de Irwin-Kies (Anderson, 1991), 2 B da
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A flexibilidade (C) do provete ELS Substituindo a equação (8) na equação (2),
(figura 1), desprezando os efeitos do a taxa crítica de libertação de energia em
esforço transverso, é dada pela seguinte modo II será então dada por
equação
3 m P2a2 (9)
δ 3a 3 + L3 G IIc =
C= = 3
(3) 2B
P 2 Bh E f
θ1 =
(
3 15 + 50(a L ) + 63(a L )
2 4
) (6)
20 [
1 + 3(a L )
3 2
] 4.4. Método de Calibração da
Flexibilidade baseado na Teoria de
e Vigas
1 + 3 (a L )
2
θ 2 = − 3( L a ) (7) A energia total de deformação do
1 + 3 (a L )
3
provete ELS, devida ao momento flector e
ao esforço transverso, é dada por:
2
L Mf L h τ2
U =∫ dx + ∫ ∫(14) b dy dx
4.2. Método de Calibração da 0 2E f I 0 −h 2G13
Flexibilidade
O Método de Calibração da sendo,
Flexibilidade baseia-se na equação de
Irwin-Kies (2) e no seguinte ajuste 3 Vi ⎛ 2 ⎞
τ = ⎜1 − y ⎟ (15)
polinomial dos pontos experimentais 2 Ai ⎜ c2 ⎟
C-a ⎝ i ⎠
300
onde Ccorr é dado por,
250
3L
C corr =C − (19) 200
5 BhG13
P (N)
150
Substituindo a equação (18) na equação (4)
obtém-se a seguinte expressão para GIIc, 100
Análise 3D
50
2
Análise 2D
⎡C ⎞⎤ 3 0
9P 2 L3 ⎛ C
GIIc = 2 3 ⎢ corr a03 + ⎜ corr − 1⎟⎥ F (20) 0 5 10 15 20
4B h E f ⎢⎣ C0 corr 3 ⎜⎝ C0 corr ⎟⎠⎥
⎦
δ (mm)
que não depende explicitamente de a. Fig 7. Comportamento da curvas P-δ, considerando
Contudo, depende de Ef, cuja determinação os modelos 3D e 2D.
requer o conhecimento prévio de G13=GLR,
(ver equação 17). No entanto, no intervalo Estes resultados permitem validar o uso
0,5GLR(REF.)<GLR<1,5GLR(REF.), em torno do de uma análise bidimensional por
valor de referência (GLR(REF.)) da tabela 1, o elementos finitos, em detrimento da
módulo de corte não influencia de forma tridimensional. O uso de uma análise 2D,
significativa GIIc (figura 6). Assim, não é traduz-se numa redução assinalável do
necessário conhecer o valor preciso do tempo computacional necessário para cada
módulo de corte (GLR) de cada provete, problema.
podendo ser usado um valor típico desta
propriedade.
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6. DETERMINAÇÃO DE GIIc boa concordância entre a curva GIIc=f(a)
obtida e a de referência. Todavia, a
Os resultados da simulação numérica do
aplicabilidade desta metodologia é limitada
ensaio ELS (usando o modelo 2D de
pela dificuldade em medir com precisão o
elementos finitos) encontram-se nas
valor de a durante a execução de um
figuras 8 e 9. O comportamento da curva
ensaio experimental.
P-δ é não linear a partir do ponto 1 (figura
8). Esta não linearidade está relacionada
com o desenvolvimento de uma Zona de 300
Processo de Fractura (ZPF) na extremidade 250
da fenda. Uma vez atingida a força 200
P (N)
máxima, observa-se uma propagação 150
estável da fenda inicial, acompanhada de 100
uma diminuição da força P (figura 9).
50 Início do processo de
1
A partir dos resultados da simulação (P, 0
amaciamento
(δ=1,55 mm ; P= 26,68 N)
δ e a), obteve-se a taxa crítica de libertação 0 5 10 15 20 25
de energia em modo II (GIIc), por todos os δ (mm)
métodos apresentados na secção 4: Teoria
das Vigas Elementar, Teoria de Vigas Fig 8. Comportamento da curvas P-δ, para o
sistema de propagação de fenda RL.
Corrigida e Método de Calibração da
Flexibilidade baseado na Teoria de Vigas.
Na figura 10, apresenta-se a evolução da 300
taxa crítica de libertação de energia (GIIc)
250
em função do comprimento da fenda (a),
obtida através desses métodos. 200
P (N)
0,8
0,7
G IIc (N/mm)
0,6
TVE
0,5 MCF
CFTV
TVC
Valor de referência
0,4
140 160 180 200 220 240 260
a (mm)
Fig 10. Comportamento da curva GIIc=f(a), recorrendo às metodologias de tratamento de
resultados propostas (TVE, MCF, TVC e CFTV).
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Com o objectivo de contornar esta 7. CONCLUSÕES
dificuldade foi proposta neste trabalho uma
Neste trabalho foi apresentado um
nova metodologia de tratamento de estudo por elementos finitos do ensaio ELS
resultados (CFTV), que não necessita da
(End Loaded Split), com o objectivo de
medição do valor do comprimento da determinar a taxa crítica de libertação de
fenda para obter o valor de GIIc. Este energia em modo II (GIIc) da madeira de
método apresenta uma boa concordância Pinus Pinaster Ait., para o sistema de
com o valor de GIIc (REF) introduzido no propagação RL.
modelo de numérico (figura 10 e tabela 2).
Tabela 2. Comparação entre os métodos (TVE, MCF, TVC e CFTV) e o valor de referência de GIIc para o
sistema de propagação RL.
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