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9' REGIÃO

AC.06940/07

TRT-PR-02853-2006-242-09-00-9 (RO)

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EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO.


REQUISITOS DOS ARTIGOS 2" E 3" DA CLT -
CONFIGURAÇÃO.
Cinco são os requisitos extraídos dos artigos 2° e 3° da
CLT para que reste configurado o vínculo de emprego:
pessoa física, pessoalidade, subordinação jurídica,
onerosidade e não-eventualidade.
Visto que a autora, pessoa física, prestava pessoalmente
serviços de forma não-eventual à primeira ré, mediante
pagamento e direção das tarefas por esta, restou
configurada a relação de emprego entre as partes.
V 1ST O S, relatados e discutidos estes autos de
RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da MM. VARA DO TRABALHO DE
CAMBÉ - PR, sendo Recorrentes SINESIO SANTA ROSA e AGROPECUÁRIA
NEBLINA LTDA. e Recorridos OS MESMOS e MICHAELA ROBERTA DE
OLIVEIRA.

I. RELATÓRIO
Inconformados com a r. sentença de fls. 137/151, que
acolheu parcialmente os pedidos, recorrem os reclamados a este Tribunal.

o reclamado Sinesio Santa Rosa, através do recurso


ordinário de fls. 152/162 postula a reforma da r. sentença quanto aos seguintes itens:
a) Do vínculo de emprego; b) Da prescrição; c) Da remuneração; d) Do tempo 'in
itinere': pedido sucessivo; e e) Da multa do art. 477 da CLT.

Custas recolhidas à fl. 164.


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Depósito recursal efetuado à fl. 163.

Regular a representação processual (fls. 98).

Contra-razões apresentadas pela autora Michaela


Roberta de Oliveira às fls. 177/185.

o reclamado Agropecuária Neblina Ltda., através do


recurso ordinário de fls. 165/167 postula a reforma da r. sentença quanto à
responsabilidade solidária.

Contra-razões apresentadas pela reclamante às fls.


171/176, pugnando pelo não conhecimento do recurso por ausência de preparo.

Não houve apresentação de Parecer pela Procuradoria


Regional do Trabalho, em virtude do art. 44, I, da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, cumulado com o disposto no art. 45 do
Regimento Interno deste E. Tribunal Regional do Trabalho (com redação dada pelo
art. 4°, da RA n.? 83/2005).

11. FUNDAMENTAÇÃO

1. ADMISSIBILIDADE
DEPÓSITO RECURSAL CONDENAÇÃO
SOLIDÁRIA - EFEITOS

Sustenta o autor às fls. 173/174 das contra-razões que o


recurso da 2a ré (Agropecuária Neblina) está deserto, pois não obstante a recorrente
pleitear sua exclusão da lide não efetuou o depósito recursal, nos termos da Súmula
128 do C. TST.

Sem razão.
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Tratando-se de hipótese de condenação solidária, o


depósito deve ser efetuado por cada recorrente, individualmente, quanto opostos ou
distintos seus interesses. Somente quando houver solidariedade passiva e as defesas
opostas ao autor forem comuns, é que o depósito efetuado por um pode ser
aproveitado em favor dos demais, nos termos do art. 509 do CPC, aplicado
subsidiariamente no processo laboral (ar!. 769, CLT).

Importante destacar que o C. Tribunal Superior do


Trabalho, por meio da Resolução n." 129105, alterou a redação da Súmula 128,
incorporando a Orientação Jurisprudencial n," 190 da SDI-I, estabelecendo que
"havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal
efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o
depósito não pleiteia sua exclusão da lide" (Súmula 128, Ill, TST).

Em análise do caderno processual, verifica-se que o


Recurso Ordinário foi interposto em peças distintas, sendo o recurso do primeiro réu
(Sinésio) apresentado às fls. 152/162 e o recurso da 2" ré (Agropecuária) constante às
fls. 165/167. Somente o réu Sinésio efetuou o recolhimento de custas processuais (fl.
164) e depósito recursal (fl. 163-campos 02 e 04).

Não obstante, a pretensão do autor de que não seja


conhecido o recurso da 2" ré (Agropecuária Neblina) não pode prosperar, visto que
somente esta requer sua exclusão da lide. O réu Sinésio, que efetuou o depósito
recursal e pagamento de custas processuais, não apresentou pedido nesse sentido,
senão de não reconhecimento de vínculo de emprego, hipóstese não abarcada pela
Súmula 128, Ill, do C. TST. Desse modo, o depósito aproveita o recurso da
reclamada Agropecuária Neblina, o qual merece ser conhecido.

Presentes os pressupostos legais de admissibilidade,


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CONHEÇO do recurso ordinário interposto pelo reclamado Sinesio Santa Rosa,


bem como do Recurso apresentado pela ré Agropecuária Neblina LIda, assim como
das contra-razões, eis que presentes os pressuposto legais de admissibilidade.

2. MÉRITO

RECURSO ORDINÁRIO DE SINESIO SANTA


ROSA

VÍNCULO DE EMPREGO
Insurge-se o primeiro réu (Sinésio) contra a decisão
primeira que reconheceu o vínculo de emprego havido entre as partes no período
consignado no item 02 da sentença de fl. 142. Alega que a prova oral evidencia que
houve prestação de serviços nos referidos períodos sem caracterizar o vínculo
empregatício e que o depoimento da própria autora "confirma a veracidade do
depoimento de 'Tinão' e desconstitui o depoimento da tendenciosa testemunha da
reclamante, cuja pessoa, aliás, também possui reclamatória idêntica à presente".
Conclui que somente houve prestação de serviço em fazendas exploradas pelo
recorrente nos anos de 2000/2003, e que a autora laborou apenas na colheita de milho
e capina de soja, por cerca de 20 dias em cada uma dessas atividades, restando
caracterizada a eventualidade. Busca pela reforma da sentença que reconheceu o
vínculo de emprego, pois ausente a não-eventualidade de que trata o art. 2° da Lei
5.889/73, pugnando pelo afastamento da obrigação de anotar a CTPS e condenação
nas verbas deferidas (RSR e reflexos, horas in itinere e reflexos, férias com 1/3 e 13°
proporcional, FGTS e multa do art. 477 da CLT).

Sem razão.

A autora afirmou que foi contratada pelo recorrente


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(Sinésio) no início de março/2000, através de contrato por prazo indeterminado, para


exercer a função de trabalhadora rural, atividade que desempenhou até final de
abri1/2004, quando foi dispensada sem justa causa (item 05-fl. 06).

Em defesa, o réu alegou que a reclamante prestou


serviços em poucas ocasiões, na qualidade de bóia-fria, visto que o cultivo da lavoura
é mecanizado. Afirmou ainda que quando há necessidade de contratação de pessoal,
o faz por meio de empreiteiro, conhecido no meio rural como 'gato', não havendo
vínculo de emprego com a obreira.

Observou o Juízo primeiro que 'gato' se trata de mero


intermediador de mão-de-obra, função desempenhada pela testemunha Joventino
Pereira de Assis (conhecido como Tínão'), que declarou que tem por incumbência
"arrumar serviço e contratar o pessoal" (fi. 119). Ademais, de 1991 a 2002 a
testemunha Joventino prestou serviços como empregado para Pedro Favoreto,
conforme sentença de fI.125/133 e depoimento de fi. 120.

Embora o réu negue a relação de emprego, afirmou que


houve a prestação de serviço (fi. 156-item 1), atraindo para si o ônus da prova (art.
818 da CLT ele art. 331, 11, do CPC). As provas testemunhas indicam pela relação
empregatícia havia entre as partes de 2000 até 2004, destacando-se que o fato de
testemunha do autor possuir demanda em face do réu não implica, por si só, em
suspeição, nos termos da Súmula 357 do C. TST ("Não torna suspeita a testemunha o
simples fato de estar litigando ou de ter litigado contra o mesmo empregador").

Incontroverso que o recorrente era beneficiário dos


serviços prestados pela autor, sendo responsável pelo pagamento do período
trabalhado, além de possuir a direção das tarefas, dando ordens aos trabalhadores
rurais (cf. depoimento de Joventino-fl. 119).
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o réu afirmou que as fazendas pertencem ao segundo


reclamado (Agropecuária), onde se cultiva milho, soja e trigo, sendo que ''já
contrataram pessoal da Vila Gandhi para fazer a capina da soja e a catação do
milho", através do pessoal contratado por 'Tinão', Informou ainda que "não tem como
identificar quem trabalhou na catação do milho, pois quem fez a contratação foi
'Tinão'", sendo que "a catação durava cerca de 20 dias e ocorria no mês de
setembro de cada ano" (fi. 118). Na capina da soja também havia contratação de
mão-de-obra (cerca de 40 pessoas-cf. depoimento de Joventino-fl. 119) , havendo
listagem que era conferida por Ricardo, com o pagamento realizado mediante diária.

Não há nos autos qualquer prova documental que


indique pelos períodos de trabalho da autora, sendo as informações colhidas
medíante prova testemunhal divergentes. O Juízo primeiro considerou que tal fato
decorrente da própria atividade agrícola, "sujeita a condições climáticas,
produtividade não uniforme, área plantada etc", além de nem sempre serem
coincidentes as atividades desempenhadas pela autora e sua testemunha (fi. 140).

Com base nos depoimentos colhidos, o Juízo primeiro


concluiu que autora prestou serviços de capina de soja e catação de milho por cerca
de 45 dias a partir de março de 2000, 30 dias a partir de maio e 30 dias a partir de
setembro de cada ano, desde 2000 até 2004. Também ponderou o magistrado a quo
que o fato de a testemunha Joventino ter trabalhado como 'gato' de 2000 a 2003 não
impede que a autora tenha trabalhado em 2004, através de outro 'gato' (fi. 141), tanto
que a testemunha da autora informou que "trabalhou na reclamada de 1998 a 2004,
plantando soja e milho, catação de milho e capina de soja" (fi. 119-destaque
acrescido).

A informação contida na CTPS da autora corrobora a


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alegação de que tenha trabalhado até abril de 2004 para o reclamado (fi. 118),
deixando de prestar serviços em face da contratação feita pela Fazenda Boa Vista.

Considerando os depoimentos colhidos em audiência


instrutória (fls. 118/120), reputo razoável os períodos fixados pelo Juízo primeiro,
observando que o recorrente não se insurge contra os meses fixados, senão quanto ao
último contrato laboral (01/03/2004 a 15/04/2004), matéria já analisada.

Em relação à eventualidade, entendo que não restou


caracterizada, comungando do entendimento de que representam os períodos que o
proprietário rural necessita de mão-de-obra necessária ao desenvolvimento de sua
atividade econômica (sentença-fi. 142). O trabalho era prestado de forma sucessiva,
conforme demonstram as provas testemunhais, não restando caracterizada a
eventualidade alegada pelo recorrente. Nada a prover.

DA PRESCRIÇÃO
Entende o recorrente que a autora trabalhou por 20 dias
na colheita de milho e por igual período na capina de soja, entre 2000 e 2003.
Considerando que a ação foi proposta em 06/03/2006, pugna pela incidência da
prescrição bienal, fulminando todas as pretensões iniciais.

A decisão primeira considerou os contratos de emprego


distintos entre si e declarou a prescrição quanto àqueles rescindidos anteriormente a
06/03/2004, visto que a ação foi proposta em 06/03/2006 e em atenção ao prazo
bienal previsto no artigo 7°, XXIX, da CF/88.

Declarou também a prescrição total quanto aos


"contratos havidos nos períodos de 01.03/2000 a 15.04.2000 e de 01.09.2003 a
30.09.2003, extinguindo o processo, no particular, com resolução do mérito
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(aplicação do artigo 269, IV, do C?C)" (item 3-fi. 149), examinando os pedidos
iniciais em relação ao último período (01/03/2004 até 15/04/2004) não alcançado
pela prescrição bienal.

Mantida a decisão primeira quanto ao vínculo de


emprego nos períodos consignados no decisum (fi .142), e considerando que a ação
foi ajuizada em 06/03/2006, somente o último período referente a 01/03/2004 à
15/04/2004 não se encontra fulminado pela prescrição, razão pela qual mantenho
incólume a decisão primeira.

DA REMUNERAÇÃO
Protesta o réu contra a decisão do Juízo primeiro que
fixou a remuneração diária da reclamante à razão de R$ 15,00. Argumenta que deve
ser considerado o salário mínimo diário, ante a ausência de prova e em decorrência
do ônus atribuído à autora. Aponta que o valor fixado é inclusive superior ao
parâmetro citado na inicial quanto aos períodos de capina, no importe de R$
12,00/dia, e observa que o pedido sucessivo da reclamante faz referência ao salário
mínimo diário, valor que deve ser considerado como base de cálculo.

Sem razão.

Na inicial a autora refere-se a salário na base de R$


540,00 para o período de plantio/colheita (R$ 18,00/dia), em que laborava de
segunda à domingo, e de R$ 240,00 mensais na época de capina (R$ 12,00/dia), pela
jornada de segunda à sexta. Pugna seja fixada sua remuneração em um salário
mínimo mensal para o período de capina e em R$ 540,00 quando do plantiolcolheita
(item 07-fl. 09).

Em contestação o réu requereu fosse a base de cálculo


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fixada em um salário minimo diário, impugnando os valores iniciais (item 09-fl. 62).

Não há qualquer recibo salarial juntado aos autos que


indique pelo valor das diárias, ônus que incumbia ao reclamado (art. 333, 11, do
CPC), tendo o Juízo primeiro fixado o valor médio de R$ 15,00, referente ao
exercício de capina de soja e colheita de milho.

o preposto do réu não ínformou sobre quaisquer


valores, limitando-se a alegar "que a diária era fixada por Ricardo junto com
'Tinão'." (fi. 119).

Ainda que a testemunha Joventino nada tenha


informado sobre o valor das diárias, destaca-se que no depoimento prestado nos
autos de RT 707/2003, em que figura como autor, alega que além de motorista
também desempenhou a atividade de trabalhador rural, recebendo diárias no importe
de R$ 20,00 (fi. 121), valor que restou deferido em sentença (fi. 128).

Visto que a autora por vezes recebia o valor de R$ 18,00


e em outra oportunidade o importe de R$ 12,00, razoável o valor médio de R$ 15,00
fixado no decisum. A pretensão do réu de que seja fixado como diária o valor de R$
12,00 para o período de capina não prospera, visto que inferior a um salárío
mínimo/dia, o que é vedado pelo ordenamento pátrio (art. 7°, IV, da CF/88) e
contraria o próprio entendimento constante na defesa de fi. 62. Mantenho.

DO TEMPO 'IN ITINERE': PEDIDO SUCESSIVO


o Juízo primeíro fixou em 0lh30min. o tempo in
itinere. O recorrente requer sua redução para uma hora (meia hora para cada trajeto
de ida e volta), visto que na inicial consta que a autora saía da Vila Ghandi às
06h20min/06h30min e iniciava a jornada às 07hOO.
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Sem razão.

Consta na inicial que a autora saía da Vila Gandhi em


média às 07hOO e que o trajeto ao local de trabalho era de difícil acesso (fl, 10).

o réu afirmou que o trajeto até as fazendas era longo,


sendo que "acredita que não havia outro meio senão pelo ônibus do 'Tinão', a não
ser que o trabalhador saia muito cedo, que acrescenta não saber se existe ônibus de
linha" (fl. 119-grifo nosso).

Assim, restou demonstrado que o trajeto até as fazendas


não era servido de transporte público, sendo a condução fornecida pelo empregador
através de "Tinão", encarregado de levar o pessoal para as fazendas. Incide o
disposto na parte final do § 2°, do artigo 58 da CLT, sendo o tempo do trajeto
computado na jornada de trabalho.

Cumpre analisar o tempo despendido da vila Gandhi até


as fazendas, fixando o Juízo primeiro lh30 mino (45 mino para cada percurso Vila
Gandhi/fazenda/Vila Gandhi), tempo que reputo razoável ante o conjunto probatório
carreado nos autos, senão vejamos.

A autora afirmou que "o trajeto até as Fazendas era de


40-50 minutos", sendo o transporte fornecido pelo reclamado (fl. 118).

Sua testemunha, Cláudio Alberto da Silva, que


trabalhou em semelhantes condições e também residia na Vila Gandhi, afirmou "que
o trajeto da Vila ate asfazendas durava cerca de 30 min a uma hora" (fl. 119).

Tanto o réu quanto sua testemunha não informaram


sobre o período despendido no trajeto até as fazendas, nada indicando pela redução
do tempo destinado ao trajeto in itinere. Nada a prover.
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DA MULTA DO ART. 477 DA CLT


o Juízo primeiro entendeu que não havia controvérsia
sobre o vinculo de emprego, sendo devida a multa do art. 477 da CLT. Entende o
recorrente que somente as verbas reconhecidas como devidas e não pagas é que
geram a incidência da multa em referência, requerendo sua exclusão da condenação.

Procede o inconformismo.

Primeiramente, importante destacar que, segundo o


disposto no art. 477, § 8°, da CLT, a inobservância dos prazos estabelecidos no § 6°
do mesmo artigo sujeita o infrator ao pagamento de multa em favor do empregado,
em valor equivalente ao seu salário.

Todavia, quando se discute razoavelmente a existência


do vínculo empregatício, a que estão vinculadas as verbas rescisórias, é inaplicável a
multa do art. 477, § 8°, da CLT, já que a hipótese não se identifica como de
inexecução total ou parcial da obrigação.

Nas lições de Sérgio Pinto Martins, "as parcelas que


serão discutidas em juízo obviamente não poderão ser pagas ao empregado, em
razão de estarem sub judice, inexistindo direito a multa" (in Direito do Trabalho, São
Paulo: Atlas, 2003, p. 626).

Ora, não se pode vislumbrar no ato do empregador, que


se recusa a efetuar o pagamento de verbas rescisórias no prazo estipulado no art. 477,
§ 6°, da CLT, sob o razoável argumento de que a reclamante não era sua empregada,
nenhum comportamento capaz de identificá-lo como inadimplente da prestação,
sujeitando-o ao pagamento da multa respectiva, uma vez que está sendo discutida a
própria existência do vínculo empregatício em Juízo.
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Nesse sentido tem decido tanto o Egrégio Tribunal


Superior do Trabalho quanto este Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região,
conforme demonstram as ementas a seguir transcritas:

"MULTA - ART. 477, § 8", DA CLT - PARCELAS


RESCISÓRIAS VíNCULO EMPREGATÍCIO
CONTROVÉRSIA - 1. A multa prevista no artigo 477, § S~ da
CLT refere-se exclusivamente ao atraso no pagamento de parcelas
rescisórias incontroversas. Derivando as parcelas rescisórias de
matéria controvertida no processo, referente ao reconhecimento
em Juizo de vinculo empregaticio, indevido o pagamento de multa.
2. Recurso de revista conhecido e provido, no particular. (TST-
RR 741712002-906-06-00.2 - I" T - ReI. Min. João Oreste
Dalazen - DJU 04.03.2005)".
"RECONHECIMENTO DE VíNCULO DE EMPREGO EM
Juízo - MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT - INDEVIDA - O
reconhecimento do vinculo de emprego em Juizo e,
conseqüentemente, do direito às verbas rescisórias, não dá azo à
aplicação da multa do art. 477, o S", da CLT Não se pode
considerar que houve atraso no pagamento de verbas rescisórias,
que somente foram reconhecidas em juízo. (TRT 9" R. - Proc.
09219-2001-015-09-00-3 - 4" T - Rei. Juiz Sergio Murilo
Rodrigues Lemos - J. 01.02.2005)".
Ante o exposto, tendo sido reconhecido o vínculo
empregatício apenas em Juízo, não há previsão legal para o deferimento da multa de
que trata o art. 477, § 8°, da CLT, porque somente após o trãnsito em julgado da
sentença é que se tornam devidas as verbas rescisórias, não havendo que se falar em
atraso no seu pagamento.

Reformo, para excluir da condenação imposta pelo


Juízo a quo a multa do art. 477, § 8°, da CLT.

RECURSO ORDINÁRIO DE AGROPECUÁRIA


NEBLINA LTDA.

DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA - GRUPO


ECONÔMICO
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Insurge-se a segunda ré (Agropecuária Neblina) contra a


decisão primeira que a condenou solidariamente nas verbas trabalhistas devidas.
Alega que não restaram preenchidos os requisitos do artigo 2°, § 2°, da CLT para
caracterizar a existência de grupo econômico, visto que o 1° réu (Sinésio Santa Rosa)
detém a minoria das cotas do capital social da Agropecuária, não possuindo seu
controle, o que não ampara a solidariedade passiva. A recorrente também
assevera que não explora quaisquer das propriedades cedidas em comodato ao
primeiro réu (Sinésio). Requer a reforma do julgado para que seja afastada a
responsabilidade solidária, ante a inexistência de grupo econômico.

Sem razão.

Conforme consta à fi. 93, a segunda ré (Agropecuária)


foi constituida entre os sócios Carlos Eduardo Santa Rosa (2.338.615 cotas do capital
social), Sinésio Santa Rosa (921.873 cotas) e Shirley Santa Rosa (1.421.873 cotas).
Dentre estes, apenas o primeiro réu integra a lide no pólo passivo, não sendo o fato
de este ser sócio minoritário situação suficiente, por si só, a ensejar a exclusão da
responsabilidade solidária da Agropecuária Neblina. Ademais, o primeiro réu
(Sinésio), juntamente com o sócio Carlos Eduardo Santa Rosa, atuou como sócio
gerente da segunda ré (Agorpecuária Neblina), conforme consta na cláusula décima
do contrato social de fi. 95, o que indica que havia controle desta pelo réu Sinésio.

Segundo consta à fi. 06 da inicial, o autor foi contratado


pelo primeiro réu (Sinésio) para desempenhar a atividade de trabalhador rural nas
várias fazendas pertencentes à segunda ré (Agropecuária), pessoa jurídica da
qual aquele é membro integrante. À fi. 66/69 foi colacionado o contrato de
comodato entre a Agropecuária Neblina (comodante) e o réu Sinésio (comodatário e
sócio da 2" ré), visando a exploração da atividade agropecuária mediante utilização
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das propriedades daquela pessoa jurídica. Conforme consignou o Juízo primeiro à fi.
144, "é indiscutível o interesse econômico que une os reclamados, que na verdade
quase que se confundem entre si na exploração da atividade agrícola".

Não obstante a pessoa jurídica não se confundir com a


física, a responsabilidade é atribuída em razão do liame entre os réus, ambos
explorando atividade agrícola mediante utilização das fazendas pertencentes
à Agropecuária Neblina, perdurando a responsabilidade solidária pela execução dos
créditos do trabalhador. Nada a prover.

m. CONCLUSÃO
Pelo que,

ACORDAM os Juízes da 4a Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 9a Região, por unanimidade de votos, EM CONHECER
DO RECURSO ORDINÁRIO DO PRIMEIRO RECLAMADO (SINÉSIO) E
DO RECURSO ORDINÁRIO DA SEGUNDA RÉ (AGROPECUÁRIA
NEBLINA LTDA), assim como das respectivas contra-razões. No mérito, por igual
votação, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO DO
PRIMEIRO RECLAMADO para, nos termos da fundamentação, excluir da
condenação imposta pelo Juízo a quo a multa do art. 477, § 8°, da CLT. Por igual
votação, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA SEGUNDA RÉ, tudo
nos termos da fundamentação.

Custas na forma da lei.

Intimem-se.
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Curitiba, 28 de fevereiro de 2007.

ABD

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