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Rovista do Departamento de Geografia n. 12, p.7-26, 1998 AS GEOGRAFIAS DA MODERNIDADE - GEOGRAFIA E GENERO - MULHER, TRABALHO E FAMILIA. O EXEMPLO DA AREA DE RIBEIRAO PRETO - SP Rosa Ester Rossi RESUMO (© aumento da participagio da mulher na forga de trabalho foi constatado a partir de pesquisa de campo realizada em 1977, 1986 e 1995/96 na mais importante érea canavieira do Estado de So Paulo - Ri 0 Preto. Foi feita pesquisa qualitativa com 43, 35 e 50 familias, respectivamente, levantando uma populagio de 323 pessoas em 1977, 162 em 1986 ¢ 217 em 11995 /96 para verificar, entre outros aspectos, como era a sobrevivencia dessas familias, nas {quais pelo menos uma mulher, na casa, empregava sua forca de trabalho na atividade ligada a agricultura canavieira. [Nesses vinte anos de pesquisas, as mudangas foram significativas: aumento demimero de pessoas trabalhadoras na familia, diminuigio de residentes na casa, crescente participagao dda mulher na forga de trabalho, queda da fecundidade, aumento do nimero relative de mu- Iheres como cabeca da familia, aumento do nmero de familias monoparentais, ete. Palavras-Chave: mulher, agricultura, cana-de-asicar, Ribeirio Preto, familia. A produgao ereprodugao da vida sio dadas_ laity pela reproducao da cepécie como através do trabalho, o qual produz os meios de existéncia, Na sociedade atual, esta simbiose é em i tima instancia realizada através da organizagio em familias. A hist6ria da origem da familia liga- se, na sua base, & destruigao das tradigées e das estruturas igualitérias, a partir do momento em que os individuos comegaram a apropriar-se do excedente de produtos criados pelo trabalho co- letivo da comunidade (Engels, 1981). Essa posigao igualitaria na sociedade pri- mitiva era determinada pelo seu trabalho produ- tivo realizado coletivamente. Com 0 aparecimento da familia patriarcal, que substituiu as estrituras comunitérias, foi ocorrendo individualizacao do trabalho da mu- Iher, 0 qual progressivamente se limitou pro- dugio de valores de uso para o consumo. O tra- balho do homem passou a ser destinado a criar riqueza, entrando na esfera da producao de valo- resde troca. De acordo coma divisao do trabalho entre os sexos, a mulher foi relegada a esfera das tarefas domésticas, isto 6, reprodugio biol6gica, ediucagio e cuidado com os filhos, como bases da reproducao da forca de trabalho. (6) Departamento de Geografia/NEMGE - USP, 8 ROSSINI, Rosa Ester. As geografias da modernidade - geografiae génera ~ Historicamente, no patriarcalismo, foi dado ao homem mais do que a mulher a posicéo de destaque na administracdo da riqueza desta fa- milia: tanto € que no passado apenas estes rece- biam heranga, o que perdura até hoje em deter- minadas sociedades (Engels, 1980). A origem da famflia monogamica é funda- mentada neste principio ¢ 0 grau de emancipa- ‘Go da muther seré correspondente a medida na- tural do grau de emancipagao geral (Engels, 1980). desenvolvimento da familia se da ao mesmo tempo em que ocorre o domfnio das pes- soas pela natureza (Engels, 1981). Com o advento da Revolucao Industrial, a incorporacao da mulher no mercado de trabalho consolidou, em fungao da ideologia sustentada historicamente, preconceitos sobre o sexo femi- nino na esfera do trabalho: salarios mais baixos para as mulheres, designagao para tarefas con- sideradas menos qualificadas, aceitagio da du- pla jornada de trabalho para a mulher - trabalho doméstico e trabalho remunerado -, massa de re- serva para o capital industrial, otc. Os baixos saldrios exigem a contribuicio de mais de uma remuneragao na familia para tentar escapar um pouco da miséria, O desenvolvimen- to das forcas produtivas apela para o trabalho da mulher (Alambert, 1980). A questao do dinheiro ¢, consequientemen- te, a pobreza, levam o proletariado a trabalhar, envolvendo nesta situacéo homens ¢ mulheres: so, portanto, os problemas sécio-econémicos que decidem essa insercao. A mulher foi arrancada de casa para o mercado de trabalho para somar na manutengo da familia, promovendo a “de- sestabilizagao” do homem na manutengao da fa- milia, sem que fosse repartido ou retirado da mulher o trabalho doméstico. “A familia indi dual moderma tem por alicerce a escravatura do- méstica, dissimulada, da mulher (...).O homem, de nossos dias, na maioria dos casos, se ganha 0 suficiente para o sustento da familia, ¢ isto lhe dé um lugar preponderante que nao precisa ser pri- vilegiado por Ici, torna-se em relacdo a mulher um burgués, e a mulher, em relagao a ele, a pro- letéria” (Engels, 1981, p. 72). No seio de toda formagao social coexistem uma produgao social de bens e uma producao social de seres humanos, que so sempre distin- tas, mas, ao mesmo tempo, relacionadas uma a outra, “As exigéncias da andlise leva-nos a atri- buir a primeira o nome de produgao e a segunda © de reprodugao” (Combes e Haicault, 1987, p. 24.25), Assim sendo producao e reproducao s40 indissociveis. Nao se pode falar em uma sem vincular a outra, pois uma 6 condicao da outra. O surgimento e desenvolvimento do capitalismo, modo de produgo que transforma o ser humano em mercadoria, acaba definindo (ou simbolizan- do) a subordinacao da reproducao a producao. Essa situacao foi reforgada no capitalismo, pois, homens e mulheres jé participavam de modo de- sigual da produgao e reproducdo, visto que a ex- ploracao dos seres humanos por outros seres hu- manos é encontrada também em outros modos de producao. Ao mesmo tempo homem e mulher estzio numa relacao de alianga - embora em base desigual - pelo fato de pertencerem a mesma clas- se social (Combes e Haicault, 1987). A consolidacao do capitalismo significou para as mulheres diferentes situagdes, isto é, as condigSes criadas para a mulher rica sao diferen- tes daquelas para as mulheres da classe operdria. O capitalismo nao trouxe a mulher tempo livre, nem lazer, apenas o aumento da exploracao da sua forga de trabalho. Também as criangas foram submetidas ainda mais a exploracao: familias in- teiras expulsas do campo, vivendo em condigdes precdrias nas “cidades” e transformadas em mao- de-obra barata. Revista do Departamento de Geografia n. 12, p. 7-26, 1998 O trabalho passa a ser um lugar de tomada de consciéncia mais ampla de uma opressio que nao depende apenas da vida privada. A articulagao asser feita nao pode estar voltada somente entre a vida familiar ¢ a vida profissional, mas obriga a uma articulacdo mais global, na qual o politico, © social, etc, estejam presentes (Kartcheusky-Bulport, 1987), Nao é pelo fato dea mao-de-obra feminina ingressar de forma expressiva num determinado setor que este se desvaloriza, mas é justamente porque tal sctor ja esta desvalorizado que cla 0 adentra Na verdade, as mulheres adquiriram a cer- teza de serem capazes de ganihar a vida (em vez de fornecerem um complemento a renda domés- tica) mas tiveram igualmente que enfrentar a sus- peita de que roubavam 0 trabalho dos homens a0 aceitarem baixos salérios. “Fourier ~ ¢, seguindo suas pegadas, Marx ~ disseraun que v giau de humanizagio de uma sociedade pode ser medido pelas relagdes entre os homens ¢ mulheres” (Heller, 1980, p. 61) Engels esclarece melhor a situagao quando afirma que "a emancipacao da mulher esua equi- paracdo ao homem so e continuardo sendo im- Possiveis enquanto ela permanecer excluida do trabalho social e confinada ao trabalho domésti- co, que ¢ um trabalho privado. A emancipacao da mulher sé se tora possfvel quando ela pode participar, em grande eseala, em escala social, da produgao; ¢ quando 0 trabalho doméstico The toma apenas um tempo insignificante” (Engels, 1981, p. 82) ‘Também para Lénin a emancipagéo da mulher 36 seré atingida quando for conquistada uma liberdade completa pois a igualdade peran- tea lei nao é igualdade de fato (Lenin, 1980). Por outro lado, ja foi mais do que provado tanto em 1977-78 - greve dos metaldrgicosemSa0 9 Paulo-, como em 1996-97 - movimento dos sem- terra ~ que o grau de sucesso de um movimento depende do grau de participagao das mulheres: compete a sociedade conscientizar-se disso. O futuro das relagdes entre os sexos deve- ria pautar-se na directo da'liberdade, da igual- dade, isto ¢ ser livre do desejo de posse, rica, pro- funda e significativa em todos os aspectos da vida humana (Heller, 1980). Para efetiva realizagao, a mulher deve ser livre de qualquer exploragao ¢ opressio ¢ flores- cer plenamente em todos os campos em queo ser humano é capaz de atuar. Viver é transforntar- se. Para quea mulher possa adquirirjuntamen- te com o homem a liberdade, liberdade para vi- ver e para constituir uma familia sadia, é preciso que haja creches, jardins da infancia, restauran- tes coletivos, lavanderias coletivas, lazer, satide, educagao, habitagao, havendo, portanto, igualda- de para ambas, G4 assim homens ¢ mulheres po- derao desempenhar seu papel na produgio so- cial ena vida social. E também necessério oamor. MUDANCA DE VENTO: DO COLONATO A PALHA DA CANA ‘Coma implantacdo do trabalho livrena aj cultura paulista em meados do século XIX, 0 tra- balho familiar passa a sera tOnica. A mulher parti- cipava das atividades gerais, principalmente da colheita do café juntamente com as criangas, as quais, desde as tenras idades de5 a 6 anos, jd cola- boravam com o seu trabalho, © trabalho de autosubsistencia reduzia consideravelmente os custos unitérios da mao-de-obra (Antuniassi, 1983). ‘A preferéncia pelo trabalho familiar por parte dos cafeicultores levava a um reforco da organizacao familiar: o chofe da familia mobili- 10 ROSSINI, Rosa Ester. As geogrfias da modernidade — geografiae géner0 ~ zava, alocava e coordenava a forca de trabalho e isso levava a uma divisdo sexual do trabalho ¢ a uum comportamento reprodutivo caracterfsticos Gtolcke, 1986). No colonato, a mao-de-obra era contratada em unidades familiares enquanto os trabalhado- reseventuais de hoje vendem sua forca-de-traba- lho em base individual. Entretanto, esse homens ce mulheres continuam a se reproduzir dentro de familias. Enquanto no colonato se reforgava uma or~ ganizagdo familiar em que estava clara a coope- racdo, no assalariamento ha a reuniao do rendi mento de todos os membros da familia, mas cla deixou de ser uma unidade de trabalho. No fundo pode-se dizer que, no capitalis- ‘mo, a familia representa também uma conjuncao de esforcos para o proveito de todos es membros (Stolcke, 1986). No regime do colonato o contrato familiar era assinado pelo chefe da familia, 0 qual tam- bém recebia 0 ordenado familiar. Ao homem ca- bia a autoridade de coordenar as atividades; as criangas, 0 cuidado dos pequenos animais ¢ da colheita e 4 mulher os trabalhos domésticos, a producdo dos valores de uso, cultivo da roca de subsisténcia ¢ a colaboragao na colheita do café. © pagamento era determinado pelo némero de “enxadas” ~ trabalhadores adultos ~ que deve- riam ser no minimo trés. Assim é que o compor- tamento reprodutivo das familias se pautava muito nesta linha de preocupagao. Quanto maior a prole, maior a possibilidade de ganhos futuros = maior o ntimero de pessoas envolvidas na forca de trabalho familiar - apesar dos cuidados exigi- dos pelos filhos por parte das mulheres nos pri- meiros anos de vida das criangas (Ianni, 1976; Stol- cke, 1986). ‘A transformac&o do colono em mao-de- obra assalariada vai mudar substancialmente a organizacdo especifica da familia, pois nessa nova estruturacio os membros recebem um salério in- dividual. Mulher, familia e trabalho doméstico, que inclui educagdo ¢ cuidado com os filhos, apa- recem entdio como elementos essenciais para a reproducio cotidiana e geracional da forca de tra- balho (Barroso, 1982). ‘A legitimacao da familia como objeto de anilise reforca-se com a crescente preocupacao em retratar as condigdes de reproducio dos “po- bres”, ou “cultura da pobreza” (Barroso, 1982; IPEA, 1996). Segundo Durhan, a familianas camadas in feriores da sociedade rural brasileira se organiza “de modo muito simples, em termos de subordi- nagdo da mulher aos homens ¢ dos mais jovens aos mais velhos” (Durhan, 1973, p. 64). ( interesse atual para se compreender me- Ihor a problematica do trabalho feminino passa obrigatoriamente pelas relagdes trabalho e famt- lia, Neste caso, a unidade de estudo nao é mais 0 indivfduo isolado, mas as peripécias que os indi- viduos, a partir de suas relagdes mais proximas com.os membros de suas familias, realizam, para garantir a sobrevivéncia do grupo (Barroso, 1982). ‘A unificagaio do mercado de trabalho urba- no-rural ea formacdo do exército geral de reser- va vincula-se a transformacao do residente rural- urbano em assalariado tempordrio mediante a conversao das atividades acess6rias da agricul- tura em ramos da indiistria, ‘Na familia, os ganhos passama advir tanto do trabalho no campo como do salério proveni- conte de atividades urbanas. Praticamente em to- das as cidades os novos migrantes habitam na periferia. “Cresco” o consumo em todos os senti- dos: luz, agua, aluguel ou prestacdo.da casa ou do terreno, lenha ou gas, alimentagao’nao mais advinda dos produtos de subsisténcia, etc. Os Rovista do Departamento de Geografia n. 12, p.7-25, 1998 ganhos da familia tém que ser relativamente bem maiores para garantir a qualidade de vida que, em geral, baixou muito. (Rossini, 1988, 1990; Coutras, 1996; Coutras e Rossini, 1997). proceso de proletarizacdo no campo ca- minhou lentamente enquanto o café predomina- vana paisagem. Avancou mais rapidamentecom a ampliaggo do espaco ocupado com a cana-de- acticar e, mais recentemente, com o desenvolvi- mento de culturas como soja ¢ trigo, ficou mais evidente, permitindo mudancas enormes nacom- posicao organica do capital, criando definitiva- mente o proletariado rural (Oliveira, 1977; Graziano da Silva, 1981; Cano, 1986). A concentragio de terras, a intensificagio da mecanizacao e do uso de adubos e defensivos agricolas, a quase eliminagao do residente rural, © contrato de mao-de-obra assalariada tempord- ria, etc., passaram a ser o trago dessa nova pro- dugdo do espaco, baseada na agroindiistria, A unificagao do mercado de trabalho rural ce urbano leva o volante a alternancia de ativida- des ditas rurais ¢ urbanas. A organizagao da fa- miflia, entretanto, pouco se altera, apenas muda, em parte, a questao da autoridade, pois nao é mais o"chefe de familia” que determina a atividade a ser desenvolvida pelos componentes da unida- de familiar, mas cada um se organiza em funcao das oportunidades individuais. A subordinagio da mulher ao homem, porém, continua, Ha cer ta unidade no que tange a soma das “rendas” para garantia da sobrevivéncia miscravel. Mui- to cedo os jovens deixam de contribuir para a “casa”, participando de um proceso de migra. 40 ou contraindo matrimonio (Brant, 1977; Rossini, 1988). Toda mudanga carrega alteracies que se- rao consideradas positivas ou negativas de acor- do com a perspectiva que se vé. Assim 6 que se olharmos a questéo da autoridade ~ que era re- n presentada pelo homem-, comparando-se o tra- balho da familia no colonato, parceria, arrenda- mento e agora no assalariamento, percebe-se que houve grandes perdas para o homem. Em geral continuam reservados & mulher os mesmos tra- balhos domésticos, pois nao ha praticamente di- visdo sexual do trabalho na familia; como operé- ria, ela vai a luta para “complementar” os ganhos familiares. Aumentam as.responsabilidades em relacao aos filhos, visto que ela tem que deixé-los aos cuidados de alguém ~ mae, filhos, escola, cre- che ou trancacios em casa. © tamanho da familia se reduz, pois a crianga deixa de ser um investi- mento para a familia para se transformar em au- mento de despesas. Aumentam tanto o némero de familias monoparentais como de mulheres cabeca de familia. A perda da autoridade acom- panhada pela porda do emprego ou da renda que garanta em todo ou em parte a Sobrevivencia da familia por parte dos homens tem concorride para ‘o aumento tanto de separagdes como ao alcoolis- mo, a violencia, etc Essas contradigdes acabam sendo resulta- do das pressdes econdmicas ¢ da mudanca de valores, enfraquecendo bastante os chamados la- os familiares. Os filhos muitas vezes consideram casa familiar como verdadeira penséo, pois con- tribuem para a sua manutengio, acabam exigin- do coisas que antes nao solicitavam com tanta presteza e saem para constituirem uma nova fa- milia ou migram com maior facilidade (Mielle, 1987), ‘As mulheres passam a constituir-se como forga de trabalho disponivel e ndo apenas como mao-de-obra disponivel e remanejével no grupo doméstico através do trabalho remunerado. Acrescente-se ainda que a relagdo entre a repro- dugao da pessoa trabalhadora e sua familia ¢ as condigdes de reprodugao da forga de trabalho fa- zem com que os padrdes de consumo familiar 2 ROSSINE, Rosa Ester. As geografins da modernidade — geografa e género = dependam do salério que deveria garantir essa reproducdo, 0 que levou o grupo familiar a or- ganizar-se como unidade de consumo (Guima- ras, 1990). ‘A literatura mais recente tem enfatizado que, diversamente do que até ha pouco tempo era consenso, o trabalho remunerado esta longe de ser 0 tnico determinante do nivel de vida do bem estar da populacao. “A orientacao atual én0 sentido de mostrar que existe todo um con- junto de atividades, de natureza ainda pouco conhecida, mas que sem dtivida interferem na qualida- de, na manutengao e reproducéo da forca de trabalho” (Jelin, 1978; Bar- oso, 1982, p. 16). ‘A primeira e mais importante forma 6 0 ingresso monetario dos membros que trabalham com remu- neragio. As outras so ndo moneté- rias, porém combinadas com 0 in- gresso monetério ¢ tém a intencdo demethorar 0 padrao de vida, como por exemplo, servicos piiblicos ¢ sociais (estado, sindicatos, igrejas, etc:). Ainda com caracteristicas no monetirias, esto a pro- dugao doméstica de bens e servigos e 0 recurso & rede de relagdes sociais informais com parentes, vizinhos, amigos, estabelecendo ajuda mitua ¢ interedmbio (Singer, 197; Barroso, 1982) A MULHER, A PRODUCAO DA VIDA, A (RE)PRODUGAO DO ESPACO EO PROCESSO DE INTENSIFICACAO DO CAPITAL NO CAMPO ‘A reconstrugio histérica das relagées de trabalho no campo tornou-se necesséria para a melhor compreensdo de como foram se dando as transformagées do trabalho rural e a entrada cada vez maior da mulher na forca de trabalho. ‘A intensa migragao para a cidade acabou por resultar na urbanizacdo da sua reprodugao. A familia operaria, com baixos rendimentos, tem como alternativa a morada da pobreza ¢ 0 local quase sempre ¢ a periferia das cidades. A taxa de urbanizacdo para o Estado era de 80,33% em 1970, chega a 88,64% em 1980, atinge 92,80% em 1991, © 93,10% em 1996. Fonte: Fundacio IBGE, Censos Demogrificos de 1970, 1980, 1991 « 1996. Na populac&o do Estado de Sao Paulo ha quase equilibrio em relacéo ao nimero de homens ede mulheres. Se em 1980 havia 99,9 homens para cada 100 mulheres este ntimero passa a 97,94 em. 1991 denotando aumento da participacao femi- nina no total da populagao. Osaldo migrat6rio da década de 70, apre- sentada pelo censo demografico, foi de 3.014.342 pessoas, tendo cafdo na década de 80 para 1.239.885 pessoas. Na populacdo migrante existe um predo- mfnio de homens em relagao as mulheres. Boa parte dos migrantes chega ao local de destino na faixa etaria de 18-35 para os homens e 15a 29 para asmulheres, periodo em que as pessoas estdo efe- tivamente aptas para 0 trabalho. Revista do Departamento de Geografia n. 12, p. 7-26, 1998 ‘A Area deemprego/ocupagao agricola mais importante para as mulheres em Sao Paulo esta ‘na regio central do Estado, nas areas agro-indus- triais da cana-de-acticar, em Jati-Lengéis Paulista ede Piracicaba-Limeira ¢ Araras, Ribeirao Preto- B Franca ¢, a0 norte, Jabuticabal-Bebedouro- Olimpia. Nestas duas tiltimas Areas se mesclam café, cana e citricos. Acrescentem-se ainda Arara- quara-Catanduva, Bauru-Marflia-Ourinhos, areas hoje bastante ligadas a cana-de-agticar. Tabela Estado de Sao Paulo ‘Componentes do Crescimento Populacional 1940-91 [ANOS | POPULAGAO | ACRESCIMO | SALDO SALDO, PROPORCAO DOS POPULACIONAL| VEGETATIVO| MIGRATORIO | COMPONENTES Vepetativo] Migratork (%) () i940_| 7.180.316 7956107 7.469.600 BE507 Ba | 3479 1950_| 9s | i SAB 2EAgd 997.518 7295 _| 2705 1960_ | 12.823.826 i 4.948.122 3372191 Dena wis | aS 1970 | 17.71.9048 3 il 7.268.764 4.254.422 3.014.342 5853 | 4147 1980_|25.080.713 I 6548.215 5508328 TB9RS S107 | _1893 1991_| 31588925 1996 | 34.120.886 Fontes: Fundacio IBGE, Censos demograficos de 1940,1960,1970,1980, 1991 e 1996. Fundacdo SEADE, Movimento do Registro Civil, 140 a 1980. Cf. PERILLO, S. R. Balanco Migratsrio do Estado cle Sio Paulo no periodo 1970/80, in Informe Demogrifico, 16, F. SEADE, Séo Paulo, 1985, ‘A partir das consideragoes a respeito das novas relagdes de trabalho pode-se ressaltar que a dinamica do mercado de trabalho vai acompa- nar essa nova face da agriculture, especialmen- te,no que tange a mulher. A literatura técnica disponivel indica que © progresso conseguido nos tiltimos anos a res- peito da mecanizacio agricola, especialmentena fase da colheita, foi consideravel. A viabilidade da colheita mecanizada tanto para 0 algodao, a soja, o trigo, ete,, jé 6 uma realidade. Para a cana a mecanizagao agricola é utilizada, com maior intensidade, especialmente no infcio da ativida- de, funcionando como freio para reivindicagao de melhores diérias. Em algumas propriedades © trabalho na cana é quase que totalmente me- canizado para a colheita, salvo nas areas de maior declividade do terreno ou onde ha muita 1“ ROSSINI, Rosa Ester. As gangrafias da modernidade — geografiae género = cana tombada dificultando o trabalho das mé- quinas. Recentemente nos Estados Unidos os robs entraram da forma intensiva na colheita da laranja ecom ganhos enormes de qualidade. Através das células foto-elétricas os mesmos s6 colhem as la- ranjas maduras. Muito provavelmente em breve chegarao a0 Brasil como freio as reivindicagdes como ocorreno caso das maquinas colhedeiras de cana, apesar das perspectivas de queda de venda do produto a0 ‘mercado americano ou crise nacional de superpro- ducdo, Outros mercados estdo surgindo: asiético, africano, arabe ¢ aumento do consumo interno. Esses fatos vo repercutir violentamente na dina- mica do mercado de trabalho feminino ao se con- siderar que grande contingente € constituido, nes- ta atividade, por mulheres ¢ criangas. Se por um lado trabalha-se a questao de menor engajamento na atividade da colheita, por outro as engenharias genética e cientifica aliadas a modernizacao da atividade tém promovido mudangas fantésticas também em todo o setor agricola. Esta modernizacao pode reverter a situ- agio de atividade temporaria do trabalho propi- ciando engajamentos permanentes na atividade agricola para alguns produtos: ~ a cana pode ser colhida 0 ano todo ¢ nao maisa colheita em apenas 6 meses ao ano aproxi- madamente. Acrescente-se ainda que 0 corte nao se prenderé a3 e 4, mas cada planta poder su- portar até 10 cortes. A mecanizagao do corte jé € uma realidade (Rossini, 1994; Graziano da Silva, 1997); ~alaranja passard a ser colhida o ano todo. Ao mesmo tempo, pela necessidade de poliniza- cao, a produgao de mel nas areas de cultivo de Iaranjas tem aumentado substancialmente o con- seqiiente consumo tanto pela divulgagéo do ha- bito por parte dosnaturalistas como também pelo rebaixamento dos presos; ~ a manga que cra colhida apenas uma vez por ano, agora so 6 colheitas com intervalo de 2 meses uma da outra na mesma érea de cultivo; ~ acrescentem-se alteragées no cultive ena colheita também de produtos como uva, mamso, melo, melancia, abacate, etc. Pode-se, desta forma, dizer que se por um lado, alguns produtos diminuem as oportunida- des de engajamento através do uso de meios me- cfnicos, por outro lado, as engenharias genética ¢ cientifica permitem que, no caso de produtos que cram colhidos em um periodo no ano, agora, a atividade pode ser desenvolvida praticamente © ano todo. Aumentam as possibilidades de en- gajamento na atividade c com oportunidades de trabalho durante o ano todo com a expectativa de desaparecimento da sazonalidade tanto para as colheitas como, em conseqiiéncia, para 0s ou- tros tratos agricolas (Graziano da Silva, 1981; Fleury ¢ Fischer, 1985). ‘Ao lado desse assalariado temporério/ per manente aqueles que sero os ofetivos assalaria- dos temporérios serdio os remanescentes peque- nos proprietarios, parceiros, arrendatarios, pos- seiros, sem-terra, que vao assalariar temporaria- mente em alguns momentos de pico. Neste caso a mulher é pouco solicitada. ‘Acrescente-se também que a migragio tem- pordtia, basicamente constituida por homens, tem papel importante no sentido de evitar um cresci mento maior dos salérios nos momentos de “pi- cos” (Graziano da Silva, 1981, 1997) (O fracionamento da pequena propriedade implica em diminuigao da capacidade de reter a sua forca de trabalho. Hé tendéncia a safdaa pat- tir dos 14 anos, Mas nao sa0 56 os filhos quesaem. Os préprios chefes de familia também migram. Revista do Departamento de Geografia n. 12, p. 7-26, 1998 ‘As meninas partem em idades mais precoces para © assalariamento como empregadas domésticas urbanas (Targino e outros, 1990; Martins e Garcia, 1987), Merece referéncia o fato de que a remessa de parte dos salérios para os pais pelos que parti- ram é que vai permitir a manutencao, por mais algum tempo, da pequena propriedade e mesmo da pequena produgao a medida que completam os custos de manutengao da familia, em parte “tocada” por aqueles que permanceeram na terra, em especial as mulheres adultas, as criangas ¢ os velhos. ‘A concentracao fundiéria que climina par- te considerével das pequenas unidades familia- res provoca tambéma diminuigao do uso da mao- de-obra, em especial da feminina ao mesmo tem- poem que a agricultura de subsisténcia tende a diminuir cada vez mais. Em 1992, as pessoas trabalhadoras passam a ter dircito ao auxilio desemprego, se a docu- mentagéo que comprovaseu engajamentoestiver em ordem ~ menos mal. E através da Lei de 9 de dezembro de 1994, den? 8949 que 6 outorgada a constituigao de soci- edades cooperativas de trabalhadores. Viveiro de mao-de-obra disponivel para quando o empresé- rio dela necessitar. Esta legislagio desobriga a co- operativa do pagamento dos encargos sociais bem como das indenizagses, férias, 13° salario, ete. Pelo exposto, pode-se concluir também que © engajamento na agricultura nao pode ser visto como alternativa para a realocacao da mao-de- obra urbana desempregada especialmente quan- doa politica € a de grandes investimentos e alta tecnologia, o que leva na direcdo da economia de mao-de-obra. ‘Ao mesmo tempo em que hé tendéncia de aumento da participagéo da mulher na forca de trabalho assiste-se também ao aumento de mu- 6 Theres cabega de familia. Os dados informam que a taxa de participagao da familia na forga de tra- balho é mais alta nas familias chefiadas por mu- Ther, Na medida em que a muther esté entrando cada vez. mais no mercado de trabatho comeca a se ver como trabalhadora ¢ nao mais como ele- mento que “ajuda”. Neste momento ela comegaa participar de sindicatos. E o prentincio da mu- danga de vento. Finalmente deve-se acrescentar que no conjunto hé tendéncia de menor engajamento nas atividades ligadas & agricultura justificada pelo avanco da modernizagao no campo no scu sentido mais amplo. Por ouiro lado, o urbano no esta tendo a capacidade de dar ocupagao a toda a mao-de-obra urbana ¢ mesmo daqucla migrante do setor rural. © mercado informal parece ser a safda para a familia sobreviver em condigdes de grande pobreza. As pragas, 03 cor redores comerciais, 0s cruzamentos de maior circulagio, etc., tém dado amparo a esta sobre- vivencia. Proliferam nas cidades verdadeiros “mercados persas”. Enquanto a politica do go- verno nao se voltar para diminuir a concentra- do da riqueza em maos de poucos, a tendéncia serd a manutencao desta situagao atual onde boa parte da populaco dispontvel para o trabalho vive de pequenos bicos como forma de sobrevi- ver Santos, 1996a, 1996b). A MULHER NA PALHA DA CANA: FAMILIA E TRABALHO. VINTE ANOS DE PESQUISA NA AREA DE RIBEIRAO PRETO © aumento da participagdo da mulher na forca de trabalho foi constatado a partir de pes- quisa de campo realizada em 1977, 1986 ¢ 1995/ 16 ROSSINI Ro: 96 na mais importante drea canavieira do Esta- do de Sao Paulo ~ Ribeirao Preto. Foi feita pes- quisa qualitativa com 43, 35 ¢ 50 familias res- pectivamente, levantando uma populacdo de 323 pessoas em 1977, 162 em 1986 217 em 1995/96 para verificar, entre outros aspectos, como era a sobrevivencia dessas familias, nas quais pelo menos uma mulher, na casa, empregava sua for- ca de trabalho na atividade ligada 4 agricultura canavieira. sa Ester, As geografias da modernidade - geografia e nero — Da relagio de “ajuda” ao trabalho familiar a introdugao na produgdo altamente capitaliza- da que caracteriza a monocultura canavieira, a mulher passa a ser absorvida como méo-de-obra individualizada, assalariada, com conseqtiéncias imediatas no nivel da organizacao familiar. No trabalho do campo, enquanto residente rural, quer fosse na qualidade de trabalho famili- ar em pequena propriedade, quer quando o ma- rido era o responsdvel assalariado, a Estado de Sto Paulo: Macro-drea canavieta de RibeirSo Preto, familias e pessoas pesquisadas 1977, 1986 c 1995/96 mulher levava, desde a mais tenra ida~ de, a crianga ao trabalho rural. Na agricultura da cana, essa possibilida- de inexiste, Nao ha permissio por parte dos empreiteiros e nem dos fiscais. No os see es 177 1986, 1035/95, 1 Namere de Farin Porque i Namo de Pecos Paquin Fonte: Pesquisa de Campo, 1977, 1986 ¢ 1995/96 Nesses vinte anos de pesquisas, as mudan- cas foram significativas: aumento de nimero de pessoas trabalhadoras na familia, diminuigdo de residentes na casa, crescente participacéo da mu- Iher na forga de trabalho, queda da fecundidade, aumento do néimero relativo de mulheres como ‘cabeca da familia, aumento do ntimero de famili- as monoparentais, ctc. A passagem do trabalho da mulher de resi- dente rural com assalariamento do responsavel para residente urbana, na qualidade de assalari- ada pura, vai trazer modificagies no caréter do trabalho desempenhado por ela. caminhao ou Onibus, a0 serem trans- portadas para o trabalho, nao hé lugar para criangas, com menos de 10-12 anos, que nao estao envolvidas na ati- vidacle. Nesse sentido as mulheres sa0 obrigadas a lancar mao de outras es- tratégias. Via de regra sao as maes, so- gras ¢ filhas que se encarregam dessa atividade. f freqiiente o aparecimento de “creches” particulares onde uma mulher as- sume 0 oncargo de varias criangas menores de 2 anos ow até maiores. Em quase todos os municipios pesquisados j4ha creches para criangas a partir dos'2 anos de idado. O grande inconveniente ¢ que estas fun- cionam a partir das 7 horas, horério em que as ans jé partiram para o trabalho e encerram suas () Eats pesquisa de campo love apoio de Ricardo Nascimento “Taveiros¢ Allana Maria do Nascimento Taveiros na coordenagie dda aplicagio dos questionérios e nas entrevistas. A tabulagio dos ddados e claboragio dos grdficos ieve a colaborasto dos bolsstae Rosimwite Barbosa da Silva (IC), Karen Ribeiro (AP), Osvaldo Pei- ‘oto de Almeida (PIBIC), Reaalle Rocha Souza (IC) e Alessandra Falefo Preto (C), do ProetoIntegrado: “As Geografias da Moder- nidade: Sociedade Espaco ~ Mulher, amulia Trabalho.” Revista do Departamento de Geografia n.12, p. 7-26, 1998 atividades 4s 5 horas, momento também em que as maes ainda estao no campo. Neste caso, a al- ternativa é encontrar alguém para se encarregar de levar e pogar a crianga no horério em que as mes ndo o podem fazer. O mesmo acontece com 0 parques infantis: neste caso, o problema ainda maior porque cada crianga s6 pode freqilenté- Jo um periodo do dia: manha ou tarde. Em algumas localidades, ondeonimero de mutheres assalariadas no campo 6 muito grande ca Prefeitura, sensfvel a este problema, as ere- ches e parques estfo funcionando em horério que atenda a essa populagdo feminina trabalhadora, Estamos, de novo, reivindicando em Serra Azul e Serrana, ¢ em outras sedes municipais, que os caminhes ou énibus tenham como ponto de pas- sagem a creche ou parque infantil onde as maes, : e (Ono ae CEng Média de Filhos por Familia 1977, 1986, 1995/96. = v pela manha, deixem as criangag menores no ho- rario de partida dos vetculos. No final da tarde, o percurso obrigat6rio dos veiculos seria o mesmo para as maes pegarem os filhos. Em muitos casos, por falta de vaga nas ins- tituigdes pitblicas ou por dificuldade para paga- ‘mento de particulares, cujo prego 6 elevado - cer- ca de 80 d6lares por més ~ as mies deixam as criangas menores trancadas em casa. Nao ¢ inco- mum mortes acidentais por incéndio praticados pelas criangas. . A média de filhos por familia tem baixado consideravelmente e foi confirmada tanto pela pesquisa de campo (1977 - 55 filhos, 1986 - 2,6 filho e em 1995/96 ~ 2,3 filhos) como por Wong para o Estado de So Paulo (2,5 em 1986 ¢ pelo Censo de 1991, 2,3 filhos). erenenarsnpeng Fonte; Pesquisa de Campo 1977, 1986 1995/96, 8 ROSSINI, Rosa Ester. As geagrafias da modernidade ~ geografia € girer0 ~ wm. Tem havido tendéncia cada vez maior das mulheres assumirem a chefia da casa, Em 1977, 11,6% das familias tinham a mulher como chefe. ‘Acrescentando-se a esse total os domicflios cons- titufdes por mae ¢ filhos, embora muitas destas nao tivessem remuneracao, o percentual chega a 18,6%. A situagio em 1986 se altera substancial- mente com 0 aumento da responsabilidade da mulher na chefia da familia - 23,7% e, no segun- do caso, atinge o total de 31,6%, O Censo de 1991 para o Estado denota leve crescimento ~ 18,8%. Para 1995/96 os dados sao os seguintes: 34,8% mulheres chefes de familia e37,1% para o segun- do caso. “Mulheres Chofes de Famflia (em %) 1977, 1986 © 1995/96 40) 35 30 5 ‘4 20 18 10 0197 1986 ‘Anos HE Mulheres Chefes de Familia % 1995/1996 I Mutheres Chefes de Familia, inclusive algumas que go sto remuneradas (%5) Fonte: Pesquisa de Campo 1977, 1986 © 1995/96. Podemos, desta forma, observar que tem havido aumento gradative do ntimero de malhe- res chefes de familia, Nao s6 se encarregam do cuidado com a casa ¢ 0s filhos, mas também de provera manutencao econdmica dos componen- tes da unidade familiar, especialmente ap6s a in- tensificagao da mecanizacdo no campo e a intro- ducao do Plano Real. transporte para o trabalho ainda conti- nua sendo feito com freqiléncia por caminhdes fechados, tendo apenas uma abertura para entra~ da das pessoas ¢ duas janelas pequenas para a entrada da iluminagio e para a ventilagdo. Na par- te interna ha iluminacao, embora mortica, € os bancos de madeira so dispostos, em geral, como 05 de um énibus de transporte. Nos bancos da frente ficam as mulheres enos outros, os homens, ‘Conforme prescreve a legislagio, hé escada para subir no veiculo ¢ as ferramentas ficam guarda- das embaixo do caminhao para evitar acidentes. Quandoo transporte ¢ feito por oni- bus ~ hoje obrigatério por lei, mas nem sempre cumprido - ha também verdadei- ra distribuigéo sexual dos lugares, como acontece nos caminhoes. As pessoas se sentem mais valorizadas, embora os vei culos sejam sempre de péssima qualida- de. Em ambos 0s tipos de transporte, enquanto propriedade de emprciteiros ou ‘mesmo empresas urbanas, os vefculos s30 muito mal conservados, inseguros, ete. ‘Sao freqtientes os acidentes por falta de freio, iluminacio e impericia na diregio por parte do motorista. A DUPLA JORNADA DE ‘TRABALHO: TRABALHO NO LAR E TRABALHO NA PALHA DA CANA jo" dos moradores ¢ de sua fa- nilia das propriedades rurais, em fungao da in- tensificacio de formas capitalistas de producio no campo ea conseqiiente renda da terra, provo- cou a transformacao destes em assalariados pu- Revista do Departamento de Geografia n. 12, p. 7-26, 1998 ros e, conforme referido, em residentes nas peri- ferias das cidades (Rossini, 1994; Tani, 1976). Para garantir a manutencao da familia, todos ~ ho- mens, mulheres ¢ mesmo criangas - foram cha- mados ao trabalho assalariado permanente ot. temporario. No conjunto, a escolaridade das mu- » Iheres nao s6 tem aumentado significativamente como ¢ maior do que a dos homens em todas as pesquisas de campo realizadas ¢ se acelerou na de 1995/96. (Tabela: Estado de Sao Paulo. Parti- cipacao da Populagao Urbana ¢ Rural no Total da Populacdo do Estado (%) 1940/96). Tabela Estado de Sao Paulo, Participacao da Populacso Urbana e Rural no Total da Populagdo do Estado (7%) 1940/96 ETORES ‘ANOS 1930 | 1950 1960 1970 71980, 1996 Urbano. [agaz | 5259 66,28 79,64. 88,64 92,80 Rural [5588 [a7 3372 | 2036 [11,36 7,20 Fontes: FIBGE, Censos demograficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 © 1996. Axelagao de trabalho, em sua maioria, dei- xou de ser patraio/empregado/a para ser trans- formada em empreiteire/eanpregay/a. Os par trdes do campo alegam, om geral, que a obriga- do do pagamento dos encargos trabalhistas édo empreiteiro, que sao os responsdveis diretos pela contratagao dos trabalhadores. Isso, a partir de 1963, com a promulgagéo do Estatuto do Traba- Thador Rural, ‘Com a implantacdo da legislagao para a ‘pessoa trabalhadora rural ficariam assegurados, a partir do registro do contrato de trabalho na cat teira profissional, os seguintes direitos: férias pro- porcionais, 13° salario proporcional, descanso se- manal remunerado, aposentadoria por tempo de servigo, aposentadoria por invalidez, pagamen- to de 90 dias de “repouso” para gestante, etc. O Estatuto do Trabalhador Rural estabele- ceu que é permitido a trabalhadora faltar seis se- manas antes ¢ seis apés o parto (84 dias), sem prejuizo da remuneracao. Esse dispositive tem contribuido para o aumento dos contratos infor- mais, isto ¢, sem vinculo empregaticio. Hoje tem- se a conquista, jé assegurada em outros paises, de 120 dias paraa gestante, afastamento por do- enga, etc. (Rossini, 1975, 1978, 1994; Sigaud, 1979, Barros Jiinior, 1972, 1980; Gonzales ¢ Bastos, 1977). Desenvelvendo, portanto, 0 trabalho infor- mal e sem vinculo A propriedade ou grupo em| particular, torna-se dificil a organizagao das mu- Theres como categoria profissional (Paulo, 1976). Em 1977, 74,1% das pessoas que trabalha- vam declararam possuir carteira de trabalho eem 11986, quase todos possuiam, salvo 44% das mu- Theres; em 1995/96 cai o mimero de portadoras de carteira de trabalho, Hi, entretanto, uma dis- tancia grande entre possuir carteira e ser regis- trado. Em tempo de crise cai o registro em cartei- 1a, reforcado ainda pelos recentes acordos feitos pelos sindicatos, bem como a propria legislacao regulamentou em 1994 e em 1997 essa situag&o para permitir 0 aumento dos engajamentos. Ao mesmo tempo, o convite para trabalhar no corte da cana vem se diversificando bastante. Cai con- sideravelmente o convite formulado pelo patréo, 20 ROSSINI, Rosa Ester. As geografias da modernidade - geografia e géer0 ~ diminuio doturmeiroeaumentao de outrasfon- _(Tabela: Portadores de Carteira de Trabalho, se- tes, no caso, as cooperativas @iniciativa propria. _ gundo o sexo, 1977 ~1986 ~ 195/96). Tabela Portadores de Carteira de Trabalho segundo o sexo 1977 ~ 1986 - 1995/96 (em percentagem) ANO Homens Mulheres aim aio. sim nko 1977 B6B 132 as 382 1985 100.0 00 356 ae 1995/96 9,0 1,0 93,6 63 Macro-area canavieira de Ribeirao Preto: Portadores de Carteira de trabalho, segundo 0 sexo 1977, 1986 e 1995/96 Ret qed) MH Mulheres G Homens 0 20 “0 60 so 100 % Fonte: Pesquisa de campo 1977 - 1986, 1995/96 Revista do Departamento de Geografia n.12, p. 7-26, 1998 Outro fator que incentivou a moderniza- cdo no campo e intensificou a utilizagfo da mao- de-obra assalariada temporéria na cana foram os incentivos governamentais, especialmente apés a criagao do Préalcool em 1975. Esse “apoio” go- vernamental acelerou de forma bastante clara a incorporacdo de novas terras, aumentando 0s es- pacos da cana e diminuindo os espacos da agri- cultura de subsisténcia e mesmo de outros pro- dutos basicos para a alimentacao e até para a in- dustrializagao. Isto ndo quer dizer que todos os espacos estejam ocupados; na realidade ha enor- mes areas nao cultivadas e espagos ocupados com a pecuaria ¢ res{duas Areas com matas. Nos titimos anos, a regiaio de Ribeirdo Pre- to concentra mais de 30% da produgio nacional de acicar e lcool. ‘Um bom niimero de mulheres tem se assa- lariado durante todo 0 ano nos trabalhos da cana ~ corte, plantio, capina, adubagao, ete. =) na quae lidade de assalariadas permanentes/temporari- as, pois o contrato tanto com a usina como com 0 emptciteiro é, em geral, quando feito, renovado semestralmente, Ondmero de trabalhadoras ¢ bastante va- ridvel durante todo 0 ano, conforme jé referido. E nos meses de abril ejunho, segundo levantamen- tos do Instituto de Econo- a entressafra,a porcentagem chega, segundo a pes- quisa de campo, a ser bem superior - 35 a 40%. Na safra, devido a migragao masculina, 0 dese- quilibrio é bastante evidente. Na safra da cana hé aumento do ndmero de mulheres engajadas na atividade de corte: “so- mem’ das cidades as empregadas domésticas, as lavadeiras, as faxineiras; “donas de casa” se assalariam no campo. ‘Se compararmos o ntimero de pessoas tra- balhadoras fora da safra com o corte da cana, ve- remos que, apesar de o mimero de mulheres ser maiorna safra, percentualmente sua participacao 6 bem menor, dado o recrutamento macico de ho- mens que vém para a colheita Entre pessoas da familia engajadas na for- a de trabalho, 80,5% em 1977 declararam traba- Thar em atividades ligadas ao rural e o restante em atividades urbanas. Em 1986, este percentual auuwuluu pata 92,8% por se tratar de fora de trabalho “especializada” na atividade da cana. Em 1995/96, 81,3% ligadas as atividades rurais 18,7% no urbano, Considerando a andlise e trabalhando in- dividualmente mulheres e homens na forca de trabalho, 0 resultado a que se chegou foi 0 se- guinte: em 1977,71% dos homens 60% das mu- Iheres trabalhavam mia Agricola, que ha maior concentragao, Esse periodo ‘acro-dreacanaeia de Ribeido Peter ana-deagicar ‘como primetaatividae de teabslho, segunda a sexo 1877, 1986 «195/96 na cana; jéem 1986, 76,3% © 88% res- corresponde ao inicio das atividades de colheita da 19 cana, quando o recruta- 4, mento é maior. Dototaldevolantes, normalmenteempregados em todas as atividades, as 20 mulheres correspondema cerca de 15 a 20%. Nas ati- vidades ligadas 4 cana, na omens Fonte: Pesquisa de Campo 1977, 1986 © 1995/96. pectivamente, Em 1995/96, respecti- vamente, 47,9% ¢ 759%. =i ‘oi feito tam- od Foi feito tam: ln 1955/36] bémolevantamen- to de quando e em queatividade essas pessoas entraram na forca de tra alheree 2 ROSSINI, Rosa Ester. As geografias da modernidade — geografi e género — balho. A. cana ocupou mais de 58% dos homens ¢ 38% das mulheres em 1977 60% dos homens ¢ 82,2% as mulheres em 1986 ¢ 41,8% dos homens ¢.59,5% das mulheres em 1995/96. Em 1977, 56,6% dos homens ¢ 61,8% das mulheres jé trabalhavam aos 14 anos; esse per- centual vai permanecer mais ou menos estavel em 1986, sendo 52,6% © 62,3% respectivamente. Em 1995/96 62,2% dos homens ¢ 47,1% das mu- Theres jé traballhavam aos 14 anos. Assim é que muito cedo as pessoas de baixa renda comegama trabalhar. Ihes 0 controle da quantidade de cana cortada Tsso quase nunca acontece. £ até comum recebe- rem no final da semana o salério sem terem rece- bido a “papeleta” do quantum cortado. £ dificil levantar informagdes quanto aos rendimentos das pessoas oriundos de trabalho: owndo informam, ou aumentam, ou diminuem ¢ raramente do o solicitado corretamente. £ uma inibigo natural do ser humano ¢ muito maior ainda daquele que sente que suas condigdes S40 efetivamente precitrias. Assim mesmo foi feito um cesforgo ese constatou que, ape- sar de nao haver no discurso 1977, 1986 e 1995/96 [Macro-area canavielva de Ribeirdo Preto: cana-de-agicar como atividade de trabalho aos 14 anos de idade segundo 0 sexo discriminagao entre 0 trabalho das mulheres e dos homens, essas, em geral, recebem me- TERE aN Tan aoa 1977 1986 1995/96 Fonte: Pesquisa de Campo 1977, 1986 © 1995/96. Quando recrutados homens e mulheres por produtividade, nao ha discriminacao em relago Aremuneracdo, pois o rendimento diério depen- de da capacidade e habilidade de cada um. Em geral, hoje, cortam 9 a 10 toneladas de cana por dia. Algumas mulheres cortam menos, ontras mais. Homens e mulheres em geral sao roubados na avaliagéio da quantidade de cana cortada por parte do fiscal que deveria, ao final do dia, dar- rey nos, quando contratadas por saldrio. Quando contratadas s6 por produtividade, o rendi- mento de mulher, em geral, 6 [iim] menor e, por isso, acabam tam- Mul ‘bém recebendo menos. Fez-se a Mulheres anual em salério axinimo (SM) vigente a época de cada pesqui- sa ¢ se chegou ao seguinte re- sultado: em 1977 os homens na forga de trabalho recebiam 1,3 SM eas mulheres 0,85 SM. Para 1986, a situacio “melhorou” sensivelmente em relacéo a 1977 mas isto nao quer dizer que a situacdo seja boa: 18 ‘$M para os homens ¢ 14 SM para as mulheres. Em 1995/96 os homens ganhavam cerca de 2,63 SM e as mulheres 2,16 SM (O Saldrio Minimo ‘mensal hoje 6 de aproximadamente 100 délares).. Rarissimos sfio os casos de aumento de quantidade de cana cortada, pois que, frequente- mente, cla é diminufda pelo fiscal. O aumento s6 ocorre quando ele “esté de namoro” com uma mulher que corta cana. Revista do Departamento de Geografia n. 12, p. 7-26, 1998 A mulher, quando absorvida pelo merca- do de trabalho (rural ou urbano), tende a ser in- tegrada om atividades que guardam “certas especificidades femininas” (Mielle, 1985; Luzardi, 1987; Silva, 1987; Guimaraes ¢ Brito, 1987; Mielle, 1987; Rossini, 1994). Na cana, enquanto a atividade nao 6 total- mente mecanizada, a tarefa de plantio sempre foi considcrada uma tarefa feminina pois, na peque- na produgao agricola, a mulher jé desempenha- va essa atividade, A atividade de levar os toletes de cana para os sulcos, no plantio, cobrira terrae fazer a primeira adubacao sao tarefas desempe- nhadas predominantemente pelas mulheres, das quais os menores também participam, como uma verdadeira relagdo histérica. Nesse caso, 0 page- mento é feito por més ¢, em geral, corresponde ao salario minimo vigente na época; raramente o trabalho 6 pago por produgéo. Em geral os ho- mens receben por pruduggo, Ne caso da remu- neragio por didria, todos os trabalhadores ficam submetidos ao controle ¢ aos “gritos” do fiscal para acclcrar o trabalho, Além de transportar os toletes de cana até os sulcos (as vezes sao utiliza- das sementes de cana inteira ¢ a fungdo ¢ picé-la no sulco), também devem cobri-la e adubé-la. A adubagio hoje é feita em grande escala por mé- quinas dirigidas por homens. Nao se tem noticia de mulheres tratoristas na agricultura comercial da cana Ocorte de cana para moagem ¢ invariavel- mente pago por produgio e nesta atividade estio envolvidos homens ¢ mulheres. Com 0 aumento da mecanizagao, o trabalho de corte bracal ¢feito sobretuclo nos locais onde a cana esta tombada nao serve para o corte com a colhedeira ou nos locais de acesso mais dificil para a maquina (rele- vo mais movimentado, ingreme ou pedregoso). ‘Assim é que a mulher participa de todas as atividades na palha da cana 2 Nas pesquisas realizadas em 1977, em 1986 com 1995/96, nao foram encontradas mulheres que exerciam a funcdo de empreiteiras, gato ou turmeiras, eram apenas de donas de pensao. Na literatura percorrida sobre o tema, foram encon- tradas apenas duas referéncias de mulher turmeira. No caso especifico da dupla jornada de tra- balho, verifica-se que a mulher, apés um longo dia de trabalho na cana, continua sem descanso, tendo que “enfrentar a casa”, isto é, as chamadas “atividades nio-produtivas”: producao de valo- res de uso e prestacdio de servigos na unidade do- méstica, trabalho realizado em casa por mulhe- res, parentes ou agregadas permite ao patrao 0 pagamento as pessoas envolvidasna forga de tra- balho de um salério inferior aquele que deveri- ‘am receber caso tivessem que pagar por esse tra- batho doméstico realizado c nao pago (Bruschini ‘e Rosemberg, 1982). O trabalho doméstico ¢ importante parcela da producao socialmente necessaria, Entretanto, numa sociedade onde a base 6 a produgao de mercadorias, ele nao ¢ considerado um trabalho na verdadeira acepsao da palavra, pois esté fora da esfera da remuneraga Blay esclarece muito bem este aspecto quan- do escreve que “a trabatho doméstico aparece como wna aéividade Adesprovide de valor, nio se vincula diretamente & produgio e ni é rennunerado mediante sario, Detxa de ser conside- rado um trabatho pois, falsament, sé as attvidades rem neradlas é que sao tidas como trabalho. Sua rélacao com a remuneragio se faz através do elemento assalartado da fa- mitta, geratmente o homem (..). Mas ao manipular o sali= rio e transforma-lo em alimento, habitagio, limpeca, en- ‘fim, a0 empregar wm servico que transforme a mioeda em ‘formas necessarias & subsisténcta, a mulher aplica ao sa- ms ROSGINI, Rosa Ester, As geografias da modemidade ~ geografia e género Iivio um trabalho que vem somar ao valor real do meso {..).Além disso, éjustamente devido a utilizagto dese tra- balho doméstico néo-remunerado que o trabalhiador assala- riado pode ser remunerado aquém de suas necessidades” (Blay, 1978). Com a entrada da mulher na forca de tra- balho, agora migrando da casa para o trabalho fora do lar, a atividade doméstica passou a ser considerada secundaria, isto 6, realizada nas ho- ras extremas (muito cedo ou a noite) ou no final do sébado ¢ no domingo, pois ¢ indispensavel para a reproducao da familia. Com a possibilidade de usar o crediario a partir da carteira de trabalho ou da aposentado- ria para as pessoas idosas, o nimero de bens pos- suidos pelas familias tem se diversificado ¢ au- mentado bastante. O tempo de repouso para a mulher passa a ser cada vez mais exiguo, enquanto para 0 ho- mem pouco mudou, pois apés uma longa jorna- da de trabalho o homem chega em casa e aguar- da o jantar. Nos fins de semana ele vai se encon- trar com os amigos, bater uma bola, bater um papo ¢ ficar no bar conversando e bebendo. En- quanto isso, a mulher trabalha: lava roupa, cozi- nha, costura, remenda, prega botdo, cuida das criangas... Em boa parte esse trabalho é desempe- nhado por ela, Tem aumentado muito pouco a colaboracao do companheiro. Quando as filhas comecam a crescer jé recebem alguns encargos. Inicialmente, cuidar dos irmaos menores, arru- mar a cozinha. Dividem aos poucos os “encar- gos” da mie até irem para a roca ou outro traba- Thona cidade ou migrarem. Essa safda, em geral, 6 feita para o trabalho, em outra cidade, ou atra- vés do casamento. (Os meninos acompanham o pai, fazem pe- quenos servicos de compras, “ajudam a olhar” ‘0s itmaos menores caguardam quea me ou irma Ihes tragam a comida, Thes déem a roupa para trocar, etc. Cedo vao para o trabalho. BIBLIOGRAFIA ALAMBERT, Z. Os marnistas e a questi da mulher. In: Encontras com 2 Cvilizagio Brasileira, 26, Rio de Janciro 3(8) 1980, p. 105-125. ANTUNIASSI, M. Helena Rocha. O trabathador infantil e escolarizagio do meio rural, Rio de Janeiro, Zahat, 1983. 0 trabalho foliar na agricultura paliste, Botueat, 11983. Dissertagio (Livre-Docéncia) FCA/ UNESP. BARROSO, C. Mulher,sociedade« estato no Brasil. 580 Paulo, SP. UNICEE, Brasiliense, 1982, BATTAGLIOLA-BEDOS, F. Hominal, J. Les erties ov la vie ‘en miettes, Grenoble II CEREP-IREP, 1980, BERGER, M. L'urbanité des périurbains dle de France, de la diversité a la ségrégation, Les Annales do la recherche urbane 1991, n, 50. 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