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Porto Alegre - RS de 28 de novembro a 02 de dezembro de 2004

INTERAÇÃO ENTRE OS MECANISMOS DE ENDURECIMENTO NOS


AÇOS MICROLIGADOS*

Juno Gallego e Hans-Jürgen Kestenbach*


Departamento de Engenharia Mecânica, UNESP-Ilha Solteira
C. P. 31 - Ilha Solteira-SP, CEP 15.385-000, Brasil – gallego@dem.feis.unesp.br
*
Departamento de Engenharia de Materiais, DEMa-UFSCar, São Carlos-SP, Brasil

RESUMO

As propriedades mecânicas dos aços microligados são provenientes do efeito combinado entre
a adição de pequenas quantidades de elementos formadores de carbonitretos, como nióbio, titânio e
vanádio, com o processamento termomecânico controlado desses materiais. Deste modo o limite de
escoamento, por exemplo, pode ser interpretado como o resultado da ação de diversos mecanismos
de endurecimento como discordâncias, solução sólida, refino de grão ferrítico e precipitação de
carbonitretos. Embora existam modelos que expressem quantitativamente o efeito de cada
mecanismo, a dificuldade em se obter os parâmetros metalúrgicos necessários para a sua
determinação torna escassa a disponibilidade de dados experimentais na literatura. Neste trabalho
realizou-se a caracterização microestrutural de dois aços comerciais microligados ao vanádio,
utilizando-se microscopia eletrônica de transmissão como principal técnica de análise. Foi
determinada a densidade de discordâncias, assim como a fração volumétrica e o tamanho dos
carbonitretos, cuja origem foi identificada por difração de elétrons. Comparando-se os parâmetros
microestruturais obtidos neste estudo com outros resultados extraídos da literatura, pôde-se também
discutir a interação entre as contribuições dadas pelos diversos mecanismos de endurecimento e
como estas podem se relacionar com o limite de escoamento obtido experimentalmente. Os
resultados obtidos mostraram que a precipitação de carbonitretos em diferentes estágios do
processamento contribuiu efetivamente para incrementar o limite de escoamento, uma propriedade
mecânica que mostrou poder ser expressa quantitativamente pelo efeito cumulativo entre os
mecanismos de endurecimento investigados.

Palavras-chave: aços microligados, mecanismos de endurecimento, precipitação de carbonitretos,


microscopia eletrônica de transmissão.

INTRODUÇÃO

As propriedades mecânicas dos aços microligados são resultantes da interação entre os


diferentes mecanismos de endurecimento envolvidos. O refino de grão ferrítico é favorecido pela
precipitação de carbonitretos durante o processamento termomecânico industrial (DeArdo, 2001). O
endurecimento por precipitação é um mecanismo extensivamente explorado nesses materiais, no
qual as partículas bloqueiam, total ou parcialmente, a movimentação de discordâncias em seus
planos de deslizamento. Deste modo, esperam-se significativos aumentos de resistência mecânica
com a formação de carbonitretos durante ou após a transformação da austenita para ferrita
(Honeycombe, 1988).
Há décadas, modelos matemáticos tem sido desenvolvidos com o propósito que quantificar o
efeito causado por diversos parâmetros metalúrgicos sobre as propriedades mecânicas dos aços.
Pickering (1978a) explorou a importância da adição dos elementos de liga e do tamanho de grão
ferrítico d sobre o limite de escoamento “básico” (∆σo) de aços com baixo-carbono, que poderia ser
calculado por

 1,13 
∆σ o = 15,4 ⋅ 3,5 + 2,1 ⋅ Mn + 5,4 ⋅ Si +  (1)
 d

onde ∆σo é expresso em MPa; Mn e Si correspondem à % peso dos elementos e d deve ser usado
em milímetros. Para aços com médio teor de carbono a equação mais adequada seria (Pickering,
1978b)

 17,4   
∆σ o = fα1 / 3 ⋅ 35,4 + 58,5 ⋅ Mn + ( 1/ 3
)
 + 1 − fα ⋅ 178,6 +
3,8
 + 63,1 ⋅ Si (2)
 d   So 

onde fα corresponde a fração volumétrica de ferrita e So é o espaçamento interlamelar, expresso em


milímetros. O bloqueio à movimentação de discordâncias, causado por dispersões de partículas
incoerentes e de tamanho médio D [nm], promove um incremento de resistência ∆σp que pode ser
estimado quantitativamente pelo modelo de Orowan-Ashby (Gladman, 1997a)

f
∆σ p = 10800 ⋅ ⋅ ln(1,63 ⋅ D ) (3)
D

na qual f é a fração volumétrica dos carbonitretos. A contribuição das discordâncias ∆σd [MPa] ao
endurecimento dos aços microligados pode ser calculado pelo modelo proposto por Keh (1965)

∆σ d = 8,1 ⋅ 10 −4 ⋅ ρ (4)

onde a densidade de discordâncias ρ é expressa em cm-2.


No presente trabalho fez-se a determinação quantitativa dos mecanismos de endurecimento
em dois aços microligados comerciais, sendo um deles processado industrialmente como tira a
quente e o outro fabricado como barras para peças forjadas da indústria automobilística. Para
obtenção dos parâmetros microestruturais, técnicas de metalografia quantitativa foram empregadas
em amostras observadas por microscopia ótica e eletrônica (MET). Deste modo aspectos
metalúrgicos da estrutura ferrítico-perlítica, origem e tamanho dos carbonitretos identificados e
densidade de discordâncias foram investigados e a influência que estes parâmetros mostraram sobre
o limite de escoamento tem sido discutida neste texto.
MATERIAIS E MÉTODOS

No desenvolvimento deste trabalho foram utilizados dois aços microligados produzidos em


escala industrial, nos quais houve a adição de diferentes teores de vanádio. O aço identificado como
NbTiV foi fabricado pelo processamento industrial empregado para as tiras a quente, produtos
siderúrgicos que são comumente utilizados na manufatura de componentes estruturais que requerem
elevados níveis de resistência mecânica e tenacidade. O aço V é usado na fabricação de
componentes forjados para a indústria automobilística como, por exemplo, virabrequins. A
composição química desses aços é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1: Composição química dos aços comerciais investigados (% peso).

aço C Mn Si Nb Ti V N

NbTiV 0,137 1,38 0,25 0,041 0,044 0,031 0,0080

V 0,370 1,39 0,62 0,005 0,004 0,092 0,0130

O processamento industrial do aço NbTiV consistiu na solubilização da placa a 1523K,


seguindo-se uma seqüência de passes em laminador de desbaste. A laminação de acabamento foi
realizada em um trem de laminação com seis cadeiras, cujos passes ocorreram entre 1293 e 1168K e
resultaram em uma chapa com 3,2 milímetros de espessura. Após a saída do trem de acabamento a
chapa foi resfriada com jatos de água numa taxa de 10 K.s-1 até a temperatura de bobinamento
empregada (943K), seguindo-se o resfriamento da bobina ao ar. A solubilização do lingote do aço V
ocorreu a 1553K durante 7 horas, vindo a seguir a laminação de desbaste que originou um bloco com
seção quadrada de 180 milímetros. A laminação de acabamento, finalizada em temperatura próxima
a 1273K, resultou na obtenção da forma final do produto. Após o processamento termomecânico as
barras laminadas, cujas seções circulares possuíam diâmetro nominal de 89 milímetros, foram
resfriadas ao ar.
Os mecanismos de endurecimento atuantes nos aços NbTiV e V foram investigados na
condição laminada, utilizando-se amostras que foram preparadas para a caracterização mecânica e
microestrutural. As propriedades mecânicas foram estimadas por ensaios de tração e por medidas de
dureza Vickers, no qual a carga padrão empregada nos ensaios foi de 196 N. A preparação de
amostras para análise por microscopia ótica seguiu o procedimento tradicional, que consistiu no
desbaste até a lixa #600 e polimento final com alumina 0,3 µm. Para revelação da microestrutura dos
aços investigados empregou-se nital a 2%. Técnicas de metalografia quantitativa foram aplicadas
para a determinação do tamanho de grão ferrítico e da fração volumétrica da perlita. Para as medidas
do tamanho de grão usou-se o método do intercepto linear médio, no qual foram contadas as
interseções de linhas-teste retilíneas com os contornos de grão da ferrita (ASTM, 1991a). A estimativa
da fração volumétrica de perlita foi feita pela contagem de pontos de uma grade padrão, conforme
procedimento estabelecido pela norma ASTM E562 (ASTM, 1991b). Para as medidas realizadas foi
estipulado um limite de confiança estatístico de 95%.
Amostras de lâmina fina, empregadas para observação no microscópio eletrônico de
transmissão, foram elaboradas a partir de discos finos cortados de cilindros usinados com 3 mm de
diâmetro. A seguir os discos foram cuidadosamente lixados até se conseguir espessuras próximas a
50 µm. Para a obtenção de áreas finas foi realizado o polimento eletrolítico dos discos, no qual
empregou-se um equipamento adequado (Struers, modelo Tenupol 3). Bons resultados foram
verificados quando foi usado um eletrólito a base de ácido crômico resfriado a 288K, sob tensão de
50 volts para o aço NbTiV e 25 volts para o aço microligado V (Gallego, 2003). A precipitação de
carbonitretos foi caracterizada por difração de elétrons, técnica que permitiu determinar se as
partículas observadas haviam sido nucleadas na austenita ou durante a transformação de fase γ - α.
Com as micrografias conseguidas a partir das lâminas finas foi também possível determinar a
parâmetros como o tamanho e a fração volumétrica dos carbonitretos, a densidade de discordâncias
e o espaçamento interlamelar da perlita do aço V. A espessura das amostras foi estimada pela
técnica de contagem de franjas de espessura (Kestenbach e Morales, 1998), sendo a densidade de
partículas por unidade de volume Nv calculada por

N
Nv = (5)
A ⋅ (D + t )

onde N é o número de partículas, cujo diâmetro médio é D, que foram observadas sobre a área
projetada A da amostra com espessura t. A fração volumétrica dos carbonitretos fv foi determinada
pela expressão

π
fv = ⋅ Nv ⋅ D 3 (6)
6

RESULTADOS

O limite de escoamento é uma das principais propriedades mecânicas utilizadas na


engenharia. Nos aços microligados investigados esta propriedade mostrou ser o resultado da
interação entre diversos mecanismos de endurecimento, promovidos pelos variados fatores
metalúrgicos que serão apresentados a seguir.

CONTRIBUIÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DA MICROESTRUTURA

A microestrutura dos aços microligados NbTiV e V após o processamento industrial mostrou


ser constituída de ferrita e perlita, como pode ser constatado pelas micrografias apresentadas na
Figura 1. Em ambos os casos a morfologia da ferrita pró-eutetóide foi poligonal. Na Tabela 2 estão
indicados os valores experimentais de alguns parâmetros metalúrgicos, como o tamanho de grão
ferrítico (d), a fração volumétrica de perlita (fp) e o espaçamento interlamelar da perlita (λ), este último
estimado após a análise no microscópio eletrônico de transmissão. Ainda na mesma tabela estão os
valores do limite de escoamento (L.E.) e dureza Vickers (HV) medidos nas amostras preparadas.
Como foi destacado na introdução, equações empíricas tem sido desenvolvidas para expressar
o limite de escoamento “básico” ∆σo de aços comerciais. Aplicando os dados da tira a quente
apresentados nas Tabelas 1 e 2 na expressão (1) foi estimado em 402 MPa a resistência atribuída ao
tamanho de grão da ferrita e a composição química do aço NbTiV, valor correspondente a 67% do
limite de escoamento experimental. Analogamente o uso da expressão (2) permitiu avaliar em 426
MPa o valor de ∆σo para o aço V, cerca de 69% do valor experimental da propriedade mecânica.

Figura 1: Micrografias óticas apresentando a microestrutura ferrítico-perlítica observada nos


aços NbTiV (a) e V (b), revelada pelo ataque da superfície polida com nital a 2%. Aumento: 500 X.

Tabela 2: Parâmetros microestruturais e propriedades mecânicas dos aços investigados.

aço d [µm] fp λ [nm] L.E. [MPa] HV [MPa]

NbTiV 3,8 ± 1,0 0,125 ± 0,025 n.d. 600 2293

V 5,5 ± 1,2 0,602 ± 0,030 170 ± 25 620 2685

PRECIPITAÇÃO DE CARBONITRETOS NOS AÇOS MICROLIGADOS

A caracterização da precipitação de carbonitretos nos aços NbTiV e V só foi possível com um


extensivo trabalho de observação no microscópio eletrônico de transmissão. As análises realizadas
tanto na tira a quente quanto no aço para forjamento comprovaram que os carbonitretos foram
precipitados na austenita ou formados durante a transformação da austenita para a ferrita
(precipitação interfásica). Não foi observada a presença de partículas que poderiam ter sido
nucleadas devido à supersaturação da ferrita, o que seria confirmado se os carbonitretos
apresentassem as três variantes de Baker-Nutting na área analisada por difração de elétrons (Baker e
Nutting, 1959). Semelhantes resultados também foram observados em um trabalho congênere (Jian
et al, 1990).
A formação de carbonitretos na austenita do aço NbTiV mostrou ter ocorrido sobre sítios
preferenciais. Partículas mais grosseiras e esparsas, cujos tamanhos variavam entre 8 a 12 nm,
provavelmente tenham sido nucleadas em temperaturas elevadas durante a laminação de desbaste.
A laminação de acabamento promoveu uma intensa precipitação de carbonitretos, favorecendo a
nucleação devido à formação da subestrutura austenítica mas não o crescimento das partículas,
limitado pela menor temperatura. A grande concentração de partículas irregularmente dispersas
delineou o que seriam os antigos subcontornos de grão da austenita, como mostram os exemplos da
Figura 2. Os subgrãos não apresentam precipitação em seu interior, uma evidência da notória falta de
substratos (discordâncias) nessa região. A deformação da subestrutura austenítica durante os passes
de acabamento implicou no freqüente achatamento dos subgrãos, muitos dos quais mostraram
orientação com a direção de laminação (pancaking). A Tabela 3 sintetiza os aspectos quantitativos
relacionados à presença da precipitação na austenita observados nos aços sob investigação.

Figura 2: Micrografias em campo escuro geradas por feixes de elétrons difratados por
carbonitretos formados na austenita do aço NbTiV em (a) e do aço V em (b). Aumento: 100.000 X.

Tabela 3: Precipitação de carbonitretos na austenita.

Aço
Parâmetro
NbTiV V

Campos analisados (n) 14 10

Partículas observadas (N) 6486 2295

Diâmetro médio das partículas (D) [nm] 5,6 7,8

Densidade de partículas por unidade de volume (Nv) [µm-3] 7114 2308

Fração volumétrica das partículas (fv) 5,45 ⋅ 10-4 5,34 ⋅ 10-4

A observação de partículas distribuídas em fileiras regulares facilitou a identificação da


precipitação interfásica, devidamente comprovada por difração de elétrons – os carbonitretos
estavam orientados de acordo com apenas uma das variantes de Baker-Nutting (Davenport e
Honeycombe, 1971). Em alguns casos foi possível identificar uma outra forma de dispersão das
partículas, que apresentavam uma distribuição aleatória. A Figura 3 apresenta um interessante
exemplo onde é possível visualizar, em um mesmo grão ferrítico, ambas as formas de dispersão
características da precipitação interfásica (fileiras e aleatória). Os resultados da caracterização da
precipitação interfásica em grãos de ferrita são apresentados na Tabela 4 a seguir.

Figura 3: (a) Micrografia em campo claro mostrando grão ferrítico do aço NbTiV com
precipitação interfásica, cujas partículas estão dispersas tanto em fileiras (região superior à esquerda)
como aleatoriamente (região inferior à direita). As setas indicam a região de transição entre os
arranjos. O campo escuro em (b) apresenta o típico aspecto da precipitação interfásica em fileiras
visto no aço V. Aumentos de 125.000 vezes em (a) e 200.000 vezes em (b).

Tabela 4: Precipitação interfásica de carbonitretos.

Aço
Parâmetro
NbTiV V

Campos analisados (n) 12 17

Partículas observadas (N) 4882 10674

Diâmetro médio das partículas (D) [nm] 3,9 4,3

Densidade de partículas por unidade de volume (Nv) [µm-3] 17824 20270

Fração volumétrica das partículas (fv) 5,17 ⋅ 10-4 7,28 ⋅ 10-4

As contribuições da precipitação de carbonitretos ao endurecimento dos aços microligados


pode ser determinado pelo modelo de Orowan-Ashby, descrito pela equação (3). Considerando-se os
valores determinados para o tamanho e a fração volumétrica das partículas formadas pela
precipitação na austenita e interfásica (Tabelas 3 e 4, respectivamente) pôde-se estimar as parcelas
de endurecimento da ferrita para cada modo de precipitação, como mostra a Tabela 5. Embora não
tenha sido feito um estudo mais detalhado espera-se que um efeito semelhante seja esperado na
perlita, pois a precipitação de carbonitretos nas lamelas de ferrita da perlita foi identificada tanto no
aço NbTiV quanto no aço V (Gallego, 2003).
Tabela 5: Endurecimento por precipitação de carbonitretos, segundo Orowan-Ashby.

Endurecimento por precipitação [MPa]


Aço
Austenita (∆σγ) Interfásica (∆σIF)

NbTiV 100 116

V 80 130

EFEITO DAS DISCORDÂNCIAS SOBRE O LIMITE DE ESCOAMENTO

A densidade de discordâncias (ρ) na ferrita foi determinada pela técnica descrita por Ham
(1961), na qual era necessária a contagem do número de interseções entre linhas-teste paralelas e
as discordâncias. Deste modo foram utilizados para a análise 20 grãos ferríticos do aço NbTiV e 13
para o aço com médio carbono microligado ao vanádio. Para a tira a quente os valores de ρ variaram
entre 1,2 a 9,7 ⋅ 109 cm-2, sendo a densidade média estabelecida em 5 ⋅ 109 cm-2. Para o aço V as
estimativas realizadas estavam compreendidas entre 1,1 a 5,4 ⋅ 109 cm-2, com valor médio calculado
em 3 ⋅ 109 cm-2. A aplicação dos resultados acima ao modelo de endurecimento proposto por Keh
(1965), equação (4), permitiu estimar em 55 e 44 MPa o acréscimo ∆σd que seria proporcionado pelas
discordâncias ao limite de escoamento dos aços NbTiV e V, respectivamente.

DISCUSSÃO

A PRECIPITAÇÃO DE CARBONITRETOS APÓS O PROCESSAMENTO INDUSTRIAL

O processamento termomecânico aplicado ao aço NbTiV promoveu a precipitação de


carbonitretos na austenita. Embora a análise por difração de elétrons não tenha possibilitado verificar
a composição das partículas, é bem provável que os carbonitretos tenham sido constituídos
principalmente por nióbio, considerando-se a solubilidade do vanádio e a extensiva quantidade de
titânio (cerca de 60%) consumida na formação de eutéticos. A favor dessa suposição pode-se ainda
destacar que a precipitação de Nb(C,N) induzida por deformação ocorre intensamente no intervalo de
temperaturas onde os tratamentos termomecânicos são normalmente realizados (Hong et al, 2002). A
presença da precipitação de carbonitretos na austenita indicou que não houve recristalização na
etapa de acabamento da tira a quente, o que contribuiu eficazmente para o refino de grão ferrítico
observado e está em conformidade com o prognóstico dado por Boratto e colaboradores (1988).
Devido a sua maior solubilidade em relação ao titânio e ao nióbio, o vanádio possivelmente
teve um papel de destaque na precipitação interfásica observada no aço NbTiV, quando a nucleação
das partículas ocorreu na interface da ferrita recém transformada e o crescimento subseqüente tenha
se dado durante o longo resfriamento após o bobinamento a 943K. Neste caso haveria um
crescimento competitivo entre os carbonitretos formados anteriormente na austenita com aqueles
nucleados durante a transformação de fase. Tal comportamento, aliado a uma baixa quantidade de
sítios preferenciais para nucleação, daria uma explicação plausível para explicar a ausência da
precipitação de carbonitretos na ferrita supersaturada. Verificou-se também que o crescimento
competitivo não inviabilizou a ocorrência dos dois modos de precipitação dos carbonitretos
(austenita/interfásica) em um mesmo grão de ferrita (Gallego, 2003).
A precipitação de carbonitretos na austenita do aço V mostrou ser, qualitativamente, mais
grosseira e irregularmente dispersa que a correspondente encontrada na tira a quente, cuja causa
estaria associada à eliminação dos sítios para nucleação (subcontornos) pela recristalização da
austenita. O elevado teor de nitrogênio (130 ppm) na composição química do aço V promoveria a
formação de nitretos de vanádio, cuja solubilidade é inferior à do carboneto nas temperaturas típicas
de processamento termomecânico. Estima-se que aproximadamente 52% do total de vanádio
adicionado ao aço para forjamento tenha sido consumido na formação de VN, o que resultaria numa
fração volumétrica máxima de 7,9 ⋅ 10-4 .
Há muito tempo vincula-se a adição de microligantes aos aços comerciais com a precipitação
de carbonitretos coerentes na ferrita, que causariam um significativo o aumento de resistência
mecânica desses materiais (Morrison, 1963). Para este fim o vanádio seria o microligante mais
indicado para a formação de partículas coerentes, pois o desajuste cristalográfico (lattice mismatch)
destas com a matriz seria mínimo se comparado com os carbonitretos de nióbio ou titânio.
Considerando-se que a precipitação na austenita é reconhecidamente incoerente (DeArdo, 1998), a
investigação da coerência dos carbonitretos foi realizada sobre as partículas formadas pela
precipitação interfásica. Através da análise do contraste gerado pelas partículas no microscópio
eletrônico de transmissão, verificou-se que não haviam campos de deformação elástica associados
aos carbonitretos – ou seja, o tamanho das partículas em campo claro e escuro eram os mesmos – e
que a precipitação interfásica era, também, incoerente com a ferrita (Morales et al, 2003).

O EFEITO COMBINADO DA PRECIPITAÇÃO NA AUSTENITA E INTERFÁSICA SOBRE O


ENDURECIMENTO

Os cálculos do endurecimento por precipitação, estimados pelo modelo de Orowan-Ashby,


mostraram que a formação de carbonitretos na austenita e durante a transformação de fase γ - α teve
efeito significativo nos aços analisados. Entretanto pôde-se constatar que a utilização destes
resultados não deve ser feita diretamente sobre o limite de escoamento, que neste caso se tornaria
superestimado como mostra a Tabela 6.
Como destacado anteriormente, ambos os modos de precipitação mostraram ser incoerentes
com a matriz ferrítica. Neste caso seria descabido imaginar que uma discordância, movimentando-se
em seu respectivo plano de deslizamento, sofreria apenas o bloqueio causado pela precipitação
interfásica. Caberia aqui enfatizar que o acréscimo de resistência dado pelo mecanismo de Orowan-
Ashby considera apenas o espaçamento entre as partículas medido no plano de deslizamento, em
geral muito maior que a distância aparente mostradas geralmente nas precipitações interfásica e na
austenita. Na Figura 4 são mostradas indícios da interação entre os carbonitretos e discordâncias
(bowing), onde é possível verificar que a distância aparente (projetada) entre as partículas é menor
que o afastamento entre os pontos da discordância que foram “ancorados” pelos carbonitretos.
Tabela 6: Contribuições ao aumento do limite de escoamento dos aços NbTiV e V, calculadas
para os diferentes mecanismos de endurecimento.

Incremento [MPa]
Mecanismo de Endurecimento
Aço NbTiV Aço V

Contribuição dada pelo endurecimento “básico” (∆σo) 402 426

Contribuição dada pela precipitação interfásica (∆σIF) 116 130

Contribuição dada pela precipitação na austenita (∆σγ) 100 80

Contribuição dada pelas discordâncias (∆σd) 55 44

Efeito acumulado sobre o limite de escoamento (Σ ∆σi) 673 680

Limite de escoamento experimental 600 620

Figura 4: Micrografias em campo claro que mostram evidências da interação entre os


carbonitretos e discordâncias existentes na ferrita. Os aumento usados foram 300.000 vezes em (a) e
125.000 vezes em (b).

Deste modo, as discordâncias têm grande probabilidade de interagir efetivamente com uma
distribuição global de carbonitretos, que seria constituída pela reunião dos dois grupos de partículas
(austenita e interfásica). Esta consideração levaria a uma diminuição no espaçamento médio entre os
carbonitretos, que poderia ser calculada seria expresso por (Lapointe e Baker, 1982)

1 1 1
2
= 2 + 2 (7)
Lg Lγ LIF

onde Lg, Lγ e LIF são as distâncias entre carbonitretos média (ou global), na austenita e interfásica,
respectivamente. Se for multiplicado ambos os membros da equação (7) pelo produto (G ⋅ b)2, sendo
G o módulo de cisalhamento da matriz e b o vetor de Burgers, não será alterada a igualdade
(G ⋅ b ) 2 (G ⋅ b ) 2 (G ⋅ b ) 2
= + (8)
L2g L2γ L2IF

A expressão (8) acima significa que o efeito global da precipitação de carbonitretos seria resultante
de uma interação entre os modos de precipitação observados (austenita e interfásica), ou seja,

∆σ g = ∆σ γ2 + ∆σ IF2 (9)

Aplicando os resultados da Tabela 5 na equação (9) pôde-se estimar que a precipitação


“global” ∆σg tenha contribuído com o aumento de 153 MPa no limite de escoamento de ambos os
aços investigados.

A INTERAÇÃO ENTRE OS MECANISMOS DE ENDURECIMENTO

A Tabela 6 apresentou sumariamente as contribuições atribuídas a cada um dos mecanismos


de endurecimento envolvidos com os aços microligados. Através dela constatou-se que o limite de
escoamento do aço NbTiV estaria superestimado em 73 MPa (12%) se fosse considerado o efeito
acumulativo da precipitação na austenita com a interfásica, enquanto no aço V esta consideração
traria conseqüências semelhantes (limite de escoamento 60 MPa superior ao valor determinado
experimentalmente). Entretanto, verifica-se um excelente ajuste entre os limites de escoamento
calculado e medido se as parcelas da Tabela 6 referentes ao endurecimento por precipitação
(austenita e interfásica) forem substituídas pela contribuição dada pela precipitação “global”. Neste
caso o limite de escoamento calculado pelo efeito cumulativo seria 610 MPa para o aço NbTiV,
enquanto para o aço V o valor estimado para a propriedade mecânica seria 623 MPa – cálculos cujas
diferenças seriam inferiores a 2% do valor experimental do limite de escoamento.
Visando comparar os resultados conseguidos na análise dos mecanismos de endurecimento
atuantes nos aços NbTiV e V com outros aços microligados, efetuou-se uma busca de resultados
experimentais na literatura (Campos et al, 2001; Jian et al, 1990; Lapointe & Baker, 1982; Baker,
1983). São relativamente poucos os trabalhos que exploraram detalhadamente o assunto,
considerando as dificuldades experimentais envolvidas. A Figura 5 foi construída com base em
alguns dos dados coletados, sobre os quais foi considerado que o efeito de cada mecanismo de
endurecimento seria cumulativo e linear. A análise por regressão linear mostrou que a conformidade
entre os valores calculados e medidos do limite de escoamento foi muito satisfatória, considerando o
coeficiente de correlação estimado (0,91), de maneira que a propriedade mecânica analisada pode
ser fisicamente interpretada pela totalização dos mecanismos de endurecimento envolvidos.
Limite de escoamento calculado [MPa]
700 Referências
(Jian et al, 1990)
600 (Lapointe & Baker, 1982)
(Campos et al, 2001)
500 (Baker, 1983)

aço NbTiV
400
aço V

300

200

100

100 200 300 400 500 600 700


Limite de escoamento medido [MPa]

Figura 5: Compilação de resultados que mostram a boa conformidade entre o efeito da


interação cumulativo entre os mecanismos de endurecimento, que constituem o limite de escoamento
calculado, e o limite de escoamento medido em diversos aços microligados.

CONCLUSÕES

A análise dos diversos mecanismos de endurecimento envolvidos com o limite de escoamento


dos aços NbTiV e V levou às seguintes conclusões:
Somente dois modos de precipitação de carbonitretos, na austenita e interfásica, foram
identificados nas lâminas finas observadas por microscopia eletrônica de transmissão.
Carbonitretos formados na austenita e pela precipitação interfásica podem estar presentes em
um mesmo grão de ferrita, seja na tira a quente NbTiV ou no aço V.
A presença de vanádio, por si só, não determinou que com o processamento industrial fosse
obtida a formação de carbonitretos coerentes com a ferrita, apesar deste microligante possuir o
menor desajuste cristalográfico em relação ao nióbio e titânio.
O endurecimento por precipitação mostrou ser resultante de um efeito combinado entre a
formação de carbonitretos na austenita e a precipitação interfásica, o qual pode ser determinado
matematicamente pela equação (9).
O cálculo do limite de escoamento pode ser expresso pelo efeito cumulativo das contribuições
de cada um dos mecanismos de endurecimento, cujo resultado mostrou boa conformidade com o
limite de escoamento medido experimentalmente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a FAPESP, ao CNPq e a FUNDUNESP pelos apoios financeiros


concedidos e também as siderúrgicas COSIPA e VILLARES, que gentilmente cederam as amostras
dos aços microligados utilizados neste estudo.
REFERÊNCIAS

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INTERACTIONS BETWEEN STRENGTHENING MECHANISMS IN


MICROALLOYED STEELS

ABSTRACT

In present work a quantitative microstructural characterization in microalloyed steels was carried out.
For that two commercial microalloyed steels were used, being one of them a Nb-Ti-V hot strip steel
and the other was a medium-carbon V-microalloyed steel. Optical and Transmission Electron
Microscopy were used to reveal the ferrite grain structure, fine carbonitride precipitation and
dislocation substructures. Well-known microstructural models were employed to determine actual
strength contributions, in an effort to understand the major strengthening mechanisms that explain the
higher levels of yield strength. An important strengthening contribution was attributed to “global”
carbonitride precipitation which was formed by austenite and interphase particle distribution. It was
found that the cumulative effects of the calculations made from solid solution, grain size, dislocation
and “global” precipitation hardening showed excelent agreement with tensile testing results.

Key-words: microalloyed steels, strengthening mechanisms, carbonitride precipitation, transmission


electron microscopy.

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