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PEDAGOGIA INTERETNICA Manoel de Almeida Cruz Do Nucleo Cultural Afro-Brasileiro Salvador — BA pedagogia interétnica sur- iu em 1978, como resut tado de uma pesquisa so- bre relacdes raciais, leva- da 8 efeito pelo Departs- mento de Ciencias Sociais do Nacleo Cultural Afro- Brasileiro de Salvador, em colaboragio com a Uni versidade Federal da Ba- hia. Esta pesquisa, coor- denada pelos socidlogos Roberto Santos ¢ Manoel de Almeida Cruz contou, também, com a participa- G30 de estudantes de Ciencias Sociais da UFBa. ‘A referida investiga mostrou que o processo educacional (escola, familia, comunidade e meios de comunicago social) & © principal responsavel pela transmisséo do preconceito racial e que, s6 através do proceso educacional serd possival combaté-lo. Deste modo elaborou-se um sistema pedagdgi- co, a pedagogia interétnica, cujo objetivo é estudar e esquisar 0 etnocentrismo e 0 racismo transmitidos 74 Cad. Pesg. (63) nov. 1987 . pelo processo educacional (familia, comunidade, es- cola, sociedade global e meios de comunicaco so- cial) e propor medidas educativas para combaté-los. Ela se baseia na concep¢ao de uma linguagem total e pretende utilizar 0s meios de comunicago so- cial, 0 teatro, palestras, debates nas escolas e comu- nidades, a fim de explicar as causas e os efeitos ne- gativos do preconceito racial, do racismo e do etno- centrismo e, assim, criar uma nova escola que pres- tigie os valores culturais dos grupos étnicos do- minados. Métodos de combate ao racismo recomendados pela Pedagogia Interétnica Método Curricular: consiste na eleboragio de um curriculo escolar fundamentado na cultura e nos va- lores dos grupos étnicos dominados. Método Dramaterapéutico: indica a aco dramatica ‘como instrumento de combate ao racismo. A drama- terapia interétnica & inspirada na dramaturgia de J. Moreno e Brecht/ Boal. influenciar dielogica- mente na mudanca de atitudes preconceituosas, pautando-se em uma aco critica e transtormadora da realidade, em sintonia com a filosofia do teatro dialético e concreto que prevé a participacéo do es- pector. Questiona, assim, a problematica politica e existencial dos grupos étnicos dominados. ‘Método Comunicativo: recomenda a “propaganda” como veiculo de combate ao racismo. A “'propagan- da" interétnica se apdia em uma filosofia da comuni- ‘cago dialogical © emancipadora, requerendo, des- tarte, a co-participacao e 0 didlogo entre os sujeitos ‘comunicantes. O método comunicativo aconselha a utilizag3o de cartazes anti-racistas, filmes, slides, vi- deos, cartilhas, textos, palestras e demais meios de comunicagio social. Aspectos estruturais da Pedagogia Interétnica Aspecto Histérico: discute os fatores histéricos que condicionaram o desenvolvimento ou subdesenvolvi mento deste ou daquele grupo étnico, além de pro- Por uma reavaliagdo critica da historiografia dos gru- os étnicos dominados. Aspecto Culturolégico: trata do sistema simbélico e dos valores impostos pelo grupo étnico dominante sobre os grupos étnicos dominados. Aspecto Antrobiolégico: aborda as teorias da supe- rioridade racial e prope a sua desmistificagdo, difun- dindo as modernas teorias antropolégicas. Aspecto Sociolégico: aponta os fatores sécio- culturais que condicionam a marginalidade dos gru- pos étnicos dominados na estrutura global da so- ciedadi Aspecto Psicolégico: considera o complexo de supe- rioridade do grupo étnico dominante e o complexo de inferioridade © auto-tejeic3o do grupo étnico do- minado. ‘A aplicaco dos métodos de combate ao racis- mo deve ser articulada em consonancia com estes aspectos estruturais da pedagogia interétnica Procedimento Metodolégico da Pedagogia interétnica Procedimento Fenomenolégico: requer que o educa- dor e 0 pesquisador coloquem entre parénteses idéias preconcebidas, valores, teorias, enfim toda ganga preconceituosa que se tenha contra este ou aquele grupo étnico. Esta postura constitui o primet ro passo para a pesquisa e a aplicacao da pedagogia interétnica, capacitando assim o sujeito para o rela: cionamento simpatético ¢ compreensivo para com os outros grupos étnicos. E, de fato, uma tarefa dificil, mas no impossivel. Procedimento Dialético: reivindica uma postura criti- ca da realidade, possibilitando uma concep¢ao de Conjunto desta, assim como a percepeao das contra digSes, das transformacées e uma penetragdo na es- séncia dos fenmenos, principalmente, no caso da educagao que se constitui em um aparelho ideol6gi- co de Estado, segundo a defini¢Zo de Althusser, re- produzindo os valores e interesses da classe domi- ante. A Pedagogia Interétnica e a Realidade Nacional A educagio do negro © Brasil 6 fundamentalmente um pais de forma ‘980 pluriétnica e multicultural. Os grupos étnicos re- presentados pelo negro e pelo Indio ocupam posigio ‘subalterna em rela¢o ao grupo étnico dominante re- presentado pelo branco. Este é o senhor do pals, co- manda todo proceso politico econdmico e cultural, ditando as normas, valores culturais e filos6ficos, ‘sem considerar os valores dos demais grupos étnicos existentes no pais, resultando assim em um relacio- namento anti-dialogical, especialmente para com 0 negro e 0 indio. fica do negro como produtor ira, esta @ simplesmente consi- derada como primitiva e inferior, gerando, assim, ‘complexos psicologicos nos descendentes das etnias de origem africana. Entretanto, nos dltimos anos te- mos observado uma reagdo positiva contra 0 euro: centrismo, mormente na Bahia, com a revoluc3o estético-cultural levada a efeito pelos blocos afros e ‘afoxés. A juventude negra na Bahia assumiu novos valores e comportamentos, que se expressam na mo- da afro e na linguagem influindo, inclusive, no rela- cionamento interpessoal. 0 negro dos tempos atuais jé ndo tem mais ver- gonha de ser negro, ao contrério, orgulha-se de suas raizes africanas. Dai a necessidade da ado¢ao de um curriculo fundamentado na cultura e nos valores da comunidade afro-brasileira, que certamente traré ti- ‘mos resultados para esta tarefa de descomplexizagao do negro e do branco. Recentemente as entidades negras da Bahia e o Centro de Estudos Afro-Orientais — CEAO, depois de muitos anos de luta, consegui- ram que o Conselho Estadual de Educaco aprovasse a inclustio dos chamados “Estudos Africanos”” nos curriculos das escolas pablicas de 1? 2° grau; para- lelamente, quarenta entidades, dentre elas algumas negras, democraticas e progressistas, subscreveram um documento que foi entregue 20 secretario da Educagao e Cultura do Estado da Bahia Prof. Edval- do Boaventura, recomendando um curriculo escolar baseado nos valores da cultura negra e indigena; 0 Nicleo Cultural Afro-Brasileiro, por sua vez, mante- ve, até o ano de 1984, duas escolas na cidade de Sal- vador onde foi aplicada a pedagogia interétnica com éxito. Contudo, este projeto foi interrompido por fal: ta de recursos financeiros. ‘A educagao indigena A educacao do indio brasileiro & crucial, poden do até mesmo levar ao genocicio total das nagées in- digenas. Existe uma educacdo para 0 indio, pernicio- $3, que resulta em problemas de ordem politica ¢ ideologica, isto porque esta tarefa educacional fica, sempre, sob a responsabilidade de 6rga0s oficiais ¢ de missées religiosas. Os “‘educadores” atuam em conformidade com uma concepeao etnocentrista, ‘sem levar em considera¢ao 0s valores culturais do dio. Deste modo, s6 uma concepeao alternativa © humana da questo indigena, fundamentada no dié- logo, seré capaz de oferecer resposta positiva para esta problematica. A educacao para 0 indio deve, so bretudo, atuar como um complemento da educac’o indigena que se dé através do processo de socializa- ‘¢80 e nunca como um substituto da educacdo tradi- ional da sociedade indigena. AA pedagogia interétnica entende que paralela- mente & educac3o do indio deve haver, também, @ educaco do néo-indio, devido & existéncia do pre- conceito ant-indio e do etnocentrismo no interior da sociedade envolvente. Os integrentes desta socieda- de tém uma visio estercotipada do indio concebendo-o como preguicoso, feroz, barbaro e treigoeiro. Sem falar na visdo romantica da literatura de Gonealves Dias e de José de Alencar. Assim, 0 sistema educacional da sociedade envolvente deve introduzir nos seus curriculos matérias fundamenta- das nos valores da cultura indigena, além de efetuar campenhes de informaco ao publico sobre a real si. tuacdo sécio-cultural e existencial do indio. As reco- ‘mendagdes da pedagogia interétnica poderiam me: thorar as relacdes entre a sociedade nacional e a so- ciedade indigena, reduzindo desta forma, 0 etnocen- trismo @ 0 preconceito contra o indio, Finalmente, esta tarefa depende da participago Pedagogia interétnica 75 de todos os sotores democraticos e progressistas da sociedade envolvente. ConclusGo A grande meta da pedagogia interétnica € 0 re- conhecimento dos valores do homem enquanto membro deste ou daquele grupo étnico. O homem, quer seja ele dinamarqués, chinés, bororé ou hoten- tote, 6 portador dos mesmos valores fundamentais, dda mesma estrutura ontolégica e do mesmo destino. € 0 ser que pensa, sente, quer e intui, esta envolvido ‘no projeto semiético, produzindo e interpretando sig- nos e cédigos. Ele transforma a natureza construindo habitecdes, vasos, vestes, adomos, armas e compu- tadores. Formula as grandes indagacBes: Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Odeia e ama. Sente- se premido pela necessidade de se ligar a algo supe- rior a si mesmo, de transcender e optar. A partir des ‘sas perguntas ¢ problematizagBes, sem respostas s2- tisfatérias, ele elaborou a religiao, a filosofia, a ma- gia, o mito e a ciéncia. E continua indagando, perma- necendo o desafio. Portanto, o homem é o mais indigente dos ani- mais, isto porque ele pensa e tem a necessiade de penser para viver, enduanto 0 animal néo tem neces- sidade de pensamento. Estamos condenados a pen- ser, somos um ser desesperado e angustiado por nossa prépria culpa. Até agora foram edificadas teo- rias de toda ordem, mas nenhuma delas solucionou 0 problema da liberdade e do respeito & dignidade hu- mana como o da angistia existencial. Pensedores co- mo Kierkgaard, Sartre, Jaspers, Mounier, Heidegger € outros apenas se limitaram a diagnosticar a angus- tia do nada, do no ser. Nunca apontaram uma tera- Pia, para 0 que Hegel chamou de consciéncia infeliz Aliés, 0 proprio Kierkgaard indicou 2 {€ como solu- ¢80, que por si s6 no basta. Esses flésofos ociden- tais no caminharam muito em suas pesquises e es- peculagées estéreis, porque estavam marcados pelo etnocentrismo, pelo preconceito e pelos excessos ra- cionalistas, desconhecendo assim, em suas visées mitadas, @ grandeza do pensamento dos outros po- vos e etnias. Nada fizeram para 0 reencontro do ho- mem consigo mesmo. Este continua apegado, em domasia, confundindo-se com as coisas, ou melhor, coisificado, robotizado pela dinamica da sociedade de consumo, conjugando o verbo ter, nunca o ser. ‘As pessoas valem pelo que tém e representam, no pelo que so. Neste contexto, instala-se a falta de perspectiva, @ descrenca'nos altos ideais, em suma, 2 brutalizagio do espirito. O medo de ser, de assu- mir, uma existéncia auténtica, é terrivel. O pior, € que os meios de comunicacao ¢ o sistemas de-educ ¢80, responsiveis pela transmiss80 do patrimonio Cultural e respaldados pelo Estado, s8o os principais agentes estimuladores e disseminadores desse pro- ccosso de dissociago da personalidade ou de imbect lizago. N&o existe mais um relacionamento sadio do homem para com o homem, deste para com a natu- 76 Cad. Pesg. (63) nov. 1987 r0za © 0 infinito. A decadéncia é total, nao no sentido de Spengler. Ciéncia e técnica voltadas para a des- truipo do ser humano. Filosofia e religido justifican- do @ guerra e a rapinagem. A arte, por sua vez, pros- tituida, perdeu a sua finalidade estética, hoje visa apenas 0 lucro @ o status, servindo, também, a fins panfletérios. Com isso, no queremos ignorar a di- menso social da arte, é evidente. ‘Mas no somos pessimistas, sabemos que re- presentamos uma minoria consciente da realidade, portadores de uma cosmo vis8o, e de um pensamen- to critico, Queremos transformar, muito humana- mente, esse estado de coisas. Logo, a proposta da pedagogia interétnica € o reconhecimento e o desen- volvimento das potencialidades e dos valores deste ‘ente chamado homem, partindo de sua vivencia con- creta no mundo, O estar no mundo, conforme afirma Heidegger, engajado, isto porque o homem é um ser dependente dos outros entes, com os quais ele se re- laciona, possibilitando seu ser. (© mundo ocidental sempre se colocou no centro do universo, julgando-se senhor da verdade, atri- buindo a si a exclusividade do pensamento e da cul- tura. Hegel, em uma de suas obras, Introdugdo & His- t6ria da Filosofia, nega aos outros povos, a capacida- de de indagagdo filos6fica. Lembramos, também, de LL. Bridhl que no reconhece aos povos ditos primiti vos a capacidade légica de formulago do pensa- mento. Finalizando, a pedagogia interétnica, nao sei se exatamente & maneira da fenomenologia de Huser, esté preocupada e ocupada com a esséncia do ente humano, com a sua libertago total, no so- mente através da interpretaco da realidade, mas da sua transformacao radic SS REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ‘AZEVEDO, T. de. Cultura estuaeo racial no Brasil. io de Janet 10, Civlizaeio Brasiira, 186. BANTOM, M. A idsia do raca. Lisboa, Edigdes 70, 1979. BOAL, A. Teatro do oprimido ¢ outras posticas. Rio de Janciro, ‘Cniizagio Brasileira, 1980. BRECHT, B. Estudos sobre teatro, Rio de Janeiro, Nove Frontera, 1978, GADOTT, M. Concepedo dalética da educardo. Sko Paulo, Cor- 12, 1984, HEGEL, J.W.F, Itroduréo & Historia de Filosofia. 204. Ed. Arme- nig Amado, 1952. HEIDEGGER, M. (EG). Ser ye! tempo. México, Fondo de Cultura Econdmico. 1968 HIRSCHBERGER, J. Historia de Filosofia, Sto Paulo, Herder, 1987. 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