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ISSN 0103-1538
RESUMO
A proposição de uma investigação do percurso histórico das proposições de viabilidade metodológica dos conteúdos escolares
da Geomorfologia no Brasil pretende propor uma História da Didática da Geomorfologia Escolar ou uma História da
Metodologia do Ensino da Geomorfologia Escolar, contribuindo para a História da Geografia Escolar e para a História da
Geomorfologia Escolar. A pesquisa sobre o ensino dos conteúdos escolares da Geomorfologia na educação básica tem
apresentado uma perspectiva desafiadora. Pinheiro (2005) em um levantamento das 317 dissertações e teses produzidas no
Brasil entre os anos de 1967 e 1993, somente encontrou 03 dissertações em que o tema principal era o ensino da
Geomorfologia ou do relevo. Há uma diferenciação entre os termos relevo e Geomorfologia nos processo escolares da
educação básica. O primeiro está relacionado ao fato de que alguns autores trabalham com os processos de cognição e
representação gráfica e cartográfica do relevo associados entre outros fatores a compreensão da altitude (representação
altimétrica, hipsométrica e topográfica) em estruturas tridimensionais e bidimensionais, na maioria das vezes associados à
Cartografia Escolar. A segunda diz respeito à explicação e classificação das formas e processos associados inclusive a sua
expressão escalar. O projeto de pesquisa pretende inventariar, classificar e analisar as proposições metodológicas para o ensino
do relevo. A fonte para compor esta trajetória: os livros de didática especial que contenham proposições de conteúdos de
Geografia e Geociências. O intervalo temporal das fontes abrange a segunda metade do século XVIII até o ano de 2008, sendo
o inicial associado aos primeiros livros ou “manuais” de Didática Especial editados no Brasil e o final à data de submissão do
projeto de pesquisa. A pesquisa abrange o maior número possível de livros de Didática Especial. As sugestões propostas por
estes livros serão classificadas e contextualizadas com as suas possíveis relações com as legislações de ensino, correntes
pedagógicas, ambiente político, influências institucionais, ação de atores políticos e/ou intelectuais e transposições de teorias
e/ou sistemas teóricos da Geomorfologia, da Geografia, da Geografia Escolar, das Geociências e de outras áreas. Os objetivos
propostos compreendem a constatação e análise comparativa (exclusão, inclusão e a alteração) na ocorrência de diferentes
temas (conteúdos, proposições metodológicas, uso de imagens, formas avaliativas, relacionados à Geomorfologia e ao relevo.
Além disso, uma das consequências da pesquisa é a ressignificação das possibilidades educativas do relevo e da
Geomorfologia na formação humana de crianças, adolescentes e adultos.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Geomorfologia, História da Geografia Escolar, História das disciplinas Escolares, Ensino de
Geografia, História da Geomorfologia Escolar.
1 Trabalho apresentado no Simpósio de Pós-Graduação em Geografia- SIMPGEO. Santa Maria, maio 2009.
2 Mestre em Geografia/UFSC, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia UFSC, Professor do Departamento de Teoria e Prática de
Ensino (UFPR)
3 Orientador, Prof. Drº. do Programa de Pós Graduação em Geografia/UFSC
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avaliativas;
- constatar e analisar a evolução (exclusão,
O CONTEXTO E A INTENÇÃO DO ARTIGO inclusão, alteração) nas sugestões de atividades;
- constatar e analisar a evolução (exclusão,
O artigo divulga o projeto de pesquisa, em fase inclusão, alteração) da terminologia (conceitos);
inicial, apresentado ao curso de doutorado Programa - constatar e analisar a evolução (exclusão, inclusão,
de Pós-Graduação em Geografia da Universidade alteração) das finalidades da Geomorfologia e do
Federal de Santa Catarina. A investigação insere-se na relevo nas atividades humanas;
linha de pesquisa Geografia em Processos Educativos - sistematizar as referências citadas e sugeridas;
do referido programa. A expectativa é dialogar com a - propor uma categorização para as formas
comunidade acadêmica e receber sugestões e críticas metodológicas de ocorrência dos conteúdos escolares
em relação a, entre outras, a temática, fontes e da Geomorfologia;
abordagem conceitual e teórica. - compilar e propor uma classificação,
principalmente da produção acadêmica brasileira e de
forma complementar da produção estrangeira sobre
TEMA E PROBLEMÁTICA ensino escolar do relevo/Geomorfologia.
REVISÃO DA LITERATURA
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
A DIDÁTICA ESPECIAL OU METODOLOGIA DO
- constatar e analisar a evolução (exclusão, inclusão, ENSINO DE CONTEÚDOS ESPECÍFICOS5,6
alteração) na seleção de conteúdos relacionados ao
relevo/Geomorfologia; Na investigação científica, opera-se a produção de
- constatar e analisar a evolução (exclusão, conhecimentos; no processo de ensino, o aluno
inclusão, alteração) no uso de imagens (mapas, aprende e contrasta fenômenos, conceitos, habilidades
plantas, blocos-diagramas, fotos, fotos aéreas, e atitudes, a partir dos conteúdos, que aparecem na
imagens de satélite, desenhos, etc.); vivência escolar e cotidiana, através da metodologia
- constatar e analisar a evolução (exclusão, do ensino. Portanto, a metodologia científica
inclusão, alteração) nas proposições de formas normatiza e instrumentaliza a investigação do
conhecimento. A metodologia do ensino viabiliza ao
4 Há uma diferenciação entre os termos relevo e Geomorfologia nos processo escolares da educação básica. O primeiro está relacionada ao
fato de que alguns autores trabalham com os processos de cognição e representação gráfica e cartográfica do relevo associados entre outros
fatores a compreensão da altitude (representação altimétrica, hipsométrica e topográfica) em estruturas tridimensionais e bidimensionais, nas
maioria das vezes associados à Cartografia Escolar. A segunda diz respeito à explicação e classificação das formas e processos associados
inclusive a sua expressão escalar.
5Item elaborado a partir de vários autores (CARVALHO, 1999; CARVALHO, 2006; BOULOS, 1994; CARNEIRO & CARNEIRO, 2002;
NUNES, 1992).
6 A Resolução CNE/CP 01/2002 no seu inciso IV do artigo 5º, usa o termo “didáticas específicas”.
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7 BOULOS, Y. Didática Geral ou Especial. In: PICONEZ, S. T. B. et al. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus,
1994. p. 98.
8 Elaborado e adaptado a partir de CARVALHO (1999) e CARVALHO (2006).
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livro didático na educação básica consiste em destinar- adaptação de uma sala ambiente e/ou laboratório
se a ser utilizado pelo aluno, na maioria dos casos, escolar.
como principal fonte dos conteúdos ministrados pelo Esses tópicos representam os principais temas que
professor. aparecem nos manuais de metodologia do ensino, mas
Para caracterizar os livros de metodologia do isso não significa que todos devam estar presentes
ensino de conteúdos específicos ou de didática neles. Eles podem conter vários desses tópicos, mas
especial, citam-se vários assuntos, que devem estar devem conter pelo menos algumas das características
vinculados a uma disciplina e/ou conjunto de enumeradas nos itens g), i) e q). Conclui-se que, em
disciplinas. Esses assuntos, listados a seguir síntese, a definição básica de manual de metodologia
constituem o teor principal destas publicações: a) do ensino deve contemplar, no mínimo, sugestões
finalidade escolar do ensino de determinado conteúdo, metodológicas (métodos e técnicas de ensino, uso e
disciplina ou conjunto de disciplinas; b) métodos e elaboração de recursos didáticos etc.), para
técnicas de ensino utilizados em todas as disciplinas e determinada seleção de temas e/ou conteúdos
os adequados a uma disciplina ou conteúdo escolares. Alguns manuais contêm sugestões
específico; c) sugestões de bibliografia geral e metodológicas para um único conteúdo ou tema, tais
especializada e de multimeios (livros, discos, fitas de como representação cartográfica, geometria ou
áudio e vídeo, slides, softwares, sites e listas de astronomia. Uma caracterização de quais seriam os
discussão etc.), que podem vir seguidos de conteúdos necessários para um manual de
comentário, resenha ou avaliação; d) formas para metodologia do ensino abrangeria todos os itens
acessar a fontes de informação: fornecedores de listados; porém, os manuais são elaborados a partir da
recursos didáticos, auxílios pedagógicos, subvenções opção do autor, que determina diferentes finalidades e
financeiras, eventos, cursos de atualização, cursos de tipos de usuários para a sua publicação, os quais
pós-graduação, embaixadas, anuários, instituições de podem variar em relação aos níveis, modalidades,
ensino superior e médio, censos, repartições públicas, séries e habilitações profissionais, temas, conteúdos
organizações não governamentais, sindicatos e ou disciplinas. Então, é preciso definir quem são os
associações de classe, associações científicas etc.; e) seus principais destinatários e em que circunstâncias
avaliação da aprendizagem formal do conteúdo; f) usam o manual de metodologia do ensino. Enumeram-
avaliação da aprendizagem (conteúdo, habilidades, se alguns deles: a) professores que ministram
atitudes, conscientização etc.); g) sugestões de disciplinas nos cursos de licenciatura; b) professores
atividades (exercícios, jogos, excursões e aulas de que atuam nas disciplinas de prática de ensino,
campo, visitas orientadas etc.); h) uso e produção de instrumentação para o ensino e metodologia do
recursos didáticos; i) viabilidade teórica e ensino de conteúdos específicos nos cursos de
metodológica de conteúdos (relação entre a teoria licenciatura, magistério (normal), cursos adicionais ao
educacional e/ou conhecimento científico e a magistério; c) professores vinculados aos cursos de
metodologia do ensino de conteúdos específicos); j) pós-graduação lato sensu (aperfeiçoamento e
processo de ensino-aprendizagem (adequação dos especialização) e pós-graduação stricto sensu
conteúdos às diferentes faixas etárias e características (mestrado e doutorado), com área de concentração e
dos alunos); k) história escolar da disciplina; l) linhas de pesquisa voltados para o ensino; d) alunos
história da educação (através da contextualização com dos cursos de licenciatura, e dos cursos de pedagogia,
a disciplina escolar); m) história e/ou história da psicologia e magistério (ensino normal), e cursos
ciência da disciplina científica ou escolar, e sua adicionais; e) pedagogos, psicólogos e outros
relações com a disciplina escolar correspondente; n) profissionais que atuam no apoio aos processos de
análise e roteiros de atividades com livros didáticos e ensino-aprendizagem.
propostas curriculares; o) epistemologia geral e Seria importante, também, classificar os manuais
epistemologia da (s) disciplina (s) científica (s) de metodologia do ensino quanto à finalidade ou
correlata (s) com a disciplina escolar (conceitos, conteúdo. Enfatizar-se-á os manuais de metodologia
categorias, métodos), e a interação entre elas; p) do ensino utilizados na educação básica,
proposições de conteúdos e/ou sugestões de temas classificáveis nas seguintes categorias: a) por nível de
(para diferentes séries, níveis, habilitações e ensino9: educação infantil, ensino fundamental10,
modalidades); q) elaboração e sugestões de planos de ensino médio; b) modalidade de ensino: educação
ensino; r) formação profissional inicial e continuada básica, educação de jovens e adultos, educação
do professor; s) organização, construção e/ ou especial; c) habilitação¹¹: magistério (ensino médio)
9 Trata-se do nível ou níveis de ensino ao qual o autor do manual de metodologia do ensino propõe sugestões metodológicas.
10Os manuais utilizados para o ensino fundamental geralmente não abordam as proposições metodológicas relativas a todas as séries, mas
são segmentados em manuais para as séries iniciais e para séries finais. As proposições para as séries finais podem ocorrer junto com as
proposições para o ensino médio.
¹¹ Trata-se de manuais elaborados para usuários específicos, que são os alunos e os professores dessas habilitações
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TEMAS AUTORES
¹² Exemplo de guia para o uso de atlas, com sugestões sistemáticas para o uso e a contextualização dos mapas em relação ao conteúdo das séries
escolares, é o Guia metodológico para o atlas escolar, publicado pelo Ministério da Educação e Cultura, através da Fundação Nacional de Material
Escolar (FENAME). Em 1973, já contava com seis edições, sempre revisadas e atualizadas.
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Considerações sobre o relevo nos livros didáticos e propostas CARVALHO (1998) ROSS (1985)
curriculares
JATOBÁ (1996)
Ensino do Relevo e trabalho de campo SANTOS (1999a)
SANTOS (1998)
Proposições metodológicas para o ensino do relevo no ensino AB’SÁBER (1975 a) AB’SÁBER (1976)
médio
AB’SÁBER (1975 b) ARCHELA (1998)
AB’SÁBER (1975 c)
METODOLOGIA
A pesquisa terá como fonte amostral os livros de didática especial de conteúdos de Geografia listados no
quadro 2. Esta lista será complementada com outros livros e com os “manuais de lições de coisas”¹³ , editados a
¹³ Há um conceito de “lições de coisas”, no glossário organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no
Brasil” (HISTEDBR) da UNICAMP, no link: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_licoes_das_coisas.htm
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partir do início do século XVIII, no mundo e no ou locais (sites, filmes, animações, bibliotecas,
Brasil. Inserimos as imagens das capas de alguns dos acervos virtuais (fotos), softwares, videogames, etc.
livros de didática especial. Coletaremos dados sobre a A tabulação dos dados, em princípio, obedecerá a
forma e frequência de ocorrência do tema relevo, nos ocorrência cronológica, na tentativa de encontrar uma
seguintes ocorrências: a menção intencional ou não evolução na sucessão de incorporações teóricas,
intencional de termo vinculado ao relevo (declive, metodológicas e conceituais.
topo, colina, erosão, depressão, expressões Visando facilitar a consecução do projeto,
toponímicas, etc.); imagens (figuras, fotos; croquis; elaboramos uma sugestão temática da sistematização
tabelas; mapas, croquis, fotografias aéreas, etc.); das leituras a serem realizadas: a) História da
glossários; menções a relação entre relevo e temas de Educação; b) História das Disciplinas Escolares; c)
Geografia Física, Geografia Humana e outros temas História da Geografia Escolar; d) História da
escolares; bibliografia citada e bibliografia geral; Geografia; e) Teoria e História da Geomorfologia e
processo de ensino-aprendizagem; avaliação; das Geociências; f) História Legislativa da Educação;
sugestões e roteiros para a elaboração de recursos g) Didática de Geografia; h) Didática de Geociências.
didáticos; indicação de diferentes mídias e instituições
CALKINS, N. A. (Trad.: Rui Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso 186112, 188613 BRASIL
Barbosa) dos paes e professores. (Veja fig. 1). e 195014
GRAVES, N. (ed.) New UNESCO sourcebook for teaching geography 1982 INGLATERRA
MARTINS, C. T. (Superv.) Manual do Professor Primário do Paraná. (Veja fig. 5) 1963 BRASIL
OLIVEIRA, M. H. C.; Didática de Estudos Sociais: como aprender, com ensinar. 1990(5ªed) BRASIL
MONTEIRO, E. S.
PANNUTI, M. R. V. Estudos Sociais: uma proposta para o professor. 1976 BRASIL
PORTELLA, R.; CHIANCA, R. Didática de Estudos Sociais. (Veja fig. 3). 1997 PORTUGAL
M. B.
PROENÇA, A. F. Como se ensina Geographia 1 s/d 193? BRASIL
RUA, J et al. Para ensinar Geografia: contribuição para o trabalho com o 1º e 2º 1993 BRASIL
graus
UNESCO (BROUILETTE, B., Manual da UNESCO para o ensino da Geografia. (Veja fig. 2) 1951 17 PORTUGAL
Org.) 1978 18
UNESCO (GRAVES, N. J. New UNESCO source book for geography teaching 1982 INGLATER
Editor) RA