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Olhar a paisagem urbana de Indaiatuba

Adriana Carvalho Koyama

A Cidade Planejada

Almeida Jr. registrou, em seu quadro As Lavadeiras, um caminho de terra subindo uma colina
sinuosamente, margeado por árvores e uma pequena casa de pau-a-pique. Ao pé do morro, um
riacho é o ponto de encontro das mulheres que trabalham lavando roupas. Esse quadro poderia ter
sido pintado perto da ponte do córrego Belchior, que fornecia a água para a freguesia de Indaiatuba
_há mesmo quem afirme que o foi.

Caminhos que seguem sinuosos as curvas de nível até o alto da


colina, onde se ergue uma Igreja, são característicos das antigas vilas
paulistas do período colonial. Com o tempo transformaram-se em
ruas, não raro atravessando a cidade em busca novamente da estrada.
Em torno desses caminhos sinuosos as vilas coloniais vão se
acomodando.

A vila de Indaiatuba, a partir desses poucos caminhos iniciais,


cresceu já com um traçado urbano geométrico, cuja origem liga-se a
experiências portuguesas de planejamento urbano dos séculos XVII
e XVIII. Já na fundação de Vila Boa de Goiás, de M ariana e de
Paranaguá, para ficarmos nos exemplos de cidades do centro-sul, o
planejamento foi fundamental: ruas retas, “traçadas a cordel”, com seus largos públicos
demarcados, queriam atrair pela lei e pela
beleza as populações, para que vivessem
em “povoações civis” e não errassem pelos
sertões.

O governador da província de São Paulo no


período pombalino, M orgado de M ateus,
ordenou que as vilas criadas sob seus
auspícios fossem não apenas pontos de
reunião de moradores, mas que
ostentassem toda a sofisticação urbana e
ordem de seu tempo. Segundo ele,

uma das coisas de que os países mais adiantados costumam cuidar atualmente é da simetria
e harmonia das edificações que estão surgindo em cidades grandes e pequenas, de modo
que, da sua aparência, resulte não só o conforto público, mas também o prazer, com os
quais as aglomerações se tornam mais atraentes e apropriadas, sabendo-se da boa ordem
com que essas edificações são dispostas, da disciplina e cultura de seus habitantes.
O planejamento urbano no século XIX no quadrilátero do açúcar

Lisboa reconstruída após o terremoto de 1755: o novo traçado ortogonal da parte baixa convive com os sinuosos bairros medievais.

Em nossa cidade o planejamento urbano é resultado dessa visão urbana. Ao mandar fundar
Campinas, M orgado de M ateus ordenou que seu traçado fosse feito geometricamente. De acordo
com Antônio da Costa Santos, o traçado regular, quadriculado e de equivalência dimensional do
rossio de Campinas é exemplo da obra técnica e estética também presente na construção da Lisboa
Pombalina, objeto do debate urbanístico do projeto iluminista em Portugal.

Rossio de Campinas e arredores

Encontramos um traçado semelhante na freguesia de Indaiatuba.


A urbanização da paragem de Indayatuva.

No final do século XVIII, no início do povoamento do bairro de Indaiatuba, os irmãos Pedro


Gonçalves M eira e Joaquim Gonçalves Bicudo, herdeiros da sesmaria do Pau Preto, fizeram um
engenho, já desaparecido, na confluência dos córregos Belchior e Barnabé, e muito provavelmente,
também o Casarão no espigão do morro, com fachada para a face Leste e largo no sentido Norte-
Sul. Ao mesmo tempo, em 1807, Pedro Gonçalves começou a construir a Igreja M atriz, posicionada
a uma quadra dali, também com fachada para a face Leste. Podemos perceber o arruamento do
centro antigo começar a delinear-se, já nessas duas construções, perfeitamente perpendiculares.

Na primeira
metade do século
XIX, João de
Campos Bicudo,
filho de Joaquim
Gonçalves
Bicudo, foi
provavelmente o
responsável pela
continuidade do
arruamento da
freguesia,
seguindo à risca o
projeto
racionalista
pombalino, bem
visível ainda hoje,
no desenho do
centro antigo da
cidade.

F.Nardy Filho
descreve as ações
de João de
Campos Bicudo1:
Não teve ele
estudos
especializados,
mas se distinguiu
como agrimensor
e mecânico sendo
procurado como
bom medidor e
divisor de terras
pelos fazendeiros
e sesmeiros
daquele tempo;

1
JOÃO DE CAMP OS BICUDO
Filho de Joaquim Gonçalves Bicudo [que foi irmão de P edro Gonçalves Meyra] e de sua 2a mulher Anna Maria de Campos, nasceu
João de Campos Bicudo no ano de 1805. Em 1825 era o 1.o sargento da 3.a companhia do Regimento de Ordenanças da Vila de Itu.
foi ele quem fez o arruamento de Indaiatuba fundado por seu pai e naquele tempo ainda
conhecido pelo nome de Capela de N. Senhora da Candelária dos Cocaes; tão bem fez ele o
arruamento e nivelamento dessas ruas, que as mesmas se apresentam todas iguais em sua
largura e muito bem delineadas. 2

Essa descrição se confirma pelo traçado urbano do centro antigo de Indaiatuba, ainda existente.
Em 1863, o primeiro código de posturas da vila de Indaiatuba consagra esse modelo, que irá
conduzir o crescimento da cidade até a segunda metade do século XX.

Quando chega a ferrovia, no início do século XX, a paisagem é ligeiramente alterada, mas o plano
ortogonal resiste. A paisagem urbana naquele momento poderia ser definida pelas palavras de
M urilo M arx em Cidade Brasileira :

...cidades com um centro de negócios alongado entre a matriz e a estação, galgando suaves
encostas, revelam a implantação característica entre as águas de um rio e o aço duns trilhos.

Planejamento para o início do século XXI

Indaiatuba em 1940, vista aérea.

O traçado “a cordel” do século XIX guiou a expansão urbana da cidade até os anos sessenta, quando
o arquiteto e planejador Jorge Wilheim fez um novo projeto urbanístico para Indaiatuba, seguido até
o início da década de 80.

2
. Esse texto é parte de um artigo de F.Nardy Filho publicado no jornal O Estado de São Paulo em 7-9-1952, transcrito por Nilson
Cardoso de Carvalho a partir de uma cópia de Zeca Bicudo.
No entanto, com o crescimento da região entre os anos 70 e 80, o planejamento urbano da cidade
viveu um momento crítico, principalmente em conseqüência da expansão desordenada da região
sul, que culminou com a criação do loteamento da M orada do Sol. Como resultado, uma nova área
urbana, do mesmo tamanho da cidade já existente, surgiu em poucos anos, isolada na zona sul, com
acesso precário ao centro antigo da cidade, como vemos no mapa abaixo (a via de acesso está
marcada em vermelho).

Essa situação só se equacionou graças à intervenção proposta pelo urbanista Ruy Ohtake, em seu
projeto de plano diretor para a cidade. Os eixos centrais de sua proposta urbanística foram a criação
do Parque Ecológico, em torno do córrego Barnabé (no mapa, em verde), e a delimitação, no núcleo
urbano mais antigo, de uma Zona de Interesse Histórico. Este zoneamento, seguindo propostas
contemporâneas de preservação da paisagem construída, proibia a expansão vertical do centro
desenhado entre o século XIX e a primeira metade do século XX (lei 4066/2001). O resultado desse
belo projeto urbanístico foi um ordenamento da expansão subseqüente, que manteve a beleza da
paisagem urbana de Indaiatuba relativamente preservada, apesar do rápido crescimento da cidade,
com civilidade e qualidade de vida.

Loteamentos populares dos anos 80

Córrego Barnabé

Núcleo
inicial de
ocupação
da cidade

Área urbana
aproximada nos
distrito industrial anos 70
Parque Ecológico , aspecto da paisagem no bairro M orada do Sol.

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