Sie sind auf Seite 1von 8
REFLEXOES SOBRE OS PARADIGMAS DA PROFISSAO CONTABIL Carlos Alberta Serra Negra Professor e Pesquisador do ICMG Pretende o presente texto efeluar uma visto historica e analitica dos prineipais padrées de comportamento de cigncia que nortearam a atividade dda profissdo contébil Utilizando-se para esta exposigtéo 0 conceito de paradigma proposto por Tohmas 8. Kuhn, comseguimos tragar um quadro referencial entre os modelos profissionais que predominaram por toda a historia da citneia contdbil, da pré-histéria aos nossos dias Concluimos com a indicagio de um novo paradigma que, or certo, norteard o présimo milénio. Contab, Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 40-47, mar. 1999 1 INTRODUCAO Dificilmente alguém que fosse escrever so- bre qualquer profisséo néo estaria tentado a co- megar pela fabula do pedreiro. Conta esta estéria que um homem vendo dois pedreiros trabalharem perguntou-Ihes o que faziam. O primeiro respon- deu que estava colocando tijolo sobre tijolo inter- ligados por uma argamassa; jé 0 outro, para seu espanto, respondew-Ihe: estou construinds uma Catedral! Esta situagdo leva-nos a refletir sobre qual 6a viséo que temos de nossa profisséo. Na maioria das vezes as pessoas ficam numa situagéo dual sobre este processo visiondrio da profisséo, En- quanto uns possuem a visdo da profissao em ter- mos de processo (0 que e como se faz), outros possuem a viséo de resultado (para que se faz). A profissio contabil, é sem divida nenhu- ma, uma das mais antigas da terra, tanto quanto os matematicos e os astrénomos. Esta constata- do foi feita por Sé (1997, p. 12). “A Histéria da Contabilidade, pois, per- corre milénios, participando das diver- sas modificagées sobre o uso da riquezae dos recursos sobre os meios de registros. O aparecimento das cidades, a estrutura dos Estados, do Poder Religioso, o surgi mento da moeda, a concentragéo de ri- quezas, a diviséo do trabatho, o dominio dos mares, a expansdo comercial, a Revo- lugo Industrial, a descoberta do papel, a revolugao cientifica, a informatica, to- dos esses fatores alteraram e continuam alterando a histéria dessa ciéncia do pa- triménio”. Da mesma forma que na estéria, cada pro- fissional contabil define sua profissdo de um modo diferente. Alguns véem nela apenas o seu lado de proceso, julgado-a como uma mera técnica, ou- tros a véem como resultado, julgado-a, como me- rece, como ciéncia. Como nao havia de ser diferente a finalidade principal da atividade da profisso contabil tam- bbém teve que passar por diversas fases, alterando suas crengas e valores, modificando seus servigos para atendimento.aos seus clientes. Sao estas vi- ses que haveremos de efetuar algumas reflexdes, 2 CONCEITOS E RELACOES SOBRE PARADIGMAS O coneeito de paradigma aplicado as Cién- cias foi proposto na obra “A Estrutura das Revo- lucdes Cientificas” de Thomas 8. Kuhn quando esbogava sua tese de Histéria da Ciéncia. Ele se defrontava com problemas relativos as diferengas metodolégicas, comportamentais e epistemolégi- cas entre as comunidades cientificas. A tentativa de descobrir a fonte dessa diferenga levou-o ao reconhecimento do papel desempenhado na pes- quisa cientifica por aquilo que chamou de “para- digmas”. Considera Kuhn (1997, p. 13) como paradig- mas: 4 “as realizagées cientificas universalmen- te reconhecidas que, durante algum tem- po, farnecem problemas e solucdes mode- lares para uma comunidade de pratican- tes de uma ciéncia” Deste amplo conceito se verificou uma série de inter-relagdes que esbogam particularidades da construgao sine qua dia deste modelo. Alguns dos quais se encontram abaixo especificados. No seu uso estabelecido, um paradigma é um modelo ou padréo aceito. Dessa forma pode- mos determinar que os primeiros paradigmas es- taveis do homem surgiram na pré-histéria com a ‘Matematica, a Astronomia e a Contabilidade. Quando um cientista ou profissional consi- derar algum paradigma como certo, nao tem mais necessidade, nos seus trabalhos mais importan- tes, de tentar construir seu campo de estudos a partir das premissas basicas ¢ justificar o uso de cada conceito introduzido. Nesta explicacdo 0 pa- radigma funciona ao permitir a reprodueso de exemplos, Os paradigmas forgam a comunidade cien- tifica ou profissional a rejeitar uma teoria ante- riormente aceita em favor de uma outra incom- pativel com aquela. Como conseqiiéncia cada epi- sédio vivido pelas pessoas que fazem uma deter- minada ciéncia produz uma alterag&o no que de- veria ser considerado problema a ser resolvido ¢ nos padrées pelos quais a profissdo determina 0 seu novo status quo. Quando duas escolas de pensamento se con- frontam, existem circunstancias nas quais dois paradigmas podem coexistir pacificamente nos perfodos pés-paradigmaticas. A simples posse de um paradigma nao é um critério suficiente para a transigdo de um perfodo para o outro. A transigdo sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolucdo, 6 o padréo usual de desenvolvimento de ciéncia amadureci- da, Como todos os fatores ambientais significan- tes possuem impactos sobre a riqueza do homem, sempre que tais eventos surgem, passos também sao dados & frente, no constante progresso da contabilidade O novo paradigma implica uma definigao nova e mais rigida do campo de estudos. Aqueles que nao desejam ou que nao sao capazes de aco- Contab. Vista & Rev, Belo Hortzonte, u 10,n 1,p. 40-47, mar 1999 2 modar seu trabalho a ele tém que proceder isola- damente ou unir-se a algum grupo que pensa da mesma maneira. Na auséncia de um paradigma ou de algum candidato a paradigma, todos os fatos que possi- velmente séo pertinentes ao desenvolvimento de uma determinada ciéncia tem a probabilidade de parecerem igualmente relevantes. Devemos reconhecer que certos paradigmas sao muito limitados, tanto no ambito como na precisdo, quando de sua primeira aparigao, moti- vo pelos quais os paradigmas cientificos mais an- tigos perduraram milhares de anos, ao passo que nas tiltimas décadas muitos paradigmas duram apenas alguns poucos anos. Por outro lado, na ciéncia, um paradigma varamente é suscetivel de reproducdo. Tal como uma decisdo judicial aceita no direito costumeiro, 0 paradigma 6 um objeto a ser melhor articulado e com maior preciso em condicdes novas ou mais rigorosas. Os paradigmas adquirem seu status porque so mais bem sucedidos que seus compe- tidores na resolugao de algum problema que um grupo de cientistas ou profissionais reconhece como graves. Quando os profissionais comegam a com- portar-se de maneira diferente e a natureza dos problemas mudam eles terdo que resolver proble- mas que mal poderiam ter imaginado e cuja solu- cdo nunca teriam empreendido sem 0 comprome- timento com um novo paradigma Nao hé de se confundir, entretanto, entre o paradigma da Ciéncia com o paradigma da Profis- sdo. Embora entrelacados, as vezes, diferem em extensdo e forma. Enquanto no paradigma da ciéncia um anula o outro, no paradigma da pro! sio eles, muitas vezes, sio complementares. E 0 caso mais especifico da contabilidade, que apesar de influenciar fortemente um grupo de profissio- nais contabeis, muitosainda est4oemparadigmas jé ultrapassados. 3 O PARADIGMA DO REGISTRO aparecimento da Contabilidade e respec: tivamente de um profissional que se dedicasse a este campo do saber e da Ciéncia remota aos tempos da pré-histéria. Pesquisadores da histéria da contabilidade de todo o mundo nos fornecem provas irrefutaveis de tal afirmago. Historiadores como Vicenso Masi em suas obras La ragioneria nella preistoria.e nell antic! td e La ragioneria nell’eté medievale, Federigo Melis com sua obra Storia della ragioneria © ‘Antonio Lopes de Sé com suas pesquisas em His- téria Geral e das Doutrinas de Contabilidade (Apud Sé, 1997, p. 20-22) admitem que uma His- téria da Contabilidade deve iniciar-se a partir de 20,000 anos atrés. As primeiras inscrigbes dos homens pré-his- téricos nos mais diversos sitios paleontolégicos demonstram uma prética de esculpir em pedras ‘um desenho (qualidade do objeto) e riscos (quan- tidade do Objeto). Admite-se que a maioriadessas ingerigdes eram referencias de bens de um homem ou de um grupo. Dessa forma nasce a conta con- tabil como representadora de bens patrimoniais evidenciando suas qualidades e quantidades. Esta proposigio encontra respaldo nas pa- lavras de Florentino (1971, p. 17). “constituindo-se a Contabilidade em um sistema de registro das alteragdes sofri- das por determinado patriménio em de- terminado tempo, admite-se, teorica- mente, que qualquer tipo de registro que possa apresentar wm resultado seguro na apreciagao do valor patrimonial, pode ser aceito e pode subsistir”. Este passa a ser o primeiro paradigma de nossa profisséo: a dos registros contabeise perdu- raré por milhares de anos, sendo sustentado pelo desenvolvimento humano, desde 0 aparecimento da escrita cuneiforme, passando pela criago da moeda, dos tributos e do processo de substituigéo do eseambo. Aescrita contabil como precursora da escri- ta comum, traz em seu sistema bésico duas fases distintas. Da era pré-historica até por volta do século XV registrando os atos e fatos patrimonisis por um sistema de partidas simples (utilizagéo de conta tinica para cada objeto e distinta em seu registro). Do Século XV até nosso dias, com a introdugéo realizada pelo Frei Luca Pacioli em 1494 através da sua obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proporegionalitd, o sis- tema denominado de partidas dobradas (utiliza- Gontab. Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10,n. 1, p. 40-47, mar. 1999 go de duas contas para registro simultaneo de causa e efeito, teenicamente de débito e de crédi- to) Em sua obra “Contabilidade Basica” o Prof. Nelson Gouveia (1993, p. 1) define Contabilidade como: “um sistema muito bem idealizado que permite registrar as transagdes de uma entidade que possam ser expressas em termos monetdrios, ¢ informar os reflexos dessas transacées na situagéo econémi- ca-financeira dessa entidade’ numa de- terminada data” (gripo do autor da obra). Para Mathews (1974, p. 3) 0 conceito de contabilidade se restringe também a sua fungao de registro nos seguintes termos: “La contabilidad compreende el registro sistemdtico, el reumen y la interpretacién de operaciones y actividades econémi- cas”, A importancia do registro, na contabilidade ¢ logicamente como fungéo primordial neste pa- radigma profissional 6 caraeterizado pela impor- tancia que assume o registro no sistema contabil Ba partir dele e com 0 emprego de documentos que provamos a veracidade das transagées ocorri das, com possibilidades de reconstituir, com deta- Thes transagGes de anos anteriores. Entendemos hoje porque este foi o paradig- ma que norteou o nascimento da atividade da profisséo contabil. Em um mundo de incultos, a detengao de uma cultura e sistema que permitisse o rastreamento histérico de uma ou mais ativida- de mercantil e que informava sobre a riqueza das pessoas era, sem diivida nenhuma, um conheci- mento de alto nivel, guardado por umas poucas pessoas. Logicamente esta atividade primordial era circularizada por outras atividades. A bem da verdade, a partir do registro, o profissional conts- bil conseguia efetuar o controle do patrimonial pessoal e empresarial e a demonstrar esta reali- dade através de informes contabeis, muito embo- ra que, na visdo do profissional contébil e da- queles que Ihes contratavam o servico, sua prin- cipal fungéo era a do registro contabil. 8 A fungio registro da contabilidade por sua vez 6 bastante complexa, envolvendo regras e convengées contébeis que devem ser seguidas para se obter um resultado fidedigno. Leite (1992, p. 17) conta a seguinte estéria para exemplificar esta situacdo: Conta-se que havia um contador muito considerado por seus colegas de trabalho pelo extraordindrio conhecimento da Ciéncia Contdbil. Havia, entretanto, uma caracteristica no comportamento deste contador que ninguém conseguia expli- car: todas as manhas, ele chegava pon- tualmente & sua mesa de trabalho e, cuidadosamente, selecionava uma chave em seu chaveiro de pratae abria uma das gavetas de sua mesa othando atentamen- te para seu interior durante algum tem- po. A seguir esta gaveta era fechada ¢ 0 contador conferia vdrias vezes se ela es- tava realmente trancada, Terminado seu ritual, ele iniciava o seu trabalho, osten- tando discretamente seu reconheeido sa- ber contabil e sua firmeza de decisdes. Seus colegas de trabalho se intrigavam com aquela rotina matinal, que, dia apés dia, era absolutamente invaridvel. Todos tinham teorias a respeito do que havia no interior daquela misteriose gaveta, Al- guns juravam tratar-se de foto de uma namorada secreta do contador, paixéo antiga que era por ele curtida, apesar da vigiléncia de sua esposa. Mas ninguém tinha realmente certeza do que poderia estar ali téo zelosamente guardado du- rante tantos anos. Certo dia o vetho contador faleceu repen- tinamente. A primeira idéia que veio & cabega de seus colegas foi arrombar a gavetae desvendar 0 mistério, Na reali- dade, a descoberta foi desconcertante: dentro da gaveta havia um pedago de cartolina onde estavaeserito com caligra- fia impecdvel a seguinte frase: “O débito 6 do lado da janeia”, Neste nosso exemplo, nosso companheiro além de seguir 0 paradigma, téo importante da época, que era o do registro, acabou criando um Contab. Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 404 7, mar. 1989 4“ paradigma somente para ele, que fazia com que sou trabalho fosse executado com eficiéncia. 4 O PARADIGMA DO CONTROLE Como conseqiiéncia da Revolugio Indus- trial e da possibilidade de se beneficiar da econo- mia da produgdo em escala, tornou-se necessério para os proprietdrios de empresas do século XIX direcionar seus recursos financeiros para seus processos de producao. Na tentativa de obter mé- xima eficiéncia de seu capital estes passaram a exercer rigido controle sobre seus gastos e custos. Os profissionais contabeis da época se concentra- vam nos custos de transformacio, necessitando de produzir controles ¢ indicadores sintéticos, como custo horério ou custo por produgao. Estes inelufam basicamente méo-de-obra e matéria-pri- ma. 0 inicio do século XIX surgem as obras de Frederick Winslow Taylor “Prinefpios de Admi- nistragéo Cientifica” e de Henri Fayol “Adminis- tragéo Industrial e Geral” desenvolvendo uma escola de administragio cientffica (Chiavenato, 1983, p. 33-71), cujo arcabouco principal era o do controle das organizagées, ‘As origens da abordagem classica da Admi- nistragdo remontam as conseqiténcias geradas pela Revolugéo Industrial e que poderiam ser resumidas em dois fatores bastante genéricos: primeira, 0 crescimento acelerado e desorganiza- do das empresas, ocasionando uma gradativa complexidade na sua administragdo e exigindo uma abordagem mais cientifica e mais apurada que substituisse o empirismo e a improvisacao até entao dominante. Segundo, a necessidade de au- mentar a eficiéncia e a competéncia das organiza- ‘ges no sentido de obter o melhor rendimento possivel dos seus recursos ¢ fazer face A concor- réncia e competicao que se avolumavam entre as, empresas. A intensa atividade empresarial forgaré uma mudanga de paradigma da profisso cont: bil. Sua importancia para atender aos novos clien- tes das organizacdes emergentes passaré do registro para o controle. Nesta fase Administracdo e Contabilidade andam passo a passo no sentido de estabelecer formas e padrées de controle eficientes de modo a Contab. Vista & Rev. Belo Horizons (0, 1, p. 40-47, mar. 1999 permitir a manutengéo e erescimento das org ragies. O paradigma do controle foi tao forte que segundo Hermann Jr. (1978, p. 47) por ocasiao do I Congreso Brasileiro de Contabilidade’a corren- te controlistica conseguiu aprovar a seguinte de- io da nossa ciéncia’ “Contabilidade é a ciéncia que estuda ¢ pratica as fungées de orientagaoe de con- trole, relativas aos atos e fatos da admi- nistragdo econdmica” (grifo do préprio autor). Esta definigdo, enraizada numa escola de pensamento contabil, cuja origem atribui-se 20 italiano Fabio Besta, denominada de Controlis- mo, exerceu forte influéncia no Brasil e no mun- do, fazendo com que a fungdo exercida pelo contador se tornasse mais importante a partir do controle aziendal. Esta mudanga de paradigma foi ocasionada pela forte influéncia do “controle” na vida das pessoas jé no inicio do século XX. No que tange a aspectos organizacionais os fenémenos relaciona- dos com a formacao de custos, com a realizagéo de receitas e com equilfbrio financeiro e os que pro- vyocam variagées patrimoniais séo objetos de ope- ragées de controle. Logicamente a adogio deste novo paradig- ‘ma néo descartou o paradigma anterior em ter- mos de atividade profissional. Os profissioncis contabeis continuaram a fazer registros, porém 0 campo da finalidade do profissional mudou de diregao, prevalecendo agora os mecanismos de controle como os mais importantes. Embora sabemos que 0 controle deriva do registro contabil, a mudanca de atitude em se dar mais importncia a este, auxiliou no desenvolvi- mento da Ciéncia Contabil, tanto da parte prética quanto na teérica, Ricas teorias contabeis nasce- ram a partir deste periodo pela discusséo da dua- lidade entre registro e controle. 5 O PARADIGMA DA CONFIANCA Apesar do Controlismo ter tido bastante influéneia na Ciéncia e na Profisstio contabil, seu paradigma foi de curta duragio. Ja por volta de 1920 face as mudangas que se verificavam no mundo apés a primeira grande guerra, nossas atividades profissionais passaram a softer, nova- mente, influéncia dos novos tempos, e por isso mesmo, alterar seu quadro de importancia. Valho-me de um episédio e de uma expres- sao do senso comum para explicar esta nova transformagao na profissdo contabil. Nesta fase jd se caracterizava o registro e o controle como elementos primordiais de nossa profissdo. A rela- ao entre cliente e profissional contabil era de estreita e podemos dizer de intima confianca. O episédio a que me referi é 0 do lendério Al Capone. Para Capone o homem mais importante era o seu contador. A histéria provou ser verd: deira, porque sua prisio s6 foi conseguida a partir dos depoimentos e dos livros contabeis que esta- vam em poder de seu contador. Aspectos econémicos de todo o mundo na 6poca dio conta do estado de confianca entre contador e empresério. Cabia ao profissional con- tabil a guardae o sigilo das informacdes dos livros contdbeis, dai surgir, na época, a expressao guar- da-livros para os contadores. Se lembrarmos do caos econdmico do pés queda da Bolsa de Nova Iorque, haveremos de compreender porque 0 sis lo de informagdes eram importantes. Este sigilo 56 é estabelecido quando ha entre profissional e dliente um clima de bastante confianga Esta nova concepgéio da atividade da profis- séo contabil elevou nosso status entre os demais profissionais da época, pois além de determosuma tecnologia de processo de registro e controle (“cai- xa preta” para muitas pessoas), passamos a ser 05 que detinham e utilizavam das informagdes ge- renciais de todas as organizagdes e instituicdes. Numa época em que a competicao empresa- rial e governamental eram intensas, as informa- des eram tidas como prioritérias, capazes de eliminar empresas e destituir governos. Nesta época floresce a espionagem industrial, onde a ténica era a obtengao de toda gama de informa- goes do concorrente para elimind-lo. Neste con- texto as informagies contabeis ganharam vulto e prioridade. 6 O PARADIGMA DA OBRIGATORIEDADE A obrigatoriedade de escrita fiscal no Brasil remota a0 Cédigo Comercial datado de 1850 e “6 promulgado por D. Pedro IL. Foi a partir dele que se configurou uma série de atributes de legislacdo, onde a profissio contébil tinha, que também, fornecer informagdes para 0s erérios pliblicos. Em muitos outros pafses domundo também por essa época se verificaram esta obrigatorieda- de, embora tenha sido relegado como importante pelos profissionais contabeis, haja vista que seu trabalho primaz era para com as empresas e no para 0 governo. Entretanto nas tltimas trés décadas os go- vernos de quase todos os pafses, frente ao estado de sonegagao vigente, frente a verocidade de tri- butar como forma de equilibrar as finangas pitbli- cas, passaram a exigir uma paraferndlia de documentos, e informes, que o profissional conté- bil teve seu trabalho dobrado, se quisesse apre- sentar relatérios para as empresas e outros para 0 fiseo Dessa forma, muitos optaram por fazer con- tabilidade para o fisco, reduzindo sua carga de trabalho, e em contrapartida, deixaram de produ- zir informes para o processo de tomada de deciséio gerencial. Por ocasido do XIV Congresso Brasileiro de Contabilidade o Prof. Ivan Carlos Gatti, entao presidente do Conselho Federal de Contabilidade expés muito bem a situagdo vivida pelo profissio- nal contabil nesta situacdo se referindo que: “O governo quis fazer do profissional da contabilidade um empregado seu para atender aos interesses e conveniéncias da tributagdo. Usando o poder, conseguit sobrepor a Contabilidade Fiscal a Conta- bilidade Comercial. Essa inversao levou oempresariado a pensar ao contrério: ao invés de ver na contabilidade importante biissola para navegagio da empresa, ha- bitou-se a considerd-la apenas como con- troladora de tributos, subestimando-a como elemento de controle e de informa- Ges gerenciais”. Para muitos empresarios profissionais este ainda é um paradigma vélido. O profissional contabil s6 existe porque a contabilidade ¢ obri- gatéria e por causa das imposigies de legislacéo fiscal Conia, Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10, n.1, p. 4047, mar. 1999 6 7 ATUAL PARADIGMA: DA INFORMACAO GERENCIAL A partir do desenvolvimento econdmico, ve- rificado apés a década de setenta deste século, vivido pelas nagbes com o crescente processo de globalizacao da economia, as empresas se viram s voltas com um novo modelo de gestdo adminis- trativa, onde a mudanga 6 imperativa aos negé- cios e algumas vezes deve ser até provocada, como aconteceu com o caso das Reengenharias. Este ambiente econémico contempordneo exige exce- Iéncia dos sistemas corporativos de contabilidade gerencial Se antes a informagio contébil era de caré- ter bastante sigilosa, nos novos tempos acontece © eontrario. Hoje as informagoes tem que ser difundidas e transparentes para que todos os seus usudrios possam tomar decisées. Historiadores demonstram que informa- ges contabois tem sido preparadas ha centenas de anos, mas a demanda por informes contabeis gerenciais, principalmente sobre transagdes in- ternas das organizagées, é um fendmeno bastante recente. Dessa forma a atividade principal do profis- sional contébil da atualidade é a produgdo de informagées para os seus usuérios. Este paradig- ma nao destruiu os demais, mas constitui um processo normal de evolugdo da Ciéncias Conté- beis. Este fato pode ser comprovado pelo conceito atual que temos de contabilidade, aceito pela maioria dos autores pesquisadores, como sendo a Ciéncia que registra, controla e estuda o patri- ménio com a finalidade de fornecer informagées aos seus usuarios para a tomada de decisoes. Esta definigao contempla trés dos cinco pa- radigmas da profisséo contabil tratados até aqui, sendo eles: 0 registro, o controle e a informagao gerencial. Esta coexisténcia de paradigmas também havia sido constatado por Kam (1990, p. 489) “Na prética contébil «a teoria:convencio- nal tem assistido a numerosos ataques até agora, apesar de terem sido feito mo- dificagdes pouco a pouco. Na pesquisa contabil, um niimero de paradigmas es- to concorrendo wns com. os outros, com ninguém em particular aparecendo como vencedor até agora, Se as pesquisas ndo podem concordar com um tinico paradig- ‘ma, entéo a Contabilidade ¢ uma disci- plina multiparadigmética por muitos anos por vir”. Este paradigma tem norteado tanto a pro- fisséo contébil quanto a Ciéncia Contabil. Em nossos cursos de ensino superior, a temAtica preestabelecida édo ensino da Contabilidade para fins gerenciais. 8 CONCLUSAQ: O PARADIGMA PARA O PROXIMO MILENIO Aobsolescéncia dos sistemas de contabilida- de, ¢ por extensio da de custos e gerencial, torna- se particularmente desfavorével ao proceso de decisées gerenciais no quadro da competigdo glo- bal da atualidade. ‘A conseqiiéncia de custos inexatos de pro- dutos, sistemas contabeis deficientes no controle de processes e avaliagao de desempenho interno das organizagées, tem levado a muitos profissio- nais, pesquisadores e empresérios a repensar a contabilidade para os préximos tempos. ‘Tomemos por exemplo a diferenga de evolu- ao tecnolégica ocorrida nesta tiltima década com referéncia A m4quina (hardware) e os sistemas contabeis (softwares de aplicacdo). Enquanto os hard’s se multiplicam em avanco tecnolégico numa velocidade surpreendente (veja a diferenca de anos que hé entre o PC-XT para o 286, deste para o 386 e assim por diante até os dias atuais com o Pentium IID), os softs corporativos na drea contabil tiveram muita pouca inovacdo (no Brasil os inerementos foram em virtude das mudangas constantes da moeda e do instituto da correcao monetéria). Comungam dessa opiniéo os professores Kaplan, Johson (1993, p. 1) afirmando que “Atualmente, as informagdes de contabi- lidade gerencial, condicionadas pelos procedimenios e pelos ciclos do sistema deinformacées financeiras dasorganiza- goes, sdo atrasadas demais, agregadas demais e distorcidas demais para que sejam relevantes para decisdes de plane- jamento e controle gerencial”. Coniab, Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 40-47, mar. 1999 Os informes da contabilidade so de pouca importancia para gerentes operacionais no seu desempenho de reduzir custos e melhorar a pro- dutividade. Quando nos referimos & redugdo de custos e na melhoria da produtividade estamos falando da ago de gestdo de todos os gerentes da organizagéo, inclusive o gerente contabil. Ao aproximarmos do século XXI surgem novos coneeites que embora néo mantenham re- lacao direta entre si, conduz-nos a uma perspec- tiva de qual seré 0 paradigma do profissional contabil para o préximo milénio. Trata-se dos conceitos de Accountability (néo ha correspon- dente em nossa lingua) e o da prosperidade da célula social. Por accountability devemos entender um conjunto de atividades do profissional contébil que tem por finalidade a prestagio de contas dos atos dos gestores das empresas a todos os niveis de usuarios. Isto faz antever que conceitos como cidadania e ética devem prevalecer como princi- pios de conduta do profissional contébil. O coneeito de eélula social foi exposto pelo Professor Dr, Anténio Lopes de S4 em sua obra Teoria da Contabilidade Superior. Se entende como célula social todas as relages endégenas e exégenas que interferem no patriménio dasazien- das. Dentre as inimeras varidveis que o mestre mineiro consagrou, uma é bastante relevante para nossa exposigio, trata-se da Teoria da Pros- peridade. : Ao évidenciar as relagdes de sua teoria da prosperidade cria-se, ao meu ver, condigées para estabelecer um novo estado paradigmatico. Sé (1994, p. 235) nos mostra que: “Uma teoria de prosperidade das azien- das entendo, é « méxima significagéo porque tem como objetivo a ‘eficdciacons- tante’, meta ideal para ‘utilidade da ri- queza’, através do conhecimento racional de seu comportamento. O conhecimento contabil tem condigdes de dar ao homem o grande beneficio de ‘saber utilizar ra~ cionalmente a riqueza’ de modo que, as- sim, possa, ao maximo, dela tirar pro- veito, no atendimento de suas muiltiplas necessidades”. a Amos 0s enfoques contemplam o que espe- ramos do profissional contébil para 0 préximo milénio que poderé ser reduzido a uma frase de um novo paradigma que estar nascendo: a nova fungo do contador 6 auxiliar as empresas a ga- nharem dinheiro. Logicamente que esta nova concepgio da fungdo do contador deverd ser norteada por dois, princfpios basicos que é a realizagao de suas ati- vidades dentro da mais rigorosa ética e que haja uma distribuigdo da riqueza gerada pelas células sociais. Afinal de contas, é isto que espera a hu- manidade de nés, profissionais contabeis. 9 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CHIAVENATO, I. Introdugdo & Teoria Geral da Administragéo. 3.ed. McGraw-Hill do Brasil, 1983. FLORENTINO, A. M. Teoria Contdbil. Rio de Janeiro: FGV, 1971. GOUVEIA, N. Contabilidade bésica. 2.ed. Sao Paulo; Harbra, 1993. HERMANN JR., F. Contabilidade superior. 10.ed, S40 Paulo: Atlas, 1978. KAM, V. Accounting theory. 2.ed. New York: Wi- ley, 1990. KAPLAN, R. S., JOHSON, H. T. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: Campus, 1993. KUHN, T. 8. A estrutura das revolugées cientifi- cas. 5.ed, Séo Paulo: Perspectiva, 1997. LEITE, H. P. Contabilidade para administrado- res. 2.ed, Sao Paulo: Atlas, 1992. MATHEWS, R. Contabilidade para economistas. ‘Madrid: Aguilar, 1974. SA, A. L. Historia geral e das doutrinas da conta- bilidade. Sao Paulo: Atlas, 1997. Teoria da contabilidade superior. Belo Hori- zonte: UNA, 1994. Contab, Vista & Rev. Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 40-47, mar. 1989

Das könnte Ihnen auch gefallen