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GRAMÁTICA
I. Conceitos
A palavra gramática provém do grego (grammatiké) e significava,
originariamente, arte de falar e escrever. Decorre daí o sentido tradicional do termo:
conjunto de prescrições linguísticas, de acordo com as convenções do que seria escrever
bem, falar bem, tomando-se por base o uso dos “grandes” escritores e dos falantes
escolarizados. Tal sentido se insere na chamada gramática tradicional (GT) – também
chamada gramática normativa, escolar ou prescritiva.
Outro sentido bastante difundido para o termo diz respeito ao compêndio ou
manual escolar, que pode ou não ter caráter prescritivo. Assim, um livro em que se
exponham regras formais ou convencionais de funcionamento linguístico também se
pode chamar gramática (Comprei uma excelente gramática. Aquela gramática contém
erros conceituais etc.).
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INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS E LINGUAGENS
LICENCIATURA EM LETRAS
MORFOSSINTAXE
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FONÉTICA E FONOLOGIA
Dentro deste capítulo, é preciso isolar de modo mais racional os itens que
atendam aos objetivos propostos nas escolas brasileiras. Cabe questionar, por exemplo:
se a descrição dos fones é realmente necessária, considerando a precária carga horária
destinada aos professores; se a classificação de “encontros vocálicos” e consonantais
está adequada às realidades sonora e gráfica do português do Brasil; se a descrição dos
fonemas é feita segundo a realidade desses componentes, considerando oralidade e
escrita. Quando se fala, por exemplo, em vogais, semivogais e consoantes, fala-se em
quê? Em fonemas? Em grafemas?
MORFOLOGIA
Estudos de toda ordem, dissertações, teses já comprovaram satisfatoriamente
que a tradicional divisão das palavras em dez classes não é adequada à realidade
funcional das sentenças portuguesas. Aliás, falar em função nas sentenças é falar em
sintaxe, motivo por que se deveria rever inclusive o capítulo em que se estudam as
classes gramaticais. Morfologia mesmo, stricto sensu, é o estudo dos elementos
mórficos e dos processos de formação de vocábulos.
Quanto às flexões dos nomes em número, gênero, grau; dos verbos em tempo,
número, pessoa, não tenho dúvidas em afirmar que são estudos concernentes à sintaxe, à
semântica do discurso, e não à morfologia. É o ambiente sintático-semântico que
determina se um adjetivo deve estar ou não no feminino, no plural (concordância
nominal); se um verbo deve estar na primeira, segunda ou terceira pessoa (concordância
verbal); se se deve ou não atribuir uma flexão de grau ao advérbio; que aspecto de voz
deve o verbo assumir em relação a seu sujeito.
Some-se a essas questões a ausência quase absoluta de critério para classificação
das palavras. Por exemplo, o substantivo é definido semanticamente (palavra que
nomeia as entidades concretas ou abstratas); a classificação do verbo é ora semântica
(palavra que indica ação, estado ou fenômeno da natureza), ora morfológica (palavra
que agasalha as flexões de número, pessoa, modo e tempo), ou até mesmo sintática
(palavra que concorda com o sujeito). Classes como adjetivo e advérbio, por sua vez, só
acolhem a definição de cunho sintático, tendo em vista sua função adjunta,
modificadora.
SINTAXE
Este talvez seja o capítulo da GT que mais contém incoerências conceituais.
Além da hierarquia essenciais, integrantes e acessórios, que não funciona e
evidentemente precisa ser revista, é preciso repensar os seguintes fatores: a) definição
do sujeito sintático e função de seu estudo; b) distinção entre sintaxe analítica e sintaxe
relacional, verificando o processo mais adequado aos alunos; c) sintaxe do período
composto, observando a dicotomia coordenação-subordinação, a taxonomia de orações;
d) regras de uso de pronomes-sujeito e pronomes-complemento; e) a questão da
colocação dos clíticos.
Como se sabe, esses aspectos ocupam grande espaço num compêndio
gramatical. A análise sintática dos períodos simples e composto ocupa boa parte da
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IV. E a semântica?
O leitor poderá talvez estranhar a ausência da semântica no tópico anterior, até
porque a maioria dos compêndios normativos já traz um capítulo dedicado à área. Mas o
fato de se excluir aqui a semântica não é gratuito. Nos últimos cinquenta anos, os
estudos do significado experimentaram grandes saltos e, grosso modo, as correntes são
unânimes em reconhecer o caráter fragmentário de uma descrição embasada apenas em
fatores linguísticos. Ou seja, o significado – assim postulam áreas como a semântica
cognitiva e a semântica da enunciação – não se sustenta sem o auxílio dos componentes
biossociais. Uma análise semântica, por consequência, tem sempre de recorrer a campos
não necessariamente linguísticos (antropologia, psicologia, sociologia etc.).
Portanto, creio que seja válido afirmar, mesmo não sendo muito simpático para
os filósofos da linguagem, que os estudos semânticos são pouco afeitos a qualquer tipo
de normatização ou descrição formal, motivo por que um capítulo sobre semântica
numa gramática normativa fica um pouco esdrúxulo.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 20.ed. São Paulo: Cultrix, 1995.