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A apresentação do real é a condição necessária artes como uma arte em si mesma.

Essa
que justifica a existência do jornalismo. É polarização quanto aos usos da fotografia permite
importante ressaltar que tem havido divergência que se pense acerca do hiato entre aquilo que se
quanto a essa capacidade, ora vista como chama “realidade” e suas representações, ou
absoluta1, ora com parcimônia, uma vez que todo melhor, as possibilidades de representação do real2.
relato constitui uma versão dos fatos. O uso da Para Floch (1986, p.16), quando a fotografia
fotografia, por exemplo, despontou como assume um caráter testemunhal, ela é investida de
importante ferramenta para a construção de efeitos valores práticos, sendo vista como documento,
de sentido de real, o que é conseguido pela prova e lembrança; na perspectiva das artes, é
plasticidade fotográfica e seu caráter de investida de valores utópicos3, representando a
testemunho imagético. É interessante ressaltar, beleza e as buscas a ela associadas.
ainda, que a fotografia pode ser vista como fazendo Aqui, na tentativa de lançar vários olhares
parte de um duplo movimento: por um lado, sobre os processos de construção de efeito de
entendida como um regime de significação; de sentido de real e de como ele é agregado ao discurso
outro, a fotografia tal como apropriada pelo jornalístico, duas tradições semióticas são
discurso jornalístico. apresentadas. De um lado Floch, que toma a
Numa perspectiva histórica, a fotografia vertente do pensamento greimasiano, advindo, por
tem se apresentado como capaz de se aproximar sua vez, das contribuições de Saussure. A ênfase
do real, pois concilia natureza e cultura, presença aí está nos processos de significação e de leitura,
e ausência; é capaz de marcar tanto a continuidade como proposto por Saussure pela dicotomia entre
quanto a descontinuidade. A fotografia tem a língua (fato social) e fala (ato individual) (DUBOIS,
capacidade de repetir aquilo que jamais irá se 1997, p.261).
reproduzir, fazendo o objeto desaparecer (FLOCH, Numa outra corrente estão os estudos a
1986, p.14). partir da chamada “tríade sígnica” ou os três
De maneira dicotômica, a fotografia pode modos de funcionamento do signo em relação ao
ser tanto vista como auxiliar das ciências e das objeto ou referente. Estes, nomeados por Peirce
como ícone, índice e símbolo colaboram Dessa feita, são vários os efeitos de sentido
sobremaneira para o entendimento das categorias possíveis: de realidade, de surrealidade, de
de representação do real. O índice diz respeito a irrealidade, de hiper-realidade etc. Ao jornalismo,
um mecanismo de indicação, mantendo com o torna-se basilar a busca de efeito de sentido de
elemento representado uma relação de realidade.
proximidade. Dessa forma, fumaça é a Num artigo seminal, intitulado “O efeito
representação indicial do fogo; não há, portanto, de real”, Barthes (1984, p.131) discute a inclusão
semelhança nem convenção com o representado de elementos na narrativa que façam parecer ou
(DUBOIS, 1997, p.338). O símbolo representa simular o real. Para ele, de maneira paradigmática,
uma relação numa determinada cultura, resultando podem ser observadas duas obras: num texto de
de uma convenção, como a balança que simboliza Flaubert aparece um barômetro; numa descrição
a justiça (DUBOIS, 1997, p.549). histórica de Michelet, aparece uma delicada porta4.
Barthes chama a atenção para o fato de que, na
lógica de uma análise estrutural, os referidos
elementos podem parecer estranhos, visto não
O relato jornalístico, quanto mais apresentarem uma relação direta com a seqüência
tenta se aproximar do real, simula dos acontecimentos, podendo parecer até mesmo
supérfluos ou soltos.
este real, na medida em que é capaz Qual seria, então, a função dos elementos
apontados pelo autor em cada uma das narrativas?
de oferecer as provas do real
Por meio da inclusão de objetos aparentemente
retratado. estranhos, dissonantes, visto não serem da ordem
do previsível, confere-se um tom de realismo aos
textos, ou maior realidade, no caso do texto
Dentre as formas de representação, a que histórico. A representação direta do relato, ou o
mais parece se aproximar do real é o ícone, pois real tal como acontecido, aparece como uma
estabelece uma relação com seu objeto, pautada resistência ao sentido ou à possibilidade de gerar
pela semelhança, ainda que não seja uma vários sentidos, devendo indicar o vivido. Para
reprodução ponto por ponto. Já não há limite de Barthes (1984, p.135), é
separação entre o signo e seu objeto, visto que,
em função da semelhança, os limites são borrados como se, por uma exclusão de direito, aquilo
e eles se misturam. Como diz Santaella (2000, que vive não pudesse significar – e
p.115), “num lapso de tempo, o sentimento é reciprocamente. A resistência do “real” [...]
sentido como se fosse o próprio objeto”. à estrutura é muito limitada na narrativa
É nesse sentido que a iconicidade é vista fictícia, construída, por definição, de acordo
como o resultado da produção de um efeito de com um modelo que, nas suas grandes
sentido do “real”. A iconicidade é a representação linhas, não conhece outras exigências para
pretensamente direta do objeto em questão e que, além das do inteligível; mas esse mesmo
por esta passagem direta, sem uma mediação que “real” torna-se a referência essencial da
afasta o signo de sua representação, pode-se dizer narrativa histórica, que supostamente relata
que ela seja a simulação do real. “É no interior de “aquilo que aconteceu realmente”: que nos
uma cultura, no quadro de uma economia de importa então a infuncionalidade de um
atitudes em relação a diferentes sistemas de pormenor, a partir do momento em que ele
expressão e de significação, que pode se denote “aquilo que aconteceu”?
compreender a iconicidade” (FLOCH, 1986, p.28,
trad. nossa). Dentre as posições ocupadas pela
Para Floch (1986, p.31), nos caminhos fotografia, segundo Floch (1986, p.20-24),
da semiótica, interessa mais a iconização, em destacam-se a referencial, a oblíqua, a mítica e a
detrimento da iconicidade. A iconização tem por substancial. Para as reflexões ora propostas,
base os procedimentos de fazer parecer “real”, torna-se mais relevante situar a fotografia
tendo na relação enunciativa uma forma particular referencial, por ser vista como resultado de uma
de contrato fiduciário, fazendo que o enunciatário técnica que busca dar fala ao mundo, oferecendo
julgue ser a “realidade” o elemento enunciado. ao leitor uma posição testemunhal. A fotografia é
entendida como mediadora entre o público e outras
realidades. A ilusão referencial, ou a simulação de
Para Barthes (1984, p.153), dentre os ancoragem no real, possibilita envolver o fato
elementos que podem “autenticar” o real de forma narrado numa aura de realidade, assegurada pelos
objetiva está a fotografia, pois ela pode apresentar elementos que indicam a ligação entre aquilo que
um testemunho “bruto”, da mesma forma, a é relatado e sua configuração, na forma de
reportagem5, a exposição de objetos antigos etc. narrativa. Como resultado, tem-se a ilusão de estar
O que se afirma, por meio desses exemplos, em diante do real ou a ilusão da presença do objeto/
última instância, é que o real se basta a si mesmo. questão reportada.
Os elementos enunciam a sua própria história, No caminho das simulações, o efeito de
sendo suficiente o ter-estado-ali das coisas. real também pode ser estimulado pela iconização,
O ter-estado ou a idéia de ter-estado visto ser esta a capacidade de representação direta
também pode ser conseguido pela função do signo. À narrativa jornalística compete a busca
referencial, que se refere à mensagem centrada de uma representação clara daquilo que é
no contexto (DUBOIS, 1997, p.513). A relação reportado, permitindo que o fato apresentado
direta com o real é construída pela semiose pois, esteja o mais próximo possível do real. Por vezes,
como lembra Compagnon (2001, p.109), o a noção de realidade está intrinsecamente associada
referente não é um dado preexistente, mas um ao universo midiático, em que, num
produto dos processos de significação/da semiose. escalonamento da mídia quanto à apresentação do
real, a televisão tem supremacia, por exemplo,
Estamos perante aquilo a que se poderia sobre o impresso, pela exibição de imagens. A
chamar a ilusão referencial. A verdade desta partir do senso comum, é freqüente se ouvir: “sim,
ilusão é a seguinte: suprimido da enunciação é verdade, eu vi na TV”.
realista a título de significado de denotação; O relato jornalístico, quanto mais tenta se
com efeito, no preciso momento em que aproximar do real, simula este real, na medida em
estes pormenores parecem notar que é capaz de oferecer as provas do real retratado.
directamente o real, eles não fazem mais, Além do testemunho de quem relata, a fotografia
sem o dizerem, do que significá-lo; o permitiu avanços nesta seara. Da mesma forma, a
barômetro de Flaubert, a portinha de televisão, pela oferta de imagens, mostra o real
Michelet não dizem afinal de conta senão com maior detalhamento. Numa perspectiva de
isto: nós somos o real; é a categoria do real convergência midiática, tanto a ilusão referencial
[...] que é então significada; em outras quanto a inconização despontam como
palavras, a própria carência do significado, características determinantes de novas narrativas.
em proveito exclusivo do referente, torna-
se o próprio significante do realismo:
produz-se um efeito de real, fundamento SIMULAÇÃO DE CONTATO – SIMULAÇÃO DO ATUAL
desse verossímil inconfessado que forma a
estética de todas as obras correntes da Sobre o discurso jornalístico, quanto a sua
modernidade (BARTHES, 1984, p.136, organização no intuito de promover um efeito de
grifo do autor). real, é importante notar os vários estratagemas,

Sobre esta relação, diz Compagnon


(2001, p.118):

A ilusão referencial, dissimulando a


convenção e o arbitrário, é a ainda um
caso de naturalização do signo. Pois o
referente não tem realidade, ele é
produzido pela linguagem e não dado
antes da linguagem etc. [...] O signo se
apaga diante (ou atrás) do referente para
criar o efeito de real: a ilusão da presença
do objeto.
para que ele não apenas represente o real, mas do dia), seja em rádio, televisão ou Internet.
esteja ancorado de fato no real. Como exemplo, o Esta segunda perspectiva induz o leitor a
recurso das aspas, chamado citação direta, que pensar que, se a disponibilização é contínua,
confere ao texto o sentido de discurso direto, a produção contínua também, o que
recurso usado para provocar efeito de sentido de significaria mais pessoas produzindo mais
real, de reprodução da fala tal como se deu “no conteúdos decorrentes de um envolvimento
real”. Se a referida fonte disse exatamente aquilo, direto com mais situações, eventos ou temas
naquela ordem e naquele contexto, já não interessa, – seqüência indutiva que tende a não se
“nada mais importa, pois a ilusão da realidade foi comprovada na averiguação de experiências
conseguida” (BARROS, 1990, p.59-60). práticas (FRANCISCATO, 2004, p.27-28).
Outro recurso importante apontado pela
semiótica de extração greimasiana é a ancoragem. O mais relevante, na perspectiva dos
“Trata-se de atar o discurso a pessoas, espaços e efeitos de sentido, é a expectativa quanto aos
datas que o receptor reconhece como ‘reais’ ou elementos que podem ser empregados para conferir
‘existentes’, pelo procedimento semântico de a noção de realidade. O que importa, na verdade,
concretizar cada vez mais os atores, os espaços e é a criação de uma ilusão do real, ou o efeito de
o tempo do discurso, preenchendo-os com traços sentido produzido. Como lembra Franciscato
sensoriais que os ‘iconizam’, os fazem ‘cópias da (2004, p.30), “na verdade, o ‘ao vivo’ não é apenas
realidade’”6 (BARROS, 1990, p.60). Por meio uma tecnologia de transmissão, mas igualmente
desse recurso, o discurso não apresenta apenas uma nova estratégia de sentido ou modo de
uma narrativa, mas oferece ao leitor elementos interação, em que evento, jornalista e público agem
essenciais para situar o lugar onde se desenvolve em simultaneidade”. Vale ressaltar, contudo, que
a história, a temporalidade e marcações que os interlocutores continuam em posições
asseveram a existência dos partícipes. O discurso assimétricas, mas a idéia de partilha das estratégias
tem uma procedência comprovada e esses contribui para o estabelecimento de um outro efeito
elementos passam a compor o cenário do discurso. de sentido, no qual a realidade é “montada” em
Com o advento do Webjornalismo surge parceria entre jornalista e público.
o desafio de se pensar quais são os novos critérios Essa nova forma de usar o tempo presente,
de noticiabilidade que, por um lado, passam a o atual, a atualidade, a atualização, reflete o
marcar o modus operandi dessa esfera; por outro, emprego das tecnologias para a reorganização de
reconfiguram as concepções acerca do efeito de um discurso. Técnica similar pode ser observada
sentido propostas pelas especificidades dessa na organização discursiva do jornalismo impresso,
narrativa jornalística. Tanto os dispositivos de como no caso dos títulos, que usam os verbos no
enunciação como os constrangimentos discursivos tempo presente, mesmo em se tratando de
operacionalizam uma nova discursividade, tendo assuntos que ocorreram numa outra
por referência as expectativas quanto às temporalidade.
potencialidades da narrativa via Web. Dentre tais A noção de presente proposta pelo
desdobramentos, um novo valor-notícia está jornalismo passa a ser operacionalizada pelo
associado ao tempo, mais precisamente à noção sentido de instantaneidade, o que reflete o desejo
de tempo real. de ausência de um lapso de tempo entre a
Para Franciscato (2004, p.27), com base ocorrência de um fato, sua coleta, transmissão e
em Meditsch (2001), pode-se falar em duas noções recepção. Tem-se, daí, que a velocidade e a
de tempo real. Num primeiro momento, restrito à aceleração apresentam-se como variáveis
modalidade de produção e veiculação de programas temporais decorrentes de novas concepções
que, por vezes, simulam a idéia de transmissão ao técnicas, especialmente no jornalismo
vivo. (FRANCISCATO, 2005, p.114).
Pensar a organização das novas mídias
A outra noção de tempo real se situa na pode resultar num exercício de constante
dinâmica de produção de conteúdos em adequação conceitual, para tentar abarcar uma
fluxo contínuo, particularmente no situação que não é estanque, e que, ao movimentar-
movimento de alimentação constante de se, requer ajustes para ser plenamente
notícias e sua fragmentação pela compreendida. Na tentativa de definir o que é uma
programação diária (às vezes nas 24 horas nova mídia, podemos optar pelo entendimento de
Cada inovação
tecnológica traz um discurso
segundo o qual é possível
representar a realidade de um
modo inovador9. “Argumenta-se,
tradicionalmente, que as novas
representações são radicalmente
diferentes daquelas possibilitadas
pelas antigas tecnologias; que as
atuais são superiores; que elas
permitem um acesso direto à
realidade” (MANOVICH, 2004,
trad. nossa). Dessa forma, toda
inovação tecnológica na área da
comunicação faz surgir um
discurso sobre a representação
social da realidade. Os pontos
principais dizem respeito à
uma mídia como artefato cultural, surgindo como capacidade de inovar quanto a essa representação.
possibilidade imaginativa e de operacionalidade Uma nova tecnologia é um avanço a partir
tecnológica (MANOVICH, 2005). do momento que se afasta de sua precedente no
Seguindo essa perspectiva, uma nova quesito possibilidade de acesso a uma realidade,
mídia é aquela que abre novos caminhos estéticos como é o caso da fotografia, que inova, desde
e permite criar estratégias de produção, circulação suas origens aos dias atuais 10, indo da
e recepção de sentido, mas que também pode representação estática da realidade, segundo a
dialogar com as que a precederam. Essa etimologia (escrita por meio da luz), a uma realidade
possibilidade de conjugação midiática é o que tem que pode ser esquadrinhada com um detalhamento
sido experimentado pela prática de jornalismo na cada vez maior. A fotografia digital pode nos levar
Internet que, pelo processo de digitalização da a pensar numa representação que conduz a um
informação, vem se descolando de práticas mais embate entre o realismo e o pós-realismo, visto
compartimentalizadas, como a do impresso, do que a digitalização permite o tratamento da imagem
rádio e da televisão, para ambientes em que há o (ajustando cores, contrastes, ângulos etc.), o que
diálogo entre essas práticas. oscila entre o aprofundamento em uma realidade,
A mídia se coloca numa posição de relatar permitido pelo aprimoramento tecnológico, e a
fatos e, por meio de artifícios, cria, junto ao leitor, superação ou descolamento entre a realidade e sua
o sentimento de proximidade com a instância de representação.
produção, por meio daquilo que é relatado e pela Em vez de conceber as modernas
forma como se estabelece o relato. As dimensões tecnologias sob o ponto de vista de representação
tempo e espaço (CHARAUDEAU, 1994, p.11) da realidade, numa evolução linear, Manovich
colaboram decisivamente para lastrear o leitor e o (2004) assegura que é preferível pensar nas
fato narrado, ancorado num quadro de distintas possibilidades estéticas de representação
pertencimento ao real. do real. As inovações tecnológicas não apenas
O processo de enunciação não é estático conduzem a inovações quanto a essas formas de
na estrutura midiática, mas é potencializado pelas representação, mas também ativam determinados
inovações tecnológicas, que disponibilizam outras impulsos estéticos presentes já num passado
possibilidades a esse fazer. Numa ação em que se tecnológico e que eram limitados pela capacidade
observa a convergência colaborativa entre técnica.
instâncias midiáticas, como é o caso do jornal Para ilustrar as novas possibilidades de
impresso que remete ao portal7, o leitor pode representação do real, o autor compara dois modos
encontrar elementos paratextuais 8 que de produção cinematográfica que se constituem
complementam a notícia. Dessa forma, são em dois tipos de representação estética: um
disponibilizados ao leitor o fato jornalístico e o centrado no filme como seqüência de efeitos
processo de feitura da notícia. especiais, pressupondo um estágio de pós-
produção; outro, centrado na autenticidade e com os fatos; mais do que um mero espectador,
imediaticidade, em detrimento do uso de efeitos ele acredita poder interagir com a realidade. A
especiais, o que é possibilitado, por exemplo, pelo mudança é causada por essa noção de
uso de equipamentos DV (Vídeo Digital)11. temporalidade simultânea, criadora da expectativa
A arte e a mídia modernas operam de situar o leitor no desenvolvimento de fato.
representando amostras da realidade, ou seja, A questão daí decorrente é que a relação
fragmentos da experiência humana. Sob a do indivíduo com a informação midiática,
perspectiva digital de registro e arquivo, a disponibilizada num ambiente interativo como a
capacidade de representação pode ser expandida, Internet, pode tomar um outro rumo. Ao acessar
em detrimento da mera reprodução desses a notícia, a idéia de estar diante do real pode ser
fragmentos. Para Manovich (2004, trad. nossa), fortalecida, visto que há possibilidades não apenas
“isso se refere à granularidade do tempo, de ver e ler, mas de participar do desdobramento
granularidade da experiência humana, e também e da apresentação dos fatos. Embora o destinatário
àquilo que pode ser chamado ‘granularidade social’ nem sempre esteja sobre a cena onde se desenrolam
(isto é, o indivíduo representado em sua relação os fatos, há vários recursos que podem produzir
com os outros)”. um simulacro de contato, assegurando o sentido
de real, fator decisivo para a adesão do indivíduo
ao processo comunicacional. Como sugere
Barthes (2004, p.23), a literatura é realista à medida
Ao acessar a notícia, a idéia de estar que ela assume o real como objeto de desejo. Da
mesma forma, o discurso jornalístico assume tal
diante do real pode ser fortalecida, desejo e, no interior desse campo, as mudanças
visto que há possibilidades não são observadas apenas na maneira de representar/
demonstrar o real, em decorrência das
apenas de ver e ler, mas de participar possibilidades tecnológicas.
do desdobramento e da apresentação
dos fatos. NOTAS

* Doutor em comunicação e cultura – Facom/UFBA; Co-


Nesse sentido, o Webjornalismo, pelo uso ordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Social,
dos recursos da Web, permite um discurso que professor de Teorias da Comunicação. Pesquisador do
Cepad – Centro de Estudos e Pesquisa em Análise do Dis-
se aproxima mais do real, visto que pode mostrar curso, Facom/UFBA. edsondalmonte@uol.com.br
pedaços de realidade, sem um corte temporal tão
1
grande entre o acontecimento e sua divulgação, Embora não se possa falar de maneira simplória desta
bem como o uso de imagens, áudio, vídeo de quem necessidade que o jornalismo tem de falar a partir do real,
algumas concepções reducionistas tentaram limitar a práxis
testemunhou o ocorrido. Da mesma forma, o jornalística ao que Traquina (2004, p.146-149) chama de
ponto de vista, ou o depoimento de quem “Teoria do espelho”, numa alusão ao desejo de que o jorna-
presenciou o ocorrido, ou mesmo de quem quer lismo apresente, por meio de seus relatos, apenas aquilo
que é observado, sem a menor interferência do repórter,
opinar, pode ser agregado àquele discurso,
que deve anular totalmente a sua subjetividade, atingindo a
conferindo um maior sentido de realidade ao fato. total imparcialidade.
Se a novidade e o atual estão no cerne
2
dos critérios de noticiabilidade, no Webjornalismo Para Barthes (2004, p. 22), considerando-se a literatura, o
real não pode ser representável; ele é apenas demonstrável.
esses são os valores fundamentais, no que diz
respeito aos desejos operacionalizados pelas 3
Para Floch (1986, p.16), o espaço no qual o herói realiza
inovações tecnológicas. A idéia de notícia em fluxo sua performance é nomeado pelos semioticistas como utó-
contínuo é portadora de expectativas basilares para pico.
a consolidação do efeito de sentido específico 4
“Quando Flaubert, ao descrever a sala onde se encontrava
dessa modalidade discursiva na Web. O efeito de a Sr.a Aubain, a patroa de Felicite, nos diz que ‘um velho
sentido de real despertado pelo Webjornalismo, piano suportava, sob um barômetro, um monte piramidal
por sua vez, atua decisivamente para que o leitor de madeira e de cartão’, quando Michelet, ao contar a mor-
te de Charlotte Corday, e relatando que na prisão, antes da
entre no processo comunicacional, pois a mídia é chegada do carrasco, ela recebeu a visita de um pintor que
vista como sendo capaz de colocá-lo em contato fez o seu retrato, precisa que ‘ao fim de hora e meia, bate-
ram delicadamente a uma pequena porta por detrás dela“ CHARAUDEAU, Patrick. Le contrat de communication
(BARTHES, 1984, p.131). de l’information médiatique. Le Français dans le Monde.
numéro spécial, Paris, Hachette/Edicef, p. 8 – 19, Juillet
5
Que num sentido etimológico significa aquilo que foi re- 1994.
portado, transportado, de um lugar a outro. Ou seja, uma
reportagem é uma história que foi transferida de um lugar a COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: litera-
outro. Podem ser observadas, na língua francesa, as pala- tura e senso comum. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
vras reportage (reportagem) e reporter (reportar) (LE DUBOIS, Jean. Dicionário de lingüística. São Paulo:
ROBERT, 1993, p.1106-1107). Cultrix, 1997.
6
De maneira contrária, o mesmo ocorre com o discurso ECO, Humberto. Seis passeios pelo bosque da ficção.
fantástico ou com os contos de fada, que por meio de São Paulo: Cia das letras, 1994.
recursos como “era uma vez”, ativam no destinatário a
idéia de que aquela é uma narrativa na qual tudo é possível, FLOCH, Jean-Marie. Le changement de formule d’un
fantasiosa (ECO, 1994, p.15). O leitor em questão pode quotidien approche d’une double exigence: la modernité du
ser tanto uma criança quanto um adulto que se deixe condu- discours et la fidelité du lectorat. Les Médias - Experiences,
zir por uma história certamente fantasiosa. Ao sinalizar Recherches Actuelles, Applications. Paris, IREP, p. 231-
que uma história fantasiosa está prestes a começar, o autor 247, juillet 1985.
seleciona seu público, que estará apto a caminhar pelos
caminhos propostos. Daí que ninguém questiona o nível FRANCISCATO, Carlos Eduardo. As novas configura-
imaginativo e fantasioso que certamente se fará presente ções do jornalismo no suporte on-line. Revista de
em um enredo que se inicia referindo-se a um passado vago Economía Política de las Tecnologías de la Información
e impreciso – Era uma vez... y Comunicación, Vol. VI, n. 3, Sep. – Dec. 2004. Dispo-
nível em: <www.eptic.com.br>. Acesso em: 16/05/2005.
8
O conceito de paratexto (GENETTE,1987) engloba uma
série de indicadores que colaboram para a aceitação de uma _____. A fabricação do presente: como o jornalismo
obra. Esses elementos são os comentários de outros auto- reformulou a experiência do tempo nas sociedades ociden-
res, registro, editora etc. tais. São Cristóvão: Editora UFS, 2005.
9
O que Manovich (2005, p.37) define como “tropos GENETTE, Gérard. Seuils. Paris: Éditions du Seuil, 1987.
ideológicos”. LE ROBERT. Dictionnaire de la langue française. Paris:
[s.e.] 1993.
10
Santaella e Nöth (1999, p.157-186) apontam três
paradigmas que marcam o processo evolutivo da produção MANOVICH, Lev. Novas mídias como tecnologia e idéia:
de imagens: o paradigma pré-fotográfico, representado pe- dez definições. In: LEÃO, Lúcia (Org.). O chip e o calei-
las imagens elaboradas artesanalmente, como a pintura; o doscópio: reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Edi-
paradigma fotográfico, que é a captação de elementos do tora Senac, 2005, p.23-50.
mundo visível e o paradigma pós-fotográfico, caracteriza-
do por imagens sintéticas ou infográficas. MANOVICH, Lev. From DV Realism to a Universal
Recording Machine. 2004. Disponível em: <http://
11
“Tanto na década de 1960, quanto na de 1990, os cientis- www.manovich.net/DOCS/reality_media_final.doc>.
tas usaram tecnologias recém-disponibilidadas (novas Acesso em: 27/03/2007.
filmadoras portáteis, mais leves na década de 1960, e câmeras
DV [Vídeo Digital], na década de 1990) para promover um SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos. Como as
estilo cinemático mais ‘imediato’ e ‘direto’. Na década de linguagens significam as coisas. São Paulo: Pioneira, 2000.
1960, esse movimento foi chamado cinéma vérité; na déca-
da de 1990 foi primeiramente associado aos filmes do Dogma SANTAELLA, L. e NÖTH, W. Imagem. Cognição,
95 [...]. Na época, como agora, a retórica dos cineastas era semiótica, mídias. São Paulo: Iluminuras, 1998.
de uma revolta contra as convenções do cinema tradicional,
consideradas muito artificiais. Em contraste, esses cineas- TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Vol. 1:
tas defendiam suas novas capacidades de ‘capturar a reali- Porque as notícias são como são. Florianópolis: Insular:
dade enquanto ela se revela’ e ‘entrar’ nas ações“ ( 2004.
MANOVICH, 2005, p.38).

REFERÊNCIAS
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do
texto. São Paulo: Ática, 1990.

BARTHES, Roland. O efeito de real. In: ____. O rumor


da língua. Lisboa: Edições 70, 1984, p.131-136.

___. Aula. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.

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