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Araras, 01 de dezembro de 2008.

Reitoria nº 054/2008

Excelentíssimo Senhor

Prof. Dr. João Gualberto de Carvalho Meneses

M.D. Presidente do

Conselho Municipal de Educação

São Paulo – SP

Excelentíssimo Senhor,

O Centro Universitário Hermínio Ometto, instituição que há mais de 30 anos atua no Ensino Superior,
numa proposta democrática, inclusiva, focada na excelência e no compromisso com a qualidade social
da Educação, sente-se no dever de oficiar a esse Egrégio Conselho Municipal de Educação, consulta
sobre a pertinência da normatização emanada nas Indicações nºs 04/04, 05/04 e 09/07, que estabelece
critérios para o ingresso de professores no quadro do magistério e que exclui os egressos dos cursos de
Educação na Modalidade a Distância desse direito.

Apresentamos, nos parágrafos seguintes, os argumentos que julgamos pertinentes para fundamentar
essa consulta e esperamos a sensibilidade necessária e o compromisso público com uma educação
democrática e inclusiva que, acreditamos, anima também esse Egrégio Conselho.

A Indicação CME nº 04/04, relatada pelo nobre Conselheiro José Augusto Dias, em seu primeiro
parágrafo aponta:

A formação mínima indicada por este Conselho em Pareceres já publicados, baseados na Lei
Federal nº 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) tem abrangência geral,
tendo em vista o exercício do magistério no sistema municipal de ensino, quer em educação
básica (abrangendo a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio), quer em
instituições privadas de educação infantil. Trata-se, no entanto, da formação mínima, à vista
do que dispõe a legislação em vigor, mas nem sempre poderá ser a formação requerida para
atender aos objetivos propostos. Cabe à instituição de ensino decidir, à luz de seu projeto
pedagógico, se aquela formação mínima é adequada para o atendimento de seus alunos.

(grifos nossos)

O mesmo parecer segue, no segundo parágrafo:

O órgão empregador tem o direito de estabelecer o nível de formação de profissional


desejado para sua escola, desde que respeite as normas legais sobre o assunto. Não pode
exigir menos que o estabelecido nas normas, mas pode exigir mais. Houve um tempo em que
o MEC fazia o registro de diplomas e estabelecia quais os direitos assegurados por esses
diplomas. Com o advento da Lei Federal nº 9694/96, o MEC extinguiu o registro de diplomas,
deixando tacitamente a critério do empregador estabelecer o tipo de diploma a ser exigido
dos candidatos. Assim sendo, é permitido à Secretaria de Educação estabelecer, em edital de
concurso, qual a formação a ser apresentada pelos candidatos.

(grifos nossos)

Os dois parágrafos que destacamos do relatório do nobre Conselheiro, a nosso ver, procuram
estabelecer uma excrescência jurídica, qual seja: estabelecer uma distinção completamente exógena à
legislação entre “formação mínima para o exercício do magistério” e “formação mínima para ingresso
no trabalho”. Ao argumentar que o órgão empregador tem o direito de estabelecer o nível de formação
de profissional desejado, quer o nobre Conselheiro supor que as diretrizes emanadas pelo MEC e pelo
CNE são insuficientes para regulamentar o exercício do magistério? Quer o nobre Conselheiro supor
que um Edital de Concurso Público pode estabelecer, por sua força, restrições e impedimentos
previstos em Lei Federal Ordinária? Quer o nobre Conselheiro sugerir que o fato de o MEC extinguir o
registro de diplomas (medida salutar de desburocratização) significa que aquele Ministério teria
delegado a tarefa de regulamentar o exercício do magistério às instâncias regionais e locais?

Só podemos compreender como equivocadas as suposições e sugestões que a leitura dos parágrafos
destacados podem ensejar. Em primeiro lugar, é o Brasil uma Republica Federativa, que, anos a fio,
vem tecendo uma complexa rede de compromissos entre a União, os Estados e os Municípios. Na
trajetória de nossa República, não seria a primeira vez que um ente da federação lança elementos de
desagregação à ordem jurídica e institucional e pretende, a seu julgamento, deslocar os mecanismos de
segurança jurídica que regem toda a sociedade para sua esfera de poder.

O nobre Conselheiro parece olvidar o fato de que, uma vez a legislação federal reconhecendo a
equiparação entre Educação Presencial e Educação a Distância, faculta ao cidadão a escolha da melhor
modalidade para suas possibilidades e interesses, impedindo qualquer mecanismo de discriminação
entre aqueles que optam por uma modalidade e aqueles que optam por outra.

Já a Indicação nº 05/04 do CME, ao discutir a formação de professores, afirma:

É provável que tais cursos [a distância] existam, sobretudo devido a falta de profissionais
qualificados e à impossibilidade de termos cursos presenciais em número suficiente em todo o
território nacional, mas não é esta a realidade do Município de São Paulo. Não se nega a
importância da educação a distância para atendimento de regiões em que ainda é
impraticável a generalização da formação presencial ou para enriquecimento do desempenho
daqueles profissionais que já receberam a formação. No entanto, não há nada que justifique a
aceitação no sistema municipal de ensino de profissionais para o magistério com formação
inicial em cursos de educação à distância.

Depreende-se da justificativa do Conselho que seria a Educação a Distância apenas uma ferramenta de
“ajuste de demanda” ao mercado do Ensino Superior. Assim, o relatório do nobre Conselheiro quer
fazer supor que é a Educação a Distância uma ferramenta de caráter meramente econômico, segundo a
qual seria possível baratear a ampliação do acesso ao ensino superior. Radicalmente, posicionamo-nos
contra essa visão estreita dos processos de inovação educacional e de mudança de paradigmas. Da
mesma forma que as instituições e programas de educação superior presenciais, as instituições e
programas de educação superior a distância são fiscalizados e normatizados pelos órgãos competentes e
têm sua competência técnica por eles atestada. Assim, o argumento de que a formação ofertada nos
programas a distância é, necessariamente inferior aos programas de educação presencial é equivocado.
A LDB, ao contemplar, de maneira inédita, a Educação a Distância realiza um avanço significativo no
ordenamento jurídico e reconhece anos de experiência de sucesso dessa modalidade de educação. Vale
ressaltar que as experiências em EaD no Brasil tem larga história, com instituições renomadas e
respeitadas que, em épocas históricas diferentes, utilizaram inclusive meios inovadores para
implementar seus projetos educativos. É, no mínimo, reducionista e parcial a posição expressada pelo
nobre Conselheiro.

Não é verossímil a hipótese do nobre Conselheiro sobre a disseminação do Ensino Superior presencial
na Cidade de São Paulo: basta notar que nos rincões da cidade (na periferia), não chegam às
instituições de ensino superior com seus programas presenciais. É justamente onde a população mais
carece de formação e da ampliação do direito à educação que notamos a completa ausência do Ensino
Superior, seja ele público ou privado. A Educação à Distância tem contribuído de maneira central para
que essa população, antes obrigada a arcar com o ônus financeiro e logístico de seu deslocamento até as
regiões centrais ou até às cidades do entorno, possa ter acesso ao Ensino Superior na região em que
mora.

Preocupa-nos o fato do nobre Conselheiro considerar que “não há nada que justifique a aceitação no
sistema municipal de ensino de profissionais para o magistério com formação inicial em cursos de
educação à distância”, como expressou em seu relatório. Preocupa-nos, ao menos por dois motivos:

O nobre Conselheiro sugere que a equiparação da EaD à Educação Presencial, expressa na LDB não
seria justificativa suficiente para que o Sistema Municipal

de Ensino respeite o direito dos estudantes egressos dos programas de Educação na


Modalidade a Distância para o exercício do Magistério. Tal compreensão equivaleria ao
vilipêndio, desconsideração e desrespeito à Lei Ordinária Federal que rege todo o sistema de
ensino deste país.

O nobre Conselheiro parece ignorar que a Rede Municipal de Ensino ainda possui milhares de docentes
atuando sem formação alguma no nível superior, mesmo após doze anos da Lei nº 9394/96 ter
estabelecido como meta que todos os docentes da Educação Básica tenham tal formação. Assim, a
realidade concreta contrapõe o argumento do referido Conselheiro sobre a pujança e expansão do
ensino superior para a formação de professores que justificaria o fato de – em sua visão - o Sistema
Municipal de Ensino pudesse prescindir dos profissionais formados em EaD.

Para além desses dois fortes motivos, quer nos parecer que a postura do referido Conselheiro desloca a
discussão sobre formação de professores do âmbito do debate público e da articulação normativa das
três esferas do Estado para a penalização dos estudantes que, seguindo a legislação vigente, optaram
por estudar na modalidade EaD.

Esquece-se o nobre Conselheiro que o estudante ingressou num curso na modalidade EaD porque o
Estado Brasileiro, através de sua legislação, expressou que tal modalidade lhe garantiria o exercício
profissional pleno para o qual se formaria. Ao supor que não há justificativa para a aceitação desses
profissionais, o nobre Conselheiro estabelece uma discriminação entre “esses profissionais” e os
“outros profissionais”. Essa discriminação afeta os direitos constituídos e estruturados na Carta Política
de 1988 e suas regulamentações.
Tanto é verdade que, no próprio âmbito do Conselho Municipal de Educação, encontramos eco dessa
nossa afirmação no voto do nobre Conselheiro Bahij Amin Aur. Em sua declaração de voto, o então
Conselheiro afirma:

Voto com restrição à discriminação contra concluintes de cursos e programas não


presenciais. Juridicamente, não há sustentação para esta restrição, pois a modalidade de
formação à distância é regular, prevista na LDB. Se sua oferta é por instituição devidamente
credenciada e o curso é regularmente autorizado pelo órgão competente, seus efeitos são os
mesmos de um curso presencial, conferindo os mesmo direitos de acesso a concurso ou
processo seletivo. As provas correspondentes é que aferirão o essencial, que é a competência
do candidato.

Não pode haver restrição ao acesso a concurso/processo seletivo, nem redução de direito ao
exercício profissional.

É louvável a lucidez do então nobre Conselheiro Bahij Aim Aur. É uma postura firme, em favor da
regularidade jurídica e da sustentabilidade do pacto federativo.

Em 2007, mais uma vez, o CME debruça-se sobre a temática da EaD. Em sua Indicação nº 09/07, os
então nobres Conselheiros relatores José Augusto Dias e Rubens Barbosa de Camargo recuperam a
Deliberação CME 02/04, nos seguintes termos:

Nos cursos a Distância é outra a linguagem, são diferentes os instrumentos, os recursos e os


procedimentos metodológicos. A relação professor-aluno, tão fundamental em qualquer
processo educacional, deixa de ser presencial, direta e imediata. O acompanhamento da
aprendizagem, da orientação, da avaliação e do atendimento às necessidades individuais
tornam-se fragilizadas, posto que os educandos não estão sistematicamente presentes na sala
de aula, interagindo com os demais estudantes e com os professores no ambiente da unidade
escolar.

Em nosso entendimento, os nobres Conselheiros querem vincular o fato de a EaD utilizar-se de outra
linguagem, outros instrumentos, recursos e procedimentos metodológicos à uma pretensa baixa
qualidade da formação que o estudante teria. Essa associação é, no mínimo, simplista. A utilização de
diferentes linguagens e metodologias é um mecanismo de diversificação pedagógica que, em si, não é
bom ou ruim. Diversidade de propostas não significa, em nenhuma hipótese, diferença de qualidade na
formação. Também os modelos presenciais são diferentes entre si, utilizam linguagens, recursos e
procedimentos metodológicos diversos e não se pode, a priori, estabelecer uma hierarquia dessas
diferenças.

A segunda parte da argumentação dos nobres Conselheiros refere-se à relação entre professor-aluno.
Concordamos plenamente com a centralidade dessa relação, entretanto, é importante apontar duas
questões fundamentais:

De acordo com a legislação vigente e os critérios já emanados pelos órgãos competentes, nenhum
programa de educação à distância pode prescindir de professores. O que ocorre é que, além dos
professores titulares da instituição, a EaD conta com outros profissionais, paradocentes (tutores,
supervisores, orientadores) que dão suporte a outras estratégias de mediação pedagógica. Assim, é falsa
a suposição de que não haveria uma relação entre professores (ou educadores docentes e paradocentes)
e o aluno. Também é inconveniente a associação entre uma relação “direta e imediata” e “encontro
presencial”. Na sociedade moderna, diversas formas de relação direta e imediata ocorrem por outras
vias e com pleno sucesso, no mundo do trabalho, no mundo das relações interpessoais e mesmo no
âmbito da administração pública.

Dizer que os mecanismos de acompanhamento da aprendizagem, da orientação, da avaliação e do


atendimento às necessidades individuais tornam-se fragilizados é, novamente, essencializar o debate,
afirmando que os “bons modelos” são unicamente presenciais e os “maus modelos” – ou modelos
fragilizados – são aqueles organizados pela EaD.

Ao definir a “Natureza” do Ensino a Distância, os nobres Conselheiros argumentam, apoiados em texto


de César Minto e Beatriz Fetizon que haveria uma diferença entre “educação à distância” e “ensino a
distância”.

Recortam do texto original dois trechos:

Há uma diferença clara entre educação e ensino. O conceito de educação é mais abrangente
do que o de ensino: a educação é um processo social que, do ponto de vista mais amplo,
representa o instrumental de que o grupo humano dispõe para promover a construção da
humanidade de seus membros; e, do ponto de vista individual, a possibilidade de desenvolver
atributos que permitam ao individuo constituir-se humano (ou construir sua própria
humanidade), a partir do seu equipamento pessoal e da ação do grupo.

...

Igualmente importante, mas muito menos abrangente do que o conceito de educação, o


conceito de ensino diz respeito à forma sistematizada – que se constitui num conjunto
organizado, envolvendo a seleção de conteúdos e método – de trabalho pedagógico, que é
adotada com o objetivo de disponibilizar, a todos os membros da sociedade, as informações,
os conhecimentos e as teorias que já compõem um acerto de saberes que, por sua vez, é
patrimônio da humanidade. Ou seja, quando se fala em ensino, trata-se do meio pelo qual se
busca garantir às pessoas, via escolarização formal numa instituição especifica – a escola,
aquilo que lhes é essencial para construir suas próprias visões de mundo e poder agir de
forma consciente, influindo na história e na cultura da sociedade em que vivem.

... ensino não se confunde com educação, pois o primeiro é apenas um dos meios essenciais
para se chegar à segunda.

E, livremente, concluem que:

Do ponto de vista pedagógico, não é apropriado falar em educação à distância para


formação de docentes. Os meios eletrônicos podem transmitir preciosos conhecimentos, mas
a educação não se faz apenas com conhecimentos. Há valores essenciais a uma educação
completa que somente é possível adquirir na convivência. É comum constatar que crianças e
jovens se ressentem da ausência dos pais; faltando-lhes, quando isto acontece, o carinho que
transmite segurança, o olhar que demonstra compreensão ou censura, a palavra que orienta
ou adverte, o exemplo que indica o caminho a seguir, enfim, tudo aquilo que não podem
senão na convivência com os pais. Não há informação transmitida a distância, por mais
exuberante, que possa compensar essa carência, também na escola, a presença do
mestre é essencial para uma educação completa, como bem ressalta a Indicação CME nº
05/04.

É assustadora a simplificação argumentativa promovida pelos nobres Conselheiros. Querem os mesmos


nos fazer crer que há uma oposição entre “educação” e “ensino” e que há uma

equiparação entre “educação” e “ensino presencial” que não pode ser verificada nos programas a
distância. Queremos contestar essa simplificação.

Em primeiro lugar, concordamos com MINTO e FETIZON na distinção que fazem entre Educação e
Ensino. Concordamos que Educação – lato sensu – são todos aqueles processos através dos quais um
grupo social humaniza as novas gerações. Incluem processos de transmissão de cultura amplos, que
envolvem práticas religiosas, sistemas de alimentação, modos de se vestir, modos de se comunicar,
mecanismos relacionais, crenças, uma língua materna, entre outras heranças. É evidente (não
precisaríamos recorrer a uma teoria complexa) que esse processo educativo amplo não se realiza
totalmente na escola (seja ela no

modelo em que for). A emergência da escola moderna está ligada à instituição de uma forma escolar,
que selecionou, organizou e objetivou um conjunto de saberes determinado para transmitir de forma
sistemática, deixando outros saberes para serem transmitidos por outras instituições. Assim é, por
exemplo, que a escola não escolheu – e não deve – transmitir uma crença religiosa específica; tendo em
vista que esse saber não faz parte do corpo de saberes eleito pela forma escolar para serem objetivados
cientificamente e tratados pelo currículo.

Assim, acreditamos que a visão de MINTO e FETIZON não é tão reducionista quanto quer demonstrar
a argumentação dos nobres conselheiros. Diz respeito muito mais ao processo de objetivação,
organização e eleição de determinados saberes que a escola fez e que fundamenta a diferenciação entre
educação e ensino ou – também poder-se-ia dizer – educação formal (ensino) e educação.

Também é completamente infundada a identificação direta entre educação lato sensu e ensino
presencial. Ora, se quisermos seguir a linha argumentativa de MINTO e FETIZON, tanto nos modelos
presenciais quanto nos modelos a distância, o fundamental é o conjunto de saberes – e práticas –
eleitos, objetivados e sistematizados pela escola que se pretende que os sujeitos se apropriem. Então,
tanto nos modelos presenciais quanto nos modelos a distância, o que ocorre – e o que pode ocorrer – é
o ensino.

Reduzir EaD aos meios eletrônicos é uma outra retórica argumentativa. Se a lógica persistisse, também
reduziríamos o ensino presencial aos livros (tendo em vista que a tradição educativa brasileira elegeu o
livro didático como o instrumento privilegiado para suporte dos saberes). Os meios eletrônicos (vídeo-
aulas, tele-aulas, fóruns, etc) são os instrumentos que a EaD utiliza para empreender sua ação
pedagógica, mas não são a ação pedagógica em si. A ação pedagógica é estabelecida também entre os
sujeitos do processo, tal como ocorre no ensino presencial. E essa ação pedagógica não ocorre somente
a distância.

O modelo de EaD da Uniararas, por exemplo, estabelece encontros presenciais DIÁRIOS com a turma
de estudantes (40 alunos), sob a supervisão de um paradocente (tutor) que é também pedagogo
licenciado, com formação adequada em tutoria e experiência pedagógica comprovada. Dessa maneira,
reiteramos ser reducionista a leitura do Conselho Municipal de Educação quando define a EaD pelos
seus instrumentos pedagógicos e não por sua ação pedagógica.
Outro equívoco da Indicação nº 09/07 é utilizar-se do parágrafo 4º do Artigo 32 da LDB e do Artigo 30
do Decreto Federal nº 5622/05 para justificar a não aceitação do modelo a distância. A legislação
apontada diz respeito ao Ensino Fundamental e Médio, que, para a norma legal, deve ser feito no
modelo presencial. Tal legislação não cita nem regulamenta o Ensino Superior da mesma maneira.

Outro argumento – a nosso ver falho – da Indicação nº 09/07 seria a existência de uma reserva de mão
de obra qualificada (professores já formados) que justificaria a restrição da aceitação de profissionais
formados em EaD.

Em primeiro lugar, o simples fato de haver muitos professores formados em modelos presenciais não
significa, em si, que não seja necessária a ampliação do oferecimento de formação de professores. Mais
competente em sua leitura foi o Conselho Estadual de Educação e a Secretaria Estadual de Educação
que, sensível ao fato de poucas redes terem cumprido a meta legal de formação de todos os seus
professores em ensino superior, têm investido na ampliação da EaD através da Universidade Virtual.

Se esse argumento dos nobres Conselheiros tivesse realmente grande evidência empírica, como quer
atestar a tabela apresentada, o que explicaria o fato de mais de 2000 (dois mil) profissionais efetivos da
rede municipal de ensino não terem NENHUMA FORMAÇÃO SUPERIOR?

A tabela também opera um mecanismo de simplificação ao associar número de inscritos em concurso


público a número de profissionais formados. Não há nenhuma evidência de que todos aqueles que
prestaram os concursos públicos da SME fossem, efetivamente, professores formados. Inúmeros
estudantes dos cursos de pedagogia e das licenciaturas inscrevem-se nos concursos públicos mesmo
sem terem concluído sua formação e não há nenhum impedimento legal para que alguém sem a
formação preste o concurso público. O parecer quer fazer crer que todos os inscritos e aprovados nos
concursos promovidos pela SME eram, necessariamente, formados – e mais do que isso – em cursos
presenciais. É uma argumentação sem comprovação.

Ao debater autonomia do município e regime de colaboração federativa, mais uma vez, o texto dos
nobres Conselheiros esgarça a lógica e utiliza o Artigo 11 da LDB para justificar a normatização que
quer estabelecer. O Artigo 11 da referida lei faculta ao Sistema Municipal de Ensino “baixar normas
complementares para seu sistema de ensino”. Concordamos plenamente. Entretanto, não nos parece
que a exclusão de estudantes que concluíram seus cursos em modalidade a distância apoiados no que
diz a LDB seja uma “norma complementar”.

Talvez os nobres Conselheiros possam estar confundindo complementaridade com dissonância. Não há
complementaridade possível entre a negativa da aceitação da EaD que o Sistema Municipal de Ensino
quer propor e a equiparação que a LDB estabelece entre EaD e ensino presencial. Há uma dissonância
flagrante que atenta contra a ordem jurídica, o pacto federativo e a normatização educacional.

Por fim, a Indicação quer comparar a Autonomia Universitária (plena de direito) à autonomia dos
sistemas de ensino. A Autonomia Universitária está pressuposta na terminalidade que a Universidade
significa para a trajetória educacional dos sujeitos e no fato de a Universidade configurar-se como
espaço de produção científica, disseminação e divulgação do conhecimento e pesquisa. É a tríplice
função da Universidade que lhe confere a necessidade da autonomia plena que a norma legal lhe
faculta.

Ora, o Sistema Municipal de Ensino não significa a terminalidade dos estudos do cidadão nem está
enquadrado na tríplice função da instituição universitária para pleitear a mesma autonomia. Cabe-lhe
uma autonomia relativa e possível, conferida pelo sistema de colaboração que a própria LDB normatiza
e define. Ou aceitamos essa autonomia relativa, ou voltaremos aos tempos iniciais de nossa educação,
nos quais a emissão de um certificado numa cidade não significaria nada para o indivíduo na cidade
vizinha. É essa excrescência que o Conselho Municipal de Educação defende?

Além disso, o exemplo é equivocado também porque não idêntico. As Universidades em seus editais
discriminam níveis de formação diferenciados para a aceitação dos docentes. Assim, discrimina entre
mestres e doutores, entre especialistas e mestres, entre especialistas e graduados. Mas nenhuma
Universidade discrimina diplomas de mesmo nível em seus editais de graduação. Também parece-nos
que o Conselho Municipal de Educação, apoiado numa analogia frágil, desconsidera tal diferença.

Resta-nos alguns argumentos de ordem mais empírica para solicitar a reavaliação da normatização
desse Egrégio Conselho Municipal de Educação. Em primeiro lugar, desde 2005, o Centro
Universitário Hermínio Ometto tem sido parceiro privilegiado da SME para a formação de professores.
Através da instituição do Programa de Educação Continuada de Professores, formamos mais de 200
professores da Rede Municipal e, atualmente, contamos com cerca de 600 alunos desta mesma rede –
professores no Curso Normal Superior. O fato de a SME ter realizado em 2005 um primeiro convênio
desta natureza e tê-lo reeditado em 2007, significa que, para a Rede Municipal de Ensino, a formação
que oferecemos contempla plenamente aquela esperada para seus professores.

Como explicar a contraditória posição desse Egrégio Conselho que considera adequada a formação de
professores realizada pela Uniararas para seus docentes em exercício na Rede Municipal de Ensino,
mas não considera adequada a Formação de Educadores e Gestores nos Cursos de Pedagogia análogos
àquela, oferecidos pela mesma instituição?

Julgamos que o argumento sustentado pelos pareceres desse Conselho de que o primeiro trata-se de
Programa de Formação Continuada e o segundo trata-se de Formação Inicial estabelece uma dicotomia
que os estudos na área de Educação têm procurado superar. Somente numa visão pouco sistêmica e
bastante retrógrada dos processos de formação docente cabe uma separação tão incisiva entre
“formação inicial” e “formação continuada”.

A lógica formativa que deve presidir a formação inicial não pode e não deve ser divergente da lógica
formativa que deve presidir a formação continuada, sob pena de criarmos uma verdadeira esquizofrenia
pedagógica. Sustentamos, em nosso projeto pedagógico, que tanto a formação inicial dos educadores
quanto os processos de formação continuada são constitutivos da identidade profissional e devem ser
guiados por uma intensa reflexão teórico-prática e devem ser sustentados a partir de mecanismos
curriculares que não afastem o futuro professor das questões, dos problemas, dilemas e debates da
profissão que escolheu.

O nosso curso “Normal Superior”, atualmente ministrado através de contrato com a SME aos
professores vinculados a ela, utiliza a mesma metodologia empregada em nosso curso “Pedagogia”, na
modalidade a distância. Como explicar aos egressos desse curso que o Conselho Municipal de
Educação de São Paulo não reconhece seus diplomas, devido à metodologia utilizada, para ingresso nos
quadros funcionais do município, se este mesmo município vale-se dessa própria metodologia para
qualificar em nível superior seus servidores?

Em segundo lugar, apontamos o fato da Uniararas ser a instituição que mais participa do Programa
Aluno Pesquisador, no âmbito do Projeto Ler e Escrever, prioridade no Ensino Municipal. Essa
importante política pública de combate ao fracasso escolar seleciona estagiários de Pedagogia, Letras e
Curso Normal Superior para atuarem como professores assistentes no 1º ano do Ensino Fundamental.
Em 2007, foram selecionados mais de 200 estagiários da Uniararas para o programa. Em 2008,
novamente, contamos com mais de 200 estagiários envolvidos na tarefa, com uma avaliação
extremamente positiva da Secretaria Municipal de Educação e das escolas. Isso nos confere a
segurança necessária para defender o modelo e o projeto educativo que construímos coletivamente, em
prol da Educação no nosso país.

Além desses dois relevantes apontamentos, ressaltamos a recente iniciativa da Secretaria de Ensino
Superior do Estado de São Paulo que, reconhecendo a relevância e os avanços qualitativos da Educação
a Distância, constituiu a Universidade Virtual do Estado de São Paulo, que conta com o escopo das
instituições públicas de ensino superior do Estado (USP, Unicamp e UNESP), e que oferecerá, a partir
de 2009, cursos nas diferentes áreas e com mais de cinco mil vagas somente para o curso de Pedagogia.

Para além de legitimar uma importante estratégia de enfrentamento dos problemas de


profissionalização docente, essa iniciativa da Secretaria de Estado da Educação é uma demonstração
inequívoca de que a Educação à Distância consolida-se, de forma cabal como uma alternativa
altamente capaz e eficiente para a expansão e democratização do ensino superior.

Também em nível federal, iniciativas têm apontado para esse caminho. A Universidade Federal de São
Carlos – UFSCar, desde 2007, já possui 05 (cinco) cursos oferecidos em formato de EaD, incluindo o
de Licenciatura em Pedagogia. Teria o Conselho Municipal de Educação a pretensão de, pautado por
sua normatização, recusar a formação oferecida

também por essas instituições? Seria o Conselho Municipal de Educação de São Paulo o órgão
juridicamente empossado para discriminar e regular tal mecanismo?

A Uniararas foi uma das primeiras Instituições de Ensino Superior com credenciamento legal para o
oferecimento de cursos Superiores à Distância, conforme Parecer nº CES/CNE-nº 0113/2004, e
Portaria MEC nº 1500/04, de 26/05/2004, reeditada na Portaria MEC nº 4387, de 19/12/2005. Em
2007, com a promulgação das Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, a Uniararas,
compreendendo a importância de participar do debate sobre

a formação de educadores em nosso país, reformulou o projeto pedagógico de seu Curso Normal
Superior, transformando-o em Curso de Licenciatura em Pedagogia e adequando sua grade curricular
aos ditames da nova legislação. Comprovando a excelência de nosso trabalho e a pertinência dessa
adequação curricular, o Egrégio Conselho Estadual de Educação aprovou a transformação do Curso
Normal Superior em Curso de Licenciatura em Pedagogia e o reconheceu através da Portaria CEE/SP
nº 68, de 09/02/2008.

Em que pesem a relevância e a pertinência das preocupações desse Conselho com a qualidade da
formação de seus professores, não é aceitável que, apoiados numa visão conservadora e regressiva,
marcada por um discurso que – de forma equivocada – lança os cursos de Educação a Distância no
lugar de não excelência em oposição à pretensa excelência de todos os cursos de Ensino Presencial.
Isso em estridente desrespeito aos fundamentos de nossa ordem jurídica, dos ditames do pacto
federativo e dos mecanismos de colaboração, integração e articulação dos sistemas de ensino que
presidem a Educação em nosso país.
Por todo o exposto, solicitamos a esse Egrégio Conselho Municipal de Educação a imediata revisão de
seu posicionamento, passando a tratar de forma isonômica os formados por cursos presenciais e a
distância.

Certos de um breve e favorável pronunciamento, subscrevemo-nos.

Atenciosamente,

Prof. Dr. José Antonio Mendes

Reitor

cc. Presidente do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo

Secretário Municipal de Educação de São Paulo

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