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O gênio de Oscar Niemeyer cria uma escola ampla, bonita, funcional e 30% mais barata que um
prédio escolar convencional.
Para implantar no Estado um grande número de CIEPs com êxito, era necessário um projeto de
arquitetura que desse origem a uma escola bela, ampla, que fosse economicamente viável e
permitisse velocidade na construção. Esse desafio de conciliar beleza, baixo custo e rapidez de
execução foi confiado ao talento de Oscar Niemeyer - que resolveu a equação da nova Escola
Pública de maneira brilhante. Partindo da idéia de utilizar a técnica do concreto pré-moldado, que
possibilita montar cada CIEP como um jogo de armar, em um prazo de apenas quatro meses,
Niemeyer criou um projeto-padrão que é 30% mais barato que uma obra que utilize a técnica
convencional de fazer a concretagem no próprio local de construção. Na obra do CIEP, como definiu
o Engenheiro Calculista José Carlos Sussekind, "a arquitetura é inseparável da estrutura; existe
uma especial integração arquitetura-engenharia".
O Projeto-Padrão do CIEP
Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, os CIEPs não são construídos pela Fábrica de
Escolas que funciona em plena Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, sob o
comando do arquiteto João Filgueiras Lima. A função da
Fábrica é preparar os módulos de argamassa armada que
entram na construção das Casas da Criança e das Escolas
Isoladas que complementam o Programa Especial de
Educação.
Os CIEPs são construídos por firmas privadas de
engenharia, sob a coordenação do Dr. João Otávio Goular
Brizola (foto). Estas firmas são selecionadas por sua
habilitação técnica, após rigorosa checagem da
experiência prévia que possuam no campo do concreto
pré-moldado, levando-se em conta, ainda sua capacidade
em cumprir o prazo de conclusão estipulado para os
CIEPs. Para eliminar a corrupção que costumava cercar as
obras públicas, a construção dos CIEPs somente é confiada a
firmas ganhadoras de concorrência pública, pelo que diversas
empresas foram contempladas, refletindo a realidade da
Engenharia Civil no estado e contribuindo para a erradicação da
prática do nepotismo.
Cada firma de engenharia responsável pela construção de um determinado número de CIEPs
precisa implantar uma verdadeira fábrica de pré-moldados, para obter o jogo completo das peças
estruturais, que são: os pilares do Prédio Principal, os pilares do Salão Polivalente, as lajes que se
apóiam nos pilares e as "gaivotas" (vigas em forma de "y" especialmente projetadas por Niemeyer
para a cobertura do Salão Polivalente).
Uma das Fábricas já existentes, para produção em série de pré-moldados, ocupa uma área de
cerca de 50.000 m². toda a produção da Fábrica é controlada por 2 computadores: um
supervisiona os empreiteiros e o outro mede a eficácia das soluções adotadas.
O ritmo de trabalho é intenso: numa área de 250 metros de extensão, em apenas 10 dias, são
produzidas as 14 "gaivotas" de concreto protendido que são necessárias a um CIEP. Em outro
setor, cerca de 600 homens produzem 74 lajes e 22 pilares diariamente. Peças que chegam a
pesar 14 toneladas e a medir 11 metros de comprimento (como é o caso dos pilares do Prédio
Principal) são estocadas verticalmente ou colocadas sobre as carretas que buscam na Fábrica as
peças prontas. Betoneiras movimentam-se sem parar, lançando um volume de 300 m³ diários de
concreto. A capacidade de produção é de 1,5 escola por semana.
É importante ressaltar ainda que, graças às obras do Programa Especial de Educação, a Região
metropolitana do Rio de Janeiro passou a apresentar o menor índice de desemprego do país.
Todo o programa de construção dos CIEPs é executado através e a pedido da FAPERJ - Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, sob a coordenação e administração direta do
Vice-Governador Professor Darcy Ribeiro, pelo Engenheiro José Carlos Sussekind (que é o
responsável, nos últimos 10 anos, pelos projetos de engenharia correspondentes às concepções de
Oscar Niemeyer) e também pelo Arquiteto João Otávio Brizola, todos voltados para a tarefa de
criar uma Escola Pública digna, onde o aluno permanece o dia todo e, como frisou o próprio
Governador Leonel Brizola, "de onde sai jantado e banhado para o carinho dos pais".
A preços atuais, incluindo as despesas com todos os equipamentos
necessários, pode-se estabelecer o custo médio de um CIEP em
torno de 13 milhões de cruzados.
"O pré-fabricado limita a nossa fantasia, o nosso desejo de especular nos requintes da técnica do
concreto armado. Examinando o projeto do CIEP, é fácil constatar como nele o concreto é bem
concebido e como apesar das limitações do pré-fabricado ele se apresenta inovador
plasticamente."
Oscar Niemeyer
"As críticas que têm sido feitas aos CIEPs são tão levianas, demonstram tal desinformação que, a
contragosto, sou obrigado a dar uma explicação desse projeto.
Começarei dizendo se tratar de um projeto revolucionário, sob o ponto de vista educacional.
Escolas que não visam apenas como as antigas - a instruir seus alunos, mas sim dar um apoio
efetivo a todas as crianças do bairro. E isto explica serem, no térreo, para elas abertos aos sábados
e domingos, ginásio, gabinete médico, dentário, bibliotea etc. Daí a dificuldade de utilizar as velhas
escolas - vão sendo remodeladas - pois não foram projetadas para esse programa.
Por outro lado, os CIEPs não representam custos vultosos, nem são faraônicos (para usar um
termo do agrado da mediocridade inevitável). Obedecem a um programa e não existe mágica em
matéria de construção. Pré-fabricados, eles constituem uma economia de 30% em relação às
construções do tipo comum - e mais econômicos ainda se tornam por serem de construção rápida,
quatro meses, o que é fácil verificar tendo em conta o aumento crescente dos materiais, da mão-
de-obra etc. Adaptam-se a qualquer lugar, junto às favelas inclusive, o que é sem dúvida
importante, permitindo que os filhos dos favelados sintam que todo um conforto lhes é oferecido,
sem a discriminação odiosa que mais tarde e, por enquanto, a vida lhes vai impor. E são simples,
lógicos, destacando-se pela sua forma diferente nos setores mais diversos da cidade, revelando
assim a grandeza do programa adotado pelo Governador Leonel Brizola, o que, por isso mesmo,
parece não agradar a muita gente.
Mas não são apenas estes aspectos, fáceis de explicar, que me levaram a este pequeno texto.
Revolta-me, principlamente a desenvoltura com que alguns comentam o programa educativo dos
CIEPs sem levar em conta a presença de Darcy Ribeiro, sua autoridade internacional no campo da
educação, convidado constantemente para organizar o ensino em países do Novo e do Velho
Mundo. E essa revolta cresce quanto sinto que a maioria desses críticos nada entende dos
problemas educacionais, limitando-se a opiniões já superadas, fáceis de contestar e definir.
Agora a campanha contra os CIEPs se multiplica quando alguns candidatos à Prefeitura do Rio de
Janeiro, ligando-se às correntes mais reacionárias do país, dela passam a participar como se nada
tivesse a dizer ao povo sobre os seus próprios programas de Governo. A tudo isso o carioca assiste
desiludido, pois, em cada CIEP que surge, uma nova dúvida aparece, a contradizer os que insistem
em combatê-los."