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C21 20 LUIGI LUCA CAVALLI-SFORZA Genes, povos e linguas Tradugao Carlos Afonso Malterrari 1s romps U.F.M.G, - BIBLIOTECA UNIVERSITARIA TT 232450707 NAO DANIFQUE ESTAETIQUETA as STETRAS vea446 Copyright © 2000 by Luigi Luca Cava Sforza Tia original Geni, popole ingue Por orintagio do autor, para esta edisiouilizouse a teadusdo ‘americana de Mark Secstad (Genes peoples and language) apa Dupla Design| dice remisivo ode bas ‘Maria Claudia Carvalho Matis BIBLIOTECA UNTVERSITARIA Preparacao OS/ 12 (Cli Canarin ree evs 2324507-07 Me a ‘Ana Maria Barbosa ab omni db Pap Cl tra, nga, 1922- eve, peeling! Ll Lica Canal Se aio ‘Gos fm Marat — Ss Po Compania ds en ei Ge pe luo humana Gent de popula humanas ‘omic Lng ling Origem Tle Inde pra cao omic ‘co hamans Cas dey 59908 {2003} “Todos os dircitos desta edigto reservados 3 Rua Bandera Palisa yoo .04532-002 — Sto Paulo — Teefone (1) 37073500 Fax (n) 3707-3 ‘worn companhiadaletrascom.br Sumario Preficio ee Agradecimentos Sepao Wn 1. Genes e historia 17 54 2. Um passeio no bosque 3.Sobre Addo e Eva... eee 4, Revolugdes tecnolégicas e geografia génica 5-Genes elinguas 0.22... eeeeees 6. Transmissao cultural e evolugio Bibliografia Indice remissivo evento de monta na Africa se deu no Leste e no Sul, e a primeira expansio correu da Africa oriental para 0 Sul e o Sudeste da Asia. Dell, prosseguiu para o Sul, rumo a Oceania, e para o Norte, ru- moa China, ao Japao e a Sibéria, até chegar por fim & América. A rota costeira deve ter sido muito importante. Houve uma ex- ansio da Africa oriental para o Nordeste da Africa e, de lé, para a Africa central e ocidental. O estreito de Suez no mar Vermelho foi outra passagem para a Asia utilizada com freqiiéncia, Nao é surpreendente, portanto, que a Asia central apresente uma varia- ao genética consideravel: ela foi povoada de muitas diregdes ¢ contribuiu para intmeras novas expanses. A Europa comesou 4 ser povoada hé 40 mil anos, provavelmente a partir de muitos lugares de origem: Marrocos, Tunisia, Oriente Médio e Tuarqnia, passando pela Ucriinia e até mesmo pelos montes Urais. 76 5. Genes e linguas ‘Mais de 5 mil Kinguas sao faladas hoje em dia. Algumas pou- «as sao usadas por centenas de milhdes de pessoas, mas a grande ‘maioria possui uma distribuigdo bastante restrita. Linguas fal das por menos de cem pessoas correm o risco de extingao imi: nente; muitas ja desapareceram. Nao é preciso ser lingiista para saber que certas linguas tém_ relagdes mais proximas entre si do que outras. Espanhol e italia no, minha lingua natal, sao exemplos dbvios. Consigo me fazer entender em paises de lingua espanhola ou portuguesa sem maio- res dificuldades. Todavia, palavras que sao idénticas ou similares, ‘mas possuem significados diferentes, podem causar problemas. Por exemplo, burro significa “manteiga” em italiano e “jumento” em espanhol; equipaggio significa “tripulagao” em italiano, mas equipaje quer dizer “bagagem’ em espanhol; sare significa “su- bir” em italiano, enquanto salir é“sair” em espanhol. Sao os “fal- sos cognatos”,¢, felizmente, nao ha muitos deles. Italiano, fran- és, espanhol, romeno ¢ outras linguas derivam de uma fonte 7 comum: 0 latim. Do mesmo modo, as linguas germanicas abar- cam 0 sueco, 0 alemao, o holandés, o flamengo e 0 inglés. As lin- guas eslavas do Leste europeu também sao bastante parecidas, E a semelhanga entre o sanscrito, a lingua clissica da India, e cer- tas linguas européias antigas era bem conhecida jé no comeso do século xvi, estudo do sinscrito proporcionou os primeiros indicios lingitisticos das relagoes entre as Iinguas daquela que viria a ser conhecida como familia indo-européia. Desde entao, muitas ou- tras familias lingiisticas foram identificadas (alguns lingiistas preferem denominé-las filo). Do mesmo modo que os taxono- mista de plantas e animais, os lingiistas reconstruiram érvores que ilustram relagdes lingiisticas a que chamam de “genéticas” —equivalente ao uso do termo em biologia. Contudo, eles tém ‘encontrado dificuldades para reconstruir essas relagdes acima do nivel das familias, pois ainda nao ha acordo acerca da drvore que tuniria todas as familias existentes. Na realidade, muitos acredi- tam que a questio da unidade ou da diversidade das linguas mo- dernas jamais sera esclarecida. A dificuldade esté na rapidez da evolugao lingiistica, A figura 11 mostra a distribuigio geogrétfica das familias lin- Buisticas proposta recentemente por Merritt Ruhlen, As linguas ‘menos conhecidas — as dos aborigines australianos e dos nova- guineenses — so as mais dificeis de classificar. Mas as opiniges sobre outras familias também diferem; contendas profundas tém caracterizado a lingUistica histrica ao longo do século passado, Uma das questoes mais controversas entre os lingiistas norte- americanos ¢ a classificagao das linguas dos nativos americanos, No inicio do século, tendo notado semelhanga entre varias Jinguas amerindias, o lingtista Edward Sapir eo antropélogo Kar! Kroeber afirmaram que haveria apenas algumas poucas familias de linguas nativas americana, Essa hip6tese encontrou resistén- 178 : z = é q 3 : E i = 5 i i : : : & = 4 : i ! a Neeriordfaison Nib-carana ‘Auton (istic) ‘Not a) ines [==>] Esquina = Ccatame ist ‘mapas em Rahlen, 1987, vol. 1.) Figura cia consideravel entre a maioria dos linguiistas americanos, que se opuseram com veeméncia a tal unificagao. Um novo ciclo de discérdias teve inicio em 1987, quando Joseph Greenberg, da Uni- versidade de Stanford, publicou um livro chamado Language in the Americas [Lingua nas Américas}, mostrando que as linguas faladas pelos americanos pré-colombianos poderiam ser agru- padas somente em trés familias: esquimé-aledite, na-dene (que abrange as linguas faladas principalmente na costa noroeste do Pacifico, mas inclui também o navajo e 0 apache) e amerindia (que abrange a maioria das linguas da América do Sul e do Nor- te). A proposta de Greenberg era consoante as classificagoes dos bidlogos norte-americanos Christie G. Turner e Stephen Zegura, ‘que utilizaram, respectivamente, medidas de dentes fésseis © mo- dernos, ¢ grupos sangiiineos e proteinas. Ademais, essas trés fa- iflias lingaisticas parecem corresponder a trés grandes migra- ‘Bes sugeridas pelos dados arqueol6gicos. Os amerindios parecem ter sido os primeiros a chegar; em seguida, vieram os povos de lingua na-dene; ¢, por fim, os esquimés. O primeiro grupo ocu- Pou a América inteira, enquanto o segundo ¢ 0 terceiro perma- neceram perto do Artico, de onde eram oriundos, Também veri- ficamos que 05 nativos americanos podem ser yetieticamente divididos nos trés grupos distintos que Greenberg identificou ‘com base na lingtifstica, No entanto, é preciso que se diga que os amerindios sao extremamente varidveis em termos genéticos e que os subgrupos lingusticos dentro da familia amerindia no correspondem com exatidao aos resultados genéticos. Os na- denes do Sul (apaches e navajos) s4o geneticamente semelhantes aos na-denes do Norte, mas as populagdes meridionais absorve- ram genes de seus vizinhos amerindios.. (Os amerindios parecem ter chegado as Américas numa mi- ‘gragdo muito anterior e mais complexa que as realizadas pelas populagdes que falavam na-dene e esquimé-aletite. Além disso, é possivel ter havido mais de uma migragao amerindia, Os dados genéticos indicam que sua chegada se deu hé pelo menos 30 mil anos, porém essa data representa apenas uma média das migra- «Ges mais importantes. Ademais, pode ser distorcida para mais se for verdade que as primeiras migragdes dessa populacdo en- volveram uns poucos individuos, como parecem sugerir alguns dados novos sobre cromossomos Y. Um forte “efeito dos funda- dores” tende a aumentar 0 comprimento dos ramos de arvores construidas pelo método neighbor joining, como veremos adian- te, ¢, portanto, também a exagerar a data do primeiro povoamen- to estabelecida por célculos genéticos. ‘A publicagao de Language in the Americas desencadeou uma nova guerra entre of lingiistas ¢ antropélogos norte-americanos favordveis & tese de Greenberg. Um grande grupo de lingdistas reuniu-se e declarou ser impossivel reconhecer menos que ses- senta grupos taxonomicos de linguas nativas americanas. Os ta- xonomistas podem ser divididos em “juntores” e “disjuntores”, cujas tendéncias sintéticas e analiticas provavelmente refletem uma dicotomia fundamental no espirito humano. No caso da lassificagao dos amerindios, contudo, as diferengas metodolégi- cas explicam boa parte da disputa, como Greenberg revela em. detalhes. Nao sou lingdista, mas acho os argumentos por ele ela- borados bastante convincentes. Ademais, Greenberg ja passou por tudo isso antes. Muitos anos atras, ele propos a classificagao, hoje amplamente aceita, das linguas africanas em apenas quatro familias: afto-asidtica (incluindo todas as linguas semiticas ¢ a maioria das linguas da Etidpia e do Norte da Africa), nilo-saaria- ra (abrangendo as faladas ao longo do alto Nilo € no Sul do Saa- +a), niger-cordofaniana (que inclui a maioria das linguas do Cen- tro, Sul e Oeste da Africa, especialmente as linguas bantas), € «coisa (Linguas faladas pelas populagdes coic6i esa do Sul da Afri- ca). Essa classificagao enfrentou uma série de criticas quando foi Ln roposta pela primeira vez, mas hoje é aceita sem ressalvas. Uma mudanga de atitude similar quanto & classificacao das linguas amerindias provavelmente ocorreré com o tempo. Se examinarmos algumas das objegdes levantadas pelos co- legas de Greenberg as suas classificagSes, compreenderemos me Ihor tanto as dificuldades objetivas que afligem os estudos sobre evolugao lingifstica como as subjetivas, tipificadas por aqueles ‘que se opuseram a ele, As linguas mudam muito depressa ¢ é ter- rivelmente dificil estabelecer relagOes claras entre aquelas di tes. Com o tempo, grandes mudangas fonolégicas e semanti ‘ocorrem em todas elas. A magnitude dessas mudangas torna com- plexas a reconstrugao ea avaliagao dos aspectos comuns entre as aguas. A gramtdtica também evolui, embora quase sempre num, ritmo suficientemente lento para permitir reconhecimento de relagdes lingiisticas mais antigas. Sob a pressio das mudangas fo- néticas e semanticas, uma lingua logo se torna incompreensivel As linguas modernas derivadas do latim nao seriam compreensi- veis a um romano que viveu 2 mil anos atris — em geral um in- tervalo de mil anos basta para tornar uma lingua incompreensi- vel para quem a falava originariamente. Apés um hiato de 5 mil 10 mil anos, o indice de palavras reconheciveis pode cair para 10% ou menos. Felizmente, certas palavras e certas partes da fala tém um ritmo de mudanga mais lento, 0 que aumenta nossas chances de discernir aquelas relagdes lingiisticas mais distantes. Quanto aos problemas provocados por métodos malcondu- zidos, alguns linguistas norte-americanos anti-Greenberg acre- ditam ser impossivel postular uma relagdo quantitativa entre duas linguas quaisquer. Ao afirmarem que nao existem medidas con- fiaveis e a0 limitarem as relagdes entre duas inguas apenas a “re- lacionada” ou “nao relacionada’, tis lingdistas excluiram a pos- sibilidade de uma classificacao hierdérquica — um pré-requisito essencial da taxonomia. 182 Curiosamente, essa posigdo contradiz inteiramente o ponte de vista de lingiistas que utilizam métodos sofisticados para dir similaridade lingitistica, baseados em fragdes de palavr. uma lista-padrao que possuem origem comum detectavel. Essa abordagem foi desenvolvida por Mortis Swadesh, lingitista te-americano que sugeriu que a probabilidade de uma palavra perder seu sentido original permanece constante ao longo do tempo. Calculada a fragao preservada de palavras relacionadas apés um periodo conhecido de tempo (observando, por exem- plo, passagem do latim para as linguas romanicas modernas), podemos entao construir uma “curva de calibragao” que permi- tird determinar o tempo transcorrido desde que duas linguas vi- vas partilhavam uma antecessora comum. Esse método, batizado de “glotocronologia’, usa um “rel6gi Ihante ao “relégio molecular” que examinamos anteriormente giiistico” muito seme- para a genética. Em biologia, temos a vantagem de usar diversas proteinas ou seqiiéncias de pva para obter varias estimativas in- dependentes da data de separagdo de duas espécies. Infelizmen- te, na linglistica ndo existem a mesma variedade e riqueza de da- dos para corroborar nossas conclusdes. A glotocronologia € um método menos rigoroso do que os empregados em biologia e é particularmente dificil aplicé-lo a comparagdes distantes em que a fragdo de palavras cognatas de mais de 10 mil anos atrés é mui- to pequena. As listas de palavras ndo podem crescer, visto que apenas um ntimero limitado delas muda lentamente. Além dis- so, cada palavra tem seu préprio ritmo de mudanga, um fato re- Jegado pela glotocronologia, que pressupde uma taxa de mudan- 58 constante. ‘Outros lingdistas insistem em que a semelhanga entre pala- vras similares em linguas diferentes seja examinada sob a 6ptica das “correspondencias sonoras clissicas’ regras bastante rigidas de mudancas fonol6gicas. Segundo eles, caso essas regras nao se- 183 jam estritamente cumpridas, nao existe a possibilidade de consi derar duas palavras “cognatas’, ou seja, nao ha como determinar se partilham uma origem comum. Greenberg respondeu com ‘uma lista impressionante de excegdes na familia de linguas indo- ceuropéias ¢ em outras. Ele concluiu que seria impossivel estabe- lecer essa familia se tais regras fossem aplicadas com todo 0 ri- gor. Felizmente,a familia indo-européia foi proposta eaceita antes {que a teoria das correspondéncias sonoras fosse adotada em sua forma mais rigida. Por fim, alguns lingtiistas acreditam que a lingua-mae que gera uma familia — ou, mais genericamente, um cluster de lin- guas — precisa ser reconstruida a fim de demonstrar uma rela- ‘20 filogenética entre familias. Também neste caso a biologia ofe- rece uma analogia — quando a sequiéncia “consensual” de DNA é calculada a partir da seqiiéncia de duas espécies modernas. A se~ quiéncia consensual é a melhor estimativa da seqiiéncia ancestral que teria de sofrer 0 menor ntimero de mudangas para produzir a diversidade observada em determinada amostragem. Mas a bus- cade consenso menos rigorosa na linguistica, pois as variagoes lingiiisticas so muito maiores do que as biol6gicas, ao passo que apenas quatro nucleotideos constituem o DNA. Em biologia, cer- tas proteinas sao tao importantes para um organismo que pouca ou nenhuma mudanga é tolerada. Assim, diversas seqiiéncias de proteinas mudam extremamente devagar e ¢ possivel provar uma relagio entre elas sem reconstruir as seqliéncias ancestrais de mi- Ihdes ou mesmo bilhdes de anos atrés. Conhecer uma protolin- {gua pode ser titi em anilises comparativas, mas impor esse exer- cio a todas as classificagdes lingiiisticas constitui grave limitagao, 4 que pouquissimas protolinguas foram geradas. Ademais,a pro- babilidade de uma reconstrugao ser plenamente confidvel é bas- tante baixa, O método de Greenberg evita esse impasse. Talvez 84 seja mais subjetivo do que seria desejavel, entretanto é capaz de ir muito além dos demais métodos. ‘A meu ver a classificagao das familias elaborada por Mer- ritt Rublen, aluno de Greenberg, € satisfatoria para comparar as, evolugdes genética ¢ lingtiistica, como faremos na préxima se- ‘<0. Definir uma familia nao parece ser tarefa inteiramente obje~ tiva, mas as distingdes entre familias, subfamilias e superfamilias, so, no geral, mera questao de conveniéncia, portanto desneces- ssérias para certos propésitos. O que importa é possibilidade de Infelizmen- estabelecer uma relagao simples, logica e hierarqui te, maioria das classificagdes modernas para no nivel das fami lias, das quais existiriam dezessete segundo o sistema unificador de Ruhlen. Ha algumas superfamilias, porém, como observamos, ‘0s métodos lingiisticos modernos ainda nao conseguiram gerar uma arvore completa proveniente de uma tinica fonte. ser propostas, a despeito de serem bastante controversas, Segundo interessante considerarmos algumas das superfam! Ruhlen, 0 dustrico é uma superfamilia que consolidaria quatro fa- 10 (falada em bolsdes no Sul da China ¢ no Norte do Vietna, Laos ¢ Tail iia), austro-asidtico (abrangendo as lin- ‘guas munda, faladas no Norte da India, e o mon-khmer, falado sobretudo no Sudeste da Asia), daiaque (falado amplamente no Sul da China e em grande parte do Sudeste da Asia) ¢ austronésio (malaio-polinésio). Existem cerca de mil linguas austronésias, fa Jadas por cerca de 180 milhdes de pessoas, incluindo os aborigi nes de Taiwan ¢ os malaio-polingsios. Este diltimo grupo esté pre- sente em Taiwan, na Polinésia, em partes da Melanésia, Filipinas, Indonésia, Malisia e até mesmo em Madagascar, As linguas aus- tronésias mais antigas sto faladas pelos aborigines taiwaneses. In- ‘dependentemente de aceitarmos ou nao essa superfamilia, ela en- trelaca uma regido geogrifica extensa, incluindo o Sudoeste da 185 Asia, éreas insulares e nao insulares e um ntimero elevado de ilhas ‘em dois oceanos separados pelo Sudoeste asidtico. ‘As superfamilias que abrangem a Europa ¢ a Asia sio de in- teresse especial. Hoje temos dois agrupamentos lingaisticos inti- ‘mamente relacionados nessa regido: 0 nostrético e 0 eurasidtico, A principio rejeitados pela maioria dos lingitistas, estao sendo pouco a pouco reconhecidos. A superfamilia nostratica, descrita originalmente por cientistas russos, inclui o indo-europeu, 0 ura- liano (falado nos montes Urais), 0 ataico (largamente falado na Asia central), 0 afro-asidtico (que abrange muitas linguas do Nor- te da Africa e varias linguas semiticas), 0 dravidico (atualmente falado s6 no Sul da india) e as familias sul-caucasianas. Vitaly Shevoroshkin, lingdista russo, mostrou que a superfamilia nos- tratica possui semelhangas bastante acentuadas com o grupo ame- rindio, definido por Greenberg. A superfamiflia eurasidtica pro- posta por este é similar a nostratica, mas difere na extensao que atribui a certas familias, como a altaica, e abarca familias meno- res como 0 esquim6 ¢ 0 chukchi, além do japonés. Assim, 0 eu- rasiatico estende-se mais para 0 Leste que 0 nostratico, porém no tao longe a Sudoeste, pois nao inclui 6 afro-asidtico € 0 dra- vidi ‘0 — que, segundo Greenberg, tém origem anterior. Poderiamos continuar a construgao dessa érvore acrescen- tando um ramo anterior, que levou, de um lado, a0 grupo nos- trético/amerindio e, de outro, a0 dene-caucasiano, uma superfa~ milia nova porém mais antiga. Sapir admitiu a existéncia desse grupo, mas foi Sergei Starostin quem o prop6s oficialmente ha alguns anos. A superfamiia dene-caucasiana inclui essencialmen- te trés familias: a norte-caucasiana, a na-dene ea sino-tibetana. ‘A tiltima, falada por quase 1 bilhao de pessoas (na China, India, Nepal, Mianmar e no Sudoeste da Asia, além de em alguns bol- s6es isolados na Europa e na Asia ocidental), é, portanto, a fala- dda por mais pessoas. 186 Assim, poderiamos tracar este diagrama aproximado: Burasiitica Affo-asiitiea —Dravidica SS eS Nostritrica Amerindia Gag Eurasiana Essa hierarquia de superfamilias compreende quase toda a Europa, o Norte da Africa,a maior parte da Asia e a América in teira, Esto ausentes apenas trés familias africanas, coissa, niger cordofaniana e nilo-saariana, assim como a australiana (170 I ‘guas) ea indo-pacificn (1m grupo de setecentas linguas, faladas primordialmente na Nova Guiné, mas também nas ilhas vizinhas ¢enas ilhas Andaman, perto da Malia). Existe, porém, um pequeno grupo de linguas, s isoladas, {que a maioria dos lingiiistas nao consegue classificar em nenhu- ‘ma das familias mais bem estabelecidas. A mais conhecida delas €0 basco: falada por cerca de 12 mil franceses e talver 1,5 milhao de espanhéis, essa lingua € um resquicio de um periodo pré-neo- liticu € possivelmente tem relagao com a lingua falada pelos cro- magnons, os primeiros seres humanos modernos da Europa. Mas cla se transformou tanto que os bascos moderns € os cro-mag- rons nao conseguiriam se comunicar se por acaso pudessem se encontrar, Na verdade, a probabilidade mais forte é de que nem 187 sequer identificariam alguma afinidade entre suas linguas. Di- versos lingdistas sugerem um parentesco entre 0 basco ¢ as lin- guas modernas do Norte do Céucaso; portanto, ¢ possivel que ‘uma ou mais Iinguas pré-indo-européias fossem faladas na Eu- ropa paleolitica. Outros véem semelhangas ainda mais abrangen- tes entre as linguas basca, caucasiana, sino-tibetana e na-dene (falada na regido Noroeste da América do Norte). Hé aqueles que afirmam que o burushaski, lingua isolada falada em um alto vale do Himalaia, seria aparentada com o basco € o caucasiano, E ha ainda lingiistas que acreditam que o sumeriano, 0 etrusco ¢ ou- tras linguas “f6sseis” pertenceriam a niesma familia, a antiga de- ne-caucasiana, Se 0 grupo nostratico/amerindio fosse acrescen- tado ao dene-caucasiano, formando uma hipotética superfamilia eurasiana, ele poderia ter se estendido por toda a Europa e Asia (excluindo o Sudeste) e de If se disseminado para as Américas. Essa gigantesca superfamilia teria mais tarde se diferenciado em diversos ramos. Os ramos locais da arvore teriam florescido e se expandido para os quatro cantos do mundo. ‘Sao hipéteses interessantes e promissoras, que precisam ser exploradas mais a fundo. Se pretendemos permanecer em terre- no absolutamente firme, entao a situagao é mais complicada do que a provocada pela simples auséncia de uma drvore confidvel,

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