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Resumo:
Este artigo visa apresentar o processo de implementação do Plano Diretor de Belém e
suas propostas de intervenção teórica na lógica produção do espaço urbano municipal.
No bojo desse artigo buscou-se apresentar o caráter democrático do Plano Diretor
Urbano de Belém a partir do entendimento do debate feito no processo de construção do
mesmo. Ao longo do trabalho apresentamos fundamentações teóricas no que diz
respeito ao entendimento de diversos autores sobre a questão do espaço urbano e as
cidades, procurando travar debate com estes e a relação ao ato de planejar esses espaços.
Abstract:
This article aims to discuss the process of implementing the Master Plan of Bethlehem
and its implications for the production of the municipal urban space. In the midst of this
discussion trying to discuss the democratic character of the Master Plan for Urban
Bethlehem from the understanding of the debate made in the process of constructing the
same. Throughout the work presenting theoretical arguments regarding the
understanding of various authors on the issue of urban areas and cities, looking for
halting debate with them and respect the act of planning these spaces.
Keywords: Urban Planning, Local Management, Space urban, Development and Public
Policy.
__________________________
* Professor de geografia, especialista em geografia da Amazônia: Sociedade e gestão dos recursos
naturais.
Do Estatuto da Cidade1 ao Plano Diretor: apresentação de um modelo
democrático de gestão urbana na cidade de Belém.
1 - Considerações Iniciais:
As gestões municipais têm enfrentado enormes desafios na regulação e
orientação da produção do espaço da cidade e na promoção do desenvolvimento sócio-
econômico. Belém, como em grandes cidades brasileiras, o crescimento se realiza sem
que haja um adequado ordenamento, dificultando as respostas às demandas dos diversos
atores sociais que interagem na cidade, comprometendo assim, a perspectiva de
construção de uma cidade mais justa e igualitária, no que diz respeito ao acesso de seus
moradores aos equipamentos urbanos.
O presente artigo faz referência a um novo modelo de gestão do espaço urbano
no Brasil: a implementação do Estatuto da Cidade, criado em 2001, pelo Ministério das
Cidades apresentou uma nova etapa, no que diz respeito à utilização, a finalidade e o
modelo de gestão dos espaços urbanos brasileiros. Aliados a isso, o Plano Diretor
(PD),a lei municipal que estabelece regras para o crescimento e o funcionamento da
cidade. Seu objetivo é a organização da cidade para que o interesse coletivo prevaleça
sobre o interesse individual ou de um determinado grupo. Trata-se de uma forma legal
de garantir a função social da cidade e da propriedade, através da justa distribuição entre
os moradores dos benefícios e dos custos dos investimentos municipais, conforme prevê
o Estatuto da Cidade e, por conseguinte, o Plano Diretor. Áreas metropolitanas como a
de Belém, e outras cidades de médio porte agregaram a maior parte da população
regional. No Pará, 66,51% da população reside em áreas urbanas. São 4.116.378
pessoas, de um total de 6.189.550 habitantes, com uma densidade demográfica de 4,96
hab/km², segundo o Censo 2000/IBGE:
1
O Estatuto das Cidades foi criado pelo Ministério das Cidades sob a Lei Federal n° 10.257, de
10/07/2001. O referido Estatuto visa coordenar a implementação de políticas de sustentabilidade nos
municípios brasileiros, implementando ferramentas como o Plano Diretor.
O Município de Belém está dividido em oito Distritos Administrativos e 71
bairros, com um território de 50.582,30 ha, sendo a porção continental correspondente a
17.378,63 ha ou 34,36% da área total, e a porção insular composta por 39 ilhas, que
correspondem a 33.203,67 ha ou 65,64%. O contingente populacional na área urbana
representa uma taxa de urbanização muito superior à observada para o conjunto da
Amazônia e para o Estado do Pará. Atualmente, Belém apresenta uma densidade
demográfica de 1.201,39 hab./km². (CODEM, 2000).
O crescimento e a expansão urbana do Município também podem ser notados
através do aumento de unidades imobiliárias cadastradas em sua área urbana, conforme
levantamento do Cadastro Técnico Multifinalitário – CTM. Em 1970 estavam
cadastradas 120.000 unidades. Atualmente existem 362.064 cadastros. Isto se reflete
também na taxa de urbanização do Município que atinge cerca de 99,53%, segundo
dados do Censo 2000. A concentração de grande parte da população ocorre onde a
altitude da porção continental acha-se em áreas de cotas inferiores ou iguais a 4 metros,
espaços tradicionalmente conhecidos por “baixadas”. Por apresentarem cotas inferiores
a 4 metros, estas áreas sofrem influência das 14 bacias hidrográficas existentes no
Município, o que lhes impõem a condição de ocuparem terrenos alagados
permanentemente, ou sujeitos a inundação periódica. (ANDRADE, 2002).
A realidade sócio-econômica de Belém está pontuada através de estrutura
produtiva na quais as atividades do comércio e serviços se apresentam como as mais
importantes alternativas de emprego e renda para a população. Além disso, a capital
concentra grande parte das atividades produtivas do setor terciário do Estado.
Importante lembrar que essa estrutura é fruto do processo histórico de inserção da
região na evolução da economia nacional e mundial.
De acordo com os dados da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais –
Ministério do Trabalho, para o período 1998 a 2002, e fazendo uma análise muito
sucinta do número de empreendimentos legalmente instalados em Belém, observa–se
que o número de empresas existentes na capital cresceu 14,39%, enquanto que na
Região Metropolitana de Belém e no Estado, essa evolução foi de 19,30% e 37,23%
respectivamente. Já com relação ao comportamento da administração pública, as
atividades econômicas que apresentaram melhor desempenho foram o comércio com
19,69%, a construção civil com 13,86% e os serviços de apoio industrial que
registraram um desempenho positivo de 13,86%.
Outro aspecto importante a ser destacado é o nível de emprego de Belém em
relação à RMB e ao Estado: a RAIS do período analisado aponta que Belém detém
cerca de 51% de todo o emprego gerado no Pará, mesmo o crescimento sendo oriundo
dos setores de serviço e comércio na RMB. Refletindo o processo de desindustrialização
do Município de Belém, o segmento relativo à indústria de transformação se revela o
mais ineficiente na geração de emprego e renda, na medida em que neste setor – 1991 a
2000 – foi eliminado o total de 6.516 oportunidades de trabalho. O total de postos de
trabalhos destruídos na década pelo setor da indústria de transformação foi de 41,0% em
relação à eliminação das oportunidades de emprego em Belém. A partir destas
constatações, a análise das repercussões na dinâmica da cidade e qualidade de vida, uso
do solo, suporte à economia e questões sociais, apontam desafios a serem enfrentados
como forma de superação e/ou mitigação de problemas urbanos.
Estes desafios passam pela capacidade de criação dos instrumentos de gestão
como o Estatuto da cidade e do Plano diretor que sinalize para um diagnóstico das
demandas urbanas e assim, busque alternativas para estas demandas mais comuns às
áreas urbanas. A partir destas questões é que pretendemos apresentar neste trabalho a
forma de como está sendo implementado o Plano Diretor, e as mudanças que o plano
poderá contemplar a concepção e gestão do espaço urbano. Mais do que isso se procura
aqui compreender as transformações na dinâmica espacial e, por conseguinte na
participação das coletividades no Processo de produção do espaço urbano.
Sem o plano diretor o Município não pode exigir do proprietário que ele
cumpra o princípio constitucional da função social da propriedade. Isto
porque cabe ao plano diretor – como lei introdutória de normas básicas de
planejamento urbano – a delimitação das áreas urbanas onde pode ser
aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsória, considerando
a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização (arts. 41, III, e
42, I, do Estatuto). (BUENO, 2003, pág. 92).
2
Os artigos referentes ao Estatudo da cidade tratam respectivamente: ordenamento jurídico-regulátorio de
ação do Plano Diretor.
3
Segundo PINTO (2003), "a elaboração do plano diretor é privativa do profissional do urbanismo, que é
uma especialização regulamentada pelo CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia), por meio da Resolução nº 218/73". Mas é preciso lembrar que "o urbanismo trabalha a partir
de insumos produzidos por outros especialistas, como o arquiteto ou engenheiro arquiteto (art. 2º), o
agrimensor, o topógrafo (arts 4º e 6º), o geólogo (Lei 4.076/62) e o geógrafo (Lei 6.664/79)".
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O Plano Diretor da cidade de Belém foi implementado pela Lei n° 7.603 de 13 de janeiro de 1993. Este
plano apesar de ter mais de 15 anos, teve no bojo de suas ações pouca aplicabilidade no que diz respeito
as suas diretrizes e objetivos.
de cada Município, as condições de cumprimento da função social da propriedade e da
cidade. Disponibiliza para os governos municipais novos instrumentos de controle do
solo urbano e para os cidadãos instrumentos de participação direta nos processos de
planejamento e gestão municipal.
O Direito à Cidade pressupõe o cumprimento da função social da cidade, da
função social da propriedade urbana, assim como da Gestão democrática, princípios
preconizados pelo movimento da reforma urbana e legitimados no Estatuto da Cidade.
A obrigatoriedade da propriedade de ter função social, isto é, atender à coletividade, não
representa uma melhora na condição de vida da maioria da população da cidade, haja
vista, que há a necessidade de dotar essas comunidades de programas sustentáveis de
renda. A Função Social da cidade corresponde ao direito à cidade para toda a
população: direito a terra urbanizada, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura e aos serviços públicos, ao transporte coletivo, à mobilidade e acessibilidade,
ao trabalho e ao lazer. Já a Função Social da propriedade urbana é entendida como um
elemento constitutivo do direito de propriedade, o que significa dizer que o próprio
direito de propriedade deixa de existir quando ela não cumpre sua função social.
A propriedade imobiliária deve cumprir as suas funções sociais, utilizadas
como suporte às atividades ou usos de interesse do município, a exemplo de: habitação,
bem como a habitação de interesse social; atividades econômicas geradoras de trabalho
e renda; preservação do meio ambiente cultural e natural. O uso e a ocupação do solo
deverão ser compatíveis com a oferta de infra-estrutura, saneamento e serviços públicos
e comunitários, levando em consideração o direito de vizinhança, a segurança do
patrimônio público e privado, a preservação e recuperação do ambiente natural e
construído (Estatuto das Cidades, 2001, p. 82).
Conforme apresentação acima citada, podemos perceber a que se propõe um
Plano Diretor, no caso da cidade de Belém, suas propostas são de pouca aplicabilidade
pelo órgão gestor, haja vista, que não há o cumprimento das propostas pertencentes ao
PD. Temos um dos piores índices de habitabilidade do país, conforme dados do
IBGE/2006. No espaço urbano de nossa cidade, a proposta de dotar nossas propriedades
de função social, está fora de nossa realidade. Os espaços ócios se proliferam na cidade,
em busca da especulação imobiliária, perdendo sua principal função: social.
No bojo da discussão de implementação de um ordenamento espacial para as
cidades brasileiras, a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito a políticas
urbanas, regulamenta nos artigos 182 e 183, a criação do Estatuto das Cidades, que
deverá nortear as políticas públicas no âmbito da função social, agindo em conjunto
com as leis orgânicas desses municípios. A junção das propostas do estatuto, juntamente
com a lei orgânica do município, nascerá o Plano Diretor Urbano, que terá a função de
dirigir e tornar prática as ações de uso do solo no âmbito legal de sua criação.
A referência feita à gestão democrática - significa a democratização dos
processos decisórios e o controle social sobre a implementação da Política Urbana,
estabelecendo mecanismos transparentes, conhecidos e legitimados pelos diferentes
setores da sociedade para a gestão urbana. Para atender a estes princípios, o Plano
Diretor pode utilizar mecanismos diversos, como indicação de planos setoriais,
definição de ações estratégicas e utilização de instrumentos, em especial os
instrumentos urbanísticos apontados pelo Estatuto da cidade. Instrumentos Urbanísticos
- os instrumentos definidos no Estatuto da Cidade, são regras que o poder público e a
iniciativa privada devem seguir para que a cidade e a propriedade urbana cumpram a
sua função social. Segue o organograma de constituição do processo de criação de
Planos Diretores e suas atribuições no que diz respeito a forma de utilização e de gestão
do espaço urbano.
Relação do Plano Diretor com as Leis e Planos de Ordenamento Jurídico
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
(Artigos 182 e 183)
Plano Diretor
Instrumento básico da política de desenvolvimento urbano que deve ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade. Dispõe sobre os princípios e
objetivos da política urbana e define os instrumentos urbanísticos a serem aplicados (Lei n°
10.257/2001.
5
O Governo de Helio da Mota Gueiros corresponde ao período dos anos de 1992 a 1996. Neste período o
referido prefeito solicitou o início dos trabalhos para implementação das ações contidas no Plano Diretor
da cidade.
6
Na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, como uma forma de melhorar a gestão e ações públicas na
cidade de Belém, dividiu-se a capital em oito distritos administrativos: DAOUT – Distrito Administrativo
Outeiro; DAMOS – Distrito Administrativo Mosqueiro; DAICO – Distrito Administrativo Icoaraci;
DABEN – Distrito Administrativo Benguí; DAENT – Distrito Administrativo Entroncamento; DASAC –
Distrito Administrativo Sacramenta; DABEL – Distrito Administrativo Belém; DAGUA – Distrito
Administrativo Guamá. Conforme Lei n° 7.682, publicado no Diário Oficial do Município, em 05 de
janeiro de 2004.
Em 2004, com atraso de três anos conforme reza a lei, que obriga aos gestores
municipais promover a realização de revisão desses planos, inicia a primeira atividade
de revisão do Plano Diretor de Belém que se daria de maneira compartilhada entre
governo e sociedade, representados em duas instâncias: uma Coordenação Técnica que
representa o conjunto de secretarias e órgãos da administração municipal; Um Núcleo
Gestor composto por membros do Governo e sociedade organizada e coordenação
Técnica feita pela Secretaria de Gestão e Planejamento-SEGEP, que teria o papel de
gerir o processo técnico da revisão. Desta forma, segundo a SEGEP, o Núcleo Gestor da
revisão do Plano Diretor tem a seguinte composição:
NÚCLEO GESTOR
SEGEP Poder Público e Sociedade
Organizada
Articulação de
Coordenação parceiros e afiliados.
Avaliação e
Técnica
contribuição nos
documentos
técnicos.
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E
ESCUTAS
PLANO REVISADO
Ultimas palavras...
Ao longo do trabalho levantamos questões que considero relevantes para o
entendimento da produção do espaço urbano de Belém pós Plano Diretor. Destaca-se
aqui o caráter mais democrático de construção do espaço urbano resultante das políticas
urbanas para a cidade. Contudo, apesar dos avanços apresentados pela construção do
PDU, vale destacar que as ações previstas no mesmo, referentes ao transporte,
saneamento, meio ambiente, patrimônio histórico, ainda carecem de atenção especial.
Claramente vêem-se no espaço urbano, as contradições resultantes do modelo de
desenvolvimento capitalista que produz e utiliza o território de forma a atender
interesses específicos. Além disso, é preciso definir qual a condição das demandas
sociais no plano diretor. Estas aparecem ora como destaque, ora como prioridade,
impedindo a materialização objetiva da intervenção à realidade.
3. Referências:
ANDRADE. Paulo de Tarso. Belém e suas Histórias de Veneza Paraense a Bellé
Epoque. Pará: Kanga, 2ª Ed, 2002.
BUENO, Vera Scarpinella. Parcelamento, edificação ou utilização compulsório da
propriedade urbana. In: DALLARI, Adilson de Abreu. FERRAZ, Sérgio. Estatuto da
Cidade – comentários a Lei 10.257/2001. 1. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
CARLOS, Ana Fani A. A Cidade. Série Repensando a Geografia. São Paulo: Contexto,
2007.
FREITAS, José Carlos de. Plano Diretor como Instrumento da Política Urbana. São
Paulo: SP, 2003.
LEFEVBRE, Henry.O Direito à Cidade. São Paulo: Moraes, 1991.
MAGLIO, Ivan Carlos. O Plano Diretor e a Sustentabilidade Ambiental nas
Cidades. São Paulo: SP, 2006.
McLAREN, P. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 1997.
SILVA, Márcio Luís da. A Gestão Democrática Municipal Diante das Possibilidades
e Restrições Trazidas pelo Estatuto das Cidades e pelo Plano Diretor. São Paulo:
SP, 2005.
SPÓSITO, Eliseu Savério. A Vida nas Cidades. Série Repensando a Geografia. São
Paulo: Contexto, 2004.
WECD, World Comission on Environment and Development. Our Common Future.
Oxford, UK: Oxford University Press, 1987.
Lei Federal n° 10.257, de 10 de julho de 2001.
Decreto Municipal da cidade de Belém. N° 50.854/2006 – 12 de abril de 2006.
Decreto Municipal da cidade de Belém. N° 50.750/2006 – 22 de março de 2006.
SITES:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm
www.estatutodacidade.org.br