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RESUMO
Este artigo visa discutir o processo de produção espacial pelo Estado capitalista. Ao
longo do trabalho apresenta-se fundamentações teóricas no que diz respeito ao
entendimento das práticas de produção espacial nas cidades. O referido artigo procurou
abordar o processo de valorização da orla de Belém e a constituição de uma Zona
Especial de Interesse Social (ZEIS) na ocupação Vila da Barca, e as consequências que
essa regularização poderá acarretar aos moradores que residem naquela localidade.
ABSTRACT
This paper discusses the process of production space by the capitalist state. Throughout
the work it is presented the theoretical arguments regarding the understanding of the
practices of production space in cities. The article sought to address the process of
recovery of the edge of Bethlehem and the establishment of a Special Zone of Social
Interest (ZEIS) in Vila da Barca occupation, and the consequences that may lead to
settlement residents living in that locality.
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1 INTRODUÇÃO
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De acordo com Trindade Jr. (1998, p. 23), a forma urbana e, por conseguinte, a forma metropolitana é a
exteriorização espacial de processos, através de objetos ou conjunto ordenado de objetos (residências,
indústrias, áreas de lazer, comércio etc.) no território, obedecendo a uma determinada racionalidade e
exteriorizando a dimensão espacial de uma determinada sociedade.
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uso do solo nas cidades capitalistas, não podem ser vistos como consequência ou
resultado unicamente do sistema econômico. Deve combinar os sistemas econômicos e
sociais. Para a autora, a economia determina as diretrizes do sistema de produção, mas
há necessidade para compreender as relações estruturais urbanas, que o sistema social
seja levado em consideração. Para Corrêa (1995), o espaço será (re)definido pela
dinâmica do capital. Os processos espaciais definem a forma desigual de organização
nas cidades capitalistas. O processo de (re)produção espacial ocorre através do
movimento de transformação social, compreendido como o próprio processo,
redefinindo-se sua espacialidade na sociedade.
Para Castells (1983), a divisão social do espaço é compreendida como sendo um
espaço na produção do espaço social. Pode-se identificar que no espaço urbano, a
segregação sócio-espacial2 se intensifica, sendo que a (re)produção e o uso do solo se
dará de forma diferenciada. Neste sentido, podemos identificar espaços antagônicos,
diferenciados, representados classicamente como centro e periferia3. Nas cidades
capitalistas a apropriação e o uso do solo estão relacionados diretamente com a questão
econômica, ou seja, a questão da renda, que irá influenciar na localização e
acessibilidade no espaço. Desta forma podemos entender como ocorre a construção de
espaços segregados nas cidades, assim como, as divisões de classes:
A segregação é o resultado da desigual distribuição do produto entre os
sujeitos e que irá determinar o produto moradia no espaço. A abordagem de
Castells enfatiza a estruturação da sociedade, tanto das formas urbanas,
quanto da distribuição dos indivíduos nesta [...] A sociedade é definida
como sendo um “sistema de relações entre partes funcionalmente
diferenciadas e que estão localizadas territorialmente”. Assim a organização
urbana caracteriza-se como sendo toda expressão espacial, que representa
complexidades em relação ao seu ambiente imediato (CASTELLS, 1983, p.
181).
possuem no que concerne à moradia, acesso aos bens e serviços produzidos socialmente.
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As abordagens sobre a segregação sócio-espacial aqui definida são oriundas das análises de Flávio
Villaça, que a considera como um processo dialético, ou seja, é uma só, independente do contexto a que
ela se refere. Deriva da luta de classes, na qual ao vencedor cabem as melhores parcelas do espaço
urbano. Flávio Villaça, em toda sua obra, mostra que “a segregação é uma determinada geografia,
produzida pela classe dominante, e com o qual essa classe exerce sua dominação através do espaço
urbano. Trata-se, portanto, de um caso de efeito do espaço sobre o social. Evidente que esse espaço
produzido é, ele próprio, social. Só o social pode constranger ou condicionar o social” (VILLAÇA, 1998,
p. 360).
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As passagens citadas foram às primeiras vias de entrada e saída da comunidade naquele espaço. Delas
originou ruas e vielas. São considerados como “troncos” de acesso.
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que ficavam à margem da baía do Guajará, ou seja, ao longo da orla de Belém, a partir
da década de 40 do século passado começaram a ser ocupados.
A ocupação Vila da Barca pode ser considerada como um grande bolsão de
pobreza, com uma diferença: sua localização. Diferentemente da lógica capitalista de
apropriação do espaço urbano, na qual, empurra as classes de menor renda para as áreas
mais afastadas do centro, a Vila da Barca encontra-se a menos de dez minutos do centro
da cidade, ou seja, está situada em uma área privilegiada, na qual seus moradores
dispõem de equipamentos urbanos que moradores do centro podem utilizar.
Atualmente a Vila da Barca conta com mais de 4 mil pessoas, residindo em sua
maioria em área de estivas7, segundo dados estatísticos da Prefeitura Municipal de
Belém (PMB), através de sua Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), sendo
7
Denominação utilizada para caracterizar as principais vias de circulação dos moradores das áreas de
baixadas, onde o acesso é efetivado por meio da construção de pontes (estivas) em madeira sobre as áreas
alagadas.
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Nos últimos quinze anos a orla de Belém passou por um processo intenso de
intervenção do Estado, a fim de produzir novas “funcionalidades” para esta área que por
muito tempo foi renegada e desprezada pelo Poder Público, tornando-se facilmente
ocupada para interesses particulares para fins econômicos, materializados em portos,
estâncias, lojas, marcenarias e outras modalidades de caráter privado.
Por muito tempo se disse que a “cidade tinha virado de costas para rio”, pois
com a implantação das rodovias e a interligação como o interior do continente, a orla
perde seus valores: cultural, histórico e econômico. Sendo apropriada por diversos
atores sociais da cidade. O projeto “Janelas para o Rio”, implantado na gestão do
prefeito Edmilson Rodrigues (1996 a 2004) tinha como objetivo criar espaços públicos
na orla para que a sociedade belenense pudesse utilizá-los para lazer e outros fins
sociais. Neste sentido foram construídos primeiramente, o complexo Ver-o-Rio e a
Praça Princesa Isabel, servindo como atrativo para a população. Com o processo de
valorização e apropriação de áreas próximas à orla da cidade, o Poder Público, seguindo
a determinação do Estatuto da Cidade (lei federal nº 10257 /2001) que determina que
sejam criadas zonas especiais de interesse social, conhecidas como ZEIS. Conforme
assinala Branco (2008, p. 20):
A fim de proteger determinadas áreas da ocupação desordenada, além de
contribuir para determinar uma função social da terra, o Estatuto da Cidade
via Plano Diretor, cria as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Essas
zonas visam justamente destinar áreas para atender populações de baixa
renda com a construção de moradias populares. Essa regra facilita também, a
regulamentação e a melhoria de áreas de ocupação precária e loteamentos
construídos de forma irregular. Um terreno vazio, por exemplo, no centro da
cidade, poderá virar uma ZEIS e servir para a construção de centenas de
casas populares.
Para entendermos qual o objetivo deste projeto na Vila da Barca, assim como
suas conseqüências, deve-se levar em consideração as pretensões e os interesses
políticos e ideológicos nos quais este projeto está inserido (VILAR, 2008). Neste
sentido, refletir sobre as conseqüências desta intervenção aos moradores daquela
localidade.
No bojo de discussão da reforma urbana, a criação de mecanismos que possam
tornar a cidade menos excludente e mais justa, garantindo o direito à cidade, que o
Estatuto da Cidade (2001), que tem como objetivo melhor o processo de gestão das
cidades brasileiras, tornando-as mais acessíveis para as diversas classes sociais, não
apenas as classes mais abastadas e que podem usufruir de equipamentos urbanos. Neste
sentido criam-se as ZEIS, como instrumentos jurídico-institucionais visando o combate
à especulação imobiliária e a apropriação privada desigual dos investimentos públicos,
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Sobre esse assunto ver: Trindade Jr. (2000; 2002), em que o referido autor desenvolve uma ampla
pesquisa sobre o processo de apropriação por questões econômicas da orla da cidade de Belém. Em um
segundo momento o autor analisa a forma de uso do solo da orla de Belém por outra perspectiva: a ação
de agentes imobiliários, que através de ações do Estado criam condições de valorização dessas áreas
através de projetos de infraestrutura e de habitação que criam condições para novas formas de uso do solo
na orla de Belém. Atualmente percebe-se que a orla da cidade está sofrendo um processo de
“revitalização” através de espaços públicos e aquisições de grandes grupos econômicos que irão investir
na expansão do mercado imobiliário naquela área.
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REFERÊNCIAS
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