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REINTEGRAÇÃO DE POSSE

Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha reintegração de posse.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRISÃO
Márcio André Lopes Cavalcante Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já desfeita,
pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão.

ÍNDICE DIREITO TRIBUTÁRIO


ARROLAMENTO FISCAL
DIREITO ADMINISTRATIVO Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco.
SERVIDORES PÚBLICOS
IMPOSTO DE RENDA
Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas demais verbas recebidas
Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado para pagamento de
por tais profissionais.
parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente
DIREITO CIVIL PIS/PASEP E COFINS
VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS.
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas integram a base de
para a pessoa física. cálculo do PIS/PASEP e COFINS.

CONTRATO DE SEGURO CONTRIBUIÇÕES


Embriaguez ao volante e agravamento do risco. Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO DIREITO PREVIDENCIÁRIO


Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião.
PENSÃO POR MORTE
Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho.
DIREITOS AUTORAIS
Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com permissão do proprietário, mas sem
PREVIDÊNCIA PRIVADA
autorização do autor do projeto.
Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de cessação do vínculo do
Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais. participante com o ente federado patrocinador.
POSSE
Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência
no local? DIREITO ADMINISTRATIVO
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA SERVIDORES PÚBLICOS
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por
deficiente físico.
Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira
e nas demais verbas recebidas por tais profissionais
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco. A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional
DIVÓRCIO
nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo
Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha.
determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais
DIREITO PROCESSUAL CIVIL vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas
nas legislações locais.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso
Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro.
repetitivo) (Info 594).
FRAUDE À EXECUÇÃO
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução Piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação infantil
para a pessoa física. A Constituição Federal, com o objetivo de valorizar os professores da rede pública de ensino, determinou

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 2
que a lei deveria fixar um piso salarial nacional para os profissionais da educação pública. Em outras palavras, instrumento de proteção mínima ao trabalhador.
ordenou que lei estipulasse um "salário" mínimo nacional específico para os profissionais da educação da 3. É constitucional a norma geral federal que reserva o percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos
rede pública de ensino, valor que deve ser respeitado pela União, Estados, DF e Municípios. Veja: docentes da educação básica para dedicação às atividades extraclasse. Ação direta de
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: inconstitucionalidade julgada improcedente. (...)
(...) STF. Plenário. ADI 4167, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/04/2011.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei
federal. (Incluído pela EC 53/2006) Modulação dos efeitos da ADI: Lei nº 11.738/2008 só produziu efeitos a partir de 27/04/2011
Antes do julgamento da ADI, a Lei nº 11.738/2008 estava suspensa por força de uma decisão liminar. Em
Cerca de dois anos depois, foi editada a Lei nº 11.738/2008 regulamentando o art. 206, VIII, da CF/88 e razão disso, o STF, ao declará-la inconstitucional, decidiu fazer a modulação temporal dos efeitos,
fixando o piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação básica, sendo esse o declarando que o pagamento do piso do magistério como vencimento básico inicial da carreira, nos
valor mínimo a ser observado pela União, pelos Estados, o Distrito Federal e os Municípios quando da moldes como estabelecido na Lei nº 11.738/2008, deveria ser aplicável somente a partir de 27/04/2011
fixação do vencimento inicial das carreiras. (data do julgamento do mérito da ADI):
Confira o que diz a Lei nº 11.738/2008: (...) A Lei 11.738/2008 passou a ser aplicável a partir de 27.04.2011, data do julgamento de mérito desta
Art. 1º Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público ação direta de inconstitucionalidade e em que declarada a constitucionalidade do piso dos professores da
educação básica. Aplicação do art. 27 da Lei 9.868/2001. (...)
Constitucionais Transitórias. STF. Plenário. ADI 4167 ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/02/2013.

Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica Ações judiciais pedindo a implementação do piso salarial
será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na Mesmo com a decisão do STF declarando a lei constitucional, alguns Estados e Municípios não cumpriram
modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as a determinação e deixaram de implementar o piso salarial. Isso motivou a propositura de uma série de
diretrizes e bases da educação nacional. ações individuais dos professores e também de ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público.
§ 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e O Poder Judiciário condenou os entes recalcitrantes a implementarem o piso salarial.
os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação
básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. Abrangência do piso salarial nos vencimentos dos professores
§ 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham Surgiram, no entanto, dúvidas sobre a abrangência dos efeitos da implementação do piso salarial.
as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, Os vencimentos dos professores, muitas vezes, são compostos por diversas parcelas. Exemplo:
planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das a) vencimento básico: R$ 900,00;
unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima b) gratificação "X": R$ 700,00;
determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. c) adicional "Y": R$ 400,00.
(...) Total dos vencimentos: R$ 2.000,00.

Além disso, na maioria dos Estados e Municípios, a carreira do magistério é dividida em classes. Assim,
Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado,
temos professores em início de carreira que recebem vencimentos básicos menores que os das classes
anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.
mais elevadas, segundo um Plano de Carreira. Exemplo hipotético: Professor classe 3 recebe R$ 500,00 de
Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo
vencimento básico; Professor classe 2, R$ 1.000,00; Professor classe 1, R$ 1.500,00.
percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino
Ao ser implementado o piso salarial mínimo, os vencimentos dos professores nos Estados e Municípios
fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.
aumentaram. Isso porque o piso fixado pela lei nacional foi maior, em regra, do que o vencimento básico
que era previsto nas leis locais. Esse aumento provocado pela lei nacional do piso salarial restringe-se
Desse modo, o piso salarial é o valor mínimo que os professores da rede pública, em início de carreira,
apenas ao vencimento básico ou possui reflexos também nas demais verbas recebidas?
devem receber. A quantia é atualizada anualmente. Esses profissionais devem ter formação em magistério
o vencimento básico era R$ 500,00. Suponhamos que o piso nacional foi fixado em R$ 1.000,00. Logo, para
em nível médio (ou antigo curso normal ) e carga horária de trabalho de 40h semanais, e atuar em
os professores do Est que recebiam vencimento básico houve um aumento de 100%. Esse
estabelecimentos públicos de ensino na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio.
percentual de aumento irá refletir sobre as demais parcelas que compõem a remuneração dos
que os
ADI 4167
professores recebem?
Os Governadores de alguns Estados ingressaram com uma ADI no STF contra a Lei nº 11.738/2008
Outra pergunta: esse aumento abrange todos os integrantes da carreira ou fica restrito aos professores
afirmando, dentre outros argumentos, que a mencionada lei seria desproporcional e não teria amparo
que recebem o vencimento inicial básico? Ex: entrou em vigor o teto nacional fixando o valor mínimo de
orçamentário. A ação foi julgada improcedente, tendo o acórdão sido vazado nos seguintes termos:
R$ 1.000,00. O Professor classe 3, que tinha vencimento básico de R$ 500,00 terá agora que receber R$
(...) 2. É constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com 1.000,00, ou seja, um aumento de 100%. Os professores das demais classes terão direito a esse aumento,
base no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas mesmo que já recebam vencimento acima do piso nacional?
gerais relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como A resposta para as perguntas acima é NÃO.
mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 3 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Piso salarial refere-se ao vencimento inicial básico Somente os professores têm direito a este piso?
A Lei nº 11.738/2008 limitou-se a estabelecer o piso salarial, ou seja, o valor mínimo a ser pago pela NÃO. A Lei n. 11.738/2008 regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do
prestação do serviço de magistério, abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios magistério público da educação básica
não poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica. A lei diz que essa categoria compreende, além daqueles que desempenham as atividades de docência,
A expressão "piso" não pode ser interpretada como "remuneração global", devendo ser entendida como
"vencimento básico inicial". Assim, não abrange outras vantagens pecuniárias pagas a qualquer título. atividades de direção, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais,
Repetindo: piso = vencimento básico inicial. exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades,
Desse modo, a Lei nº 11.738/2008 não garantiu um reajuste geral para toda a carreira do magistério. Ela com a formação mínima determinada pela legislação federal de dir
não determinou a incidência escalonada com aplicação dos mesmos índices utilizados para a classe inicial (art. 2º, § 2º da Lei).
da carreira. Em outras palavras, só teve direito ao aumento quem estava na classe inicial e este aumento Dessa forma, o piso salarial nacional deve ser o vencimento inicial para professores, diretores,
só teve reflexo no vencimento básico. coordenadores, inspetores, supervisores, orientadores e planejadores escolares em início de carreira, com
Isso significa que apenas aqueles profissionais que, a partir de 27/04/2011 recebessem valores inferiores formação em magistério ou normal e carga horária de 40 horas semanais.
ao piso legalmente fixado foram beneficiados pela Lei nº 11.738/2008. Esta Lei não trouxe qualquer Segundo entendimento majoritário, a merendeira, o auxiliar administrativo e outros profissionais que
repercussão para os demais professores que, naquela data, já recebiam vencimento básico superior ao trabalham na escola, mas não no suporte pedagógico, não possuem direito ao piso salarial.
piso fixado na Lei.
Da mesma forma, não há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e
gratificações.
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, apenas determinou que o vencimento inicial das carreiras do DIREITO CIVIL
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo
vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo qualquer determinação de VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO
reescalonamento de toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações. Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica
e do redirecionamento da execução para a pessoa física
Leis estaduais e municipais podem dispor de forma diferente
O que foi explicado acima é a regra geral, que foi estipulada pela Lei nº 11.738/2008. No entanto, nada Importante!!!
impede que as leis estaduais e municipais, ao instituírem plano de carreira do magistério nos seus entes,
prevejam que as demais classes da carreira (classes mais elevadas) também serão remuneradas com base A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
no vencimento básico. Consequentemente, sempre que o piso salarial aumentar, isso refletirá em toda a citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
carreira. proposta em face da pessoa jurídica.
O mesmo ocorre com as demais vantagens e gratificações. Se na lei local existir a previsão de que a STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
vantagem possui como base de cálculo o vencimento inicial, sempre que houver um aumento do piso O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?
salarial, isso repercutirá nas demais vantagens. Ex: a lei do Estado "X" afirma que os professores de todas Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova
as classes têm direito ao adicional "Z", que corresponde a 50% do vencimento inicial. regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data
da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de
Tese fixada pelo STJ desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte
O tema acima exposto foi apreciado pelo STJ em sede de recurso repetitivo, tendo sido fixada a seguinte tese: cuja personalidade se pretende desconsiderar.
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério
público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a Veja comentários em Direito Processual Civil.
fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática
em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente
ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) CONTRATO DE SEGURO
(Info 594). Embriaguez ao volante e agravamento do risco

Valor atual Importante!!!


Em 2017, o piso salarial nacional dos professores sofreu um reajuste de 7,64% em relação ao valor que era
No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização
previsto em 2016. Com isso, o vencimento inicial dos professores da educação básica da rede pública
securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
passou de R$ 2.135,64 para R$ 2.298,80. Lembrando mais uma vez: se o Professor já recebe R$ 3.000,00,
por exemplo, ele não terá direito a 7,64% de aumento. Da mesma forma, este percentual de aumento não Em regra: NÃO.
terá impacto nas demais verbas recebidas pelos professores, salvo se a legislação estadual/municipal Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar
assim determinar. que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 5 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando Imagine agora a seguinte situação hipotética:
o causador do sinistro preposto da empresa segurada estiver em estado de embriaguez, A empresa transportadora "Transporte Bem" fez um contrato de seguro para cobrir possíveis sinistros em
salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa seus veículos.
circunstância. João, motorista da transportadora, estava conduzindo um caminhão da empresa, quando envolveu-se em
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594). um acidente e tombou o veículo, causando a perda total do bem segurado.
A transportadora acionou o seguro pedindo o pagamento da indenização prevista no contrato.
O que é o contrato de seguro? A seguradora recusou-se a pagar a indenização alegando que houve agravamento intencional do risco do
objeto contratado. Isso porque ficou constatado pela Polícia Rodoviária Federal que João estava
CC). embriagado no momento do fato, o que foi determinante para a ocorrência do acidente.
A transportadora ingressou com ação de cobrança contra a seguradora afirmando que, quando entregou
seu veículo ao motorista, este estava em plenas condições de dirigir, de forma que não foi ela
risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos d (transportadora) que gerou o agravamento intencional de risco. Alegou também que o motorista é
uma quantia previamente estipulada (indenização). considerado "terceiro" nesta relação jurídica entre a transportadora e a seguradora, de forma que o ato
Ex.: João celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$ cometido por este terceiro não pode ser equiparado a fato imputável ao próprio segurado.
100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil
a título de indenização para o segurado. No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização
securitária quando o causador do sinistro foi terceiro condutor (preposto da empresa segurada) que
Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro estava em estado de embriaguez?
Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte. Em regra: NÃO.
Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex.: morte. Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o
Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.
riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for
o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o
Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago causador do sinistro preposto da empresa segurada estiver em estado de embriaguez, salvo se o
depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância.
em consideração os riscos cobertos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro).
Agravamento do risco e perda da indenização
Risco, mutualidade e boa-fé O art. 768 do Código Civil prevê:
O contrato de seguro é baseado no risco, na mutualidade e na boa-fé, que constituem seus elementos Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.
essenciais. Vejamos cada um deles:
Risco: relaciona-se com os fatos e as situações da vida real que causam probabilidade de dano e com Assim, havendo agravamento do risco, o segurado perde o direito à indenização.
as características pessoais de cada um, aferidas comumente no perfil do segurado. Ex: em um contrato O segurado deverá, por dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido
de automóvel, o risco é maior em uma grande capital do que em uma pequena cidade do interior; o combinado.
risco é maior para um motorista de 18 a 24 anos do que para um condutor com idade acima disso. Ex: Pedro faz um seguro de automóvel; isso significa que o risco objeto do contrato, assumido pela
Mutualidade: significa dizer que existe uma solidariedade econômica entre os segurados. Isso porque o seguradora, é o de garantir a indenização ao segurado caso aconteça danos ao automóvel; no entanto, a
dinheiro pago pelos segurados forma uma espécie de "poupança coletiva" ou um fundo, que será utilizado seguradora calcula e assume esse risco levando em consideração que o condutor vá dirigir o veículo
para cobrir os prejuízos que possam advir dos sinistros. Em outras palavras, é a distribuição dos custos do sóbrio; se o motorista resolve dirigir alcoolizado, ele está aumentando (agravando) intencionalmente o
risco comum (socialização das perdas). Ademais, a contribuição de cada um será proporcional à gravidade risco que foi combinado com a seguradora; o prêmio cobrado pela seguradora é baseado em estatísticas
do risco a que está sujeito, obtida por meio de dados estatísticos e cálculos atuariais. sobre a probabilidade do sinistro; se o condutor dirige embriagado, a probabilidade do sinistro é bem
Boa-fé: é a veracidade, a lealdade, de ambas as partes, que devem agir reciprocamente isentas de dolo maior que sóbrio.
ou engano. No contrato de seguro, a boa-fé assume maior relevo, pois tanto o cálculo do risco como a
manutenção do mutualismo dependem das afirmações da pessoa que contrata o seguro. A Conduta praticada pelo segurado
seguradora, utilizando-se das informações prestadas pelo segurado, como na cláusula de perfil, chega Vale ressaltar que, para ser considerado "agravamento do risco", é necessário que a conduta tenha sido
a um valor de prêmio conforme o risco garantido e a classe tarifária enquadrada, de modo que praticada pelo próprio segurado.
qualquer risco não previsto no contrato ou o seu incremento intencional desequilibra o seguro O segurado deverá, com dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido
economicamente, dado que não foi incluído no cálculo atuarial nem na mutualidade contratual (base combinado.
econômica do seguro).

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 7 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 8
Ingestão de álcool e agravamento do risco que vier a fazer do bem.
É cientificamente comprovado que a ingestão de bebida alcoólica reduz o discernimento, os atos reflexos, Seria como que um salvo-conduto para que se conduzisse o veículo sob influência de álcool,
o processamento de informações no cérebro, entre outras consequências danosas, mesmo em pequenas impregnando o contrato de seguro com uma exegese frontalmente contrária à função social
doses, o que torna o motorista menos apto a dirigir, aumentando sensivelmente o risco de o sinistro mencionada no art. 421 do CC e à boa-fé preconizada no art. 422 do mesmo diploma legal.
acontecer. Assim, há clara relação entre o consumo consciente de bebida alcoólica e a majoração da taxa (...)
de acidentalidade, demonstrada, inclusive, por dados estatísticos. Ao se entender que o dispositivo do art. 768 do CC deve ser interpretado literalmente e que a
Em outros termos, a bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, disposição contratual acerca da inexistência de cobertura por condução de veículo sob influência
combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no de álcool destina-se unicamente ao próprio segurado, se está emprestando ao contrato de seguro
trânsito. Assim, a direção do veículo por um condutor alcoolizado representa agravamento essencial do de veículos automotores uma exegese, a nosso ver, contrária à sua função social e com efeitos
risco combinado. nefastos a toda a sociedade."
Por essas razões, a cláusula contratual excluindo a cobertura do seguro no caso de embriaguez não é (FERNANDES, Marcus Frederico B. Seguro de Automóvel - perda de direito decorrente de
abusiva, pelo contrário, legítima. Deve, contudo, estar prevista de forma expressa e clara. condução por terceiro sob efeito de álcool. In: Direito dos Seguros, MIRAGEM, Bruno e CARLINI,
O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para a assunção de riscos imoderados que, muitas Angélica (org.), São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 459)
vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social do contrato de
seguro de automóveis é servir como um instrumento de valorização da segurança viária, devendo, por Dessa forma, o principal condutor do veículo, se não for o próprio segurado, equipara-se a ele, o que
isso, estar de acordo com as leis penais e administrativas que punem a embriaguez ao volante. afasta qualquer caracterização de terceiro eventual, trazendo-lhe, portanto, a obrigação de observar as
O segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo, frustra a justa expectativa das mesmas condições e cautelas na direção do veículo, para assim não aumentar intencionalmente o risco do
partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os objeto contratado.
de fidelidade e de cooperação.
Voltando ao exemplo hipotético:
Embriaguez ao volante e presunção de que o risco foi aumentado O caminhão da empresa segurada sofreu perda total após ter se envolvido em acidente (tombamento
Uma vez constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool quando se envolveu em sozinho na pista).
acidente de trânsito, haverá uma presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, o que Ficou provado que o motorista estava embriagado e com sonolência no momento do sinistro, sendo
ensejará a aplicação da pena do art. 768 do CC. evidente o agravamento do risco objeto do contrato.
Por outro lado, a indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o infortúnio Além disso, havia cláusula contratual expressa que excluía o direito de cobertura quando o condutor
ocorreria independentemente do estado de embriaguez. Ex: o segurado poderá provar que a culpa foi do estivesse sob o estado de ebriedade.
outro motorista, que houve falha do próprio automóvel, imperfeições na pista, animal na estrada etc. O fato de o veículo ter sido conduzido por empregado da segurada (e não por seu dirigente ou sócio) não
impede a aplicação da penalidade prevista no art. 768 do CC, porquanto a empresa não agiu com a cautela
Ônus da prova necessária ao contratar o motorista (culpa in vigilando e in eligendo) que, intencionalmente, embriagou-se
Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir daí surge a presunção de que antes de ter pegado a direção, colocando diretamente em risco a segurança no trânsito, tanto que
houve o agravamento do risco e a indenização não será, em princípio, devida. culminou na ocorrência do sinistro.
Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. A empresa não conseguiu provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor estivesse sóbrio.
Se não conseguir provar isso, perderá o direito à indenização. Logo, não há como afastar a culpa grave da empresa, devendo ela perder o direito à indenização
securitária por agravamento intencional do risco contratado.
E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o seguro?
A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado
na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e
prepostos). Isso porque o agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO
quanto a culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever de escolha Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião
adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o segurado não escolhe de forma
correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza adequadamente, incide em culpa. O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está
O segurado deve se portar e tomar todos os máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois,
se chama de princípio do absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar, imprescritível (insuscetível de usucapião).
de forma desarrazoada, o risco contratual. STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).
Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo
segurado para alguém dirigir. Imagine a seguinte situação hipotética:
Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele que contratou o seguro não Em 1994, João adquiriu uma casa da Caixa Econômica Federal, vinculada ao Sistema Financeiro de
serve como argumento para que a indenização deixe de ser paga. Como explica a doutrina: Habitação, combinando o pagamento das parcelas em 30 anos.
"(...) não fosse assim e admitido o entendimento acima exposto, bastaria ao proprietário do
veículo nunca conduzi-lo, fazendo sempre uso do subterfúgio de registrar o bem em nome de
terceiro, de esposa, de filhos, pois se imunizaria frente às consequências contratuais do mau uso efeitos perante a CEF.
Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 9 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 10
Em 2016, Pedro deixa de pagar as prestações da casa e ingressa com ação de usucapião alegando que
detém a posse mansa e pacífica do imóvel pelo tempo exigido em lei. Assim, apesar de ser uma empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, a Caixa
Econômica Federal, ao atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e órgão de
É possível a aquisição por usucapião de imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação e de execução da política habitacional, presta serviço público, de relevante função social, regulamentado por
titularidade da Caixa Econômica Federal? normas especiais previstas na Lei nº 4.380/64.
NÃO. Logo, o imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à prestação de serviço
público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado
Obs: no caso concreto, também não estavam presentes os requisitos da usucapião, mas o objetivo
à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível
principal desta explicação era demonstrar que o imóvel em questão era considerado bem público.
(insuscetível de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

Segundo o art. 98 do Código Civil:


DIREITOS AUTORAIS
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
com permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto
Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não poderia ser
considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é uma empresa pública federal O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros
(pessoa jurídica de direito privado). públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um
todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da
No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele pertencente à representação por terceiros de sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e
pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço público, quando este bem estiver indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência do proprietário da obra.
vinculado à prestação dessa atividade. Nesse sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Administrativo. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 391.
Imagine a seguinte situação hipotética:
Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF reconheceu que os bens Luiz é arquiteto e foi o autor do projeto arquitetônico de um imóvel pertencente a João.
dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis: O que chama atenção no imóvel é a sua fachada, que é belíssima.
Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a da fachada e entrou em contato com João
execução deve observar o regime de precatórios. pedindo autorização para que a imagem da frente do imóvel fosse utilizada em suas propagandas.
STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27/10/2009. Foi, então, celebrado um contrato entre a empresa e João, tendo este sido pago para autorizar a utilização
das imagens da fachada de seu imóvel.
Especificamente quanto à Caixa Econômica Federal, o Decreto- Quando Luiz soube que imagens da fachada que ele projetou foram utilizadas nas propagandas da
indústria, ficou inconformado porque entendeu que ele é quem deveria ter sido consultado para saber se
imobiliário e principal agente do Banco Nacional de Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a autorizava ou não. Além disso, reputou que foi injusto o fato de nas peças publicitárias não constar seu
nome como sendo o autor do projeto da fachada.
Inclusive, o Estatuto da instituição financeira prevê, dentre os objeti Diante disso, Luiz ajuizou ação de indenização por uso indevido de imagem de obra arquitetônica contra a
dos programas oficiais de habitação e saneamento e como principal órgão de execução da política indústria de tintas.
habitacional e de saneamento do Governo federal, e operar como sociedade de crédito imobiliário para A empresa apresentou contestação em que sustentou que não houve violação dos direitos autorais
promover o acesso à mora porque o proprietário do imóvel autorizou o uso das imagens. Pugnou pela denunciação da lide do
proprietário do imóvel.
Daí porque a Caixa Econômica Federal é referida na Lei 4.380/64 que trata dos contratos imobiliários de
interesse social como um dos agentes intermediadores da intervenção do Governo Federal no setor A questão chegou até o STJ? Neste caso concreto, Luiz tem direito à indenização?
habitacional (art. 2º, III), integrando o Sistema Financeiro de Habitação (art. 8º, III). SIM. Vamos entender os principais aspectos da decisão.
O Sistema Financeiro de Habitação, por sua vez, compõe a política nacional de habitação e planejamento
territor O projeto arquitetônico é considerado como obra intelectual?
SIM. O projeto, o esboço e a obra arquitetônica são considerados como obra de criação intelectual e, por
concretizar o direito fundamental à moradia. conta disso, o autor goza de proteção da Lei nº 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais). Confira:
A Caixa Econômica Federal integra o Sistema Financeiro de Habitação, que, por sua vez, compõe a política Das Obras Protegidas
nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa a facilitar e promover a Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas
construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
população, de modo a concretizar o direito fundamental à moradia. (...)

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 11 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 12
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, projeto (o que implica em reproduzi-la nos termos lançados no papel e por consequência em executá-la),
paisagismo, cenografia e ciência; mas o proprietário não está autorizado à reprodução, quer em nova edificação, quer em fotografia.
Portanto, não pode o encomendante do projeto arquitetônico ou de engenharia utilizar o mesmo para
O autor do projeto possui direitos autorais sobre a obra já pronta? O arquiteto que projetou a fachada outra finalidade senão aquela estritamente autorizada pelo autor do projeto. No silêncio contratual,
do imóvel goza de direitos autorais em relação a essa fachada? presume-se que o autor transferiu os direitos autorais para a construção de uma única edificação. Em
SIM. A edificação construída é a materialização em meio físico do projeto arquitetônico. Logo, o autor do situações como essa, o proprietário não pode, sem anuência do autor, utilizar o mesmo projeto, ou parte
projeto goza de direitos autorais sobre isso, já que o art. 7º, X, da Lei fala que o projeto é protegido dele, em outra edificação. FLÔRES, Leandro Vanderlei Nascimento. Arquitetura e Engenharia com
enquanto obra intelectual, não importando o suporte em que ele esteja expresso. Isso significa que o Direitos Autorais. São Paulo: Editora Pillares, 2013. São Paulo, p. 110-112)
projeto possui proteção enquanto está no papel, mas também quando já se encontra pronto.
É de se concluir, portanto, que a proteção ao direito autoral, no caso, do arquiteto, abrange tanto o Voltando ao exemplo hipotético:
projeto e o esboço, como a obra em si, materializada na construção edificada. Como o contrato entre Luiz e João era silente, deve-se entender que proprietário do imóvel, adquirente da
obra arquitetônica, não incorporou em seu patrimônio jurídico o direito autoral de representá-la por meio
Utilização da imagem da obra arquitetônica de fotografias, com fins comerciais, tampouco o de cedê-lo a outrem, já que, em regra, a forma não lhe
A utilização (no caso, com finalidade lucrativa) da imagem da obra arquitetônica, representada por pertence e o aludido modo de utilização refoge da finalidade de aquisição.
fotografias, em propagandas e latas de tintas fabricadas pela empresa dependia, necessariamente, de Assim, a autorização dada por João para a indústria não tem validade jurídica porque os direitos autorais
autorização do autor. continuam pertencendo ao arquiteto.

Quando o arquiteto celebrou contrato com o proprietário do imóvel para que ele fizesse o projeto, pode- As fotografias da fachada do imóvel foram tiradas da rua (logradouro público). Isso interfere no direito
se dizer que ele transmitiu os direitos autorais sobre o projeto? Luiz, ao ser pago pelo projeto, transmitiu do arquiteto? Pelo fato de terem sido tiradas da rua, é possível sua utilização sem autorização?
seus direitos autorais a João? NÃO. Sobre o tema, a Lei de Direitos Autorais afirma:
NÃO. O contrato celebrado entre o arquiteto e o encomendante do projeto arquitetônico, proprietário do Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas
imóvel em que a obra veio a se materializar, não tem o condão de transmitir a este, por si, os direitos do livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais.
autor.
Os direitos morais e patrimoniais sobre a obra pertencem exclusivamente ao seu autor. A Lei nº 9.610/98, Em razão de as obras situadas permanentemente em logradouros públicos integrarem de modo
em seu art. 27, afirma, inclusive, serem inalienáveis e irrenunciáveis os direitos morais sobre a obra. indissociável o meio ambiente, a comporem a paisagem como um todo, sua representação (por meio de
Permite-se, assim, a transferência apenas dos direitos autorais de natureza patrimonial, em sua totalidade pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais), por qualquer observador, não configura,
ou em parte, e a título singular ou universal (ou seja, para determinada modalidade de utilização da obra em princípio, violação ao direito autoral.
ou para todas aquelas previstas no art. 29), a depender dos expressos termos avençados. A obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em propriedade privada, sendo possível
Desse modo, a extensão dos direitos autorais (de natureza patrimonial) a serem transferidos deverá estar visualizá-la a partir de um local público, integra, de igual modo, o meio ambiente e a paisagem como um
devidamente delimitada no contrato de licenciamento, concessão, cessão ou outro admitido em lei, todo, a viabilizar, nesse contexto (paisagístico) a sua representação, o que, também, não conduziria à
adotando-se, como norte hermenêutico, sempre uma interpretação restritiva (art. 4º) e, via de violação do direito do autor.
consequência, favorável ao criador da obra intelectual. A hipótese, todavia, não é de mera representação da paisagem, em que inserida a obra arquitetônica,
Assim, quando a pessoa encomenda um projeto arquitetônico, isso não significa que lhe estejam sendo mas sim de representação unicamente da obra arquitetônica, com a finalidade lucrativa.
transmitidos os direitos autorais do autor do projeto, salvo expressa disposição nesse sentido no contrato. Em outras palavras, no exemplo dado, a fachada do imóvel não foi meramente representada, como se
O art. 37 da Lei n. 9.610/98 é claro nesse sentido: compusesse uma paisagem. Não se trata de mera representação da paisagem em que inserida a obra
Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos arquitetônica. No caso concreto, houve a representação unicamente da obra arquitetônica, com finalidade
direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei. lucrativa. Dessa forma, a hipótese não se enquadra no referido art. 48, que não abrange representação
por terceiro de obra arquitetônica com finalidade comercial.
Adquirente poderá utilizar o projeto para as finalidades relacionadas com a sua aquisição
O adquirente do projeto terá o direito de materializar a obra arquitetônica em uma construção, ou seja, Resumindo:
terá o direito de construir aquele projeto. O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros
Além disso, poderá utilizar o projeto para finalidades relacionadas com a sua aquisição. Ex: poderá tirar públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz
fotos de sua casa, postá-las em redes sociais etc, mesmo sem autorização do autor. Outras formas de jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de
utilização da obra que não intrínsecas à finalidade de aquisição dependerão, necessariamente, de sua sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido
autorização. Isso é analisado no caso concreto. aquiescência do proprietário da obra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Utilização da imagem da fachada não está relacionada diretamente com as finalidades da aquisição
O proprietário da edificação, pelo simples fato de ter adquirido o projeto, não possui o direito de utilizá-lo,
em forma de imagem, para fins comerciais. Nesse sentido:
O arquiteto, quando contratado para criar um projeto, implicitamente já autorizou a edificação do

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 13 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 14
DIREITOS AUTORAIS A pessoa física poderá transferir para a pessoa jurídica os direitos de autor.
Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais Assim, podemos dizer que a pessoa jurídica pode, pela via derivada, titularizar direitos oriundos da criação
de obras intelectuais.
Dessa feita, não há dúvidas de que a pessoa jurídica possa assumir a titularidade dos direitos autorais,
Importante!!! ainda mais quando se tratar de contratos de encomenda.
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como
encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme
interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98.
Assim, ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização, POSSE
caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos. Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594). para defender a sua permanência no local?

Imagine a seguinte situação hipotética: Importante!!!


A empresa Publi Editora Ltda. produz e comercializa revistas e livros.
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO:
pediu a João (fotógrafo e design) que fizesse a capa da revista anual de 2016.
não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos
O contrato de pres Criação Visual Ltda.
possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.
(sociedade empresária que tem João como um dos sócios).
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro
PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos
o contrato somente autorizava na publicação de 2016.
possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a
disputa será relativa à posse.
Na contestação, a ré arguiu a ilegitimidade da autora, afirmando que o titular dos direitos autorais seria
João e não a pessoa jurídica. STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

A questão jurídica é, portanto, a seguinte: a pessoa jurídica pode ser titular de direito autoral? Imagine a seguinte situação hipotética:
SIM. João mora em uma chácara há 20 anos. Ele ajuizou ação de reintegração de posse contra Pedro alegando
que o requerido invadiu metade do terreno em que vive.
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na O Distrito Federal pediu a sua intervenção no feito alegando que a chácara em que João mora pertence ao
relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme interpretação do art. 11, parágrafo Poder Público, em nome de quem está registrada. Trata-se, portanto, de bem público e, sendo assim, não
único, da Lei nº 9.610/98. pode ser objeto de proteção possessória por parte do particular. Isso porque o particular que ocupa um
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594). bem público não tem a posse deste imóvel, mas sim a mera detenção.

Veja o que preconiza a Lei nº 9.610/98 sobre o tema: A tese do Distrito Federal foi acolhida pelo STJ?
Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. NÃO. O STJ entendeu que:
Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos
nesta Lei. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
É necessário que se faça uma distinção entre dois institutos parecidos, mas diferentes, da Lei dos Direitos
Autorais. São eles: a autoria e a titularidade. Posse
Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
Autoria = pessoa física inerentes à propriedade (art. 1.196). Isto é, para se ter posse, basta o exercício de um dos atributos do
Toda obra intelectual tem uma autoria, ou seja, é criada por alguém. Este alguém é um ser humano que domínio, sendo possuidor quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da propriedade,
exterioriza suas ideias, sua arte etc. (LEITE, Eduardo Lycurgo. Direito de autor. Brasília: Brasília Jurídica, seja ele proprietário ou não.
2004, p. 50).
A autoria é sempre da pessoa física que criou a obra. Ele possui a titularidade originária dos direitos de Bem público ocupado por particular
autor. O autor é sempre uma pessoa física, conforme prevê o caput do art. 11 da Lei nº 9.610/98. A jurisprudência sempre entendeu que se o particular ocupa um bem público, não se pode falar, neste
caso, em posse, havendo mera detenção. Existem diversos julgado do STJ neste sentido:
Titularidade dos direitos do autor = pessoa física ou jurídica A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, é mera detenção,
O autor, em regra, é também o titular dos direitos do autor. Assim, em regra, a pessoa física que criou a que não gera os direitos, entre eles o de retenção, garantidos ao possuidor de boa-fé pelo Código Civil.
obra será o autor e o titular. No entanto, isso nem sempre acontece. STJ. 2ª Turma. REsp 900.159/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/09/2009.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 15 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 16
Em suma, o ocupante de bem público é considerado mero detentor da coisa e, por conseguinte, não há Função social
que se falar em proteção possessória nem em indenização por benfeitorias ou acessões realizadas, por À luz do texto constitucional e da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a
configurar desvio de finalidade (interesse particular em detrimento do interesse público), além de violação solução dos conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios
aos princípios da indisponibilidade do patrimônio público e da supremacia do interesse público. da igualdade e da dignidade da pessoa humana.
Em razão disso, é juridicamente impossível que um particular que esteja ocupando irregularmente um Nos bens do patrimônio disponível do Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a
bem público ajuíze ação de reintegração ou de manutenção de posse contra o Poder Público, por exemplo. proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social.
Sobre o tema: A ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado - isto é, sem destinação ao uso
Conforme precedentes do STJ, a ocupação irregular de terra pública não pode ser reconhecida como público em geral ou a uma atividade administrativa -, confere justamente a função social da qual o bem
posse, mas como mera detenção, caso em que se afigura inadmissível o pleito da proteção possessória está carente em sua essência.
contra o órgão público.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1200736/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 24/05/2011. Voltando ao exemplo dado. O argumento invocado pelo Distrito Federal não poderá ser acolhido e o juiz
decidirá qual dos dois particulares têm a posse: João ou Pedro. No entanto, se o DF ajuizar uma ação
Bem público ocupado por particular e disputa possessória entre dois particulares possessória contra João, este poderá invocar que tinha a posse e pedir indenização ou a retenção das
A posição acima exposta possui uma exceção: se dois particulares estão litigando sobre a ocupação de um benfeitorias realizadas no local?
bem público, o STJ passou a entender que, neste caso, é possível que, entre eles, sejam propostas ações NÃO. Isso porque, conforme vimos acima, se o litígio for contra o Poder Público, a ocupação de área
possessórias (reintegração, manutenção, interdito proibitório). pública pelo particular será considerada mera detenção, que não gera direitos de indenização ou retenção,
Assim, para o entendimento atual do STJ, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de não havendo proteção possessória ao particular, neste caso.
invasor de terra pública desde que contra outros particulares. Assim, o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção
Existem decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido: possessória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). Para relembrar. Em que consiste o bem público dominical?
O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de acordo com a sua destinação (ou afetação):
Duas situações a) bens de uso comum do povo b) bens de uso especial c) bens dominicais
Importante destacar mais uma vez que são duas situações que devem ter tratamentos diferentes: São aqueles destinados à São aqueles utilizados pela São aqueles que não estão
1) particular invade imóvel público e deseja 2) particular invade imóvel público e deseja proteção utilização geral pelos indivíduos, Administração para a prestação sendo utilizados para nenhuma
proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: possessória em face de outro PARTICULAR: podendo ser utilizados por todos dos serviços administrativos e destinação pública (estão
Não terá direito à proteção possessória. Terá direito, em tese, à proteção possessória. em igualdade de condições, dos serviços públicos em geral, desafetados), abrangendo o
Não poderá exercer interditos possessórios É possível o manejo de interditos possessórios em independentemente de ou seja, utilizados pela denominado domínio privado do
porque, perante o Poder Público, ele exerce mera litígio entre particulares sobre bem público consentimento individualizado Administração para a satisfação Estado.
detenção. dominical, pois entre ambos a disputa será relativa por parte do Poder Público (uso de seus objetivos. Exs: terras devolutas, terrenos
à posse. coletivo). Exs: prédio onde funciona um de marinha, prédios públicos
Exs: ruas, praças, rios, praias etc. órgão público. desativados, móveis inservíveis,
A interpretação que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o
dívida ativa etc.
reconhecimento da usucapião nos bens públicos (Súmula 340 do STF; arts. 183, § 3º e 192 da CF/88; art.
102 do CC), permitindo se concluir que, apenas um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - é que será
limitado, devendo ser mantida, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo
particular. Em outras palavras, se o particular estiver litigando contra outro particular, pode-se reconhecer ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
a posse de um deles sobre o bem público. No entanto, esta "posse" nunca dará direito à usucapião.
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos
Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas mãos do Estado,
instalados no carro para permitir a direção por deficiente físico
mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre particulares, a relação será
eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens do patrimônio disponível do Estado, despojados
Importante!!!
de destinação pública, será plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com
Conclui-se, portanto, que "a disputa entre particulares, relativa a bem público, também não impede o aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los
manejo e utilização dos interditos possessórios, até porque o reconhecimento da natureza pública do bem quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.
confere a titularidade dominial ao poder público, mantendo incólume sua posição de titular"; desta feita, STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
"os particulares terão apenas a detenção em relação ao Poder Público, mas como os vícios da posse são
relativos, entre os contendores, a disputa será relativa à posse, pois entre ambos não terá cabimento a Conceito de alienação fiduciária
exceção, por tratar-se de res extra commercium. Este argumento caberá ao ente estatal e não aos
particulares" (ARAUJO, Fábio Caldas de. Posse. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 263). aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 17 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 18
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de Os equipamentos que permitem a condução do veículo por pessoa com deficiência física, se instalados
Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: em automóvel, são considerados bens acessórios do carro?
Método, 2012, p. 565). SIM.

Alienação fiduciária de automóveis Então, por que eles não seguem a sorte do principal?
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. Porque estes equipamentos são classificados como pertenças, uma espécie peculiar de bens acessórios
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco que, em regra, não seguem a sorte do principal. Vamos entender.
contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária.
mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do O que são pertenças?
ntônio. A definição legal está no art. 93 do Código Civil:
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro,
: -se que o banco tem a ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstim -
Veja o que diz a doutrina:
"O novo Código Civil incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou seja, os bens móveis que,
Imagine agora a seguinte situação hipotética: não constituindo partes integrantes (como o são os frutos, produtos e benfeitorias), estão
João celebrou com o Banco "X" contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária para a afetados por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados
compra de um Honda Civic. a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de uma residência,
Ocorre que, no curso do contrato, o devedor fiduciante deixou de pagar as parcelas. por exemplo." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro. Vol. 1, 10ª ed., São Paulo:
O Banco enviou notificação extrajudicial para João informando que ele se encontrava em débito (Súmula Saraiva, 2012, p. 289.
72-STJ), mas este não fez a purgação da mora.
Diante disso, a instituição financeira ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do "(...) a pertença (CC, art 93) é bem que se acresce, como acessório, à coisa principal, daí ser res
bem, conforme autoriza o art. 3º do DL 911/69: annexa (coisa anexada). Portanto, é coisa acessória sui generis, destinada, de modo duradouro, a
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § conservar ou facilitar o uso, ou prestar serviço, ou, ainda, servir de adorno do bem principal, sem
2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem ser parte integrante" (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito brasileiro. Teoria geral do direito civil.
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. v.1. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 395)
Exemplos de pertenças: aparelho de ar condicionado, telefone do escritório, elevadores, bombas de água,
O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de João e foi entregue ao Banco. instalações elétricas, estátuas, espelhos, tapetes, máquinas da fábrica, tratores, instrumentos agrícolas etc.

Pedido para retirada dos aparelhos para direção por deficiente físico Pertenças são bens acessórios sui generis
O DL 911/69 prevê que, após a execução da liminar, ou seja, depois da apreensão do bem, o devedor tem As pertenças têm como objetivo dar uma maior qualidade, utilidade ou vantagem a um bem principal. Por
a possibilidade de apresentar uma resposta (uma espécie de contestação). isso, as pertenças são classificadas como bens acessórios. No entanto, são bens acessórios sui generis
Em sua resposta, João informou o seguinte: realmente estou devendo e não tenho condições de continuar porque mantêm sua individualidade e autonomia, não se incorporando no bem principal.
a pagar as prestações. Pode ficar com o carro. No entanto, depois que eu celebrei o contrato com o banco Assim, a pertença, em regra, não é alcançada pelo negócio jurídico que envolver o bem principal, a não ser
e comprei o veículo eu instalei nele aparelhos de adaptação para condução do carro por pessoas com que haja imposição legal, expressa manifestação das partes ou decorrer das circunstâncias do caso
deficiência. Isso porque eu possuo deficiência física (sou cadeirante) e precisava instalar esses aparelhos concreto. Trata-se de exceção à regra de que o acessório segue o principal. Isso está previsto
para conseguir dirigir. Esses aparelhos (acelerador e freio para mãos) não vêm com o veículo e eu quero expressamente no art. 94 do Código Civil:
retirá-los para utilizar em outro carro quando eu for comprar. Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
O banco contra-argumentou afirmando que estes aparelhos são bens acessórios e que os acessórios contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
seguem a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). Assim, como a posse e a propriedade do
veículo (bem principal) consolidou-se em nome da instituição financeira, ela também adquiriu os bens
Voltando ao exemplo
acessórios que estão no carro.
No caso concreto, há um bem principal (automóvel) e existem as pertenças, que são os aparelhos de
adaptação para direção por deficiente físico. Por serem pertenças, não se aplica a elas o princípio da
João terá direito de retirar os aparelhos do veículo?
gravitação jurídica, mas sim a regra do art. 94 do CC acima transcrito. Relembrando: as pertenças, em
SIM.
regra, não seguem o destino do bem principal a que se vinculam.
Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos O carro, tem "vida" absolutamente independente dos aparelhos de aceleração e frenagem manuais. Estes
para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o equipamentos são acoplados tão somente para viabilizar a direção por condutor com condições físicas
descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. especiais. Se retirados tais aparelhos, o veículo continua sendo veículo, ou seja, não perde a sua função.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). Ao contrário, ao retirar tais equipamentos, o carro irá recuperar a sua originalidade, isto é, a forma como é
vendido de fábrica.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 19 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 20
Situação diferente ocorreria, por exemplo, com os pneus do automóvel. Os pneus são partes integrantes, cuja contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente.
separação promoveria sua destruição ou danificação, devendo, portanto, seguir o destino do principal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594).

Solidariedade social e direito à mobilidade Mas o banco não tem nenhuma relação jurídica com o adquirente. Mesmo assim ele é parte legítima
Além dos argumentos acima expostos, o direito de retirada dos equipamentos se fundamenta também: para a ação e tem o dever de levantar a garantia?
na solidariedade social (art. 3º, I, da CF/88); SIM. O princípio da função social do contrato, além de produzir efeitos entre as partes, alcança também
na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que previu o direito ao transporte e à terceiros, especialmente como neste caso em que há uma evidente conexão entre a alienação fiduciária
mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; e em garantia e o contrato de compra e venda de unidade imobiliária, de modo que essa interconexão entre
no princípio que veda o enriquecimento sem causa. os contratos não pode ser ignorada pelas partes.
Trata-se da eficácia transubjetiva da função social do contrato.
O princípio da função social do contrato impõe deveres de conduta às partes contratantes, inclusive em
relação a terceiros com interesse na relação negocial entre eles celebrada.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA No caso concreto, ao menos um desses deveres (o de informação) não veio a ser cumprido, por culpa da
Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco construtora e por negligência do banco, impondo-se a ineficácia do gravame perante o terceiro adquirente
do imóvel.
De outra parte, sob o prisma da boa-fé objetiva, observa-se que o banco faltou com o dever de
A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de
cooperação, pois, mesmo depois de saber que as unidades habitacionais estavam quitadas, recusou-se a
financiamento imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava
substituir a garantia.
quitada, viola os deveres contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o
Não se quer dizer, com isso, que o banco tenha a obrigação de substituir garantias que lhe tenham sido
gravame perante o adquirente.
prestadas, mas apenas que, no caso dos autos, era exigível a substituição, pois o próprio banco foi
STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594). negligente ao aceitar como garantia unidades habitacionais quitadas.
Conclui-se, portanto, com fundamento nos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva,
Apartamento dado em garantia ao banco pela construtora que, no caso concreto, a alienação fiduciária em garantia é ineficaz em relação ao autor da demanda,
Quando uma construtora/incorporadora lança um empreendimento imobiliário na planta, é comum que adquirente da unidade habitacional.
obtenha recursos emprestados junto ao banco para conseguir pagar as despesas necessárias com a construção.
Em geral, os bancos exigem, como garantia, que as unidades habitacionais que estão sendo construídas
lhes sejam dadas em hipoteca. Em outros casos, em vez de hipoteca, as instituições financeiras exigem que
as unidades habitacionais fiquem em nome do banco, com base em um contrato de alienação fiduciária. DIVÓRCIO
Ex: a construtora irá construir um edifício com 200 apartamentos. Vários desses apartamentos serão Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão
dados em garantia ao banco (hipoteca ou alienação fiduciária). Quando o cliente que comprou o
deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha
apartamento fizer o pagamento integral das parcelas, o dever da construtora é informar isso ao banco,
pagando uma parte do empréstimo. Em contrapartida, o banco levanta a hipoteca ou, se for o caso de
alienação fiduciária, retira o bem de seu nome. Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas
societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não
Imagine agora a seguinte situação: àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).
As vendas foram um sucesso e já na primeira semana havia inúmeras unidades vendidas.
Após o mês de lançamento, a construtora obteve o financiamento junto ao banco e indicou, como Imagine a seguinte situação hipotética:
garantia, 100 apartamentos. Dentre eles, a incorporadora deu em garantia a unidade 1502. O contrato João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial de bens.
celebrado entre a construtora e o banco foi um mútuo com garantia de alienação fiduciária. Isso significa Em 2005, quando ainda estavam juntos, João tornou-se sócio de um hospital, com 50% do capital social,
que todos esses apartamentos ficaram em nome do banco. sendo a outra metade titularizada por um colega médico.
Ocorre que o apartamento 1502 já havia sido comprado e integralmente pago por um cliente. Logo, a Em 2013, João se apaixonou perdidamente por uma residente e decidiu se divorciar. Como estava com
incorporadora não poderia tê-lo dado em garantia. muita pressa, João e Maria se divorciaram, mas não realizaram, nesta ocasião, a partilha de bens. Eles
Assim que percebeu o erro cometido, a construtora comunicou o equívoco ao banco, mas este se recusou fizeram apenas um acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial, estabelecendo
a substituir a garantia. que seriam partilhados em momento futuro.
Com isso, o adquirente do apartamento 1502 ficou impedido de registrar o imóvel em seu nome.
Diante deste cenário, o cliente ajuizou ação contra a incorporadora e o banco. É possível fazer o divórcio sem a partilha de bens?
O STJ decidiu que: SIM. Quando um casal está se divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os mais
diversos aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a discussão acerca da
A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento
alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode esquecer, há também o debate sobre o
imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres
patrimônio e a divisão (partilha) dos bens, de acordo com o regime matrimonial adotado.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 21 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 22
Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que isso ocorra logo. No Do momento da partilha.
entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa e acabar atrasando a formalização do
Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à
divórcio.
ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que
Diante deste problema da vida prática, o Código Civil previu a possibilidade de os cônjuges realizarem o divórcio
estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial.
e que a discussão sobre a divisão dos bens fique para ser resolvida em um momento posterior. Confira:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).
Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.
Embora Maria não ostente a condição de sócia da referida empresa, existia, no caso, uma copropriedade
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três caminhos
decorrente do regime de comunhão parcial de bens e esta situação perdurou mesmo após o divórcio
(Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075):
(quando surgiu a mancomunhão).
nos próprios autos da ação de divórcio; Durante quatro anos, Maria, embora detentora de metade das cotas, ou de sua expressão venal, viu seu
em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família); patrimônio imobilizado, ser utilizado pelo ex-cônjuge para alavancar, em retroalimentação, o crescimento
por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007). da sociedade empresária.
Nesse período, Maria se atrelou, por força da copropriedade que exercia sobre as cotas com seu ex-
Mancomunhão cônjuge, à sorte da sociedade, tanto assim, que se essa sociedade tivesse falido, ela teria tido prejuízo e
Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens do patrimônio comum, eles não teria mais nenhum patrimônio a partilhar.
continuarão mantendo uma relação jurídica em torno desses bens. Então, não se pode privar a ex-esposa dos resultados positivos decorrentes do sucesso da sociedade, sob
A doutrina afirma que, neste caso, s pena de gerar um enriquecimento sem causa para o ex-marido.
condomínio de mão única ou fechada
Mancomunhão
-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais, pois o que se
constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada, e que dá acesso a ambos ex-
cônjuges, à totalidade dos bens. DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Veja o que diz a doutrina:
Os bens não partilhados após a separação ou divórcio, pertencem ao casal, semelhante ao que CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
ocorre com a herança, entretanto, nenhum deles pode alienar ou gravar seus direitos na Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J
comunhão antes da partilha, sendo ineficaz a cessão, posto que o direito à propriedade e posse é do CPC/1973 deverá ser contado em dobro
indivisível, ficando os bens numa situação que a doutrina denomina de estado de mancomunhão.
Não raras vezes, entretanto, quando os bens estão identificados na ação de separação ou divórcio, Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser
são partilhados na fração ideal de 50% (cinquenta por cento) para cada um, em razão da meação, contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
importa em estado de condomínio entre o casal e não mais estado de mancomunhão. Tratando-se A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares
de condomínio, pode qualquer um dos cônjuges alienar ou gravar seus direitos, observando a condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do
preferência do outro, podendo ainda requerer a extinção por ação de divisão ou alienação judicial, Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos.
não se cogitando a nova partilha e dispen Dimas
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte
Messias de. Direito de Família. 2ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 211/212).
vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a
ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser
Voltando ao exemplo:
aplicado o prazo em dobro nesta situação.
Em 2017, ou seja, 2 anos após o divórcio, o casal resolveu fazer a partilha dos bens, com destaque para as
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
cotas sociais do hospital.
Como eram casados no regime da comunhão parcial, Maria terá direito à metade dos bens adquiridos
onerosamente durante o relacionamento. O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
Assim, Maria terá direito à metade das cotas sociais que pertencem a João. O ex-casal concordou que a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
Maria receberá o equivalente das cotas sociais em dinheiro, de forma que ela não entrará na sociedade. b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).
A dúvida que surgiu, no entanto, foi quanto ao valor das cotas. Isso porque de 2013 até 2017 o hospital
teve uma enorme valorização, passando a ser a principal referência médica da cidade. Em outras palavras, Imagine a seguinte situação hipotética:
nestes quatro anos o hospital se tornou muito mais valioso.

Na hora de pagar Maria, o valor das cotas deve coincidir com o seu valor histórico da data da ruptura do ra a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.
relacionamento (2013) ou deverá ser fixado com base na sua avaliação atual (2017)? Em outras
palavras, considera-se o valor da data do divórcio (em que houve o acordo prévio sobre os bens) ou do O que acontece agora?
momento da partilha?

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 23 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 24
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só Novo CPC
pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015). O julgamento acima foi proferido ainda sob a ótica do CPC/1973, considerando que os fatos ocorreram na
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente vigência do Código passado.
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo Há dúvidas se o entendimento permanece válido com o novo CPC. Isso porque o art. 513, § 2º, II, do
discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015). CPC/2015 determina que se o devedor for assistido da Defensoria Pública, ele deverá ser intimado para
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor: cumprir a sentença por meio de carta com aviso de recebimento. Essa previsão não existia no CPC/1973.
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre Assim, em tese, a intimação para cumprimento da sentença não demandaria mais nenhum ônus para o
parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, Defensor Público. Logo, em princípio, não haveria motivo para se aplicar o prazo em dobro, já que o
sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se cumprimento voluntário teria deixado de ser um ato de natureza dúplice e seria, agora, um ato a ser
houver. praticado apenas pela parte.
É preciso, no entanto, aguardar para se ter certeza. Qualquer novidade, você será alertado no site.
A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz?
O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias.
Não ocorrendo pagamento voluntário neste prazo, o débito será acrescido de multa de 10% e, também, de
honorários de advogado de 10% (art. 523, § 1º, do CPC/2015). FRAUDE À EXECUÇÃO
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica
Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC 2015 (art. 475-J do CPC 1973), é contado a partir de e do redirecionamento da execução para a pessoa física
quando?
Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da
Importante!!!
sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.
Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor. A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC 2015: citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
Art. 513 (...) proposta em face da pessoa jurídica.
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante o curso
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; deste processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da
procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; execução contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos execução; isso porque, quando ele vendeu o bem, ainda não tinha sido citado.
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado
de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da
Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova
sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento
regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data
encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no
da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração:
§ 3º deste artigo.
Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução
verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo de 15 dias do art. 475-J do CPC 1973 será
contado em dobro, ou seja, será de 30 dias?
A 4ª Turma do STJ decidiu que sim: Princípio da responsabilidade patrimonial
No processo de execução vigora, em regra, o princípio da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado
débito será quitado com o patrimônio do devedor.
em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
Assim, com exceção da prestação alimentícia, o devedor não responde com seu corpo ou sua liberdade
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares condições
pelas dívidas que tenha. Esses débitos são adimplidos com o patrimônio que o devedor possua ou venha a
enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do Estado, que
possuir. Se não tiver patrimônio, o débito não é pago.
enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos.
Tal princípio encontra-se previsto no CPC:
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte vencida, que
deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a ausência de Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas
cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser aplicado o prazo em obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.
dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 25 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 26
Alienações fraudulentas feitas pelo devedor para fugir da responsabilidade patrimonial
Se o débito somente pode ser quitado com o patrimônio do devedor, podemos imaginar que, em alguns casos, à execução se o devedor vendeu ou
a pessoa se desfaça de seus bens (verdadeiramente ou de maneira simulada) apenas para não pagar a dívida. onerou o bem mesmo antes de ser citado?
Alienando seu patrimônio, o devedor torna-se insolvente e não haverá mais meio de os credores obterem SIM. Existe uma situação em que será possível reconhecer a fraude à execução quando o devedor alienou
a satisfação do crédito. Obs.: devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo (dívidas) é maior que o ou onerou o bem após o ajuizamento, mas antes de ser citado. Isso ocorre quando o exequente fez a
ativo (bens). averbação da execução nos registros públicos:
A legislação prevê três formas de se combater essa prática (fraude do devedor). Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação
das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros
Fraude do devedor (alienação fraudulenta) bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.
A legislação prevê três espécies de fraude do devedor (alienações fraudulentas) e as formas de combatê-las:
a) fraude contra credores; Esse artigo permite que o exequente faça a averbação do ajuizamento da execução em registro público de
b) fraude à execução; bens sujeitos à penhora ou arresto.
c) alienação de bem penhorado. Explicando em simples palavras:
Logo após dar entrada na execução, o credor pode obter uma certidão no fórum declarando que ele
Vamos tratar aqui apenas da segunda espécie: fraude à execução. ajuizou uma execução contra Fulano (devedor) cobrando determinada quantia.
Em seguida, o exequente vai até os registros públicos onde possa haver bens do devedor lá registrados
FRAUDE À EXECUÇÃO (exs.: registro de imóveis, DETRAN, registro de embarcações na capitania dos portos) e pede para que
Conceito seja feita a averbação (uma espécie de anotação/observação feita no registro) da existência dessa
Fraude à execução consiste no ato do devedor de alienar ou gravar com ônus real (ex.: dar em hipoteca) execução contra o proprietário daquele bem.
um bem que lhe pertence, em uma das situações previstas nos incisos do art. 792 do CPC. Assim, se alguém for consultar a situação daquele bem, haverá uma averbação (anotação) de que
A fraude contra a execução, além de causar prejuízo ao credor, configura ato atentatório à dignidade da existe uma execução contra o proprietário.
Justiça (art. 774, I, do CPC). Essa providência serve como um aviso ao devedor e um alerta para a pessoa que eventualmente
quiser adquirir a coisa, já que eles, ao consultarem a situação do bem, saberão que existe uma
Hipóteses em que há fraude à execução segundo o CPC: execução contra o alienante e que aquele bem não pode ser vendido, sob pena de se caracterizar a
Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: fraude à execução.
I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que Se o devedor alienar ou onerar o bem após o credor ter feito a averbação, essa alienação ou oneração
a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; é ineficaz (não produz efeitos) porque haverá uma presunção absoluta de que ocorreu fraude à
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do execução.
art. 828;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial Leia o restante do art. 828 do CPC, que tem muitas informações importantes sobre o tema:
originário do processo onde foi arguida a fraude;
Art. 828 (...)
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações
insolvência;
efetivadas.
V - nos demais casos expressos em lei.
§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará,
no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados.
Se o devedor alienou ou gravou com ônus real determinado bem praticando fraude à execução, esse bem § 3º O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente
continua respondendo pela dívida e poderá ser executado (poderá ser expropriado pelo credor) (art. 790, não o faça no prazo.
V, do CPC). § 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação.
§ 5º O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos
É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que a execução tenha termos do § 2º indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados.
sido proposta?
NÃO. Para que ocorra a fraude à execução, é necessário que a execução tenha sido ao menos ajuizada.
Fraude à execução e citação
Regra geral: para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do
É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que o executado
devedor.
tenha sido citado?
Exceção: mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou
Em regra, NÃO. Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que a alienação ou oneração
onerou o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos (art. 828 do
tenham acontecido após o devedor ter sido citado. Isso porque, para que haja fraude, é necessário que o
CPC). Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa
devedor soubesse que estava sendo executado quando alienou ou onerou o bem. Quando o devedor é
averbação (§ 4º do art. 828) (art. 792, II).
citado, existe a certeza de que, a partir daquele momento, ele tem consciência da existência do processo.
Logo, se o devedor vender ou onerar o bem depois de a execução ter sido ajuizada, mas antes de ele ser
citado, em regra, não haverá fraude à execução.
Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 27 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 28
Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no
oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução? domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.
NÃO. Basta que o credor lesado apresente uma petição ao juízo onde tramita a execução pedindo que seja
reconhecida a fraude à execução e declarada a ineficácia do ato de disposição (alienação ou oneração). Sobre o tema, se você faz concursos para cartórios, é importante também conhecer a redação do art. 54
Atenção: o ato praticado em fraude à execução é um ato válido, mas ineficaz perante o credor da Lei nº 13.097/20015:
(reconhecida a fraude à execução, o juiz decretará a ineficácia da alienação). Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir ou modificar direitos reais sobre
imóveis são eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas hipóteses em que não tenham sido
Como fica a situação da pessoa que adquiriu o bem aliena registradas ou averbadas na matrícula do imóvel as seguintes informações:
perderá o bem? Como protegê-lo? I - registro de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias;
Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude à execução, é também necessário que se proteja o terceiro II - averbação, por solicitação do interessado, de constrição judicial, do ajuizamento de ação de execução
de boa-fé. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente será possível reconhecer a ou de fase de cumprimento de sentença, procedendo-se nos termos previstos do art. 615-A da Lei no
fraude à execução se: 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil;
ficar provada a má-fé do terceiro adquirente; ou III - averbação de restrição administrativa ou convencional ao gozo de direitos registrados, de
se, no momento da alienação, o bem vendido já estava penhorado na execução e essa penhora estava indisponibilidade ou de outros ônus quando previstos em lei; e
registrada no cartório de imóveis (art. 844 do CPC). IV - averbação, mediante decisão judicial, da existência de outro tipo de ação cujos resultados ou
responsabilidade patrimonial possam reduzir seu proprietário à insolvência, nos termos do inciso II do art.
Essa posição foi transformada em uma súmula: 593 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Súmula 375-STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem Parágrafo único. Não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula no Registro de
alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Imóveis, inclusive para fins de evicção, ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantia direitos
reais sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e
De quem é o ônus de provar que o terceiro adquirente estava de má-fé? as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de registro de título de imóvel.
Depende:
1) Se o bem adquirido pelo terceiro era sujeito a registro (se existe um registro público onde poderão ser Obs: importante esclarecer que a correta interpretação do art. 792, § 2º, do CPC/2015 é objeto de
averbadas a existência de processo de execução ou de constrição judicial. Exs: bens imóveis - Registro de polêmica na doutrina, não havendo uma posição ainda segura sobre o tema. As conclusões acima ainda
Imóveis; automóveis - DETRAN). Neste caso deveremos analisar: não foram examinadas pelo STJ. Em provas de concurso, penso que durante um bom tempo deverão
1.1 Se o exequente fez a averbação no registro informando que havia uma execução contra o proprietário cobrar a redação literal do art. 792, § 2º, do CPC/2015.
do bem ou uma constrição judicial (ex: penhora) sobre a coisa: neste caso, a má-fé do adquirente está
provada porque o registro gera publicidade e cabia ao terceiro tê-lo consultado. E a súmula 375-STJ continua válida?
1.2 Se o exequente não fez a averbação no registro: neste caso, o exequente terá que comprovar a má-fé Penso que sim, mas ela deve ser lida agora com esta nova hipótese trazida pelo art. 792, § 2º do CPC.
do adquirente.
O que é o registro da penhora? É o mesmo que a averbação do art. 828 que vimos acima?
2) Se o bem adquirido pelo terceiro não era sujeito a registro (não existe um registro público onde seja NÃO. O registro da penhora é uma coisa e a averbação do art. 828 do CPC é outra completamente diversa.
anotada a sua propriedade e alterações. Exs: um quadro, uma joia etc.). Nesta hipótese, o terceiro Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente,
adquirente é quem terá o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a na satisfação do crédito executado.
exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem A penhora ocorre depois que já existe execução em curso e o executado já foi citado e não pagou.
(art. 792, § 2º, do CPC/2015). Se não provar, será reconhecida a fraude à execução e ele perderá o bem. Após ser realizada a penhora, o exequente, para se resguardar ainda mais, pode pegar na Secretaria da
Vara onde tramita a execução uma certidão de inteiro teor narrando que foi realizada a penhora sobre
Confira o que diz Marcus Vinícius Gonçalves: determinado bem. Após, de posse dessa certidão, ele poderá ir até o cartório de registro de imóveis e
"Mas, e se o bem não for daqueles sujeitos a registro, como acontece com a maior parte dos bens móveis? pedir que seja feita a averbação da penhora. Isso está previsto no art. 844 do CPC.
Como pode o exequente proteger-se da alienação, pelo devedor, de bens que não podem ser registrados? Caso faça a averbação, ela irá gerar uma presunção absoluta de que todas as pessoas sabem que esse bem
O art. 792, § 2º, estabelece que, em se tratando de bens não sujeitos a registro, o ônus da prova de boa-fé está penhorado. Logo, se alguém adquirir o bem, tal pessoa será considerada terceiro de má-fé e essa
será do terceiro adquirente, a quem caberá demonstrar que adotou as cautelas necessárias para a venda não será eficaz.
aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local em Em outras palavras, o terceiro, mesmo tendo pago o preço, perderá a coisa porque adquiriu bem cuja
que se encontra. Se o terceiro adquirente não fizer a comprovação de que tomou tais cautelas, presumir- penhora estava registrada.
se-á que adquiriu o bem de má-fé, e o juiz declarará a fraude à execução." (GONÇALVES, Marcus Vinícius.
Direito Processual Civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, 6ª ed., 2016, p. 1.508). Teses definidas pelo STJ
O STJ, ainda na vigência do CPC/1973, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as
Veja a redação do § 2º do art. 792 do CPC/2015: seguintes teses:
Art. 792 (...) 1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do
§ 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que devedor.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 29 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 30
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o
bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos. Presume-se em Segundo entendeu o Tribunal, para a configuração de fraude à execução, deve haver uma ação judicial
fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação. contra o próprio devedor, demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. Não basta que haja uma ação
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução proposta contra a sociedade empresária da qual ele é sócio.
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Somente com a superveniência da desconstituição da personalidade da pessoa jurídica é que o sócio da
4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser respeitada a empresa (João) foi transformado em corresponsável pelo débito que era originalmente apenas da empresa.
-fé se presume, a má- Assim, ao tempo da alienação do imóvel, o sócio da empresa não era devedor e, nessa condição, tinha livre
5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus de provar que o disposição sobre seus bens, sem que isso implique em fraude à atividade jurisdicional do Estado.
terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência. Desta feita, tem-se que a fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for
STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552). proposta em face da pessoa jurídica.

Obs: penso que as teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também O entendimento acima exposto no REsp 1.391.830-SP permanece válido com o CPC/2015?
agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015. Penso que haverá polêmica. Isso porque o novo CPC traz uma nova regra, que não havia no Código
passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é
Contraditório prévio objeto da desconsideração (tratando-se da desconsideração "tradicional"):
Outra importante novidade do CPC/2015 e que será explorada nas provas está na obrigatoriedade de Art. 792 (...)
oportunizar contraditório ao terceiro adquirente antes que seja declarada a fraude à execução. Esta § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da
previsão, que não existia no Código passado, foi expressamente inserida nos seguintes termos: citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
Art. 792 (...)
§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, Desse modo, pela redação do CPC/2015, os efeitos da desconsideração deverão retroagir à data em que a
poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. pessoa jurídica foi citada. Neste caso, adotando-se a literalidade do dispositivo, o entendimento acima
exposto teria que ser alterado agora.
Vale ressaltar, contudo, que esta regra ofende claramente a boa-fé dos terceiros adquirentes que não
FRAUDE À EXECUÇÃO E VENDA DO BEM PESSOAL DO SÓCIO DA SOCIEDADE EXECUTADA
teriam, em tese, obrigação de saber que a pessoa que está alienando o bem é sócio de uma empresa, que
Imagine a seguinte situação hipotética: a pessoa jurídica está sendo executada e que, no futuro, poderá ter a personalidade jurídica
João é sócio-administrador desconsiderada para atingir o patrimônio daquele sócio. Enfim, são conjecturas e cautelas muito grandes
A empresa tem enfrentado muitas dificuldades financeiras e suas dívidas aumentam a cada dia. que se mostram irrazoáveis de serem impostas ao terceiro. Pela nova regra do art. 792, § 3º, o ato de
A empresa deve R$ 200 mil a Pedro, tendo emitido uma nota promissória reconhecendo este débito. comprar bens de um sócio de sociedade empresária passa a ser um negócio muito arriscado, ainda que
Pedro ajuizou execução cobrando a quantia devida. contra ele (pessoa física) não haja nenhuma ação judicial em curso.
Em março/2014, a sociedade empresária foi citada, mas não pagou a dívida. Tentou-se a penhora, mas não Importante lembrar que o STJ possui uma sólida tradição de proteger a boa-fé dos terceiros adquirentes,
se localizou nenhum bem em nome da empresa. de forma que é necessário aguardar para sabermos como o Tribunal irá interpretar o dispositivo acima e
Em julho/2014, João vendeu um galpão que possuía e estava registrado em seu nome. se criará algum outro requisito para julgar ineficaz a alienação realizada. A doutrina majoritária critica esta
Em agosto/2014, o juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da previsão e fornece algumas interpretações para que o dispositivo não seja aplicado textualmente.
execução contra João (sócio majoritário da empresa). Mas atenção! Em provas de concurso, a redação literal do art. 792, § 3º será exaustivamente cobrada nas
Em setembro/2014, João foi citado como requerido (pessoa física) na execução. Tentou-se a penhora, mas provas, devendo ser assinalada como correta.
não se localizou nenhum bem em nome de João.
Pedro informou ao juízo, então, que, em agosto de 2014, ou seja, após o início da execução proposta Uma última observação: desconsideração inversa (ou invertida) da personalidade jurídica é aquela na qual
contra a empresa, João alienou o galpão. Segundo argumentou o exequente, isso configurou fraude à o juiz autoriza que os bens da pessoa jurídica sejam utilizados para pagar as dívidas dos sócios. Em se
execução, devendo, portanto, a alienação ser considerada ineficaz. tratando de desconsideração inversa, o art. 792, § 3º deverá ser entendido assim: primeiro haverá a
citação da pessoa física, que está sendo executada; depois, o juiz faz a desconsideração e determina a
Analisando um caso concreto ocorrido sob a égide do CPC/1973, o STJ aceitou o argumento do citação da pessoa jurídica; logo, os efeitos da fraude à execução irão retroagir para a data da primeira
exequente? Houve fraude à execução nesta hipótese? citação (da pessoa física).
NÃO. Isso porque a alienação feita pelo sócio ocorreu antes que ele fosse citado como requerido na
execução. Desse modo, o sócio se desfez do bem antes que houvesse contra ele um processo de execução.
Assim decidiu o STJ:
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação
válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face
da pessoa jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 31 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 32
REINTEGRAÇÃO DE POSSE Litígio coletivo pela posse de imóvel e esbulho ou turbação há mais de 1 ano:
Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores É o caso, por exemplo, de um grupo de sem terra que invade uma propriedade e ali permanece por mais
de ano e dia até que o proprietário ou antigo possuidor da área ajuíze ação de reintegração de posse.
para que se proponha reintegração de posse
Nesta hipótese, o CPC/2015 agora exige a realização de uma audiência de mediação. Confira esta previsão
Importante!!! que não existia no Código passado e, por isso, deverá ser bastante cobrada nas provas:
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição
A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida
possessória. liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o
STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594). disposto nos §§ 2º e 4º.
§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de
Interditos possessórios: distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo.
Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios): § 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada
a) ação de reintegração de posse; sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.
b) ação de manutenção de posse; § 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação
c) interdito proibitório. da tutela jurisdicional.
§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito
Diferença entre elas: Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim
a) Ação de reintegração de posse: deverá ser proposta pela pessoa que sofreu um esbulho, ou seja, de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para
perdeu a posse. o conflito possessório.
b) Ação de manutenção de posse: proposta quando a pessoa está sofrendo uma turbação, isto é, quando § 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.
estão sendo praticados contra ela atos materiais concretos de agressão à posse, sem que ela tenha
sido ainda desapossada integralmente. Ex.: o agressor ingressa várias vezes, mas depois sai Petição inicial da ação possessória
novamente. Ex.2: o agressor invadiu apenas parte do imóvel. Segundo o art. 561, incumbe ao autor provar:
c) Interdito proibitório: ajuizada quando a pessoa estiver sofrendo ameaças de efetiva ofensa à posse, I - a sua posse;
sem que tenha havido, contudo, um ato material concreto. Ex: os invasores já foram vistos várias vezes Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
rondando a localidade, demonstrando que podem entrar no terreno. III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de
Regulamentação: reintegração.
O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 560 a 566 do CPC/2015.
Antes de o autor ajuizar a ação de reintegração de posse é necessário que ele notifique
Posse nova e posse velha extrajudicialmente o invasor para que ele saia do imóvel? Ex: João tinha um terreno que foi esbulhado
Posse nova: é aquela que tem menos de 1 ano e 1 dia. por Pedro; antes de João propor a ação de reintegração, ele deverá enviar notificação extrajudicial para
Posse velha: é aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia. o esbulhador?
NÃO.
Ação de força nova e ação de força velha
Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há menos de 1 ano e 1 dia, diz-se A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória de que
que essa ação é de f trata o art. 560 do CPC/2015.
proposta dentro do prazo de ano e dia a contar da data do esbulho ou da turbação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há mais de 1 ano e 1 dia, diz-se
Os requisitos para a propositura da ação de manutenção ou de reintegração de posse estão previstos no
art. 561 do CPC/2015. O inciso III exige que o autor comprove "a data da turbação ou do esbulho". Isso é
Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos arts. 560 a 566 importante para que o juiz possa identificar se a turbação ou o esbulho ocorreram há menos de 1 ano e 1
do CPC/2015 (Seção II). dia (hipótese em que a ação será de "força nova").
Em virtude dessa exigência de ter que se comprovar a data da turbação ou do esbulho, tornou-se comum,
Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento comum. na prática forense, que os autores, antes de ajuizarem a ação, enviem notificação extrajudicial aos
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste invasores com o objetivo de, posteriormente, juntarem este documento no processo e, assim,
Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. demonstrem que a posse dos esbulhadores é "nova" (menos de 1 ano e 1 dia), conseguindo que a
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, demanda tramite sob o rito mais célere.
o caráter possessório. Ocorre que esta notificação prévia não é expressamente exigida pela legislação, razão pela qual não pode
o magistrado extinguir o feito, sem resolução do mérito, pelo simples fato de o autor não ter adotado esta
providência.

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 33 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 34
Na prática, contudo, é recomendável que se envie esta prévia notificação extrajudicial. Se o juiz se convencer dos argumentos do autor, deverá conceder a liminar. Nesse caso, diz-se que o
Uma última advertência. Cuidado para não confundir: para que o credor ajuíze ação de busca e apreensão juiz considerou suficiente a justificação (art. 563 do CPC/2015).
em caso de alienação fiduciária, exige-se a prévia notificação extrajudicial com o objetivo de comprovar a Se o juiz considerar que os argumentos não foram suficientes mesmo após a audiência, deverá
mora (Súmula 72-STJ). Trata-se, contudo, de situação completamente diferente. denegar a liminar.

Possibilidade de concessão da liminar inaudita altera partes Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de
Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz poderá deferir, sem ouvir o réu, a expedição do reintegração.
mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse (art. 562).
A liminar será concedida quando o autor conseguir demonstrar que: Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento.
a) o ato de agressão à posse deu-se há menos de 1 ano e 1 dia (posse nova);
b) existe fumus boni iuris nas alegações deduzidas na petição inicial. Contestação
Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:
Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de periculum in mora
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 1.367).
(cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da
Impossibilidade de concessão de liminar inaudita contra a Fazenda Pública:
intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.
Art. 562 (...)
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a
Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.
reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação
Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, deverá designar uma
audiência para que o autor justifique previamente o que alegou na petição inicial. DIREITO PROCESSUAL PENAL
O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a presença dos
requisitos necessários à concessão da liminar. PRISÃO
Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao
tráfico, mas já desfeita, pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão
Participação do réu na audiência de justificação
O art. 562 do CPC/2015 afirma que o réu deverá ser citado para comparecer a essa audiência.
Na hipótese em que a atuação do sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se
Vale ressaltar, no entanto, que ele não será, em regra, ouvido na audiência.
limitava à lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam aplicadas medidas cautelares
Em regra, o réu irá participar da audiência ouvindo as testemunhas arroladas pelo autor, não podendo levar
diversas da prisão quando constatada impossibilidade da organização continuar a atuar, ante
testemunhas suas, considerando que ainda haverá o momento para isso, qual seja, a audiência de instrução.
a prisão dos integrantes responsáveis diretamente pelo tráfico.
Durante a audiência de justificação, o réu poderá formular perguntas ou oferecer contradita, sempre por
STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
meio de advogado.
julgado em 1/12/2016 (Info 594).
Nessa audiência, o juiz também deverá tentar obter a conciliação entre as partes.

Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade absoluta do Imagine a seguinte situação adaptada:
processo? O Ministério Público denunciou João e mais nove pessoas pela prática de diversos crimes, dentre eles,
NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC/1973 (art. tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
562 do CPC/2015), para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse. O juiz decretou a prisão preventiva de todos os réus.
CPC/1973 (art. A defesa de João impetrou habeas corpus alegando que a organização criminosa foi desfeita, considerando
562 do CPC/2015), na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim que todos os seus integrantes foram presos e que ele tinha uma participação menor no grupo, tendo em
para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação. vista que ficava apenas responsável pela lavagem de dinheiro, não tendo tido nenhum envolvimento
Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça, apenas fazer direto com o tráfico de drogas.
perguntas. Diante disso, a defesa postulou pela revogação da prisão preventiva, com a imposição de medidas
Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar (parágrafo único do cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP).
art. 930 do CPC/1973) (parágrafo único do art. 564 do CPC/2015).
O STJ concordou com os argumentos da defesa?
Após a realização da audiência de justificação prévia: SIM.
Depois de colher as provas, o magistrado deverá decidir sobre a medida liminar, podendo fazê-lo na Na hipótese em que a atuação do sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se limitava à
própria audiência ou no prazo de 10 dias.
Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 35 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 36
lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam aplicadas medidas cautelares diversas da prisão quando garantia da impenhorabilidade legal.
constatada impossibilidade da organização continuar a atuar, ante a prisão dos integrantes responsáveis STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1496213/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2014.
diretamente pelo tráfico.
STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, No âmbito federal, o arrolamento de bens é disciplinado pela IN RFB n.º 1565/2015, sendo o
julgado em 1/12/2016 (Info 594). procedimento realizado pelo Auditor Fiscal da Receita Federal, Termo de Arrolamento de
Bens e Direitos listando os bens que pertencem ao devedor e os seus respectivos valores.
No caso concreto, ficou demonstrado que o réu atuava apenas na lavagem de dinheiro, não tendo
nenhuma atuação direta no tráfico de drogas propriamente dito. Assim, somando-se a essa situação Se tiver sido feito o arrolamento fiscal do patrimônio de um sujeito passivo, isso significa dizer que ele
particular o fato de que os integrantes da organização criminosa responsáveis diretamente pelo tráfico estará impedido de vender seus bens? Para que o sujeito passivo venda seus bens, terá que obter a
encontram-se presos, o que implica a impossibilidade da organização continuar a atuar, o STJ entendeu autorização da Administração Tributária?
que era possível a aplicação de outras cautelares que não a prisão. NÃO. Mesmo tendo sido feito o arrolamento fiscal, o sujeito passivo poderá alienar seus bens.
Diante disso, o STJ revogou a prisão preventiva e impôs ao acusado duas medidas cautelares: O arrolamento fiscal produz um cadastro em favor do Fisco, destinado apenas a viabilizar o
a) obrigação de comparecer no Juízo em que tramita a ação penal nos prazos e nas condições a serem acompanhamento da evolução patrimonial do sujeito passivo da obrigação tributária. O contribuinte
fixados pelo juiz (art. 319, I, do CPP); permanece, contudo, no pleno gozo dos atributos da propriedade, tanto que os bens arrolados, por não se
b) proibição de manter contato, por qualquer meio, com os demais investigados (art. 319, III, do CPP). vincularem à satisfação do crédito tributário, podem ser transferidos, alienados ou onerados,
independentemente da concordância da autoridade fazendária (STJ AgRg no AREsp. 289.805/SC).
A lei exige, no entanto, uma providência: que essa alienação seja comunicada ao Fisco.

DIREITO TRIBUTÁRIO Essa comunicação exigida pela lei deverá ser antes ou depois da alienação? Em outras palavras, o
sujeito passivo precisa notificar o Fisco antes de alienar os bens?
ARROLAMENTO FISCAL NÃO. Esta notificação é posterior. Segundo decidiu o STJ:
Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas
simplesmente que exista a comunicação.
A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação
Assim, a alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação
ao órgão fazendário.
ao órgão fazendário.
A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).
simplesmente que exista a comunicação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594). Veja o texto da Lei que revela que a comunicação é posterior à venda:
Art. 64 (...)
Arrolamento fiscal
§ 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento, mediante entrega de cópia do respectivo
Quando o contribuinte estiver devendo mais que R$ 2 milhões em tributos e este montante da dívida superar
termo, o proprietário dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou onerá-los, deve
30% do seu patrimônio, o Fisco poderá fazer o arrolamento dos bens e direitos que pertencem a esse sujeito
passivo. Isso é conhecido como arrolamento fiscal e está previsto no art. 64 da Lei nº 9.532/97: comunicar o fato à unidade do órgão fazendário que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo.
Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo
A IN RFB n.º 1565/2015 também possui regra no mesmo sentido:
sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu
patrimônio conhecido. Art. 8º O sujeito passivo cientificado do arrolamento fica obrigado a comunicar à unidade da RFB de seu
(...) domicílio tributário a alienação, a oneração ou a transferência a qualquer título, inclusive aquela
§ 2º Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor constante da decorrente de cisão parcial ou perda total de qualquer dos bens ou direitos arrolados, no prazo de 5
última declaração de rendimentos apresentada. (cinco) dias contado da ocorrência do fato, sob pena de aplicação do disposto no caput do art. 15.

Para você entender melhor, o arrolamento fiscal é como se fosse um inventário, ou seja, uma descrição O que acontece caso o sujeito passivo aliene os bens que foram objeto de arrolamento fiscal e não
dos bens do contribuinte feita pelo Fisco com o objetivo de monitorar o patrimônio do devedor e, assim, comunique este fato ao órgão fazendário?
evitar que ele se desfaça dos bens que poderão servir para o pagamento da dívida. Se o contribuinte alienar, onerar ou transferir os bens ou direitos arrolados sem fazer a comunicação ao
órgão fazendário, então, neste caso, a Fazenda Pública ficará autorizada a requerer ao juiz medida cautelar
fiscal contra o sujeito passivo (art. 64, § 4º).
Trata-se de uma medida acautelatória que visa assegurar a realização do crédito fiscal, impedindo que o
A medida cautelar fiscal é disciplinada pela Lei nº 8.397/92.
contribuinte/devedor venda, onere ou transfira, a qualquer título, os bens e direitos arrolados, sem que o
Fisco seja notificado. Tem como finalidade, proporcionar ao Fisco o acompanhamento da evolução
Resumo dos principais pontos da medida cautelar fiscal
patrimonial, sendo que os bens continuam na propriedade do contribuinte/devedor.
Vale ressaltar que o arrolamento fiscal poderá abranger, inclusive, o bem de família considerando que tal Competência. A medida cautelar fiscal será requerida ao Juiz competente para a execução judicial da
providência não configura constrição ao direito de posse ou de propriedade e, portanto, não ofende a Dívida Ativa da Fazenda Pública. Em outras palavras, será competente o mesmo juízo da execução

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 37 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 38
fiscal. Importante: se a execução judicial já estiver no Tribunal, será competente o Relator do recurso. Art. 39 da Lei nº 11.196/2005
Apenso. Os autos do procedimento cautelar fiscal serão apensados aos do processo de execução O art. 39 da Lei nº 11.196/2005 prevê uma hipótese de isenção de imposto de renda:
judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública. Art. 39. Fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no País na venda de
Petição inicial. É necessária petição inicial devidamente fundamentada, que indicará: I - o Juiz a quem imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado da celebração
é dirigida; II - a qualificação e o endereço, se conhecido, do requerido; III - as provas que serão do contrato, aplique o produto da venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País.
produzidas; IV - o requerimento para citação.
Liminar. O juiz concederá liminarmente a medida cautelar fiscal, dispensada a Fazenda Pública de Ex: João comprou seu apartamento por R$ 300 mil; dois anos depois, vendeu este imóvel por R$ 400 mil,
justificação prévia e de prestação de caução. Contra esta decisão, cabe agravo de instrumento. Diz-se que seu ganho de capital foi de R$ 100 mil. Em princípio,
Indisponibilidade. A decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de imediato, a indisponibilidade João teria que pagar imposto de renda sobre esse ganho de capital. Ocorre que o art. 39 acima transcrito
dos bens do requerido, até o limite da satisfação da obrigação. garante uma isenção do imposto caso ele utilize este valor recebido para adquirir outro imóvel residencial.
Citação. Depois de tudo isso acima, o requerido será citado para, no prazo de 15 dias, contestar o
pedido, indicando as provas que pretenda produzir. Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:
Revelia. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como verdadeiros, os Em janeiro de 2016, Pedro comprou uma casa por R$ 300 mil.
fatos alegados pela Fazenda Pública, caso em que o Juiz decidirá em 10 dias. Em julho de 2016, Pedro celebrou contrato de promessa de compra e venda de um apartamento, pagando
Audiência. Se o requerido contestar no prazo legal, o Juiz designará audiência de instrução e uma parte à vista, ficando com R$ 500 mil para ser pago parceladamente.
julgamento, havendo prova a ser nela produzida. As prestações ficaram pesadas e, em outubro de 2016, Pedro vendeu a casa por R$ 400 mil. Dessa forma,
Garantia. A medida cautelar fiscal decretada poderá ser substituída, a qualquer tempo, pela prestação ele teve um ganho de capital de R$ 100 mil (400-300). Esse dinheiro ele utilizou para pagar as prestações
de garantia correspondente ao valor da prestação da Fazenda Pública. A Fazenda Pública será ouvida do apartamento.
necessariamente sobre o pedido de substituição, no prazo de 5 dias, presumindo-se da omissão a sua Pedro, na declaração de imposto de renda, informou que os R$ 100 mil que recebeu de ganho de capital
aquiescência. com a venda da casa seriam isentos do IR.
A Receita Federal, contudo, não concordou e afirmou que, para ter direito à isenção do IR, a compra do
Medida cautelar fiscal preparatória de execução. Quando a medida cautelar fiscal for concedida em
imóvel residencial deve ser posterior à data do ganho de capital. No caso de Pedro, foi o contrário, pois
procedimento preparatório, deverá a Fazenda Pública propor a execução judicial da Dívida Ativa no
primeiro ele comprou o apartamento (julho) e depois teve o ganho de capital com a venda casa (outubro).
prazo de 60 dias, contados da data em que a exigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa.
Logo, não teria direito.
Indeferimento e independência em relação à execução fiscal. Se o juiz indeferir a medida cautelar
O Fisco sustentou que existe expressa vedação à pretensão de Pedro no art. 2º, § 11, I, da Instrução
fiscal, isso não impede que a Fazenda Pública ajuíze execução judicial, salvo se o magistrado, no
Normativa-SRF n. 599/2005, que regulamentou a isenção legal. Veja o texto da IN 599/2005:
procedimento cautelar fiscal, acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação, de
remissão, de prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra Art. 2º Fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no País na venda de
modalidade de extinção da pretensão deduzida. imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado da celebração do
contrato, aplique o produto da venda na aquisição, em seu nome, de imóveis residenciais localizados no País.
Coisa julgada. A sentença proferida na medida cautelar fiscal, em regra, não faz coisa julgada
(...)
relativamente à execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, salvo se o juiz acolher alegação
§ 11. O disposto neste artigo não se aplica, dentre outros:
de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de prescrição ou decadência, de
I - à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito
conversão do depósito em renda, ou qualquer outra modalidade de extinção da pretensão deduzida.
remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante;
Recurso. Da sentença que decretar a medida cautelar fiscal caberá apelação, sem efeito suspensivo,
salvo se o requerido oferecer garantia. É válido o argumento utilizado pela Receita Federal para negar a isenção?
NÃO. Pedro tem, sim, direito à isenção. Segundo decidiu o STJ:
A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista
IMPOSTO DE RENDA no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de
Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel
para pagamento de parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente residencial já possuído pelo alienante.
STJ. 2ª Turma. REsp 1469478/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell
Marques, julgado em 25/10/2016 (Info 594).
A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel
prevista no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial A restrição imposta pela instrução normativa da Receita Federal torna a aplicação do art. 39 da Lei n.º
com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à 11.196/2005 quase que impossível. A grande maioria das aquisições imobiliárias das pessoas físicas é feita
prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante. mediante contratos de financiamento de longo prazo (até trinta anos). Isso porque o mais comum é que as
A restrição estabelecida no art. 2º, §11, I, da Instrução Normativa-SRF n. 599/2005 é ilegal. pessoas não tenham liquidez para adquirir um imóvel à vista.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.469.478-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 25/10/2016 (Info 594). Além disso, pessoa física geralmente adquire o "segundo imóvel" ainda "na planta" (em construção), o que
dificulta a alienação anterior do "primeiro imóvel", já que é necessário ter onde morar. A regra então é
que a aquisição do "segundo imóvel" se dê antes da alienação do "primeiro imóvel".

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Sendo assim, a finalidade do art. 39 da Lei nº 11.196/2005 é mais bem alcançada quando se permite que o Imagine a seguinte situação hipotética:
produto da venda do imóvel residencial anterior seja empregado, dentro do prazo de 180 (cento e oitenta A empresa "XX" (vendedora de mercadorias) é contribuinte de PIS/COFINS.
dias), na aquisição de outro imóvel residencial, compreendendo dentro deste conceito de aquisição Com as mercadorias vendidas em maio, o total das receitas auferidas pela empresa no mês foi R$ 100 mil.
também a quitação do débito remanescente do imóvel já adquirido ou de parcelas do financiamento em O fisco cobrou o PIS/PASEP e COFINS com base nesse valor (alíquota x 100 mil = tributo devido).
curso firmado anteriormente. A empresa não concordou e afirmou que dos R$ 100 mil que ela recebeu, ficou apenas com R$ 75 mil,
considerando que R$ 25 mil foram repassados ao Estado-membro a título de pagamento de ICMS.
Ademais, se você observar a redação do art. 39, verá que ele exige apenas a aplicação do "produto da
Em suma, para a empresa, a quantia paga a título de ICMS não pode ser incluída na base de cálculo do
venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País". Não existe uma exigência do momento em
PIS/PASEP e COFINS.
que deve ocorrer esta aquisição. Não há qualquer registro na Lei de que as aquisições de que ela fala
Como reforço de seu argumento, a empresa mostrou as notas fiscais das mercadorias e nela consta, em
sejam somente aquelas cujos contratos ocorreram depois da venda do primeiro imóvel residencial.
separado, a seguinte descrição "ICMS R$ XXX", o que demonstra que o valor do tributo foi destacado na nota.
Aliás, a lei nem poderia dizer isso, pois, como já descrevemos, destoaria da realidade do mercado
imobiliário para pessoas físicas que se faz com contratos a prazo, financiamentos, e o início da aquisição A tese da empresa foi acolhida pelo STJ?
do segundo imóvel antes mesmo da realização da venda do primeiro. NÃO. O ICMS deve ser incluído na base de cálculo do PIS e da COFINS.

Dessa forma, com base nos argumentos acima, o STJ entendeu que o art. 2º, §11, I, da Instrução O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento,
Normativa- ilegal. submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do
conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
PIS/PASEP E COFINS
É possível a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos
Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS
Inicialmente, cumpre deixar registrado que o ordenamento jurídico pátrio permite, em regra, a incidência
de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a
O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, incidência de tributo sobre tributo ou imposto sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal
submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante expressa em sentido contrário, não havendo aí nenhuma violação, a priori, ao princípio da capacidade
também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações. contributiva.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro No caso, não existe qualquer vedação de se incluir o valor pago a título de ICMS na base de cálculo do
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594). PIS/PASEP e COFINS.
Obs: o STF possui um precedente em sentido contrário: RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 8/10/2014 (Info 762). Valor pago a título de ICMS inclui-se
As Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 estabeleceram que a base de cálculo da Contribuição para o
PIS/PASEP e COFINS o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica
União. Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP. O valor correspondente ao ICMS suportado faticamente pelo consumidor (contribuinte de fato), mas
recolhido aos cofres públicos pela empresa (contribuinte de direito), inclui-se no conceito de
PIS/PASEP para fins de incidência da Contribuição para o PIS e COFINS.
O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte: O fato de constar em nota fiscal informação no sentido de que o valor com o qual arcará o destinatário do
PIS: Programa de Integração Social. serviço compreende quantia correspondente ao valor do ICMS não torna o consumidor contribuinte desse
PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. tributo a ponto de se acolher a tese da empresa. Admitir essa tese seria o mesmo que considerar o
consumidor como sujeito passivo de direito do tributo (contribuinte de direito) do ICMS e a empresa seria
O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser apenas um "substituto tributário", cuja função seria apenas a de recolher aos cofres públicos a exação
denominados de PIS/PASEP. devida por terceiro, no caso o consumidor. Ocorre que isso não encontra amparo na legislação, pois o
Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas consumidor não é contribuinte do ICMS.
no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. O consumidor pode até, na prática, suportar o valor do tributo, já que a empresa "embute" no preço do
serviço o valor que ela irá pagar de ICMS. No entanto, isso não transforma o adquirente da mercadoria no
COFINS contribuinte de direito do ICMS. A lei prevê que o sujeito passivo deste tributo é a empresa que
Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social. comercializa as mercadorias.
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela A hipótese não se confunde, portanto, com aquela em que se tem a chamada responsabilidade tributária
Lei Complementar 70/91, nos te por substituição, em que determinada entidade, por força de lei, figura no polo passivo de uma relação
A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de jurídico-tributária obrigacional, cuja prestação (o dever) consiste em reter o tributo devido pelo
sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003). substituído para, posteriormente, repassar a quantia correspondente aos cofres públicos. Se fosse essa

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 41 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 42
a hipótese (substituição tributária), é certo que a quantia recebida pelo contribuinte do PIS e da COFINS a
título de ICMS não integraria o conceito de . No mesmo sentido se o ônus referente ao O § 2º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 listou uma série de verbas que devem ficar fora do conceito de
ICMS não fosse transferido ao consumidor do serviço. Nesse caso, não haveria dúvida de que o valor deração no momento de se
referente ao ICMS não corresponderia à receita ou ao faturamento, já que faticamente suportado pelo apurar a base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS.
contribuinte de direito, qual seja, o adquirente da mercadoria. Veja o que dizia o inciso III:
Em suma, quem possui o dever de pagar o ICMS é a empresa. Ela repassa essa quantia para o consumidor Art. 3º (...)
embutida no preço da mercadoria. Logo, ela recebe esse valor e o utiliza para pagar uma obrigação que é § 2º Para fins de determinação da base de cálculo das contribuições a que se refere o art. 2º, excluem-se
sua (o imposto). Dessa forma, não se pode dizer que não se trate de uma receita sua, já que utilizada para da receita bruta:
pagar suas obrigações tributárias. III - os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica,
observadas normas regulamentadoras expedidas pelo Poder Executivo;
O fato de o ICMS vir destacado na nota não muda nada
O fato de haver ou não discriminação na fatura do valor suportado pelo vendedor a título de tributação Assim que a Lei nº 9.718/98 entrou em vigor, as empresas, com o objetivo de reduzir o valor que pagavam
decorre apenas da necessidade de se informar ou não ao Fisco, ou ao adquirente, o valor do imposto de contribuições, tentaram excluir da base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS os valores que,
embutido no preço pago. computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica , com base neste inciso III.
Desse modo, os valores do ISSQN e do ICMS, destacados na nota, devidos e recolhidos pelas empresas Ocorre que o Fisco não aceitou, argumentando que as empresas somente poderiam ser beneficiadas com
vendedoras de mercadorias e/ou prestadoras de serviços em razão de suas vendas de bens e serviços a referida exclusão depois que o Poder Executivo expedisse o regulamento da Lei. Assim, a Fazenda
compõem o faturamento dessas empresas, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP Nacional sustentou a tese de que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 seria uma norma de eficácia
e COFINS, não havendo aí afronta ao art. 110 do CTN. limitada, não produzindo efeitos antes da regulamentação infralegal.
Como a regulamentação ainda não havia sido editada, não seria possível aplicar o dispositivo em questão.
Cuidado. Precedente do STF em sentido contrário
MP 2.158-35
O STF possui um precedente em sentido contrário ao que decidiu o STJ. Confira:
As empresas, que aguardavam ansiosamente a regulamentação, tiveram uma surpresa desagradável: em
O valor retido em razão do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da COFINS sob pena de violar o vez de fazer isso, o Presidente da República editou a MP 2.158-35 revogando o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº
9.718/98.
STF. Plenário. RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2014 (Info 762).
O que isso representa?
O julgado acima proferido contou com a participação de inúmeros Ministros que atualmente estão Significa dizer que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98
aposentados. Logo, ele não reflete, necessariamente, a posição atual da Corte. Os especialistas apontam revogado antes de começar a produzir efeitos.
que o STF deverá decidir de forma diferente ao julgar o RE 544.706/PR, que está aguardando apreciação Segundo decidiu o STJ, a restrição legislativa do art. 3º, § 2º, III ao conceito de faturamento não teve
pelo Plenário com repercussão geral reconhecida. eficácia no mundo jurídico, já que dependia de regulamentação administrativa e, antes da publicação
Em concursos públicos, deve-se atentar para a redação do enunciado. dessa regulamentação, foi revogado pela MP 2.158-35, de 2001.
Logo, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica,
integram sim o conceito de receita bruta (faturamento) e devem ser incluídos na base de cálculo do
PIS/PASEP e COFINS.
PIS/PASEP E COFINS
Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para Em sede de recurso repetitivo, o raciocínio acima foi sintetizado na seguinte tese:
outras pessoas jurídicas integram a base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento
e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS,
O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica.
faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
outra pessoa jurídica.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
CONTRIBUIÇÕES
Lei nº 9.718/98 Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial
A Lei nº 9.718/98, dentre outros assuntos, tratou sobre a contribuição para o PIS/PASEP e COFINS.
Esta Lei previu que as contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS seriam calculadas com base no O art. 2º, II, do DL 1.146/70 dispõe expressamente que a cooperativa que exerça atividade de
faturamento da pessoa jurídica (art. 2º, caput). indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a
Segundo o art. 3º, caput, faturamento seria igual a receita bruta. folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados.
Assim, pela Lei nº 9.718/98, a base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS seria a receita bruta. Assim, em regra, não há permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou
CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 43 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 44
toda a pessoa jurídica, de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida No que se refere aos empregados que trabalham na matriz (indústria de laticínios), eu aceito pagar a
(art. 581, §§1º e 2º, da CLT). alíquota de 2,5% porque se enquadra no art. 2º, II, do DL 1.146/70. No entanto, no que se refere aos
Dito de outro modo, a diferenciação de alíquotas em razão da individualização de trabalhadores da filial, o correto é que eu pague uma alíquota menor (de 0,2%) porque eu não desenvolvo
estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica, regra lá atividades de indústria de laticínios, razão pela qual eu não me enquadro no art. 2º, II, do referido DL.
geral, em relação às contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei nº Assim, segundo alegou a indústria, o enquadramento, para efeito de se atribuir as alíquotas de
11.457/2007. contribuição ao INCRA, deve ser feito por estabelecimento e individualmente para cada CNPJ, não
O escritório (filial) da indústria, a despeito de possuir CNPJ próprio, dela não se separa. Ao havendo que ser global para toda a empresa.
contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela
uma única pessoa jurídica e com objetivo único. A tese da empresa foi aceita pelo STJ?
STJ. 2 Turma. REsp 1.634.693-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/11/2016 (Info 594). NÃO.
O art. 2º, II, do DL 1.146/70 dispõe expressamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria
Imagine a seguinte situação hipotética: de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos
"Leite Bom" é uma cooperativa que funciona como indústria de laticínios. salários de contribuição previdenciária de seus empregados.
O art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/1970 determina que ela, enquanto indústria de laticínios, deve pagar Assim, em regra, não há permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do
uma contribuição (tributo) que é destinada ao INCRA. Esta contribuição possui alíquota de 2,5%, sendo contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para toda a pessoa jurídica,
devida sobre a soma da folha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados. de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida (art. 581, §§1º e 2º, da CLT).
Art. 2º A contribuição instituída no "caput " do artigo 6º da Lei número 2.613, de 23 de setembro de 1955, O escritório (filial) da indústria, a despeito de possuir CNPJ próprio, dela não se separa. Ao contrário, o
é reduzida para 2,5% (dois e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 1971, sendo devida sobre a soma escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa
da folha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados pelas pessoas naturais e jurídica e com objetivo único.
jurídicas, inclusive cooperativa, que exerçam as atividades abaixo enumeradas: STJ. 2ª Turma. REsp 1.634.693-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
(...)
II - Indústria de laticínios; Veja a redação da CLT:
Art. 581 (...)
Vale ressaltar que esta contribuição destinada ao INCRA possui a natureza jurídica de contribuição § 1º Quando a empresa realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja
interventiva no domínio econômico, encontrando sua fonte de legitimidade no art. 149 da CF/88. preponderante, cada uma dessas atividades será incorporada à respectiva categoria econômica, sendo a
A contribuição destinada ao INCRA é também classificada como sendo uma espécie das "contribuições devidas contribuição sindical devida à entidade sindical representativa da mesma categoria, procedendo-se, em
a terceiros", sendo cobrada pela Receita Federal, nos termos dos arts. 2º e 3º da Lei nº 11.457/2007: relação às correspondentes sucursais, agências ou filiais, na forma do presente artigo.
Art. 2º Além das competências atribuídas pela legislação vigente à Secretaria da Receita Federal, cabe à § 2º Entende-se por atividade preponderante a que caracterizar a unidade de produto, operação ou
Secretaria da Receita Federal do Brasil planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas a objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, exclusivamente em regime de
tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das contribuições sociais previstas nas conexão funcional.
alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e das
contribuições instituídas a título de substituição. A única exceção em que seria possível a cobrança de alíquotas diferenciadas seria no caso de a "empresa
Art. 3º As atribuições de que trata o art. 2º desta Lei se estendem às contribuições devidas a terceiros, realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante" (art. 581, § 1º, da
assim entendidas outras entidades e fundos, na forma da legislação em vigor, aplicando-se em relação a CLT). Este, contudo, não é o caso da "Leite Bom", considerando que a única atividade econômica que ela
essas contribuições, no que couber, as disposições desta Lei. exerce é a de indústria de laticínios, sendo o escritório apenas atividade-meio para o objetivo final que é a
(...) industrialização de laticínios.
§ 6º Equiparam-se a contribuições de terceiros, para fins desta Lei, as destinadas ao Fundo Aeroviário - FA,
à Diretoria de Portos e Costas do Comando da Marinha - DPC e ao Instituto Nacional de Colonização e Importante mencionar, ainda, que o STJ já afirmou, em sede de recurso especial repetitivo (REsp
Reforma Agrária - INCRA e a do salário-educação. 1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.5.2013), que a filial é uma
espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa
Diferenciação das alíquotas jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa
Vale ressaltar que o percentual da alíquota da contribuição ao INCRA varia de acordo com a atividade condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando
econômica desenvolvida pela empresa. Vimos acima que, no caso da indústria de laticínios, a alíquota é de personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade
2,5%, conforme previsto no art. 2º, II, do DL 1.146/70. No entanto, existem alíquotas menores para empresária.
empresas que desempenham outras atividades econômicas.
Assim, a diferenciação de alíquota em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio
Tese da empresa entre a matriz e a filial da empresa não se aplica, regra geral, em relação à contribuição devida ao INCRA,
A "Leite Bom" veio, então, com o seguinte argumento: visto que, no caso em tela, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a
Nossa empresa é dividida em duas. Temos a empresa matriz (indústria de laticínios - CNPJ: despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função
XX.XXX.XXX/0002-56) e uma filial (escritório administrativo - CNPJ: YY.YYY.YYY/0001-75). da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único.

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Entendimento contrário poderia viabilizar a realização de planejamento tributário tendente a subverter a teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento (100% do salário de
sistemática arrecadatória do tributo, visto que, na tentativa de reduzir custos, as empresas poderiam, por benefício) (AMADO, Frederico. Direito Previdenciário Sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 565).
exemplo, registrar os empregados da indústria de laticínios na folha mensal de salários do escritório,
estabelecimento filial com CNPJ próprio e eventual alíquota inferior do tributo em questão, o que traduz DEPENDENTES
indicativo de possíveis fraudes, evasões e elisões fiscais, que devem ser evitadas.
O que são os dependentes para fins previdenciários?
Os dependentes são pessoas que, embora não contribuindo para a seguridade social, podem vir a receber
Situação não tem nada a ver com a contribuição para o SAT
benefícios previdenciários, em virtude de terem uma relação de afeto (cônjuge/companheiro) ou
No caso da contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT), o STJ afirma que a alíquota irá variar
parentesco com o segurado.
de acordo com o risco de cada empresa. Assim, a alíquota pode variar da filial para a matriz se houver
CNPJs diferentes. Nesse sentido: Quais os benefícios que os dependentes receberão?
Súmula 351-STJ: A alíquota de contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo Quem define isso é a lei. Em geral, todos os regimes de previdência preveem a pensão por morte como um
grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da benefício que os dependentes recebem quando ocorre o falecimento do segurado.
atividade preponderante quando houver apenas um registro.
É o segurado quem escolhe quem são seus dependentes para fins previdenciários?
O raciocínio do SAT, contudo, não pode ser aplicado para a contribuição ao INCRA. NÃO. A relação dos dependentes é definida pela legislação previdenciária. Assim, não é o segurado quem
O conceito de "atividade preponderante" utilizado para as contribuições devidas a terceiros previstas no os indica. É a própria lei que já prevê taxativamente quem tem direito de ser considerado dependente (art.
art. 3º, da Lei nº 11.457/2007, como a do INCRA, difere do conceito utilizado para a contribuição ao SAT. 16 da Lei nº 8.213/91).
A definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT está relacionada ao número de segurados
empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a Os dependentes precisam se cadastrar no INSS?
atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial, este utilizado como Somente no momento em que forem receber o benefício. Antes de terem direito ao benefício, os
parâmetro para o conceito de "atividade preponderante" das contribuições devidas a terceiros. dependentes do segurado não se inscrevem na autarquia previdenciária.
A contribuição ao SAT está diretamente relacionada com o risco que cada empregado sofre, razão pela
qual existe motivo para a diferenciação de acordo com a matriz ou filial. Classes de dependentes:
A Lei divide os dependentes em três classes:
1ª CLASSE a) Cônjuge Para que recebam os benefícios
b) Companheiro (hétero ou homoafetivo) previdenciários, os membros da 1ª
DIREITO PREVIDENCIÁRIO c) Filho menor de 21 anos, desde que não tenha classe NÃO precisam provar que
sido emancipado; eram dependentes economicamente
PENSÃO POR MORTE d) Filho inválido (não importa a idade); do segurado (a dependência
Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho e) Filho com deficiência intelectual ou mental ou econômica é presumida pela lei).
deficiência grave (não importa a idade).
2ª CLASSE Pais do segurado. Para que recebam os benefícios
Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por
3ª CLASSE a) Irmão menor de 21 anos, desde que não tenha previdenciários, os membros da 2ª e
morte em razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro
sido emancipado; 3ª classes PRECISAM provar que
papel de genitores.
b) Irmão inválido (não importa a idade); eram dependentes economicamente
STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.859-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/11/2016 (Info 594). c) Irmão com deficiência intelectual ou mental ou do segurado.
deficiência grave (não importa a idade).
NOÇÕES GERAIS SOBRE A PENSÃO POR MORTE
Em que consiste a pensão por morte?
Pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do segurado em virtude RECEBIMENTO DA PENSÃO POR MORTE PELOS AVÓS
do falecimento deste. Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de Imagine a seguinte situação adaptada:
receber uma pensão mensal. Quando tinha 2 anos de idade, os pais de Lucas faleceram e, desde então, ele foi criado por seus avós
(João e Maria), que o tinham como um filho.
Independe de carência Já adulto, Lucas começou a trabalhar em uma indústria, estando, portanto, filiado ao regime geral de
Uma das principais características da pensão por morte é que se trata de um benefício que não depende previdência social, administrado pelo INSS.
de carência para ser concedido (art. 26, I, da Lei nº 8.213/91). Exemplos de outros benefícios Em virtude de um acidente de carro, Lucas faleceu, aos 25 anos, sem deixar filhos nem esposa.
previdenciários que também prescindem de carência: auxílio-reclusão, auxílio-acidente e salário-família. João e Maria ingressaram, junto ao INSS, com pedido de pensão por morte, tendo este sido negado pela
autarquia previdenciária, sob o argumento de que o art. 16 da Lei nº 8.213/91 lista o rol dos dependentes
Valor da pensão por morte que possuem direito à pensão por morte e nele não constam os avós, mas apenas os pais.
A pensão por morte será paga no mesmo valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que Diante disso, João e Maria ingressaram com ação judicial pedindo a concessão do benefício.

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A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com o pedido de pensão por morte dos avós? entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
SIM. É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por morte em
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no
razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro papel de genitores.
momento da aposentadoria.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.859-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/11/2016 (Info 594).
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de
previdência complementar" (entidade de previdência privada).
Como vimos acima, o benefício pensão por morte é devido aos dependentes do segurado, elencados no
art. 16 da Lei 8.213/91. Confira:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do Entidades de previdência privada
segurado: Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de previdência complementar): as
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de entidades de previdência privada abertas e as fechadas.
21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
II - os pais; ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que As entidades abertas são empresas privadas As entidades fechadas são pessoas jurídicas,
tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; constituídas sob a forma de sociedade anônima, organizadas sob a forma de fundação ou
que oferecem planos de previdência privada que sociedade civil, mantidas por grandes empresas
Realmente, os avós não constam neste rol. podem ser contratados por qualquer pessoa física ou grupos de empresa, para oferecer planos de
não estendendo este benefício para outros ascendentes. ou jurídica. As entidades abertas normalmente previdência privada aos seus funcionários.
Vale ressaltar que este rol do art. 16 é considerado TAXATIVO. fazem parte do mesmo grupo econômico de um
banco ou seguradora.
Mas por que, então, o STJ reconheceu aos avós, neste caso concreto, o direito de receberem a pensão Exs: Bradesco Vida e Previdência S.A., Itaú Vida e Os planos não podem ser comercializados para
por morte? Previdência S.A., Mapfre Previdência S.A., Porto quem não é funcionário daquela empresa.
Porque os avós do falecido, na verdade, desempenharam o papel substitutivo de seus pais desde que ele Seguro Vida e Previdência S/A., Sul América Ex: Previbosch (dos funcionários da empresa
tinha dois anos de idade. Seguros de Pessoas e Previdência S.A. Bosch).
Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.
Pode-se dizer que o STJ elasteceu o rol do art. 16? São geridas (administradas) pelos diretores e A gestão é compartilhada entre os representantes
NÃO. O STJ, ao conferir no presente caso a condição de dependentes aos avós não elasteceu o rol do art. administradores da sociedade anônima. dos participantes e assistidos e os representantes
16. Este Tribunal simplesmente reconheceu que os avós assumiram juridicamente o papel de pais e, por dos patrocinadores.
isso, possuem direito à pensão com base no inciso II.
"Entidades patrocinadoras" (patrocinador)
Patrocinador (ou entidade patrocinadora) é a empresa ou grupo de empresas que oferece plano de
previdência privada fechada aos seus funcionários. Funciona da seguinte forma: os empregados pagam
PREVIDÊNCIA PRIVADA uma parte da mensalidade e o patrocinador arca com a outra.
A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de
Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de
previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.
cessação do vínculo do participante com o ente federado patrocinador Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes:
aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.
Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados
inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas O Poder Público (administração direta e indireta) pode ser patrocinador de plano de previdência privada?
direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja SIM. Existem alguns entes públicos, em especial entidades, que também oferecem plano de previdência
programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral privada complementar aos seus servidores/empregados. Neste caso, este ente público é que será o
com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, patrocinador.
independentemente das disposições estatutárias e regulamentares. A Lei Complementar nº 108/2001, inclusive, traz as regras que regem as entidades fechadas de
STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso previdência complementar mantidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas
repetitivo) (Info 594). autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.
Exemplos de entidades de previdência privada criadas por entidades administrativas para atender seus
Previdência complementar empregados: Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Postalis (Correios).
Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro,
aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.

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Participante expectativa de que permanecerão íntegras as regras vigentes no momento de
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma sua adesão ao plano de previdência complementar fechada. Alterações posteriores do regime a ele se
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano, 431273/SE, Rel. Min.
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador). Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2015).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento. E se o regulamento do plano de previdência permitir a aposentadoria mesmo sem rompimento do
vínculo laboral?
Regulamento ou estatuto Não vale de nada. Isso porque o regulamento, neste ponto, será ilegal por violar o art. 3º, I, da LC
As regras sobre o plano d 108/2001.

legislação que rege o tema. Tese fixada pelo STJ para o tema:
Imagine agora a seguinte situação hipotética: Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados inclusive suas
João é empregado celetista da Petrobrás e decidiu aderir ao plano de previdência complementar oferecido autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -,
pela Petros. para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que
Depois de anos trabalhando, ele percebe que preencheu os requisitos mínimos exigidos pelo regulamento o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência
do plano e, com isso, já possui direito de pedir sua aposentadoria complementar. da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares.
Ocorre que João não quer deixar de trabalhar na Petrobrás. O participante deseja pedir a aposentadoria STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso repetitivo)
complementar e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando normalmente. Isso é possível? (Info 594).

O participante pode gozar de aposentadoria (benefício de prestação programada e continuada)


concedida pela entidade fechada de previdência privada e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando
para o ente patrocinador? EXERCÍCIOS
NÃO. Para ter direito ao benefício, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral
com o patrocinador. Julgue os itens a seguir:
1) A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério
Vedação expressa público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação
O art. 3º, I, da LC 108/2001 exige, expressamente, o término do vínculo com o patrocinador para a do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a
concessão do benefício. Confira: carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas
Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os planos de benefícios das entidades de que trata esta Lei determinações estiverem previstas nas legislações locais. ( )
Complementar atenderão às seguintes regras: 2) No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária
I carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada; e 3) Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador
do sinistro preposto da empresa segurada estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado
A LC 108 foi editada em 2001. Se o participante ingressou no plano de previdência complementar antes demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. ( )
4) O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação é suscetível de
de 2001 e for pedir sua aposentadoria agora, terá que se submeter a essa regra do art. 3º, I, acima
usucapião. ( )
transcrita? A LC 108/2001 aplica-se aos pedidos de benefício feitos agora, mesmo que o participante
5) O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros públicos,
tenha entrado antes de sua vigência?
integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz jus ao
SIM. Não há ilegalidade na exigência de cessação do vínculo empregatício do participante com o ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra,
patrocinador para a concessão da aposentadoria complementar, mesmo que o plano de benefícios tenha com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência
sido instituído antes da LC 108/2001 (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 560.639/SE, Rel. Min. Antonio Carlos do proprietário da obra. ( )
Ferreira, julgado em 16/06/2015). 6) Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na relação
O participante deverá respeitar a legislação vigente no momento em que preencheu os requisitos para a contratual não pode ser titular dos direitos autorais, sendo este um atributo exclusivo da pessoa física. ( )
concessão do benefício. Assim, se ele preencheu os requisitos para a aposentadoria em 2017, deverá 7) (PGM-Campinas 2016 FCC) Caio estabeleceu-se, com animus domini, em praça pública abandonada pelo
cumprir a legislação vigente nesta data, não importando quando ingressou no plano e previdência. Município. Decorridos mais de 20 anos, sem oposição das pessoas que frequentavam o local, requereu fosse
declarada usucapida a área. Tal praça constitui bem
Esse entendimento não viola o direito adquirido? A) de uso comum do povo, suscetível de usucapião, em caso de abandono pelo poder público.
NÃO. Se o participante ainda não preencheu os requisitos para a obtenção do benefício, ele não tem B) de uso especial, insuscetível de usucapião, assim como os de uso comum do povo e os dominicais.
direito adquirido, C) dominical, suscetível de usucapião, ainda que conserve tal qualificação.
o participante ainda não havia completado os requisitos para a obtenção da aposentadoria, não se pode D) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, diferentemente dos bens de uso especial e dos
dizer que ele tinha direito adquirido. Ele possuía apenas uma expectativa de direito. Em razão disso, as dominicais.
novas regras aplicam-se a ele. E) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, assim como os de uso especial e os dominicais.

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total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já
8) O particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua possuído pelo alienante. ( )
permanência no local? 27) O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento,
9) É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical. ( ) submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do
10) Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos para conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações. ( )
direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento 28) Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por morte em razão de
do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. ( ) terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro papel de genitores. ( )
11) (Procurador Federal AGU 2007 CESPE) São pertenças os bens que, constituindo partes integrantes, 29) O rol de dependentes da pensão por morte no regime geral de previdência é exemplificativo. ( )
destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. ( ) 30) Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados inclusive suas
12) (Procurador Federal AGU 2007 CESPE) Em regra, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -,
não abrangem as pertenças. ( ) para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o
13) (Juiz Federal TRF1 CESPE) As pertenças são bens acessórios, embora não acompanhem, como regra, o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei
principal. ( ) Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares. ( )
14) (DPE/ES 2009 CESPE) As pertenças não seguem necessariamente a lei geral de gravitação jurídica, por meio
da qual o acessório sempre seguirá a sorte do principal. Por isso, se uma propriedade rural for vendida, Gabarito
desde que não haja cláusula que aponte em sentido contrário, o vendedor não estará obrigado a entregar 1. C 2. - 3. C 4. E 5. C 6. E 7. Letra E 8. - 9. C 10. C
máquinas, tratores e equipamentos agrícolas nela utilizados. ( ) 11.E 12.C 13.C 14.C 15.Letra C 16.- 17.C 18.C 19.C 20.C
15) (Juiz TJ/AM 2013 FGV) As pertenças, de acordo com o Código Civil, são definidas como: 21.C 22.E 23.E 24.C 25.E 26.C 27.C 28.C 29.E 30.C
A) os bens públicos que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
B) os bens de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem
mais agradável ou sejam de elevado valor.
C) os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao
serviço ou ao aformoseamento de outro.
D) os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais.
E) os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também
considerados tais os destinados à alienação.

16) (Juiz Federal TRF1 - prova oral). Diferencie bens acessórios de pertenças.
17) A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento imobiliário,
mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres contratuais da
informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente. ( )
18) Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-
cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido
acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial. ( )
19) Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação
da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. ( )
20) Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá
opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. ( )
21) (Promotor MP/SP 2015) Segundo entendimento sumulado do STJ, o reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. ( )
22) A notificação prévia dos ocupantes é essencial para a propositura da ação possessória. ( )
23) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, no litígio coletivo pela posse do imóvel, quando o
esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há menos de ano e dia, será obrigatória a
designação de audiência de mediação para exame da medida liminar, a ser realizada em até trinta dias. ( )
24) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital
dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação
de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. ( )
25) A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal depende de prévia notificação ao órgão
fazendário. ( )
26) A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no
art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar,

Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 53 Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 54

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