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novo rei jurar sobre esse livro, onde apunha as suas mãos, o qual proce-
dia de imediato ao juramento, prometendo “com a graça de Deos vos re-
ger e governar bem e diretamente e vos ministrar inteiramente justiça
quanto a humana fraqueza permite, e de vos guardar vossos privilegios,
graças e merçes, liberdades e fraquezas que vos forão dadas e outorguadas
por ElRej meu senhor e padre cuja alma Deus aja e por outros Reis passa-
dos seus predecessores”.8
Após o juramento efetuado pelos fidalgos presentes à cerimônia,
pertencia ao alferes desfraldar a bandeira e proclamar “real, real, per o mui-
to alto e muito poderoso El-Rej Dom João, nosso senhor”. Outro dos jura-
mentos seria efetuado pelos procuradores de Lisboa em representação de
todos os outros delegados dos concelhos do reino. Ao retirar-se para a sua
câmara o rei vestia um manto e usava um capelo preto de luto, que decor-
ridos 6 meses passava a ser substituído por uma “loba frizada”, conforme fi-
zera o rei D. Duarte depois do falecimento de D. João I.9
Em Portugal os reis usufruíam duma autoridade incontestada que se
pautava por uma extrema firmeza. Por mais duma vez o rei D. Pedro I em-
prega a expressão, no protocolo de algumas das suas cartas, “de nossa cer-
ta ciência e poder absoluto”. Seu filho D. Fernando utiliza por vezes, em
suas cartas, a fórmula “o estado real que temos por Deus nos é dado para
reger os nossos reinos”. A escolha de D. João I pela vontade popular não
obsta a que este monarca de acordo com a tradição dos seus antecessores,
utilize “de nossa própria autoridade e livre vontade e de nosso poder abso-
luto”, expressão que irá ser igualmente utilizada pelos seus sucessores.
Em conformidade com o seu poder absoluto o rei era a representa-
ção da lei viva. Uma carta de D. Dinis de 1317 reserva para a coroa o exer-
cício das funções de “justiça maior”, o que aliás virá a ser de novo reafirma-
do pelo rei D. Fernando nas cortes de Leiria de 1372. Sabe-se porém que o
papel do monarca não se limita de acordo com a doutrina consignada pelo
livro das Sete Partidas de Afonso X, o Sábio, que tanta influência teve en-
tre nós, ao poder judicial. De igual modo lhe pertencia o poder executivo,
conjuntamente com a chefia do exército e a cunhagem da moeda.10
Sabe-se que pelo menos desde o século XIII ninguém põe em causa
a autoridade absoluta do monarca, a qual tinha como modelo remoto o di-
reito imperial romano. Deste modo não existia qualquer restrição que limi-
tasse o poder do rei, o qual se exercia através dos mecanismos adequados.
Um dos primeiros instrumentos relativos ao desembargo régio ficou-se de-
vendo ao rei D. Pedro I e remonta a 1361. No desempenho do seu gover-
no, o monarca era auxiliado por um concelho consultivo que a partir do sé-
culo XIV passou a ter a designação de concelho de el-rei.11
São múltiplas as dificuldades que obstam a uma correta articulação
entre o Estado e os seus dependentes. Em muitos aspectos o caráter abso-
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“que ponha tall hordenamça que taaes pessoas nom filhe por uasalos saluo per
linhagem for ou ser filho ou neto de uasallo segumdo já per ElRey uosso pa-
dre … em seu tempo foy ordenado”.27
Por seu turno os infanções eram possuidores de linhagem, não ultrapas-
sando em meados do século XIV a centena de estirpes, sendo uma nobreza ar-
raigada às áreas rurais, onde apesar de ocuparem cargos inferiores aos dos vas-
salos e serem proprietários de latinfúndios de menor amplitude, desfrutavam
de grande influência local. Muitos deles chegaram a ocupar funções de maior
importância. Problema, contudo, ainda mal esclarecido na nossa historiografia,
consiste em saber se a maior parte destas estirpes se teriam extinguido em mea-
dos do século XIV, o que em caso conclusivo se deverá atribuir a uma decadên-
cia biológica relacionada com fatores endogâmicos, resultantes de cruzamentos
observados entre elementos pertencentes à mesma família. Desta situação ve-
rificar-se-ia uma diminuição da natalidade e simultaneamente uma elavada
taxa de mortalidade infantil e juvenil, tal como se observa no reino de Castela.
Este estado de coisas tanto afetou os infanções, que desaparecem por comple-
to dando origem aos cavaleiros-fidalgos, como igualmente aos ricos-homens, o
que certamente contribuiu para a constituição de uma nova nobreza.28
A cavalaria como grau da nobreza representava uma categoria transitó-
ria. O monarca podia armar cavaleiros, mas não podia fazer fidalgos. Apenas se
atingia a categoria de cavaleiro-fidalgo ao fim de três gerações. Muitos dos ca-
valeiros que nos aparecem a partir da segunda metade do século XIV eram pro-
venientes da cavalaria-vilã, conhecidos genericamente pela designação de her-
dadores. Eram possuidores de bens fundiários nas zonas rurais, não se conhe-
cendo na maioria dos casos como funcionava os mecanismos desta transição.29
Em consonância com a tradição o cavaleiro era armado nessa categoria
pelo monarca, podendo contudo este ato reduzir-se a um simples formulário
administrativo. Em conformidade com as leis do reino um cavaleiro era obriga-
do a possuir cavalo, perdendo essa condição no caso de não ter meios para pro-
ceder à reposição da montada, cabendo-lhe a obrigação de participar na guer-
ra acompanhado por um determinado número de “lanças” recrutados nas suas
terras e combatendo sobre as suas ordens diretas.30
A legislação em vigor estatuía “que pera cavalleiros fossem escolheitos ho-
mẽs de boa linhagem, que se guardassem de fazer cousa, perque podessem cair
em vergonça, e que estes fossem escolheitos de boos lugares” o que significava
“gentileza”. Ora “esta gentileza vem em tres maneiras; a hua per linhagem; a se-
gunda per saber; a terceira per bondade e custumes e manhas, e como quer que
estes, que a ganham per sabedoria, ou bondade, som per direito chamados nobres
e gentys, muito mais ho sam aquelles, que ham per linhagem antigamente, e fa-
zem boa vida, porque lhes vem de longe assy como per herança...”.31
Ainda dentro da nobreza cabe mencionar uma categoria de acesso à
cavalaria constituída pelos escudeiros. Este grupo social a partir do século
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NOTAS
1. Idade Média. Problemas e Soluções. Lisboa: p.265 ss.
2. Sobre esta matéria veja-se CAETANO, M. As cortes de 1385. Revista Portuguesa de História
(Coimbra), tomo V, v.II, p.5 ss., 1951. Merecem ponderação as considerações formuladas a
este respeito por ALBUQUERQUE, M. de. O poder político no renascimento português. Lisboa,
1968. p.23-4.
3. Vejam-se a propósito destas questões as pertinentes considerações de VALDEAVELLANO,
L., em Histórias de las instituciones españolas. Madrid, 1970. p.417.
4. Ibidem, p.430-1.
5. MARTIN, B. P. La coronacion de los reyes de Aragon, (1204-1410). Valencia, 1975. p.21 ss.
6. BRÁSIO, A. O problema da sagração dos monarcas portugueses. (separatas) Anais da Academia
Portuguesa da História. v.12, 2ª. série, Lisboa, 1962.
7. Ibidem, p.34.
8. Pombalina. Biblioteca Nacional de Lisboa (B. N. L.), cod. 443. Publicado por Martim Albu-
querque, op. cit., p.405-8.
9. Ibidem.
10. Afonso X, o Sábio, 2ª. partida, com glosas em castelhano de Alonso Diaz de Montalvo, Se-
vilha, s.n., 1491.
11. D. Pedro I. Chancelarias Régias. Lisboa: INIC, 1984. doc. 574, p.260-2.
12. Abordei esta questão à volta das pretensões nobiliárquicas sobre a posse das localidades
realengas no meu Estado. O poder real e as autarquias locais no trânsito da Idade Média para
a Idade Moderna. Revista da Universidade de Coimbra. Coimbra, v.30, p.369 ss., 1983.
13. MORENO, H. B. A batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado Histórico. Lourenço
Marques, 1973. p.349, 420 e 964.
14. BARROS, H. G. História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV. Lisboa,
1945. v.II, p.377.
15. MARQUES, A. H. de O. Portugal na crise dos séculos XIV e XV. Lisboa, 1986. p.237-8.
16. Sobre esta questão veja-se o meu artigo Alcaidarias dos castelos durante a regência do in-
fante D. Pedro. Revista de História, p.282 ss., 1982.
17. Livro de Leis e Posturas, Lisboa, 1971, p.187-8.
18. HESPANHA, A. M. História das Instituições. Épocas Medieval e Moderna. Coimbra, 1982.
p.282 ss.
19. VIEGAS, V.1383 e os documentos joaninos. Lisboa, 1989. v.III.
20. MERÊA, P. de Genêse da Lei Mental. Boletim da Faculdade de Direito. Coimbra, v. X, p.7-8,
1910.
21. MORENO, H. B. Tensões sociais em Portugal na Idade Média. Porto, 1975. p.159.
22. Monumenta Henricina. Coimbra, 1963. doc.24, v.V, p.54-65.
23. Elementos colhidos no meu livro sobre A Batalha de Alfarrobeira.
24. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Lisboa: INIC, 1982. p.125 ss.
A mencionada Pragmática de 1340 aparece publicada neste livro à p.101 ss.
25. Ordenaçoens do Senhor Rey D. Affonso V. Coimbra, 1972. livro IV, título XXVI, p.116 e s.
26. A. N./T. T., Maço 2, de Cortes, n.14, fls. 14v-15.
27. Ibidem.
28. Ibidem.
29. Em relação à cavalaria veja-se o artigo de MARQUES A. H. de O. Cavalaria. In: Dicionário
de História de Portugal. Lisboa: 1963. v.I, p.540-2.
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30. Ordenaçõens do Senhor Rey D. Affonso V, livro 1, título LXIII, p.360 ss.
31. Ibidem, p.363-4.
32. BARROS, H. da G. História da administração pública em Portugal nos séculos XII a XV. Lisboa:
s. d. p.374 ss.
33. MARQUES, A. H. de O, op.cit., v.II, p.249.
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