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ORGANIZAÇÃO

Denise L. Oliveira Vilas Boas


Fernando Cassas
Hélder Lima Gusso

COMPORTAMENTO
EM FOCO

Vol. 5

OBM | Organizational Behavior Management


Análise do Comportamento nas Organizações
Comportamento em foco 5 /

C737

Organizadores: Denise L. Oliveira Vilas Boas, Fernando Cassas,


Hélder Lima Gusso. -- São Paulo: Associação Brasileira de
Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC, 2017.

86 p.

ISBN 978-85-65768-04-7

1. Comportamento humano. 2. Análise do comportamento.


I. Boas, Denise L. Oliveira Vilas. II. Fernando Cassas. III. Hélder
Lima Gusso. IV. Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental.

CDD 150.1943

Catalogação pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF.


Organização deste volume
Denise L. Oliveira Vilas Boas (Núcleo Tríplice e UNIFOR)
Fernando Cassas (Paradigma – Centro de Ciências do Comportamento)
Hélder Lima Gusso (Universidade Federal de Santa Catarina)

Comissão de Publicação e Editorial da ABPMC


Fernando Cassas (Paradigma – Centro de Ciências
do Comportamento - Presidente)
Angelo A. S. Sampaio (Universidade Federal do Vale
do São Francisco - Secretário)
Francisco Lotufo Neto (IPqUSP – Editor Chefe da RBTCC)

Projeto Gráfico e Editoração


Roberto Colombo - Portfólio

Instituição Organizadora
Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental

Pareceristas
Aécio Borba V. Neto (Universidade Federal do Pará)
Candido V. B. B. Pessôa (Paradigma – Centro de Ciências do Comportamento)
Elen Gongora Moreira (Grupo Inquima)
Gabriel Gomes de Luca (Universidade Federal do Paraná)
Lívia Aureliano (Universidade de São Paulo)
Marcela Ortolan (Universidade Estadual de Londrina)
Sobre a ABPMC

A Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC)


é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 1991, e tem por
objetivos: (a) Promover, na sociedade, a Análise do Comportamento como
área de conhecimento e como campo de atuação profissional por meio
de sua divulgação e de procedimentos para o contínuo aperfeiçoamento
da área; e (b) Criar condições para o aperfeiçoamento do conhecimento
científico relacionado com análise do comportamento, de seus processos
de produção e de uso por parte dos analistas de comportamento no Brasil,
por meio de avaliação e crítica sistemáticas.

A ABPMC é constituída por pesquisadores, professores, profissionais que


trabalham com Análise do Comportamento em suas diferentes dimensões
– pesquisa básica, aplicada, conceitual e prestação de serviços – além de
estudantes de psicologia, medicina comportamental e de outras disciplinas
relacionadas ao comportamento humano. Atualmente congrega mais de
1.500 sócios distribuídos pela maioria dos estados brasileiros.

Entre as principais atividades da ABPMC está o Encontro Brasileiro de


Psicologia e Medicina Comportamental, realizado anualmente. É consi-
derado o maior fórum brasileiro de Análise do Comportamento e um dos
maiores do mundo. A ABPMC também mantém uma série de publicações
científicas: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva
(RBTCC), série Comportamento em Foco (continuação da série Sobre
Comportamento e Cognição), ambas disponíveis online gratuitamente e
bem avaliadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). A ABPMC também contribui com outras instituições
científicas, como Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
e a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP).

Outra atividade de grande importância realizada pela ABPMC é o processo


de acreditação de analistas do comportamento no país. Esta ação visa
atender uma demanda da comunidade, que apresentou a necessidade de
monitorar a qualidade da prática do analista do comportamento brasileiro,
favorecendo a escolha, pela comunidade, de profissionais qualificados
para o exercício profissional nos diversos campos de atuação em Análise
do Comportamento.

Saiba mais sobre a ABPMC em www.abpmc.org.br


Diretoria ABPMC 2015-2016
Presidente Denis Roberto Zamignani
Vice-presidente Jan Luiz Leonardi
Primeira Secretária Natália de Mesquita Matheus
Segunda secretária Maria de Lima Wang
Primeira Tesoureira Lygia Teresa Dorigon
Segundo Tesoureiro Gabriel Careli

Conselho Fiscal
Membros efetivos Antonio Maia Olsen do Vale
Luciana Leão Moreira

Membro suplente Fabrício de Souza

Conselho Consultivo
Cintia Guilhardi
Emmanuel Zagury Tourinho
Francisco Lotufo Neto
Maria Amalia Pie Abib Andery
Sílvio Paulo Botomé
Vera Regina L. Otero

Membros permanentes Bernard Pimentel Rangé


Claudia Kami Bastos Oshiro
Hélio José Guilhardi
João Ilo Coelho Barbosa
Maria Martha Hubner
Maria Zilah Brandão
Rachel Rodrigues Kerbauy (in memorian)
Roberto Alves Banaco
Wander Pereira da Silva

Membros honorários Isaias Pessoti


João Claudio Todorov
Sobre a coleção Comportamento em Foco

Em 1997 a ABPMC iniciou a publicação da série Sobre Comportamento e


Cognição, que teve importante papel na disseminação do conhecimento
produzido em Análise do Comportamento no Brasil. Após 16 anos de pu-
blicação da série, a ABPMC mudou seu formato, de impresso para digital
e, em 2012, renomeou a série como Comportamento em Foco.

O objetivo principal da coleção Comportamento em Foco é disseminar o


conhecimento produzido pela comunidade de analistas do comportamento
no Brasil, por meio de coletâneas constituídas pelos trabalhos apresentados
nos encontros anuais da ABPMC sob forma de palestras, mesas redondas,
simpósios, sessões coordenadas, minicursos e sessões primeiros passos.
Também é objetivo contribuir na formação científica dos estudantes e
profissionais da área, por meio da avaliação das produções escritas dos
autores. Este volume apresenta artigos decorrentes das apresentações
realizadas nos encontros anuais da ABPMC de 2014 e 2105 relacionadas
ao campo da Análise do Comportamento nas Organizações.

A partir deste volume, há duas novidades: Os artigos passam a estar em


volumes temáticos específicos, que visam melhorar a experiência de leitura e
ampliar o acesso dos diferentes volumes temáticos aos diferentes segmentos
da sociedade que possam se beneficiar do acesso a esse conhecimento. A
segunda novidade é a atualização do projeto gráfico, inserindo novos ele-
mentos visuais compatíveis com o campo da editoração científica. Mantendo
a boa tradição da série, os artigos que constituem a coleção passaram pela
revisão de pareceristas ad-hoc convidados em processo de duplo-cego.

Os livros digitais de cada volume estão disponibilizados gratuitamente


no site da ABPMC: www.abpmc.org.br
Sobre os autores deste volume

Aécio Borba
Psicólogo, Analista do Comportamento, doutor em Teoria e Pesquisa do
Comportamento pela Universidade Federal do Pará. Atualmente, é professor
da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Teoria e
Pesquisa do Comportamento na mesma universidade, pesquisando os temas
de Análise do Comportamento Aplicada às Organizações e Seleção Cultural.

Camila Carvalho Ramos


Psicóloga (CRP10 - 03082), Analista do Comportamento, mestre e doutora
em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade
Federal do Pará (UFPA). Atualmente trabalha como psicóloga e vice-coor-
denadora do Laboratório de Gestão do Comportamento Organizacional da
UFPA, em estágio de pós-doutoramento, desenvolvendo estudos e pesqui-
sas no campo de Gestão por Competências e da Análise do Comportamento
Aplicada às Organizações.

Candido V. B. B. Pessôa
Administrador de empresas pela FGV-SP, mestre em Psicologia
Experimental: Análise do Comportamento pela PUC/SP e doutor em ciências
(Psicologia Experimental) pela USP. Atualmente é professor e orientador
no Programa de Mestrado Profissional em Análise do Comportamento
Aplicada no Paradigma Centro de Ciências do Comportamento e professor
na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Coordena o grupo
de pesquisa Comportamentos e Sistemas Organizacionais.

Gabriel Gomes de Luca

Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, pro-


fessor e pesquisador do Departamento de Psicologia e do Programa de
Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná. Tem
realizado estudos e investigações em programação de ensino, análise com-
portamental de processos de ensino e em contextos organizacionais.
Hélder Lima Gusso
Psicólogo (CRP 12/06549), Analista do Comportamento (ABPMC 53-2015),
mestre e doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Atualmente é professor adjunto do Departamento de Psicologia da
UFSC, desenvolvendo atividades de ensino e pesquisa no campo da Análise
do Comportamento nas Organizações. Coordenador da linha de pesquisa
em avaliação de processos de aprendizagem e de intervenção profissional
do Laboratório Fator Humano da UFSC.

Ilma A. Goulart de Souza Britto


Doutora em Ciências Sociais, Antropologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Mestre em Psicologia da Aprendizagem e
Desenvolvimento pela Universidade de Brasília, UnB. Graduada em
Psicologia pela UnB. Professora titular, pesquisadora e orientadora dos
Programas de Pós-Graduação Lato Sensu e Stricto Sensu da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, PUC Goiás.

Lívia Godinho Aureliano


Psicóloga (CRP 06/69497), doutoranda em Psicologia Experimental pela USP
e mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-
SP. Docente da Universidade São Judas Tadeu nas disciplinas de Psicologia
Organizacional e Análise do Comportamento. Atualmente desenvolve pes-
quisas e orienta estudos no campo de análise de sistemas comportamentais.

Maria Vanesse Andrade


Psicóloga (CRP 06-115477), Analista do Comportamento, Mestra em
Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutoranda em
Psicologia Experimental na PUC-SP.  Atualmente trabalha como Psicóloga
Especialista em Saúde na Atenção Básica e atua em Consultório particular,
ambas as funções desempenhadas a partir dos pressupostos da Clínica
Analítico-Comportamental.
Nayra Karinne Bernardes de Menezes
Doutoranda em Psicologia na linha de concentração OBM – Organizational
Behavior Management (Análise do comportamento); Mestre em
Administração; Especialista em Gestão de Pessoas e Bacharel em
Administração.  Atualmente trabalha como professora assistente no de-
partamento de Administração da PUC Goiás e docente do programa de
pós-graduação lato sensu da Pontifícia Universidade Católica de Goiás; é
pesquisadora do NUPEN da mesma Instituição.

Thiago Dias Costa


Psicólogo pela Universidade Federal de São Carlos (2001), Doutor em
Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento) pela Universidade
Federal do Pará (2008). Leciona no Programa de Pós-Graduação em
Gestão Pública e na faculdade de Psicologia da Universidade Federal do
Pará. Atualmente, é coordenador do GESTCOM - Laboratório de Gestão
do Comportamento organizacional, prestando consultoria para diferentes
órgãos federais e estaduais na implantação e manutenção do modelo de
Gestão por Competências na administração pública.
A Análise do Comportamento nas Organizações

Considerando a importância do trabalho na vida das pessoas e o fato das


agências de controle do comportamento serem predominantemente ins-
titucionalizadas sob a forma de organizações, o campo de atuação em
Organizações e Trabalho não poderia estar fora do interesse dos analistas
do comportamento. Nesta coletânea sobre Análise do Comportamento nas
Organizações (um dos termos mais usados no Brasil para referir-se à tra-
dicional expressão Organizational Behavior Management – OBM) contamos
com seis capítulos que ilustram uma parcela do trabalho que vem sendo
desenvolvido no Brasil.

No primeiro capítulo, Borba, Ramos e Costa (2017) apresentam ao leitor


brasileiro um panorama da história de desenvolvimento da OBM nos Estados
Unidos a partir das pesquisas históricas desenvolvidas por Dickinson
(2000) e VanStelle, Vicars, Harr, Miguel, Koerber, Kazbour e Austin (2009).
Conhecer a história de desenvolvimento de um campo de atuação nos pos-
sibilita compreender melhor sua atual configuração. No segundo capítulo,
Gusso e De Luca (2017) examinam o conceito de organizações, explicitando
os processos comportamentais envolvidos em tal fenômeno de modo a
orientar a ação de analistas do comportamento no campo organizacional.
Fica destacada a contribuição das análises conceituais como requisito à
compreensão dos fenômenos com os quais lidamos.

No terceiro capítulo, Aureliano e Pessôa (2017) apresentam o primei-


ro capítulo de livro em língua portuguesa sobre Análise de Sistemas
Comportamentais, como recurso para análise e intervenção nas organiza-
ções. Os autores que sistematicamente apresentam trabalhos nos encontros
anuais da ABPMC sobre o tema, agora facilitam o acesso ao conhecimento
a ele relacionado em língua portuguesa. Menezes e Britto (2017) apresen-
tam, no quarto capítulo, a identificação de alguns dos comportamentos
de líderes em um estudo de caso em empresa do ramo de agronegócio, e
sua relevância como determinante na realização das atividades.

No Capítulo 5 é apresentado um olhar diferente dos demais capítulos. Não


são examinadas questões internas das empresas, mas questões relacionadas
à interação com o público. Andrade (2017) nos apresenta interessante exame
de estratégias publicitárias presentes em blogs femininos de moda. A autora
realiza exercício interpretativo sobre as funções que diferentes aspectos
presentes nos blogs podem passar a exercer sobre o comportamento de
seu público. Por fim, no Capítulo 6, Gusso (2017) explicita 12 desafios que
muito provavelmente qualquer pessoa interessada no trabalho com Análise
do Comportamento nas Organizações irá enfrentar. Junto aos desafios, o
autor apresenta algumas alternativas possíveis para lidar com cada um
deles, oferecendo uma espécie de “material de sobrevivência na selva”
aos “aventureiros” que iniciam suas jornadas no campo das organizações.

Denise L. Oliveira Vilas Boas


Fernando Cassas
Hélder Lima Gusso

Referências

Dickinson, A. M. (2001). The historical roots of organizational behavior


management in the private sector: The 1950s-1980s. Journal of
Organizational Behavior Management, 20(3-4), 9-58.

VanStelle, S. E., Vicars, S. M., Harr, V., Miguel, C. F., Koerber, J. L., Kazbour,
R., & Austin, J. (2012). The publication history of the Journal of
Organizational Behavior Management: An objective review and
analysis: 1998–2009. Journal of Organizational Behavior Management,
32(2), 93-123.
Sumário

O surgimento da Análise do Comportamento


13 Aplicada às Organizações

Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e


Thiago Dias Costa

Organizações como Sistemas Comportamentais:


28 Considerações para a Delimitação do Campo de Atuação

Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca

Análise de Sistemas Comportamentais:


41 uma proposta de análise e intervenção nas organizações

Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa

Habilidades de Líderes como Gestores em uma Empresa


53 do Ramo de Agronegócio

Nayra Karinne Bernardes de Menezes e


Ilma A. Goulart de Souza Britto

Uma Leitura sobre as Estratégias Publicitárias


62 em Blogs Femininos De Moda

Maria Vanesse Andrade

Desafios ao Analista do Comportamento


77 no Campo Organizacional Brasileiro

Hélder Lima Gusso


COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

O surgimento da Análise do Aécio Borba 


Universidade Federal do Pará
Comportamento Aplicada às aecioborba@gmail.com

Organizações1 Camila Carvalho Ramos


Universidade Federal do Pará

Thiago Dias Costa 


The emergence of Organizational
Universidade Federal do Pará
Behavior Management

Resumo Abstract
O presente trabalho apresenta o percurso histórico This paper pr es ents the hi s tor i c path of
feito pela Análise do Comportamento Aplicada às Organizational Behavior Management. This is the
Organizações, conhecida também pela sigla OBM branch of Behavior Analysis that has the objective
(Organizational Behavior Management). Este é o braço the study and intervention in the human behavior
da Análise do Comportamento que tem como objeto in work organizations. OBM has as antecedents, if
de estudo e intervenção o comportamento humano not as causal at least as chronological, the schools
em organizações de trabalho. Nos anos 1950, apare- of scientific and human relations in administration
ceram as primeiras discussões acerca da intervenção science. In the 1950s, with the beginning of Applied
em organizações baseada em princípios da Análise do Behavior Analysis and Skinner’s reflections on
Comportamento. Essa entrada ocorreu efetivamente economy as an control agency, the first discussions
ao longo das duas décadas seguintes a partir de um about interventions in the workplace started. This
grupo de pesquisadores que utilizaram a Instrução opening came effectively when a group of researchers
Programada em treinamentos de atividades no am- applied programmed instruction to deal with
biente de trabalho. Dessas raízes, a OBM ampliou e training of workplace skills. From this beginning,
diversificou suas pesquisas e intervenções, produzindo OBM increased and diversified its research and
sua configuração atual. interventions, producing its current configuration.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Análise do Comportamento Aplicada às Organizações; History of OBM; Organizational Behavior Management;


OBM; História da OBM; História da Ciência. History of science.

1 O presente trabalho é baseado em parte do curso Introdução à Gestão do Comportamento Organizacional (OBM), de autoria dos
mesmos autores e apresentado no XXIII Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental, em 2014. Os autores gostariam
de agradecer à comissão editorial e à(ao) parecerista ad hoc cujas sugestões contribuíram para a estrutura e clareza deste trabalho.

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

Análise do Comportamento Aplicada às O trabalho se estrutura em quatro seções.


Organizações, também conhecida no meio Seguindo Dickinson (2001), apresentamos
acadêmico brasileiro pela sigla em inglês OBM nas duas primeiras seções os principais de-
(de Organizational Behavior Management2), se senvolvimentos dos precursores dos anos
refere ao conjunto de práticas de reflexão, 1950 até o “fundação” da OBM nos anos 1960
pesquisa e aplicação dos conceitos, méto- e 70. Entre os principais marcos desta fase,
dos e técnicas analítico-comportamentais está a publicação do Journal of Organizacional
ao campo organizacional. É um modelo de Behavior Management (JOBM), que pode ser
pesquisa e intervenção em organizações de apontado como culminação deste processo.
trabalho que tem como objetivos analisar, Por isso, a terceira seção busca, apoiada em
compreender e propor medidas que contri- revisões sobre as publicações no JOBM, apre-
buam para a solução de problemas organi- sentar o desenvolvimento da área ao longo
zacionais e a melhoria da qualidade de vida das décadas seguintes, até 2009. Por fim, a
dos trabalhadores a partir da transformação última seção apresenta de forma resumida um
das contingências das quais o comporta- panorama da OBM, possibilitando ao leitor
mento é função (Aureliano, Arima & Careli, perceber o ponto de chegada desse processo
2013; Austin, 2000; Culig, Dickinson, Heather de desenvolvimento histórico.
McGee& Austin, 2005; Daniels & Bailey, 2014;
Poling, Dickinson, Austin & Normand, 2000). Antes de apresentar essa origem seguindo
a literatura que trata de revisões históricas
Este trabalho resgata a história da Análise do na OBM, é importante destacar que este é
Comportamento Aplicada às Organizações na um olhar histórico possível, mas não esgota
formação da área propriamente dita, apon- as possibilidades de análise desse percurso.
tando os principais nomes e eventos que Destacamos por exemplo que, apesar de a
formaram o campo de atuação da OBM, cul- OBM propriamente dita ter se iniciado apenas
minando com a organização da OBM Network nas décadas de 1960 e 70, algumas de suas
e a fundação do Journal of Organizational ideias centrais já estavam presentes no am-
Behavior Management. Por fim, apresentare- biente cultural norte-americano desde antes.
mos brevemente o estado atual da área, com Johnson, Mawhinney e Redmon (2001) des-
suas principais subdivisões e os temas mais tacam alguns movimentos que dispuseram
estudados. Uma revisão desta natureza tem contingências importantes para a seleção da
como objetivo apresentar ao leitor as origens e OBM décadas mais tarde, como o movimento
desenvolvimento da área, de forma que possa da Administração Científica e da Escola das
servir como base para uma percepção sobre Relações Humanas no campo da gestão orga-
seu panorama e subsidiar reflexões sobre seu nizacional. Não iremos nos aprofundar nesses
presente e futuro.

2 Por estar já consagrada pelo uso, mesmo no Brasil, ao longo deste trabalho utilizaremos a sigla OBM para referir-se à Análise
do Comportamento Aplicada às Organizações.

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

temas aqui por uma questão de espaço e comportamento no ambiente de trabalho,


escopo do texto, mas destacamos que a entra- Dickinson (2000) destaca que as contribui-
da e aceitação da Análise do Comportamento ções de Skinner para a origem da OBM teve
no ambiente organizacional foi precedida de como precursores também um outro conjunto
outras práticas científicas enfocando o com- de produções suas: a Instrução Programada3.
portamento humano.
Dickinson (2001) relata que os trabalhos de
Skinner sobre Instrução Programada em
Skinner e a origem da Análise Harvard produziram um grande interesse de

do Comportamento Aplicada diversos pesquisadores da época, como James


Holland (com quem Skinner escreveria um livro
O livro Ciência e Comportamento Humano sobre Análise do Comportamento no formato
(Skinner, 1953/1968) aparece como um dos de instrução programada) e Thomas Gilbert,
primeiros trabalhos em que há uma refle- então professor da University of Georgia que
xão sobre o mundo do trabalho baseada mais tarde estaria entre os pioneiros da Análise
nos princípios analítico-comportamentais do Comportamento Aplicada às Organizações.
(Dickinson, 2001), principalmente no capítulo Alguns dos pesquisadores que trabalharam
sobre controle econômico (Capítulo XXV). Ao com Skinner nos anos 1950, como Lloyd
discutir o controle econômico do comporta- Homme, Francis Mechner and David Padwa,
mento humano, Skinner (1953/1965) aponta formaram empresas que utilizavam a Instrução
questões como: os efeitos de esquemas de Programada para treinamento no ambiente de
reforçamento, a contingência entre qualidade trabalho, o que Dickinson (2001) aponta como
de trabalho e pagamento, a questão de con- “a primeira aplicação organizada de princípios
tingências concorrentes no ambiente laboral comportamentais no ambiente de trabalho”
e a importância do contra controle para impor (p. 19). Ao longo da década de 1960, alguns
limites às possibilidades de que detentores do dos mais importantes nomes na consolidação
capital possam controlar de forma deletéria da OBM fizeram a transição de estudos em
os trabalhadores. Instrução Programada para construir treina-
mentos para empresas e indústrias, como será
Skinner (1953/1965) defendia claramen- visto ao longo da próxima seção.
te que era possível o uso da Análise do
Comportamento na solução de problemas Também ocorre nessa época a consolidação de
aplicados. Embora não tenha se detido es- propostas de intervenção clínica baseada em
pecificamente em uma proposta de inter- Análise do Comportamento, com a transição
venção analítico-comportamental sobre o de intervenções oriundas de procedimentos

3  Instrução Programada é um termo que descreve uma variedade de formas de ensino que implicam uma organização
cuidadosa de sequências de contingências de reforço que levam a um determinado objetivo educacional (Skinner, 1968).

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

de laboratório para a resolução de compor- (quatro artigos e dois livros) e 46 artigos e oito
tamentos clinicamente relevantes (Barbosa livros entre 1970 e 1977 - quando foi publicado
& Borba, 2010). Segundo Dickinson (2001), a o primeiro número do Journal of Organizational
“Modificação do Comportamento” (que viria Behavior Management (JOBM), até hoje o prin-
a ser chamada mais tarde de Análise Aplicada cipal veículo de divulgação de trabalhos em
do Comportamento) teve grande impacto para OBM. O aumento de publicações nessa época
a origem da OBM por demonstrar a efetividade é o que levam Dickinson a descrever este pe-
de abordar problemas humanos com princí- ríodo como o “enraizamento” da Análise do
pios comportamentais, expandindo para fora Comportamento aplicada às Organizações.
do laboratório a Análise do Comportamento.
Estavam estabelecidas condições para a aplica- Segundo Dickinson (2001), os anos 1960
ção da Análise do Comportamento em ambien- foram marcados pela consolidação das pes-
tes organizacionais, e assim a origem da OBM quisas em Instrução Programada no campo
propriamente dita ao longo da década de 1960. organizacional, culminando com a forma-
ção da primeira associação de analistas do
comportamento com interesses aplicados; o
Consolidação da OBM: fortalecimento da pesquisa e ensino univer-

Anos 60 e 70 sitário da área, em especial em universidades


em Michigan; e o trabalho pioneiro de auto-
Dickinson (2001) destaca uma série de even- res como Feeney e Tom Gilbert. Já nos anos
tos e publicações que ocorreram ao longo dos 1970, destacamos o crescimento de publica-
anos de 1960 e 1970 que marcaram a consoli- ções que culmina com a fundação do Journal
dação da Análise do Comportamento Aplicada of Organizational Behavior Management; o
às Organizações. É nesta época que se des- desenvolvimento das técnicas e a divulgação
tacam a produção de alguns dos principais da OBM por autores como Aubrey Daniels;
autores da OBM até os dias de hoje. e a criação dos grupos de interesse na ABA
que foram a base para a construção da OBM
Ao rastrear as obras mais relevantes na for- Network, a comunidade de pesquisadores e
mação da OBM, Dickinson (2001) destaca nos profissionais em Análise do Comportamento
anos 1950 apenas quatro obras: o trabalho de Aplicada às Organizações. Examinaremos
Ayllon e Michael, duas produções de Skinner cada um desses tópicos ao longo desta seção.
acerca de Máquinas de Ensino (que foram im-
portantes para a Instrução Programada), além A Instrução Programada. Como apontado an-
do próprio Ciência e Comportamento humano4. teriormente, uma contribuição importante
Já nos anos 1960, pode-se rastrear seis obras para a entrada da Análise do Comportamento

4  A autora está se referindo aos seguintes trabalhos: Skinner, B.F. (1954). The science of learning and the art of teaching. Harvard
Educational Review, 24, 86-97;  Skinner, B. F. (1958). Teaching machines. Science, 128, 969-977;  Ayllon, T. & Michael, J. (1959).
The psychiatric nurse as a behavioral engineer. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 2, 323-334; além de Skinner
(1953/1968).

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

no ambiente organizacional foi a pesquisa a Instrução Programada que focavam-se na


respeito de Instrução Programada. Segundo aprendizagem no ambiente laboral ocorreu na
Dickinson (2001), essas pesquisas ganharam Universidade de Michigan. Alunos e graduados
grande atenção entre os anos 50 e o início na universidade começaram a oferecer semi-
dos anos 1960.Foi tendo foco na Instrução nários e workshops sobre o uso de Instrução
Programada que se formou a primeira orga- Programada em ambientes organizacio-
nização voltada para o avanço da aplicação da nais - em especial, Dale Brethower e Geary
teoria analítico-comportamental a problemas Rummler. Com o posterior apoio de Richard
diversos, a National Society for Programmed “Dick” Malott, da Universidade de Western
Instruction (Sociedade Nacional para Instrução Michigan, e a liderança de Brethower ainda
Programada), em 1962. Faziam parte dessa na Universidade de Michigan, foi nesse perí-
associação nomes que se tornariam impor- odo que apareceu o interesse não apenas pelo
tantes na Análise do Comportamento apli- desempenho individual construído por planos
cada às Organizações, como Dale Brethower, de treinamento, mas também pelas relações
Thomas Gilbert, e Geary Rummler. estabelecidas entre as várias partes da organi-
zação. A concepção central aqui presente é que
Segundo Dickinson (2001), grande parte dos o desempenho individual estava relacionado a
membros dessa organização tinham como toda uma rede de relações dentro da organiza-
objetivo o desenvolvimento de programas de ção. Assim, seria necessário compreender essa
ensino para ambientes educacionais e clínicos rede para produzir intervenções mais efetivas.
(em especial reabilitação). No entanto, alguns Esse foi o princípio da Análise de Sistemas
profissionais começaram a responder a de- Comportamentais (Behavior System Analysis,
mandas de organizações e indústrias na cria- ou BSA; cf. Diener, McGee & Miguel, 2009).
ção de programas de treinamento. Brethower
(2000) destaca inclusive que o ambiente or- Os programas na Universidade de Michigan
ganizacional foi muito mais receptivo aos e depois na Western Michigan podem ser
programas de treinamento que as instituições apontados como os primeiros programas
escolares: a melhoria de sistemas de instru- de treinamento universitário em Análise do
ção gerava menor custo para as organiza- Comportamento Aplicada às Organizações.
ções, uma vez que permitia o treinamento Seu papel foi importante tanto para aumentar
ser mais curto, e sua eficiência evitava a re- o número de profissionais treinados a atuar
petição de cursos por parte do aprendiz, bem no campo, quanto também de manter a forte
como evitava erros posteriores no trabalho. A inclinação acadêmica que preocupação com
construção de programas de treinamento foi, o rigor científico que são típicas caracterís-
assim, importante para a inserção do analista ticas da Análise do Comportamento Aplicada
do comportamento no ambiente laboral. às Organizações.

O Ensino Universitário da OBM. Dickinson (2001) Gilbert e Feeney. Ainda nos anos 1960, é im-
relata que o mesmo caminho de pesquisas em portante destacar o trabalho de Thomas

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

Gilbert e Edward Feeney. Gilbert (1927-1995) Moreira (2005), por exemplo, destaca que
era professor no sul dos Estados Unidos, otrabalho de Gilbert enfocaria mais os re-
trabalhando principalmente com estatística. sultados do comportamento5 que o compor-
Ele tinha um forte interesse sobre medidas tamento em particular. Intervenções com-
padronizadas do comportamento, de forma portamentais, para o autor, seriam aquelas
que em 1958 aceitou uma bolsa para traba- enfocando o desenvolvimento do repertório;
lhar com Skinner em Harvard. Na mesma estabelecer novas condições ambientais,
época, começou a trabalhar junto a Ogden nesse sentido, não seria necessariamente
Lindsley no Metropolitan State Hospital em uma intervenção comportamental.
Massachusetts, que estudava comportamento
psicótico (Lindsley, 1996). Mesmo com as diferenças conceituais entre
Gilbert e a Análise do Comportamento, sua
Após esse período, Gilbert começou seu traba- obra teve grande impacto na OBM em seus
lho com o que ele viria a chamar de Tecnologia anos iniciais. Moreira (2005) aponta que o livro
do Desempenho Humano (Human Performance Human Competence foi citado em quase todos os
Technology), voltado para o desenvolvimento volumes do JOBM entre 1985 e 2001. Dickinson
e melhoria do repertório no ambiente acadê- (2001) aponta ainda a respeito de Gilbert que
mico e de trabalho. Ao longo dos anos 1960,
Gilbert fundou várias empresas, sendo a mais Seus conceitos e termos tem permeado nosso
reconhecida na época Praxis Corporation, com campo e se tornado ferramentas e terminologia
Rummler e Irving Goldberg (Dickinson, 2000; padrão: engenharia de desempenho, resultados
Lindsley, 1996). Reconhecido como um dos vs. comportamento, o modelo de engenharia
mais importantes nos anos iniciais da OBM, comportamental, PIPs (potencial para me-

o livro Human Competence: Engineering Worthy lhoria de desempenho, e o teste de solução de

Performance (Gilbert, 1978/2007) foi descrito problemas ACORN, para citar alguns6 (p. 28).

pelo próprio Gilbert como baseado no traba-


lho desta época. Um outro autor pioneiro da OBM e de impac-
to na configuração que a área tem nos dias
É importante apontar que, a rigor, exis- de hoje segundo Dickinson (2001) é Edward
tem diferenças entre o trabalho de Gilbert Feeney, um gerente de vendas da empresa
e formas mais “tradicionais” de Análise do Emery Air Freight. Ele participou de um dos
Comportamento aplicada às Organizações. seminários desenvolvidos na Universidade

5  Gilbert (1978/2009) usa “accomplishments”. Moreira (2005) traduziu o termo como realizações; Milani (1989) como resultados;
usamos aqui produto do comportamento por ser uma discussão na área de OBM se o interesse do analista do comportamento-
deve centrar-se no produto do comportamento ou no comportamento em si - esse tema é por exemplo analisado nas revisões de
literatura feitas a partir de artigos do Journal of Organizational Behavior Management (JOBM), que discutiremos adiante.

6  Para conhecer mais sobre algumas dessas contribuições, ver Austin (2000), Milani (1989) e Diener et al. (2009), além do próprio
Human Competence (Gilbert, 1978/2007).

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

de Michigan na década de 1960, onde entrou Aubrey Daniels &Associates (hoje, Aubrey
em contato com Análise do Comportamento Daniels International).
Aplicada. A partir daí, desenvolveu um siste-
ma de instrução programada que produziu um Os anos 1970. Foi nos anos 1970 que a OBM
grande aumento nas vendas da companhia. Os ganhou sua estrutura atual. Esta época é
resultados foram tão grandes que ele se tornou marcada pelo crescimento de publicações na
um dos vice-presidentes da empresa. área, o surgimento de importantes empre-
sas de consultoria na área, e proliferação de
Feeney é o primeiro exemplo de um aplicador programas de treinamento em OBM. Aqui,
da OBM que não estava inserido no ambiente destacaremos principalmente a fundação do
acadêmico, mas desde o princípio teve empre- JOBM e o trabalho de Aubrey Daniels, além
sas privadas como área de atuação. Formou em da consolidação da OBM Network como um
1973 uma empresa de consultoria de grande grupo de interesse na área.
sucesso, e - como parte de sua estratégia de
marketing - divulgou extensamente os re- Aubrey Daniels. Aubrey C. Daniels é um dos
sultados de suas intervenções. Os trabalhos mais importantes autores e profissionais da
dele e de seus consultores formaram grande área de OBM. Tendo sua origem acadêmica na
parte de um dos primeiros manuais de OBM, psicologia clínica, começou sua intervenção
chamado Industrial Behavior Modification, de em ambientes organizacionais ao desenvol-
1982 (cf. Dickinson, 2001). Hoje, o campo é ver um programa de treinamento para en-
marcado por autores que, como Feeney, tive- fermeiros aplicarem programas de economia
ram uma formação em diferentes áreas e que de fichas com pacientes institucionalizados
entraram posteriormente em contato com a ainda na década de 1960. (Daniels, 2000;
Análise do Comportamento. O balanço entre Dickinson, 2001). Ao longo dos anos seguin-
acadêmicos e profissionais no campo é um tes, seu trabalho voltou-se para programas
tema de debate constante nas redes e grupos de treinamento com jovens para o desenvol-
de discussão sobre a área, e já estava presente vimento de habilidades acadêmicas, o que o
em seus primeiros anos. pôs em contato com a Instrução Programada.
Este trabalho levou Daniels a trabalhar com
Com a consolidação nos anos 1960, a Análise Fran Tarkenton, que buscava por sua vez a
do Comportamento aplicada às Organizações inserir no mercado de trabalho pessoas cro-
floresceu ao longo dos anos 1970. Diversos ar- nicamente desempregadas. Esse programa
tigos começaram a ser publicados não apenas conduziu Daniels a investir no desenvolvi-
em periódicos de Psicologia, mas também mento de habilidades laborais, consolidando
nos de Administração de Empresas. Dezenas sua entrada no mundo organizacional.
de artigos e vários livros relevantes foram
publicados naquela década, que também foi Ao longo da década de 1970, Daniels e
palco do nascimento de várias importantes Tarkenton fundaram a Behavioral Systems,
empresas de consultoria em OBM, como a Inc (BSI), que trabalhou com um grande

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

número de empresas e, segundo Dickinson do Comportamento, mas também contribuir


(2000), chegou a empregar mais de 50 con- para o desenvolvimento econômico das orga-
sultores. Temas como absenteísmo, rotativi- nizações em que ela era aplicada. Esses prin-
dade e habilidades naturais foram temas im- cípios fazem parte de seu interesse editorial
portantes abordados (e solucionados) pelas até os dias atuais.
atividades da BSI. Daniels fundou em 1978
a Aubrey Daniels & Associates (hoje Aubrey A publicação do JOBM foi essencial pelo cres-
Daniels International). cimento das publicações na área, como des-
tacado por Dickinson (2001). Daniels serviu
O autor é até os dias de hoje um dos mais como editor nos primeiros números, e foi
importantes e produtivos pesquisadores em substituído por Brandon Hall, que guiou a
OBM; a Aubrey Daniels International é uma revista nos quatro anos seguintes. Thomas
das maiores empresas de consultoria especia- Mawhinney ocupou a cadeira a partir de 1985
lizada em OBM. Seu impacto na área deve-se até o ano 2007 (entre 2000 e 2007 atuan-
à liderança em dois aspectos: por um lado, o do juntamente com John Austin).. Dickinson
desenvolvimento das intervenções analíti- (2001) destaca a importância de Hall na
co-comportamentais e a preocupação com a manutenção do JOBM por anos turbulen-
consistência com princípios analítico-com- tos (1978 a 1984), e a política editorial de
portamentais; e por outro, a divulgação da Mawhinney como responsável pela maturi-
área no campo empresarial. O livro de Daniels dade da área enquanto campo de pesquisa.
Performance Management: Changing behavior Ele tentou manter um balanço entre artigos
that drives Organizational Performance (Daniels aplicados e artigos acadêmicos, buscando um
& Bailey, 2016) é um dos mais vendidos da rigor metodológico e conceitual na área, um
área, tendo sido escritos inicialmente para compromisso mantido pela atual editora do
gestores organizacionais – mas hoje as- jornal, Ramona Houmanfar, que está desde
sumindo um importante papel também no 2013 ocupando esse cargo, e Timothy Ludwig,
ensino de OBM como livro texto em progra- entre 2009 e 2013.
mas de treinamento na área (Careli, 2013).
A OBM Network. Um último desenvolvimento
O Journal of Organizational Behavior importante a ser destacado na consolida-
Management. Em 1977 foi fundado o Journal ção da OBM é a formação da OBM Network.
of Organizational Behavior Management, pela Ela é um grupo de interesse em Análise do
primeira empresa de Aubrey Daniels (BSI), Comportamento com o objetivo de “desen-
tendo ele sido o primeiro editor do periódico. volver, melhorar, e apoiar o crescimento e
A publicação do JOBM tem a importância de, vitalidade da Análise do Comportamento
além de consagrar a nomenclatura da área, Aplicada às Organizações pela pesquisa,
estabelecer um conjunto de exigências para educação, prática e colaboração” (Missão da
os trabalhos em OBM: a importância de man- OBM Network). Embora formalmente ela se
ter-se fiel aos princípios teóricos da Análise estabeleça na década de 1980, listamos aqui

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

sua origem tanto pela sua importância na Dos Anos 1980 ao Século XXI:
consolidação da área ao agregar profissionais, Desenvolvimento e expansão
pesquisadores e estudantes da disciplina,
quanto por suas bases terem sido lançadas
da OBM
no fim dos anos 1970.
Durante as duas décadas seguintes, a OBM
Dickinson (2001) destaca que trabalhos em cresceu em número de praticantes, variedade
OBM estavam presentes desde as primei- de trabalhos e impacto. Apesar de trabalhos
ras convenções da Midwestern Association for de pesquisadores da área terem sido publica-
Behavior Analysis (MABA) em 1975. A MABA dos em diferentes periódicos - Johnson et al.
viria a se tornar a Association for Behavior (2008) citam por exemplo o Journal of Applied
Analysis (ABA) em 1979. Entre 1979 e 1982, Behavior Analysis, Journal of Applied Psychology
várias apresentações foram feitas com foco e Organizational Behavior and Human Decision
na Análise do Comportamento aplicada a am- Processes, entre outros - o JOBM ainda hoje é
bientes organizacionais. Em 1982, apareceu um dos mais importantes veículos de divul-
pela primeira vez listada como um grupo de gação da pesquisa em OBM, e uma revisão das
interesse especial (SIG-Special Interest Group) publicações dele demonstra o crescimento de
na ABA. Trabalhos que têm como objeto o temas e métodos da área, bem como algumas
comportamento no ambiente de trabalho tendências em seu desenvolvimento..
estão consistentemente presentes na pro-
gramação da ABA desde então. Três trabalhos fizeram uma revisão sobre 30
anos de publicação do JOBM, em uma busca
Todos esses eventos levaram à construção da de caracterizar a área (Balcazar, Shupert,
OBM como uma área reconhecida de apli- Daniels, Mawhinney & Hopkins, 1989; Nolan,
cação da Análise do Comportamento, bem Jarema& Austin, 1999; VanStelle, Vicars, Harr,
como estabeleceram uma comunidade verbal Miguel, Koerber, Kazbour & Austin, 2009).
interessada na discussão e solução de proble- Nesses trabalhos, foi investigada a publica-
mas organizacionais. Partindo de uma origem ção no JOBM, incluindo desde o número de
preocupada com a aprendizagem de compor- páginas (indicativo do volume de produção),
tamentos para o ambiente laboral a partir da aos métodos mais comuns, sujeitos dos es-
Instrução Programada, a OBM desenvolveu tudos, tipo de organização estudada, nível da
uma série de características, técnicas, lingua- intervenção, tipo e tema dos problemas de
gem particulares, constituindo uma identida- pesquisa, e assim por diante. Todas as infor-
de própria. Esse desenvolvimento continuou mações apresentadas ao longo das próximas
ao longo das décadas seguintes, que aborda- páginas têm origem nesses três artigos. Aqui,
remos no próximo tópico. nos ateremos a avaliar questões que reflitam

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

o desenvolvimento da área de forma a carac- recentes, os temas de produtividade/qualida-


terizar a história recente da OBM; para outras de, segurança/saúde e satisfação do cliente/
análises da produção da área, recomendamos consumidor foram os mais importantes pro-
(além dos próprios artigos acima citados) os blemas organizacionais investigados em OBM
trabalhos de avaliação e revisão publicados (VanStelle et al., 2009).
por Moreira (2005) e Careli (2013). O trabalho
de Moreira investiga a presença de caracte- Outro aspecto sobre o aumento da diversidade
rísticas relevantes que permitem apontar os na área é o tipo de artigo publicado. Na pri-
artigos em OBM como atendendo aos critérios meira década de publicação, a maior parte dos
estabelecidos por Baer, Wof e Ridley (1968) estudos envolviam intervenções diretas no
para que uma pesquisa seja qualificada como ambiente de trabalho (Balcazar et al., 1989).
Análise Aplicada do Comportamento; já o tra- Posteriormente, publicações apresentaram
balho de Careli (2003) discute a efetividade também trabalhos experimentais, buscando
das intervenções descritas no JOBM. a discussão de processos básicos envolvidos
em problemas comportamentais no ambiente
Uma das primeiras questões a serem aponta- organizacional - em especial no período de
das sobre a produção da OBM é que ela vem 1987 a 1997 (Nolanet al, 1999); e trabalhos de
aumentando e se diversificando. Apesar de discussão e teóricos, em especial no período
uma pequena queda no número de artigos de 1998 a 2009.. Essas variações são interes-
publicados na sua segunda década avaliada santes na medida que demonstram um inte-
- atribuída por Nolan et al. (1999) a um au- resse - já várias vezes debatidos por autores
mento de publicações em outros periódicos da área - de reforçar a ligação da OBM com
-, VanStelle et al. (2009) demonstraram um suas raízes na Análise do Comportamento e
aumento no número tanto de páginas quanto Análise Experimental do Comportamento,
em número de volumes publicados ao longo bem como debater e rever seus conceitos (cf.
da última década de publicação. Mawhinney, 1984; Pooling, et al., 2000).

Em termos de aumento da diversidade, alguns Algumas características típicas das interven-


dados podem ser apontados. Se os temas mais ções analítico-comportamentais são apre-
abordados na primeira décadas envolveram sentadas nas três revisões, para a produção
a melhoria da produtividade e/ou qualida- de 1977 a 2009 do JOBM: a preferência pelo
de no trabalho, as duas revisões posteriores que os autores chamaram de manipulações
demonstraram um aumento na variabilida- de variáveis motivacionais, definidas nas três
de dos tipos de trabalhos realizados: temas revisões como as consequências do com-
como segurança comportamental e saúde no portamento, incluindo “feedback, elogios,
ambiente de trabalho, treinamento, volume recompensas monetárias, recompensas não
de vendas, satisfação do cliente, entre outros monetárias, punição” (VanStelle et al, 2009,
ganham mais espaço e número de artigos em p. 98). Entre as variáveis independentes mais
relação ao tema produtividade. Em anos mais estudadas, a manipulação do feedback sobre

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

o comportamento, efeitos de treino, estabe- (Malott, 2003) e Understanding Complexity


lecimento de metas e outras aparecem como in Organizations: Behavioral Systems (Ludwig
as principais. &Houmanfar, 2010).

Outra característica típica da Análise do


Comportamento é a preferência por estudos A OBM nos dias de hoje:
inter-grupais (o que seria o equivalente na Século XXI
área a metodologias de sujeito único), bem
mais frequentes ao longo de toda a produção, Desde sua origem nos anos 60, a Análise do
utilizando-se de diversos tipos de delinea- Comportamento Aplicada às Organizações
mentos: com linha de base múltipla, rever- vem produzindo discussões, metodologias
sões em delineamentos ABA ou ABC, sondas de intervenção e solução de problemas or-
múltiplas etc. Ainda assim, delineamentos ganizacionais. O caminho histórico que ela
entre-grupos estão presentes, utilizando seguiu ao longo dessas décadas, seus temas
técnicas de análise estatística como ANOVA e delineamentos preferidos, diferenciação em
e delineamentos teste/pós-teste7. diferentes áreas e crescimento de produção
revelam um conjunto de contingências entre-
Por fim, é interessante perceber também laçadas que foram selecionadas por um am-
que VanStelle et al (2009) destacam que, biente acadêmico e profissional que absorve
ainda que a maioria dos trabalhos em OBM os produtos do comportamento de seus prati-
se foquem no comportamento individu- cantes.O site da OBM Network ( ) divide fun-
al, vários trabalhos ao longo do período de damentalmente a OBM em três áreas de pro-
1998 a 2009 no JOBM têm se dedicado a dução principais: a Gestão do Desempenho,
intervenções que envolvem sistemas mais Análise de Sistemas Comportamentais e
amplos. De 77 artigos empíricos analisados, Segurança Comportamental (cf. Aureliano et
24 (aproximadamente 30%) envolveram uma al., 2013; Dieder et al, 2009).
análise no nível de processo, organização ou
mesmo da comunidade em que a organiza- Gestão do Desempenho (Performance
ção estava inserida. É um aspecto crescente a Management) é um termo em alguns mo-
preocupação com sistemas comportamentais, mentos usado como sinônimo da Análise do
ressaltado por trabalhos como os publica- Comportamento Aplicada às Organizações
dos no livro Paradox of Organizational Change (e.g., Poling et al. 2000). Quando aplicado

7  Aqui destacamos o uso de delineamentos do sujeito como seu próprio controle e a manipulação de consequências como variáveis
independentes por serem típicas na Análise do Comportamento, e interpretamos que a pesquisa em OBM apresenta a prevalência
por ser um braço da Análise do Comportamento Aplicada. No entanto, essas características de certo não são suficientes para a
definição do estudo como analítico-comportamental, e críticas a pertinência dessas pesquisas podem ser feitas. Uma discussão
sobre o quanto a OBM segue características da Análise do Comportamento Aplicada pode ser vista em Moreira (2005) e em Culig,
Dickinson, McGee& Austin (2005).

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

a apenas uma parte da OBM (o que é feito BSA é a análise de como todas as partes do
principalmente diferenciando-a de análises sistema organizacional interagem entre si: o
em nível organizacionais, como apontaremos ambiente organizacional, as partes interes-
adiante), refere-se ao conjunto de proce- sadas no processo (Stakeholders), e os vários
dimentos enfocando processos comporta- níveis que compõem a organização. Segundo
mentais no nível do trabalhador, buscando a os autores, BSA envolveria intervenções não
manipulação do ambiente para melhoria do apenas sobre o comportamento individual,
trabalho. Isso incluiria aumentar comporta- mas o desenho de sistemas, programas de
mentos produtivos, diminuir comportamen- incentivo, entre outras técnicas importantes.
tos improdutivos, a melhoria da qualidade
do trabalho, e a produção de contingências Por fim, um conjunto relevante de produ-
de reforçamento que busquem um trabalho ções da Análise do Comportamento Aplicada
mais reforçador para o indivíduo. Alguns dos às Organizações parte de conceitos e meto-
temas mais comuns da área são a análise dos dologias desenvolvidas tanto na Gestão do
efeitos do feedback e metas sobre o compor- Desempenho quanto na Análise de Sistemas
tamento, bem como de outros antecedentes Comportamentais e foca em um tipo parti-
e consequentes do comportamento, qualida- cular de comportamento no ambiente de tra-
de do trabalho, esquemas de reforçamento, balho: o comportamento relativo a segurança
entre outras (cf. Aureliano et al., 2013; Austin, e a prevenção de acidentes. Essa área é re-
2000; Daniels & Bailey, 2014; Dieder et al., conhecida como Segurança Comportamental
2009; Johnson et al., 2009; Pooling et al., (Behavior-Based Safety, ou BBS). A Segurança
2000). Tais temas são os mais frequentes Comportamental é a aplicação de princípios
nos textos publicados na área (cf. Balcazar da Análise do Comportamento com o objetivo
et al., 1989; Nolan et al., 1999; VanStelle et de aumentar a frequência de comportamen-
al., 2009). tos seguros e reduzir a de atos inseguros,
dessa forma contribuindo para a prevenção
A OBM não foca apenas suas intervenções de acidentes (cf. Alavosius, Adams, Ahern &
no nível do trabalhador. O campo tem de- Follick, 2000; Alvero, Rost & Austin, 2008;
senvolvido também desde seu início o inte- Bley, 2014; Geller, 2001a, 2001b; Sulzer-
resse em estudar níveis mais complexos da Azaroff, 1980). Para isso, uma variedade de
organização, incluindo aquele que engloba técnicas comuns à Gestão de Desempenho e
múltiplas áreas (o nível de processo) e a à Análise de Sistemas Comportamentais são
organização como um todo (o nível organi- utilizadas: análises de antecedentes e con-
zacional). Esse é o campo de estudo e inter- sequentes, reforçamento diferencial, análise
venção da área da OBM chamada de Análise em múltiplos níveis, e assim por diante.
de Sistemas Comportamentais (Behavioral
System Analysis, ou BSA; cf. Aureliano et É importante perceber que essa divisão entre
al., 2013; Dieder et al, 2009; Malott, 2003). Gestão do Desempenho, BSA e BBS não deve
Segundo Dieder et al. (2009), o objetivo da ser visto como “tipos” ou “espécies” distintas:

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COMPORTAMENTO Aécio Borba, Camila Carvalho Ramos e Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 5

todas têm a mesma base teórica, ainda que Aplicada às Organizações no Brasil. Ainda que
possam dialogar com outras ciências (a BSA, o modelo estritamente ligado ao modelo de-
por exemplo, tem grande influência da teoria senvolvido pelos autores norte-americanos
de sistemas). Eventualmente, o profissional tenha começado a ser citado e influenciar a
da Análise do Comportamento Aplicada que prática de analistas do comportamento bra-
lida com organizações pode beneficiar-se da sileiros apenas entre o fim dos anos 1980 e
leitura de todas as três áreas, de acordo com os início dos anos 90, é possível rastrear in-
problemas aos quais enfrenta em seu dia a dia. tervenções analítico comportamentais no
ambiente organizacional desde antes. Em
O presente trabalho revisou o percurso histó- especial, trabalho de pesquisadores como
rico da Análise do Comportamento Aplicada Sílvio Paulo Botomé são fundamentais na
às Organizações com o objetivo de apresentar disseminação da Análise do Comportamento
ao leitor dados que o ajudem a compreender para lidar com problemas organizacionais,
suas características atuais. Conhecer o pas- além da formação de analistas do compor-
sado é essencial aqui para refletirmos sobre tamento interessados por essa área. Uma re-
o presente e ter dados para programar con- visão histórica da construção da Análise do
tingências que levem aonde queremos chegar. Comportamento Aplicada às Organizações no
Brasil é fundamental pelos mesmos motivos
Não abordamos nesse trabalho a evolução apresentadas neste trabalho, e deve ser objeto
específica da Análise do Comportamento de próximos trabalhos.

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32(2), 93-123.

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

Organizações como Sistemas Hélder Lima Gusso 


Universidade Federal de Santa Catarina
Comportamentais: Considerações para heldergusso@gmail.com

a Delimitação do Campo de Atuação Gabriel Gomes de Luca


Universidade Federal do Paraná
gabrielgomesdeluca@gmail.com
Organizations as Behavioral Systems:
Considerations for a Delimitation of the
Professional Field

Resumo Abstract
Desde a década de 1970 há intervenções profissionais Since the 1970 decade there are professional
e produção de conhecimento no Brasil em Análise do interventions and knowledge production in Brazil on
Comportamento no campo de atuação organizacional. Organizational Behavior Management. At the last ten
Na última década o interesse pelo campo tem cres- years, the interests about the field has growing up.
cido. Definir o que são organizações é uma condição Define organizations is a important requisite to guide
importante para orientar os trabalhos a serem de- the work of the behavior analists and to orientated
senvolvidos por analistas do comportamento e para more clearly analytical-behavioral interventions in
possibilitar designar com mais clareza intervenções the organizational field. Organizations are defined
analítico-comportamentais nesse campo de atua- as a behavioral interlocking system guided to produce
ção. Organização é definida como sistema de interações recurrent meaningful result to and at society in which
comportamentais orientado para a produção recorrente they belong. In this definition, the interactions
de resultados significativos para e na sociedade na qual between people’s behaviors constitute the nuclear
ela se insere. Nessa definição, as interações entre os aspect that defines an organization, emphasizes that
comportamentos das pessoas constituem o aspecto organizations are constituted by objectives oriented
nuclear que define uma organização, indica que as by the society needs, that their results are recurrent
organizações são constituídas por objetivos orientados (continuous) over time, in addition to allowing
por necessidades da sociedade e que seus resultados distinction between organizations and institutions.
são recorrentes (contínuos) ao longo do tempo. Tal This definition enphasies organizations as a open
definição, além de possibilitar distinção entre organi- system that should produce socially relevant results,
zações e instituições enfatiza a noção de organizações and the core role of the behavior as a nuclear
como sistemas abertos que devem produzir resultados component of the definition.
socialmente relevantes, bem como a centralidade do
conceito de comportamento como elemento nuclear
constituinte da definição de organizações.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Conceito de organização; Campo de atuação organizacio- Organization concept; Organizational field; Organizational
nal; Análise do Comportamento nas Organizações. Behavior Management.

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

Em pesquisa desenvolvida em 2012 a respei- lidam em organizações, orientando as ca-


to das características da atuação profissional racterísticas das intervenções a serem por
de psicólogos organizacionais na região de eles realizadas e maximizando a eficácia e a
Curitiba/PR, Gusso et al. (2012) questiona- relevância social delas.
ram os participantes acerca do sistema te-
órico utilizado por eles para orientar suas O exame do “arcabouço conceitual” a orien-
intervenções profissionais. À primeira vista, tar as intervenções profissionais analítico-
os resultados eram animadores para a co- comportamentais parece importante, não
munidade de analistas do comportamento: apenas pelo fato de psicólogos autointitu-
16% dos psicólogos indicaram a Análise do larem-se “comportamentais”, sem estarem
Comportamento como orientação teórica sob controle dos pressupostos e fundamentos
básica para suas intervenções. Esse resultado da Análise do Comportamento (Gusso et al.,
chegava a 43% se considerado também os 2012), mas também porque além do psicólogo,
que se nomearam “cognitivos-comporta- profissionais com outras formações também
mentais”. Mas a animação tinha vida curta. podem se apresentar como (se auto-intitula-
Quando questionados sobre os principais rem como) analistas do comportamento sem
autores que usam como referências ao tra- terem clareza do que constitui uma interven-
balho que realizam, apenas 4% citaram ao ção analítico-comportamental. Divergências
menos um autor relacionado à Análise do como essas indicam a necessidade de uma
Comportamento. Em outras palavras, embora avaliação das características que delimitam
16% dos profissionais indicassem identifi- uma intervenção como analítico-comporta-
cação com a Análise do Comportamento, mental. Uma delas consiste na delimitação
poucos parecem fundamentar suas ativida- do próprio objeto de intervenção: no caso, o
des profissionais em contribuições específi- comportamento, entendido como “interação
cas desse tipo de conhecimento. Isso indica entre as ações apresentadas pelas pessoas
a necessidade de avaliar o que faz uma atu- e aspectos antecedentes e consequentes a
ação em organizações poder ser denominada essas ações” (Botomé, 2001; 2013). A noção
“analítico-comportamental”. Uma das de comportamento evidencia que uma inter-
possibilidades para responder, mesmo que venção analítico-comportamental envolve
brevemente, a essa questão, envolve caracte- lidar tanto com as ações (motoras, vocais,
rizar conceitos básicos a orientar as atuações gestuais, pensamentos) das pessoas, quanto
de analistas do comportamento. Um desses com as variáveis ambientais (antecedentes e
conceitos é o que define uma “organização”. consequentes) que afetam essas ações e, em
Caracterizar organizações como um sistema especial, as contingências de reforçamento
de interações comportamentais orientado para a que envolvem a ocorrência desses compor-
produção recorrente de resultados significativos tamentos. Esse pressuposto é orientado por
para e na sociedade na qual ela se insere possibi- uma concepção que envolve intervir sobre
lita identificar com clareza o tipo de fenôme- o comportamento das pessoas por meio de
no com o qual analistas do comportamento explicações constituídas por determinismo

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

probabilístico (Rebelatto e Botomé, 1999) e pela revista Journal of Experimental Analysis of


não, obviamente, por explicações “mentalis- Behavior (Keller, 1958). Há registros de outras
tas”, na qual causas imateriais, insubstan- aplicações no campo de treinamento em or-
ciais ou subjacentes ao comportamento das ganizações com uso da tecnologia disponível
pessoas são consideradas como explicações na época: a instrução programada (descrito
para os comportamentos apresentados por em 1998, por Nale). Mas, embora haja relatos
elas (e.g. Carrara, 2016; Ulmann e Krasner, de contribuições anteriores, a criação do JOBM
1965). Características como essas são, por- e o trabalho do grupo especial de interesse
tanto, fundamentais para delimitar a atuação em OBM da Association for Behavior Analysis,
de um analista do comportamento em suas possivelmente podem ser destacados como
intervenções em qualquer contexto, incluin- duas das principais influências para a conso-
do os contextos organizacionais. lidação do campo organizacional como escopo
do trabalho em Análise do comportamento.

Análise do Comportamento em A história de desenvolvimento da OBM no

Organizações: de onde viemos? Brasil parece ter ocorrido em paralelo ao de-


senvolvimento nos EUA. O trabalho desenvol-
E como estamos agora? vido na década de 1970 por Sílvio Paulo Botomé
na reestruturação dos serviços prestados pela
Um dos marcos importantes na inserção dos Secretaria de Saúde do município de São Paulo
analistas do comportamento em contexto or- talvez seja a primeira intervenção utilizando
ganizacional foi a criação da revista Journal of os conceitos, princípios e procedimentos da
Organizational Behavior Management (JOBM) Análise do Comportamento em organizações
em 1977, que passou a disseminar relatos amplamente divulgada no país. O relato dessa
de intervenções utilizando os princípios e intervenção foi publicado em sua dissertação
procedimentos característicos da Análise de mestrado (Botomé, 1981a) e em um artigo
do Comportamento (Moreira, 2005). Mas, no qual o autor examina os riscos de o psicó-
antes disso, já haviam relatos de trabalhos logo atender simplesmente as demandas dos
em diferentes contextos nos Estados Unidos, solicitantes (geralmente quem tem poder na
tais como intervenção utilizando sistemas de organização), sem partir de um exame preciso
economia de fichas em hospitais psiquiátricos das necessidades das pessoas que sofrerão as
e posteriormente em outros tipos de organi- decorrências da intervenção (Botomé, 1981b).
zação para diminuir rotatividade, conduzi- Outro profissional mencionado nos relatos dos
dos por Aubrey Daniels, na década de 1960 pioneiros da Análise do Comportamento no país
(Dickinson, 2001). Ainda antes, Fred Keller que iniciou o uso da Análise do Comportamento
utilizou princípios da modelagem de respos- em contextos organizacionais foi Antônio
tas para ensinar operadores de código morse, Camilo, que realizou diversas atividades re-
em uma intervenção típica da área de trei- lacionados ao campo de recursos humanos
namento, sendo o primeiro artigo publicado na Eletropaulo em São Paulo. Os trabalhos

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

desenvolvidos por Antônio Camilo e Sílvio Um capítulo já mais recente na história de


Paulo Botomé podem ser considerados como formação de analistas do comportamento
o marco brasileiro de início das primeiras ex- qualificados para atuar no campo organiza-
periências aplicadas do trabalho em Análise do cional foi a criação da primeira linha de pes-
Comportamento em contextos organizacionais. quisa em um programa de Pós-graduação no
Brasil específica em Análise do Comportamento
Além disso, a história de intervenção em em Organizações, Trabalho e Aprendizagem
contextos organizacionais no Brasil também na Universidade Federal de Santa Catarina.
ocorreu em diversas experiências em contex- A linha de pesquisa recebeu oficialmente a
tos orientados para a educação profissional. As primeira turma de pós-graduandos (mes-
contribuições decorrentes dos trabalhos com trado e doutorado) em 2006 e encerrou suas
Ensino Programado (Keller, 1972), renome- atividades em 2013 com a aposentadoria dos
ados no Brasil a partir das contribuições de professores que a conduziam (José Gonçalves
Carolina Bori, como “Programação de Ensino” Medeiros, Olga Mitsue Kubo e Sílvio Paulo
(Kubo & Botomé, 2001) e, mais recentemente, Botomé). Ao longo de sete anos de ativida-
como “Programação de Contingências para des, foram formados 27 mestres e 17 doutores
Desenvolver Comportamentos” (Kienen, que, atualmente, atuam em diferentes tipos
Kubo, & Botomé, 2013), estiveram presentes de organizações, especialmente nos Estados
em experiências como no CENAFOR (Centro da região sul do Brasil.
Nacional de Formação Profissional), em curso
de especialização em Programação de Ensino Há alguns anos, algumas evidências sugerem
desenvolvido na Universidade de São Carlos, um aumento do interesse de analistas do com-
além de outras dezenas de contextos nos quais portamento em relação ao campo de atuação
ex-orientandos da professora Carolina Bori em Psicologia Organizacional e do Trabalho.
se inseriram profissionalmente (Nale, 1998). Nos encontros anuais da Associação Brasileira
Embora alguns desses trabalhos muitas vezes de Psicologia e Medicina Comportamental
não sejam localizados como no campo “orga- (ABPMC), tem sido frequente a realização
nizacional”, são típicas intervenções educa- de apresentações e minicursos em Análise
cionais orientadas para objetivos organizacio- do Comportamento em Organizações8 e tem
nais ou para comportamentos profissionais. aumentado a quantidade de estudos nesse

8 Alguns exemplos são: em 2012, o mini-curso Gestão do comportamento em organizações, oferecido por Marcelo José Machado Silva;
em 2013, o mini-curso Gestão do comportamento organizacional por meio de competências: do conceito à aplicação, oferecido por Aécio
de Borba Vasconcelos Neto; em 2014, os mini-cursos Análise Do Comportamento Aplicada às Organizações: Fundamentos de Behavioral
Systems Analysis, oferecido por Candido Pessôa, Lívia Aureliano e Gabriel Careli, e Uma introdução à Análise do Comportamento aplicada
às organizações de Trabalho, oferecido por Aécio de Borba Vasconcelos Neto, Thiago Dias Costa e Camila Carvalho Ramos; em 2015,
o mini-curso Análise do Comportamento nas Organizações: Intervenção e Pesquisas no Brasil, oferecido por Helder Lima Gusso e Gabriel
Gomes de Luca; em 2016, o mini-cursos Análise do Comportamento nas Organizações: O que é e como fazer análise de cargo, recruta-
mento, seleção e avaliação de desempenho?, oferecido por Helder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca, a mesa-redonda Análise
do Comportamento Aplicada à Segurança do Trabalho: Behavior Based Safety – BBS, apresentada por Elen Gongora Moreira, Marcelo
José Machado Silva e Carlos Alberto de Magalhães Massera; o simpósio Contribuições da Análise do Comportamento para a Seleção de
Pessoal, apresentado por Elen Gongora Moreira, Marcelo Henrique Oliveira Henklain e Helder Lima Gusso.

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

campo de atuação. Nesses mesmos eventos, Organizações: um conceito


desde 20109, têm ocorrido os encontros do orientador para intervenções
Grupo de Interesse Especial (GIE) em OBM,
com objetivo de avaliar o desenvolvimento
de analistas do comportamento
desse campo de atuação e propor encaminha- no campo da Psicologia
mentos para desenvolvimento e consolidação Organizacional e do trabalho
desse campo de atuação. Com base em um dos
encaminhamentos desse grupo de interes- Definir um fenômeno, como o conceito de
se, foi elaborada a Biblioteca em OBM10, que “organização”, consiste no processo de cons-
reúne textos de Análise do Comportamento trução de uma expressão verbal que indique
em Organizações produzidos fundamen- as variáveis nucleares do evento ou fenômeno
talmente por analistas do comportamento (Wilson, 2005; Copi, 1981). Dentre as funções
brasileiros. O acesso ao site e o aumento de de uma definição, há o aumento da proba-
publicações também são animadores: em bilidade de efetiva comunicação entre duas
2013, ano de criação da biblioteca, houve 182 ou mais pessoas, uma vez que a definição
acessos; em 2014, 921 acessos; em 2015, 2769 especifica as variáveis sob controle das quais
acessos; e em 2016, 3.825 acessos a partir as pessoas devem ficar ao utilizarem uma
de diversos países, como Brasil, Estados dada expressão. Além disso, uma definição
Unidos, Moçambique, Portugal, Colômbia, clara a respeito de um fenômeno orienta as
Rússia, Canadá, Holanda e Angola. Também ações das pessoas em relação ao fenômeno
com base em encaminhamento do GIE em definido (Wilson, 2005) e diminui “falsas
OBM da ABPMC, foi realizado em 2015 o disputas verbais”, quando pessoas ou grupos
I Encontro de Análise do Comportamento nas de pessoas discordam acerca de algo devido
Organizações, que reuniu 144 pessoas. Em à falta de clareza das palavras e expressões
2015, foi publicado o livro Análise de Cargo, utilizados, e não a discordâncias “reais”
Recrutamento & Seleção: Manual prático para a respeito do fenômeno em exame (Copi,
aumentar a eficácia na contratação de profis- 1981). Definições claras diminuem ambi-
sionais (Gusso, 2015), obra orientada pelos guidades, uma vez que facilitam às pesso-
princípios da Análise do Comportamento. as decidirem por uma dentre duas ou mais
Tudo isso parece sugerir aumento do interes- possibilidades de uso de uma expressão, e
se em Psicologia Organizacional e Trabalho possibilitam delimitar o fenômeno definido,
pelos estudantes e profissionais de Análise do uma vez que possibilitam decidir sobre os
Comportamento, o que indica a necessidade casos limítrofes e avaliar se esses casos cons-
de avaliação do que constitui esse subcampo tituem ou não o fenômeno.
de atuação profissional.

9 Com exceção do encontro realizado em 2014, no qual não houve a possibilidade de promoção de Grupos de Interesse Especial.

10  https://obmbrasil.wordpress.com/biblioteca-em-obm/

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

Uma proposta de definição de organização constituição de qualquer tipo de organiza-


que parece promissora parece ser a de orga- ção. Entretanto, aspectos estruturais podem
nização como sistema de interações comporta- variar e ser integrados em diferentes arranjos
mentais orientado para a produção recorrente que parecem pouco orientar na delimitação
de resultados significativos para e na sociedade do que constitui uma organização, possibili-
na qual ela se insere (derivada de De Luca, tando concluir que essas não são propriedades
Botomé, & Botomé, 2013; Kienen & Wolff, definidoras do fenômeno. Em outras palavras,
2002; Jones, 1994; Botomé, 1981a). Essa de- não adianta recursos e infraestrutura se as
finição parece descrever as variáveis nucle- pessoas não apresentarem comportamentos
ares do fenômeno, sem ser excessivamente orientados para a produção do que é impor-
ampla ou estreita, evitando ambiguidades e tante na organização. Em literatura da área,
definindo o fenômeno por aquilo que ele é. O é frequente que as organizações sejam consi-
exame das propriedades definidoras do con- deradas instâncias sociais, ou seja, constituí-
ceito está organizado a partir de quatro cri- das por pessoas em interação (e.g. “agregado
térios centrais na delimitação do fenômeno, de seres humanos”, March & Simon, 1967;
apresentados a seguir, identificados a partir “conjunto de pessoas”, Smircich & Stubbart,
do conhecimento atualmente disponível na 1985; “sistema social”, Daft, 2006; “unidade
literatura e das definições mais recorrentes social”, Etzioni, 1989; Robbins, 2010). Mas,
nas publicações da área. Neste exame, utiliza- mais do que isso, uma organização parece
mos, em especial, as definições apresentadas poder ser definida não apenas pelas pessoas
na sistematização da literatura realizada por que a constituem, mas pelos comportamen-
Bastos, Loiola, Queiroz e Silva (2014). tos a serem apresentados por essas pessoas e,
principalmente, pelas interações comporta-
mentais a serem estabelecidas entre elas. Essa
1o Critério: Ênfase nas estrutu- concepção (em oposição à simplista noção

ras ou nas interações entre os de organizações como estrutura e mesmo à


noção de que as organizações são constitu-
comportamentos das pessoas? ídas por pessoas em interação) enfatiza que
o aspecto mais importante e mesmo o que
O primeiro aspecto a ser examinado em re- define as organizações são as interações que
lação ao conceito de organização consiste em as pessoas estabelecem entre si e as contin-
uma avaliação da natureza desse fenômeno. gências que operam sobre essas interações.
Um equívoco comum no senso-comum, já
criticado por autores como Zanelli e Silva Essa noção possibilita caracterizar que uma
(2008) e Kienen e Wolff (2002), consiste em organização consiste em um sistema com-
definir organizações a partir de suas dimen- portamental, uma vez que o que uma “or-
sões estruturais, tais como infra-estrutura, ganização” faz e, principalmente, produz na
recursos físicos, sede etc. Tais dimensões, sociedade na qual ela se insere, é constituído
obviamente, são de grande importância na por aquilo que as pessoas que a constituem

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

fazem e, principalmente, pelas interações Freeman, 1995; Etzioni, 1989; Katz & Khan,
entre os comportamentos estabelecidos por 1987; Barnard, 1971). Uma organização ser
elas. Essa concepção possibilita entender uma definida e delimitada por um objetivo envolve
organização, analogamente, como um com- entender que ela é orientada para a produção
portamento, uma vez que as organizações de resultados específicos. Em relação a esse
lidam (a partir, obviamente, dos comporta- aspecto, há necessidade de distinguir o pro-
mentos das pessoas que a constituem) com duto de uma organização do resultado que é
aspectos do ambiente na qual elas se inserem produzido por ela por meio desse produto. É
e produzem resultados nesse ambiente (De possível distinguir entre produto e resulta-
Luca, Botomé, & Botomé, 2013). A relação do a partir de um exemplo apresentado por
entre organizações como sistemas comporta- Malott (2003). Em um dos diversos casos ca-
mentais e a própria noção de comportamento racterizados pela autora, ela faz referência
como interação entre o que as pessoas fazem a uma empresa de marketing que, em sua
e o ambiente (antecedente e consequente) origem, produzia “inserções de propaganda
em que o fazem (Botomé, 2001; 2013) parece em rádio” e que, tempos depois, passou a
evidente. Como decorrência dessa concepção produzir e distribuir “panfletos”. Mas o re-
de organizações, o comportamento das pes- sultado a ser produzido por esses dois tipos
soas que trabalham na organização se torna de produtos era “aumentar a fatia de mer-
o aspecto nuclear delas, tanto pela possi- cado das empresas” que contratavam essa
bilidade de entender as organizações como organização. Obviamente, parece importante
um complexo sistema de comportamentos distinguir que o resultado de uma empresa é
em interação, como pelo fato de ser os com- aumentar a fatia de mercado de outras em-
portamentos dessas pessoas o aspecto que presas, e não apenas distribuir panfletos ou
produz os resultados que cabe à organização realizar inserções de propagandas em rádio.
produzir na sociedade em que se insere.
A relevância social do resultado a ser pro-
duzido é outro aspecto nuclear dos resulta-
2o Critério: Objetivos dos a serem produzidos pelas organizações.

orientados por demandas Isso indica que não é qualquer resultado que
deve constituir os objetivos das organizações,
internas, objetivos pessoais mas sim resultados orientados para deman-
ou pelas necessidades da das externas à organização, ou seja, para
sociedade? necessidades sociais (De Luca, Botomé, &
Botomé, 2013; Botomé, & Kubo, 2002; Kienen
Um segundo aspecto sistematicamente pre- e Wolff, 2002; Botomé, 1996, 1992, 1981a;
sente em definições de “organização” evi- Kaufmann, 1977), em oposição a resultados
dencia que as interações entre as pessoas são meramente internos às organizações e que,
orientadas para a produção ou concretiza- por decorrência, só produzem benefícios
ção de um objetivo “comum” (e.g. Stoner & às pessoas que a constituem e chegam, por

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

vezes, a prejudicar parcelas significativas da termos de sistemas fechados (olhando para


sociedade (Dowbor, 2013). Uma contribui- dentro), com pouca ou nenhuma visibilidade
ção importante da teoria geral dos sistemas acerca do que deveria produzir como con-
à compreensão dos fenômenos em múltiplos tribuição à sociedade (sistema aberto). “Ter
campos em meados do século XX foi a expli- alta produtividade”, “ganhar acima de 10%
citação de que fenômenos na natureza estão de lucro líquido”, “trabalhar pouco”, “não
inseridos em sistemas abertos, estabelecendo ter desperdício”, “diminuir ociosidade” são
relações com outros fenômenos e instâncias exemplos de expressões que já apareceram na
do ambiente (Bastos, Loiola, Queiroz & Silva, formulação do objetivo de grandes empresas
2014). Nesse sentido, qualquer fenômeno brasileiras. Mas, se a função dos objetivos é
está em contínua interação com o meio a sua orientar os comportamentos das pessoas,
volta, afetando e sendo afetado por ele. No parece ser um problema que os objetivos das
caso específico das organizações, elas existem organizações façam referência apenas a algo
para atender a alguma necessidade específica interno a elas, uma vez que, nesses casos,
da sociedade (Jones, 1994; Kienen & Wolff, tende a ser para aspectos internos que se
2002; Kaufmann, 1977). É isso que diferencia volta a atenção das pessoas que a constituem.
uma empresa produtiva (para a sociedade)
de uma empresa meramente rentista (para Para exemplificar o problema de haver ênfase
o investidor) (Dowbor, 2013). Uma empresa em resultados internos (em oposição a re-
que fabrica móveis, atende a necessidade de sultados externos), é possível imaginar um
outro segmento. Uma empresa que oferece órgão público com excesso de filas e confu-
cursos de idiomas, atende a necessidade de são entre usuários do serviço que solicitam
outro segmento. Uma universidade, atende atendimento. Para “melhorar o serviço”, os
a necessidade de outro segmento. Em última funcionários definem como objetivo “acabar
instância, qualquer organização só é concre- com a confusão no departamento” e propõem
tizada quando passa a atender algum tipo de que a solução encontrada envolve limitar a
necessidade da sociedade na qual se insere. quantidade de pessoas que podem entrar no
órgão, deixando os demais na rua à mercê
Quando não fica claro que o aspecto defini- do frio, do sol e da chuva. Dentro do depar-
dor e delimitador de qualquer organização é tamento tudo ficou mais calmo e tranquilo...
o resultado a ser produzido por ela em re- As necessidades internas à organização foram
lação a algum tipo de necessidade social, é atendidas, em detrimento justamente daquilo
alto o risco que demandas ou necessidades que deveria definir e delimitar as organiza-
internas tornem-se imperativas nas toma- ções: as necessidades externas à ela. Em outro
das de decisões, o que geralmente implica em exemplo, em uma empresa privada foi defi-
problemas de diversas ordens nas empresas nido que o objetivo da empresa era aumentar
(Botomé, 1996). Apesar disso, ainda é comum em 20% a quantidade de vendas. Os vendedo-
empresas formularem seu objetivo geral (sua res, visando atender a esse objetivo, começam
“missão”) e seus objetivos específicos em a fragmentar as vendas de seus clientes em

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

diferentes notas fiscais... o mesmo volume de na sociedade podem ser de múltiplas ordens,
vendas, mas agora com maior burocracia! Os ou seja, organizações sempre produzem algo
objetivos foram considerados atingidos e um na sociedade. Sejam impactos positivos ou
case de sucesso empresarial. A insatisfação dos negativos para as pessoas que nela vivem.
clientes e dos funcionários com maior demora
para o fechamento de pedidos e a quantida- O segundo tipo de impacto das organizações
de de notas fiscais desnecessárias parece ter enfatiza que certos impactos são produzi-
sido deixado de lado... Esses são exemplos dos pelas organizações para a sociedade. A
que evidenciam os riscos de orientar os com- formulação do “objetivo geral” geralmente
portamentos dos trabalhadores para apenas é o que deveria evidenciar esse impacto. A
objetivos internos à organização, e não da universidade, por exemplo, tem um “papel
sociedade na qual ela se insere. social” específico na sociedade. Diferente de
outros tipos de instituições de ensino supe-
Quando é enfatizada a ideia de objetivos rior (faculdades, centros universitários...),
orientados para as necessidades sociais, está às universidades, como instituições na so-
em destaque a noção de organização como ciedade, cabe a função ou objetivo geral de
um sistema aberto, em interação constante produzir conhecimento novo e torná-lo acessível
com o ambiente no qual se insere. Ao menos (De Luca, Botomé, & Botomé, 2013; Botomé,
dois tipos de impacto das organizações da & Kubo, 2002; Botomé, 1996, 1992). À ban-
sociedade precisam ser identificados. O pri- quinha de revistas no centro da cidade, cabe
meiro é que toda ação (de uma pessoa ou de a “missão” de tornar acessível às pessoas
pessoas em grupo) possui impacto em outras jornais e revistas periódicas à população. E daí
pessoas ou “dimensões” dos sistemas nos por diante. Cada um desses exemplos evi-
quais estão relacionados. Se essa ação for dencia que essas organizações cumprem um
apresentada por pessoas de uma grande or- papel que não é orientado meramente para si
ganização, tanto maior será o impacto (am- próprias, mas especialmente para a sociedade
biental, social, econômico etc.). Uma empresa na qual estão inseridas. Nesse sentido, mais
de fabricação de sapatos poderia impactar o do que decorrência na sociedade, organizações
ambiente, por exemplo, poluindo rios com têm uma dimensão crítica quando examinado
resíduos tóxicos e matar animais sem cui- seu objetivo para a sociedade.
dados com bem estar animal para produzir
couro (impacto ambiental), lesar física e psi- O objetivo de uma organização, além de ne-
cologicamente trabalhadores com condições cessitar fazer referência a resultados sig-
insalubres de trabalho (impacto psicológico nificativos a serem produzidos na e para a
e social) e “quebrar” outras empresas do sociedade na qual se insere, necessita ser
mesmo ramo que remuneram melhor seus um objetivo “comum” aos integrantes da
trabalhadores e que investem em cuidados organização. O aspecto que parece nuclear
ambientais e sociais (com impacto econômi- em relação ao quão “comum” é o objeti-
co). Nesse exemplo, fica claro que impactos vo de uma organização envolve a distinção

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

entre um objetivo “similar” ou um objetivo social desse fenômeno que difere da simples
“comum”. Por objetivo similar, é possível soma de seus participantes. Uma organiza-
entender que diferentes pessoas possuem ção, como qualquer outro sistema cultural,
o mesmo objetivo, sem, entretanto, haver perpetua certos tipos de práticas, mesmo
necessidade de interação entre o compor- que seus membros sejam alterados ao longo
tamento dessas pessoas para a produção do tempo. Isso constitui fenômenos como
desse objetivo. Um exemplo de pessoas com a cultura organizacional (Silva, Todorov, &
objetivos similares envolve pessoas em um Silva, 2012). Em síntese, a ausência de tais
ponto de ônibus, esperando o ônibus. Nessa características não qualificaria uma even-
situação, essas pessoas possuem o mesmo tualidade específica como uma organização.
objetivo: se deslocar utilizando esse tipo de Ainda assim, embora atividades específicas
transporte público. Entretanto, esse objetivo não sejam definidas como organizações, a re-
não depende da interação entre elas. Nesse alização de eventos, projetos, manifestações
sentido, o objetivo das pessoas é similar, e demais atividades circunstanciais também
porém, não comum. Objetivo “comum”, poderiam ser abrangidas como fenômenos
portanto, constituem objetivos que, para sua relacionados à organizações, no sentido de
consecução, enfatiza que o resultado (so- considerar que muito do que é produzido
cialmente relevante) a ser produzido pela como conhecimento, instrumentos, procedi-
organização na e para a sociedade na qual mentos e recursos de trabalho desenvolvidos
ela se insere envolve o comportamento de para o contexto das organizações pode ser
diferentes pessoas em interação. utilizado nesses eventos mais específicos.

3o Critério. Ações específicas 4o Critério. Ênfase nas


ou classes de ações recorrentes organizações ou instituições
(contínuas) ao longo do tempo? (Agências de Controle)?

Outro critério evidenciado na literatura é o Por fim, uma última distinção conceitual
de continuidade na definição do que constitui importante para definir organizações é a
uma organização (e.g. Robbins, 2010; Katz, & diferença entre organizações e instituições.
Khan, 1987; Morin, 1981). Um argumento a O conceito instituições é utilizado na litera-
favor desse critério é a ideia de que iniciati- tura para designar agências sociais que re-
vas específicas que ocorrem uma única vez, gulam as atividades humanas, indicando o
sem recorrência, não caracterizariam uma que é proibido, o que é permitido ou o que é
organização (e são, por vezes, chamados de valorizado (Bastos, Loiola, Queiroz & Silva,
“projeto”, “manifestação” ou “evento”, por 2014). Skinner (1953/2000) utiliza o concei-
exemplo). Uma das dimensões típicas de tra- to agência de controle para designar grupos
balho em organizações abrange a dimensão que exercem “controle ético sobre cada um

37
COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso e Gabriel Gomes de Luca
EM FOCO VOL. 5

de seus membros através, principalmente, e a designação de intervenções analítico-


de seu poder de reforçar ou punir” (p.363). comportamentais nesse campo de atuação.
Nesse sentido, o termo instituição pode ser Tal definição enfatiza que, mais do que a es-
lido de maneira equivalente ao termo agência trutura ou os resultados internos à própria
de controle proposto por Skinner (1953/2000). organização, os aspectos que mais direta-
Tal conceito designa diferentes arranjos mente delimitam o que é uma organização
propostos pelo grupo no qual vivemos (e. g., são os resultados recorrentes que cabem às
Educação, Governo, Psicoterapia, Economia, organizações produzirem na e para a socie-
Religião etc.) que indicam o que é valoriza- dade na qual elas se inserem. Essa definição
do ou punido pelo grupo. Embora conceitos de “organizações” também enfatiza a “nu-
distintos, as instituições podem ser consi- clearidade” do conceito de comportamento
deradas como “abstrações” (leis, explícitas tanto para definir a organização, uma vez
ou tácitas, formais ou informais) postuladas que, por meio dessa definição, as organiza-
pelo grupo, cuja concretização é manifestada ções passam a ser consideradas como siste-
por diferentes tipos de organizações na so- mas comportamentais, quanto para orientar
ciedade (públicas, privadas ou da sociedade os trabalhos que as constituem, já que é o
civil organizada de interesse público) (Bastos, comportamento das pessoas que constituem
Loiola, Queiroz & Silva, 2014). as organizações o aspecto que possibilita que
o resultado que as define e as delimita seja
Em síntese, definir organizações como sistema produzido. Atuar sobre os comportamentos
de interações comportamentais orientado para a das pessoas que constituem as organizações e
produção recorrente de resultados significativos das contingências que interferem na ocorrên-
para e na sociedade na qual ela se insere parece cia desses comportamentos, sempre maxi-
ser uma forma promissora para orientar os mizando a produção recorrente de resultados
trabalhos a serem desenvolvidos em organi- significativos na e para a sociedade na qual a
zações e, inclusive, para orientar a atuação organização se insere... essas parecem ser ca-
de analistas do comportamento em orga- racterísticas promissoras da atuação de ana-
nizações, além de viabilizar a identificação listas do comportamento em organizações.

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40
COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

Análise de Sistemas Comportamentais: Lívia Aureliano 


Universidade São Judas Tadeu
uma proposta de análise e intervenção Universidade de São Paulo
liviaaureliano@gmail.com
nas organizações
Candido V. B. B. Pessôa
Paradigma - Centro de Ciências
Behavioral System Analysis: A proposal for do Comportamento
analysis and intervention in organizations candido@paradigmaac.org

Resumo Abstract
Análise de Sistemas Comportamentais constitui uma Behavioral Systems Analysis constitutes a proposal
proposta de análise que compreende uma organização for analysis comprising an organization as a system.
como um sistema. Essa proposta implica analisar as This proposal implies to analyse multiples variables
múltiplas variáveis que afetam o desempenho da or- that affects individual performance that belongs to
ganização e, em última instância, que afetam também the system. This text aims to introduce the Behavioral
o desempenho das pessoas que dela fazem parte. Systems Analysis, its definition, its unit of analysis,
Este texto tem como objetivo introduzir a Análise de the Total Performance System tool (TPS), either
Sistemas Comportamentais, apresentando sua defi- to describe two interventions models that use the
nição, sua unidade de análise Total Performance System BSA: Rummler and Brache´s model and the Model
(TPS), assim como descrever dois dos modelos de in- of Behavioral Systems Engineering.
tervenção baseados na BSA: o modelo de Rummler
e Brache e o Modelo de Engenharia de Sistemas
Comportamentais.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Sistemas comportamentais; Intervenção organizacional; Behavioral systems; Organizational intervention;


Gestão do comportamento nas organizações. Organizational behavior management.

41
COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

Análise de Sistemas Comportamentais11 constitui Segundo Karl Von Bertalanfy, um dos formu-
uma proposta de análise que compreende uma ladores da TGS, essa teoria foi criada na expec-
organização como um sistema. Essa propos- tativa de existirem leis gerais que possam ser
ta implica analisar as múltiplas variáveis que aplicadas a um grande número de sistemas,
afetam o desempenho da organização e, em independente das propriedades particulares
última instância, que afetam também o de- do sistema específico e de seus elementos
sempenho das pessoas que dela fazem parte. (Bertalanffy, 1968). O intuito da TGS é traçar
Trata-se, portanto, de uma visão que busca uma espécie de “máximo divisor comum”
integrar variáveis no nível comportamental para os conhecimentos obtidos pela enorme
e cultural, entendendo que as variáveis que fragmentação da ciência contemporânea, per-
afetam o comportamento individual resultam mitindo que o estudioso de um tipo de sis-
em mudanças em todo o sistema, assim como tema possa entender algo sobre outros tipos
as variáveis que afetam o sistema como um também, de forma a integrar conhecimentos.
todo afetam o comportamento do indivíduo Como aponta Brethower (1999), existem sis-
que trabalha na organização (Brethower, 2001; temas de todos os tipos. Por exemplo, sistemas
Diener, McGee & Miguel, 2009; Malott, 1999). físicos, biológicos, eletrônicos, governamen-
tais, de aquecimento, de comunicação, fami-
Ainda sobre sua definição, a Análise de liares, sociais sociotécnicos, ecossistemas etc.
Sistemas Comportamentais ou, como é mais – Essas considerações levaram Bertalanffy a
conhecida, mesmo no Brasil, a Behavioral postular a TGS com o objetivo de formular
Systems Analysis (BSA), segundo seu principal princípios válidos para “sistemas” em geral.
criador, Dale Brethower, “é um conjunto de
conceitos e técnicas que ajuda a tornar mais Nos termos da TGS, uma definição de siste-
saudáveis os ambientes de trabalho, de ensino mas será necessariamente densa. Por exem-
e ambientes clínicos” (Brethower, 2002, p. plo: “Um sistema é um todo, seus elementos
1). Esse conjunto de técnicas e conceitos é e as inter-relações entre os elementos, entre
baseada em duas áreas do conhecimento: a cada elemento e o todo e entre o sistema
Análise do Comportamento e a Teoria Geral como um todo e os outros sistemas com que
de Sistemas (TGS). A integração do conheci- ele se relaciona” (Brethower, 2006, p. 126).
mento produzido por essas duas áreas se jus- Para que uma definição como essa possa ser
tifica, ainda segundo Brethower, pelo fato de utilizada, Brethower (1999) sumariza sete
a Análise do Comportamento ajudar a enten- princípios gerais da TGS:
der como as pessoas “funcionam” no mundo
em que vivem e a TGS ajudar a compreender (1) Princípio dos sistemas abertos, que identifica a
como o mundo “funciona”. necessidade dos sistemas de importar energia

11  Essa tradução para Behavioral System Analysis foi apresentada na mesa redonda “Questões de tradução em OBM”, durante
o XXIII Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental (Pessôa, Aureliano, Careli et al., 2014).

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

para sobreviver. No caso de seres vivos, alimen- Brethower (1999, 2002, 2006) defende o
to; no caso de empresas, recursos econômicos. uso desses sete princípios para se aprender
rapidamente os fatos fundamentais sobre
(2) Princípio do processamento de informação: uma organização.
cada sistema biológico tem formas especí-
ficas de processar informação – i.e., agir a O primeiro estudo analítico-comportamental
partir de eventos antecedentes – e converter que utilizou a ideia de sistemas para ana-
insumos em energia vital. lisar comportamento parece ter sido a tese
de doutorado de Dale Brethower, defendida
(3) Princípio de sistemas guiados: o sistema pode em 1970. O título da tese “The classroom as a
ser direcionado para a obtenção de objetivos self-modifiyng system” já sugere que o autor
específicos. Por exemplo, famílias podem prio- considera a sala de aula, seu objeto de estudo,
rizar gastos em educação; empresas podem como um sistema, composto por elementos
enfatizar a remuneração de acionistas. (alunos e professores) que interagem entre
si, modificando uns aos outros. A definição
(4) Princípio de sistemas adaptativos: o sis- de sistema auto modificável contempla
tema pode ser redirecionado. A família pode também a afirmação de que uma das variáveis
passar a priorizar gastos em saúde; a empre- que modifica o desempenho do sistema, e
sa pode passar a priorizar a remuneração de o torna autorregulado, é a ferramenta do
empregados. feedback (princípio da inteligência ambien-
tal, nos termos da TGS). Além disso, a partir
(5) Princípio de canalização de energia: os dos efeitos modificadores do feedback sobre
esforços necessários à obtenção desses ob- o desempenho dos estudantes, é possível
jetivos ser discricionariamente empregados. compreender cada aluno também como um
Por exemplo, se aproximar de determinados sistema auto modificável. O principal objetivo
grupos, participar de certas organizações do autor nesse trabalho, portanto, foi mostrar
de classe. que a sala de aula poderia ser entendida como
um sistema e que o desempenho de todo o
(6) Princípio da inteligência ambiental: um sis- sistema poderia ser modificado por feedback.
tema trabalhará melhor se obtiver e utilizar
informações relevantes sobre mudanças de A unidade de análise dessas interações, de-
seu ambiente. senvolvida e validada por Dale Brethower em
sua tese, é chamada Total Performance System
(7) Princípio da maximização dos subsistemas: (“TPS” – Brethower, 1999). Essa unidade pro-
um sistema aberto opera sob as limitações cura contemplar as variáveis que constituem
impostas pelo ambiente externo; essas limi- as inter-relações dos elementos de um sistema
tações fazem com que seja impossível maxi- e as relações desse sistema com o ambiente no
mizar simultaneamente o sistema como um qual está inserido, como prescrito na definição
todo e seus subsistemas componentes. apresentada acima. Assim como a concepção

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

exata da unidade de análise varia entre autores humanos, seus produtos podem se caracte-
da Análise do Comportamento (Thompson & rizar por contratações realizadas, políticas
Zeiler, 1986), podendo ser caracterizada como de remuneração feitas e treinamentos dados;
a tríplice contingência ou serem adicionados no caso de uma tarefa como contabilidade,
outros termos, como estímulos condicionais, o produto pode ser o balanço ou o balancete
contextuais ou operações motivadoras, a de- da empresa.
pender do foco da análise, na BSA o número
de termos também pode variar. No presente (3) Sistema Receptor: é o sistema que recebe
texto, é usada a versão de TPS apresentada o produto do sistema analisado. Por exemplo,
por Malott (2003), uma vez que o foco deste no caso de uma universidade como sistema
artigo é a análise de sistemas comportamen- analisado, o sistema receptor será a sociedade
tais como se apresentam em organizações. que receberá os graduados ou pós-graduados
formados por ela; no caso de um departa-
Como apresentado por Malott (2003) e es- mento de recursos humanos ser o sistema
quematizado na Figura 1, o TPS é composto analisado, os sistemas receptores serão os
pelos seguintes elementos: outros departamentos da empresa; no caso
de um professor ser o sistema analisado os
(1) Missão: é o objetivo final do sistema anali- alunos serão os sistemas receptores.
sado. Por exemplo, em linhas gerais, no caso de
uma escola ser o sistema analisado, sua missão (4)Feedback do Sistema Receptor: são os dados
poderá ser educar indivíduos como cidadãos ou informações provenientes do sistema re-
éticos e eficientes para a sociedade; no caso ceptor que determinam se os produtos ou ser-
de um hospital ser o sistema analisado, sua viços do sistema analisado atendem as suas
missão poderá ser curar e prevenir doenças. necessidades específicas. Por exemplo, no caso
da sociedade como sistema receptor de uma
(2) Produtos12: é o que o sistema analisado universidade, seria o envio de mais alunos
produz. Podem ser produtos ou serviços, são para essa universidade, ou fornecer recursos
o que resta após o sistema analisado operar. (bolsas, doações, mensalidades) para que essa
Por exemplo, ao analisarmos uma univer- universidade continue a existir; no caso de
sidade, seus produtos podem ser mestres, uma fábrica como sistema analisado, os fee-
doutores e alunos graduados em diversas dbacks podem ser pesquisas de satisfação dos
especialidades ou profissões; se o sistema clientes, novas encomendas ou informações
analisado for um departamento de recursos do serviço de atendimento ao consumidor; no

12 Produtos como aqui entendido é referido em outros textos de análise do comportamento como “resultados” do comportamento.
O importante é diferenciar o produto ou resultado do comportamento, aquilo que sobra depois da ação realizada, de suas consequên-
cias mantenedoras. Essa distinção é mais claramente feita na teoria analítico comportamental que estuda metacontingências. Nessa
literatura temos bem diferenciados o produto agregado (outro conceito aqui subsumido no presente uso de “produto”) e consequência
cultural selecionadora.

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

caso de um professor, pode ser a satisfação preparação da aula e correção dos trabalhos;
dos alunos com suas estratégias de ensino, no caso de uma fábrica, a matéria prima, a
ou recomendações dos alunos a outros alunos tecnologia, os recursos humanos etc.; no caso
para que cursem a disciplina do professor. de um departamento de recursos humanos,
exemplos de recursos seriam descrições das
(5) Sistema Processador: é o sistema proces- habilidades necessárias para o posto de tra-
sador que transforma os recursos em pro- balho a ser preenchido ou a disponibilidade
dutos. Como visto nos exemplos anteriores, de recursos para remuneração.
podem ser organizações, departamentos, ta-
refas, pessoas etc. O que será colocado como (8) Competidores: são outros sistemas que
sistema processador dependerá do que se competem pelos recursos ou pelo sistema re-
quer analisar. ceptor do sistema processador analisado. No
exemplo do departamento de recursos huma-
(6) Feedback do Sistema Processador: são os nos como sistema processador analisado, por
dados sobre a avaliação de como o sistema pro- exemplo, poderíamos ter concorrência por
cessador está funcionando em relação a seus recursos para a elaboração de treinamentos
próprios parâmetros. Por exemplo, a universi- ou para o uso de equipamentos da organiza-
dade como sistema processador analisado está ção; no caso do professor, poderíamos ter os
saudável financeiramente? Seus alunos estão trabalhos dados por outras disciplinas para
atingindo os níveis de conhecimento previstos os mesmos alunos ou verbas destinadas à
pela instituição? Eles estão se formando no compra de materiais (livros, apostilas) para
tempo certo?; no caso de uma fábrica como o outras disciplinas, poderíamos também ter
sistema processador analisado, os produtos a necessidade do professor realizar outras
estão dentro da qualidade especificada? São tarefas além de lecionar, como pesquisar e
vendidos com lucro?; no caso de um professor publicar artigos científicos, ou se dedicar a
como sistema processador analisado, a disci- outras profissões; no exemplo mais evidente
plina foi ministrada conforme o cronograma de uma fábrica, poderíamos ter outras fá-
estabelecido? Os alunos conseguiram passar bricas competindo pelos mesmos clientes ou
para a disciplina seguinte com os requisitos pela contratação dos mesmos profissionais.
necessários? Os trabalhos dos alunos foram
comentados no tempo certo? Figura 1. Representação gráfica do Total Performance
System, adaptada a partir de Malott (2003).
1. Missão
(7) Recursos: são todos os antecedentes ne-
cessários para que o sistema processador
7. Recursos 2. Produto
consiga realizar o produto. No caso de um 5. Sistema 3. Sistema
Processador Receptor
professor como sistema analisado, exem-
plos de recursos seriam a sala de aula com os 6. Feedback do
Sistema Processador
instrumentos necessários (projetor, quadro
4. Feedback do
e canetas etc.), livros didáticos, tempo para sistema receptor
8. Compeção

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

Como pode ser visto pelos exemplos dados no comportamentos individuais – isto é, que se
parágrafo anterior, Brethower (1999, 2002) baseiam apenas no uso da tríplice contingên-
propõe o TPS como uma unidade que possi- cia como ferramenta de análise – não cap-
bilita vários níveis de análise. Se no sistema tariam as variáveis relevantes em dinâmicas
processador (item 5 do TPS) focamos uma de outros tipos de sistemas, tais como uma
pessoa ou tarefa, teremos uma análise no fábrica, uma família, uma escola etc. O uso
nível comportamental. De outra forma, se no do TPS como uma unidade de análise possi-
sistema processador for focada uma organi- bilita a análise de entidades culturais e não
zação ou o departamento de uma organiza- só individuais. Isso é importante se enten-
ção, teremos uma análise no nível cultural dermos uma entidade cultural como algo que
(Glenn & Malott, 2004; Malott, 2003). Como tem suas próprias dinâmicas, independentes
ressalta Ferond (2006), o alcance do TPS a das dinâmicas analisadas no nível individual
análises no nível cultural de seleção viabilizou (Skinner, 1984).
que intervenções comportamentais ganhas-
sem escalabilidade. Como afirmam diversos O uso da BSA para basear intervenções em
autores (e.g., Austin, 2000; Rummler, 2004; organizações cujos resultados são susten-
Tosti, 2004) a BSA possibilita análises em táveis a longo prazo passou a ser defendido
ambientes sociais complexos, formados por por diversos autores nas últimas décadas
muitos indivíduos com múltiplas interações (e.g., Brethower & Wittkopp, 1988; Diener,
que afetam os participantes da organização McGee & Miguel, 2009; Hyten, 2009; Malott,
e a própria organização. 2003; Rummler & Brache, 1990). No entanto,
Abernathy (2014) afirma que muitas das dis-
Os trabalhos de analistas do comportamen- cussões sobre o uso da BSA têm permanecido
to em organizações – chamados OBM, da em um nível conceitual, muito mais do que no
expressão em inglês Organizational Behavior nível aplicado. E essa lacuna existente entre
Management – tiveram como ênfase ini- discussões conceituais sobre o uso da BSA em
cialmente a manipulação de contingências intervenções organizacionais e trabalhos que
comportamentais que afetavam diretamen- descrevam aplicações efetivas usando essa
te os comportamentos dos trabalhadores abordagem, conforme apontada pelo autor,
(Abernathy, 2014; Crowell, Anderson, Abel, & pode explicar o pequeno número de relatos
Sergio, 1988; Hyten, 2009). Apesar de as in- de intervenções realizadas que se baseiam em
tervenções relatadas serem bem-sucedidas, BSA, já que não haveria modelos de interven-
Abernathy (2014) defende que o uso exclusivo ção nem ferramentas suficientes para tal.
desse modo de intervenção pode levar a um
erro sobre quais variáveis devem ser focadas, Como seria, então, uma intervenção a partir
além de causar efeitos imprevistos e falhar da análise de sistemas comportamentais?
na sustentabilidade das mudanças compor- Serão apresentados, em termos gerais, dois
tamentais (p. 236). Isso aconteceria porque modelos de intervenção baseados em BSA, o
intervenções que se baseiam na análise de apresentado por Rummler e Brache (1990) e

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

apresentado por Malott (2003). Espera-se que (3) sobre o gerenciamento da organização
com essas breves apresentações seja possível (e.g., objetivos apropriados a cada função
a um leitor iniciante entender como a partir foram estabelecidos?; os desempenhos re-
de uma análise de sistemas comportamentais levantes estão sendo medidos?; as interfaces
pode-se chegar a modelos de intervenção. entre as funções estão sendo gerenciadas?).
É nas respostas a essas perguntas pela dire-
Para Rummler e Brache (1990), o desempe- ção da empresa e, talvez principalmente, na
nho da organização deve ser analisado e as ausência de respostas que a intervenção no
intervenções realizadas a partir de três níveis: nível organizacional é feita, completando-se
o nível organizacional, o nível de processo e o as lacunas ou inconsistências verificadas.
nível de trabalho/executor. O nível organiza-
cional enfatiza o relacionamento da organi- O sistema processador “organização”, em
zação com o mercado e compreende as suas Rummler e Brache (1990), é composto por
principais funções. Nesse nível de análise, o inúmeros processos interligados, identi-
sistema processador no TPS é a organização e ficados primeiramente na análise no nível
os aspectos externos a ela (missão13, sistema organizacional. Quando se passa ao nível de
receptor, feedback do sistema receptor, re- processo, cada processo identificado é ana-
cursos, competição), assim como os aspectos lisado em um TPS. Novamente, nesse novo
internos (produtos, composição do sistema nível de análise, a partir das variáveis obtidas
processador em termos dos processos que o na elaboração do TPS de processo são reali-
compõe, feedback do sistema processador) zadas uma série de perguntas à direção ou
são analisados. As variáveis levantadas na gerência da organização em relação (1) aos
construção do TPS da organização são traba- objetivos de cada processo (e.g., os objetivos
lhadas em termos de objetivos, delineamen- dos processos chave estão em linha com os
tos e gerenciamento. A partir das variáveis requisitos dos clientes e da organização?),
levantadas, é feita uma série de perguntas (1) (2) ao design de cada processo (e.g., esse é o
sobre os objetivos da organização (e.g., a es- processo mais eficiente para se completar a
tratégia/direção da organização foi articulada missão do processo?) e (3) ao gerenciamento
e comunicada?; essa estratégia faz sentido em de cada processo (e.g., os objetivos de cada
termos de oportunidades e ameaças externas processo foram estabelecidos?; o desempe-
ou de vantagens e fraquezas internas?), (2) nho do processo está sendo gerenciado?; as
sobre o design da organização (e. g., a estru- interfaces entre os passos do processo estão
tura formal da organização suporta a estraté- sendo gerenciadas?). Segundo Rummler e
gia e melhora a eficiência do sistema?; todos Brache, as organizações são tão boas quanto
os processos relevantes para o cumprimento seus processos. Para os autores, geralmente
dos objetivos existem e estão no lugar?) e é neste nível de análise que se encontram os

13 Uma análise mais detalhada de como se identifica a missão de uma organização mostrará que essa é uma variável com aspectos
internos e externos ao sistema processador. Não cabe ao presente texto, de caráter introdutório aprofundar essa distinção. Rummler
e Brache (1990) e Malott (2003) podem ajudar o leitor se aprofundar no assunto.

47
COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

maiores espaços em branco que precisam ser ver como o uso do TPS como unidade de
preenchidos como forma de intervenção. diferentes sistemas processadores, tanto
no nível cultural (organização e processos)
Ao realizar o TPS de um processo, encontra-se quanto no nível comportamental (trabalho/
como a composição do sistema processador executor), possibilitam um controle de vari-
várias tarefas a serem executadas. Assim, áveis que não é obtido apenas em análises no
após o término da realização dos TPSs de cada nível comportamental.
processo, cada trabalho/executor será o siste-
ma processador no nível seguinte de análise, Outro modelo de intervenção em organiza-
que foi julgado importante de ser melhorado ções que ocorre a partir da análise de sistemas
no nível de análise e intervenção anterior. comportamentais é apresentado por Malott
A partir das variáveis obtidas nos TPSs das (2003). Ao se basear na BSA, Malott descre-
tarefas identificadas como relevantes, per- ve seu modelo como sistemático e ordenado,
guntas relacionadas ao (1) objetivo da tarefa e que contempla os conceitos básicos sobre
(e.g., os produtos e padrões da tarefa estão seleção ambiental e seleção cultural, assim
em linha com os requeridos no processo?), ao como as unidades de análise: contingência
seu (2) design (e.g., os requisitos do processo comportamental e metacontingência. Esse
estão refletidos em tarefas apropriadas?; os modelo, nomeado por Malott como Modelo de
passos da tarefa estão em sequência lógica?; Engenharia de Sistemas Comportamentais14,
há ergonomia ambiental para a realização da será apresentado em linhas gerais a seguir.
tarefa?) e ao seu (3) gerenciamento (e.g., os
executores entendem os produtos espera- Como em Rummler e Brache (1990), Malott
dos e padrões que devem ser alcançados?; os parte de níveis mais complexos até os menos
executores têm recursos suficientes, sinais e complexos. Cada subcomponente que compõe
prioridades claros e um delineamento lógico o sistema processador no “nível de cima” será
da tarefa? os executores são remunerados por o sistema processador no nível logo abaixo.
atingir os objetivos da tarefa?). Novamente, as No TPS do macrossistema, o nível mais alto
perguntas são feitas para basear a intervenção analisado por Malott, no sistema processador
na elaboração de respostas que completem as está a organização alvo. No TPS da organiza-
variáveis faltantes. ção, no sistema processador estão processos
que compõe a organização. No TPS dos pro-
Para Rummler e Brache (1990), para que cessos relevantes da organização, no sistema
a mudança organizacional ocorra, a inter- processador estão as tarefas que compõe o
venção precisa ocorrer nos três níveis de processo. No TPS da tarefa, o sistema proces-
desempenho, assim como estes precisam sador é composto pelos comportamentos que
funcionar eficientemente em conjunto, com compõem a tarefa. No TPS de um compor-
os mesmos objetivos. Dessa forma, pode-se tamento, o sistema processador é a tríplice

14 Tradução livre feita do termo em inglês Behavioral Systems Engineering Model.

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

contingência desse comportamento. Malott permite saber quais os comportamentos re-


propõe ainda a realização do TPS da gerência, levantes para a realização de tarefas e assim
que é responsável pelas contínuas análises e focar as intervenções no nível organizacional
ajustes nas intervenções a serem realizadas. nos comportamentos que mais influem nos
níveis superiores de análise.
De acordo com o modelo de intervenção de
Malott (2003), ao se realizar a análise do TPS Pela sumária apresentação dos modelos
em cada nível, obtém-se resultados úteis de intervenção propostos por Rummler e
para intervenção, além da simples verifi- Brache (1990) e por Malott (2003), pode-se
cação das variáveis ausentes. Ao realizar o perceber que as intervenções baseadas na
TPS do macrossistema no qual a organiza- BSA lidam inicialmente com questões mais
ção está inserida, pode ser elaborada uma estratégicas da empresa. Com o aprofun-
missão para a organização que permitirá damento e continuidade das análises e in-
a sua orientação estratégica. Para Malott, tervenções, ocorre um aprofundamento,
uma missão elaborada dessa forma evita se chegando-se às questões de comportamentos
basear nos produtos da organização, um erro individuais. É a primeira parte das interven-
comum na elaboração de missões, segundo ções, baseadas em TPS de entidades mais
a autora. Ao realizar o TPS da organização, complexas (macrossistemas, organizações,
podem ser estabelecidas medidas para cada processos) que se deu a grande inovação de
variável do TPS, o que facilita enormemente intervenções desse tipo.
a elaboração de um plano estratégico para a
organização, que será feito nesse nível de in- Os dois modelos de intervenção apresentados
tervenção. Além disso, a realização do TPS da não esgotam os modelos baseados em análi-
organização permite enxergar a organização ses BSA. Mas talvez sejam os mais próximos
como um conjunto de processos que se in- da Análise do Comportamento. Modelos que
ter-relacionam. O TPS dos processos permite englobam várias outras áreas do conheci-
otimizar cada um destes. É nesse ponto que a mento e usam a BSA são agrupados sob o
intervenção atinge o máximo de valor, já que nome de intervenções em Human Performance
apenas a otimização coordenada dos proces- Tecnology. Três grandes manuais sumarizam a
sos (como componentes inter-relacionados história de intervenções desse tipo (Pershing,
da organização) maximiza os resultados da 2006; Stolovitch & Keeps, 1992, 1999). Nele
organização (Brethower, 2006; Malott, 2003; há uma rica história de como os conceitos
Rummler & Brache, 1990). A partir da rea- originados em análises do comportamento
lização dos TPS de tarefas, novas análises vão se misturando com outros conceitos na
são realizadas (inclusive usando instrumen- vida prática de intervenções organizacionais.
tos oriundos de Rummler e Brache [1990])
para basear as intervenções de alinhamento Para concluir essa breve introdução sobre a
e otimização dos processos na organiza- BSA, acrescentamos que cada autor propõe
ção. Finalmente, o TPS de comportamentos seu método de coleta das variáveis que

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COMPORTAMENTO Lívia Aureliano e Candido V. B. B. Pessôa
EM FOCO VOL. 5

baseiam as análises. Dos vários existentes, do Comportamento e a Teoria Geral dos


os mais didáticos talvez sejam o de Diener, Sistemas: “a análise de sistemas nos permite
McGee e Miguel (2009) e o de Malott (2003). viajar através da complexidade das organizações
Brethwoer (2006) fornece, além de uma e identificar comportamentos alvos que valem
série de perguntas que dirigem a coleta, a pena aprimorar para sobrevivência em longo
uma apresentação dos diversos autores em prazo; a análise do comportamento nos permite
que ele se baseou para a elaboração das per- implementar mudanças que aprimorem os de-
guntas. Ficará a cargo de cada um escolher sempenhos das pessoas e das organizações.” (p.
qual mais se encaixa às necessidades de cada 42). Com a introdução ao BSA apresentada
análise e intervenção. neste capítulo, procuramos mostrar como
a Análise do Comportamento, com foco na
Finalizamos resgatando o que Malott (2003) Análise do Comportamento Aplicada, pode se
aponta como uma grande força da BSA ao in- beneficiar de conhecimentos de outras áreas
tegrar duas áreas de conhecimento, a Análise do conhecimento para crescer e se renovar.

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52
COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

Habilidades de Líderes como Gestores Nayra Karinne Bernardes de Menezes 


PUC-GO
em uma Empresa do Ramo de nayrakarinne@hotmail.com

Agronegócio Ilma A. Goulart de Souza Britto


PUC-GO

Leadership Skills as Managers in a Company of


Agribusiness Industry

Resumo Abstract
O presente estudo teve como objetivo avaliar os com- This study aimed to evaluate the behavior and
portamentos e as práticas de liderança em busca de leadership practices in search results in a large
resultados em uma organização de grande porte do organization in the agribusiness sector. The research
ramo do agronegócio. A pesquisa caracterizou-se como is characterized as exploratory and the data were
exploratória e os dados foram tratados com estatística analyzed with descriptive statistics. The study
descritiva. Participaram do estudo 67 funcionários, included 67 employees, 26 leaders and 41 lead.
sendo 26 líderes e 41 liderados. Os dados foram cole- Data were collected through a semi-structured
tados por meio de um questionário semiestruturado e questionnaire and also a scale of leadership modes,
também uma escala de modos de liderança, contendo containing items in Likert five-point format with
itens no formato Likert de cinco pontos com infor- functional information. The results showed that the
mações funcionais. Os resultados apontaram que as activities carried out by the person with the task of
práticas exercidas pela pessoa com a função de liderar leading determined the tasks, the way it should be
determinavam as tarefas, o modo pelo qual ela deveria done to increase the quality of the service offered.
ser executada para aumentar a qualidade do serviço The data showed that in agribusiness companies the
oferecido. Os dados evidenciaram que em empresas person holding the leadership role becomes relevant
de agronegócios a pessoa que exerce a função de li- for the control of tasks and directing people led.
derança tem relevância para o controle das tarefas e
direcionamento de pessoas lideradas.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Comportamento Organizacional; Habilidades de Organizational Behavior; Leadership Skills; Agribusiness.


Liderança; Agronegócio.

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COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

INTRODUÇÃO do trabalho na economia, pois o desempenho


em um dado momento é determinado pelas
O primeiro estudo divulgado em Organization contingencias de reforço contingentes a exe-
Behavior Management (OBM) foi realizado por cução do trabalho.
O. Aldis, em 1961, com o título Of Piggeons and
Men (Dickinson, 2000). Aldis (1961) estendeu Com o conceito de comportamento operante,
os princípios e métodos operantes desen- Skinner (1953/2007) demonstrou que a cada
volvidos por B. F. Skinner para modificar o emissão de resposta, o organismo produz
comportamento de trabalhadores em organi- uma consequência que altera a probabilida-
zações empresariais. Desde então, os estudos de de emissão daquela resposta num futuro.
Skinner tem chamado a atenção de gesto- Quando isto acontece pode alterar a proba-
res, pois com as aplicações dos princípios e bilidade de o comportamento ocorrer nova-
métodos da analise do comportamento no mente. Justamente por esse motivo, Skinner
contexto empresarial os resultados apontam (1953/2007) estava interessado no estudo
para a efetividade dos resultados alcançados do comportamento que produz algum efeito
(Dickinson, 2000). no ambiente, aquele cuja consequência pode
retroagir sobre o organismo. Esse compor-
Em uma revisão dos estudos publicados entre tamento está na origem de grande parte dos
as décadas de 1950 a 1980, Dickinson (2001) problemas humanos e o interesse teórico por
assinala para a efetividade das pesquisas no ele é também por suas propriedades singula-
contexto empresarial ao constatar a influencia res e, principalmente, por sua sensibilidade
de obras de Skinner como Science and Human às consequências.
Behavior em 1953, The Science of Learning and
the Art of Teaching em 1954 e Teaching Machines O modelo de seleção por consequências
em 1958, na produção de resultados. Nestas (Skinner, 1981) oferece uma análise do papel
obras os gestores notaram a importância da do ambiente na determinação do compor-
instrução programada para ensinar os prin- tamento. No ambiente de trabalho, se um
cípios comportamentais básicos e, também funcionário realiza uma atividade bem feita
sugestões de como realizar o treinamento de e recebe um feedback positivo do seu superior
pessoas para o trabalho em empresas. imediato, este elogio aumentaria a proba-
bilidade deste evento, atividade bem feita,
Neste contexto, é que se faz valer o conjun- voltar a se repetir no futuro. Em relação aos
to de estratégias operantes propostas para a antecedentes (Skinner, 1953/2007) estava
avaliação, tratamento e análises de desempe- interessado nas condições ou eventos que
nho em organizações empresariais (Daniels, exercem efeitos sobre o comportamento, isto
1989; Gilbert, 1978). Importante destacar que é, nas condições sobre as quais o comporta-
Skinner (1953/1970) enfocou o controle eco- mento é alterado devido a uma relação entre
nômico e ofereceu uma análise sobre o com- as respostas e as consequências, o controle
portamento de trabalhar e o valor econômico de estímulos.

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COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

A partir destes pressupostos, pode-se afirmar ele contingente; e o reforçamento negativo


que desde o estudo de Aldis (1960) as refle- consiste no aumento na frequência de uma
xões de Skinner acerca dos determinantes do resposta por causa da remoção contingente
comportamento para o ambiente de traba- de um dado estímulo (Skinner, 1953/2007).
lho se fizeram presentes, visto que a OBM já
conta com mais de cinquenta anos. Dentre No modelo OBM a maioria dos comporta-
os autores que trouxeram contribuições para mentos pode ser medido, com isso é possível
as empresas através do modelo OBM, desta- controlar e mudar comportamentos dentro
ca-se A. C. Daniels. Daniels (1984) parte do das organizações. É necessário para isso, ve-
pressuposto que é possível conciliar pessoas rificar o evento antecedente e consequente
satisfeitas, um bom clima de trabalho e ex- à tarefa realizada, que para Daniels (1984),
celentes resultados em OBM o que tem sido esse modelo é chamado de ABC da mudança
aplicado largamente nos Estados Unidos e de comportamento. Sendo assim, é possível
mais recentemente no Brasil. entender o que mantém o comportamento,
baseando-se nas consequências do mesmo.
Em um trabalho com OBM, o analista do Então, após analisar as contingências é pos-
comportamento que trabalha em consultoria sível identificar o que mantém os comporta-
empresarial se fundamentará nos seguintes mentos indesejados e indesejados (Aureliano
princípios: (1) atribuição de responsabilida- et al., 2008).
des específicas, (2) mensuração de resultados,
(3) ênfase nos comportamentos, (4) trabalho Dentre as variadas possibilidades de aplica-
cooperativo, (5) definição de metas desafia- ção do modelo OBM, ele é particularmente
doras, porém possíveis de serem alcançadas, eficiente no que diz respeito ao alcance dos
(6) feedback imediato, (7) reforçamento posi- objetivos organizacionais, tais como a obten-
tivo, (8) análise da tríplice contingência, entre ção de lucros pela empresa, permanência no
outros conceitos fundamentais (Nery, 2012). mercado, satisfação dos acionistas e clientes,
produção de um ambiente de trabalho agra-
Conforme Daniels (1984), a maioria dos pro- dável, desempenho satisfatório dos colabo-
blemas de desempenho dentro da empresa radores, formas de gerenciamento efetivas,
pode oriunda da falta de disposição de con- entre outros (Nery, 2009).
tingencias reforçadoras para o empenho do
trabalhador. Neste contexto, o uso do refor- Nesta perspectiva, Brethower em 1982 (citado
çamento positivo é o mais poderoso elemento por Manwhinney, 1992) afirma que o sistema
de atuação sobre o desempenho de funcio- de intervenção OBM poderia ser explicado a
nários. Além do reforçamento positivo, existe partir da especificação, observação e admi-
também o reforçamento negativo, Skinner nistração de consequências contingentes à
o define o reforçamento positivo como o ocorrência de determinadas propriedades da
fortalecimento de uma resposta devido à resposta. Por meio deste sistema, é possível
apresentação de determinado estímulo a criar um ambiente de trabalho mais funcional,

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COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

mais produtivo, satisfazendo de forma ampla para inovar. Em outras palavras, ocupar cargo
os funcionários da empresa. de liderança e orientar equipes de trabalho é,
sobretudo, uma condição relacionada à dis-
É possível afirmar que os objetivos posição de contingencias para o bom ou mau
organizacionais podem ser alcançados a comportamento do trabalhador, seja aplican-
partir da aquisição de um novo repertório de do consequencias, seja dispondo condições
comportamentos considerados relevantes antecedentes, os comportamentos do líder
para a organização, de modo que haja a são fundamentais no processo de controle do
diminuição da frequência de comportamentos comportamento na empresa.
indesejados e o aumento da frequência de
comportamentos desejados, por meio de Por estilo de liderança entende-se o modo
repetições e treinamento das habilidades pelo qual um líder desempenha suas funções
necessárias na equipe, de modo que a mudança e como ele é notado por aqueles que ele tenta
esperada ocorra. liderar (Engstrom, 1976). O líder deve agir
de modo entusiasmado, otimista, motivado,
Um ponto essencial enfocado por Daniels participativo, além de pensar de equipe, saber
(1984) é o de que, para alterar o desempenho delegar tarefas e cobrar resultados. O líder
de uma equipe, é necessário mudar o que as que age de modo centralizador, que se irrita
pessoas fazem, qual seja mudar suas ações ou facilmente perde o respeito e não se mantém
atividades. Para Skinner (1953/2007) o padrão no mercado de trabalho.
de controle exercido por um líder forte, re-
flete muitas de suas idiossincrasias pessoais. Autores como White, Lippitt e White (1939)
Com efeito, investigar se a habilidade de lide- propõem que os modos de liderar podem ser
rar influencia os resultados alcançados pelas divididos em três estilos básicos: permissivo
organizações é tema relevante, uma vez que ou liberal democrático e autocrático. O estilo
os aspectos comuns que envolvem liderança do líder descrito como permissivo ou liberal
estão ligados a fenômenos grupais de pessoas, tipo laissez-faire. Nesse estilo não há estrutu-
um processo de relações recíprocas exercido ra ou supervisão, os membros definem seus
por líderes e seus liderados (Bergamini, 1994). próprios objetivos e padrões de desempenho;
o líder não tem autoridade, é apenas alguém
O padrão comportamental exigido para o de- a disposição, dá o mínimo de direção e o
sempenho de liderança, conforme Fleury em máximo de liberdade aos liderados (Marinho
2000 (citado por Dutra, 2008), implica: mo- & Oliveira, 2005; White, et al., 1939). Não dá
bilizar, integrar, transferir conhecimentos, ordens, não orienta os liderados.
recursos e habilidades, que possam agregar
valor econômico à organização e valor social O líder democrático pode ser considerado
ao individuo. Desta forma, pode-se afirmar líder e conselheiro, e tem um mínimo de au-
que a tarefa de liderar é desafiadora, pois toridade. As decisões são tomadas pelo grupo.
requer conhecimento, experiência e método No entanto, o líder oferece assistência, sugere

56
COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

e permite que flua a comunicação, com o ob- Local e Instrumentos


jetivo de esclarecer problemas e resolvê-los
coletivamente, assim, as políticas se tornam A pesquisa foi realizada em uma sala de
decisões coletivas. Esse estilo é próprio dos aproximadamente 30m2 de uma empresa do
líderes que acreditam que o modo de moti- ramo de agronegócio localizada no Distrito
var os outros é envolvê-los nas tomadas de Agroindustrial de Anápolis (DAIA), interior do
decisões e soluções de problemas (Marinho Estado de Goiás. Para coleta de dados foram
& Oliveira, 2005; White, et al., 1939). utilizados dois instrumentos: questionário
semiestruturado cujos itens focavam os pos-
Já o líder autocrático, com base em Marinho e síveis comportamentos que o líder adotaria se
Oliveira (2005) não estimulam a participação estivesse exercendo a função de liderar uma
do grupo em qualquer contexto. A supervisão equipe. O questionário para coleta de dados foi
é autoritária, questionamentos de ordens são elaborado pela primeira autora. O instrumento
considerados insubordinação. Nos negócios, possuía itens para os dados descritivos, cate-
esse estilo se concentra em regras e regula- goria profissional, experiência na empresa,
mentos. Os líderes concentram todo o poder tipo de trabalho executado, além de outras ati-
em si mesmo: acreditam que só eles sabem vidades. Nele também houve a contemplação
o que está acontecendo e, portanto são os de itens relacionados ao ambiente de trabalho
únicos capazes de tomar decisões acertadas. e relacionamento entre líder e liderados com
o uso de uma escala de estilos de liderança,

O presente estudo teve como objetivo le- democrático, autocrático e liberal. Os partici-

vantar os comportamentos e as habilidades pantes quantificaram os itens segundo o grau

de lideres em busca de resultados em uma de acordo com o trabalho de líder, em uma

organização de grande porte do ramo do escala de cinco pontos no formato de Likert

agronegócio. Importante esclarecer que esta com os itens: (1) sempre; (2) quase sempre; (3)

pesquisa caracterizou-se como exploratória raramente; (4) nunca e (5) não sei responder.

sendo que os dados foram tratados com es-


tatística descritiva. Procedimento

Após contatos prévios com a diretoria da em-


MÉTODO presa e obtenção da licença daquela instituição
os funcionários responderam ao questionário,
Participantes na forma de autoaplicação, individualmente
na sala, destinada para tal finalidade, na pró-
Participaram do estudo 67 funcionários, sendo pria empresa e na presença dos aplicadores. O
26 líderes e 41 liderados, lotados em diferentes tempo gasto pelo funcionário para responder
unidades da empresa, de ambos os sexos, cuja ao instrumento, variou de 15 a 20 minutos.
idade variou de 20 a 55 anos. Todos os partici- No caso de dificuldade no preenchimento dos
pantes possuíam nível superior de escolaridade. itens, o aplicador esclarecia a questão.

57
COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

Já a escala de estilos de liderança foi aplica- liderança adquire relevância para o controle
da na mesma sala da empresa, no período das tarefas e direcionamento de pessoas li-
de intervalos para descanso, na ausência do deradas. Discutiu-se que liderar pode ser uma
líder. Os liderados responderam a escala na habilidade única para garantir resultados com
presença dos aplicadores que esclareceram padrão de qualidade. Por se tratar de estudo
as dúvidas surgidas. Ao final dos trabalhos exploratório, recomendações práticas e suges-
os aplicadores agradeceram aos participantes tões para pesquisas futuras foram oferecidas.
pelas respostas.
Os resultados obtidos através do questionário
estruturado cujos itens focavam os possíveis
RESULTADOS comportamentos que o líder adotaria se es-
tivesse exercendo a função de liderar uma
Os resultados apontaram que as práticas exer- equipe, aplicado aos gestores, demonstraram
cidas pela pessoa com a função de liderar de- que, a liderança é tema que envolve relacio-
terminavam as tarefas, o modo pelo qual ela namento e desempenho. Os líderes se con-
deveria ser executada para aumentar a qua- sideraram em parte com comportamentos
lidade do serviço oferecido, bem como as de autocráticos, em parte com democráticos e
influenciar os liderados em relação à partici- alguns ainda um equilíbrio entre autocrático
pação de membros do grupo para a execução e democrático. Os dados mostram, portanto
dos trabalhos, seja o de equipe ou o individual. que o líder influencia o comportamento dos
membros de sua equipe, para que sejam exe-
Os dados evidenciaram que na empresa in- cutadas as demandas que necessitam serem
vestigada a pessoa que exerce a função de realizadas, conforme tabela abaixo.

Categorias Respostas aos instrumentos


Selecionadas

“Os líderes tanto impõem suas ordens, quanto conduzem, orientam e incen-
Performance
tivam a participação da equipe, sendo capazes de liderar e exercer influên-
de líder
cia, propiciando um ambiente seguro para os todos nós”.

Acompanhamento “Eles avaliam o desempenho e habilidades na realização das tarefas, influen-


do líder ciando positivamente no nosso resultado”.

“Quando o líder exerce autoridade o funcionário se sente retraído, não


tendo oportunidades de mostrar suas ideias, pois o líder usa o poder sobre
Líder autocrático
a equipe que acaba não executando as tarefas com ênfase, mas nessa em-
presa quase não há casos”.

“Em minha opinião os colaboradores têm abertura para participar das toma-
das de decisão em seus setores e são reconhecidos através de elogios pela
Líder democrático competência do trabalho que realizam”.
“Recebemos treinamento e orientações de tudo que precisa ser feito, con-
forme as orientações do nosso gestor”.

58
COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

Os resultados mostraram que o comporta- comportamento das pessoas em relação ao


mento do líder na visão dos liderados, trans- que é desejável possível e necessário.
fere de forma clara e simples os objetivos e
as metas de trabalho aos colaboradores: é Assim a importância de uma pessoa que lidera
um bom ouvinte, pois se mostra disponível de modo eficaz não pode ser subestimada, pois
quando solicitado e tem equilíbrio, sabendo o uma empresa que tenha falta de líderes tem
que fazer, sem perder a tranquilidade, como pouca oportunidade de sobreviver. Exercer
estilo de líder democrático. Desta forma, po- a função de liderar deve estar cada vez mais
de-se confiar nele em qualquer emergência ao presente no contexto das equipes. As equipes
incentivar a participação do grupo nas toma- estão sendo introduzidas no mundo inteiro
das de decisão. Em contrapartida, a maioria como meio para aumentar a produtividade, a
dos colaboradores afirma que o líder é quem qualidade e a satisfação do trabalhador.
determina as tarefas e técnicas para execu-
ção das mesmas demonstrando um estilo de
liderança autocrático. DISCUSSÃO
Os colaboradores avaliam ainda que seja reco- Os dados do presente estudo apontam que na
nhecido pelos seus líderes através de elogios empresa investigada, a presença de pessoas
pela competência do trabalho que realizam. que exercem a função de liderar se tornou
Assim foi possível notar o uso de reforçamen- importante, dada a relação de proximidade
to positivo para manter os comportamentos no controle dos comportamentos e motiva-
desejados na empresa. Nota-se ainda que na ção dos funcionários para a realização das
empresa, a realização das tarefas era condu- tarefas. Observa-se que na empresa estudada
zida pelo líder: este mostrava como desem- encontraram-se líderes que se comportam
penhar e orientava os esforços dos liderados de modo autocrático (e.g., controle absoluto
para o alcance de objetivos comuns. e autoritário sobre o grupo) e democrático
(e.g., ajuda o grupo a tomar decisões). Tais
Qualquer que seja o estilo do líder é ele quem modos de relacionar se tornam importantes,
dita o ritmo para os outros membros da em- podendo influenciar as reações dos colabora-
presa. Seu estilo é questão de considerável dores, no sentindo de aumentar a qualidade
interesse para os funcionários de todos os do serviço quando, ao mesmo tempo em que
níveis, e uma importante variável de deter- o líder determina as tarefas e técnicas para
minação de quanto os funcionários estarão sua execução, mostra disponibilidade para
comprometidos com a missão, os valores e ouvir e permite a participação do colabora-
os objetivos da organização e vão se esforçar dor nas tomadas de decisão. Para a empresa
para programar suas estratégias. A influência pesquisada se faz importante o controle dos
que um líder exerce no estabelecimento dos comportamentos para a realização das ati-
objetivos, na determinação da direção que o vidades, bem como instruções para execu-
negócio deve seguir, resulta na mudança no tá-las, devido a complexidade das mesmas.

59
COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
EM FOCO VOL. 5

Observa-se que as pessoas lideradas, em sua de atribuição de cargos. Este estilo de lideran-
grande maioria, consideram os seus líderes ça, que predomina na empresa, contribui para
democráticos, assim observou-se que esse é o o desempenho da organização, pois por meio
estilo de liderança predominante na empresa, dele os líderes conseguem ser mais do que
ou seja, para os colaboradores as diretrizes chefes, conseguem ser gestores participativos,
são debatidas e decididas pelo grupo, que é e assim alcançam a contribuição dos subordi-
estimulado e assistido pelo líder. O resultado nados e consequentemente os resultados or-
em parte é compatível com o ponto de vista ganizacionais desejados, contribuindo também
dos gestores da organização, onde metade se para a solidez da empresa no mercado.
avaliou como autocrático e a outra democrá-
tico. O estilo autocrático para os gestores está A partir dos resultados do presente estudo,
mais relacionado à condução das tarefas a observa-se que os gestores colocam em suas
serem executadas, definindo as providências práticas as estratégias do estilo de liderança
e técnicas para a realização das mesmas, do democrática, visto que foi possível notar nas
que a uma liderança imposta. respostas de alguns entrevistados que existe:
a ênfase nos comportamentos, operações de
O estilo predominante na mesma é caracteri- reforçamento, atribuição de responsabilidades
zado pelo direito dos liderados a opinião nas específicas, mensuração de alguns resulta-
decisões e por usar o envolvimento do grupo dos, trabalho cooperativo, definição de metas
no estabelecimento de seus objetivos básicos, a serem alcançadas, feedback imediato, con-
estabelecimento de estratégias e determinação forme literatura acima descrita.

Referências
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COMPORTAMENTO Nayra Karinne Bernardes de Menezes e Ilma A. Goulart de Souza Britto
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Vol.10, 269-308.

61
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Uma Leitura sobre as Estratégias Maria Vanesse Andrade


PUC-SP
Publicitárias em Blogs Femininos vane02lp@yahoo.com.br

de Moda

A Reading on Advertising Strategies of


Female Fashion Blogs

Resumo Abstract
O presente artigo buscou investigar as estratégias para This paper aims to investigate promotion strategies
divulgação de produtos e serviços em blogs femininos of products and services in female fashion blogs
de moda, a partir dos princípios teórico-metodoló- from the theoretical and methodological principles
gicos da Análise do Comportamento. Como amos- of Behavior Analysis. The blogs Garotas estúpidas,
tra, selecionamos os blogs – Garotas estúpidas, Super Super Vaidosa and Fashionismo were selected as
Vaidosa e Fashionismo. Resultados indicaram a cons- sample. Results indicated constant description of
tante descrição de reforço social (reforço informativo) social reinforcement (informative reinforcement) for
para as leitoras/seguidoras empenhadas na imitação readers/followers engaged in imitation of behaviors
dos comportamentos propostos pelos blogs, ao passo proposed by the blogs, while it is not observed the
que não é observada a mesma ênfase para o custo same emphasis on the cost of items disclosed and
dos itens divulgados e valor de uso efetivo (reforço effective use value (utility reinforcement). Rules and
utilitário). O uso de regras e modelação está entre as modeling are among the most commonly applied
estratégias mais comumente aplicadas, além da in- strategies, and the inclusion of celebrities in posts
serção de celebridades e postagens sugerindo novos suggesting new behavioral models of usage, described
modelos comportamentais de uso, descritos como as trends in postings on blogs.
“tendências” e “lançamentos” nos blogs.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Análise do comportamento; Estratégias publicitárias; Behavior analysis; advertising strategies;


Blog feminino de moda. Female fashion blogs.

62
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Introdução que tais mídias podem atuar como dissemi-


nadoras de modelos de comportamentos para
O advento da internet modificou a forma o respectivo público-alvo.
como as pessoas e sociedades têm construído
relações, bem como o modo de informar-se, Com a investigação de estratégias publicitá-
procurar, selecionar e consumir bens e ser- rias em blogs femininos de moda, buscou-se:
viços. Com tantas possibilidades, a publici- (1) analisar brevemente como o formato
dade precisou adaptar-se ao mundo virtual blog passou a ser um empreendimento para
com seu dinamismo e diversos formatos de o mercado de moda; (2) apresentar breve-
interação: e-mails, fóruns, redes sociais e mente uma possibilidade de leitura desse tipo
também através dos blogs, esses, objeto de de blog a partir de conceitos da Análise do
estudo deste trabalho. Comportamento; (3) analisar, sob o viés ana-
lítico-comportamental, algumas das princi-
A proposta deste artigo foi realizar uma aná- pais estratégias publicitárias presentes nos
lise das estratégias utilizadas em blogs fe- blogs; e (4) discutir os principais aspectos
mininos de moda para a divulgação de bens dos blogs femininos de moda em relação às
e serviços. Para isso, partiu-se dos pressu- ferramentas observadas.
postos do Behaviorismo Radical e da Análise
do Comportamento de Skinner (1981), ele-
mentos dos estudos de Foxall (1990, 2005) Método
sobre o comportamento do consumidor, além
de trabalhos envolvendo a análise de blogs Para o estudo das estratégias utilizadas nos
de moda como Medeiros, Ladeira, Lemos e blogs femininos de moda, optou-se por re-
Brasileiro (2014), Laruccia (2014) e o estudo gistrar as postagens analisadas. Foram sele-
de blogs em uma perspectiva comportamen- cionados três importantes blogs de moda do
tal com os trabalhos de Wang (2008, 2013). país para a coleta de dados – Garotas estúpidas
(GE), Super Vaidosa (SV) e Fashionismo (F) –
A escolha da temática acerca dos blogs de os quais foram acompanhados uma vez por
moda reside no interesse da autora em inves- semana, pelo período de um ano, entre os
tigar o crescimento dessas mídias, enquanto meses de junho de 2014 e junho de 2015.
espaços extremamente fluidos e relevantes
em termos de informação sobre moda na Os blogs foram selecionados por constarem nas
contemporaneidade. Este estudo tem sua listas sobre os mais influentes blogs de moda
relevância ao propor uma discussão sobre a do Brasil e por serem apontados como os mais
popularização dos blogs femininos de moda acessados de acordo com o buscador on-line
no contexto da internet e das mídias sociais, Google. Além disso, a escolha ocorreu com base
evidenciando tais mídias como importantes em 4 fatores: (1) conteúdo completamente di-
meios na divulgação de produtos e serviços recionado para moda em segmentos variados
na atualidade e, ao mesmo tempo, entende – roupas, acessórios, cobertura de desfiles,

63
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

campanhas publicitárias; (2) elevada quanti- do comportamento: filogênese, ontogênese


dade de seguidores no próprio blog e demais e cultura.
redes sociais (ex. Twitter, Facebook, Instagram);
(3) estar há mais de dois anos atuante nesse Com a internet, as relações entre as pessoas
tipo de atividade; (4) participação frequente em foi modificada e também a forma como estas
campanhas publicitárias de grandes marcas e têm se relacionado com os bens de consumo,
em desfiles internacionais de moda. sobretudo no modo como coletam informa-
ção sobre produtos, serviços, ideias etc. Por
O acompanhamento foi realizado a partir de isso mídias sociais como os blogs podem ser
um registro, com os seguintes campos: data importantes objetos de estudo para o analista
da postagem; título; tema principal; publi- do comportamento. Dentre os atuais traba-
cidade implícita e/ou publicidade explícita; lhos de base comportamental no âmbito dos
principais estratégias de divulgação. O re- blogs, destacam-se os trabalhos de Wang
gistro reuniu mais de 475 postagens. Para (2008, 2013). Em ambos os estudos o foco
os limites deste artigo, elegeu-se de um a da autora é a análise das interações verbais
dois posts sobre os temas mais frequentes entre os principais participantes de um blog,
nas publicações, organizados em quatro ca- ou seja, autor(es) e leitor(es).
tegorias: look do dia, tutoriais, celebridades
e tendências/novo. Em relação aos blogs femininos de moda,
pode-se dizer que o sucesso guarda relação
com o fato de que mesmo com a crise15, o
Os blogs femininos de moda mercado de moda no Brasil como um todo,

sob o viés da Análise do bem como as vendas e-commerce crescem.


Segundo dados do site E-commerce news, o
Comportamento mercado de moda no Brasil está em cresci-
mento e a indústria têxtil possui uma im-
Em qualquer estudo sobre o comportamento portante participação na economia do país.
humano, o analista do comportamento sabe No contexto brasileiro, o ler blogs merece
que, em última instância, o comportamento atenção particular. De acordo com Medeiros
é multideterminado. Segundo Skinner (1981), et al. (2014), os blogs brasileiros têm rece-
muitas variáveis entram em jogo para o con- bido atenção mundial: em 2014, na última
trole do comportamento, entre as quais, a lista do ranking mundial dos 99 blogs mais
história ambiental e o ambiente imediato. influentes, publicada pelo Signature16, foram
O autor aponta três grandes determinantes listados sete blogs brasileiros. Laruccia (2014)

15 Dados do Site E-commerce News. Disponível em: http://ecommercenews.com.br/noticias/balancos/e-commerce-de-moda-


-preve-crescimento-mesmo-com-desaceleracao-de-mercado.

16 Portal de tendências e estilo SIGNATURE 9. The 99 most influential fashion and beauty blogs. Disponível em: http://www.signa-
ture9.com/style-99#rankings. Acesso em: 29 Jun. 2014.

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

exemplifica bem como o comportamento de sobretudo com as classes escrever, ler e in-
compra pode estar sob controle de um post terpretar. Os textos virtuais, assim como várias
publicitário bem elaborado em um blog: outras modalidades escritas, objetivam pro-
mover um canal de comunicação entre o fa-
A leitora gera o efeito multiplicador de infor- lante e o ouvinte, neste caso, o autor do blog e
mações e marketing gratuito para as empresas, seus leitores-seguidores, de forma dinâmica e
no qual divulga as informações sobre determi- instantânea independentemente da distância.
nado produto que utilizou, sendo eles positi- Infere-se que é essa forma de comunicação que
vos ou negativos. Dessa forma, as empresas de mantém os acessos ao blog em alta frequência,
cosméticos ficam vulneráveis a opiniões, de fazendo com que obtenha sucesso e patrocínio,
modo que as informações divulgadas nestas
o que mantem o comportamento do autor do
mídias possam alavancar as vendas ou denegrir
blog em continuar atualizando o site.
a imagem do produto de determinada empresa,
exemplo disso foi o sucesso do batom Snob da
Analistas do comportamento entendem o
marca canadense MAC, que graças à divulgação
comportamento verbal como um compor-
maciça em blogs brasileiros se tornou sucesso
de vendas de forma a se esgotar durante meses
tamento operante, e como tal, aprendido e
no Brasil. (Laruccia, 2014, p. 2) mantido pelo contato com a respectiva comu-
nidade verbal. Baum (2008) alerta para o fato
Partindo do exposto, o escrever e o ler blogs é de que todo comportamento verbal pode ser
uma prática possível graças ao entrelaçamen- chamado de comunicação, mas nem toda co-
to de contingências às quais estão expostos municação seria um comportamento verbal.
blogueiros e leitores. Atividade cotidiana, até Isso porque a “comunicação” ocorre quando
então situada entre o aspecto “particular” do o comportamento de um organismo produz
antigo diário (a própria palavra Blog deriva estímulos que afetam o comportamento de
da contração do termo em inglês Web Log, que outro organismo. Além disso, segundo Matos
poderia ser traduzido como diário da Web) e (1991), a história de vida e de aprendizagem
a ultraexposição proposta na rede social. O deve ser considerada.
escrever em blogs destaca-se na contempo-
Esta relação é por sua vez controlada por um
raneidade como um meio tanto para interação
contexto social mais amplo, um quadro auto-
entre usuários quanto para demonstração/
clítico, no qual se insere uma parte da história
venda/exposição de ideias, produtos e serviços.
passada dos dois atores, a qual é compartilhada
por ambos (e onde têm papel importante os
Desse modo, a abrangência – em termos de
operantes discriminativos verbais). Estas ver-
acessos, permanência e reinvenção – eleva balizações, atuando agora como discriminati-
o blog à condição de importante ferramenta vos para o ouvinte, afetam o comportamento
na divulgação publicitária. deste. Estes efeitos sobre o comportamento
do ouvinte atuam seletivamente sobre aquela
O blog, assim como outras ferramentas vir- classe de operante verbais do emitente, modi-
tuais, se apoia no comportamento verbal, ficando-a. (Matos, 1991, p. 333)

65
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

A forma como nos relacionamos atualmen- não comprar, escolher, determinar a forma
te com blogs e seus formatos tem relação de pagamento, avaliar etc.). Nesse tipo de ce-
direta com a forma como verbalmente estes nário, o consumidor pode expor-se a quase
espaços foram se modificando e sendo disse- todos os aspectos das contingências sob as
minados culturalmente. Assim, a nova visão quais pode ocorrer a resposta de consumir,
de blogueiras de moda, como formadoras de e isto indica que o indivíduo pode respon-
opinião sobre moda pode ser entendida a der com maior autonomia. O oposto ocorre
partir da maneira como estas vêm lidando em cenários fechados, os quais podem ser
verbalmente com o assunto: o look do dia, caracterizados como contextos em que há
a aproximação de patrocinadores ligados a uma quantidade restrita de alternativas para
marcas famosas, os textos construídos para respostas de consumo, ou seja, as respostas
disseminar um estilo de vida ligado ao glamour, de consumo possíveis são poucas e pré-de-
seguidores influentes sobre o tema etc. terminadas, não havendo, na maioria das
vezes, possibilidade de variação nem mesmo
Conforme Wang (2008, p. 20), assim como topográfica do responder. São cenários em
“leitores são reforçados por ler ou ouvir no- que as ações autônomas por parte do consu-
tícias que sejam consistentes com as próprias midor são bastante limitadas e este é exposto
histórias de reforçamento”, pode-se dizer, a contingências de consumo cujos arranjos
com base na autora, que o mesmo processo são programados normalmente por outras
também ocorre nas mais diversas formas/ pessoas (Foxall, 1990, 2005).
gêneros e meios de manifestação do com-
portamento verbal escrito no meio virtual. O modelo também analisa o comportamento do
consumidor de acordo com as consequências,
O comportamento de escrever e ler blogs de que podem ser utilitárias ou informativas
moda pode também ser analisado segundo o (Foxall, 1990, 2005). As consequências in-
Behavioral Perspective Model (BPM). O modelo, formativas são simbólicas, de origem social.
fundamentado no behaviorismo radical, desta- Elas se referem à aprovação de certos com-
ca o efeito das variáveis do contexto ambiental portamentos, através do ambiente social,
em que ocorrem as relações de consumo e por semelhante ao conceito de reforço social. As
isso busca nos princípios de aprendizagem do consequências utilitárias relacionam-se com
comportamento operante os elementos para a questões ligadas ao valor e à funcionalidade
análise funcional do comportamento do con- literal do produto.
sumidor (Foxall, 1990, 2005).
Para Perez e Bairon (2002), as novas mídias
No BPM, cenários abertos são definidos como têm um valor primordial a curto prazo, prin-
aqueles com grande número de alternativas cipalmente em termos de marketing, pois
para respostas de consumo, em que diver- elas permitem uma enorme inovação tec-
sas respostas características do consumir nológica e diferenciação frente ao mercado
são possíveis (pesquisar, procurar, comprar, e seus concorrentes.

66
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Quando se trata da relação entre consumo e Análise das estratégias


moda feminina, os blogs de moda apresentam
publicitárias em blogs
uma ligação direta com assunto. Eles se de-
dicam a discutir assuntos como beleza, ten- femininos de moda
dências, maquiagem e logicamente, moda, e
vem crescendo e adquirindo espaço além da O primeiro post analisado é do blog (GE)
Internet. Os blogueiros, como são chamadas
(Figura 1). No contexto de apresentação,
as pessoas que os escrevem, tem primeira fila
Camila Coutinho indica “12 ideias de look
garantida nos principais e mais concorridos
para usar em Fernando de Noronha”. Nota-se
desfiles, são convidados para escrever maté-
um sutil pareamento de produtos que reme-
rias em grandes revistas e podem ser vistos
tem a tempo livre/férias com os momentos
até mesmo estrelando campanhas de moda.
(MEDEIROS et al., 2014, p. 07).
agradáveis descritos pela blogueira: pôr do
sol, jantar, mergulho etc. Não é difícil notar
Compreendendo que os comportamentos de a indicação de um restaurante e de uma de-
consumir, na era da internet, são mediados terminada marca de patins organizadas ao
pelo ler/escrever/interpretar são aprendidos, lado do frame. Cada momento – narrado e
entende-se que um blog de moda pode ser fotografado – é acompanhado pela indica-
analisado como um cenário peculiar para ção da marca escolhida para o look, grafa-
aprendizagem de comportamentos relativos da em vermelho. Há certa sutileza no modo
ao consumo. como a autora inclui a publicidade nas fotos.

Figura 1. Looks para inspirar.

Fonte: Blog Garotas Estúpidas, postagem de 08 de Janeiro de 2015 e Blog Super Vaidosa, postagem de 16 de Junho de 2014.

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Visitar/aproveitar um local deslumbrante dia” é uma forma de post com elementos pu-
“pede uma vestimenta”, e o blog, referência blicitários, geralmente inseridos na rotina da
em dicas sobre o que vestir, apresenta os dois blogueira, que indica ao público leitor como
de modo articulado. ter o “lifestyle” de uma garota “descolada”,
mesmo no dia-a-dia.
O segundo post, também inclui produtos em
um evento do cotidiano, em “Look de ca- Os posts “Por que nosso make não fica igual
samento: longo estampado” (Figura 1). A ao de um maquiador profissional” e “Cirurgia
blogueira Camila Coelho, destaca que esco- com make: contorno e iluminado” (Figura 2),
lheu a roupa pela ocasião da primavera nos referem-se a dicas em formato de tutorial17
Estados Unidos e por se tratar de uma ceri- destinadas a ensinar uma “make profissional”,
mônia durante o dia. A postagem como um “cirúrgica”, aos(às) leitores (as)/seguido-
todo se resume às fotos do vestido, em que se res(as). No primeiro, em forma de texto e com
destacam os aspectos descritos pela autora: imagens que remetem aos bastidores de um
a leveza, as cores e o luxo. Ao final ela cita a desfile, Camila Coutinho explica os segredos de
fonte do vestido e joias utilizadas. A proposta uma maquiagem perfeita. Para isso, o texto se
aqui foi a mesma do post do blog (GE): o pare- apoia na opinião de profissionais do ramo, que
amento de produtos em um evento cotidiano, indicam o treino, o uso de bons produtos e boas
em que o modelo comportamental cita apenas marcas. No segundo, Camila Coelho explica
os aspectos informativos do uso. O “look do todos os detalhes das técnicas de maquiagem

Figura 2. Tutoriais sobre Maquiagem.

Fonte: Blog Garotas Estúpidas, postagem 05 de Junho de 2014 e Blog Super Vaidosa, postagem de 17 de Outubro 2014.

17 Originalmente, o termo tutorial refere-se a um tipo de estratégia de ensino/aprendizagem, realizada tanto um programa de
computador quanto um texto. No contexto dos blogs femininos os tutoriais se popularizam explicando sobre o uso de certos
produtos. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tutorial

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

“contorno” e “iluminado”. Em ambos os probabilidade de que o consumidor venha a


posts, há a ocorrência de descrições verbais comprá-lo (operação evocativa).
como regras em: “coloque os dedinhos pra
funcionar: busque indicações de maquiadores As regras nos tutoriais dos blogs de moda pos-
queridos, procure por linhas profissionais”; sibilitam que o(a) leitor(a) saiba sobre os passos
“os segundos que você economiza deixando de básicos, produtos e técnicas adequados antes
lavar e hidratar o rosto com produtos indica- de iniciar o processo de maquiagem. Porém,
dos para a sua pele fazem o make durar bem para que se consiga realizar “com perfeição”,
menos e ainda colaboram para uma pele mais é necessário que o seguidor do blog pratique,
oleosa – pular o primer então, nem pensar!” ou seja, que seu comportamento passe ao con-
(GE) e “E o ideal gente é que o corretivo seja trole por contingências e não apenas regras
no mínimo um tom mais claro que o da sua verbais. A própria blogueira do GE destaca isso
pele, pra dá essa iluminada” (SV). quando cita a falta de “experiência” como a
primeira razão pela qual a maquiagem feita
Para Baum (2008), um comportamento é em casa não é como a profissional.
governado ou controlado por regras quando
existe um estímulo discriminativo verbal regra Para Skinner (1982), as regras são úteis
que controla o comportamento de um ouvinte. pela sua possibilidade de serem transmi-
Catania (1999) entende o comportamento go- tidas através de estímulos discriminativos
vernado por regras como a tendência das pes- de uma determinada cultura que as julga
soas a seguirem instruções umas das outras. eficientes para o comportamento dos seus
Para este autor, a aprendizagem, portanto, respectivos membros. A produção de regras
além de resultar do contato com as contingên- e sua transmissão são importantes porque,
cias, ocorre também pelo seguimento de regras segundo Andery (2003), se vários compor-
e ambas estão intimamente relacionadas. tamentos que aprendemos a partir de regras
fossem aprendidos unicamente pela expe-
De acordo com Zyman (2003), a publicida- riência pessoal, demorariam muito mais
de deve dar ao consumidor uma razão para tempo para serem adquiridos. Nesse sen-
o comprar. Para o autor, a publicidade tem tido, seguir um tutorial e suas regras sobre
função motivacional, o que a ligaria ao con- um tipo de maquiagem é mais fácil por já
ceito de operações estabelecedoras. É neces- haver uma descrição do que deve ser feito.
sário que o produto anunciado e demonstrado
possua um valor de uso a quem se destina. Na publicidade diluída nos tutoriais e posts
Desse modo, a publicidade precisa fazer com dos blogs, as regras têm lugar de destaque. Ao
que o bem anunciado pareça ter esse valor. descrever as contingências, a peça publicitária
Ainda com base no autor, pode-se dizer que torna-se mais eficaz ao instalar, naquele que a
a publicidade vem com o objetivo de exercer recebe, o comportamento de compra. Pode-se
a função de aumentar o valor reforçador do inferir que, através do ler e interpretar (com-
produto (operação estabelecedora) e elevar a portamento verbal) é possível ao leitor(a)

69
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

discriminar quais respostas dará acesso aos tanto em relação ao tutorial de maquiagem
reforçadores descritos pelas blogueiras. quando a recomendação sobre onde, em que
contexto, deve ocorrer a resposta de compra.
Há também nos posts a apresentação de mo-
delos comportamentais para a execução da Por meio da modelação, a espectadora dos
“maquiagem perfeita” e a indicação direta blogs de moda tem acesso à aprendizagem de
dos produtos corretos para a finalidade. respostas com topografias muito específicas
Compreendendo o processo de modelação e refinadas, sem precisar se expor necessa-
como a apresentação de um comportamento riamente à aprendizagem via tentativa e erro
a ser imitado, percebe-se que este recurso está caso fosse tentar aprender sozinha a fazer
presente em todas as postagens analisadas maquiagens e combinações de roupa espe-
no artigo. No vídeo, enquanto fala sobre suas cíficas. Nesse contexto, o “erro” geralmente
técnicas de maquiagem, a blogueira Camila leva a custos financeiros e críticas de colegas,
Coelho relata: “Eu amoooooo e pra mim uma e tais custos e críticas podem funcionar como
pele bem feita precisa desse jogo de luz e fortes aversivos. Os modelos – neste caso, as
sombra (...). Depois da base eu gosto de passar autoras do blog – fornecem informação sobre
o corretivo. Eu vou usar o meu corretivo ilu- o comportamento (por meio de publicações
minador da Nars que é o que eu gosto mais, pagas e respaldadas pelos patrocinadores), e
pra, principalmente uma pele noite” (SV). As os seguidores do respectivo blog, por sua vez,
verbalizações e a maneira como a blogueira podem usar esta informação para orientar
demonstra os produtos, enaltecendo suas o próprio comportamento. Acredita-se que
qualidades a partir do ensinamento do contor- tanto o aumento da frequência de acessos ao
no-iluminado, compõem, em última análise, blog quanto a extinção da resposta (de acesso)
uma série de modelos de comportamentos a servem de parâmetros para o canal em reor-
serem imitados, apresentados a cada descri- ganizar-se enquanto mídia publicitária.
ção verbal. Além disso, a própria entonação e
performance animada durante a exibição dos Além disso, sabemos que as características
produtos podem funcionar como autoclíticos. de um modelo fazem diferença no processo
de modelação (Carneiro & Medeiros, 2007).
É possível inferir que o blog propõe uma Se o público-alvo do blog admira, respeita
aproximação entre o comportamento de ou gosta do modelo – neste caso, as bloguei-
maquiar-se e as marcas publicizadas pelo post ras –, seja pelo status, pelo sucesso ou por
(publicidade implícita), ou seja, o ler/ assis- qualquer outro motivo, é provável que o se-
tir, o imitar e o comprar. Sobretudo porque guidor(a) aumente a frequência de acessar o
ao final do vídeo, Camila Coelho aponta para blog e provavelmente aumente a frequência
o texto “lojas que recomendo” (publicidade de imitação dos comportamentos (maquiar-se
explícita). A blogueira ainda diz: “Espero que “melhor”, vestir-se “bem” , frequentar
gostem e não tenham medo de se jogar”, isto “certos” ambientes, comprar e consumir pro-
é, que o público siga adequadamente as regras dutos e ideias semelhantes à autora do blog).

70
COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Como o modelo tem valor reforçador, quase Apesar de serem mantidos por pessoas in-
tudo o que faz adquire função de estímulos fluentes no âmbito de moda, eventualmente
reforçadores, em decorrência do emparelha- os blogs fazem uso de outras celebridades em
mento modelo-reforço (Carneiro & Medeiros, suas postagens como estratégia de promoção
2007). Em termos comportamentais, a blo- publicitária. Dentre os blogs analisados, o (F),
gueira demonstra o reforçamento que a uti- de responsabilidade de Thereza Chammas, é
lização de determinado produto pode trazer. o que mais se utiliza do recurso. Mesmo com
Por isso, a modelação é eficaz na publicidade. a estratégia de usar personalidades famosas,
os links “Celebs” e “Red carpet” são dedi-
Para Baum (2008), o desenvolvimento da cados exclusivamente às celebridades. Elas
cultura provavelmente não seria possível sem são tema de looks da semana, estilo de vida
a imitação. A imitação oferece vantagens rá- e divulgação de produtos específicos, tanto
pidas à sobrevivência da espécie. Segundo o no uso de determinadas marcas, quanto no
autor, a modelação consiste em um dos meios licenciamento de algumas delas. Como é o
mais eficazes na transmissão de novos com- caso do post sobre os esmaltes assinados por
portamentos. No contexto daqueles que têm Olívia Palermo – personalidade televisiva e
o universo da moda como um espaço de re- famosa socialite norte-americana.
forçamento, os que imitam têm mais chances
de serem socialmente reforçados por com- Segundo Carneiro e Medeiros (2007), na pers-
portarem-se em conformidade com o que é pectiva comportamental, celebridades fun-
proposto pelos blogs. De acordo com Skinner cionam como estímulos discriminativos, si-
(1953/2000), “comportar-se como os outros nalizam que o comportamento da celebridade
se comportam tem grande probabilidade de é reforçado durante a mensagem publicitária
ser reforçado” (p. 341). Os tutoriais, o look na qual o comportamento é alvo. Tal recurso
do dia, as compras do mês etc., são gêneros busca promover, segundo os autores, um pro-
pelos quais os blogs femininos de moda sutil- cesso de identificação com a personagem que
mente inserem modelos e regras no cotidiano se torna porta voz da peça publicitária, uma
dos(as) leitores(as). vez que a técnica procura transferir alguns
atributos da celebridade para o produto, atra-
As blogueiras na atualidade dispõem de fama, vés do emparelhamento de estímulos.
protagonizam campanhas de grandes redes
de marcas, são convidadas por programas de Por esse aspecto, a identificação é de extrema
televisão e aparecem em revistas femininas valia para a propaganda, pois se o leitor(a)/se-
de renome. Eram pessoas antes desconheci- guidor(a) da postagem conseguir identificar-
das que através do blog adquiriram uma po- -se com aquela que aparece usando o produto
sição de prestígio e reconhecimento midiático e se puder imaginar-se em situação similar,
comparável ao de demais profissionais do então é provável que a publicidade tenha mais
ramo artístico e, por isso, são consideradas impacto na ocorrência do comportamento
pela grande mídia como celebridades. de compra. Em termos comportamentais, a

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

identificação ocorre quando o indivíduo dis- inglesa  Ciaté (lembram dos esmaltes de


crimina no modelo (celebridades, blogueiras) caviar?) e nesse mês ocorreu o lançamento
certas características que também pode vir a oficial. E se tem nome de Olivinha, eu desejo,
observar em si mesmo. Desse modo, segundo porque sim, sou influenciável” (F. grifos da
Silva (2011), o comportamento do indivíduo autora).
pode passar a ser controlado por reforçadores
que mantêm o comportamento do modelo. Se O emparelhamento de estímulos efetuado
um ator ou personagem (que tem função de neste tipo de postagem visa apresentar um
modelo) tem o comportamento reforçado por estímulo e logo após o outro, que controla
um produto/marca/serviço em uma propa- uma determinada resposta. O processo de
ganda, o produto pode passar a exercer função condicionamento se dá pela repetição do pro-
reforçadora sobre o comportamento daquele cedimento, fazendo com que aprendamos um
a quem a mensagem publicitária é dirigida. novo comportamento (Carneiro & Medeiros,
2005). A celebridade escolhida é reconheci-
É o que ocorre na postagem do Blog (F), Figura da no mundo da moda como referência de
3, quando Thereza Chammas chancela que beleza e elegância. Ao lado de sua imagem,
“A maior it girl da nossa geração acaba de além da descrição atenta dos benefícios dos
lançar um esmalte com nome próprio! No esmaltes, a autora descreve uma série de pro-
início do ano, Olivia Palermo foi anunciada dutos que Olívia Palermo supostamente usa
como diretora criativa convidada da marca para a manutenção de seus atributos de bela.

Figura 3. Os esmaltes de Olívia Palermo

Fonte: Blog Fashionismo, postagem de 10 de Junho de 2015.

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

Apesar de citar que um dos produtos é o hit aquela cultura” (p. 254). O normal em relação
das ricas – único momento em que a autora aos blogs é o manter-se na moda, descartar
atenta para o valor do produto e denota uma velhos modelos e seguir novos.
consequência aversiva para o leitor(a) do post
– todo o restante do texto é voltado para as As descrições verbais exploram as caracterís-
consequências informativas tanto dos esmal- ticas dos lançamentos: marca, tipo de produ-
tes quanto dos demais produtos. to, vantagens, para que serve etc. “Depois de
passar o verão todo usando sandálias (...) che-
Outra estratégia observada é a divulgação de guei a conclusão de que preciso de mais opções
bens em forma de lançamentos e tendências desse último modelo! Também conhecidas
(Figura 4). O anúncio do produto novo nos como slinder sandals, elas são super práticas
blogs é acompanhado de uma série de descri- de usar e dão charme a qualquer look. Desde
ções que sinalizam reforços positivos quando as mais despojadas como as basiconas da Nike
do uso/aquisição dos novos produtos. Em seu ou essas Adidas até as mais arrumadas como
trabalho sobre a imprensa feminina, Buitoni essa Isabel Marant ou esse modelo Chloé” (F).
(2009) destaca o papel que o operante verbal
“novo” possui junto ao público consumidor de As blogueiras declaram “amar” as novida-
textos relacionados à moda. Segundo a autora, des, destacando sempre a disponibilidade de
trata-se de “uma categoria sempre presente reforço positivo com o uso – “Qual mulher
na imprensa feminina, não só no Brasil, mas que não ama um lançamento de maquiagem?!
em todo o mundo ocidental. Explícito ou im- Tenho certeza que todas as vaidosas de plan-
plícito, o novo impera” (p. 195). Baum (2008) tão por aqui adoram, inclusive eu!!! E hoje
entende que “as contingências sociais mode- venho falar de novidades! A Natura Una, marca
lam o comportamento do que é normal para de maquiagem premium da Natura,  lançou

Figura 4. Tendências, lançamentos e o Novo.

Fonte: Blog Super Vaidosa, postagem de 26 de Fevereiro de 2015; Blog Fashionismo, postagens de 14 de Setembro de
2014 e 27 de Fevereiro de 2015.

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

novos Sextetos de Sombras e Delineadores um bom investimento pelos leitores(as). Nos


em Caneta! Eu amei a novidade e tenho certe- posts em que a novidade é o assunto principal,
za que vocês também vão adorar” (SV). “Essa a publicidade é mais ostensiva: título, texto,
semana a NK Store, multimarcas que eu amo, fotos etc.; não há reservas para citar a marca,
lançou sua coleção de inverno e não podia ser pois normalmente neste tipo de postagem
menos do que incrível” (F). cada palavra foi paga pelo patrocinador, ou
patrocinadores em destaque.
Uma tendência aponta novos modelos de
comportamentos que podem ser mais reforça-
dos socialmente que os anteriores, da estação Conclusão
passada, justamente por estarem nas reco-
mendações de blogs influentes. O novo tratado O objetivo deste trabalho foi compor uma
nos blogs é o mesmo novo explorado pelas análise das estratégias utilizadas em blogs
revistas femininas de moda, ou seja, “é o novo femininos de moda para divulgação de bens
que se originou talvez da moda, sistema que e serviços. Dentre as principais ferramentas,
exige mudanças a cada estação. Se a imprensa pode-se citar o uso de modelação e regras.
feminina nasceu veículo de difusão da moda, A primeira está presente na frequência de
dificilmente se afastaria desse novo, razão de imagens e textos veiculando um estilo de
ser de seu assunto principal” (Buitoni, 2009, vida completamente permeado por reforços
p. 195). Não é incomum esse tipo de posta- positivos, reconhecimento social e consequ-
gens semanalmente nas mídias analisadas. De ências informativas advindas do uso de de-
roupas a acessórios, falar de tendências é uma terminados produtos e desempenho de certos
constante em blogs femininos de moda. comportamentos. Em relação às regras, as
postagens descrevem os produtos adequa-
O novo é normalmente acompanhado de dos e o modo adequado de uso, evidencian-
mandos sobre o uso certo e errado, ou seja, do as consequências alcançadas. Há ainda a
é reforçado positivamente o uso certo – está utilização de celebridades na mensagem e a
na tendência da maquiagem, da roupa – en- apresentação de tendências através de novos
quanto tende-se a tentar extinguir ou mesmo modelos comportamentais.
punir comportamentos que não estejam ali-
nhados aos discursos e anúncios novos. No Há uma tentativa em aproximar a bloguei-
exemplo das sandálias, o novo está relacio- ra bem sucedida do público leitor através de
nado à marca e calçar os modelos apresen- posts. Em sua maioria, as publicações apre-
tados significa agregar “charme para qual- sentam dicas, modos de fazer (tutoriais) e
quer look”. Sinaliza-se aí uma consequência looks do dia em que as blogueiras se apre-
informativa importante, ao mesmo tempo sentam como um modelo bem sucedido de
em que “práticas para usar” esboçam uma consumo ou introduzem alguma celebridade
consequência utilitária que corrobora ainda para dar credibilidade a esta mesma premis-
mais para que o produto seja considerado sa. As publicações propagam informações e

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

pressuposições importantes sobre o que é ser é possível eliciar sensações que aumentem a
uma garota descolada, uma it girl18, antenada probabilidade do consumo do produto anun-
nas tendências, vaidosa e poderosa. É pre- ciado. A ideia principal da peça publicitária
ciso destacar que ser blogger, na atualidade, é que o produto deixe de ser um estímulo
passou a ser considerada uma profissão19, e neutro. Pode-se dizer que a publicidade em-
não apenas um simples passatempo. pregada nos blogs se apoia em várias ferra-
mentas do condicionamento respondente.
Nas postagens, as blogueiras esboçam do-
mínio sobre os temas abordados e aparecem Os posts, em sua maioria em formato de guias,
como especialistas em moda. O estilo de descrevem e sinalizam meios para obtenção
vida preconizado é apoiado em estratégias de possíveis reforços, disponíveis para quem
publicitárias especializadas em enaltecer as seguir as orientações descritas e a partir da
consequências informativas do uso/consu- compra dos produtos anunciados. Esta leitura
mo (status, bem-estar, elegância) proposto decorreu do fato de que não foi verificado
e esconder as utilitárias (preço, possíveis o consumo efetivo dos produtos divulgados,
efeitos colaterais, desconforto). Preços, por mas apenas os enunciados verbais sugerindo
exemplo, são raramente citados, e quando o o consumo nos blogs.
são, o texto de suporte descreve tantos pos-
síveis reforçadores pela aquisição do produto, Os achados sugerem a necessidade de expan-
que este se torna um mero detalhe. Segundo dir o estudo, observando junto aos(as) reais
Carneiro e Medeiros (2005), na publicida- leitores(as)/seguidor(as) dos blogs femininos
de, por meio dos estímulos condicionados, de moda, se há algum impacto das publica-
ções em seu comportamento de consumidor.

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18 Termo utilizado para fazer referência às mulheres vanguardistas e por possuírem essa característica despertariam o interesse de
outras pessoas em ter um estilo de vida similar. Disponível em: http://www.mileybr.com/blog-de-moda-dicas-como-ser-uma-it-girl/.

19 O curso de Mídias Sociais Digitais, ou como é apelidado “curso para ser blogueira” é o primeiro curso voltado para a formação
profissional de blogueiros(as) no mundo. Disponível em: http://www.belasartes.br/cursos/?curso=midias-sociais-digitais.

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COMPORTAMENTO Maria Vanesse Andrade
EM FOCO VOL. 5

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso
EM FOCO VOL. 5

Desafios ao Analista do Hélder Lima Gusso


Universidade Federal de Santa Catarina
Comportamento no Campo helder.gusso@ufsc.br

Organizacional Brasileiro

The Challenges of the Behavior Analyst


in the Brazilian Organizational Field

Resumo Abstract
A diversidade e qualidade de trabalhos realizados The work carried out by behavior analysts in the
por analistas do comportamento no campo das or- organizational field has been growing in diversity
ganizações têm crescido. Ainda assim, há desafios a and quality. Nevertheless, there are challenges to
serem enfrentados pelos interessados em atuar em be faced by people interested in performing their
organizações a partir das contribuições da Análise do work based on Organizational Behavior Management.
Comportamento. Neste capítulo, são apresentados 12 This chapter presents 12 challenges that need to be
desafios que precisam ser examinados para maxi- addressed to maximize the chances of professional
mizar as chances de que intervenções profissionais interventions producing significant results for
produzam resultados significativos para trabalha- workers, organizations and society. The addressed
dores, organizações e sociedade. Os desafios são: (1) challenges are as follows: (1) training in behavior
formação em Análise do Comportamento; (2) forma- analysis; (2) training in management; (3) insertion in
ção em Administração; (3) inserção em uma comu- a verbal community; (4) unfamiliarity with Behavior
nidade verbal; (4) desconhecimento sobre Análise do Analysis in organizations; (5) indiscriminate use of
Comportamento nas organizações; (5) uso indiscri- the concept of behavior; (6) (ab)use of techniques
minado do termo comportamental; (6) (ab)uso de without functional analysis of behavior; (7) requests
técnicas sem análise funcional do comportamento; that do not describe existing problems; (8) social
(7) solicitações que não caracterizam problemas exis- validation; (9) the role of managers in identifying
tentes; (8) validação social; (9) papel de gestores na problems; (10) use of experimental designs; (11)
determinação dos problemas; (10) uso de delineamen- statement of outcomes and (12) learning how to
tos experimentais; (11) demonstração dos resultados disclose services in a clear manner.
produzidos; e (12) divulgação dos serviços.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Análise do Comportamento nas organizações; Organizational Behavior Management;


Psicologia organizacional e do trabalho; Behavior Analysis in organizations;
Gestão do comportamento organizacional. Industrial and organizational psychology.

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso
EM FOCO VOL. 5

Os interessados em Análise do Comportamento ter relação direta com algumas ações orga-
que já tiveram a oportunidade de folhear nizadas entre pesquisadores e profissionais
livros sobre “comportamento organizacio- atuantes nesse campo.
nal” (e.g. Robbins, 2011) ou “teoria geral da
administração” (e.g. Araujo, 2010) devem Em 2010, por iniciativa dos associados da
sentir dupla surpresa. A primeira é com a alta Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
frequência com que “abordagens comporta- Comportamental (ABPMC), Marcelo José
mentais” são mencionadas nesses livros. A Machado, Elen Gongora Moreira e Lívia
segunda, é a total falta de relação entre o que Godinho Aureliano, foi criado o Grupo Especial
é denominado “comportamental” no âmbito de Interesse em OBM (sigla para a expressão
da Administração com aquilo que estudamos inglesa Organizational Behavior Management,
em Análise do Comportamento. utilizada para designar trabalhos no campo).
Desde então, o grupo realiza reuniões duran-
No âmbito internacional, há literatura dis- te os encontros anuais da ABPMC. Entre as
ponível para orientar os interessados em ações empreendidas pelo grupo estão a cria-
Análise do Comportamento sobre como ma- ção de uma biblioteca virtual de publicações
nejar contingências para promover melhores em língua portuguesa (disponível em: http://
condições de saúde, segurança e satisfação de obmbrasil.wordpress.com) e a organização do
trabalhadores, promover a qualidade e pro- I Encontro Brasileiro de OBM (Alo & Gusso,
dutividade nos processos organizacionais e 2016). A lista de publicações nacionais sobre
gerir comportamentos nos diferentes níveis OBM apresentadas na biblioteca sinaliza cres-
hierárquicos (operacional, tático e estratégi- cimento na quantidade de publicações e na di-
co) da organização para produzir sua função versidade de temas examinados nos trabalhos.
social (missão) na sociedade. Entretanto, há
desafios que precisam ser superados pelos Especificamente quanto à formação profissio-
interessados em trabalhar de modo coerente nal nas instituições de ensino no País, ainda
com os fundamentos, conceitos e procedi- são escassos os contextos nos quais são possí-
mentos da Análise do Comportamento no veis de se obter acesso a disciplinas, tanto nos
campo organizacional brasileiro. Conhecer níveis de graduação quanto de pós-graduação,
os principais desafios que os profissionais que estabeleçam relações entre o trabalho no
que atuam na área enfrentam pode ser útil campo organizacional e as contribuições da
para avaliar possíveis formas de lidar com Análise do Comportamento. Exemplos de ins-
tais desafios com mais precisão. tituições em que recorrentemente há registros
de produção de teses, dissertações, trabalhos
O interesse pelo trabalho com Análise do de conclusão de curso e estágios profissio-
Comportamento nas organizações tem cres- nais no campo são Centro Paradigma, PUCSP,
cido, assim como a quantidade de trabalhos UEL, UFG-Catalão, UFPA, UFPR, UFSC, UnB
debatidos nos encontros científicos da área e Universidade Positivo. Uma das possíveis
nos últimos anos. Esse crescimento parece explicações para a baixa frequência de locais

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COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso
EM FOCO VOL. 5

com disciplinas em OBM talvez seja a pequena apenas de fornecer algumas dicas para lidar
quantidade de publicações que possam orien- com situações semelhantes as quais o autor
tar professores analistas do comportamento já se defrontou. O que nos faz imaginar que
a inserir tópicos sobre o campo de atuação há generalidade nas situações descritas são os
organizacional nas disciplinas de Análise do debates que decorreram da apresentação sobre
Comportamento Aplicada, bem como a pe- o tema no encontro anual da ABPMC em 2014,
quena quantidade de publicações que possam e em outros eventos científicos e profissionais
orientar professores de psicologia organiza- nos quais tais aspectos foram examinados.
cional a lecionar sobre as contribuições espe-
cíficas da Análise do Comportamento nesse O primeiro desafio é a dificuldade de
campo de atuação da psicologia. acesso à formação básica em Análise do
Comportamento, em grande parte do País,
Neste capítulo, é apresentado um breve exame que possibilite derivar intervenções profis-
de 12 desafios enfrentados pelos analistas do sionais compatíveis com o adjetivo analítico-
comportamento interessados em atuar no comportamental. Os conceitos, fundamentos,
campo das organizações, e também são des- processos e procedimentos da Análise do
tacadas sugestões de possíveis condutas para Comportamento não são simples termos a
lidar com esses desafios. Estes, aqui listados, serem adotados e repetidos, mas um sistema
foram identificados a partir da atuação direta conceitual que precisa ser compreendido para
do autor no campo profissional, predominan- viabilizar, planejar, projetar, executar, ava-
temente nos campos de consultoria externa liar e aperfeiçoar intervenções profissionais
e de treinamentos ao longo dos últimos dez com alto potencial de produzir mudanças
anos, e do exame das situações vivenciadas significativas na vida das pessoas e das or-
por seus alunos em suas atividades de está- ganizações (Botomé, Kubo, Mattana, Kienen
gio em diferentes tipos de organizações sob & Shimbo, 2003). Uma forma de lidar com
supervisão em perspectiva analítico-compor- essa lacuna é estabelecer contingências que
tamental, ao longo dos últimos oito anos. Os lhe mantenham em constante estudo e aper-
desafios aqui identificados foram os mais re- feiçoamento: criar ou participar de grupos
correntes ao longo dos anos. Talvez parte dos de estudos, cursos, palestras, participar do
desafios listados possam não ser os mesmos Encontro anual da ABPMC e de Jornadas de
de outras regiões do País e, diante disso, pe- Análise do Comportamento (JACs). A história
dimos ao leitor que avalie cuidadosamente recente de proliferação das JACs pelo Brasil
no que e o quanto cada desafio apresentado o sinaliza que esse é um caminho possível
auxilia a lidar com as situações específicas da quando há mobilização mesmo em contextos
rotina na organização na qual está inserido. com poucas oportunidades formais de ensino.
O que é descrito não tem pretensão de ser um
exame preciso e representativo das condições Para os interessados em OBM que tiveram
de trabalho de todos os analistas do com- oportunidades de formação em Análise do
portamento nas organizações do país, mas Comportamento, o problema costuma ser

79
COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso
EM FOCO VOL. 5

outro: a falta de formação no mundo dos de uma comunidade verbal entre pessoas
negócios. Aprender a falar “a língua” dos interessadas em OBM. Se a quantidade de
administradores e, principalmente, com- analistas do comportamento em determinada
preender os fenômenos organizacionais, região ou instituição já for pequena, ainda
avaliar as implicações de diferentes tipos de menor será a de interessados especificamen-
sistemas produtivos no comportamento dos te no campo organizacional. Felizmente as
trabalhadores, aprender a ler organogramas novas tecnologias possibilitaram meios de
e identificar variáveis relevantes para anali- conectar pessoas geograficamente distan-
sar os sistemas de relações comportamentais tes. Nesse sentido, vale a pena se inserir nas
entre trabalhadores e entre departamentos é comunidades já existentes, e participar das
de grande importância. Dagen (2016) apre- reuniões do Grupo Especial de Interesse em
senta interessante relato sobre sua formação OBM na ABPMC e na comunidade on-line do
para atuar em OBM, descrevendo que, como Grupo (disponível em: facebook.com/groups/
estudante de pós-graduação em Análise do obmbr) pode contribuir nesse sentido.
Comportamento e interessado em organiza-
ções, sabia que as ciências comportamentais Outros desafios estão relacionados a aspec-
poderiam ser muito úteis, mas não iden- tos mais específicos do trabalho nas organi-
tificava no que, especificamente, poderia zações. O primeiro refere-se ao fato de que
contribuir às pessoas e às organizações. A a maioria dos gestores não faz ideia do que
sugestão de Dagen (2016) aos analistas do seja Análise do Comportamento ou no que ela
comportamento interessados em OBM e com pode ajudar (Smith, 2016). É possível con-
pouca formação na área de negócios é que tribuir para disseminar informações sobre a
estudem, ao menos um ano, as publicações OBM, aumentando seu reconhecimento pú-
de alguma revista de negócios (e.g. Revista blico em função dos resultados já demons-
de Administração de Empresas, Revista de trados na literatura científica. Alguns meios
Administração Contemporânea, Revista Exame). promissores para isso podem ser: participar
Ao estudar, identifique ao menos uma subá- de eventos empresariais divulgando a área,
rea de interesse para aperfeiçoar seus estu- escrever para revistas e jornais de negócios,
dos (e.g. segurança no trabalho, rotatividade, divulgar resultados de intervenções para
planejamento estratégico). A partir disso, público empresarial e esclarecer ou corrigir
que estabeleça as relações entre os proces- informações inadequadas disseminadas em
sos descritos nas revistas de negócios com o meios de comunicação.
conhecimento na Análise do Comportamento,
identificando maneiras de contribuir para Também relacionado ao desconhecimento das
melhorar as condições existentes nas organi- contribuições da Análise do Comportamento
zações. Tais indicações parecem promissoras. no contexto das organizações está o uso in-
discriminado do termo comportamental como
Um desafio mais específico, mas de igual im- adjetivo de técnicas, procedimentos, inter-
portância, é a dificuldade de criar ou participar venções e testes de qualquer tipo. Há uma

80
COMPORTAMENTO Hélder Lima Gusso
EM FOCO VOL. 5

quantidade significativa de profissionais fim, (c) apoiar-nos na acreditação oferecida


que prestam serviços de variados tipos, com pela ABPMC como forma de gradualmente
embasamento (ou falta dele) em variados ganharmos legitimidade perante os demais
conhecimentos de outros sistemas psicoló- profissionais nas empresas.
gicos ou mesmo sem vínculo nenhum com
a psicologia, e que qualificam o que fazem Um problema ainda mais específico é que al-
como comportamental. Um exemplo de uso gumas das intervenções e dos procedimen-
indevido é a qualificação de alguns testes tos desenvolvidos no âmbito da Análise do
de personalidade como comportamentais, Comportamento hoje são comercializados
e não psicológicos, para evitar as exigên- no País por profissionais sem nenhum tipo
cias do Conselho Federal de Psicologia sobre de formação em Análise do Comportamento,
testes psicológicos. A justificativa apresen- correndo o risco de reduzir procedimentos
tada para isso, segundo profissionais em que envolvem analisar funcionalmente con-
mercado que vendem esses testes, é que se o tingências de reforçamento à mera replicação
teste é comportamental não seria psicológico. de técnicas de forma descontextualizada.
Embora tal situações possa eliciar respon-
dentes fortes em analistas do comporta- No campo da segurança comportamental no
mento, consideramos que não adianta brigar trabalho, é possíve observar um exemplo
com gestores que contratam tais “soluções” claro. A sigla BBS – da expressão Behavior-
ditas comportamentais. Gestores buscam so- based Safety –, bastante conhecida mundial-
luções aos problemas organizacionais, e as mente entre profissionais de segurança no
soluções disponíveis em mercado, muitas trabalho, é um tipo de contribuição específica
vezes, vendem sonhos (ilusões?) de mudan- oriunda da Análise do Comportamento para
ças rápidas e efetivas com baixo custo de prevenção de acidentes e promoção de saúde
resposta. Gestores não costumam estar sob em contextos organizacionais sobre a qual
controle dos rótulos ou adjetivos utilizados há extensa produção internacional de artigos
para nomear as propostas de intervenção que e livros. No Brasil, a prestação de serviços
adotam. Parece-nos mais produtivo que, se para implantar BBS nas indústrias tem sido
queremos que o termo comportamental, ou feita por diversas empresas de consulto-
analítico-comportamental, seja utilizado para ria, nas quais, salvo raras exceções, não há
qualificar intervenções profissionais emba- profissionais com formação em Análise do
sadas no Behaviorismo Radical e na Análise Comportamento. Tal fato pode ser identifi-
do Comportamento, precisamos: (a) tornar cado analisando os currículos dos profissio-
tais intervenções acessíveis (como gestores nais dessas empresas. Parece ser de grande
podem acessar tais recursos?); (b) investir importância evidenciar que intervenções de
na divulgação de informações acerca do que base analítico-comportamental não podem
caracteriza uma intervenção como compor- ser reduzidas a pacotes de técnicas sem a
tamental para profissionais de diferentes análise precisa das variáveis, das quais os
campos que atuam em organizações; e, por comportamentos são função. Nesse sentido,

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evidenciar as práticas de fundamentação acontece como condição para a execução de


analítico-comportamental como de nosso uma intervenção que efetivamente resolva os
campo de domínio torna-se relevante, bem problemas. Não se trata de esquivar ou não
como a divulgação das características dessas lidar com os problemas, mas de dimensioná-
práticas para que outros profissionais possam los precisamente para a produção de melhores
identificar critérios para avaliar a adequação resultados. Um belíssimo exame da distinção
e qualidade dos serviços oferecidos em mer- entre as demandas apresentadas ao psicólogo
cado. Parece-nos pertinente, também nesse e a caracterização precisa das necessidades
contexto, nos apoiarmos na acreditação da que devem ser objeto de intervenção foi
ABPMC e na divulgação de sua importância apresentado por Botomé (1981) a partir da
como um possível critério para que empresá- experiência no trabalho junto à Secretaria
rios possam avaliar se prestadores de serviço de Saúde do município de São Paulo, na
possuem embasamento para prestar serviços reestruturação do serviço de saúde oferecido à
orientados pela Análise do Comportamento. população. No exame apresentado pelo autor,
é destacado o quanto as demandas de quem
Outro tipo de problema são as solicitações e tem poder (o chefe, o legislador) podem não
demandas pouco caracterizadas que chegam ser coerentes com as necessidades daqueles
ao analista do comportamento. Esse é um que serão vítimas da intervenção profissional
problema com o qual qualquer consultor pre- (trabalhadores, população), demandando ao
cisa lidar no campo organizacional (Mager, psicólogo o exame das variáveis envolvidas
2001). Precisamos de uma pesquisa de clima... para que seu trabalho seja orientado para a
precisamos de um trabalho motivacional... produção de benefícios predominantemente
precisamos integrar a equipe... São exemplos àqueles que sofrerão os efeitos da intervenção,
de demandas rotineiras que ouvimos e não o mero exercício de poder ou dominação.
nesse campo de atuação. Somando a essas
demandas imprecisas a constante exigência Outro desafio de grande relevância na atua-
de produzir resultados rapidamente, é alto o ção em organizações é a importância de que
risco de que profissionais atendam demandas as intervenções sejam apoiadas pelas pes-
apresentadas, sem antes partir de um exame soas envolvidas nos processos de mudanças.
claro e preciso das situações-problema com Espera-se que intervenções produzam resul-
as quais se defronta. Partir para a intervenção tados continuamente, mesmo após a saída
sem partir de uma precisa caracterização da de quem conduz a intervenção. Infelizmente,
situação-existente (leia-se: caracterização a maior parte dos programas nas organiza-
da história de contingências que controlam ções parece falhar em longo prazo por serem
os comportamentos-problema) não costuma abandonados assim que o “consultor” sai
produzir resultados consistentes e duradouros. de cena. Não parece ser possível promover
Parece ser papel do profissional contratado mudanças com resultados perpetuados no
pela empresa esclarecer ao contratante longo prazo sem o engajamento das pesso-
a necessidade de caracterizar bem o que as envolvidas. Esse engajamento parece ser

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melhor produzido quando as pessoas apoiam sobre o controle dos comportamentos dos
as intervenções, notando mais benefícios (re- trabalhadores. Nesse sentido, embora tipica-
forçadores de diferentes tipos e intensidades) mente as demandas por intervenções venham
do que investimentos (tempo, recursos, des- sob a forma de solicitações de mudanças no
gaste) e tendo a oportunidade de participar comportamento dos trabalhadores, aquilo
nas decisões sobre os encaminhamentos dos que efetivamente precisa ser modificado é o
processos de mudança. O termo validação comportamento daqueles que têm poder de
social tem sido utilizado para indicar o quanto alterar as contingências do ambiente organi-
as pessoas que são afetadas direta ou indire- zacional. Costumeiramente, há pouca aber-
tamente por intervenções apoiam aquilo que tura por parte de gestores nas organizações
é executado. Isso parece ser um bom preditor para reconhecer o próprio comportamento
sobre o engajamento das pessoas na manu- como parte do problema. Negar a própria
tenção de mudanças implantadas. Vanstelle et participação na determinação daquilo que
al. (2012) identificaram que 20% dos relatos acontece na empresa parece cumprir o papel
de intervenção em OBM apresentavam indi- de esquivar-se da responsabilidade sobre os
cadores de validação social, enquanto apenas problemas existentes.
10,5% das publicações no campo da psicolo-
gia organizacional e do trabalho no mesmo O mesmo tipo de problema já foi examinado
período apresentavam tal preocupação. Isso em contexto social mais amplo por Holland
explicita o reconhecimento já existente na (1983), ao evidenciar a responsabilidade da
comunidade de analistas do comportamen- própria sociedade sobre as escolhas e oportu-
to para a importância desse fenômeno na nidades que cada indivíduo apresenta, seja em
promoção de resultados duradouros após a direção a comportamentos ditos disruptivos,
implantação de intervenções. antiéticos, ou aqueles considerados de alto
valor social. Em nossa experiência lidando
Um importante desafio ao analista do com- com esse problema, identificamos três con-
portamento decorre da ênfase que damos no dutas que parecem facilitar que gestores as-
exame das variáveis ambientais, das quais o sumam sua responsabilidade na determinação
comportamento é função. Esse tipo de po- das condições de trabalho de suas equipes e
sicionamento no contexto das organizações se envolvam de maneira mais ativa no enca-
orienta o profissional a analisar as contin- minhamento de mudanças. A primeira delas,
gências dispostas pelos gestores da organiza- analogamente à promoção de validação social
ção aos grupos de trabalhadores, sob a forma junto aos trabalhadores, é envolver os gesto-
de recursos, ambientes e condições para res em todas as etapas da análise dos proble-
trabalhar, descrição de processos e regras mas existentes, facilitando que gradualmen-
de conduta, valorização de certos tipos de te, passo a passo, estabeleçam relações entre
comportamentos em detrimento de outros os problemas de desempenho e as diretrizes
etc. Em síntese, quem tem papel de gerencia- ou políticas de gerenciamento que adotam.
mento em uma organização dispõe de poder Outra forma é, sempre que possível, iniciar

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as análises dos problemas pelas variáveis de fazem parte de nossa história como analistas
nível organizacional ou estratégico, passando aplicados do comportamento. Nesse sentido,
pelo exame dos processos de trabalho para, aprender a intervir profissionalmente pro-
apenas então, iniciar a análise de problemas duzindo dados sobre a ação que se realiza
de desempenho específicos. O exame da di- demanda constante atualização em meto-
mensão mais ampla (nível organizacional) dologia científica, no método experimental
em direção aos problemas específicos facilita e nos delineamentos de sujeito único. Para
compreender como as decisões estratégicas isso, sugerimos fortemente o estudo de obras
(políticas da empresa) afetam as dimensões de referência nesse sentido (e.g. Johnston &
mais específicas (nível de desempenho ou de Pennypacker, 2009; Sidman, 1976), além do
comportamento). A literatura em OBM tem constante estudo de artigos com relatos de
produzido material farto sobre Análise de intervenção (e.g. artigos publicados no JOBM)
Sistemas Comportamentais (BSA, na sigla para avaliar os delineamentos propostos por
em inglês) que orienta bem nesse sentido outros profissionais da área em seus contex-
(Brache & Rummler, 1994; Diener, McGee & tos de atuação.
Miguel, 2009).
O segundo desafio metodológico, relacionado
Por fim, e indicado apenas em situações ao primeiro, é a exigência de exame e avaliação
mais extremas (e com alto risco de se perder dos resultados produzidos em cada intervenção
o emprego!), podemos utilizar um pouco de profissional. Um diferencial importante possí-
controle aversivo, geralmente tornando a vel aos profissionais com formação em Análise
resposta de esquivar mais aversiva do que do Comportamento que atuam no campo or-
encarar diretamente o problema. ganizacional é o estabelecimento de medidas
que indiquem as mudanças não apenas em
Há dois desafios metodológicos que a própria termos de satisfação das pessoas, mas também
formação em Análise do Comportamento nos em frequência de comportamentos relevantes,
impõe. Mais do que um aplicador de técni- medidas de produtos de comportamentos e,
cas, um analista do comportamento aplicado com apoio de contadores, cálculo de retorno
é responsável por analisar e sintetizar pro- sobre o investimento. Investir na formação
cessos comportamentais (construir ou alterar dos trabalhadores, em melhores condições de
relações entre variáveis) utilizando, quando trabalho e em sistemas de gerenciamento do
possível e necessário, procedimentos prio- comportamento organizacional mais efetivos
ritariamente de base experimental visando não produz apenas mudanças no bem-estar,
demonstrar no que e o quanto as intervenções na saúde e segurança dos trabalhadores, mas
propostas produzem mudanças no contexto, também impacta na qualidade e produtivi-
no comportamento e na vida das pessoas. A dade, produzindo resultados relevantes nas
autoexigência de intervir produzindo dados organizações. Gestores costumam ser muito
que ajudem a avaliar os resultados de nosso orientados por intervenções que demons-
trabalho durante e após as intervenções trem resultados claros. E isso é uma grande

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oportunidade aos analistas do comportamento precise ganhar melhor “roupagem” ou, em


já acostumados com delineamentos experi- outros termos, ser falado em uma língua
mentais de sujeito único. mais acessível para aqueles que deveriam nos
ouvir. Se as pessoas não sabem dos poten-
Por fim, o último desafio: aprender a concor- ciais benefícios do trabalho em OBM, talvez
rer com as fadas administrativas que dominam sejamos também parte do problema em não
o mundo da Administração quando o assunto é nos comunicarmos de maneira clara. O sonho
comportamento humano. O termo fada admi- talvez seja transformar práticas baseadas
nistrativa foi apresentado por Daniels (1994) em evidências e com consistência filosófica
para descrever os modismos que surgem e metodológica no novo objeto de desejo no
fazendo grande alarde, são amplamente di- mundo corporativo. Por que não trabalhar
vulgados e simplesmente desaparecem após nessa direção?
poucos anos – milhares de reais investidos
em cursos, livros, formações, programas de O conhecimento produzido no âmbito da
educação corporativa que não levam ninguém Análise do Comportamento possibilita produ-
à lugar algum. O problema é que as fadas zir mudanças nos processos comportamentais
administrativas carecem de fundamentos e constituintes das organizações, que podem
evidências que demonstrem qualquer tipo de contribuir para a melhoria das condições de
benefício duradouro. As fadas administrati- saúde, segurança e satisfação dos trabalhos,
vas parecem perpetuar, por entrarem em um qualidade e produtividades nos processos
contexto de grande demanda (desespero para organizacionais, e maximizar a produção da
promover desempenho), de maneiras rela- função social (missão) dos diferentes tipos de
tivamente simples e sob forma de discursos organizações na sociedade. Viabilizar o uso
ou atividades atraentes e sedutoras. Gostar dessas contribuições dependerá, em grande
de um treinamento sobre algo não implica parte, do repertório dos próprios analistas
em dizer que esse algo terá alguma utilidade do comportamento em divulgar essas con-
ou produzirá algum benefício. Talvez tenha- tribuições e em prestar serviços de alto grau
mos algo a aprender com as fadas. Talvez as de qualidade à sociedade, evidenciando no
soluções com base em evidências empíricas, que, e o quanto, tais contribuições avançam
tal como parte daquilo que é feito por ana- para além das práticas habituais correntes no
listas do comportamento nas organizações, contexto das organizações.

Referências
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