Sie sind auf Seite 1von 23

p

23456789 unesp™ Cedap


Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
2 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.
< •* »

gMí®5aa
hoje tem sopa
m na varanda de Maria?

tem Zorfaa no Verbo


tem Verfao 72,
a partir do próximo
quinze mil exemplares
território nacional
tem vinfcius dia 15
tem paulinho da viola
de vinte a vinte e três
no teatro vila velha
verão
caetano veloso
e sua banda.
E de banda quem anda
é sací-pererç.
Salve ei rey
dom sebastião.

— -

ATA ~^^~

unesp™ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 2 3 4 5 6 7 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 3.

Perdemos algumas perspectivas espécies, e fazendo novos coloridos


importantes de vida. Sentimos de flores, e navegando nos rios com
isto em nossas múltiplas formas outros peixes, e mudando as posições
de existir. 0 presente é concreto e dos continentes, e clarificando as par-
flui. Temos consistência de pedra, de tes abissais dos mares, e escurecendo
madeira, de osso, de pele. Fluímos as manhãs, (que agora eram apenas
como água ou sangue. Sobrevoamos uma questão de variação de intensida-
na forma de vapor ou energias mais de de luz), de tal forma que as pe-
espessas. Crescemos do chão como dras, os vegetais, os bichos, se trans-
uma longa torre de luz, um caule de formaram em nossas formas de vida,
fogo rondando a trilha dos meteori- com que também passamos a absor-
tos ou ficamos concentrados em um ver toda a íntima convivência. Pela
pequeno espaço espesso de vento e extensão progressiva de nossa própria
olho interno como um fruto celeste vida, acabamos por nos transformar
da última estação astral. também e, no tempo, conforme cada
máquina útil para esta adaptação e
Já vai tempo que nos livramos da má- contra-adaptação, no movimento
quina. Na milionésima sexta revolu- transformatório entrava em desuso,
ção industrial, estava claro que as má- conforme tocávamos no tempo da es-
quinas já faziam tudo em nossa estre- trela definitiva, no tempo sem máqui-
la, o que pudéssemos desejar ou em- na, na Juz-reJógio, no interno vindo
preender, mas ficou muito nítido que de fora para dentro e de dentro para
a revolução fora a última. Desde que fora, chegamos, então, a uma fusão
incorporamos ao ser todas as arcaicas de todos os reinos, de todas as espé-
possibilidades animais, vegetais e mi- cies, de todos os vegetais, de todas as
nerais, começou a ficar visível na má- pedras, de todas as formas, em nós
quina uma grande distorção para nos- mesmos. E, assim, transformáveis dé
sa passagem a corpo-celeste-estrêla. matéria em energia, de matéria em
Sim, tudo elas já faziam. No entanto, anti-matéria,ide energia em anti-ener-
estavam fora. Assim, depois da milio- gia, chegamos finalmente à luz-que-
nésima sexta revolução industrial, a -existe-hoje e não apenas o que ilumi-
máquina apareceu como um entrave na, mas também, e muito mais, o que
aos movimentos dentro de nós mes- sente, pensa, intui e percebe, e pode,
mos. Inventar. Invenção. Invento. por uma necessidade ou um desejo,
(In-vento). Ventoinhas. Ares. Atmos- dar-se forma como quiser.
feras de criação. Mares. Pares contrá-
rios. Rios contra as correntes maríti- Eu sou a luz e por isso sou a sombra e
mas. Mais fortes porque desaguando, habito nesta estrela. Mas como eu,
abrindo novas frentes de hidrografias outras luzes se individualizam pela
dentro de múltiplas formas atuais. criação de uma tonalidade de côr
r
riar dentro, criar dentro, pois, "co- com que nascem, isto é, passam da
meçou a ser necessário a todos xjue se forma reprod; 7 ainda necessária
entregavam, como nós, a um trabalho como ponto de partiüa, pato o ícr«na
de fazer coletivamente extraordiná- criadora (Foi necessário na embriogê-
rias máquinas que, depois de prontas, nese astral manter-se o nascimento
ficavam fora de nós. Uma divisão que físico, o aleitamento, para a cultiva-
se perpetuaria se não tivéssemos to- ção do sentir, da dedicação, da estufa
mado a grande decisão coletiva. Des- inicial de todas as potencialidades).
truir todas as máquinas que aparente-
mente facilitassem o nosso trabalho e
começar um intenso trabalho de Portanto, nascido corpo e logo me re-
adaptação e contra-adaptação, de renascido síntese de energia e anti-e-
nosso corpo primeiro, de nosso pen- nergia, matéria e anti-matéria nuclea-
sar,, de nosso intuir, de nosso perce- rizada na minha luz própria de tonali-
ber, de nosso sentir, depois, em todas dade ardósia azulada, daí o meu no-
as formas imagináveis de existência. me Ardozul, conheci toda a evolução
Vegetalizamos, mineralizamos, aqua- desta estrela. Desde alguns anos-luz
tizamos, montanhizamos e abissala- atrás quando surgi. Por isso, sei que,
mos nossas experiências vivas, passari- pouco a pouco, entraram em desuso e
nhamos e concheficamos por aí, por foram abandonadas muitas máquinas
aí, em sucessivos movimentos rotati- até a existência do ser-fusão quando
vos. O estágio flor, por exemplo, após não mais permaneceu nenhuma má-
o estágio-tigre-dente-de-sabre, quase quina para uso interno em atividade
simultâneos, nos dava uma permanên- em nossa estrêla-planeta-luz, da ga-
cia e uma mobilidade que, depois, na láxia Govinda".
forma de peixe ou de pássaro, trans-
cendíamos de imediato qualquer con-
dição até então conhecida de peixe
ou de pássaro.

é claro que já estamos falando do


que aconteceu de uns tempo para cá,
quando mencionamos as palavras Recebemos livros. Vários exemplares
flor, tigre-dente-de-sabre, pássaro, de INDAGAÇÕES SOBRE A NA-
etc. Este foi e é o nosso problema ao TUREZA DA ESTRELA, livro de
termos chegado a este grau de evo- Luiz Paiva de Castro. O livro é da
lução como estrela. Deixamos de lado editora BONDE. Em Soltem o Verbo,
as máquinas que nos faziam existir o Verbo do Luiz. Não queremos grilo
para fora e começamos, com aquelas com a editora, nada de tomar o bon-
que ficaram, a nos criar para dentro, de errado, sem essa, a gente curtiu
em sínteses progressivas, em misturas essa de transcrever trechos do livro
as mais complexas, de tudo que podia porque o livro pintou, enviado, auto-
chamar-se vida em nossa estrela. grafado. E vocês que estão lendo, Sol-
Fomos assim aprendendo as lições tem o Verbo.
das pedras, dos vegetais, dos bichos,
dos peixes, dos pássaros, e fundindo
uns com os outros, e criando novas O desenho é de Jucá.

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
4 - VERBO - no- 12 - janeiro de 1972.

AMANDA
De: Taiguara
Gravação: Antônio Marcos
Discos: RCA

Vencido em meu castigo


Eu trago a paz comigo
De volta para ficar
Amanda
Recolhe meus pedaços
Me acolhe em teus braços
Toma o espaço dessa dor
E o teu lugar
Amanda
Perdi pela viagem
•As forças e a coragem
A imagem do que eu soü
Você esqueceu
A inútil liberdade
E o que eu sou
Que eu sonhei ver
0 que esconde a única verdade
Nas luzes da cidade — Amanda
0 que perdau metade — Amanda
0 que partiu despertou
Te amando
SOSOM Vou te enfeitar de tanto amor.

Legal mesmo, foi quando nós (Marco CLEIDE - Manos DEYSE - 13 anos
Antônio e Cerqueira) ficamos na rua COLÉGIO -ICEIA 1o. normal COLÉGIO - N.S. Auxiliadora - 3a. série
Chile, esperando que passassem garotas de BAIRRO- Ribeira BAIRRO - Rio Vermelho
13 a 17 anos. Uma confusão.
Wanderley Cardoso - Márcio Greick - Antônio Marcos — John Lennon — Jimi
— Essa tem uns 20 anos. Marco. Roberto Carlos — Tim Maia — Chico Buar- Hendrix — Maria Batânia — USA Aretha
— Não é não Cerqueira, vai lá.. . que — Antônio Carlos & Jocáfi — Moacir Franklin — Paul McCartney — Santana
Franco — Johnny Mathis — Jerry Adriani Blue Band — Andy Williams — The Sweet.
— Maria Betânia.
Parecíamos os machões do fim da tarde. NEUMA-r- 17 anos
Nesse dia eles haviam assaltado todos os EDELZUITA-14anos COLÉGIO - Severino Vieira - 3a. série
pontos estratégicos da dita rua. Seus gra- COLÉGIO-Severino Vieira - 3a. série BAIRRO-S.Pedro
cejos foram a causa de algumas garotas BAIRRO - Brotas
terem recusado nos responder. Outras não John Lennon — Roberto Carlos — Caeta-
responderam com medo dos namorados Roberto Carlos -? Toni Tornado — Os In- no Veloso — James Taylor — Gilberto Gil
vê-las conversando com rapazes da rua críveis — Renato e seus Blue Caps — The — Gal Costa — A.C. & Jocáfi — John Ri-
Chile. Há as que vão acompanhadas das Marmelades A.C. & Jocáfi — Vanusa — vers — Johnny Mathis — Chico Buarque.
mamães, e só vemos o puxão de braço e o Jerry Adriani — Tim Maia — Johnny
forte odor de classe média subindo e des- Mathis. RAIMUNDA 16 anos
cendo a rua metrópole. Pois é, a rua me- COLÉGIO - N.S. da Conceição - 3a.
trópole é prá todo mundo. Queríamos MARIA APARECIDA - 14 anos série
apurar o gosto musical dessas meninas no COLÉGIO - Escola Nova - 4a. série BAIRRO- Brotas
ano de 71. Aí lembramos que essa rua ia BAIRRO - Barra
dar gente até de Pau Miúdo, nem que fos- B.J. Thomas - The Sweet - George Harri-
se só prá olhar as vitrines. Chico Buarque — Caetano Veloso — Maria son — John Lennon — Roberto Carlos —
Betânia — Roberto Carlos — Claudete Soa- Carole King - Afrodite Child - Chico
res — Ivan Lins — A.C. & Jocáfi — John Buarque — Tim Maia — Gal Costa.
Depois fomos parar em S. Bento e ali Lennon — Elis Regina — Johnny Mathis.
encontramos um advogado recém-forma- CRISTIANE- Manos
do, muito encantado como desfile dos TÂNIA- 16 anos
COLÉGIO - Central - 1o. científico CIDADE — Itábuna — 4a. série
brotos. Mostrava-se atento com o que pro-
curávamos e, sugeriu até a lanchonete das BAIRRO - Barris
Roberto Carlos — Márcio Greick — Eliza-
Lojas Brasileiras onde, segundo êle, elas Roberto Carlos — Tim Maia — Jerry Adri-
beth — Antônio Marcos — Martinho da
gostavam de "*frequentar. O bicho tava ani - Chico Buarque - Wanderley Cardo-
Vila - Wanderley Cardoso - Jerry Adria-
certo. Foi lá que encontramos as mais bo- so — A.C. & Jocáfi — Wanderléa — John
ni — Chico Buarque — Tim Maia — A.C. &
nitas promessas da Bahia. As respostas Lennon — Paul McCartney — Márcio
Jocáfi.
também, foram as mais inteligentes. O Greick (o meu escolhido).
advogado pagou minha coca-cola e quan- SUELY - 17 anos
do saimos a noite já tentava engolir a tar- ELIANE- 13 anos COLÉGIO - ICEIA - 2o. ano normal
de. COLÉGIO - N.S. Auxiliadora - 3a. série
BAIRRO- Ribeira
BAIRRO-Brotas
— Cerqueira, nós devíamos ter entrevis- Roberto Carlos - Wanderley Cardoso -
tado Papai Noel aquela hora. Johnny Mathis — John Lennon — Ivan Jerry Adriani — Ronnie Von — Elis Regi-
Lins — Santana Blue Band — Caetano na — Tim Maia — Caetano Veloso — Maria
— é, nós marcamos bobeira. Veloso - Roberto Carlos - Jimi Hendrix
Betânia — Rosemary — Sandra.
- Paul McCartney - James Taylor -
Vocês podem até se aborrecer com a Bred. VITORINHA- 17 anos
qualidade das respostas. Mas são a realida- COLÉGIO — Dois de Julho — 3o. ano
VERA-14 anos
de do gosto musical juvenil. Não cansaram científico
COLÉGIO - Góes Calmon - 3a. série
minha beleza. BAIRRO-Graça
BAIRRO- Brotas

Johnny Mathis - Roberto Carlos - John Chico Buarque — Maria Betânia — Jackson
Lennon — Márcio Greick — Tim Maia — 5 - Three Dog Night - John Lennon -
Maria Betânia - Rosemary - Paulinho George Harrison — Caetano Veloso — A.C.
Nogueira — Chico Buarque — Jorge Ben. 6 Jocáfi - Gal Costa - Gilberto Gil.

A. du ± y^ dfc^

™ ATA

unesp^ Cedap
^^^^^
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 20 21 22 23 24 25 26 27 2í

Janeiro de 1972 ~ n°- 12 - VERBO - 5.

LEiLA—Üanos
COLÉGIO - Luiz Viana - 1o. colegial
BAIRRO-Brotas
LÚCIA- 15 anos
Ivan Lins — Elis Regina — Roberto Carlos COLÉGIO - Central - 2o. ano científico
— Renato e seus Blue Caps — The Fevers BAIRRO -Pituba VERA- 15 anos
v— John Lennon — Trio Ternura — Vanusa COLÉGIO - Antônio Vieira
— Gai Costa — Caetano Veloso. Johnny Mathis - Elis Regina - Ivan Lins científico
— Simonal — Roberto Carlos — Chico BAIRRO - Barra Avenida
ANGÉLICA- 14 anos Buarque — Maria Betânia — B.J. Thomas
COLÉGIO - Escola Nova - 4a. série - Caetano Veloso - Eliana Pittman. Caetano Veloso — John Lennon — Rober-
BAIRRO-Amaralina to Carlos — Chico Buarque — Maria Betâ-
MAÍSA- 14 anos nia — Johnny Mathis — Tom Jones — Gil-
Caetano Veloso — Gilberto Gil — Ivan COLÉGIO — Instituto Feminino - 4a. berto Gil - Paul McCartney - A.C. &
Lins — Chico Buarque — Johnny Mathis — série ginasial Jocáfi.
Jimi Hendrix — Maria Betânia — A.C. & BAIRRO- Rio Vermelho
Jocáfi — Vinícius de Morais — Elis Regina. FRANCISCA- 15 anos
Roberto Carlos — Márcio Greick — COLÉGIO - Central - 1o. ano científico
TÂNIA CERQUEIRA- 16 anos- Ronnie Von — Antônio Marcos — Tim BAIRRO-Av. Sete
COLÉGIO - Colégio Estadual de Cachoei- Maia — Simonal — Vanusa — Wanderléa —
ra — 4a. série Erasmo Carlos — Wanderley Cardoso. Santana Blue Band — Ten Years After —
CIDADE-Cachoeira John Lennon — George Harrison — Paul
MARIA DE FÁTIMA- - 13 anos McCartney — Ringo Star — Dione Warvick
Roberto Carlos — Antônio Marcos — Tim
COLÉGIO - N.S. do Carmo — 3a. série — Betânia — Shirley Bassey — B.J. Tho-
Maia — Wanderley Cardoso — Caetano
ginasial mas.
Veloso — Vanusa — Maria Betânia — Jerry
BAIRRO-Nazaré
Adriani — Chico Buarque — Márcio Greick
ANA RITA- 16 anos
(adoro). John Lennon — Paul McCartney — Ringo
COLÉGIO — Severino Vieira 3a. série
Star — Caetano Veloso — Gal Costa —
Santana Blue Band — The Sweet — Tini ginasial
CECÍLIA- 15 anos
COLÉGIO - Dois de Julho - 1o. ano Tin — Gilberto Gil — Liverpool Sound.
científico Betânia — Caetano Veloso — Chico Buar-
ANA - 16 anos que — John Lennon — Paul McCartney —
BAIRRO- Roma
COLÉGIO - Maristas - 2o. ano científico Aretha Franklin — James Taylor — Rober-
John Lennon — Paul McCartney — Jimi BAIRRO - Loteamento Lanat to Carlos — Gal Costa — Jimi Hendrix. -
Hendrix — Caetano Veloso — Chico Buar-
que — Maria Betânia — George Harrison — Jimi Hendrix — John Lennon — Tames José Cerqueira & Marco Antônio

DISCOS LANÇAMENTOS
A RCA PROMOVE as reminiscências dos LADO 2 - Chô-Chô, Nega do Cabelo Duro, Acorda escola de Samba, Cai Cai (Ciro
antigos astros da música popular brasileira. Dolores, Helena, Helena, Brasil Pandeiro • Monteiro e Jorge Veiga). 1 i

(essa faixa leva o nome do disco), é Ela.


ANJOS DO INFERNO: esse foi um dos Disseste, 400 anos, Poeira (Ciro Monteiro).
mais badalados conjuntos vocais de uma CIRO MONTEIRO & JORGE VEIGA: De LADO B — Tumba iê, Bigu, Se você jurar,
época rica. Toda década de 30 e começo da Leveé o nome do disco estéreo que essa Isaura, Maria Sambou, Não posso mais, Ro-
de 40. Os Anjos do Inferno influenciaram dupla gravou. Em todos os dois lados eles sa Maria, Agora é cinza. (Ciro Monteiro e
uma boa parte dos conjuntos que surgiram se comportam como dois sambistas que se Jorge Veiga).
depois de sua explosão. Um lado do disco é encontram. E entre bricadeiras e potpourri Café Soçaite, Primeiro de Abril, Boi Bum-
todo dedicado à interpretação das músicas cantam também individualmente suas músi- bá. (Jorge Veiga).
de Caymmi. cas.
LADO 1 — Rosa Morena, Acontece que eu RCA tem a informar: que Eduardo Araújo
sou Baiano, Vatapá, Requebre que eu dou LADO A — O Samba é bom assim, Prá seu e Silvinha são seus mais novos contratados.
um doce, Você já foi à Bahia? ,Vestido de governo. Despedida de Mangueira, Falso Já estão se preparando, inclusive, para o
Bolero. amor, Nosso amor, Não tenho lágrimas. lançamento de discos através da RCA.

Todo carinho todo o amor


VOU ME EMBORA E se acaso eu encontrar no meu
Que outra não quis.
TARDE EM ITAPOÃ
Caminho
E VOU SUMIR Alguém que me faça ser feliz Vou agora vou correndo
Vou tentar recuperar tudo o que De: Toquinho e Vinícius
Eu darei a esse alguém Gravação: Vinícius, Marflia e
Aqui perdi Toquinho
De: Natan Não vou mais perder meu tempo
Discos: R6E
Canta: Vanderlei Cardoso Andando atrás de quem não
Discos: Copacabana Acredita em mim!
Acho bom eu ir depressa Um velho calção de banho
E nem para trás olhar O dia pra vadiar
Vou me embora e vou sumir
Terminar com esse sonho O mar que não tem tamanho
Quero depressa esquecer que t um arco-íris no ar
Ainda existe Esse sonho impossível
Impossível de se reatart Depois na Praça Caími
A lembrança de um amor Sentir preguiça no corpo
Que até hoje fêz com que eu Na, nã, nã, nã, nã, nã, nã
(etc, etc. E numa esteira de vime
v
'vesse triste. Beber uma água de coco
Não vou ficar,
E bom

ATA ^^^^^

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
6 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

rv:.* •.

', • '

< •« a « ífikrí

■ *.••■• *'.N, •«; «• * • •


■ * • • ■• lí-i NOVO OVO TEATRO MÁGICO
»•. ' ' '* *:V ■
melho de anjo, paridos unidos, da magia, da estrela gigante, o gi-
Tamos falando de um novo tea-
tro mágico — Na sala de espelhos, corpo vital, a mágica tá, na mági- gante carrega nos dedos a sorte ir"*". .
ca do teatro — os vivos os mor- das lamparinas cegas — Minalva
v. o diálogo dus vivos dus mortos,
no meio do teatro do palco, deu
puma casa baiana com muita cer- tos, nascem no novo ovo teatro
mágico, — Tem Minalva, tem uma de fim, no meio do espetá-
teza — Os vivos dizem dos mor-
magnata, tem os mortos, tem Ar- culo mágico, zi ende. Ou saída
tos através das lamparinas cegas S5rv,i' * *
entrada dos espectadores. A sala
* • • ■
— Minalva, viva persona, inicial délia, os anjos; tou louco como
da mágica, é cena em pleno espe-
TGVvv .
de um barato qualquer na vista você tá, esperando, os barcos de
Minalva, MINALVA podia ser lho, em plena plenitude mágica,
da loucura — No novo teatro Má- o espelho deu passagem nos bar-
uma cidade, uma árvore, uma es-
* • . gico a sensação é de AÇÃO, mo-
trela na sala dos espelhos — fim cos de Minalva, um pequeno an-
vimento, côr, corpo, ritmo, ele- coradouro ancorado nas âncoras
tricidade, magnetismo de minal- de comedia, de ato - Ardélia
de um presente qualquer - No
va, amante do magnata morto — nasceu em blow up — cidade na-
coração de Ardélia suas antenas , .t
Se no novo ovo teatro mágico tal da magia -.Ardélia se cansou
tão ligadas no sangue de Minalva,
tem diálogo, é algo, alga marinha da magnitude do magnata, e foi
amante do magnata, zi ende —
reluzente visual — Mira como passear nos barcos de Minalva —
capítulo final, do princípio, co-
com uma luneta de pirata, bandi- tá no mágico do teatro — os mor-
meço do transe, só para raros, só
do, artista, magnata — dus mor- tos os vivos nascem no Novo Ovo
para loucos; vai um dia o dia do
tos, dus vivos é a nata ata do des- mágico, um olho ovo mágico —
início — A Iniciação, o princípio
terro — No palco de submarinos, tem Minalva, tem magnata, tem
da magia, do novo mágico. Tea-
JJM um palco no mar dos espelhos, os mortos, temos os anjos, tou
louco como você está, esperando tro Novo Ovo.
nas barcas, os barcos levam Mi-
nalva nas pontes do sonho, na sa- aí sentado, os barcos de Minalva; W;
la dos espelhos — Mensageiro da o astral fica a maior limpeza na
luz, é um personagem que não es- sala dos espelhos — quando os
Nego N.ízio
tá no plano dos sentimentos — O personagens vêm a si vendo os
Lúcio Mendes
ídolo é o Olho da magia do mági- outros, os vivos. Acima de todas (Na sala dos espelhos)
co, uma lâmpada, o sapato ver- as coisas, Minalva mira em cima para Athenodoro e seu FooIDiary

%• • **',
,'w

/>■£
■.."•vyfôaa

. .'.•.■ \TiÍ* 1
' ... .• • ••..T.-V:- !
• • •* ilW«

•.■.•■■;■■• > ^i^tíW® ÍS M..Í.

"
unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 2 3 4 5 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 7.

Bob Laô, um compositor que balhou como baterista, a bordo do


vive nos cantos de música da Bahia, navio "Baependi", conhecendo
onde o samba fala de tudo e por todo o Brasil, e até alguns países da
todos. Vencedor de vários Carnava- Europa. "A(té quarta-feira", "Ando-
is, também ataca de cantor há 32 rinha", "É ordem do Rei" e "Quem
anos. É ator, professor, e Tec. em planta o bem, colhe o bem", são as
Contabilidade. Um homem de vári- composições de Bob inscristas nos
os instrumentos, mas sente que aqui o Festivais de Carnaval das'televisões
sucesso passa por longe. Sabe que baianas para este ano.
só quem faz carreira no Sul, é que
pode aparecer. Volta, minha querida andorinha/
Volta, que já chegou o verão/ E
"Quando se mata a cobra se mos- vem fazer o seu ninho/*No arvoredo
tra o pau. Este é um ditado muito que é/ Meu pobre coração/ Quanta
certo", disse Bob quando recebeu a saudade eu sinto/ Do seu cantar/
visita do Verbo, em seu escritório.
Do seu calor/ Volta/ Minha querida
Tratou de procurar numa gaveta,
andorinha/ Que é somente/ Seu o
carteira do Sindicato dos Artistas
meu amor/. Esta é a letra de "An-
do Brasil (Casa dos Artistas do Rio
dorinha", que acredita Bob, um su-
de Janeiro). No Rio, trabalhou em
cesso garantido no Carnaval 72.
cinema e cantou nos melhores clu-
bes e buates. Isto é um orgulho para "Todo ou qualquer compositor
Bob. dependendo exclusivamente da sor- Bahia. Foi companheiro de Dorival da Bahra, tem que pegar um par-
Bob Laô é uma testemunha do te, para que suas músicas venham a Caymi, Humberto Porto (autor de ceiro do Rio prá poder se projetar"
sofrimento que os anônimos com- ser cantadas em todo o Brasil. "Jardinheira") já falecido, e outros. Diz Bob Laô. Como bom parceiro
positores da Bahia passam. Êle, O tempo é inimigo de Bob Laô, Filho de "Bonzinho do Piston" de Salvador, êle considera Batati-
mais do que ninguém, é uma autori- que não pode dar um pulo até o (falecido), Bob nasceu em Nazaré nha, com quem está compondo um
dade para falar de cada um detalha- Rio ou São Paulo, para jogar as suas das Farinhas, numa Filarmônica. Só grande samba: "Clementina da Sil-
damente. Diz que a melhor época composições. "Nas férias eu preten- de composições carnavalescas tem va", uma homenagem a uma senho-
para os artistas baianos é a do Car- do viajar, mas nunca vou deixar a bem umas 80, sem se contar nas ra de 72 anos, que desfila na Man-
naval. Todos aproveitam e inscre- Bahia. Aqui mal ou bem se vive músicas natalinas e juninas. Porém gueira.
vem as suas músicas nos Concursos bem". Aproveita a oportunidade e apenas três músicas suas foram gra-
de Carnaval, e esperam o resultado, recorda alguns dos seus sucessos. vadas até hoje. A última foi "Meni- Enquanto não consegue um pé
um prêmio de 1 milhão, ou o direi- "Miss Gasolina", campeã do Carna- na Sorriso", gravada o ano passado de apoio, Bob Laô continua traba-
to de gravar um disco, é o presente. val 55, e "Menina Linda" do 66. pelo Inema Trio. y lhando no Serviço de Defesa do s
0 compositor baiano é um explo- Aydno Pereira de Souza é o seu Bob fica contente quando diz aos Direitos Autorais, passando pelas
rado e Bob Laô está na lista. Quan- nome completo. Por que Bob Laô? . amigos que trabalhou em filmes suas mãos os grandes dinheiros de
do consegue gravar uma das suas ..." Eu cantava muito a música como "Prá lá de boa", "Terra vio- gente como Simonal, João Só, Tião
lindas músicas, é uma vitória. Com- Maria Laô, lá por volta de 1950. A lenta", "Preço de um desejo", "O
positores como êle, Panela, Ria- turma ficou nessa e o apelido Motorista. A esperança deste cama-
cangaceiro" ao lado de Dercy Gon- rada, está no ano que se inicia.
chão, Zé Pretinho, e muitos outros, pegou". Êle pertenceu a roda de çalves, Bibi Ferreira, com quem
estão espalhados por toda Salvador, cantores de todas as rádios da também fez teatro de revista. Tra- Nelson Rocha

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

2 3 4 5 6 7 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
8 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

40*

Hl

ELEVADOéÍ JL ACERBA
O Elevador é amarelo velho por fora, dos janelões de vidro. Em uma das pare- Sempre que um elevador está chegan-
mas, por dentro, estão cuidando. .0 piso des, da parte alta do Elevador, está lá a do lá embaixo, o outro está chegando
— piche ou asfalto? — está salpicado de efígie do benemérito Antônio Lacerda. aqui em cima. Assim como quem entra,
tinta e as paredes, novas. Suas cabines — Eu estou falando do elevador dele — o entra por um corredor e quem sai, sai
4 — são acinzentadas, fechadas por duas Elevador Lacerda. De frente a efígie de por outro. Somente têm acesso gratuito
portas, uma de aço e outra de aço gra- Lacerda, funciona uma banca de revistas ao Lacerda os portadores de passes
deado, e todas têm um telefone, imenso, de modinhas, literatura de Cordel, livros públicos, militares, estafetas fardados e
junto do banco do ascensorista, que eu de historietas populares, e cartilhas que servidores do Serviço Municipal de
não sei se funciona, o telefone, eu nunca ensinam a escrever cartas amorosas. En- Transportes Coletivos — a SMTC — a
ouvi êle fazendo trimm. Quando você pe- tre as novidades, Jorgínho, o garoto que quem o elevador é filiado. Sua veloci-
ga o Elevador e as suas duas portas se atende, apontou: as últimas modinhas de
dade é de 23 segundos cada viagem, o
fecham, você não escuta nada, a não ser Roberto Carlos, Valdick Soriano e Paulo
sistema de operações das portas é elétri-
o que estão falando ou fazendo barulho Sérgio, entre os cordéis. A moça que
co, a capacidade de tráfego em 40 minu-
dentro dele. Mas, de vez em quando, su- mordeu o travesseiro sonhando com Ro-
tos é de 1.192 pessoas, e cada cabine
bindo ou descendo, êle passa por espaços berto Carlos e a Chegada de Vicente Ce-
porta 36 passageiros. Se você viaja muito
vasados e, você vê, de repente e rápido, lestino no Céu. Cada livrinho custa, em
e quiser comprar cada vez, um ticket,
imagens e sons do lado de fora, e, de média 50 centavos. Ao lado da banca de compre vários tickets de vez, compre 50
repente e rápido, nada. Existem, mais ou Jorginho, são vendidos postais da Bahia tickets que custam 5 cruzeiros, todos.
menos, quatro espaços vasados. Quando que são expostos em cordões, dependu- Bem, descemos.
o elevador chega você sente um frio na rados nas janelas. Ao longo das paredes
barriga. do corredor Espiridião Mattos pintou e Saímos do Elevador Lacerda e esta-
Cada cabine possui quatro ventilado- bordou, em cores vivas, hoje desbotadas, mos na Praça Cairú, que você viu deta-
res. Se você estiver afim de descer o ele- a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, lhes, pequeninha lá de cima. O respon-
vador, entre na fila, e olhe em volta. Vo- uma vista da Ribeira, o Farol de Itapoã, sável pelo Lacerda, seu Mário, está lá em-
cê está na Praça Municipal, em frente es- o Convento de São Francisco. Falando baixo, junto a um dos torniquetes, ou
tá a Prefeitura Municipal do Salvador on- em ilustrações, ia me esquecendo: na pa- borboletas, segundo nós, baianos, que
de o Prefeito faz os seus despachos. Do rede externa do lado direito do elvador, são de origem americana, dizendo que é
lado direito a Imprensa Oficial da Bahia, parte de cima, tem um painel de ladri- impossível calcular quantas pessoas utili-
e do lado esquerdo, o Palácio Rio Bran- Ihos amarelos e verdes, e, sobre eles, pin- zam o elevador durante um dia. Diz tam-
co. No passeio do Elevador funciona o tadas, as riquezas da Bahia: Cacau, Petró- bém que êle nunca para, não fecha , nêie
bar da Cubana, talvez a sorveteria mais leo, Carnaúba, Cana e Fumo. Voltemos trabalhando, em geral, 4 turmas que vão
velha da Bahia, tão velha como a Prima- para dentro do Elevador comendo doce se revezando. Ao lado da entrada do Ele-
vera, outra sorveteria, que funciona em de leite, amendoins cobertos ou jujuba, vador, na parte de baixo, funciona o Bar
outro lugar. Você pode tomar seu sorve- lendo jornais ou fumando. Tudo isto vo- Expresso Moderno e várias baianas de
te ou refresco ou nas mesinhas de ferro cê encontra para comprar na porta do acarajé, e vários camelôs, e vendedores
laqueada nas calçadas ou no balcão mes- elevador. Existe um serviço de alto falan- de anéis com o seu signo. Crianças brin-
mo. Tome logo que a fila anda depressa. te interno que funciona o tempo todo, cam, cego pede esmola. 0 cego Manuel
Você está para entrar no prédio do Ele- ora dizendo "Este elevador é seu, con- faz dali ponto há 3 anos. O movimento,
vador propriamente dito, mas ainda tem serve-o limpo", ora informando as horas para êle, não é muito bom. As pessoas
tempo de dar um saque da balaustrada. e outras notícias e ora tocando cantigas. entram ou saem apressadas e não deixam
Lá embaixo, os telhados velhos do casa- na cuia de queijo o mil réis. A Saúde
Em cima de cada cabine existem duas
rio da Ladeira da Montanha, o Mercado Pública não deixa êle ficar ali. Se vê, le-
luzes, uma vermelha, que acende quando
Modelo, o Comércio e seus prédios de vi- va. Da última vez que levaram o velho,
o elevador chega lá em baixo e outra ver-
dro, os carros estacionados ou andando, êle ficou preso 28 dias. Nunca ninguém
de quando o. contrário. Em cada andar
de cima ficam tão pequeninhos, parecen- ficou preso, por muito tempo, dentro do
trabalham 7 pessoas, 3 cobrando as pas-
do pingos de cor escurregando. Saque sagens, 3 cuidando para que o lotação Lacerda. Quando falta energia, não tem
também a escultura branca de Mário Cra- não seja ultrapassada e um varrendo problema, tem gerador próprio. A Bahia
vo, os saveiros na Rampa do Mercado, a constantemente o chão. Os que cuidam pode parar, mas o Lacerda nunca. Se
piscina azul dos Fuzileiros Navais. Obe- da lotação passam o dia inteiro contando você quiser pode ler esta "reportagem de
deça a fila e tire do bolso 10 centavos é claro. Quando o número de pessoas trás prá diante, só que em vez do eleva-
para comprar o seu direito de descer. Pe- chega a um limite máximo, êle interrom- dor descer êle vai subir".
los corredores do elevador você olha as pe a fila com uma corrente. Fica para a Carlos Eduardo Ribas &
coisas da Bahia de Baixo, do alto, através próxima viagem. """•* Ribamar & Ribanceira

"
unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 9.

Nos bastidores da TV Araturo corre-corre toma tenimento.TV, pode. Eu tenho feito filmes mui-
maiores proporções, quando aparecem o super- O QUE PENSA to comerciais, mas o resultado é uma enorme
-star Tarcísio Meira com a não menos estrela falta de técnica. A indústria cinematográfica bra-
Glória Menezes, que também é sua mulher. sileira ainda não dispõe de técnica. Como pessoa
Crianças querem entrar no ar com suas mães, eu me afirmaria tremendamente se fizesse um
irmãs, irmãos, para ver de perto o homem que filme com Cassavets, yí recentemente um filme
deve morrer. Só que Tereza está no ar com seu dele e nem que eu queira me dispor, eu vor con-
jornal da mulher, apresentando justamente o seguir. Acho que o nosso subdesenvolvimento
casal mais famoso da televisão brasileira. Vieram não é decorrente da nossa incapacidade de fazer,
para o reveillon baiano; ela mais para fazer com- mas da nossa inexperiência, da falta de meios
pras. Junto deles o filho Tarcicinho, que disse para fazer experimentar.
não querer ser astro, como o pai, ou de espécie
alguma. Acha-se uma criança comum, pois brin- Verbo: E o teatro.
ca, estuda, e ás vezes faz má-criação. Que adora Tare: E muito mais o diretor, o ator e o público.
os pais e viaja com eles para todo o canto. Que Diferente do cinema, da televisão que passam
gosta das suas duas irmãs, filhas do primeiro ca- por muita gente até chegar ao público.
samento da mãe. E as pessoas continuam tirando Verbo: E o que falta na televisão?
nos corredores com o mesmo objetivo de sem- Tare: Na televisão nada falta, tudo sobra. é
pre. Pedir autógrafos! São atendidas assim que Verbo: E o Dr. Valdez?
os astros saem do estúdio. Ligeira aglomeração,
demonstração de carinhos, um barato rápido. Tare: Não tenho nenhuma preferência e nem
Vamos em frente acompanhando Tarcísio e escolho personagens. Dr. Valdez nada tem influ-
Glória. Prometeram uma entrevista - Verbo para enciado em minha vida particular. E nada de
depois. Iam almoçar. Entraram na sala da dire- misterioso aconteceu enquanto fazia as grava-
ção da TV, êle de óculos escuros, camisa quase ções.
estampada e mangas compridas, calça marron, Verbo: Nenhum imprevisto...
barba por fazer. Ela de calça comprida e blusa de Tare: Não. Os imprevistos podem trazer proble-
jérsei, lenço na cabeça. Ambos anti-moda. Insis- mas. Mas assim que terminar a novela, viajarei
timos, saimos atrás deles, que deixaram a Aratu muito e sem destino.
sob os gritos de fãs e adeuses apaixonados. Uma Verbo: Você já pensou no dia que a novela satu-
glória! Paramos no Buteco do Tião, um restau- rar?
rante assim assim, lá na Boca do Rio. O Casal já Tare: Não acredito que ela sature. Ela tem se
tinha chegado. Estava numa mesa rodeado por renovado, muito. Quantas modificações houve-
amigos, acompanhantes, no andar de cima. Tar- ram da primeira novela que fiz em 1965 até ago-
císio atendeu logo a gente, com uma descontra- ra?
ção pouco comum, uma simplicidade quase na- Verbo: Você repetiria alguma novela?
tural, para quem alcançou tanto. Êle é assim; Tare: Nenhuma. Tudo deixa muito a desejar.
longe do que é superficial, que bebeu batida de Verbo: E o seu Começo?
limão, se interessou por astral e queria uma en-
trevista menos informal. Todo clima é de quem Tare: Foi no teatro. Uma coisa que gosto e la-
ístá bem. Glória, no entanto, preferiu continuar mento estar dois anos sem fazer. Porque quero
na mesa, deu um alô pro Verbo, disse que Tarcí- teatro como uma empreitada séria, não com um
sio falava por ela. E deu um sorriso. Tarcísio público limitado, especial.
veio para outra mesa e junto de nós soltou seu Verbo: Existe um personagem * que você gos-
Verbo: taria...?
Tare: Não me preocupo com personagens. To-
Ele e Glória são do Signo de Libra, moram no dos são bons se puder fazê-lo ao lado de um bom
Rio de Janeiro agora, e estão fazendo uma casa diretor, elenco, etc.
prá viver lá definitivamente. Começamos as per-
guntas, eu, Bião, Emanuel, que também fotogra- Verbo: Fale sobre a juventude...
fou: Tare: Ora, o que eu vou falar? Gostaria de ser
jovem até morrer. E muito difícil você ser jovem
Verbo: Você está ligado nessa de astral? a vida inteira. Quem pensa que é jovem a vida
Tare: Eu acredito em tudo. Tudo que você me inteira, não é verdadeiro. Foi maravilhoso ser
propuser que não seja ilógico. Acredito ou acho jovem. Nada falta à juventude porque os jovens
viável. estão sempre inventando. Porisso nada a eles de-
Verbo: E depois do homem que deve morrer? ve ser negado. Ser jovem é saber inventar, gos-
Tare: Depois dessa novela eu vou parar um pou- taria de inventar a vida inteira.
co e descansar. 0 Almoço chegou na mesa^ Glória pede ao Tar-
Verbo: O que é a televisão? císio para dar um click. E hora do rango. Ele
Tare: Evidentemente que é criação. Ela é muito continua, embora não faça gênero nenhum, lem-
organizada, impossível ignorá-la. E um veículo bra bem o machão, a falar e disposto. Verbo
que tem um alcance impressionante. Atinge 30 esgotou o papo e Tarcísio voltou para a mesa.
milhões de pessoas. Você faz uma novela que dá Ao lado de Glória Menezes, um bonito peixe de
80% de Ibope, o resultado é 24 milhões de teles- muqueca. Comidas e bebidas baianas. Risos. Eles
na deles! Verbo amou Tarcísio e Glória. E
pectadores.
Verbo: E o cinema? UM ASTRO DE TV achou-os também bonitos.
Tare.: Você pode encarar o cinema como entre- Athenodoro Ribeiro

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
10 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

rentes e mesmo influenciam nos nossos movimentos físicos, na módica quantia de 15.000 dólares e em seguida em 35 mm, este
nossa elocução, na nossa maneira de vestir e, naturalmente, no filme indicou claramente as tendências do novo cinema america-
nosso comportamento afetivo. no e ao mesmo tempo destruiu o mito da produção por um
DEZ ANOS DEPOIS PARA FICAR EM DIA COM SUA ÉPOCA, PARA SER VIS-
milhão de dólares. A revista "Filme e Cultura" pode dizer na
época num editorial intitulado "Apelo a uma nova geração de
TO E APRECIADO POR ESTA GERAÇÃO, O CINEMA DEVE
cineastas": Shadows mostra que se faz com 15.000 dólares um
TAMBÉM EVOLUIR, OU ENTÃO SE RESIGNAR A SALAS
grande filme. É um filme que não trai a vida ou o cinema.
Agora você sabe quem é Andy Warhol, ÜUASE VAZIAS OU CHEIAS DE PESSOAS IDOSAS.
O que é que isto prova? Prova que nós podemos fazer nossos
, Está por.dentro do cinema underground, saca O velho cinema americano tornava-se intolerável. Os primei- filmes agora e por nós próprios. Hollywood e a miniatura de
ros grupos-surgiram em segredo um pouco em toda a parte. Hollywood dos Independentes não rodarão jamais nossos filmes.
Joe Dallesssandro, Ainda fracos, raros, mas em contínuo crescimento e capazes um A revolução estava a caminho.
Ondine, Viva, este pessoal todo. E já sabe de dia de comunicar ao seu redor um pouco de sua seiva juvenil. "Shadows" é um filme sem intriga, filmado sem script. É
"Kiss", "Flash", e Paul Morrissey. Para se compreender o que se passa deve-se abandonar os santuá- então uma série de imporvisações sobre alguns incidentes na vida
rios do cinema oficial e descef ao limbo onde nascem as idéias e de uma família de Noirs (Negros), dois irmãos e uma irmã. Visto
A coisa começou antes, pelo menos há dez sonhos, onde se forma o novo clima do qual se impregnará um que a maior parte do filme se desenrola à noite, o ambiente é
anos, que é a data. Dez anos atrás, Jonas Mekas, dia o grande público, para surpresa geral. Antes de abordar con- antes de tudo aquele com ruas solitárias e mal iluminadas. Atra-
esse carinha aqui, que vocês não tão sabendo cretamente o Novo Cinema Americano, que queria, para facilitar vés de improvisações contínuas e de explosão de sentimentos, a
a compreensão do problema, mencionar alguns fatores importan- tensão do filme sobe gradualmente, sem que se tenha o menor
qual é a dele, mas sabendo qual é a dele vão tes: sentimento do constrangimento e simultaneamente uma imagem
entender melhor toda a transa. 1—0 papel crescente desempenhado por Nova Iorque. Nova da grande cidade se forma no espírito do espectador, com suas
Iorque semore se opôs g HnlIywnoH geográfica e ideologicamen- TL:3£ c SCLíS vagabundos noturnos. Nós descobrimos o ambiente
Tem dez anos Jonas Mekas. E disse e profeti-
te, é lá que vivem os melhores críticos americanos, LewisJacob, deste formigueiro adormecido, as relações mútuas de seus habi-
zou o que está aí. Parker Tyler, Gilbert Seldes, o grupo do Film Culture e todos os tantes, o amor cândido e as querelas familiares. Em resumo, o
Jonas Mekas, um pai. De Andy, Joe, nosso, membros do grupo de cinema experimental. Robert Flaherty filme não tem nem pé, nem cabeça. Nas palavras finais, nada
vivia em Nova Iorque; e lá se encontra Sidney Meyers de "The
vosso. Quiet One"; Kazan de "Boomerang"; Morris Engel e Chayefsky.
Informação urbana, amizade. Só isso. A "Nouvelle Vague" e Bergman foram consagrados pela crítica
E cinema/cinema/cinema. nova-iorquina. Então não é surpreendente que a reação contra
Hollywood, as idéias e as obras novas, tenham nascido na costa
Era assim há dez anos atrás.
Leste.
Cinema/cinema/cinema. 2 — No decorrer, deve-se mencionar que o papel dos holly-
woodianos Independentes foi bastante exagerado. Os melhores
dos filmes hollywoodianos tradicionais (Autópsia de um Assassi-
O NOVO CINEMA no, Gigante, Ben Hur) vêm sempre de grandes produtores holly-
woodianos. Mas os melhores filmes anti-HolIywood têm pouco a
de Jonas Mekas ver com os independentes. Eles são a obra de criadores indivi-
duais da costa Leste, ou cineastas diretamente influenciados pelo
clima cinematográfico da Costa Leste, "Shadows", "Weddings
tradução de Fernanda Sobral and Babies", "On the Bovery".
3 — Bergman e a Nouvelle Vague tiraram os críticos america-
Na ausência de outra coisa, a "Nouvelle Vague" trouxe uma nos e o público de uma longa letargia. Começa-se a fazer campa-
conseqüência para a América: ela impulsionou os americanos a nha por um cinema mais contemporâneo. O entusiasmo do públi-
procurarem uma nova geração de cineastas. Nós poderíamos citar co estimula e inspira os novos cineastas. Eles sabem que nesse
"Stake out on Dope Street" (Cerco Numa Rua de Drogas) de clima suas chances de obter facilidades com coragem bastante
Irving Kershner; "Crime e Castigo U.S.A." dos irmãos Landers; para suportar riscos. Eles nem sempre sabem exatamente onde
"The Proper Time" (O Tempo Propício) de Tom Laughlin; "Pri- vão, mas eles rejeitam categoricamente as velhas rotinas. Às vezes
vate Porperty" (Propriedade Privada) de Leslie Stevens. Sem pos- mesmo, cansados de bater sempre à porta dos distribuidores e
suir uma individualidade muito grande, eles introduzem entretan- dos donos de salas de cinema, eles abrem seus próprios cinemas.
to fisionomias desconhecidas, cenários novos, nos oferecem am- Assim Lionel Rogosin com seu cinema de Bleeker Street onde êle mudou muito, nenhum problema foi resolvido. Mas esta qualida-
bientes e diálogos mais próximos da realidade contemporânea, projeta "Come Back África", que foi recusado em toda a parte. de do acidental, do fragmentário é precisamente o que torna o
testemunhos de atitudes e de uma sensibilidade mais modernas. Um outro cinema, The New Yorker, acaba de ser aberto pelo filme tão espontâneo, tão convincente, tão verídico. Este êxito
Mais cedo ou mais tarde todos esses diretores, tendo sido crítico Daniel Talbot: no 1o. programa: "Pull My Daysy". Estes deve-se muito á sensibilidade de Ben Curruthers que representa o
aprovados no exame para a entrada em Hollywood, irão traba- dois cinemas talvez se tomarão as tribunas do Novo Cinema jovem solitário. O personagem nasce de um breve parágrafo, que
lhar profissionalmente ao lado dos mais velhos, sem ter provoca- Americano. Seus diretores se declararam resolvidos a mostrar eu reproduzo inteiramente:
do uma verdadeira revolução. Assim, há 5 anos passados, um antes de tudo obras de jovens cineastas. O terreno está prepara- "Benny — Inquieto por não conhecer exatamente a côr de
grupo de jovens diretores partiu para Hollywood e nada de novo do, a explosão é iminente. sua pele, êle queria se fazer admitir no mundo do homem bran-
se produziu. Estou me referindo a produtores como Sidney Lu- 4 — Não se deve subestimar a influência do cinema experi- co. Ao contrário do seu irmão Hugh ou de Janet, êle não conse-
met, Martin Ritt, Delbert Mann, Arthur Penn, Robert Aldrich, mental, obras que êle apresentou nos clubes de cinema em todo gue se libertar de sua emotividade. Éle passou a maior parte de
Stanley Kubrick, Jack Garfein, etc. . . Isto é, toda a escola dos o país, jornais e revistas que sustentou, como o Cinema 16, sua vida até hoje a decidir qual era sua'côr. Agora êle escolheu
anos 50. O seu único mérito foi o de aproximar um pouco o Filme Cultura e, principalmente, do crítico Parker Tyler: estes ser um branco, o problema para êle é o de integrá-lo. Isto lhe é
cinema americano da realidade, ou talvez seja melhor dizer, do últimos conseguiram impor a idéia de que para o cineasta se difícil, porque êle sabe que de certa forma, êle trai os seus. Sua
Bronx (bairro popular de Nova Iorque — N.D.T). Cinema tipi- exprimir em total liberdade, para tornar a arte pessoal, não deve vida é um combate sem-objetivo, para achar alguma coisa de
camente pequeno-burguês, ilustrado na melhor das hipóteses por mais contar com colaboração das salas comerciais ou dos benefí- abstrato, sua existência cotidiana não desenboca em nada e êle
"Marty e 12 Homens em Cólera". Só a geração seguinte deveria cios da indústria. Este desencantamento e este abandono são.as vai. . . (Fim da cena)". Eu queria fazer um parêntese, que não é
trazer uma mudança radical, que eqüivale ao que a nova geração primeiras condições da liberdade cinematográfica. Esta atitude é apenas um. Existem duas versões de "Shadows". Depois da pro-
francesa e o grupo inglês do Free Cinema (Cinema livre) procura além do mais encorajada pelo clima prevalecente na Nova Améri- jeção da primeira versão, a reação dos mais jovens espectadores
atingir: um cinema do autor. É desta geração recentemente saída ca em geral, mesmo entre aqueles que não pertencem mais à nova foi entusiástica. Mas os distribuidores ficaram chocados. Eles
do ôvo, que eu queria falar aqui, geração que amadureceu no geração, mas vivem ao lado dela. Não sabendo desenvolver uma conseguiram convencer Cassavets a rodar cenas suplementares e a
momento em que a América passava por transformações radicais, atitude que lhes seja pessoal, nós podemos dizer que eles a toma- refazer a montagem para tornar o filme mais comercial. Daf
onde se fazia sentir o peso da angústia atômica contenporânea. ram emprestado de seus descendentes. resultou um filme bastardo, híbrido, que não tem nem a esponta-
Transformações técnicas, econômicas e psíquicas começam a afe- A primeira data capital nesta evolução se situa aproximada- neidade da primeira versão, nem sua inocência, nem seu frescor.
tar nossa vida cotidiana, nossas emoções e nossos sonhos. Nossas mente no outono de 1958, por ocasião da primeira projeção de Infelizmente é a segunda versão que os produtores enviam agora
necessidades, o meio em que vivemos são completamente dife- "Shadows", realizado por John Cassavets. Filme em 16 mm, pela para os festivais e se esforçam por vendê-la. E visto que é a única

23456789 unesp™ Cedap


Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 11.

¥ONE
TUPI CIIINIE R AIMiA

versão que muitos espectadores verão, eu queria evitar qualquer lie, é uma livre improvisação de uma cena de uma peça de Jack Frank, em preto e brando, e o filme em cores de Bert Stern
equívoco. Todas as qualidades que eu encontro em "Shadows" Kerouac. Ela nos mostra uma noitada na casa de um jovem habi- "Jazz on a Sumer Day" fizeram o cinema americano evoluir pelo
só estão contidas na primeira versão do filme e nela apenas. (Que tante do Greenwich Village, uma andarilho a quem visitam seus menos de uma década, eles retomaram a estética cinematográfica
começa com Benny caminhando na rua, encontrando seus ami- amigos poetas e um jovem "bispo" de uma confissão indeterm' lá mesmo onde G. R. Aldo a tinha deixado há cinco anos atrás,
gos, o genérico aparecendo muito mais tarde. A segunda versão, a or ocasião de sua morte. t
bastarda, começa numa sessão do rock'n'rolle o genérico aparece nada. Entre os poetas se vê ao natural as imagens da geração Stanley Brakhage num filme de curta metragem intitulado
logo, como em "Look Back in Anger",°j filme inglês de Tony "beat", Gregory Corso, Allen Ginsberg, Peter Orlowski, discutin- f
"Despir ilme" (Desistfilm) emprega todas as técnicas do cinema
Richardson extraído da peça de John Osborne). do e gesticulando e improvisando mais e mais, enquanto a mãe extempoio. ■">. Êle descreve uma farra entre jovens, com seu
O filme francês que mais se lhe aproxima é "Moi, um Noir", do bispo toca o órgão, sua irmã dá bofetadas. Conversam, bebem exibicionismo, seus jogos de adolescentes, totalmente filmado .
com a diferença que Cassavets emprega atores "reais" ao invés de cerveja, falam de Deus, tocam trombeta, falam ainda. Não se numa única noite por ocasião de uma verdadeira festa improvisa-
pessoas "reais". Como não possuíam a cena escrita, os atores produz nada. A câmara impiedosa e selvagem nos revela o quarto da, com uma câmera de 16 mm, levada na mão a maior parte do
tiveram que improvisar seu texto no momento da filmagem. A de dormir, a pia, a mesa, os percevejos. Um dos aspectos mais tempo e seguindo selvâgernente todos os menores movimentos,
linguagem, as situações, os detalhes da ação, têm todo o frescor fascinantes de "Pull My Daysy" é a gravação sonora. O filme foi sem plano premeditado. Esta técnica da.câmera em liberdade lhe
que se associam à palavra improvisação. rodado sem som, Jack Kerouac fala por cada personagem, permite recriar o ambiente e o ritmo de uma festa nos detalhes
A fotografia por si mesma reforçava esta impressão de obser- discute livremente suas ações. Durante a gravação do comentário, de suas ações as mais loucas e as mais marginais, de suas explo-
var a vida em movimento. Muito contrastada, sem rebarba, sem o Kerouac improvisou no mesmo instante, sem nenhuma prepara- sões de emotividade adolescente. Liberta de seu pé, a câmera
polido e o esquema hollywoodiano. Nada de embelezamento, ção, sem nada conhecer sobre o filme, numa espécie de transa percorre tudo, sem se fazer notar nem incomodar ninguém.
nada de John Altan e Cie., nada de maquillage, nada de ângulos poética comparável às visões de um santo. Seu comentário tem Aqui, ela se aproxima de um rosto, mais adiante ela segue esses
procurados muito conscientemente. Somente de vez em quando uma intensidade, um lado mágico, sem precedentes no cinema jovens excitados, com movimentos bruscos e trêmulos. Uma per-
americano. Como "Hiroshima Mon Amour" e "Moi Un Noir" feita harmonia parece existir entre o tema, a câmera móvel e o
alguns "close-up" como nos bons velhos tempos.
A fraqueza de Cassavets é a de um debutante, de alguém que que perdem muito de sua beleza verbal para os espectadores temperamento do cineasta. O movimento contínuo da vida é
anda tateando em terreno desconhecido. Cassavets não sabia bem anglo-saxões, "Pull My Daysy" se arrisca em se ver amputado de assim apanhado, o filme tem vitalidade, o ritmo c também o
onde êle ia, ignorava no fundo suas intenções artísticas. O que uma boa parte de sua gravação sonora nos países que não com- temperamento de um poema de Rimbaud, de uma confissão dila-
preendem o inglês. Robert Frank e Alfred Leslie se declararam à cerante — tudo improvisação.
êle obteve foi mais o resultado de sua "ignorância" que de seu
procura da introdução de seu filme: A intenção dos autores foi a Eles não são intelectuais. São sobretudo seres hipersensfveis,
"conhecimento". (Lembremo-nos da observação de Orson Welles
de fazer uma obra que responda perfeitamente às exigências deli- com reações imprevistas, seguindo o mais comumente suas intui-
cadas de James Agee: "Os filmes que eu sonho não serão ções e suas visões, pouco rejeitando as convenções estabelecidas.
documentários nas obras de pura ficção, penetrando, atacando, E nós sabemos que o melhor do cinema americano foi criado por
ou colaborando com uma realidade que não terá sido fabricada e tais "ignorantes", de emoções grosseiras, inclusive Griffith. 0
repetida. "Pull My Daysy" é uma tragi-comédia. "Pull My novo cineasta americano passa por uma desconfiança sistemática
Daysy" não tem intriga nem segue nenhuma lógica. É sobretudo com relação aos clichês do cinema oficial. De uma maneira pura-
o retrato da condição secreta de toda uma geração. Poder-se-ia mente intuitiva, êle começa a conduzir o cinema americano a
mesmo chamá-lo de um filme "beat" — e o único filme "beat" domínios desconhecidos. Para êle, a sinceridade é mais importan-
feito até hoje se a coisa pode realmente existir — do mesmo mo- te que a técnica e as teorias. A sinceridade do autor, a inocência
do que o "beat" é a expressão da rejeição inconsciente e espontâ- de atitutde, desempenham um papel na arte moderna americana,
nea pela jovem geração das atitudes dos pequenos burgueses ou quase sempre bem mais capital que a perfeição da obra criada. Se
dos homens de negócios. Com todo seu absurdo aparente, é o se denuncia Hollywood, não é porque ela faça filmes tecnicamen-
filme mais perfeitamente autêntico sobre a América que nós vi- te ruins, mas sobretudo devido à falta de sinceridade, devido as
mos desde muito tempo. Nada de mentiras, nada de pretensões, poses contínuas e o tom rotineiro que invadem todos os produ-
nada de moral. Richter e Cocteau já introduziram nos seus filmes tos feitos em Hollywood. Podem ser obras tão diversas como
amigos pintores ou poetas. Mas eles os utilizam em situações e "The Defiant Ones" (Os Desafiadores), "The Nun's Story" (A
movimentos simbólicos. "Pull My Daysy" não tem nada a ver História de uma Freira), "Middle of the Night" (Meio da Noite),
com este simbolismo literário. As situações são as de todos os "The Diary of Ann Frank" (O Diário de Ann Frank), "Anatomy
dias, sem intenções guardadas. E portanto a impressão final que of a Murder" (Anatomia de um Assassínio): eles têm sempre
se impõe é a de um mundo estranho e absurdo, com sua lógica e alfuma coisa de pretencioso e de ridículo.
significação próprias. Ao mesmo tempo, este mundo é bem o Se você quiser situar a geração "Beat" e levar suas atitudes ao
nosso, sem erro possível, o mundo da jovem geração "beat". extremo, você se encontrará provavelmente ajoelhado aos pés de
Além do mais, a fotografia, em preto e branco, está inteiramente São Francisco de Assis. Inocência, sinceridade, franqueza, são os
a propósito de Cidadão Kane: "Eu não procurei deliberadamente de acordo com este clima. Liricamente mítica, elegante e vaido- objetivos principais. Os novos cineastas americanos preferirão
inventar o que quer que seja. Eu simplesmente disse: Por que sa, modesta, ela procura incessantemente revelar detalhas e atos freqüentemente melodramas juvenis ou gravações de ficção cien-
não? A ignorância é geralmente um grande dom, ela confere às que apesar de sua inconsequência aparente, possuem as qualida- tífica técnica e esteticamente inferiores, se eles são honestos (e
coisas uma qualidade particular: Foi isso que eu trouxe à Kane: des fundamentais da realidade contemporânea americana. Robert grande número deles é) às obras bem acabadas, mais pomposas e
minha ignorância"). As imperfeições, elas próprias, o não profis- Frank, também operador do filme (seu livro "Os Americanos" insinceras do Filme de Arte.
sionalismo da técnica, tornam-se parte integrante do filme, o apareceu o ano passado em Paris e acaba de ser lançado em Nova Eu falei mais acima da importância de Nova Iorque como
melhor de seu estilo, concedendo-lhe uma certa rudeza, uma Iorque), conseguiu destruir o enquadramento estático, compos- centro do Novo Cinema Americano. Portanto, mesmo na Costa
certa impureza, que o tornam mais autêntico, menos oficial. Sem to, artificial, de qual os turiferários da arte muda protestam Oeste, os sinais de uma renovação aparecem. "Private Property"
saber, Cassavets encontrou esta rudeza, esta impureza que carac- sempre com emoção e que é ainda um prejuízo para o cinema de Leslie Stevens é uma das primeiras produções que diferem
teriza toda a arte americana moderna: o teatro de Julian Beck e falado. É suficiente olhar as fotos fixas de Frank para se tomar radicalmente da tradição hollywoodiana. Pequeno orçamento,
de Judith Malina, as pinturas de Alfred Leslie, as esculturas de consciência de que elas não são nunca fixas, nem estáticas. Elas atores desconhecidos, cenários mais contemporâneos e sobretudo
Richard Stankiewigz, os escritos de Kerouac e de Ginsberg — em são enquadradas, cortadas de uma forma que o equilíbrio da espírito diferente. A contribuição do cinema da Costa Oeste po-
toda parte você encontrará manchas de gíria e de impureza que imagem é constantemente rompido — isto devido à uma série de deria ser a de rejuvenecer um pouco Hollywood, de colocá-la em
num sentido preciso destroem o sentimento da respeitabilidade balanços e de impulsos para a extremidade do quadro, para algu- contacto com sua época.
clássica. Em pintura, por exemplo, os toques finais de Alfred ma coisa maior, para a totalidade da vida em ação. Quando os O Homem Novo êle próprio. Quem quer que seja que pedisse
Leslie sobre a tela consistem em salpicos de pintura com os quais "profissionais" do cinema artificial se indignam e dizem que a esta geração, obras de arte com pontos de vista filosóficos e
êle destrói intencionalmente a ilusão artística para nos colocar Frank ignora as regras do enquadramento, que êle corta as cabe- estéticos bem definidos, deveria ser encarcerado. A década que se
no espírito, o estúdio do artista e seus pincéis. Este toque de ças, etc. Eles desconhecem toda a originalidade da verdadeira aproxima será marcada pela busca intensiva e pela explosão dos
atualidade e de ação oferece um exemplo do lirismo que nós cine-dinâmica. Frank nos diz: nada de pequenas vinhas; nada de sentimentos, cuja finalidade é a de penetrar nos recantos mais
encontramos em toda a vida e arte americanas. É essa qualidade álbuns amorosa e estàticamente compostos de imagens suposta- secretos e menos contaminados da alma humana, enfim um es-
de espontaneidade que caracteriza "Shadows", é a mesma quali- mente em movimento, nada de clarões chatos e xaroposos à forço desesperado para escapar dos clichês da arte e da vida.
dade que Alfred Leslie êle próprio trouxe mais tarde para o maneira de Alton; nada de enquadramentos lambidos!
cinema em "Pull My Daysy". Todos eles parecem nos dizer: A transformação de Hollywood e de sua cinematografia "ofi-
vivam, estejam em contato com a vida, é muito mais importante
Que criar arte. "Pull My Daysy", de Robert Frank e Alfred Les-
cial" é uma das contribuições essenciais do Novo Cinema Ameri-
cano. Os filmes de Morris Engel, de Lionel Rogosin e de Robert DEZ ANOS DEPOIS

FOHB
3-676/ CINEBQHIQ
!+-ife- ■» -zc-^i. » cjaíjo&j,£><
G4MUOÍ |
fOfve
3-0362 LICEU POPULAR ?ON£ I
õtêZf
^ <4-f6-f8 -il-Zl &-ÍÔ-20 ;1&
V 0 ENT€£Çú ' #
'WRISINAUGUPúNOOTQ &MAHk CdFEr/NA LOvíSrony lí
S6fc/C.-QÜAHOO HfM iWAKefgsutve ieaye.-v .yo/ti
!?f" *M «*4 M. +W)

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
.

« , ■ " ■: . ,-.'

\M
2 unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

2 3 4 5 6 7 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56
14 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.
# %,„

OU COMO DISSE O ETERNO: NAO SE GLORIE O SÁBIO NA SUA SABEDORIA,


NEM O FORTE NA SUA FORÇA, NEM O RICO NAS SUAS RIQUEZAS; MAS
NISTO SE GLORIE AQUELE QUE SE HÁ DE GLORIAR! POR ISSO HELENA
INEZ, PURIFICADA NO CRISOL DA HARMONIA UNIVERSAL.

HUMANIDADE Eu gosto muito dela

HOJE Tôaqui

HARMONIA Existe em toda parte. Por onde andei.

HORA Ora, veja!

HFRANÇA Não tenho nenhuma.

HAIR Cortei.

HOMENS Gosto muito.

HEITOR VILA-LOBOS Fantástico.

HIPPIES Há dois anos me tomam por èle. Na África, eu e o Rogério


recebemos muita esmola, engraçado, eles tinham a maior boa
vontade, abriam nossa mão e colocavam grana. Viajamos adoida-
do, quase iríamos a índia. Fui atropelada na Nigéria e fiquei 15
dias num hospital. Lá tem muita doença. Piolho voa como mos-
ca, todos mosquitos dão malária. Tudo é paupérrimo, os france-
ses ordenaram eles a cultivar o amendoim. E há tudo de amen-
doim, farinha, doces etc. Viajei por cima de caminhão,'dormi na

HÁBITO O de não poder tê-lo.

HÉLIO OITICICA Bom dia!

HERÓIS E HEROINAS Um chiiiiiíiiiiiiiiiiiii! tudo isso que posso dizer, realmente.

HISTÓRIA A do HOMEM foi deturpada. (!)

HEITOR Lindo!
DOS PRAZERES Começa a se falar da Divina Comédia. Dante é explicado. Alvi-
nho, Ricardinho, Bião, Athenodoro, Helena, num diálogo dantes-
co.
— Éle conheceu Beatriz, com 9 anos

estrada. No meio da estrada, com muita fome tomei um iogurt e


por isso também fiquei doente. Eles misturam o iogurt com mijo
de vaca para cortar o leite. Só que a vaca estava doente e eu
fiquei com a doença da vaca. Mais foi tudo fantástico. O Rogério
filmou na África e vendeu seus filmes em Paris. Rodamos 6
meses por aquela área, descobri que só no Brasil se fala uma
língua.

HORRÍVEL Não saber viver

HONESTIDADE Eu tenho

HOTEL Não é meu lugar, entenda.


DAS ESTRELAS A coisa mais fantástica que eu vi em minha vida. Vi em sua
HENDRIX última apresentação. Foi na Ilha de Wight, êle estava de camisa
rosa. Fantástico.

HARRISON Interessante.

HOW DO YOU DO Very well.thankyou

HAVER Não há

HEI DE VENCER Não é meu lema.

HONRAR PAI & MAE Correto

HYDE PARK Prefiro a praia da Bahia.

"
unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 15.
— Que lindo!
— Amaram-se muito. Mais tarde ela era santa, pelo tanto que
amou. Dante canonizou Beatriz na Divina Comédia.
— Não sabia que você sabia tanto de Dante. Alegro em saber.
Leitura agora, só os clássicos.
Começa no Inferno, depois o purgatório e por fim o paraíso.
— Você não acha que é assim mesmo? Por fim o céu.
Maomé está no inferno. Orfe no purgatório. Será,?
Não vejo Maomé no Inferno. Nem Baco.
— Não está bem transado, não.
— Também não estou muito lembrado.
— Quando êle acordou de um sonho, encontrou o poeta Virgílio
do seu lado. O poeta acompanhou êle pelo Inferno, o purgatório.
Mas êle já era morto.
— Então a transa é essa.
— Tanto que os outros ficaram admirados quando eles saíram do
Inferno.)

HAXIXE Tem de má e boa qualidade, por aí.

HATA YOGA Seríssimo!

HERMAN HESSE Agora passei amá-lo. Eu achava horrível, agora não. V. tem lido
êle de dois anos para cá? Tô amarradíssima! Mas eu prefeiro
. qualquer indiano anônimo, a êle. Li muitos indianos anônimos;
pensam de uma maneira fantástica. Dão tudo p'ra gente. É o que
eu tenho conseguido ler.

HONG-KONG Chatíssimo, deve ser.

HIT-PARADE Eu gosto de todos

HELENA INEZ Tenho impressão que vim de outro planeta. Leva a sério isso. As
coisas acontecem de maneira. . .

H2O YIN.
Helena Inês no verão da Bahia, numa noite de lua em beira de
praia. Qndina. Penúltimo dia do ano 71.

Isadora Duncan. A última vez que vi Helena numa tela foi em "Barão Olavo" de meias vermelhas e
os olhos manchados de azul brilhante. Ela dança, corre, e fala que gosta muito daquele trabalho,
hoje não está mais naquela, mas acha legal, bonito. Ela sentada numa cadeira azul, pergunta pelas
pessoas, pelas transas. E acha que eu sempre gostei de jornal. E de Paloma.

PALOMA ESTA LINDA, ADORA CRIANÇAS, ESTÁ LINDA COMO UMA AFRICANA.

^A filha Paloma esteve em Londres, viajou muito. Como Helena que está sempre por aí, pelo
mundo. No Rio onde só parou para trocar de avião.

O RIO ESTÁ LINDO, DE SOL.

Helena está linda. Nada de falsa baiana. Quando ela arma sua dança é prá mestre nenhum botar
defeito. Vive bem. Tranqüila, feliz, atriz.

NOTAS SOBRE HELENA INÉS


Eles chegaram. Tão aí. Gilson Rodrigues cantou. Como no verão passado, com as festas. O baton de
Helena, aqueles cachos de Rogério, seu bigodeda RKO, Helena com lantejoulas coladas no rosto,
umas estrelinhas, cabelos vermelhos. Sardas pintadas. E chita remendando a calça.

NO DESERTO DORMI EM CIMA DE SACO DE TAMARAS

Telefono para a casa da família de Helena, é chegaram, tão por aí. Depois encontro Rogério. Ainda
no telefone. Marcamos encontro e combinamos entrevista. Para as 8. O carro da gente enguiça na
estrada, sem telefone. No dia seguinte o mesmo lance. Para a mesma hora, na casa de Ondina. Linda
casa. Rogério Sganzerla do "Bandido da Luz Vermelha"/ "A Mulher de Todos"/ "Copacabana
Desvairada". Os filmes foram exibidos para a Paramount, mas fecharam negócio mesmo na Europa,
até Alemanha. Vou R5go sabendo das transas. Êle está na varanda e me dá dois beijos de amigo.
Quase não fala, ri muito e discute com Ricardinho quantas horas se leva a pé de Mar Grande a
Itaparica. Depois de meses em toda a África Negra está com o cabelo mais curto. Filmou lá. Helena
pede as fotografias porque as últimas que tirou foi no lambe-lambe da Sé para o passaporte.

VERBO PARECE COM O "SOUND". É MUITO BONITO. VOCÊ CONHECE?

Não eu não conheço, quem conhece é Bião que estava em Londres e eles se encontravam lá na casa
de Caetano. Ricardinho faz as fotos, acha que tem pouca luz. Helena traz um abat-jour, a lâmpada
espelhada é muito forte. Helena está jTiagra, bem magra e sedosa. O abat-jour não faz contacto
tomara que Ricardinho acabe logo porque eu tenho medo de choque.

PERDI A MALA COM TUDO DENTRO, ESTOU COM A ROUPA DO CORPO.

Perdeu mesmo, sumiu do aeroporto. E ela e Rogério pelo mundo, na hora de vir para o Brasil, cadê
a mala? O gato comeu. O papo vai para Dante, e Helena quer comprar amanhã, pergunta quem está
no céu, no purgatório, no inferno. Pergunta se as figuras são fixas, se quem está numa pode passar
para outra. Só o paraíso deveria ser fixo, as outras esferas móveis, porque sem essa de ficar no
inferno para sempre, não é assim, e o amor de Deus? O caminho do espírito é sempre na direção,
nos caminhos de Deus esforço não meço. Só Athenodoro e Ricardinho leram Dante. Deve ser um
barato, ela vai comprar amanhã de manhã. O hospital onde ela ficou internada era Niger, uma
pobreza muito grande. Foi atropelada e mostra as marcas no braço, o corpo de Helena é bonito, se
move no ritmo de sua cuca premiada. E muito viva, sua Inês é viva, vivíssima.

ESTOU NA MACROBIÓTICA PORQUE QUERO VIVER MUITO.

Eu digo que vou viver muito porque sou de Capricórnio. Ela de Gêmeos, como Bião, Ricardinho e

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
16 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

fcí":

COMO SELECIONAR BOAS AÇÕES

Não existe regra infalível para ganhar dinheiro ou não estiver boa para ser retirada, ela simplesmente mento. Entretanto, se analizarmos as fases do desen-
um padrão de investimentos para todo mundo. Pri- aguardará mais algum tempo, até chegar a época das volvimento brasileiro, veremos que, embora não te-
meiro porque se alguém conhecesse essa regra, não vacas gordas, quando terá um bom lucro. Em outras nhamos empresas inovadoras, algumas atividades exis-
iria divulgá-la; segundo porque o investimento ideal palavras, ela poderá se decidir pelos títulos de renda tem que representam uma evolução em relação às ati-
para um pode ser simplesmente razoável, se não desas- variável, que melhor atenderem aos seus objetivos. vidades econômicas simplesmente agrícolas e extrati-
troso, para outro. vas (na qual só exportávamos matéria-prima, sem con-
Como vemos, é relativo o conceito de bom investi-
Lembremo-nos que tod investimento é resultado dições de industrializá-la, para a fase em que nós pró-
mento. Entretanto, se não existe regra infalível, nem
de opções em termos de rentabilidade, segurança e prios industrializamos nosso produtos básicos, tais co-
investimento ideal, existem determinadas práticas de
liquidez. Assim, você pode achar excelente o investi- mo o ferro e aço, petróleo e seus derivados, cimento,
seleção de ações que apresentam maiores probabilida-
mento que lhe dê um lucro de dez por cento, do dia celulose, papel, fertilizantes, cujas matérias-primas sem
des, que o investimento sem critério.
em que você o aplicou até quando for retirá-lo para nenhum grau de industrialização, passamos a exportar
• Uma dessas práticas é investir em atividades inova-
fazer uma viagem. Nesse caso você não está táo inte- café solúvel, minérios industrializados, algodão indus
doras.
ressado em rentabilidade, mas em fazer uma aplicação trializado, couro industrializado, etc.
Que vem a ser isso?
que pelo menos neutralize os efeitos da inflação, du-
rante o.tempo em que você não está precisando do Nós sabemos que a economia nâo e estática. Em Portanto, no caso brasileiro, podemos destacar al-
dinheiro. É aquela situação em que você programa determinados momentos surgem atividades inovado- gumas atividades que, se não são inovadoras no senti-
uma viagem para dezembro e recebe uma "bolada" ras que possibilitam o progresso da economia. Isso do da palavra, pelo menos definem e se enquadram na
em junho; se você gastar o dinheiro, pode ser que em aconteceu quando se descobriu a máquina a vapor e nova tendência da economia como um todo. Para ci-
dezembro esteja na pior e não tenha onde conseguir se a utilizou na indústria; aconteceu quando surgiram tar algumas, podemos destacar a siderurgia, a minera-
outra "bolada" imediatamente. Por outro lado, se vo- as primeiras ferrovias como meio de transporte e ção, o petróleo e a petroquímica.
cê deixá-lo guardado, o dinheiro perderá o poder quando o automóvel passou a ser produzido em série, Em resumo, se você quiser ter certeze de que está
aquisitivo. Daí o seu interesse numa aplicação de ape- o que lhe permitiu desempenhar o papel que hoje fazendo um bom investimero observe e analise os di-
nas seis meses que não corra muito risco. É provável desempenha. versos ramos de atividades que estão surgindo, e estu-
que você decida aplicá-lo em títulos de renda fixa, de as suas possibilidades de contribuir para o progresso
que atendem ao que você deseja. m É evidente que essas atividades inovadoras ofere- econômico.
cem maiores possibilidades de ganho que as atividades Só para ilustrar a questão de atividade tradicional
Este mesmo dinheiro em mãos de outra pessoa tradicionais. Por isso nós constatamos que na Bolsa de e atividade inovadora: você compraria ações de uma
íjue não tenha uma viagem programada, poderá ser Nova Iorque destacam-se, hoje, as empresas de fábrica de chapéus, ou de uma fábrica de fertilizan-
aplicado por um prazo bem maior, desde que, com computadores, e na Bolsa de Tquio as de aparelhos tes?
isso, a rentabilidade aumente. Como essa pessoa não eletrônicos. Outras práticas veremos na próxima semana.
tem prazo para retirar, pode correr um risco maior, É verdade que o Brasil não se destaca pelas inova-
pois, se em determinado momento a sua aplicação ções tecnológicas, dado o nosso estágio de desenvolvi- Evandro Checucci

IMÓVEIS E OUTROS GRILOS


^RESTAURANTE E CASA NOVA ESPORTE
Já que falamos sobre a construção por empreitada, que é
um verdadeiro bode, por sinal, meu nasal, consideremos, now
DRINKS A POLO about, a construção por administração.
Quando nas incorporações em que a construção fôr contra-
R MIGUEL CALMON 3, ÜAND tada pelo regime de administração, também chamado por al-
TEL. 2- SALVADOR - BA
guns sofisticados "a preço de custo", será de responsabilidade
dos proprietários ou adquirentes o pagamento do custo inte-
gral da obra, observando algumas disposições:

0 1) Todas as faturas, duplicatas, recibos e qualquer docu-


mento referente às transas para a construção, serão emitidos
SEU em nome do condomínio dos contratantes da construção;
JAiNT7\R 2) Todas as contribuições dos condôminos para qualquer
fim relacionado com a construção, serão depositados em con-
ftportts, Ttcidos cm Gmral
tas abertas em nome do condomínio dos contratantes em esta-
Rua Lop.. C.rdo.o, 14 - T.l«f. 30508
belecimentos bancários. Essas contas serão movimentadas de
SALVADOR - BAHIA
[Ar condicicng.cior^ acordo com o contrato que fôr celebrado, com BRADO. Braço
Quebrado.
yê/© (música esterecõnicja. /^ çiPJ
No regime (Qual? ) de construção por administração será
obrigatório constar no contrato o montante do orçamento do
custo da obra.
Peço licença a todos para citar, coisa de extrema necessi-
dade para mim, uma frase de dinâmico homem de um setor
ligado a incorporações, por sinal, o único cara (considerado
Maria de Sio Pedro era uma rainha da Bahia, por todos do Verbo) que não é careta. Digo isto, porque de
acordo com Bião, no Verbo todos são caretas. Mas, como diz o
fdta de porte, bondade e arte. nosso amigo: "Tragam-me problemas, as coisas fáceis tornam-
me indolente". . . Lindo, vocês não acham? Principalmente
dito por alguém que gosta mesmo é de dar problemas para os
outros. Problemas pacas. . . E com isto a careca do Ângelo
cresce assustadoramente.

But, eu, por. acaso dizia que, aliás, digo que a Comissão de
Representantes tem podêres para, em nome de todos os con-
tratantes:
1) Fiscalizar concorrências relativas às compras dos mate-
riais.
2) Contratar, em nome do condomínio, qualquer modifica-
ção que qualquer adquirente deseje.

(restaurante)/ 3) Fiscalizar a arrecadação das contribuições destinadas à


construção.
4) Praticar todos os atos necessários ao funcionamento re-
gular do condom ínio.

mana de sao pedro Em toda a publicidade escrita destinada a promover a venda


das incorporações, deverão constar o preço da fração ideal de
terreno e o montante do orçamento do custo da construção.
Esta exigência é dispensada quando o anúncio fôr para clas-
sificados de jornais. . .

Café
Em tempo: Na próxima semana, sensacional entrevista. Alu-
cinante! É verdade que é!

r;W

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 17.
railig© H&3?H(ga&ÍL
-ffti
Recebemos visita de um pessoal de São Neide Arruda, Renato Truler, Sargento e o BBHHfiHHB
Paulo. Eles formam o GRUPOP,- um grupo de i Transasom. Som. "O espetáculo segue um ro-
teatro profissional que apresentou ano passa- teiro em que apresenta muita música, dança e
do em São Paulo, o espetáculo "Luxo, Som, jogos". Tern música de Luiz Gonzaga, Waldick
Lixo ou Transanossa". E agora estão aqui. Soriano, Adelino Moreira ( Meu vício é você é
Transando na Bahia. Dia dois de janeiro houve a música do Adelino), Caetano Veloso, Ari
estréia na Capelinha do Solar do Unhão. Se-
gundo o material de divulgação, o Luxo, Barroso e Roberto Carlos. Os críticos de tea-
Som,Lixo ou Transanossa" é "um trabalho de tro falaram, Lixo. José Márcio (Veja), Sábato
pesquisa scbrecomunicação e participação de Magaldi (Jornal da Tarde), e Hilton Vianna
público". E é por isso que eles vieram à Bahia. (Diário da Noite). O primeiro: ...aquele alvo
Estudar e observar sobre "a participação de desesperadamente procurado e raras yézes
atingido pelos teóricos de teatro de vanguar-
um-público novo em um novo local". Ó espe-
da". O segundo: "...através de um diálogo de-
táculo tem roteiro, cenáüo e figurino de Nei-
de Arruda e Antônio Carlos ( que fala de seu sinibído com os espectadores, ò grupo conse-
trabalho como uma mistura de festa popular e gue uma participação expontânea,...". 0 ter-
terapia de grupo). Luxo. No elenco, Antônio ceiro: "...um espetáculo extra". Estiveram
Carlos, Dora Santos, Edson Santos, Eloy Si- aqui na Redação e adoraram. Legal. O Verbo
mões, Fernando Benincasa, Milla Camargo, é encantado mesmo. Sucessos.

TREKINHOS
Leve seu pano legal pra ser tratado. Trate êle os outros não prestam. Tem também o óleo
bem que você vai vestir é êle mesmo. Na Moco que a avó de Mônica vendeu o know-how prós
o pessoal sabe como fazer isso. Entregue seus hippies. Os dois são maravilhosos. O mais é
panos lá. E se encontrar o Charles, dê um BOTA AS MÃOS nas cadeiras, faz favor de
abraço nele que o VERBO manda. A Moco ' mexer.
está agora ali na Ladeira da Barra, defronte do
Grande Hotel da Barra, na loja do andar tér- Dona Maria do Cramo é uma baiana de acarajé
reo do edifício Rômulo um prédio de três an- do Abaeté. É maravilhosa. Os acarajés são \
dares. bons. Melhor é o fato dela ser a baiana mais
poluida pelos hippies. Ela fala: "podes crer" e
O samba da pesada da onda deu uma de gran- "amizade". Mas da pesada mesmo é a excla-
de de letra. Osmário Muniz e Galvão, a moça- mação que ela criou e que nós adotamos: Al
da dos Tradicionais do Samba, transaram um MINHA CAMA!
som-samba classificando-se com a marcha Cur-
tição (de Marinho) e aqui vai o refrão de Gal- Falaram: Fora da Caridade não há salva-
vão: toté toté maiongá maiongolê. ção. E Dona Edna tá afim disso.. Mandou no-
ta pra gente pedindo que todo mundo ajude o
Meu santo, táxi em Salvador é um saco. Outro Instituto de Cegos. Ora, como? Pagando vinte
dia o Sandes se sentiu mal e tinha que ir pro cruzeiros anuais (foi o que ela disse). E vinte
Atende. Nenhum táxi parou e os que pararam
cruzeiros é grana pouca. São cinco meses de
não estavam a fim de. Como é que pode?
Verbo, ou vinte exemplares de cada um.
Minhas roupas são da Trappo, e quem faz é o
Eliot. Confio muito nele e sou sempre bem Sua coleção Verbo vai ficar mais bem guar-
atendido. O lugarzinho é relax, confortável, e dada numa capa (ou encadernação). Aguarde.
os meninos umas jóias^ Apareça por lá. Aguarde e guarde todos os Verbos. Se estiver
faltando algum, procure na Barraca de Choco- bote prá quebrar com Big Ben, e saiba que a Mário Krutman esteve em Salvador. No Rio
João Gilberto transou com a gente. Amanhe- late no Mercado Modelo ou na loja Transa de gente viu você cantando rock na tevê. Um ba-
cemos o dia com João curtindo seu pinho, um êle transa com publicidade. Veio curtir com a
Zito Saback no Grande Hotel da Barra. rato, um barato! família, ficar perto de sua gente, pelo fim de
som maravilhoso, era manhã cedo. Café foi
quem trouxe êle no último dia de 71. Éle saiu ano. Olá Mário.
Casa nova na noiíe baiana: Dique Hause. Bar-
de nossa casa para o aeroporto. João, essa pes- Vamos falar de bancos. Vamos sentar e restaurante e show folclórico. Na Vasco da
soa fantástica, um menino. descansar nos bancos dos jardins dessas cida- Gama, 292, no Dique do Tororó. E os pre- Koisa Paka, de Wânia e Zorba está com coisas
des brasileiras. Vocês sacam (cheques inclusi- ços? Cuidado prá naó dar uma de Varanda
A Campo Grande Cia. de Seguros encerrou 71 lindas maravilhosas sensacionais. E eles são
ve) o Banco Expansão Industrial? Nem eu. onde você só pode ir se tiver mina de diaman- ótimos, tem aquelas poltronas plásticas, aque-
botando prá esbuguelar. Fez grande e. boa Sei. que lá tem um contador da pesadíssima, te ou poço de petróleo. Ou ser otáíio. Felici-
clientela. E quem é Inspetor de Produção? la escada linda, roupas lindas, gente linda.
demais de bem dinâmico, o Edgard. E quem dades Dique Hause.
Ora, Daduca Chagas, que é dos nossos, amigo
Verbo. falou tá sabendo. E eu confio na fumaça. On- E o Fernando José? Èle é amigo Verbo, um
de há ela, há fogo embaixo dela. E o Bar Caninha que a gente tá sempre pro- locutor da pesada, na rádio Cultura que gosta
movendo aqui? A gente vai aparecer por lá do Verbo, e o Verbo gosta da rádio, do pes-
Transas de varão: óleo de praia só tem de dois prá ver se é verdade o que eles mandam dizer
tipos, um que é feito de urucum com óleo soal de lá, França, Alváro, Daduca, Fernando
E Waldir Serrão, essa flor de gente? Apareça a gente divulga, Aguardem. Já soube que é
johonson. O melhor urucum é o de Lençóis, José. Um pessoal muito quente e muito louco
Waldir, a gente quer conversar com você. E caro paca. Viva!

P3*g>~g=5?>

UG
LEÃO ROZEMBERG

CARLOS GOMES, 20/22


BAHIA — BRASIL TELS. 3-5181 - 3-5182 AV SETE. 35/37- S/312/13
9- SALVADOR TEL 3-4773

BARRACA OGUM
de 8ERNARDINO MACHADO 3 -m<*\M>Lte Uda.
MOVEISE DECORAÇÕES
Autentico artesanato emt
Çcúroa. Miasanga, Cobre, Jacarandá, CLÁSSICOS E MODERNOS
FVatí, Lapidaeio em cristais e garrafas. ADORNOS E PRESENTES
Artifies exclusivos,
preços Sem compatidor. V E N DA S A CREDITO

Mercado Jvíedci» - 1.» andar • Quadra L n.» 8 - Salvador-Ba. FILIAL: RUA RECIFE, 1 - ESQ. C/ MARQUÊS DE CARAVELAS - BARRA AVENIDA
Térreo - Quadra 0 - n- 2 TEL.:5-4610 SALVADOR - BAHIA

f||* Í-ÍV
~#í

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
18 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

Não deixe entrar preguiça ou bobeira. Cuidado com os Ó amizade, esticando o Tempo?
Não sei o que está havendo. mayas. Já lhe adianto que a doutrina esotérica ensina—maya é (Agora eles, os meninos trabalham.)
ilusão. E você que não faz pelo menos aprenda espanhol para
Parece fantasmagoria, o quadro que era da avó e estava na traduzir hay nosotros e talvez você assim cante o bolero até o
fazenda. Não posso entender, está no quarto dizendo amém. Quando você toma uma coisa por outra. Troca as antenas. fim.
Amém. Você com esse ar aborrecido desta vida levada que Os mayas são perigosos, eles atentam, e se fazem passar pelo Ou fica mudo e dá vexame porque está na hora do qual é.
tem levado. Também pudera, hay nosotros. que não são. E é tal a semelhança que você vai e raspa o chico Que chega prá todo mundo e chegou quando o sonho
As vezes quando acordo de noite e vejo as estrelas prega- na ostra. acabou.
das no céu da minha cuca, negro e animado como todas as Diz que não existe, que não importa. Eu falo nisso, é o que a gente tem conversado na varanda
noites do mundo. Sou alvfssimo. Ganhei esta roupa que me Existe a luz do sol tão forte que lhe encontro de óculos de noite na rede e seu braço suado está no meu ombro, a pele
veste, clara como clara de ôvo para o bolo que você gosta, escuros. Triste por saber que o sonho acabou mas você pro- risonha.
mas você não pode comer o bolo, tá na loucura de novo. E longa, prolonga, puxa o papo e é chato. Assim quando seu braço me abraça e se conversa em voz
quase não dorme. baixa, enquanto. Falamos disso. A noite passa e você no ouri-
Também é verão você gosta de folia. Legal. Quando você está aqui o resto do mundo está longe. ço, é isso o verão consome. Já vai sair de novo..
Falo do anti-teatro. Tudo é longe daqui. Mas sempre é tempo prá pensar, ainda neste abraço que
Falo de ontem que você esqueceu na gaveta e pega nele Geografia aplicada. me acompanha, e me converte em parte sua. Tudo é igual, a
toda vez que veste a túnica. Sua túnica indiana tão cara. nuvem não deixa você ver direito, assim com neblina espessa
Assim vejo você neste baratino e não entendo que se durma Vejo as provas das fotos de Waly Sailormoon e Luciano parece que nunca acaba. A planície está adiante, seu tesouro
em frigorífico, porque é frio. Talvez você entenda falando Figueredo para a capa do Verbo 11, fazendo poses na areia,
assim de "cold turkey". de ouro besouro.
bonequíssimos. Lindo, um trabalho curtido, de poetas e gráfi-
Você sabe o que é? cos e plásticos. Sacode as cadeiras, menina, faça o favor de Mas em Gotham City tem um abismo na porta principal).
É peru frio, gíria da pesada, pesada mesmo, e só sei por- mexer. Leia os jornais, os nacionais e veja lá o que se escreve Vê se me entende.
que sou da leve, da mais leve e minha leveza é resistente. Com deles, da transa deles com Gal. 0 show FATAL. O trabalho Álvaro Guimarães
a reinação deste urubu feio, e sua mulher urubua, deste quin- dos meninos, de Capinan, Jorginho, Oscar, eles, Ivan e as
tal velho, a gente precisa. IVAMPS que é gente que você não ouviu falar muito, a fina P.S. — Se lembre se puder, talvez.
flor e fina flora e fauna do nosso pensamento claro e ativo. Que também não há muito tempo prá pensar.
Você fala vagamente e isso é lindo. E esta'bobeira, tá bem.
Você inventa suas roupas, vermelho e branco. Pois num mundo onde o sonho acabou a carruagem dou- Mas se você me chama assim, pela cor que me confiro, distin-
Você não usa meias. rada coberta de fitas parou na colina (Rimbaud). ção nota dez. Antes seria malhor a loucura mesmo.
Que as trevas.
De novo Bob Dylan e até o fim, porque não há outro. Éle Pois num mundo onde o sonho acabou tem que estar Não está fácil, este calor, e se você dormir na outra cama eu
diz com a gaitinha que cuca precisa de cuidado. Que você é atento, não de bode, despencando, assim Éle te larga de mão, posso dormir melhor. Para acordar nas cidades onde um ho-
santa pessoa. Cuidado com sua cuca. ó criatura preguiçosa. Esticando o Tempo.' mem é o rei da natureza, e ninguém pode dar de falsa baiana.

23456789 unesp™ Cedap


Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 19-

È AFILHADA DA REDEJVTORA prá reprovar, ela acha que a moda deve


São Sebastião do Passe, cidade de dez chuveiros, a água tem gosto de enxofre de Direito. Tinha o título de Capitão da
mil habitantes, antigo feudo do coronel mas dizem que é bom para a pele e para o Guarda Nacional que lhe fora concedido ser essa mesmo, se todos querem o pro-
Luís Ventura Estêves, dos últimos repre- fígado. pelo Império brasileiro. gresso, que então êle chegue a todos os
sentantes do coronelismo no Brasil. As igrejas são duas, a de São Roque e a Dona Dulce ainda guarda consigo vá- setores. Para ela o progresso de São Sebas-
Salvador e Feira firmes na corrida para de São Sebastião, a matriz, na frente dela rias cartas da correspondência que êle tro- tião é mesmo impressionante e que füm-
unirem-se numa megalópolis: O encontro fica a concha acústica e se você rodear o bém é a favor de maior interesse ao setor
pode dar-se em São Sebastião, pois fica muro encontra uma casa rosa, janelas ver- cou com a família imperial, inclusive do industrial.
no meio do caminho, a uma hora de des. Pode bater na porta que você irá con- exílio, onde a princesa agradecia os doces Mas a corrida espacial não é com ela:
ambas. Distância também que a separa de versar com a afilhada de uma princesa. que lhe foram remetidos para a comemo- "Não aprovo nem acredito na descida na
Alagoinhas e que eqüivale a uma viagem Muita gente anda por aí esnobando es- ' ração do aniversário em Paris. Era tudo lua". Se são assuntos extra-terrestres
de ida e volta prá Candeias, Santo Amaro, tória de rei, príncipes, etc, mas daria feito em São Sebastião e seguia para a então já são problemas de Deus e não do
Pojuca, Mata e Catu. Diariamente saem muita coisa prá ter qualquer transa em Europa a bordo de um paquete inglês. O homem, que tem a Terra todinha para
seis ônibus de Salvador para aqui, a passa- uma real estória real. Dona Dulce Mendes aniversário era no dia 29 de julho, com brincar.
gem custa 2,40. Vindo de outra cidade Barreto, prá vocês ficarem sabendo, é afi- uma grande festa também em São Sebas- Olha Dona Betty, Dona Dulce está a
deve-se saltar no Km 49 da BR-324, vulgo lhada de uma princesa, nada mais nada favor da senhora, disse que realmente a
Rio-Bahia, onde existe uma espécie de menos de que da princesa Isabel, aquela tião, a comemoração brasileira dos anos mulher tem sido muito subjugada e que
trevo rodoviário, e tomar um lotação que, que era filha do imperador D. Pedro II e da princesa exilada. deve realmente procurar se libertar mas
8 km após, lhe deixa na praça principal. que libertou os escravos daqui, enfim a Um papo com Dona Dulce é legal, a fazer tudo conscientemente, procurar não
Os dias de maior movimento são de princesa que mais badalou nesse Brasil. gente chega lá e não fica nessa de ouvir cometer atos que a desmoralizem, nem
quinta e domingo. Sábado tem feira, uma É, Dona Dulce é afilhada da Redentora ameaça de cortar o cabelo, nem ho-meu- fazer absurdos.
multidão barulhenta que compra e vende e fica na dela lá em São Sebastião. Fica tempo-não-tinha-disso, nem nada. É papo Estudar, se empregar, ter muitos ami-
na periferia do mercado. Não tem de tu- bordando, costurando, fazendo flores, faz agradável de gente. Agora eu pedi, e ela gos, viajar e nada de se amarrar com casa-
do, mas sempre existe uma surpresa. O cada almofada incrível, aqueles desenhos comparou o Naquele Tempo com hoje: mentos, era assim que queria levar a vida,
mercado é grande e com colunas esguias, geométricos que a gente faz no colégio "Ah! Aquele era o tempo que tinha mas São Sebastião não era ainda o que é
todos dizem e acreditam que é cópia au- com régua e compasso e tira zero, ela faz hoje. Naquele tempo era birutice. Dona
têntica do de Brasília, "o-mais-moderno- na máquina com retalhos e fica divino. mais fartura: todos tinham de tudo, tudo Dulce não pôde se antecipar à sua época e
do-mundo". Ela é mágica. Também os doces e licores fácil, vida folgada, etc. Mas eu acho que aprendeu a bordar.
Domingo é maravilha, na Praça Góes são porretas. Doces que ela aprendeu ven- faltava mesmo era mais educação, o povo Suas almofadas estão espalhadas em
Calmon uma fonte com repuxos colori- do como se faziam os que iriam à Europa sé educar prá saber aproveitar a fartura da várias butiques de Salvador, traz desenhos
dos, som estereofônico, faz todo mundo para as festas de aniversário de sua madri- época em que vivia; hoje não, a gente sabe impressionantes, de perfeita simetria, tu-
vir à praça. A música é variada de Gal a nha: viver, aproveitar tudo, mas a vida tá mais do emendadinho de retalhos. Me amos
Valdick. A partir das sete horas atravessar — Sim, eu sou afilhada da Princesa Isa- difícil, não se vê mais fartura de antiga- trou várias delas que irão para o Rio, pare
a praça (do tamanho da praça da Sé) só bel. Nasci e me criei aqui em São Sebas- mente". um casamento, são também de retalhos,
empurrando e tomando muitas pisadelas, tião, numa casa muito grande que meu Tem um poste com um alto falante na mas de uma forma que eu nunca vi, mara-
tem gente demais. pai possuiu de nome de Solar Quinta da porta e Gal começa a gritar que dois e vilha! Tinha também uns tapetes prá bo-
Cinema são dois, o Taquipe (da Petro- Boa Vista, ficava aqui ao lado, construído dois são cinco (prá os meninos errarem na tar no fundo do carro e umas colchas
brás) e o Janser, com filme novo todo dia pelos fundadores da cidade e foi destruí- escola). Dona Dulce não gosta muito de imensas, tudo emendado e os desenhos
e três sessões aos domingos, passa filmes da pelos políticos para fazerem uma ma- Gal, prefere Roberto Carlos e Valdick não se repetem nunca.
da moda e é bem freqüentado. Clubes So- ternidade. Numa sala havia uma exposi- Soriano; também apreciava muito a Car- — "A costura é a coisa mais importan-
ciais o melhor é o Vera Cruz, as festas de ção com fotografias de todos os membros mem Miranda. Ela disse que ficou muito te da minha vida: bordo, costuro, faço
maior sucesso é quando toca um conjunto da família imperial brasileira; quando era contente quando soube que Caetano era flores, tudo isso sem ninguém me ensinar,
local, o Geminni Sete. Buates fecharam, governador da Bahia, o Dr. Góes Calmon filho de Canôsinha que vinha muito em quanto mais costuro mais sinto prazer e
mas no Palhinha e no Canequinho, bares visitou esta exposição. sua casa mais Geny (tia de Bethânia e vontade de criar coisas novas, quero viver
da moda o ouriço é bom. Seu pai, Antônio Mendes Barreto, não Caetano) quando eram mocinhas. muito ainda para fazer todas as costuras
Quem não tiver saúde, é só ir ao bairro pertencia a nobreza, era preto e fora cria- Ela é capricorniana. que eu tenho vontade".
de Araçatiba tomar tíanho e beber na do por um rico fazendeiro. Queria ser Moda mini, micro, short, cabelo Valdemir Santana
Fonte da Saúde, são seis banheiros com advogado, porém não terminou o curso grande, qualquer ouriço, não tem nada Ias fotos são de Jâder)

PRINCESA ISABEL

% Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

23456789 unesp Cedap 20 21 22 23 24 25 26 27 2í


20 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

A FLOR
DO MACIEL
Foi melhor eu descer no Terreiro de Jesus,
logo vi a Praça José de Anchieta e o no. 8 é a
marginal, e uma mulher do 11 me sustenta. Mi-
nha vida aqui dentro é normal, uma vez furei
casa onde nasceu o famoso poeta baiano, Gre- um cara porque deu um tapa na minha mulher
gório de Matos. Hoje funciona nesta casa, a d'aquela época. Mas foi um caso bobo e não foi
UNIÃO ESPIRITA BAIANA e é aberta para vi- à polícia. Resolvemos como amigos. De vez e,
sitação das 08 às 17 horas. Vê-se a Igreja de São quando, o pau quebra aqui, brigas, tem policiais
Francisco; e já se nota jjm movimento estranho. embriagados batendo em quem não tem
Movimento de mariposas humanas, assanhadas documentos. Agora, a zona maior é ali no Ma-
para a noite que chega. São 20 horas na zona. ciel de Baixo. Dê uma chegadinha até lá". E eu
Aqui todos caminhos levam ao submundo fui. A rua que êle chama de Maciel de Baixo é a
maior baiano. Deixo o terreiro, entro na rua S. Rua Gregório de Matos. O Brega está fervendo.
João de Deus, também conhecida como Maciel Mais de 100 mariposas transitam. Nas radiolas,
de Cima. A rua está sendo reparada pela prefei- que bem parecem boca de alto falante, vem
tura; tirando o calçamento, buracos cavados pa- Márcio Greick dizendo, "não, eu não consigo
ra a linha de esgoto. Um sapecto total de ruína acreditar no que aconteceu. . . " e Aitemarílu-
casa-se com os não menos decadentes casarões. tra, "louco fui eu que acreditei em você", ou
A rua deserta de beleza, está cheia de figuras então Duo Ciriema, "aquela colcha de retalhos
humanas, compartilhando de uma triste alegria, que tu me deste". O som e o zum-zum domi-
espalhada dentro do lodo. O Maciel de Cima, nam o ar. Respiram-se vidas frias. Convites de
poderia ser uma rua como outra qualquer, se mulheres para o leito. Pedem cigarros, uma to-
pudesse mudar só o clima. Mas cada qual com ma um empurrão de um mal encarado. Entrega,
seu cada qual. Logo na entrada tem um bar de diz que ela gosta de mulheres. Casarões enor-
espanhóis, de nome Casa Palmeiras, existente ali mes, escadarias. Mais psius-convites. Na esquina
há 25 anos. Aberto até meia-noite; aliás este é o está o muro da casa ou Igreja de S. Francisco,
horário que por ordem devem-se fechar todos onde desce a ladeira do Pax. Cinema Pax. Uma
os bares do Maciel, seus donos disseram que ali mulher, com mais de 70 anos vende acarajé no
sempre existiu calma, as mulheres, que também Maciel de Baixo, brinca com as meninas, pouco
sao conhecidas como mulheres da vida livre, ou lhe diz o submundo. Paro junto de uma banca
vida fácil, não podem penetrar no bar desacom- de cigarros. Três Senhores parados; um deles, o
panhadas por decisão da polícia. De maneira dono da banca é amável comigo. Seu nome?
que o barulho não lhes perturba, eles reclamam João Batista Santana. Mora aqui há seis anos
a retirada da terra pelas obras que invade e suja com sua família. Tem outras famílias no Brega
o interior do Bar. Há um fraco entrar e sair de maior. E mulheres que chegam pra me ver ano-
gente: no balcão da Casa Palmeiras, três gar- tando as palavras do homem da Banca: "Aqui
çons. Um vizinho é uma barbearia, outro um tem de tudo: mulé de fé, ladrão, gente muito
pobre salão de cabeleireira com duas ou três honesta, maconheiro, boca de fumo, gigolô e
mulheres, também conhecidas como piranhas, mulé que dá vida boa a homem. Cachaça toda
prostitutas, ou mulé do mangue. A Barbearia hora. Depois de meia noite ninguém bota o
chama-se OK. Três cadeiras de barbeiros; um olho na rua e não se vende mais nada. A Polícia
deles é Claudionor de Oliveira, que mora ali controla". Um carro policial passa por nós, ago-
mesmo, na rua João de Deus ou Maciel de Ci- ra. O homem prossegue: "Aqui de vez em quan-
ma. A sua freguezia não é só de pessoas dali da do tem crimes, aqui é a rua de mais movimento.
zona, vem gente de Itapoan, Liberdade, Itapagi- Tem também ali na ladeira do mijo, na esquina
pe. Êle diz que o queganha ali, dá somente para do pecado e na rua das laranjeiras. Junto dele,
não passar fome e desabrigo. Das mulheres não um bar. Diz que o bar não tem nome, e mostra
tem nenhuma queixa, elas, uma vez ou outra, um barzinho onde tem rapazes e mulheres dan-
entram na barbearia, para fazer sombrancelhas, çando ao som de "Garota você é uma gostosura,
o pé do cangote. Fica aberta até às 22 horas. foi proibida pela censura, olha aí. O Bar é o
Defronte, está uma das escolas do MOBRAL, conhecido "Flor do Maciel". Uma luz frouxa,
movimento brasileiro de alfabetização. Os alu- mulheres feias, a dona do bar que encosta: "Isto
nos são pessoas dali. Na rua João de Deus, mo- é um inferno, nego. As minhas crianças são as
ram famílias também. O Professor Carlos Anun-
ciação, disse que nada ali prejudica as famílias, mais prejudicadas, aprendem tudo que ouvem
tampouco a escola. Nem mesmo Valdick Soria- na rua. E só vê, criança é assim. A gente não
no a todo volume cantando "Carta de Amor". serve jantar, não. As mulheres d'aqui não jan-
Dentro da Sala, quatro alunos, mais ou menos tam, de noite tomam só um copo de coalhada e
20 carteiras, um mapa do Brasil, um quadro comem um ou dois pães. Também essa escava-
Negro. Do lado da porta de entrada um peque- ção da Prefeitura tirou um pouco de ânimo
no cartaz, que diz: "Não Matarás. Seja qual fôr d'aqui. Meus meninos tão toda hora dentro do
a sua revolta, seja qual fôr o vosso desespero, esgoto e voltam sujo de bosta. Tou doida que
não mancheis as vossas mãos com o sangue do termine as obras". Os rapazes mudam o jeito de
seu semelhante. O Crime não compensa" Por dançar. O som é de fossa, ainda. Um disse que
João Irineu dos Santos, da Companhia Educati- toma cerveja toda noite ali, brinca e vai para
va Cristã. Uma Associação Espírita "Allan Kar- casa. Se distrai muito. Subo um casarão, que
dec", funciona no mesmo casarão da escola. No também pode ser castelo ou rendez-vous. Para
mais a rua é um barco a vagai, marinheiros sol- chegar até as pessoas, subi 18 degraus de madei-
tos enfrentam um mar intolerante, no oceano ra, barulhentos. Lá em cima uma mulher, a ca-
da tolerância. Uma mulher, 38 anos aparente, fetina, briga com outra. Diz que tem mania de
atravessa a rua enrolada num lençol. É motivo quebrar a luz do quarto, por isso hoje ia "traba-
para piadas da boca do lixo. Vários garotões lhar" no escuro, a não ser que ela comprasse
entram juntos comigo no Bar Soraia. Perguntam com seu dinheiro. Me recebe com a expressão
o preço de uma cerveja. Brahma 2,50. Pop, cer- zangada, não parou de resmungar. A outra tam-
veja baiana, Cr$ 2,00. Preferiram a mais barata. bém, não. "E que vem a dizer este negó-
O dono do Bar me atende. Fala bem da rua. cio? " — me pergunta, "sai dinheiro? " "o que é
Vem comigo até ela, é cicerone. "Não vê, o no. que você quer saber? ". . . Várias perguntas até
5, é o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria me dizer. "Você não tem cara de jornalista. . .
de Panificação e Confeitaria da Cidade do Salva- (Graças a Deus, eu sou é nigrinha) mas vamos
dor; nesta rua tem escolas, moram crianças, por lá. Estou aqui há 37 anos. Antes não era como
sinal tem duas junto do homem que vende la- hoje. Vinham marinheiros, soldados de folga,
ranjas. 'Tipografias, etc. Prá mim, é uma rua pessoas de bem. Hoje, não. Já nem boto a cara
como outra qualquer. As mulheres têm em toda na rua. Não sou chegada a indecência, meu fi-
parte e todas elas brigam. No meu bar, não há lho. Mé chamo Rosalina Andrade de Vieira.
brigas, há policiamento. A radiola, que se ouve Não tenho dinheiro não, mas vivo bem. Minha
qualquer música, basta pôr uma ficha que custa casa tem 18 quartos e cobro por cada um
uns quinhentos cruzeiros ouve qualqer música Cr$210,00 por mês. Quando era mais moça,
dos sucesso de Valdick Soriano, Alternar Dutra, viajei com o marinheiro Jonathas, até a Holan-
Orlando Dias, Jackson do Pandeiro e outros. da. Vivi um ano e meio fora do Brasil. Não sei
Uma mulher se aproxima, seu nome é Isaura, desse negócio não. Não vi isso na Holanda, não.
— escrava de um falso prazer. Mora e faz a vida Isso parece coisa de defunto, caixão de vidro.
aqui há um ano. Acha tudo muito cansativo, Mulher d'aqui nenhuma ficaria presa em vitrine
mas não há outro jeito. Veio do interior, tem esperando homem. Eles já não aparecem, com
hematomas no braço direito, foi um acidente elas soltas, imagine". Fala quase sem parar. Gri-
fora do brega. Ela diz que não faz besteira e tou pedindo cerveja gelada, o papo seguiu rega-
nem ganha bem. Aparece por noite, um, dois do de cerveja. "Tenho duas filhas, não moram
homens. Isto sábado e domingo Meio da semana aqui. Uma trabalha de costura numa casa lá no
tem dia de não receber nenhum. Paga Cr$ 7,00 Beco dos Ingleses. Vive bem. A outra coisa mi-
por noite, do quarto onde mora e recebe dos nha, casou com um vendedor ambulante. Mo-
homens 7 a Cr$ 5,00. É tudo muito difícil. As ram em Santa Inez. A priemiro só vem em mi-
donas da casa não são muito chatas, não. A rua nha casa sexta-feira da paixão. Nunca me recla-
termina no Pelourinho, e até ao fim do ritmo é mou nada. Nenhuma das duas. Sairam d'aqui
o mesmo. No meio da rua João de Deus, entra- com 1 e 2 anos. Foram morar com as madri-
se para a rua Frei Vicente. O mesmo mangue. A nhas. Pago aluguel de casa, não pago pouco.
mesma lama. Aqui também moram famílias e Sou protegida por um cabo do exército, nin-
fáceis mulheres não se encontram ainda na rua. guém se mete a besta comigo". E eu desci com
Um cara vende cigarros, outros parados numa bafo, de cerveja e a amizade de D. Rosa. Pediu
esquina onde fica o Bar Galícia. Aproximo de- que o pessoal do Verbo fosse lá biritar. Disse
les. Dois se afastam, ficam três. Um deles: "Sou que a casa é pequena, mas o coração é grande.

"
unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 2 3 4 5 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n©. 12 - VERBO - 21.
Lá fora está chovendo. Pessoas fugindo da chu- intervalo para o que agora é só lama. A chuva
va, mesmo assim os convites. O som é geral.- trouxe a ilustração. O Brega agora é só lama. Só
Outro castelo. Uma vela acesa atrás da porta, lama. Nesta rua que agora estou. Santa Inez. A
não é pra santo nenhum. É decoração. Saio, primeira só vem em minha casa sexta-feira da
torno a passar diante do São Francisco, entro paixão. Nunca me reclamou nada.
na rua Santa Isabel. Bonecas louras, passam gri-
tando a chuva que veio dar um intervalo. Um A Nigrínha do Verbo

TERREIRO DE JESUS PORTAS DO SOL

dedicado a caetano e seu compacto de carnaval


Além muito além dos 900 terreiros de ma- pelo mestre engraxate. Cadeiras tem a vontade,
cumba de Xangô. Tem o terreiro de Jesus. Nele pra todo gosto, todo riquinti no pisar, no calçar
você chega através de 7 entradas, 7 caminhos. do moço da cidade, boa praça, camarada que si
Nós chegamos pelas portas do sol, bem ao lado defende, no pique de um rico cotidiano, de
da igreja de São Francisco de Assis, logo abaixo, transas e ações. De valor de muito valor são as
de frente para o poente. A Cantina da Lua, o peças catedrais, orientais templos, ao oriente do
Rei das Novidades, a Casa dos Defuntos, A De- oriente baiano oriental astral, tropical, atlânti-
corativa e a Igreja de São Pedro dos Clérigos, co. Tá na presença do inesperado o fascinante
que segundo a lenda, levou 100 anos fechada.
Mataram um padre lá e lá só tinha celebração astral, nos colares, pulsos, tornozelos da baiana,
em dias de domingos de ramos. No teto, seu anágua de rodas, dendê, farófia no terreiro de
teto, sem a presença dos gênios, um gênio fêz Jesus. Dibaixo das estátuas e palmeiras, o fibó,
desenhou pintou um imenso Jesus de sandálias um, mi sigure si não eu caio. Pimenta do-sangue
de uma tira nos pés. Mantos vermelhos e azul, do branco, do gringo, de chapéu de palhinha e
duas chaves na mão, uma, a do mundo, outra, a binóculos. Rai du iu du mister tudo hot? Cadê
do céu, pra São Pedro ajoelhado a seus pés. E meu trocado? O sarro, banquete divinal. A ba-
também um galo. Saindo da igreja vimos o cego talha no vai e vem da cidade no terreiro. Na
no terreiro, viola, pandeiros de fitas e um papo escola kardecista do espírito, na roda da capoei-
na guitarra que não se sabe se é Eric Clapton, ra, do cego, a viola, o cigarro, a retalho e varejo.
Gil ou musco fantástico, viajantes de outros es- 100 mangos um continental com filtro. Trou-
paços. Realmente é muito difícil sentir o papo xinha caro esse, carlton, todo branquinho, ci-
de um cego, pra quem não sabe o que é cego. garro, na boca de Zé Bonitinho, rapaz qui can-
Sua viola é vermelha e êle fala pra roda em seu ta, assovia, tira fumaça, como fogo, e tá de olho
redor: "Disse o mestre que aquele que não tiver
o prazer de uma profissão é um fariseu". Êle na bunda larga da nega qui passa, deboche de
disse que é um propagandista de propaganda. A criola incrementada de samba quente de um
roda tá bem no meio do terreiro. Em frante à malandro inspirado. Do Maciel sai uma raça, pa-
catedral, de lado pra primeiro escola de medici- tota, de bamba na palma, no andar, no gingar.
na (no Brasil, gente no Brasil), cuja arquitetura
de côr cinza, ninguém sabe se grega, romana, As meninas do amor, do castelo, passeiam nas
troiana, clássica ou neoclássica. Rubinho foto- pedras pretas brancas do terreiro. De repente
grafou e disse que é neobaiana. Esse terreiro é sinto no ar o cheiro gostoso de um pudim de
de gente de côr. Lá branco fica marronzinho, arroz com bananas assadas.
misturado com tudo e com todos, é um vai e Incenso abre caminho.
vem de carro, de imagens, a imagem que tá ali, Aqui tem um ditado escrito no muro da
há mil anos e todo dia é diferente. Dentro da igreja de São Domingos asfeim: escorregar não é
escola de medicina tem placas de mármore com cair. O ambiente é de hoje, é de ontem, é de
dizeres, homenagem de formandos, formados 300 anos atrás quando a Bahia era capital do
na arte de medicar, ou seja , doutores. Uma diz Brasil, início da terra de Santa Cruz. Se você
assim: "Homenagem dos formandos de 40 a sua parar, sentar na beira da fonte, com calma alma
excelente escola". Na União Espírita da Bahia tranqüila de quem olha, verás o que digo, é a
(fica lá também) tem um piano, e o zelador terra de agora, de sempre. É um tempo, qui não
Dantas, me diz enquanto toco uma sonata pas- passa, não muda, sem tempo. Simplesmente a
mado com a tranqüilidade e a ligação do am- tempos tou parado, andando, rodando, entran-
biente. Vende uns livros, os livros que sua men- do, saindo nos 7 becos, descidas, subidas, qui se
te precisa pra ficar em paz com os mistérios. Êle encontram no terreiro, subindo ou descendo o
não sabe quando foi fundado nem eu, nos diz pelourinho, descendo ou subindo a ladeira do
que essa casa tem mais de quatrocentos anos e Pax, passando pelo mangue, pelo Igreja de São
em dias de festas se toca piano. Na sala ao lado Francisco, qui toda terça-feira tem a missa da
tem uma reunião de mediunidades e passes. É bênção, dia em que a praça fica qui nem formi-
demais para um terreiro só, só Jesus curte tan- gueiro de gente, adorando o ouro, jóia da linde-
to. za, do lindo modo maneira, de viver de vida no
Isto tudo é ura praça, Anchieta. terreiro. A igreja é toda de ouro, diz o cartão no
texto do turismo. O bateu-caiu (lambe-lambe),
A Bahia toda que a gente de côr colore. retrato 3 por 4, pra identidade. Babilaques, da-
Uma pincelada em cada passo, em cada passe. qui vejo um cara com pinta de locutor de alto-
Passe é uma passagem, de trem, de ônibus, de falante, em pose especial pro Verbo.
bonde, de amor, pra melhorar a vida, a ginga, o É a voz do nordeste, nas paradas de notícia.
carnaval. Tem tudo aquilo que a burrice chama Aqui manchete é bate-boca de mulher dama.
de folclore e procura e não .vê. E sonha com os Um rabo de foguete, ouvir poupa, grilo, de
quarteirões iluminados do sonho, no terreiro de Mane Valente, forasteiro qui não sabe nada, e
Jesus, você vê a Bahia todinha, você que é de tira onda chesterfield, isso é cigarro barato,
fora, você que é de dentro. Além das igrejas, queimado, nas cinzas da inocência da criança
dibaixo delas, tem a lenda do subterrâneo, ver- que brinca no terreiro. Caldo de cana com pe-
dadeiros metrôs underground de ratos. Nin- dras de gelo, sorvete sorrisos convite, toque pra
guém sabe di nada sobre e sob os subterrâneos, fazer nenen, meu bem meu benzinho — Pode
dibaixo do terreiro, mat que têm, têm. Eu e ser? Um negócio desses? No terreiro você fica
Rubinho caminhamos tudo isso, divagar falando sem saber, se como, se dança, se agarra, se tara,
com a paisagem: É uma riqueza de criação ini- se entrega. Tudo acontece, na hora, no instante,
maginável, tem uma casa que vende bolas, sapa- de um abrir e fechar das 7 portas do terreiro.
tos, carmesins e outras coisas dependuradas no Ladeira abaixo pelo Pelourinho você chega ao
telhado, que se chama Plastilar. E como se não Taboão.
bastasse, numa das entradas, a que vem da Sé No Pelourinho os banidos bandidos perdiam
tem um acrílico Limpe a Fossa, na outra o acrí- a cabeça na armadilha. Tem uma lojinha bacana
lico Terreiro de Jesus. no terreiro, Bahia Magia. Vende magia da Bahia.
Levo um papo com João Engrachate e êle conta
Estando ali de passagem, parado, as pessoas a estória do esqueleto de meganha. Nos anos 20
caminham num silêncio vivo, brilhante azul. A êle cantou uma moreninha jambo e foi com
fonte azulinada, onde os meninos limpam, mo- Linduara se arrochar no sossego do cimitério.
lham as cabecinhas. Agora a fonte tá rodeada de Quando esqueleto de meganha levantou de lá
crianças multicôres, a presença do prossegui- do buraco, 7 palmos dibaixo da terra, e lhe deu
mento de uma vida itinerante, onde tudo acon- voz de prisão. No terreiro quem marca touca e
tece de ser natural naturalmente. não se manca veste camisa por calça, sapato por
Este terreiro fica na Bahia. bambolê; aliança de baleiro nos dedos da more-
Tem a sociedade dos lavadores de carro, gen- ninha.
te boa, da boa gente amiga do terreiro. E basta Agora veja. Esse terreiro fica na Bahia.
sentar na cadeira e seu sapato (que eles chamam
de bute) vira espelho. Do trato recibido, dado Nego Nízio

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

2 3 4 5 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
22 - VERBO - n°- 12 - janeiro de 1972.

BALANÇO DA GUERRA
INDO-PAQUISTANESA
TRIPS Após a queda de
Dacca, ocupada por tropas
indianas e guerrilheiros
Os Estados Unidos fi-
caram em situação difícil.
Se retirasse seu apoio à ín-
dia, esta cairia sob a total
Mukti Bahini, com a ren-
dição incondicional das influência soviética. Tam-
tropas paquistanesas, o an- bém não poderia deixar de

INTERNACIONAL tigo Paquistão Oriental


transformou-se na Bangla
Desh ou República Popu-
apoiar o seu antigo aliado
militar, o governo do Pa-
quistão Ocidental. Como
lar de Bengala. porém a índia havia assi-
Para compreendermos nado, alguns meses antes,
politicamente esta guerra, um tratado de ajuda mili-
temos de levar em conta tar com a URSS, os Esta-
os mútiplos e complexos dos Unidos resolveram fi-
interesses em jogo. Em car mesmo do lado do Pa-

O FRACASSO DA primeiro lugar, destacam-


-se o interesse e a necessi-
dade do Paquistão Orien-
tal, uma vez que é neste
quistão Ocidental, inclusi-
ve mobilizando sua Sétima
Frota Naval para o Golfo
de Bengala, que afinal che-

VIETNAMIZAÇÃO território que se encon-


tram as reservas petrolífe-
ras e minerais, como tam-
gou tarde, quando Dacca
já havia caído.

As primeiras semanas do ano Laos, O Pathet Lao ganha a cada bém grandes plantações de Finalmente, é interes-
passaram sob os ecos das milha- dia novos terrenos e recentemen- cânhamo, que, somadas sante notar o interesse e a
res de toneladas de bombas que te ocupou a estratégica planície aos impostos pagos por necessidade da índia em
os gigantescos bombardeiros de Jarres, enquanto o poder dos seus habitantes, fornece firmar-se como a única po-
americanos lançaram sobre as al- 1.180.000 homens do Exército ao Tesouro paquistanês fa- tência em toda a região e,
deias norte vietnamitas, com o de Saigon é bastante contestado, bulosas quantias, permi- em vista disso, acabar com
aparente objetivo de "proteger as apesar de suas modernas armas. tindo a luxo de construir o enclave paquistanês em
declinantes tropas americanas Desde o início do programa Islamabad — "a Brasília seu território, a sudeste do
ainda estacionadas nó Vietnã do de vietnamização, que pretendia do Oriente". Ordem de colocação dos fios da teia. Brahmputra. Daí o total
Sul". Na realidade, os bombar- entregar a responsabilidade da Já a população do Pa- apoio indiano aos guerri-
apoio moral e material aos india-
deiros foram uma prova clara do guerra aos vietnamitas, que se- quistão Oriental, em sua esmaga- nos. lheiros bengalis.
fracasso, tantas vezes negado, do riam apoiados economicamente dora maioria, há muito desejava a Quente a China, spessr de,
programa de "viethamização da pelos Estados Unidos, as tropas independência, a fim de terminar Na frente ocidental, apesar de
aparentemente, apoiar o Paquis-
guerra" proposto por Nixon americanas reduziram-se de com o constante saque de suas alguns avanços paquistaneses, so-
tão Ocidental, não ajudou o sufi-
como solução da guerra do Su- 543.400 homens, de abril de riquezas naturais, em detrimento bre a Caxemira indiana, a situa-
ciente. Não abriu, por exemplo,
deste Asiático. 1969, para os atuais 184 mil. Os do bem-estar da sua população, ção permaneceu inalterada. De
uma terceira frente de luta no
Se os americanos precisam custos vinculados diretamente além da contínua opressão nacio- Ladakh, o que haveria de enfra-
bombardear com tamanha feroci- com as despesas de guerra tam- nal e racial, praticada pelo Pa- quecer bastante a índia. Presume- resto, a subida do novo governo
dade os nortevietnamitas, para bém se reduziram, ainda que em quistão Ocidental. -se que os chineses levaram em do Ocidente, encabeçado por
proteger os soldados que ainda percentagem menor, passando de A União Soviética, com o seu conta o fato de que uma ajuda Zulfkar Ali Butho, e o possível
continuam no Vietnã do Sul e 22 bilhões de dólares em 1969 incondicional apoio à índia, dese- maciça ao Paquistão Ocidental retorno á Dacca do líder bengali.
para sustentar o governo de Sai- para os 12 bilhões deste ano que ja penetrar politicamente na pe- não compensaria, vez que neste
gon, é sinal de que as tropas sul- terminou, segundo estimativas do nínsula hindostônica, não exclu- país vigora um regime nitidamen-
vietnamitas não são capazes de Le Monde. A quantidade de indo a futura instalação de bases te anti-comunista, além de fazer Mujibur Rahaman, poderão con-
repelir estes ataques e portanto, bombas lançadas sobre o Sudeste para submarinos atômicos no es- parte da Organização do Tratado dicionar nOvos acontecimentos
os anos de vietnamização da Asiático manteve-se mais ou me- tratégico Golfo de Bengala. Daí o Centro Oriental - CENTO — ou neste inportante quadro político.
guerra não produziram resultados nos no mesmo nível, uma vez veto soviético a todas as iniciati- seja, do braço militar do Ociden-
satisfatórios. que em 1969, os americanos jo- vas da ONU, bem como o seu te na área. João Fortes
Bombardear o Vietnã do Nor-
te é a pior solução que Nixon po-
deria encontrar para levar adiante
Você
nem imagina
sua política no Sudeste Asiático.
Bombardear o Vietnã do Norte
com a Intensidade da última se-
mana do ano passado significa PELAI
ameaçar* toda sua estratégia di-
plomáticade aproximação com a
China e1 a União Soviética, arris-
cando .Jtí2füsive suas projetadas
do que a Sadia
viagens de fevereiro e maio a Pe-
quim e Moscou. Significa atrasar
ainda mais as negociações para a
O birmanês U-Thant é capaz
para ter
deixou a ONU, no dia 31
possível libertação dos prisionei-
ros de guerra americanos em Ha- de dezembro, fazendo,
noi, com as graves repercussões mais uma vez, uma declara-
dentro dos Estados Unidos no
ano das eleições presidenciais.
Significa também firmar ain-
garam 2.802.323 toneladas de
bombas e em 1971 jogaram apro-
ção sincera e equilibrada,
em favor da paz mundial. U-Thant disse que
"um dos principais entraves para as conver-
você
aqui dentro.
ximadamente 2.200.000 tonela-
da mais a disposição dos norte- sações de paz em Paris são os bombardeios
das.
vietnamitas continuarem lutando Sem falar nos custos huma- aéreos norte-americanos contra o Vietnã do
até uma vitória total no Sudeste nos, das milhões de pessoas que Norte", acrescentando textualmente:
Asiático, como Hanoi afirmou morreram desde que a guerra co- — Deploro tais atos dos Estados Unidos.
durante os bombardeios, que meçou, esta pode ser considerada Assim não se pode falar de paz nem preten-
além de anunciados alvos milita- como uma das mais ferozes guer- der que a pátria de Lincoln seja um bom
res, atingiram também aldeias, ras dos tempos modernos. exemplo de democracia.
hospitais e escolas, matando a E este ano de 1972 começa
muitos civis. com os rumores claros do fracas-
so do programa americano para
Pois bem, se a este custo Ni- pôr fim a guerra. As negociações
xon optou pelos bombardeios é A União Soviética, através de sua Embai-
de Paris, estão completamente es-
sinal de que a situação no Sudes- xada em Beirute, conseguiu que a polícia
tagnadas, não se prevendo quan-
te Asiático não anda bem para os do poderão começar a andar. A libanesa censurasse o filme "A Confissão",
184 mil americanos que ainda es- última novidade ali registrada do diretor grego Costa Gravas. A União So-
tão por lá. Já no dia 12 de no- ocorreu em julho, quando o Go- viética disse que a apresentação do filme
vembro, Nixon mudava sua polí- verno Revolucionário Provisório prejudicaria as relações entre os dois países,
tica de "vietnamização" não do Vietnã apresentou seu plano porque conta a história de Arthur London,
admitindo mais a retirada total de paz, condenando o programa
das tropas americanas, mas im- um Tcheco que foi preso e torturado na
de "vietnamização" que só faria
pondo uma série de condições, Rússia, durante a época stalinista.
prolongar a guerra.
para manter uma "força resi- Agora, que aparecem os sinto-
dual" para defender o governo de mas do fracasso do programa;
Saigon. que Nixon está empenhado em
consolidar sua imagem de "preo- O Conselho de População Norte-Ameri-
Provavelmente o que ocorre é
cupado com a paz", que dialoga cano, uma fundação particular de Nova Ior-
que os estrategistas do Pentágono
com seus inimigos. Agora que é que, que lida com pesquisas de população,
já descobriram que a abertura da ano de eleições, que as divergên-
guerra no Camboja em 1970, que fez, recentemente, um estudo sobre abortos
cias econômicas entre os EUA e
a ação da CIA e dos bombardeios e constatou que a maioria dos casos ocorre
seus principais aliados desenvolvi-
aéreos no Laos, que o fortaleci- entre "mulheres jovens, solteiras, brancas e
dos se aguçam. Ano que prova-
mento do Exército sulvietnamita, grávidas pela primeira vez. Um por cento das
velmente se marcará por uma re-
(segundo cifras de Saigon, o re- pacientes são menores de 15 anos, dez por
composição de forças no plano
crutamento é de 15 a 18 mil no-
vos soldados ao mês), longe de
internacional, é possível que a
guerra do Vietnã tome outros ru-
cento estão na faixa de 18 a 19 anos, e vinte S\l&
fortalecer o governo de Nguyen e quatro por cento são maiores de 20 anos.
mos, em direção a uma "saída A pesquisa revelou também que 10,1 por
Van Thieu, o está enfraquecen-
honrosa" para os EUA. E Pequim cento das mulheres que já fizeram aborto
do. e Moscou poderão ajudar nisto.
A frente cambojana nunca foi apresentaram complicações, desde hemorra-
tão exposta como agora. No José Sérgio Azevedo. gia e febre até perfuração do útero.

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Janeiro de 1972 - n°- 12 - VERBO - 23.

,i.b l*3-fc*
®9U--„
£*mi
Amiga Tashka,
CARTAS/RECADOS/TELEFONEMAS ADOIDADO Êle me telefona toda noite de-
disque 2-2350/O VERBO TRANSA COM O LEITOR Salve a Bahia!
pois da novela Bandeira Dois.
Eu vejo, acompanho, mas não
Venho por esta me dirigir a entendo nada de tão nervosa
você para uma consulta. Uma que fico esperando o telefone
- Adelaide Pereira Gomes, Rua Baker, com vocês. O Verbo já me ensinou tudo. conversa é o que eu queria mes- tocar. Sou muito controlada
Cambuci, Sâo Paulo. Tou sabendo já das praias, da festa, da Ba- mo. Mas você está aí longe na mas tenho medo de perder as
"... Gostei do Verbo porque êle me ale- Boa Terra, e eu aqui, no Rio, estribeiras. Amiga Tashka, me
hia toda. Acabo de ter uma discussão com
solitária. Você seria o tipo ideal dê uma palavra, um conselho,
grou. Vocês são mais inteligentes do que os meu irmão, êle acha que o Verbo é um guia
de amizade e companhia para eu peço. Em água benta eu não
caras do Pasquim. »Tsão baianos, da terra turístico da Bahia feito por um grupo de creio, não gosto de cheiro de
mim. Sou funcionária pública
que adoro. É isso, soltem seu Verbo. Qual- baianos bairristas. Brigamos, mas fizemos igreja. Espero ansiosa sua res-
aposentada e vivo de rendas de
quer hora é boa pra vocês virem a São Pau- logo as pazes quando resolvemos viajar. posta. Obrigada,
uns apartamentozinhos que
lo. Venham que já tem muita menina que- Partimos depois de amanhã. Deixem um tenho. Não tenho amigos, vivo
rendo conhecer vocês. O Verbo é a curtição pedacinho de mar pra gente. Prometi a meu só. Minha rotina é acordar ce- Maria José Chaves .
mais quente do ano que se inicia. Beijos". irmão pedir a vocês pra manerarem um do, dar uma volta na Cinelân- Rio de Janeiro — Centro
pouco no bairrismo, é mesmo, manerem dia que é aqui perto, e voltar Amiga Maria,
- Legal demais. Qualquer hora é boa um pouco". para o almoço e para assistir te-

a
também pra vocês virem à Bahia. Venha levisão até a hora de dormir. Só Mjnha santa, agradeço de-
me encontro com os inquilinos mais de penhorada sua atenção
passar o verão em Arembepe e nos faça — Como? Com a gente recebendo carta
e meu advogado. Meus parentes e ligação comigo. Realmente eu
uma visitinha que você vai ver que a gente como essa? Dêem um pulo aqui na Reda- gosto de falar pras pessoas. Sou
não é inteligente como você está pensando. moram em Minas mas eu não
ção pra gente botar isto em pratos limpos. me dou com eles. muito tímida mas nã« curto so-
O baréu é outro, trata-se de clima e astral. Depois a gente enche eles com uma moque- lidão. E você? O que é isso?
Gosto de ler totonovelas, O
Beijos beijos beijos. ca de peixe com azeite de dendê. Cruzeiro, Manchete, Amiga, In- Solitária pra xuxu como você
tervalo e os jornais diários. Não falou, sem amigos com quem
- Sônia, Vila Mariana, São Paulo. - Miro, Avenida Tiradentes, Roma, Sal- sei porque outro dia quando conversar, encontra um partido
vador. fui procurar o Correio da Ma- desses, porque não dá um jeito
"... Que vergonha meu Deus. São Paulo nhã, vi o Verbo e comprei. na vida? Já não é sem tempo.
não pode parar mas tembém não pode fa- Acho que foi só pra variar mes- Antes tarde do que nunca mi-
zer um jornal da pesada como o Verbo?
",„ Ou eu não tou sacando direito ou
então vocês é que não tão sabendo de nada. mo. Gostei da capa e comprei,
é uma que tinha uma fotografia
nha nega. Você não gosta de
pássaros? É por isso que tem
m
Por que? Cadê a turma da pesada paulista- Ou então ainda vocês são é uns grandes pi-
de um homem nu até a cintura medo de casar? Não entendi.
na? Pra vocês meus parabéns, o Verbo me caretas que tão curtindo com a cara de com uma fita no- cabelo. Li to- Não entendi aquilo de ficar co-
derrubou". meio mundo. Vocês publicam artigos da nhecendo melhor e enjoar. Ju-
do que o que eu pago eu gosto
pesada como aqueles sobre Timothy Leary de usar. Só leio tudo mesmo ro que não. Se sua mania é Jer,
- Soninha, não tem essa de vergonha e Andy Warhol e depois dão uma de careta nos Classificados, tem muita continue lendo e comprando o
não, cada qual com seu cada qual. Não sa- (aliás, vocês já se entregaram num Edito- coisa interessante. Li seu Con- Verbo.
bemos onde está a pesada paulistana, agora rial) com a babaquice do Consultório Senti- sultório Sentimental e gostei. Sinceramente não vejo mui-
que aqui na Bahia/Verão tem paulista pra mental. Qual é? Quem é Tashka? É a bi- Eu acho que baiana é quem en- tos problemas pra você não,
dar de pau, isso tem. Obrigado e desculpe a cha do Verbo"? tende dessas coisas. Baiano é acredito que esse casamento
rasteira". um povo muito feiticeiro. Te- possa ser uma bênção para o
nho lido sempre suas respostas ex-Desembargador e uma salva-
- Helena Soares, rua Sá Ferreira, Copa- — Não, não é nada disso. Somos caretís- e acho muito sensatas, sobretu- ção para você. Ora, um casal de
cabana, Rio. simos, menos Tashka que não é uma careta, do seus conselhos para, aquele velhos, vivendo de rendas,
não é um cara, não é uma pessoa descarada, pobre rapaz que gostava de ra- criando pássaros e lendo, quer
paz também. Por isso confio coisa mais romântica? Com lua
"... Desde que o Verbo chegou no Rio não é a bicha do Verbo porque o Verbo w
em você para fazer uma consul- de mel na Bahia, diga aí! Se êle
que eu compro toda semana. Prá mim subs- não tem bicha, nem tem bicho, tem gente, ta, que desde já, espero com fôr chato, dê uns cascudos (de-
tituiu o Pasquim como leitura de praia. Mas sacou? Tashka é" Tashka, gente Verbo é ansiedade e agradeço. Meu pro- pois de casada nega, depois de
a grande surpresa foi eu me comover. Cla- meio mundo. blema é ó seguinte: Aqui no casada) nele. Cascudos mesmo.
ro, aquela mensagem de Natal que o poeti- Edifício mora um senhor mais Aja minha santa, participe da
nha Vinícius escreveu no Verbo 10 é linda - Fany Guedes, Rua Florianópolis, velho do que eu vinte e cinco vida, curta o que Deus lhe deu
demais. Tem sentimento e poesia. Quando Barra, Salvador. anos. Êle foi desembargador, e que me parece que Êle lhe deu
estiverem com êle digam que tem uma mi- como eu, também vive de ren- coisas legais para curtir. Na ver-
na em Copacabana cantarolando Gente Hu- "... Um beijo VERBO pra vocês, prá J. das. É viúvo. Éle diz que gosta dade não lhe aconselho a casar
milde, uma música que eu acho um desbun- C. Filho, Marco Antônio, Nego Nízio, Âlvi- de mim e quer casar comigo. ou continuar solteirona, acon-
Eu tenho medo. Já estou en- selho que você fique um pouco
de. É isso mesmo, o tempo passa e cada um nho Guimarães, Café, Armindo Jorge Bião,-
trando numa terrível depres-

I
menos controlada. Faça umas
segue o seu caminho. iá li que se pode Ribamar, Afhenodoro Ribeiro, Tashka, Aé- são. O que devo fazer é que me maluquicezinhas de vez em
comprar números atrasados aí na Bahia. E cio Pamponet, Ciomara, Tony Saback e to- preocupa. O que digo a êle? quando. Roube um pombo na
aqui, como é que eu faço"? dos os que fazem o melhor jornal under- Caso ou não caso? Eu fico Cinelândia e dê de presente a
s ground do Brasil". pensando, dois velhos juntos, seu noivo.
- Transando logo: números atrasados cada um com sua mania (êle Divirta-se minha santa, que
você pode receber pelo reembolso postal. — Beijos Fany, beijos VERBO no seu mora em quitinete e tem um aposentada não tem que traba-
Você escreve dizendo os que você quer e a underground. viveiro com vinte pássaros), lhar. De pernas pro ar pode fi-
gente manda pelo correio. Legal que o Ver- não sei. Às vezes tenho medo car, mas se demorar dá cãim-
bo vai à praia, êle adora, leve sempre prá — Carlos Santana, Avenida Sete, Salva- de chegar às raias do desespero. bra. Sacou? Pegou o toque?
dor. Não tenho com quem falar. Eu Juízo minha amiga, juízo que a
êle ficar bem coradinho. Gente Humilde,
gosto dele mas tenho medo que vida é longa demais pra ser uma
legal, quando a gente_estiver com êle a gen-
depois êle enjoe de mim, fique simples curtição e muito curta
te fala. "... Por que vocês não entrevistam o me conhecendo melhor e me pra ser uma gozação de Deus
Senhor do Bonfim"? repudie. O que é que faço para com a cara da gente. Beijos Ma-
- Pedro Guigud, Ipanema, Rio. não cair em desespero? Não ria, e me mande o convite pra
- Respeito menino, respeito. Vá se tra- sei, estou nervosa. Tenho até esse peru, que eu gosto,
"... Como é ô caras, qual é a de vocês? tar. tomado calmante para dormir.
É caretice mesmo, é? Chi, pior do que ca- Tashka
reta é baiano careta". — Pedrilson Ramos, Avenida Joafta An-
gélica, Salvador.
- Pois é.
"... O Verbo é uma empresa"?
- Sandra Lemos, Ipanema Rio.
- Não, o Verbo é um jornal. A Alef é
"... Alô Bahia, aí vou eu curtir o verão que é uma empresa.

ATA ^^^^^

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

20 21 22 23 24 25 26 27 2í
p unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 20 21 22 23 24 25 26 27 2í

Das könnte Ihnen auch gefallen