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RESUMO
A elaboração de regulamentações específicas de segurança contra incêndio entrou em
foco no país após uma série de eventos trágicos na década de 1970. Apesar disso, tais
legislações sofrem com a falta de revisões e com divergências nos âmbitos municipal, estadual e
federal, dificultando principalmente a elaboração dos projetos de arquitetura.
O objetivo deste trabalho foi comparar o desempenho das saídas de emergência, em
termos de tempos totais e parciais para abandono de edifícios, com base nos diferentes critérios
de dimensionamento de rotas de fuga de duas regulamentações em vigor no Estado de São
Paulo. Para tanto foi utilizada como ferramenta um modelo de simulação computacional de
evacuação. Verificou-se que dimensões maiores de escadas em edifícios de múltiplos pavimentos
nem sempre resultam, proporcionalmente, em sensível redução do tempo de abandono, devendo
ser necessária uma avaliação ponderada da efetividade dos atuais critérios de dimensionamento.
ABSTRACT
The formulation of specific regulations on fire safety in buildings has come into the spotlight
in the country after some tragic events during the decade of 1970. Despite of that, those
regulations (municipal and state) suffer from lack of reviews and discrepancies between them,
affecting mainly, the architectural design.
The purpose of this paper is to present the results of a research where the effectiveness of
fire exits was analyzed, when comparing the escape routes dimensioning criteria of two regulations
in effect in the state of Sao Paulo. A computational model was used to simulate the evacuation of
several hypothetical multiple-storey buildings. Larger stairs do not always result directly on a
significant reduction of the evacuation time. Existing dimensioning parameters should be reviewed
in the light of their effectiveness on the evacuation time.
Keywords: fire safety, escape route dimensioning, evacuation time, computational models.
1 INTRODUÇÃO
Foi apenas após uma série de eventos trágicos, com perdas humanas e materiais – como
os incêndios nos edifícios Andraus e Joelma na década de 1970 –, que a segurança contra
incêndio entrou definitivamente em foco no país, visando especialmente a elaboração de normas
específicas para direcionar o projeto, intensificando a responsabilidade do arquiteto ainda nesta
fase. Isso não significa simplesmente a especificação de modernos sistemas prediais, de custo
elevado, pois estes de nada servirão caso o edifício em si não esteja estruturado para favorecer o
abandono rápido e seguro de seus ocupantes no caso de uma emergência – daí a importância de
considerar a questão ainda na fase projetual, quando as alterações no projeto arquitetônico,
incluindo o leiaute e a estrutura da edificação, ainda são fáceis e possíveis.
Não há limite de área máxima nem de número máximo de pavimentos a serem simulados,
desde que todos sejam corretamente conectados por escadas e que sejam colocadas portas
Porta com Internal Exit Nodes
conectando o edifício ao “exterior”, uma vez que o objetivo da simulação é a evacuação, ou seja,
que a população chegue ao exterior da edificação (Figura 1).
(a) (b)
Figura 1 – Exemplos da geometria do programa: (a) nós, escadas e conector de pavimentos (link) e (b)
porta para o exterior.
2 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é comparar os critérios estabelecidos pelas duas
regulamentações e analisar a eficiência das rotas de fuga de edificações de múltiplos pavimentos,
a partir de simulações de evacuação de um mesmo edifício com as rotas (corredores, escadas e
portas) dimensionadas a partir de critérios estabelecidos em cada uma das regulamentações.
3 MÉTODOS E TÉCNICAS
3.1 Dimensionamento segundo as regulamentações
Para o Código de Obras e Edificações do Município de São Paulo (SÃO PAULO, 1992), as
rotas são moduladas de 30 em 30 cm, sendo que cada módulo permite a passagem de 30
pessoas – apesar de cada indivíduo precisar de 0,60m de largura para passar e da largura mínima
permitida ser de 1,20m. Inicialmente, calcula-se a população para cada pavimento do edifício,
considerando uma densidade populacional em função do tipo de uso e dividindo-a pela área do
pavimento. A lotação obtida por pavimento é, então, corrigida em função da altura da edificação
(vide Equação 1), e este valor será dividido por módulos de 0,30m para definir o número de
módulos por tipo de rota (corredores/rampas ou escadas), diferenciados pelo fator K.
Onde:
Lc :Lotação corrigida;
Já, o número de escadas será definido pela distância máxima a percorrer permitida para
cada situação, havendo um número mínimo determinado pela regulamentação, em função do tipo
de uso e altura do edifício,
Na Instrução Técnica No.11 (SÃO PAULO, 2004), a modulação é de 55 cm – apesar disso,
por uma questão de padronização, não se permite rotas com menos de 1,20m de largura. A
população por pavimento é calculada em função da densidade ocupacional definida para o
respectivo uso. Em seguida, calcula-se o número de unidades de passagem para cada tipo de
rota (corredores, escadas e portas), sendo que para escadas, considera-se o pavimento mais
populoso para garantir que a maior largura será adotada e que não haverá uma variação de
largura de uma mesma rota entre diferentes pavimentos. O número de unidades de passagem é
obtido dividindo-se a população do pavimento pelo fator de capacidade de passagem (vide
Equação 3) dado para cada tipo de rota (corredores, escadas ou portas). A largura, em número de
módulos de passagem, obtido (sempre arredondado para mais) deve ser multiplicando-o pelo
módulo de 0,55m, para obter a largura em metros.
N = P/C (Equação 3)
onde:
EXEMPLO 1 EXEMPLO 2
Para evitar problemas de incompatibilidade, decidiu-se por não alterar a modulação padrão
do modelo. Entretanto, o modelo considera o nó de 0,76m de largura por pessoa para escada;
assim a largura mínima de 1,20m calculada para alguns casos não garantiria a instalação de dois
nós, que corresponderia a 1,52m. Para estudar os efeitos de um ou dois nós de largura nas
escadas, foram criados dois casos: o Caso A, cuja geometria foi elaborada a partir de valores
dimensionais, isto é, instalando-se o número de nós de 0,76 que caberia dentro da largura obtida
no dimensionamento e; o Caso B, dimensionada a partir de correspondência de nós com unidades
de passagem, ou seja, um nó do modelo corresponde a uma unidade de passagem (0,60 ou 0,55
m) obtida no dimensionamento.
Também por não existir um leiaute previamente definido dos pavimentos, uma vez que os
edifícios são hipotéticos, criou-se para cada Exemplo ao menos duas opções diferentes de
posicionamento de escadas gerando leiautes diferentes de rotas de fuga.
Figura 4 – Opções de leiautes criados para realização das simulações dos dois exemplos, respeitando as
distâncias máximas a serem percorridas segundo as regulamentações.
Sendo assim, gerou-se um total de 20 simulações, 10 para cada Caso (A e B), sendo
quatro para o Exemplo 1 (duas segundo os critérios do COE e duas da IT11) e seis para o
Exemplo 2 (três segundo os critérios do COE e três da IT11).
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 Resultados do dimensionamento
Com relação às geometrias geradas pelas duas interpretações diferentes (Caso A e B),
apenas para os modelos calculados para o COE no Exemplo 1 não houve diferença entre os dois
casos. Em todos os outros, no Caso B houve o aumento de um nó (ou uma unidade de
passagem) em cada escada.
Conforme sugerido no manual do modelo, optou-se por realizar cada simulação mais de
uma vez – no caso, cinco vezes – e adotar como tempo final a média entre os valores obtidos.
Isso se justifica porque nunca uma simulação é igual à outra, pois podem ocorrer fenômenos
específicos que influenciem no resultado final. A Tabela 2 apresenta um resumo dos dados das
simulações e respectivos resultados: larguras calculadas para as escadas, equivalência em nós
na geometria do programa e tempo final médio obtido nas simulações realizadas.
Tabela 2 – Resultados finais
É importante notar que ambos os exemplos possuem número de pavimentos muito
semelhantes e, no entanto, devido à diferença significativa de lotação em função do tipo de uso,
os tempos de abandono são bem diferentes, demonstrando relação direta da lotação com o tempo
de abandono, mais do que com o número de pavimentos.
5 CONCLUSÕES
Analisando-se as simulações em si e seus resultados, pode parecer que os critérios da IT
n° 11 geram rotas de fugas sub-dimensionadas (já que resultam em rotas menores que as
calculadas pelo COE). Entretanto, isso depende da interpretação feita dos critérios da
regulamentação ao montar a geometria dos modelos. Se for considerado que tais
regulamentações geram larguras dimensionais, então se pode dizer que os critérios da Instrução
Técnica geram larguras subdimensionadas. Mas tendo-se tais larguras como relativas às
unidades de passagem (que seria o Caso B estudado), talvez seja o caso de dizer que o Código
de Obras tenha critérios que geram larguras superdimensionadas.
Contudo, nestes modelos adotou-se o valor de largura obtida por cálculo para cada uma
das escadas. É certo que em alguns casos tal procedimento se mostraria inviável, mas dividir o
valor da largura obtido no cálculo pelas várias escadas resulta em dimensionamentos muito
semelhantes em ambas as regulamentações, no caso de edifícios de múltiplos pavimentos (uma
vez que a largura mínima é de 1,20m, ao se ter duas escadas têm-se uma largura final de 2,40m,
por exemplo).
O que se viu no Caso A foi um problema de limitação na largura das escadas calculadas
segundo a IT n°11: as escadas logo ficavam saturadas e os demais ocupantes não conseguiam
entrar rapidamente. Já no Caso B, as escadas segundo a IT (menores que o dimensionamento
segundo o COE) já se mostravam suficientes para permitir o deslocamento de todos os indivíduos
sem maiores problemas. Neste caso, a principal causa de demora para o final da evacuação
foram as aglomerações nas saídas para os exterior da edificação. Isso leva a outra conclusão
importante: dimensionar corretamente as saídas do pavimento de descarga é tão importante para
a segurança dos ocupantes quanto dimensionar corretamente as escadas.
Com relação à diferença de modulação entre as duas regulamentações, apesar do COE
determinar uma modulação de 0,30m, cada ocupante precisa de 0,60m de largura para conseguir
passar. Portanto, apesar de serem diferentes nos cálculos, na prática, a única diferença entre
escadas de 1,20m e 1,50m (como no Exemplo 1) é que a segunda proporciona maior conforto ao
usuário. Pensando-se de outra maneira, pode-se dizer que ambas apresentam duas unidades de
passagem.
6 AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem ao Instituto Brasileiro de Siderurgia/Centro Brasileiro de Construção
em Aço (IBS/CBCA) pela aquisição e manutenção da licença do aplicativo “buildingEXODUS” e à
Fundação para Pesquisa Ambiental – (FUPAM) pela bolsa de Iniciação Científica que viabilizou
esta pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SÃO PAULO (Estado).. Instrução Técnica n° 11/2004 – Saídas de Emergência. Estabelece os
requisitos mínimos para dimensionamento de saídas de emergência e dá outras providências,
2004.
SÃO PAULO (Município). Lei Municipal nº 11.228 de 25 de junho de 1992. Estabelece o Código
de Obras e Edificações e dá outras providências, 1992.