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É um processo coletivo ou colaborativo?

Descobrindo Lepage no Brasil

U ma tribo, é isso que eu sou

J an Fabre

diálogo para duas vozes Essa dor ardente


Sentir os pensamentos que se deslocam
Voz 1 Estar sempre a caminho
Uma tribo E jamais parar
É isso que eu sou Em mim
Esse “eu” estranho Eu não vou parar de
Que nunca a civilização Limpar minha alma
controlou Camada após camada
Até que reste apenas
Eu vou limpar minha alma A calcificação esférica
Para me renovar De um único pensamento
Para cair
E para me torturar Eu sou um espírito queixoso
Com uma dor de dentes insuportável Que não sabe como agir
Com gengivas inflamadas E que toma sempre o caminho incerto
E uma terrível câimbra nos maxilares Da mortificação delirante que é sua vida
Que me absorve totalmente Que gravita apenas nos despenhadeiros escar-
E me faz romper com tudo pados
Até o ponto de não Para examinar o estrangulamento do seu ser
Tocar mais a vida Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst,
Até o ponto em que o desaparecimento se revela Pssss
Eu vou limpar a minha alma Eu sei
E não vou parar Eu perdi a minha língua
Antes de encontrar a paz Mas isso não dá a vocês
Antes de parar de me perder nos meus pensa- o direito de continuar
mentos Eu desconfio
Antes de me libertar da dor de ser livre Dessas merdas peremptórias

Texto publicado em Jan Fabre, “Une tribu, voilà ce que je suis” (excerto), in L’Histoire des larmes
et autres pièces, versão francesa de Olivier Taymans, Paris, L’Arche, 2005, p. 167-85. Tradução de Sílvia
Fernandes.

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R4-A3-Jan_Fabre2.PMD 175 31/3/2008, 16:50


s ala p reta

Que etiquetam O que estou fazendo?


As criações e o pensamento Talvez eu tenha apenas uma tarefa!
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst, Eu mordo a mão de Deus
Pssss Eu não solto os dentes
Eu desconfio dos cantores de ópera Continuo a morder até ser lavado
Esses funcionários gordos e Pelos jatos de sangue de Deus
bem pagos Eu não devo me purificar
que escarram sons em sua alma com Porque ele me cega
a precisão de flechas castradas Estou destinado a ser um vidente
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst, Que não vê
Pssss Eu erro
Eu desconfio dos compositores Eu flutuo
Essas putas de opereta que vomitam notas
E copiam uns dos outros as Voz 2
Melodias afetadas Há muito tempo não vejo mais a terra
A golpes de mouse no computador Mas meus pés estão cheios de bolhas
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst,
Pssss Voz 1
Eu desconfio dos atores Eu não vou parar
Esses travestis maquiados demais Camada após camada
Que só sabem falar quando Eu vou limpar minha alma
Alguém lhes escreve um texto até que reste apenas
E parecem papagaios mecânicos a calcificação esférica
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst, de um único pensamento
Pssss
Eu desconfio dos escritores Eu sou o velho cão
Esses escrevinhadores plagiários selvagem
Que deixam seu espírito traficado girar Que vê as cores do arco-íris
Ao sabor dos ventos, como cata-ventos E que geme e chora sob a lua e
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst, Sob o sol
Pssss Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst,
Lá onde outros propõem criações Pssss
Eu só quero mostrar Um esqueleto destroçado
Meu espírito implicante Envolvido por músculos finos e ardentes
Eu não quero mais lamentar isso Raquíticos e crispados
Pois eu perdi a minha língua Como se fosse feito de vidro
Pssss, pssst, pssst, pssss, pssst, E frágil
Pssss (...)

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