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Revista d a Sociedade Brasileira d e M ed icin a Tropical

29(1X 63-76, ja n -fev, 1996.

FATO HISTÓRICO
A FEBRE AMARELA NA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO
DURANTE A VIRADA DO SÉCULO XIX: IMPORTÂNCIA
CIENTÍFICA E REPERCUSSÕES ECONÔMICAS

Luiz Tadeu Moraes Figueiredo

Nesta revisão histórica, descreve-se a situ a çã o p rec á ria da sa ú d e p ú b lica no Brasil


d u ra n te o século X IX devido âs m últiplas epidem ias de fe b r e am arela. Descreve-se,
tam bém , os precário s co n h ecim en to s q u e h aviam , ü época, sobre a e n ferm id a d e. Faz-
se u m breve histórico sobre a Regido d e Ribeirão Preto, situ a d a no Xordeste d o Estado
de São Paulo, seus desbravadores, im igrantes e fa ze n d e iro s d e café pioneiros,
in clu in d o -se L u iz Pereira Barreto. R elatam -se as j ep idem ias d e Jébre a m a rela
ocorridas na c id a d e d e São Sim ão, nos a n o s de 1896. 1898, 1902 e u m a ocorrida em
R ibeirão Preto, no a n o d e i 903■ M ostra-se q u e as m ed id a s d e sa ú d e p ú b lica tom a d a s
p a r a o controle dos surtos m ostraram -se eficientes q u a n d o Emílio Ribas prom o veu , de
fo r m a pioneira, o com b a te ao m osquito transmissor, o Aedes aegypti. Descrevem -se os
experim entos efetuados p o r Em ílio Ribas, com a p a rticip a çã o d e A dolpbo L u tz e de L u iz
Pereira Barreto, visa n d o c o n firm a r a transm issão vetorial d a febre a m a rela e a fa sta r
outras fo r m a s de contágio. O bsew a-se q u e as epidem ias d e feb re a m a rela ca u sa ra m
p r e ju íz o ao d e se n v o lv im e n to d a C id a d e d e São Sim ão. c o la b o ra n d o p a ra a
tra n sfe r ê n c ia do p o lo e c o n ô m ic o re g io n a l p a r a R ibeirão Preto. R essalta-se a
im p o rtâ n cia da s m ed id a s d e controle vetorial e a dos experim entos sobre o m eca n ism o
de transm issão d a feb re am arela, no desenvolvim ento d a ciên cia médica, e d a sa ú d e
p ú b lica no Brasil.
Palavras-chaves: E pidem ias d e feb re am arela. Ribeirão Preto. Sãio Sim ão. História
da febre am arela.

A febre am arela, gravíssimo flagelo e Surgia a m eto d o lo g ia cien tífica, o n d e se


dizimadora de populações, causou importantes analisava os fenôm enos biológicos de forma
efeitos, ainda pouco avaliados, sobre a n eu tra , b u sc a n d o a v erd ad e. Q u a n to ao
e c o n o m ia , a s o c i e d a d e , a c iê n c ia e o co n tro le da febre am arela e ao de o u tras
desenvolvim ento do Brasil. Trata-se de uma doenças tropicais, surgiu, naquele momento,
doença tropical, que juntam ente com a malária uma ciara receptividade para a ciência, vendo-
e outros males, inspirava horror e fazia com a como uma esperança para a solução destes
que os europeus tivessem receio do Brasil, males, em substituição ã situação anterior, que
considerado no século XIX, uma das áreas era de um pessim ism o próprio de país
mais insalubres dos trópicos. Aos brasileiros colonizado. E, realmente, no caso da febre
poderosos do final daquele século, os grandes amarela, ao invés de atribuí-la, simplesmente,
fazendeiros de café, assustava a dizimação de de forma conformista a fenômenos climáticos
sua força de trabalho bem com o o abandono e geográficos, buscou-se a fundo suas causas5.
da emigração européia de trabalhadores, pelo A febre amarela. A febre amarela era
temor da febre am arela38. Por outro lado, também chamada de typho icteroide, typho
naquela época, florescia m undialm ente e com amaril, mal de Sião, vômito negro e febre das
influências no Brasil, o pensam ento positivista. Antilhas. Ocorre no Brasil desde o século XVII,
e é descrita no ano de 1694 por João Ferreira
da Rosa em seu Tratado único da constituição
Unidade M ultidisciplinar de Pesquisa em Virologia, pestilencial de Pernam buco'1’. Também, o
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de
padre Antonio Vieira, citado por Almeida2,
Sào Paulo.
referia-se em 1692 a um pavoroso surto de
Endereço para Correspondência: Luiz Tadeu M. Figueiredo,
Unidade M ultidisciplinar de Pesquisa em Virologia/ febre amarela na Bahia, que deixou cheias as
FMRP/USP 14049-900, Ribeirão Preto, SP, Brasil. casas de moribundos; as igrejas, de cadáveres
Fax: (016) 633-1144 e as ruas, de tumbas. Em 1849, inicia-se no
Recebido para publicação em 17/2/95. Brasil uma pavorosa seqüência de surtos de

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f e b r e a m a r e la , c o m e ç a n d o n a B a h ia e exclusivamente infeccioso e não contagioso?


chegando, por mar, ao Rio de Janeiro, com os Realmente, hoje sabe-se que em locais de
marinheiros doentes do navio dinam arquês altitude elevada não se aclim ata bem o
Navarre. Em m arço de 1850, toda a cidade do m osquito vetor, única forma de contágio, não
Rio de Janeiro estava atacada pela febre ocorrendo, portanto, a transm issão18. Ainda,
amarela. O bservou-se que a doença poupava em 1885, Filogonio L. U tinguassú3, fisiologista
os pretos e matava europeus, em muito maior da Faculdade de Medicina da Universidade do
freqüência que aos nativos, independentem ente Brasil, p ro p õ e , em re u n iã o da A cadem ia
de idade, e com m aior m ortalidade entre os do Imperial de Medicina, que a febre amarela
sexo m ascu lin o '37. Ocorriam, portanto, casos poderia ter com o transm issor um m osquito
assintomáticos, casos incaracterísticos, como q u e c o n ta m in a v a a á g u a a s e r b e b i d a .
uma gripe, casos leves, m oderados e graves ou C o n tu d o , em 1885, n ã o o b t e v e b o a
malignos. Entre 1850 e 1902, a febre amarela receptividade a proposição do Dr. Utinguassú.
ocorreu anualm ente no Rio de Janeiro, com Também, o m édico cubano Carlos Finlay13, em
exceção de 1865, 1866 e 1867, tendo causado 1881, p u b lic o u tra b a lh o s u g e r in d o
o im pressionante núm ero de 58063 óbitos precisam ente que o m osquito Culex taeniatus,
nesse período, num a cidade que, em 1850, tam bém conhecido com o Stegom yiafasciata e,
contava com 166000 habitantes15. hoje, pelo nom e de Aedes aegypti, seria o vetor
transm issor da febre am arela. Mostrava
Os conhecimentos sobre a febre amarela no re su lta d o s de suas p e s q u isa s, os q u ais,
século XIX. Na segunda m etade do século XIX,
infelizmente, eram insuficientes para uma
ocasião que precedeu as epidem ias na Região
confirmação absoluta. Em 1900, seguindo as
de Ribeirão Preto, a febre amarela tinha causa
idéias de Finlay, viria esta confirm ação pela
e mecanismo de transmissão desconhecidos. equipe m édica do exército norte-am ericano
Discutia-se, inclusive, se era ou não contagiosa. em Cuba, chefiada por Walter Reed32. Em
Citada por Franco13, em maio de 1850, a
fevereiro de 1901, iniciaram-se trabalhos de
Comissão Central de Saúde Pública do Rio de
saneam ento e com bate ao Aecles aegypti, que
Janeiro, com posta por grandes médicos da confirmaram, na prática, o m ecanism o de
época, indicava indigestões, a suspensão da transm issão vetorial, erradicando a febre
transpiração, exposição à chuva, à umidade, amarela de Havana em 6 meses. As m edidas
ao sereno da noite e à insolação, e esta foi, de c o m b ate ao m o sq u ito , to m a d a s p e lo
sem dúvida, uma das mais fortes causas da sua exército norte-am ericano ocupando a cidade,
produção entre nós. As fadigas do espírito, as eram rigorosas e foram efetuadas sob o
contrariedades morais, as paixões violentas, o
c o m a n d o d o s a n i t a r i s t a m ilita r W illia m
terror, etc, tam bém concorrem muito para seu Gorgas23.
desenvolvimento. Torres Homem, um grande
clínico da época, declarava, em 1875, que, Q uanto à etiologia da febre am arela,
para a febre amarela desenvolver-se em uma acreditava-se, inclusive Finlay, na possibilidade
localidade qualquer, são necessárias certas de um protozoário38, com o na malária e, no
c o n d iç õ e s to p o g rá f ic a s , te lú ric a s e Brasil, o Dr. D om ingos Freire isolou de
m eteorológicas antevendo o conhecim ento cadáveres com febre amarela, um a bactéria, a
atual da n e c e s s i d a d e de c o n d i ç õ e s qual denom inou Micrococco ou Cryptococcus
meteorológicas adequadas para a reprodução xantbogenico. O Micrococco xantbogenico foi
do m osquito Aecles aegypti, o vetor deste mal. e s tu d a d o p o r m ú ltip lo s g ru p o s de
P o ste rio rm en te, faria o u tras im p o rtan tes pesquisadores brasileiros e estrangeiros nos
observações: para mim, a febre amarela não é últimos anos do século XIX. O bservou-se que
c o n t a g i o s a , o q u e , r e a lm e n te , s e r ia esta bactéria produzia um a degenerescência
com provado, com o verem os a seguir1’. Em gordurosa no fígado de coelhos e les_es
1885, Torres Homem, observando a ausência hemorrágicas hepáticas em cães inoculados
de epidem ia de febre amarela em Petrópolis, experim entalm ente29. Foi produzida, inclusive,
Teresópolis e outras localidades de elevada uma vacina com antígenos do Micrococco
altitude, apesar da presença de indivíduos com xantbogenico, a qual não se m ostrou eficaz13.
a doença, fugidos da epidem ia do Rio de Outro microorganismo cotado com o agente
Janeiro, concluiu: o que prova isso, senão que e tio ló g ic o da fe b re am arela era o b a c ilo
o tifo a m e r ic a n o ( f e b r e a m a r e la ) é icteróicle isolado por G iuseppe Sanarelli, de

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cadáveres e do sangue de indivíduos com com o voluntários pessoas que nunca entraram
feb re am arela. P o s te rio rm e n te , o Dr. Jo ão em contato com a febre amarela, soldados,
Batista de Lacerda, passou a divulgar esta emigrantes espanhóis e mem bros da própria
etiologia, sugerindo que o bacilo icteróide e q u i p e m é d ic a d o e x é r c i t o , c o m o o
viveria em sim b io se com b o lo re s q u e se bacteriologista Jam es Carrol e o m édico Jesse
apresentariam no solo das habitações e se Lazear, que se deixaram picar por mosquitos
espalhariam pelo ar de forma limitada, no suspeitos de carregar o m icróbio. Lazear
interior ou proxim idade destas habitações20. A adquiriu forma grave de febre amarela, vindo
transmissão se faria por vehiculação esomatica a falecer. Considerou-se, na época, que este foi
dos bolores, isto é. através do transporte do o sacrifício máximo de um cientista, dando sua
germe no bolor em objetos e cousas que não vida pela busca da verdade11. Por fim, a
tiveram contato com excreções do doente2’. comissão médica do exército norte-americano
Também, o bacillo X havanensis foi mais uma pôde concluir que o agente específico da febre
bactéria isolada de cadáveres de amarelentos, amarela estaria presente no sangue, pelo
em C uba” . Uma nova idéia, com relação à m enos nos 3 primeiros dias de doença e que
etiologia da febre amarela, surge no com eço poderia ser transm itido a outras pessoas,
do s é c u lo XX, com o iso la m e n to de um em bora neste sangue não se encontrasse
fermento em cadáveres e doentes amarelentos, qualquer microorganismo que crescesse nos
a partir do fígado, rins, sangue, estôm ago e m e io s d e c u ltiv o b a c te r i o l ó g ic o s . O
vômitos22. A presença de células hialinas microorganismo era inativado pelo calor e
observadas no fígado por diversos patologistas transmissível, mesmo quando passado por
e d e sc rita s p o r K lebs e C oncilm an com o filtro de bactérias Berkefeld. Concluíram tratar-
am ebas ou protozoários seriam, na opinião de se de um m icróbio ultra-microscópico filtrável
Lacerda, o fermento. Sabe-se que estas células (vírus)12. Hoje, sabe-se tratar-se do protótipo
hialinas, hoje conhecidas com o corpos de do gênero flavivirus da família Flaviviridae
Councilman, são hepatócitos necrosados. As (fiavos-amarelo). Um microorganismo esférico,
pesquisas destes diversos autores tiveram envelopado, de 60nm, possuidor de uma fita
méritos, apesar de não terem acertado com o simples de RNA infectante com aproxim adam ente
causador da febre amarela. Porém, geraram 10000 bases, contendo 10 genes codificadores
debates acalorados e conflitos variados, que das proteínas estruturais E, M e C e das não-
causaram um a certa dificuldade na aceitação estruturais NS1, NS2a, NS2b. NS3, NS4a, NS4b
da descoberta do verdadeiro agente etiológico e NS542.
da febre amarela. Esta, ocorreu em Cuba e foi A Região de Ribeirão Preto. A história da
feita por Walter Reed e sua comissão de Região de Ribeirão Preto inicia-se por volta de
m édicos do exército am ericano (Caroll, 1680, com a passagem , pelo Sertão do Rio
Agramonte e Lazear ), no ano de 190112. Pardo, do bandeirante Bartolomeu Bueno da
Silva, o Anhanguera (diabo velho), em sua
No século XIX e início do século XX, os viagem até os Guaiases (Goiás)'’. Por volta de
e x p e r i m e n t o s p o r in o c u l a ç â o d e s e r e s 1725, seu filho, com o m esm o nome, em busca
hum anos voluntários com microorganismos do ouro de Vila Boa, passou pela região ao
causadores de doenças graves, com o é o caso seguir o caminho dos Guaiases27. Porém, a
da f e b r e a m a r e la , e ra m a c e ito s e a té exploração do Sertão do Rio Pardo foi lenta.
recom endados p o r grandes vultos da Ocorreu que, no início do século XVIII, após a
medicina. Louis Pasteur, em carta a D. Pedro guerra dos em boabas, os paulistas perderam
II, no ano de 1884, recom enda este tipo de suas minas de ouro. A Vila de São Paulo, e
experim ento no caso da raiva, inclusive, outras, com o as do Vale do Paraíba, viveram
insinuando que fossem utilizados prisioneiros anos de decadência, o que ainda foi agravado
condenados a m orte". A com issão de médicos pela descoberta de um caminho novo para
do exército am ericano em Cuba, chefiada por Vila Rica, evitando Taubaté e Guaratingüetá.
Walter Reed, utilizou-se da exposição, ou Nesta ocasião, dificultaram-se as com unicações
mesmo da inoculaçâo de seres hum anos, para com o litoral e reduziram-se as incursões
verificar se o microorganismo causador da paulistas ao interior89. Por isso, o Sertão do Rio
febre am arela era transm itido através do Pardo, situado na antiga trilha do Anhanguera,
sangue de enferm os, fômites, e/o u através de esteve quase abandonado durante todo século
m o sq u ito v e to r co n ta m in a d o . P articip aram XVIII. Naqueles sertões, viviam, em pequena

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quantidade, os bilreiros, com o eram chamados era ocupada de forma esparsa por fazendas,
pelos sertanistas os índios caiapós. Eles, dedicadas, principalm ente, à criação de gado,
provavelmente, habitavam num erosas tabas cana-de-açúcar e cereais12 26 28. São Simão foi
nas proxim idades dos rios da Região de elev a d a a Vila em 1865 e, a p ó s 10 anos.
Ribeirão Preto, que eram muito piscosos. Estes possuía 3507 habitantes, sendo 777 escravos.
índios foram sistematicamente exterminados Por volta de 1850, Ribeirão Preto era uma
ou afugentados ao longo do século XVII e sesmaria do Padre iManoel Pom peu de Arruda,
XVIII, sob a alegação de que assaltavam que a passou às mãos do Capitão João Diniz
viajantes paulistas e mineiros8 10. Contudo, Ju n q u e ira ". A Vila d e São S eb astião de
terminava o ciclo das minas e voltavam-se os Ribeirão Preto desm em brou-se de São Simão
b a n d e ira n te s , p ro g re ssiv a m e n te , p ara a em 1871 e, em 1875, possuía 5552 habitantes,
o c u p a ç ã o a g r o -p e c u á ria . o b te n d o dos sendo 857 escravos'0. Na m etade do século XIX
g o v e rn a d o re s d as ca p ita n ia s, fa cilm en te, esta era a região que mais possuía escravos na
a c o n c e s s ã o d e s e s m a r i a s (3 l é g u a s Província de São Paulo8.
quadradas)10 Desta forma, houve um lento e J u r i d ic a m e n te , a R e g iã o p e r te n c e u
p o ntilhado aparecim ento de fazendas, inicialmente a Casa Branca, sendo primeira
seguindo o cam inho dos Guaiases2-. Já se comarca regional a de São Simão, criada em
iniciava o século XIX, quando chegaram à 1877. Ribeirão Preto passou a com arca em
Região, b andeirantes, oriundos de iVIinas 1892, separando-se de São Simão1028.
Gerais, buscando ouro e, também, a ocupação
agro-pecuária das terras do Rio P ardo1s. Esta A lg u n s f a z e n d e ir o s c a f e i c u l t o r e s d e
ocupação passou a ser incentivada após a Valença, Vassouras. Parati, Barra Mansa e
Resende, com o os irm ãos B arreto que.
transformação do Rio de Janeiro na Capital do
chefiados por Luiz Pereira Barreto (Figura 2A),
Im pério Português, com a vinda da família
m udaram -se para ali, em 1876, com eçaram a
real p ara o B rasil, em 1808*. D en tre os
transform ar a Região de Ribeirão Preto.
bandeirantes chegados nesta época, encontra- Buscavam e ali encontraram as terras ideais
se Simão da Silva Teixeira, fundador de São para aquela cultura. Eles deixaram suas terras
Simão, a prim eira povoação da Região. esgotadas na Serra do Mar e Vale do Paraíba e,
N aq u ela o ca siã o , tam bém , o u tras fam ílias a partir de Ribeirão Preto, transform aram o
mineiras pioneiras acorreram para ali, com o os Nordeste do Estado de São Paulo num m ar de
Junqueira e os Nogueira28. café que avançou para o norte, chegando ao
Em 1833, a Região de Ribeirão Preto Rio Grande e fazendo da Região o maior
pertencia ao Distrito de São Simão (Figura D e em pório cafeeiro do país122’.

J-t^u ra I - I.tH d lizc iç c io dct d tj K ih c ira o P relo

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H g u n i 2 - 7h« {(iwules vultos da m edicina brasileira. A- Luiz Pereira Barrein. H-


Hmílio Ribas, C- Adolpbo Lutz.

Para o trabalho na cafeicultura, que através das ferrovias Paulista, Mogiana e


determ inou este notável progresso, muito Sorocabana, atacando São Caetano, Valinhos,
contribuiu o surgim ento de uma preferência Campinas, Rio Claro, Jaú, Pirassununga, Belém
local pela mão de obra livre aos negros do D escalvado, A raraquara, B ebedouro,
escravos. Houve enorm e corrente imigratória Barretos e Jaboticabal. Chegou a São Simão
de trabalhadores livres, principalm ente de (Figura 3A) em janeiro de 1896*102"28.
ita lia n o s , m a s, ta m b é m , d e e s p a n h ó is , A prim eira epidemia de feb re amarela em
portugueses e japoneses. Entre 1889 e 1906, o São Simão. Segundo o depoim ento do ex-
Estado de São Paulo registrou a chegada de escravo Benedito Geraldo, o Nhô (Figura 3C),
1.039.987 im igrantes10. reproduzido por Oliveira e Nogueira (FP
Logo a estrada de ferro rasgou aqueles Oliveira, LA Nogueira: dados não publicados),
sertões e foi de fundam ental importância como o mal teria sido trazido a São Simão por
fácil meio de transporte para o café até ao famílias fluminenses e mineiras, que por ali
porto exportador de Santos. A Companhia chegaram fugidas da febre am arela. A
Mogyana de Estradas de Ferro chegou a São epidem ia inicia-se em 1896. Em fevereiro deste
Simão em 1882 e a Ribeirão Preto, distante ano, o Dr. José Leme informava que muitos
aproxim adam ente 44km, em novem bro de eram os doentes pobres e que estavam sem
1883I22Í. meios para se tratarem 28. A Câmara Municipal
Pela estrada de ferro, que propiciou o pedia que providências fossem tomadas para a
contenção do mal. Em l s de maio, o vereador
progresso da Região de Ribeirão Preto, vieram
Dr. João Fairbanks apresentava a seguinte
alguns males. Destes, o mais terrível foi a febre
indicação: Atendendo que neste Município se
amarela, que veio juntar-se à malária, febre
tem declarado febre de caráter epidêmico,
tifóide, tuberculose e varíola, dentre outras
proponho que seja o intendente autorizado a
doenças já existentes na Região28.
fazer toda e qualquer despesa com aquisição
Em 1895, ocorria epidem ia de febre de material e pessoal necessário à desinfecção
amarela em Santos e a Secretaria de Negócios rigorosa, fornecim ento de m edicam ento e
do Interior recom endava em São Simão uma alimentação próprias à população indigente,
ativa vigilância de todos os passageiros ca ix õ e s m o rtu ário s, etc. T om aram -se, na
chegados, com desinfecção dos carros do trem ocasião, m edidas importantes, como a criação
e da bagagem 1. Contudo, a epidem ia avançou de um hospital de isolam ento (lazareto) e a
de forma inexorável nos rum os Norte e Oeste rem oção do cemitério local para sítio distando

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Figura 3 - Epidemias de feb re am arela


cm São Simau: A- Aspecto cia Cidade de
São Simão no fin a l do século XIX. vendo-
se. ao fu n d o , um a plantação de café: B-
Santa Casa cie São Simão, utilizada como
hospital de isolamento, em fotografia
tirada alguns anos após as epidem ias de
febre amarela: C- Benedito Geraldo (o
ex-escravo Nbô) em fotografia obtida na
década de 40.

pelo m enos 500m do último arrabalde da Atuaram no cuidado aos pacientes desta
cidade. Ao m esm o tem po, com a epidem ia no epidemia, o Comitato de Pública Assistência
auge, causando núm ero cada vez maior de Cruz Vermelha e a Maçonaria. Descreve-se que
mortos, o governo estadual enviou sanitaristas famílias inteiras, ou quase, morriam, às vezes,
a São Simão. Estranham ente, a Câmara à mingua. Conta-se o caso de um jovem que,
M unicipal local sen tiu -se d esp restig ia d a, necessitando de assistência m édica para si e
afirmando que tinha serviço sanitário próprio, seus familiares, m orreu de febre amarela
que a epidem ia era de sua com petência e que quando chegava ao lazareto para cham ar o
as medidas estaduais feriam sua autonomia-8. médico. Foi enterrado naquelas proximidades,
D esconhecendo-se o m ecanism o de o n d e se e r ig iu u m a p e q u e n a c a p e la .
transmissão da febre am arela e buscando-se Diariamente, passava a carroça pelas ruas de
evitar transm issão a partir dos cadáveres, São Simão, conduzida pelo ex-escravo Nhô,
decidiu-se, a l s de julho de 1896, m andar abrir recolhendo os cadáveres e transportando-os
uma vala ao redor do cemitério, enchendo-a para o cemitério novo. As vezes não era
de cal, encostar em toda a extensão lâminas de possível enterrar a todos no m esm o dia. Em
zinco, a fim de evitar infiltração, plantar 1945, desenterraram -se 5 crânios de um a cova
eucalipto e colocar, em cada sepulcro dos com um , em local do cem itério que foi
c a d á v e r e s e p i d ê m i c o s , 30 litr o s d e c a l, reservado ao sepultam ento de am arelentos (FP
interditando-se o local . Um cemitério novo foi Oliveira, LA Nogueira: dados não publicados).
construído a 5km da cidade, em pleno cerrado A epidem ia m atou a quinta parte ou mais
(hoje ali encontra-se a vila de Bento Quirino), da população urbana de São Simão, que era de
porque acreditava-se que até o mau cheiro aproxim adam ente 4000 p esso as28. O utra
seria contagioso. Este cemitério passou a ser enorm e perda para a cidade foi a das pessoas
u tilizad o a p ó s a lo ta ç ã o to tal do antigo. que, apavoradas pela febre amarela, mudaram -
Q uanto ao lazareto, funcionou primeiramente se p a r a o u t r a s l o c a l i d a d e s . A p ó s o
em algumas salas ao lado do cemitério novo arrefecimento da epidem ia, no início de 1897,
mas logo foi dem olido por solicitação expressa apenas 2500 habitantes perm aneciam em São
da Diretoria de Hygiene do Estado, tendo se Simão3. Escreveu o jornal O Estado de São
construído outro28 ( FP Oliveira, LA Nogueira: Paulo, na edição de 8 de m aio de 1897,
dados não publicados). reproduzido por Oliveira28: Graças a Deus e

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aos esforços dos inspetores sanitários, o estado A terceira epidemia de febre am arela em
sanitário desta cidade é muito animador. Até São Simão. Em 1902, quando São Simão
este m om ento só existem 2 doentes, ambos c o m e ç a v a a e s q u e c e r - s e d a s e p id e m ia s
recolhidos no hospital de isolam ento. O passadas, surge novam ente a febre amarela de
aspecto da cidade é tristíssimo; ruas desertas, forma avassaladora. Os primeiros casos teriam
g r a n d e p a r te d a s c a s a s a b a n d o n a d a s . sido observados ainda em outubro de 1901,
E n t r e t a n to , se n ã o fo ra a d e s e r ç à o d o s mas se generalizaram no ano seguinte.
habitantes de S. Simão, muito maior seria o Novamente, a população fugiu apavorada da
núm ero de vitimas. E conselho dos médicos e cidade24 (Livro do Tombo da Igreja Matriz de
que convém ser reproduzido: ninguém deve. São Simão; FP Oliveira, LA Nogueira: dados
por enquanto, regressar a esta cidade, pois que não publicados).
viria atear novam ente a fogueira, isto é, a Curiosamente, em 20 de junho de 1902,
ep id e m ia re c ru d e c e ria e n o v o s e ac erb o s partindo de uma cidade vizinha, chega o
sofrimentos viriam se ajuntar aos que têm primeiro pedido de providências ao serviço
am argurado o coração de todos os amigos e sa n itá rio e sta d u a l q u a n to a casos de febre
in te re ssa d o s p e lo d e s tin o d esta fu tu ro sa amarela em São Simão. Fez-se imediatamente
cidade. Conta-se que este conselho médico foi contato com São Simão, que respondeu âs
seguido de form a exagerada por muitas in d a g a ç õ e s r e f e r in d o s e r e m ó tim a s as
famílias que nunca mais voltaram, passando a condições sanitárias da cidade. Não satisfeito
residir em Ribeirão Preto, Nhumirim, Icaturama com a resposta do intendente, o serviço
(a tu a l Sta. Rosa d o V iterbo), C ravinhos e sanitário estadual enviou carta a um clínico
Cajuru. Algumas vezes, a fuga de São Simão local so lic ita n d o in fo rm açõ es. R ecebeu
era feita por barco pelo próprio Riacho São resposta afirmativa- ali vinham ocorrendo
Si mão, q u e p a s s a d e n t r o da c i d a d e , casos de febre amarela. Referia o médico sobre
encontrando à frente o Rio Tamanduá e, a ocorrência de disputas científicas locais
finalmente, o Rio Pardo. Os fugitivos da febre quanto à presença ou não de febre amarela na
amarela eram repelidos pelos m oradores em cidade, com interesses particulares envolvidos.
muitos locais, cjuando sabiam que sua origem E assim, sob diagnósticos estapafúrdios como,
era São Simão. Eles tem iam pegar a doença. febre rem itente biliosa grave dos países
Segundo o Cel. Leônidas Barreto, político da quentes, febre gastro-êntero-hepática, influenza
época, os maiores aglom erados de refugiados com plicada com im paludism o e entidade
de São Simão teriam se localizado na fazenda mórbida, enterraram -se muitos pacientes com
d os P ereira B arreto , em C ravinhos e na febre amarela. Em 6 de julho, segue para São
Fazenda Palmeiras, em Ribeirão Preto. Ali Simão o inspetor sanitário Dr. Carlos Meyer,
ex istiria um c e m itério a b a n d o n a d o , o n d e que a pedido do município, vinha certificar-se
teriam sido en terrad o s am arelentos. Os das boas condições sanitárias locais. O Dr.
n u m e ro so s re fu g ia d o s eram alo jad o s p elo Meyer, apesar de não encontrar nenhum caso
com ando sanitário de Ribeirão Preto, para d e f e b r e a m a r e la , o b s e r v o u m ú ltip lo s
quarentena, em barracões, o que deu origem exemplares de Aedes aegypti . Retornou a São
ao nom e antigo de Barracão ao atual bairro Paulo, indicando para São Simão uma
ribeirão pretano do Ipiranga (FP Oliveira, LA ca m p a n h a p ro filática de e rra d ic a ç ã o do
Nogueira: dados não publicados). mosquito vetor. Poucos dias depois, viria ao
A segunda epidem ia de febre amarela em serviço sanitário estadual uma solicitação de
São Simão. Teve início em 1898. Houve nova p r o v id ê n c ia s d e p a r te d o i n t e n d e n t e
correria, nova debandada e novos óbitos. Os municipal, já que haviam aparecido 4 ou 5
enterram en to s eram feitos som ente no casos suspeitos. Manifestaram-se, então, os
cemitério novo. Em 2 de maio de 1898, decidia médicos locais, referindo que a epidem ia teria
a Câmara Municipal m udar sua sede para local se iniciado na praça central da localidade e,
distando 3km da cidade até a extinção da posteriorm ente, se espalhado, sendo que pelo
epidemia. Este surto foi mais brando, causando m enos 25 casos haviam ocorrido, a m etade
apenas casos isolados. Não há registro oficial fatais4'.
do núm ero de mortos. Em 1899, o mal havia Em 1902, já era conhecido o mecanismo de
abrandado e São Simão voltava ao normal, transmissão da febre amarela, bem com o as
porém , com sua população reduzida1 (FP form as d e d e b e lá -la e, p ela p rim eira vez
Oliveira, LA Nogueira: dados não publicados). durante uma epidemia, aplicou-se no Brasil,

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em São Simão, as m edidas de controle vetorial. com bate ao m osquito rajado (Aedes aegypti),
Para isto, Emílio Ribas (Figura 2B), diretor do destruindo as larvas em seus criadouros.
serviço sanitário, enviou ao local, em agosto B u s c o u - s e c o n v e n c e r a s p e s s o a s da
de 1902, uma com issão de inspetores sob o necessidade de procurar assistência médica, ao
com ando do Dr. Francisco Luiz Viana31. surgirem os prim eros sintom as de febre
Emílio Ribas relacionava em 7 itens as amarela e de que estes casos deveriam ser
m edidas a serem tom adas para controle da internados, o que não era bem aceito pelos
leigos. Tam bém, foi difícil convencer os
febre amarela33:
m édicos locais quanto à necessidade de
1. Evitar as águas estagnadas nas habitações e hospitalização dos amarelentos. Devido a estas
seus arredores; resistências, buscando não utilizar métodos
2. Quando não for possível evitar as coleções de violentos, tolerou-se o isolam ento domiciliar,
água, derramar querosene sobre estas sendo que a primeira internação só veio a
coleções; ocorrer em dezem bro. Os enferm os ficavam
em casa, sob cortinados, visando evitar que
3. Proteger os enfermos por meio de cortinados; fossem picados por m osquitos e eram vigiados
4. Extinguir por todos os meios os mosquitos por membros da com issão3". Na ocasião, o
encontrados nos domicílios; hospital de isolam ento com eçou a funcionar
5. Proteger as habitações dos mosquitos com no atual prédio da Santa Casa local (Figura
telas em portas e janelas; 3B)2,Í. Um dos m em bros da com issão sanitária,
0 Dr. C outinho, faleceu em São Simão
6. Fechar e proibir a entrada de pessoas na casa vitimado pela febreJs.
de enfermos antes do tratamento local com
Em agosto de 1902, Emílio Ribas veio a São
inseticidas;
Simão acom panhado de outros médicos e
7. Proteger dos mosquitos, nos hospitais, os hospedou-se no antigo Hotel dos Viajantes.
enfermos com febre amarela. T a m b é m , o c i e n t i s t a t e r ia s o lic ita d o a
A comissão sanitária enfrentou enormes contribuição de m oradores ao serviço da
dificuldades devido às condições locais, que equipe médica, tendo obtido apenas um
foram descritas por Emílio Ribas de forma pequeno núm ero de voluntários, estando entre
p o u c o liso n jeira. A c id a d e (F igura 3A), eles o ex-escravo Nhô. Explicou-lhes que tinha
localizada a 635 metros acima do nível do mar, interesse em conhecer a forma pela qual a
possuía um clima dos mais quentes do estado. doença se propagava na com unidade (FP
Era atravessada, em toda a sua extensão, por Oliveira, LA Nogueira: dados nâo publicados).
um có rre g o c h e io d e cu rv as e com p o u ca A Comissão pôde observar o agravamento
correnteza, que formava espraiados, alagadiços do surto, em 1902, com casos surgindo na
e que era represado em alguns pontos. Havia, seguinte seqüência: 12/08 - 1 caso fatal; 4/09 -
ainda, cisternas mal feitas e pouco limpas. 1 caso; 22/10 - 1 caso; 15/11 - 4 casos; 16/11 -
Segundo Emílio Ribas, São Simão tinha a 5 casos; a p a rtir d esta d ata o b serv o u -se
atividade febril característica daquela região aparecim ento crescente de doentes até atingir
c a fe e ir a . C om c o n s titu iç ã o é tn ic a o m áxim o em 28/12 com 11 casos. A
com pletam ente heterogênea, a população, em p o p u l a ç ã o e n c o n tr a v a - s e a p a v o r a d a ,
parte recém -chegada, vivia em situação abandonava a cidade, inclusive, abandonou-a
provisória. A cidade possuía 530 prédios, 90% até a adm inistração m unicipal e foi possível à
mal construídos, sem forro ou assoalho, não comissão im por suas regras, incluindo-se a de
observando preceitos de higiene ou conforto. internação obrigatória. Buscando-se evitar a
Era desprovida de esgotos, sendo o serviço disseminação da febre amarela a partir de
feito em fossas fixas3'. pacientes, instalaram-se telas de aram e em
A comissão sanitária buscou entendim ento, to d as as jan ela s e p o rta s d o h o s p ita l de
p r im e ir a m e n te , c o m os c lín ic o s lo c a is . isolamento, após um rigoroso expurgo de
C o n tu d o , as id é ia s n o v a s q u a n to ao todos os seus cômodos35-
m ecanismo de transmissão da febre amarela Diz-se que Emílio Ribas buscava, de todas
não foram unanim em ente aceitas pelos as formas, mostrar aos m édicos locais e à
m éd ico s, o q u e d ificu lto u a e x e c u ç ã o das população que o contágio da febre amarela
medidas previstas. Instruiu-se a população não se dava por contato, inclusive, conta-se
quanto à necessidade de sua cooperação no que durante um a visita ao hospital de

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isolamento, o em inente sanitarista colocou o Experimentos sobre a transmissão da febre


dedo em secreções de um am arelento recém- amarela. Motivaram estes experim entos a
falecido e em seguida inseriu o dedo em sua obstinação de grupos de médicos brasileiros
própria boca (FP Oliveira, LA Nogueira: dados em não aceitarem a transmissibilidade da febre
não publicados). am arela pelo m osquito, m esm o após a
Criou-se uma casa de abrigo para os com provação pelos experim entos da comissão
familiares dos am arelentos, que tinham sua d o e x é r c ito n o r t e - a m e r i c a n o em C u b a ,
residência interditada, às vezes, por mais de 2 corroborada pelas atividades saneadoras de
dias. A m edida visava a prevenção e a Em ílio Ribas em S o ro cab a e São Sim ão.
r e m o ç ã o d e f u t u r o s c a s o s . As c a s a s Apontavam, estes médicos, erros nos estudos
interditadas tinham suas aberturas calafetadas feitos em Cuba, aventando a possibilidade de
e eram tratadas pela queim a de píretro na outros mecanismos de infecção. Atribuíam a
proporção de 13g/m J nas casas forradas e, erradicação da febre amarela em Havana às
enxofre, na proporção de óOg/m- nas não medidas de desinfecçào e, principalmente, às
forradas, que eram a m aioria. M oradias obras sanitárias executadas pelos norte-
próxim as às dos enferm os tam bém eram americanos, independente da exterminaçào
expurgadas. Utilizaram-se, ainda, pulverizações dos m osquitos1\
de creolina e de sublim ado nas casas em que Os experim entos foram idealizados por
o aparecim ento de doentes era reincidente. Emílio Ribas, com rigor científico, repetindo de
Contudo, as casas possuíam muitas frestas por forma distinta o que Walter Reed havia feito
onde fugiam os mosquitos, dificultando sua em Cuba. Como primeira medida, nom eou
destruição durante os tratamentos domiciliares.
uma comissão médica de alto nível, experiente
Também, todas as peças de roupa, bem como
colchões dos enferm os, eram esterilizados em no diagnóstico da febre amarela e isenta, para
estufa de G eneste & Herscher. Estas últimas dirigir e avaliar os resultados dos experimentos.
m e d id a s e ra m tr a d i c io n a is e b u s c a v a m Esta era com posta pelos seguintes médicos:
prevenir a transmissão por contato o que, Luiz Pereira Barreto, Adriano de Barros e AG
segundo os trabalhos feitos em Cuba, não da Silva Rodrigues1'.
ocorria na febre am arela3'. O trabalho foi iniciado no final de 1902,
Com a co laboraçào de trabalhadores obtendo-se larvas de Aedes aegypti na cidade
municipais, canalizou-se o córrego São Simào, de Itu, tida com o possuidora de água com
fez-se a drenagem das margens e promoveu-se excelente qualidade e onde ainda não havia
a elim inação de criaciouros de mosquitos, ocorrido a febre amarela. Os mosquitos foram
lim p a n d o -se os c a p in z ais do p erím e tro enviados a São Simão para que os fizessem
urbano, rem ovendo-se latas vazias, cacos de p ic a r i n d iv íd u o s c o m f e b r e a m a r e la .
garrafas e outros recipientes que pudessem Posteriormente, os m osquitos foram levados à
colecionar água. Refere Emílio Ribas que o Cidade de São Paulo, onde não havia febre
clima ajudou no controle da epidem ia, porque amarela. Dezesseis dias depois, em janeiro de
ocorreram períodos de baixas temperaturas 1903, no hospital de isolam ento (hoje Hospital
que reduziram a velocidade de multiplicação Emílio Ribas), picaram 6 pessoas. O próprio
cio m osquito'1. Emílio Ribas, Adolpho Lutz (Figura 2C) e Oscar
A cidade, desta vez, ficou quase Moreira, deixaram-se picar pelos mosquitos
com pletam ente abandonada e muitas foram as que haviam previam ente sugado doentes
vítimas. O mal só foi exterm inado em maio de graves d e febre am arela. C o n tu d o , não
1903, q u a n d o c o n s e g u iu - s e r e d u z ir a m a n if e s ta r a m s in to m a s d a m o lé s tia . O
pop u lação de m osquitos por m eio das resultado negativo foi atribuído a uma
m edidas sanitárias, em bora não existam im unidade prévia, já que Ribas, Lutz e Moreira
citações específicas sobre a aferição de índices haviam tido contato prévio com epidem ias da
de infestação vetorial. A população com eçou a doença. As outras pessoas que foram picadas
retornar aos lares em junho2S. viviam em localidades onde nunca aparecera
Em 1904, veio para São Simão o médico febre amarela e jamais haviam entrado em
s a n i t a r i s t a R eg o B a rro s , q u e to m o u as contato com a enfermidade: Domingos Vaz,
providências com plem entares para m anter A ndré Ram os e o italia n o J a n u á rio Fiori.
saneada a cidade. D esde então, não ocorreram Todos, avaliados pela com issão m édica,
mais casos de febre amarela na localidade®. apresentaram sintomas de febre amarela. Os 2

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primeiros tiveram formas benignas da infecção experim entos, é com pletam ente infundada a
e Fiori apresentou quadro mais grave. Sua crença relacionada à transmissão da febre
d o e n ç a a p a r e c e u 3 d ia s a p ó s a p ic a d a , amarela por fômites. Recomenda, portanto, o
m a n i f e s t a n d o - s e c o m f e b r e e le v a d a , abandono das m edidas sanitárias baseadas na
hemorragias, albuminúria e icterícia. Contudo, contagiosidade do mal. Propôs, com o sugestão,
o paciente recuperou-se3<3\ que cada doente poderia perm anecer em casa,
Os experim entos mostravam claramente a protegido contra as picadas do m osquito por
transmissão vetorial da febre amarela, mas era u m s im p le s c o r ti n a d o , e v i t a n d o - s e as
p r e c is o p r o v a r q u e a d o e n ç a n ã o e ra re m o ç õ es v io len tas e as o c u lta ç õ e s, p o r
transmitida por vestes sujas e excretas dos fam iliares, de seu s e n te s q u e rid o s . Isto
e n f e rm o s , c o m o p r e c o n iz a v a m os facilitaria as notificações de casos, levando ao
contagionistas3'. Iniciou-se, então, um a nova com bate mais efetivo ao m osquito infectado,
série de experimentos. com m elhores resultados em term os do
co n tro le e p id ê m ic o . T am bém , d e v e ria ser
No Pavilhão II do Hospital de Isolam ento simplificado o expurgo das moradias, buscando
de São Paulo, preparou-se um quarto isolado apenas o exterm ínio do vetoi*.
do exterior p or meio de tela fina de arame
colocada entre a veneziana e a vidraça A febre am arela na Cidade de Ribeirão
lacrando-se a veneziana e recobrindo-se a Preto. O surto de febre am arela em Ribeirão
Preto eclodiu no com eço del903, quando a
vidraça com um pano verm elho para reduzir
cidade possuía aproxim adam ente 15000
ao mínimo a entrada de luz. O quarto continha
habitantes. A 31 de janeiro de 1903, o
uma estufa a gás que deveria m anter a sanitarista Dr. Francisco Viana dirige-se àquela
tem peratura am biente por volta de 20°C e, no cidade planejando pôr em prática os princípios
dia anterior ao experim ento, foi expurgado s a n i t á r i o s d e c o m b a t e à d o e n ç a já
com gás sulfuroso. Às 21 horas e 30 minutos experim entados em São Simão” .
do dia 20 de ab ril d e 1903, na p re se n ç a da
Em Ribeirão Preto houve apoio ao serviço
comissão médica, de Emílio Ribas e outros
de saneam ento por parte das autoridades
doutores, confinou-se, neste quarto, o italiano
municipais e mobilizou-se, durante 1 mês,
G iuseppe Malagutti, o qual vestiu as roupas de
tem po necessário para um ciclo prelim inar de
am arelentos m ortos e cuja cama foi preparada limpeza da cidade, 200 hom ens, com 30
com fronhas e lençóis sujos de sangue e de carroças. Foram removidas aproxim adam ente
vômitos negros de pacientes falecidos em São 4000 carroças de lixo, constituído de latas,
José do Rio Pardo, São Simão e Taubaté. Nos garrafas e outros m ateriais próprios para
dias seg u in te s, o u tro s italia n o s, A ngelo coleção de água, servindo com o criadouros do
Paroletti e Giovanni Siniscalchi, juntaram-se ao Aedes aegypti . Tomaram-se m edidas apenas
primeiro. Os 3 haviam chegado há m enos de 1 limitadas ao com bate ao vetor, abandonando-
ano ao Brasil e não haviam tido contato com a se a esterilização de roupas e o uso de
febre amarela. Durante a noite verificavam-se desinfetantes nas casas, procedim entos que
diversas vezes se vestiam as roupas e dormiam haviam sido feitos em São Simão3'.
nos leito s sujos. No dia 27, e sp a lh a ra m -se Foram notificados 810 casos de febre
sobre suas vestim entas e sobre o assoalho, am arela. Na Santa Casa de M isericó rd ia,
sangue vomitado, fezes e urina de doentes de fundada em 1902, internaram -se vários casos
Ca.sa Branca e de Ribeirão Preto, que haviam de febre amarela e o Dr. Luiz Pereira Barreto
sido trazidos em frascos fechados. Adolpho teria ali atendido estes pacientes". Em 11 de
Lutz, em visita ao quarto, constatou que julho de 1903, a epidem ia foi considerada
em bora o ar se achasse im pregnado, viciado e debelada, reiniciando-se as aulas nas escolas
fétid o , os 3 co n fin a d o s e n c o n tra v a m -se públicas locais (Câmara Municipal de Ribeirão
saudáveis e bem hum orados. Interrom peu-se o Preto, atas das reuniões de 1903). Em Ribeirão
experim ento no dia l 2 de maio quando a Preto, também, ocorreu fuga da população
com issão m édica inform ou que todos durante a epidem ia. A cidade ficou deserta e
en c o n tra v a m -se bem . P erm an e ceram no houve queixas de proprietários que, ao
hospital, em observação, por mais 10 dias e retornarem , encontraram suas residências
tiveram alta em perfeita saúde343'. saqueadas31.
Concluiu a com issão médica, em 15 de Emílio Ribas, em 1909, ao descrever a
ju n h o d e 190 3 , q u e , co m b a s e n o s erradicação da febre amarela no Estado de São

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Paulo, na Society of Tropical Medicine and Considerações finais. Os experim entos de


Hygiene, em Londres35, refere-se ao surto de Emílio Ribas com seres hum anos justificaram-
R ib e irã o P r e to c o m o a q u e le em q u e , se pela notável im portância prática que tinha,
d e f i n i t i v a m e n t e , se p o d e p r o v a r q u e o na é p o c a , a co n firm a ção d efin itiv a do
com bate ao m osquito é a m edida mais mecanismo de transmissão da febre amarela.
im portante para se debelar a doença (Figura Prova do mérito e do rigor científico destes
4). Justifica sua afirmação com o fato de não
experim entos foi a participação nos mesmos
haverem ocorrido mais casos de febre amarela
na cidade, apesar de possuir uma população de um dos maiores cientistas brasileiros, o Dr
e n o r m e d e e m i g r a n te s e s t r a n g e i r o s , Adolpho Lutz que, inclusive, se deixou infectar
p rin c ip a lm e n te italian o s, c o m p le ta m e n te pela febre amarela. As conclusões relativas aos
susceptíveis à febre am arela e, também, por ali experim entos de Ribas foram corroboradas no
te r s id o p r a t i c a d a , e x c lu s iv a m e n te , a m esm o ano de 1903, pelos resultados dos
exterm inação dos mosquitos pela destruição estudos de uma missão de cientistas franceses,
de seus viveiros. os doutores Marchoux, Salimbeni e Simond,

REV ISTA M ED ICA I)K S. PAU LO

A extincção da lebre amarella no The eitinction of yellow fenr in tlw


Estado de S. Paulo (Brasil) t na cidade do State of São Paulo (Brazil), and in tiie city of
Rio dt Janeiro Rio de Janeiro
PELO 13 t E m íl io R ib a s , M. D.
D r . E m íl io R id a s D irecior of th t Sanltary Dcparlm ent of S io Paulo

do todas as cid a d es dc S. Paulo; e a ex* I A t Hibeirflo P reto, a tow n o f th e sam e


plioavSo ó que 11’a q u e lle aim o foi e x e cu ta d a j s iz e as Sorocaba, 8 1 0 y e llo w fev e r c a ses
pela prim eira v e z rigorosa cxtermina<;Ao w ere jio tifie d in 1 í)0U. S in c e tliat y e a r
dos m osquitos. there has b een n o furthor outbreak o f the
Km K ih eirio Preto, cid a d e e g u a l a S o ­ d isoase, and 1 co n sid er th is p ro v es th e fa ct
rocaba, notificaram -se 8 1 0 ca so s do febro of th e S tc g o n n jin b ein g the a c tiv e propa-
am arella em 1 9 0 .1 D esd e e s se armo nfio g a tiu g a g e n t m ore cJearly ev en than in
h o u v e n ova im ip ç fto da m o léstia , o cw H avana, b ocau so in Itibeirfio P reto no new
pouso <jue e ste facto prova o im portante pu b lic w orks w ero undertaken.
papel do S tn jn m y in co m o a g en te propaga­
dor. m ais claram en te do <jue em H avana, Kibcirfio P reto bus en jo y ed th is inim ti-
v isto <juc cm K iheirâo Preto não foram n ify in «pito o f the fnct that its population
e x e cu ta d o s trabalhos pú b lico s de sanea­ is la rg ely com p osed o f im m igranls, arriv in g
m ento. írom Italy ío r w ork in tb is grea t cen tr e of

Figura 4 - Texto da publicação de Emílio Ribas ua Revista Médica de S. Paulo, em


J 9 0 9 '\ referindo-se ao surto de Ribeirão Preto como aquele em que, definitivamente,
se pode provar que o combate ao mosquito é a m eaida m ais importante para se
debelar a feb re amarela.

que entre 1901 e 1903, estudaram a febre no controle dos surtos de febre amarela e de
amarela no Rio de Janeiro25. s e u s e x p e r i m e n t o s c o n f ir m a d o r e s d o
Emílio Ribas, diretor do serviço sanitário mecanismo de transmissão da doença.
estadual, teve atitude exem plar durante o Segundo Emílio Ribas, citado por Vieira"1, a
período de transição entre as idéias antigas, febre am arela no Estado de São Paulo,
místicas e, na maioria falsas, sobre a febre incluindo-se a Região de Ribeirão Preto, teria
am arela e os c o n h e c im e n to s m o d ern o s, dizimado pelo m enos 30000 pessoas, entre
o b t i d o s a p a r t i r d o m é to d o c ie n tíf ic o . 1888 e 1903. Neste ano, ela foi erradicada em
B a s e a n d o -s e e x c lu siv a m e n te em d ad o s c o n s e q ü ê n c i a d o s t r a b a l h o s p o r e le
com provados cientificamente, evitou querelas
dirigidos'*1.
com outros m édicos que tinham opiniões
distintas e, por fim, com provou suas idéias por As epidem ias da Região de Ribeirão Preto
meio dos procedim entos sanitários vitoriosos ocorreram no im portante m om ento em que,

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Fato Histórico. F igueiredo LTM. A fe b r e a m a re la n a região de R ibeirão Preto d u ra n te a vira d a d o século XIX:
im po rtância científica e repercussões econôm icas. Revista d a Sociedade B rasileira d e M ed icin a Tropical
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com o descobrim ento dos agentes etiológicos comprovação, em São Paulo, do m ecanism o
e do m ecanism o de transmissão de doenças, de transmissão da febre amarela, baseada em
aqui incluindo-se a febre amarela, iniciava-se a in f o r m a ç õ e s o b tid a s c i e n t i f i c a m e n t e ,
m edicina científica no Brasil. Estas epidemias representou um notável estím ulo para o
propiciaram, pela primeira vez, a tom ada de desenvolvim ento das ciências e da pesquisa.
m edidas sanitárias eficazes no com bate à Na verdade, os fatos aqui relatados tiveram
doença, que levaram ao controle da m esma na im portante influência para o progresso da
Região e forneceram subsídios fundamentais a m edicina e da saúde pública no Brasil71214 193038.
cam panhas maiores, com o foi a de Oswaldo
Cruz no Rio de Jan e iro 35. Tam bém, é SUMMARY
im portante salientar que nesta década (1901- Yellow fe v e r in the R egion o f R ibeirão Preto a t tbe
1910), iniciada pelo controle das epidem ias da tu rn o f X IX century: scien tific im p o rta n ce a n d
Região de Ribeirão Preto, erradicou-se, quase e c o n o m ic rep ercu ssio n . This h isto ric a l review
com pletam ente, a febre amarela urbana do describes the b a d situ a tio n o f p u b lic h ealth in B ra zil
país35. d u rin g the X IX C en tu ry c a u se d by m u ltip le yello w
As epidem ias de febre amarela na Região fe v e r outbreaks. Tbe know ledge reg a rd in g to yello w
de Ribeirão P reto representaram grave fe v e r a t th a t tim e is also described. A short history is
transtorno a um a região que vinha se p re se n te d o f the d evelo p m en t o f th e R egion o f
desenvolvendo a pleno vapor, por conta da Ribeirão Preto, located in the N ortheast o f Sao P aulo
cafeicultura em expansão. Como conseqüência S ta te, B r a z il, e m p h a s is in g th e a c t u a t i o n o f
da febre amarela, é provável que tenha havido im m ig ra n ts a n d p io n e e r coffee fa r m e r s like L u iz
um grave prejuízo ao desenvolvim ento e ao P ereira B arreto . Yellow fe v e r outb rea ks o ccu rre d in
futuro da Cidade de São Simão, que teria the City o f Sao S im a o in 1896, 1898, a n d 1 9 0 2 a re
perdido parte de sua população em virtude described as well a s a n o u tb re a k in the City o f
das fugas, mortes e, após as 3 epidem ias, teria Ribeirão Preto occu rrin g in 1903■ It is sh o w n th a t
passado a ser vista pelos potenciais imigrantes yello w fe v e r outbreaks w ere stopped in th e 2 cities by
com o local insalubre. Talvez tal fato fosse E m ilio R ib a s w h o le d th e fi g h t a g a in s t the
pressentido por autoridades locais que, na tra n sm ittin g m osquito A edes aegypti . E m ilio Ribas,
ocasião das epidem ias, divulgavam com helped by A dolpho L u tz a n d L u iz Pereira Barreto,
dificuldade inform ações sobre o que ali p ro m o te d scientific exp erim en ts in o rd er to co n firm
ocorria. Anos mais tarde, m esm o na cidade, the vectorial tra nsm ission o f yello w fe v e r a n d to
m antinha-se um tem or supersticioso pela febre a n n u l the supposed im p o rta n ce o f oth er k in d s o f
amarela, o qual fez com que os túm ulos de c o n ta g io u . The y e llo w fe v e r o u tb r e a k s c a u se d
a m a r e le n to s , in c lu s iv e d e i n d ig e n te s , d a m a g e to the d evelo p m en t o f Sao S im a o a n d
perm anecessem intocados nos cem itérios in flu e n c e d the tra n sferen ce o f the e co n o m ic p o le o f
lo cais, p o r q u a s e 50 an o s (N o g u e ira LA- the region to the City o f R ibeirão Preto. The vector
historiador de São Simão: informação pessoal, con tro l w ork d o n e d u rin g yello w fe v e r o utbreaks
1994). Pode-se imaginar que São Simão seria a n d the scientific exp erim en ts cm the tra n sm issio n
hoje uma cidade m aior e de m aior importância o f yello w fe v e r w ere im p o rta n t f o r the d evelo p m en t
ec o n ô m ic a, n ão fossem as 3 e p id em ias. o f m ed ica i Science a n d fp u b lic h ealth in B razil.
Provavelmente, a febre amarela influiu no K ey-w ords: Yellow fe v e r o u tb rea ks. R ibeirão
deslocam ento do polo de desenvolvim ento Preto. São Sim ão. H isto iy o f yello w fever.
econôm ico regional para Ribeirão Preto.
L uiz P e r e ir a B a r r e to tin h a e n o r m e AGRADECIMENTOS
confiança na ciência para a solução do
A José Carlos Batiston, Aramis Augusto
problem a am arílico e afirmava: devem os
reunir todos os nossos esforços para descobrir Pinto, Maria Cristina Rossini Pinto, José Júlio
uma resposta para o problem a . Esta idéia era Pasti Filho, Luiz Antonio Nogueira e Fernando
de difícil en ten d im en to num país onde, Túbero pelo auxílio nas pesquisas. A Diléo
mesmo os intelectuais, pouco se interessavam Salviano Reis pelo desenho do m apa, a Ulisses
pela ciência ou seu progresso e onde a Meneghelli pelas sugestões quanto à redação
medicina experim ental era feita apenas em do manuscrito e à Rita Helena Carlucci pela
escala pequena, no Rio de Janeiro e Bahia. A revisão do texto.

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